terça-feira, 22 de julho de 2008

Noções Básicas de Conservação de Livros e Documentos

artigo de Maria Aparecida de Vries Mársico

Introdução: a ordem dos fatores altera o produto

Imagine a situação: documentos rasgados, amassados e manchados, livros com as capas soltas, lombadas danificadas e cadernos com costuras rompidas. Diante de tantos danos, o que devemos fazer primeiro para salvar estes materiais?

A primeira coisa que vem a nossa mente é a necessidade de consertar o que está danificado, ou seja, restaurar o material degradado. Pensamos a partir da seguinte lógica: devemos restituir a integridade física destes materiais para que de novo possam estar acessíveis à pesquisa e ao estudo. Seguindo este raciocínio teríamos a seguinte seqüência de trabalho: primeiro restaurar o material, depois conservá-lo e assim estaríamos preservando a informação para o futuro.

Será que procedendo deste modo estamos realmente salvaguardando estes livros e documentos danificados? Aparentemente sim, a curto prazo. No entanto, caso não identifiquemos os fatores que causaram a sua degradação, estaremos apenas nos iludindo, e, infelizmente, reduplicando o mesmo dano em um futuro próximo. O que fazer, então?

Diante de um acervo danificado e em risco de perda, a primeira providência a ser tomada é efetuar um minucioso diagnóstico dos motivos que levaram à sua degradação, estancar ou minimizar estes agentes agressores. Assim procedendo estamos evitando que esses fatores de degradação se disseminem e atinjam outros livros ou documentos. Por mais paradoxal que possa parecer, diante de um acervo em risco, a primeira atitude efetiva a ser tomada é conservá-lo. Inverte-se, portanto, a seqüência restauração, conservação e preservação e adotamos uma nova seqüência: preservação, conservação e restauração. Preservar para não restaurar, eis a questão.

A restauração é uma atividade técnica muito onerosa, pois exige equipamentos e materiais de alto custo além de mão de obra especializada. Ao término do trabalho de restauração, todo o benefício do tratamento volta-se para um único objeto. Se este livro restaurado retornar ao mesmo local de guarda e ao meio ambiente que causaram o seu dano, o dispêndio de energia e de recurso financeiro foram em vão. Para termos um procedimento efetivo e duradouro benéfico ao acervo a logo prazo, devemos criar uma política de preservação voltada para a realidade do acervo de cada Instituição ou Biblioteca.

Ao estabelecermos critérios para o tratamento de um acervo, estamos criando prioridades e implantando uma política de preservação, escalonando as atividades técnicas a serem desenvolvidas e dotando o local de guarda do acervo com as condições ambientais favoráveis à sua conservação. A partir deste recorte e das metas a serem atingidas, passamos à ação física de conservação preventiva, que nada mais é que a atualização prática das metas desta política de preservação. Neste instante toda a relação custo/benefício estará voltada para o acervo de modo integral, isto é, benefício partilhado por todos, custo dividido entre vários livros.

Diferentemente do trabalho de restauração, a conservação preventiva é uma atividade técnica de baixo custo financeiro e de fácil implementação. O conhecimento do motivo que causou a degradação de um acervo e a utilização de materiais alcalinos para a guarda são fundamentais para o trabalho de conservação preventiva.

Apresentaremos a seguir os principais fatores de degradação de material bibliográfico. Procuramos especificar os procedimentos técnicos necessários para minimizar e controlar estas fontes de degradação.

Conservação Preventiva

A meta principal da Conservação Preventiva é o estudo e o controle das principais fontes de degradação do papel. Constitui-se, na realidade, em uma série de medidas preventivas contra a ação dessas fontes de degradação, com a finalidade de evitar o alastramento e a disseminação de seus efeitos danosos. Em linhas gerais, os principais agentes de destruição de acervos podem ser divididos em três categorias: fatores internos de degradação; fatores externos ou ambientais de degradação; ação do homem sobre o acervo

Fatores Internos de Degradação

Os fatores internos de degradação são males inerentes à própria estrutura do papel e se originam do processo de feitura a que foi submetido. Dependem basicamente da qualidade da fibra e do tipo de encolagem utilizados na confecção do papel. Sendo assim, o único meio de minimizar esses fatores é através da estabilização das condições ambientais do local de guarda e do manuseio do público

Fatores Externos de Degradação

É consenso entre os conservadores que a permanência e a durabilidade de livros e documentos estão diretamente relacionadas às condições ambientais em que esses materiais estão guardados. Em outras palavras, há uma estreita relação entre a longevidade ou durabilidade do papel e as condições ambientais do acervo. Um controle racional e sistemático do meio ambiente não apenas diminui os problemas dos fatores internos de degradação do papel, como principalmente evita o seu alastramento.

Os principais fatores externos de degradação são os seguintes: umidade, temperatura, luz, poluição atmosférica, insetos, roedores, fungos e bactérias.

Umidade e Temperatura

Esses dois fatores de degradação de acervos são extremamente comuns a nossa realidade de país de clima tropical. A umidade é o conteúdo de vapor d’água presente no ar atmosférico, resultante da combinação dos fenômenos de evaporação e condensação d’água, que estão intrinsecamente relacionados à temperatura ambiental

Independentemente do tipo de fibra, todo o papel possui uma característica comum, o seu caráter higroscópio, ou seja, toda a fibra de papel absorve água e perde água de acordo com a taxa de umidade existente no local em que está sendo mantido.

Essa oscilação de umidade faz com que as fibras se dilatem ao absorver excesso de umidade e se contraiam ao perder umidade. Esse movimento brusco de contração e dilatação ocasiona rupturas na estrutura do papel, causando o seu enfraquecimento. A temperatura elevada aliada à umidade excessiva e à falta de aeração são os fatores básicos para a proliferação de esporos de fungos e bactérias. O controle da umidade se
faz através de desumidificadores, para locais úmidos, e de umidificadores, para locais secos. A temperatura é controlada através de aparelhos de ar refrigerado. A taxa adequada para a manutenção de um acervo é a seguinte: temperatura de 22º a 25ºC, umidade relativa de 55%. A medição da temperatura se faz com o uso de termômetros, e a de umidade com higrômetros, podendo-se utilizar também o termoigrômetro (junção dos dois equipamentos).

Além dessas constantes contrações e dilatações a que as fibras dos papéis estão sujeitas devido às variações de umidade e temperatura, a proliferação de agentes biológicos de degradação, como insetos, fungos e bactérias, encontra um local propício para sua disseminação em ambientes úmidos e quentes.

Luz

A luz provoca a degradação da celulose por processo de fotodegradação, rompendo a estrutura da fibra do papel. Esse tipo de degradação é também conhecido como envelhecimento precoce ou acelerado.

O espectro eletromagnético contém diversos tipos de radiações capazes de causar danos ao papel em vários níveis. Basicamente as radiações eletromagnéticas são as seguintes: a luz visível, o ultravioleta e o infravermelho, cada uma delas atuando de modo danoso sobre o acervo em maior ou menor escala. A radiação ultravioleta situa-se na faixa de comprimento de ondas entre 200 a 400 manômetros, a luz visível situa-se entre 400 a 700 manômetros e o infravermelho na faixa acima de 700 manômetros. A fotodegradação depende de vários fatores associados: faixa de radiação, intensidade da radiação incidente, tempo de exposição e a natureza química dos suportes de documentação. A luz natural, ou seja, a luz solar e as luzes artificiais (as lâmpadas) são os dois elementos básicos da fotodegradação. A luz solar emite os três tipos de radiação acima apontadas. Logo, devemos evitar a incidência de luz solar sobre o acervo, protegendo-o através do uso de persianas, cortinas e filtros absorventes de ultravioleta. As lâmpadas elétricas são outro fator comum de fotodegradação, a degradação será maior ou menor dependendo do tipo de radiação emitida pela lâmpada usada. As lâmpadas fluorescentes são ricas em radiação ultravioleta, as lâmpadas comuns emitem uma quantidade muito grande de calor, sendo assim, não existe um tipo de luz não agressiva aos acervos, o que devemos ter em mente é a necessidade constante de protegermos nossos acervos desse tipo inevitável de degradação.

Poluição atmosférica

A poluição atmosférica é um dos fatores que mais atinge os acervos. Essa poluição deriva-se da poeira do dia a dia que se deposita sobre os materiais e também dos gases tóxicos que são emitidos por automóveis, fábricas, queima de lixo, etc. Esse depósito constante de poeira sobre os livros e documentos causa problemas de ordem estética, constituindo-se em um meio propício ao desenvolvimento de microorganismos.

Nos grandes centros urbanos é comum a poeira conter resíduos de produtos químicos que catalisam reações químicas que aceleram a degradação dos acervos. Os gases ácidos agridem muito rapidamente a estrutura química dos materiais, estando essa degradação relacionada diretamente aos níveis de umidade do meio ambiente.

Um dano muito presente em livros e documentos é o aparecimento de manchas de tom marrom ao longo de um documento, como se um líquido escuro tivesse sido derramado sobre a superfície do papel. Essas manchas, chamadas de manchas d’água, são o resultado do acúmulo de poeira na superfície do documento aliada à umidade relativa elevada.

Em linhas gerais, o processo de formação de manchas d´água é o seguinte: a poeira acumulada na superfície do papel é empurrada pela umidade para o interior das fibras, migrando da superfície para o interior do papel. Essas manchas causam graves problemas estéticos ao documento, pois obliteram grandes áreas da documentação, além de acusarem danos à estrutura do papel, já que a poeira é transferida da superfície do papel para o interior das suas fibras.

Como medida de proteção contra a ação da poluição atmosférica podemos utilizar aparelhos de ar refrigerado e sistemas de ventilação com acoplamento de filtros para ar. Devemos também incentivar uma política sistemática de higienização do acervo, evitando assim o acúmulo de poeira na superfície dos livros e documentos. Atenção especial deve ser dada às janelas quebradas, com vidros partidos, danos que provocam o aumento de poeira no acervo

Insetos, Roedores e Fungos

Os insetos, fungos, bactérias e roedores, denominados agentes biológicos de degradação, são causadores de danos irremediáveis ao acervo e também à segurança do prédio. Sendo assim, muito cuidado deve ser tomado para evitar a proliferação desses agentes predadores. Os países de clima tropical apresentam as condições climáticas ideais para o rápido desenvolvimento desses inimigos do acervo, isto é, temperatura e umidade elevadas. A higienização sistemática do acervo, o monitoramento da temperatura, da umidade são pré-requisitos básicos para o controle de sua ação danosa.

Os insetos e os roedores são basicamente atraídos ao acervo através da ação do homem ao introduzir nele fontes de alimentação. Os métodos de combate a esses organismos envolvem, na maioria das vezes, o uso de produtos químicos, através da desinfestação do acervo. Os insetos mais comuns presentes nos acervos são as traças, as baratas, os anóbios e os cupins.

A melhor estratégia preventiva para evitar a presença de insetos e roedores:

• manter o local de guarda do acervo longe de fontes de alimentos
• evitar comer e manter alimentos no local de guarda do acervo
• evitar que a cantina ou refeitório fiquem em sala ao lado de guarda do acervo
• retirar o lixo do dia após o final do expediente, evitando o pernoite do lixo
• substituir os vidros quebrados das janelas
• arejar os armários onde os livros estejam guardados, abrindo suas portas por algumas horas

Os fungos, comumente denominados de mofo ou bolor, atacam todo tipo de acervo. Os fungos são vegetais desprovidos de clorofila, não sendo capazes de efetuar a fotossíntese. Por essa razão esses organismos instalam-se sobre materiais orgânicos, de onde podem retirar seus nutrientes. A disseminação dos fungos ocorre por meio de esporos, que ficam em suspensão no ar. Os principais fatores que acarretam a proliferação dos fungos são os seguintes: a temperatura elevada, umidade do ar elevada e ar estagnado. Ao se aliarem estes três fatores, os fungos encontram o ambiente ideal para a sua proliferação.

A Ação do Homem como Fonte de Degradação do Acervo

Ao lidar diariamente com o acervo, o homem introduz e utiliza uma série de materiais impróprios à conservação de livros e documentos. Às vezes a tentativa bem intencionada de tentar estancar a degradação provoca, na realidade, danos irreversíveis. Essas tentativas amadoras não fundamentadas nos princípios de conservação se cristalizam com o correr do tempo, transformando-se em hábitos que levam indiretamente a acelerar a degradação de livros e documentos.

Apresentamos uma série de recomendações técnicas gerais, com a finalidade de facilitar a identificação de procedimentos técnicos corretos ao lidar com problemas cotidianos de conservação de acervos.
• Guardar os livros nas estantes em sentido vertical
• Evitar guardar os livros semi-inclinados, quando os mesmos não couberem nas estantes
• Guardar os livros nas estantes em sentido horizontal, quando os volumes excederem em tamanho a área para a guarda em sentido vertical.
• Não sobrepor mais de três volumes ao guardar volumes em sentido vertical
• Manter sempre os volumes maiores como base ao guardá-los em sentido vertical.
• Não superlotar as estantes com livros.
• Reservar espaço de três milímetros entre cada livro para facilitar sua retirada da prateleira e evitar o atrito entre as capas (desgaste por abrasão).
• Utilizar bibliocantos para impedir que os livros tombem.
• Não puxar os livros pelo topo (cabeça) ao retirá-lo das estantes, os volumes devem ser retirados da estante pelo centro da lombada.
• Não manter mapas, documentos, periódicos etc. dobrados ou enrolados. Ao longo do vinco cria-se uma linha de fragilidade nas fibras do papel, ocasionando a médio prazo a ruptura dessa área.
• Manter os documentos, mapas e jornais planificados.
• Evitar umedecer as pontas dos dedos com saliva para virar as páginas do livro.
• Evitar dobrar as margem superiores ou interiores das folhas para marcar as páginas
• Evitar encapar os livros com papel pardo ou similar. Essa aparente proteção contra a poeira causa, na realidade, mais dano do que benefício ao volume em médio e curto prazo. O papel tipo pardo, de natureza ácida devido a seu processo de feitura, transmite seu teor ácido para os materiais que estiver envolvendo (migração ácida).
• Não utilizar fitas adesivas tipo durex e fitas crepes, cola branca (PVA) para evitar a perda de um fragmento de um volume em degradação. Esses materiais possuem alta acidez, provocam manchas irreversíveis onde aplicado.
• Usar cola metil-celulose em todo o trabalho de conservação e na rotina de trabalhos diários. Essa cola é livre de acidez e facilmente reversível.
• Não utilizar grampos e clips metálicos, esses materiais enferrujam com o correr do tempo, deixando, no local aplicado, manchas marrons, oxidando o papel, causando o rompimento das fibras com subseqüente rasgo do papel.
• Evitar a incidência direta de luz solar sobre o acervo, a luz solar provoca o esmaecimento de cores, amarelamento do papel e esfacelamento do couro.
• Evitar a utilização de lâmpadas ricas em radiação de ultravioleta, tais como as lâmpadas fluorescentes.
• Suspender ou afastar as luminárias que incidam sobre as estantes dos livros.
• Colocar cortina ou persiana em portas e janelas de vidro, a fim de evitar a incidência direta de luz solar nas estantes.
• Não encostar as estantes nas paredes: evita-se que a umidade presente nas paredes se transmita aos volumes.
• Colocar telas protetoras contra insetos nas janelas de bibliotecas situadas em locais de muita vegetação.
• Trocar os vidros quebrados de todas as janelas, consertar janelas e portas danificadas; com esse procedimento evita-se a penetração de poeira e insetos no acervo.
. Não abrir os livros que forem atingidos diretamente por água e que estejam com as folhas molhadas.
• Intercalar papel mata-borrão para secar as folhas e as capas de livros atingidos por água.
• Nunca secar os livros molhados com calor: sol, forno de cozinha, secador de cabelo. O calor em excesso faz o papel secar muito rapidamente, causando ondulação do material.
• Usar as duas mãos para virar as páginas de jornais: segurar no topo e no pé da página para virá-lo.
• Usar lápis 6B, quando precisar fazer anotações de identificação no livro.
• Controlar o manuseio e orientar o público.
• Optar por encadernação inteira, ao mandar encadernar um livro. Não sendo possível fazer encadernação inteira, optar por encadernação meia com cantoneiras.
• Evitar excesso de tinta nos carimbos.
• Manter uma política voltada para a higienização do acervo.

Higienização de Acervo

A operação técnica de higienização nada mais é do que manter o acervo de modo limpo e asséptico. Uma operação tão simples de ser realizada e que, por isso mesmo, passa desapercebida para nós, transforma-se a curto prazo em um dos mais sérios problemas enfrentados por bibliotecários, arquivistas e por todos aqueles que têm a missão de
manter um acervo em bom estado.

A poeira, depositada dias após dias sobre os livros e documentos, causa sérios danos para a conservação do acervo. O acúmulo de poeira na superfície das obras interfere no seu aspecto estético e constitui-se em uma fonte contínua de acidez e degradação. Sendo assim, a higienização deve ser executada de modo sistemático, a fim de manter o acervo livre dessa fonte contínua de acidez, deixando-o o mais saudável
possível. Os procedimentos técnicos básicos para a atuação na área de higienização são os seguintes:

• Manter um política sistemática de limpeza de livros e estantes. A higienização do acervo possibilita identificar qualquer problema de início de contaminação do acervo por microorganismo e insetos, além de evitar o acúmulo de poeira nos livros e estantes.
• Examinar, atentamente, todo o material que for incorporado ao acervo da Biblioteca. O exame deve ser feito tanto em livros que forem doados, comprados, permutados, etc., como também em móveis, principalmente em mobiliários de madeira. Tal exame é sumamente importante, pois evita a contaminação do acervo por livro ou móvel que esteja infestado.
• Limpar os livros com trinchas ou pincel nas áreas da cabeça (parte de cima), no pé (parte de baixo) e na goteira (parte lateral). Deve-se segurar o livro pelo centro com a lombada voltada para cima, para evitar que, durante o processo de limpeza, a poeira penetre por entre as folhas. Os livros que forem incorporados ao acervo devem ter prioridade no processo de higienização. Estes livros devem ser limpos individualmente, e folha a folha, forrando-se a mesa de trabalho com papel de tonalidade clara (branca de preferência) para possibilitar a identificação da sujidade removida. O ideal é utilizar uma mesa de higienização com sucção.
• Reforçar a limpeza, com pincel ou trincha, no centro das folhas do livro. Este é o local preferido pelos microorganismos para se desenvolverem e atacarem o papel. Isso se deve, principalmente, ao fato de ser a lombada do livro coberta com espessa camada de cola em geral de base protéica que se torna uma fonte potencial de alimento para os microorganismos.
• Iniciar a higienização das estantes pela prateleira superior. A limpeza pode ser feita com o auxílio de um aspirador de pó doméstico, de flanela ou perfex. Essa limpeza é denominada de limpeza a seco, pois não utiliza vias aquosas de limpeza.
• Trabalho de higienização dos livros e das estantes deve ser feito segundo escala de trabalho a ser estipulada. A princípio de 2 em 2 meses, de acordo com o tamanho do acervo.

Atenção especial deve ser tomada ao se utilizar o aspirador de pó para limpeza das áreas externas do livro, devem-se observar os seguintes procedimentos:
• Revestir internamente o saco coletor de lixo do aparelho com um saco de lixo de plástico descartável. Esta medida evita o acúmulo de sujidade no coletor de lixo do aspirador de pó, tornando a sua limpeza segura e asséptica.
• Revestir o bocal de sucção de limpeza do aparelho com tecido de filó. Na eventual sucção de um fragmento importante do livro, ele é facilmente recuperado sem ter-se de abrir o saco coletor de lixo.

Higienização de Documentos

A limpeza de documentos avulsos deve ser feita com o auxílio de pó-de-borracha. O pó-de-borracha é facilmente obtido através da seguinte operação:
• Materiais necessários: ralador inox, borracha branca TK plastic
• Ralar a borracha Tk plastic em ralador inox, a fim de obter uma fina película.
• Depositar o pó-de-borrracha na superfície do material a ser limpo.
• Friccionar levemente, em movimentos circulares, o pó-de-borracha, depositado na superfície do material a ser limpo.
• Evitar o contato direto do pó de borracha com as pontas dos dedos.
• Utilizar tecido de puro algodão para ajudar a fricção e evitar o contato com os dedos.
• Nunca efetuar a operação de limpeza com pó de borracha sobre superfícies muito danificadas, escritas ou desenhadas a lápis, carvão e com pigmentação.

Higienização do Assoalho

A remoção da poeira depositada no assoalho deve ser feita com cuidado, a fim de evitar o seu deslocamento para a superfície das estantes e para os livros. Idealmente deve ser realizada com o auxílio de aspirador de pó, pois assim evita-se que a poeira fique em suspensão. Não se deve utilizar vassoura ou espanadores como na higienização doméstica, esse procedimento faz com que a poeira se desloque de um local para outro. Procurar utilizar, na impossibilidade de ter aspirador de pó, a vassoura revestida depano levemente umedecido. É necessário que a poeira grude no pano, evitando o seu deslocamento para
outra área do acervo.

Pode-se também utilizar o pano levemente umedecido em mistura de lisoform e álcool, (uma parte de lisoform para duas partes de água) para evitar a proliferação de microorganismos.

Em todo esse processo é fundamental que o pano de chão nunca esteja molhado. Para saber se está no ponto correto de utilização, deve-se torcer o pano até não pingar nenhum excesso líquido. Ao ficar saturado de sujidade, o pano deve ser lavado ou substituído por outro. A utilização do pano sujo causará apenas o deslocamento de sujidade de uma área para outra.

Melhoria Ambiental: Área de Guarda do Acervo

Todos sabemos que a climatização de acervo exige um alto custo financeiro. Manter aparelhos de ar refrigerado, desumidificadores e umidificadores funcionando vinte e quatro horas parece quase que inviável. Mesmo não sendo possível contar com estes aparatos tecnológicos, muito pode ser feito para minimizar os danos causados pela temperatura e umidade por meio da racionalização do espaço disponível para a guarda do acervo.

A disposição das estantes na sala de guarda deve sempre ser pensada de modo a facilitar a aeração (a movimentação e circulação do ar), observando-se os seguintes procedimentos:
• Disposição perpendicular às janelas
• Espacejamento mínimo de 70 cm entre as estantes
• Afastamento mínimo de 30 cm da parede
• Pé direito mínimo de 2,40 m para a circulação do ar sobre as estantes
• Mínimo de 10 cm entre a última prateleira e o piso para favorecer a circulação do ar
• Mobiliário: estantes metálicas, prateleiras ajustáveis e bibliocantos

Melhoria das Condições Ambientais

• Depósitos em área com menor insolação (reduz a temperatura)
• Evitar fontes geradoras de umidade (reduz a umidade relativa)
• Promover a ventilação com uso de circulador de ar
• Evitar a penetração de poeira e poluentes

Desastres em Bibliotecas: Inundação e Incêndio

Em caso de os livros serem atingidos diretamente ou indiretamente por água, decorrente de inundação, chuva, goteira, infiltração, etc., medidas imediatas de controle devem ser tomadas, a fim de evitar problemas de intensa ondulação do papel e de criação de um local ideal para a disseminação de fungos (vulgarmente denominados de mofo). Os seguintes procedimentos técnicos devem ser observados e acionados de modo mais rápido possível.

• Não abrir o livro molhado ou úmido para tentar secar as folhas do livro. Ao abrir, aleatoriamente, as folhas do livro, a água, depositada em algumas folhas, penetra para outras não atingidas ou levemente atingidas, causando o alastramento do problema.
• Secar, inicialmente, as capas do livro com o uso de papel mata-borrão
• Intercalar o papel mata-borrão entre as capas e retirar todo o excesso de água possível.
• Trocar o papel mata-borrão molhado por outros secos.
• Introduzir papel mata-borrão no miolo do livro, começando a operação pelo meio do livro e ir secando as folhas em lotes de 10 folhas.
• Não expor o livro ao sol para secar, nem colocá-lo perto de forno. A secagem com calor se dará muito rapidamente, causando grande deformação do papel.
• Deixar o livro em local arejado, em posição vertical com as folhas levemente entreabertas em forma de leque. Essa operação deve sempre ser precedida de secagem com papel mata-borrão.

Um dos piores danos, em termos de destruição de acervo, é a ocorrência de incêndio em bibliotecas. O papel é um material de fácil e rápida combustão e os danos ocasionados são irreversíveis. O único modo seguro de evitar esse desastre é o trabalho preventivo. Destacamos alguns tópicos que devem ser observados atentamente:

• Não fumar nas dependências do prédio.
• Manutenção periódica de extintores de incêndio.
• Evitar sobrecarga elétrica nas tomadas.
• Os fios e os dutos não devem ficar expostos.
• Desligar todos os equipamentos elétricos ao fim do expediente.
• Produtos inflamáveis devem ser guardados isolados em armários especiais e longe das áreas de trabalho e circulação de pessoas.

O esclarecimento prévio dos funcionários sobre como proceder em caso de incêndio é fundamental para a segurança e rápida evacuação do local. Devemos ter em mente que em primeiro lugar está a vida humana. Sendo assim a prioridade é a segurança das pessoas. Deve-se sempre ter em local visível e amplamente difundido o número de emergência do corpo de bombeiro. Tem-se revelado de grande utilidade a criação de uma brigada de incêndio dentro do estabelecimento, formada por funcionários que ficam encarregados de vistoriar as dependências e as áreas de guarda do acervo.

As saídas de emergências devem ser de conhecimento de todos os funcionários e não podem estar bloqueadas por nenhum motivo. Ter sempre em mente que o único meio de evitar um incêndio é a constante vigilância e obediência aos cuidados básicos acima listados.

Montagem de Exposições: Recomendações Técnicas

A montagem de exposições de livros, gravuras e mapas deve sempre obedecer a diretrizes básicas de conservação, evitando-se, assim, que as peças sofram degradação durante o período de exposição.

Apesar de o período de uma exposição ser curto, os problemas que advêm da exposição inadequada das peças causam danos irreversíveis ao material, o que costumamos denominar de envelhecimento precoce do material ou envelhecimento acelerado do material.

Cuidados especiais devem ser tomados em relação à montagem, à iluminação e às vitrines. Na montagem das gravuras, mapas e livros a serem expostos devem-se obedecer às seguintes recomendações:

• Montar as gravuras em passe-partout duplo, ou seja, com frente e verso.
• Fixar as gravuras no cartão de base do passe-partout, com o uso de cantoneiras de poliester ou de papel japonês.
• Utilizar cartão de pH neutro (alcalino) para a feitura do passe-partout.
• Utilizar cartão neutro com gramatura de no mínimo 600gr, a fim de afastar a obra em relação ao vidro.
• Não utilizar fitas adesivas ou colas para a fixação das gravuras no cartão de base do passe-partout.
• Nunca fixar a gravura no verso do cartão da janela do passe-partout.
• Nunca colocar as gravuras em contato direto com o vidro ou placa de acrílico (montagem tipo sanduíche de vidro).
• As gravuras nunca devem ser expostas sob os efeitos da luz solar ou incandescente. A recomendação de iluminação é de no máximo 60 lux luz.
• Os ambientes da exposição devem conter aparelhos de medição de temperatura e umidade relativa. Temperatura de cerca de 22º a 25C e umidade relativa de 55%.
• Os ambientes devem ter um controle do número de visitantes, evitando a superlotação do local.
• Usar cortinas, persianas, filtros para evitar a entrada de luz solar.
• Os expositores devem ser em forma de vitrines horizontais inclinadas, permitindo a visão dos visitantes.
• Os expositores devem ser revestidos com materiais de qualidade comprovada, papéis alcalinos.
• As peças que forem expostas sem passe-partout devem sempre ter um afastamento em relação ao vidro, evitando o contato direto da gravura com o vidro.
• Os livros expostos abertos devem ter suportes especiais de sustentação (“berço”) como medida de proteção a sua estrutura.
• Não é permitido o uso de “flash” para fotografar o acervo.

Conclusão

A Conservação Preventiva vem sendo amplamente difundida e adotada em diversos segmentos culturais, conscientes de que somente por meio deste trabalho preventivo se efetuará a consolidação da salvaguarda do acervo.

Procuramos, neste artigo, explicar e apresentar soluções viáveis a problemas cotidianos enfrentados por bibliotecários e arquivistas e, também, por aqueles interessados em manter os seus livros e documentos de modo seguro e duradouro. Conhecendo os fatores que causam a degradação do acervo, podemos protegê-lo, indo ao âmago da fonte do problema, e sem dúvida alguma prolongando a vida útil destes bens culturais.

Fonte:
Biblioteca Central da Universidade Federal de Lavras (MG)
http://www.biblioteca.ufla.br

Pesquisando Artigos Científicos

Os periódicos (jornais e revista de publicação seriada, semanal, mensal, etc.) e seus artigos são as fontes mais importantes para o pesquisador. Ao disponibilizar seus sites na internet, os editores permitem acesso a resumos, e em alguns casos, acesso ao texto completo.

O artigo de periódicos surge no século XVII, no âmbito das recém criadas sociedades científicas da Inglaterra e da França – as Academias de Ciências – juntamente com os primeiros periódicos científicos, como um meio de favorecer a comunicação entre pesquisadores. Os avanços da tecnologia na área da Informação não destronaram os periódicos e seus artigos de sua posição.

A internet possui importantes fontes de referência para auxiliar na formação de uma boa coleção de periódicos. Há fontes que requerem pagamento para licenças de uso e outras permitem acesso gratuito.

A forma mais simples de busca de um artigo científico é através de uma Base de Dados que são sites de editoras que permitem acesso aos artigos. Algumas das principais bases de dados são:
Web of Science, Proquest, Science Direct, Wilson, Blackwell, Derwent Innovations Index, Scopus, Ovdi, CAS, entre outras.

Basicamente temos dois tipos de bases de Dados, as Bases Referenciais que só nos dão a referência do artigo ( nome do periódico em que foi publicado, autor, título, volume) com o resumo do artigo e as Bases de Texto Completo onde temos acesso ao artigo na integra.

Atualmente temos duas excelentes ferramentas para busca de artigos o “meta-buscador” da Google chamado Google Acadêmico http://scholar.google.com.br/ e o portal de periódicos CAPES http://www.periodicos.capes.gov.br/ que oferece acesso aos textos completos de artigos de mais de 11.419* revistas internacionais, nacionais e estrangeiras, e a mais de 90 bases de dados com resumos de documentos em todas as áreas do conhecimento. Inclui também uma seleção de importantes fontes de informação acadêmica com acesso gratuito na Internet.

* dados de jan/2008.

Como iniciar uma busca

Fazer uma busca científica é basicamente encontrar artigos sobre determinado assunto e para isso podemos pesquisar por publicações de um determinado periódico ou de um determinado autor ou o que é mais comum pesquisar pela referência do artigo desejado.

Tendo a referência do artigo que desejamos, podemos entrar no portal de periódicos da Capes e nele bastando digitar o título do periódico em que foi publicado o artigo que desejamos encontrar, se este periódico fizer parte do portal da capes podemos ter acesso ao artigo completo ou a seu resumo.

Se não tivermos a referência podemos procurá-la usando uma das bases de dados contidas no portal da Capes e podemos selecioná-la por área do conhecimento. Devemos começar procurando nas bases referencias (resumo) porque ela é uma fonte de pesquisa mais geral, encontrando a referência do artigo desejado passamos a procurar nas bases de texto completo usando a referência encontrada para ter acesso ao texto na íntegra.

Se o artigo não for encontrado no portal da Capes podemos utilizar o Google Acadêmico, nele podemos digitar o assunto e ele nos mostrará artigos que tratam do assunto digitado e também mostrará nome de autores que escreveram sobre este tema. Muitas vezes temos acesso ao texto completo.

A seguir temos uma lista de bases de dados direcionadas por área do conhecimento:

Área de Ciências Biológicas e da Saúde:










Área de Ciências Exatas e Tecnologia:












Área de Humanas












Ciências Agrárias



Fonte:
Biblioteca Central da Universidade Federal de Lavras
http://www.biblioteca.ufla.br

Revista Veja seleciona as cidades que são número 1 no Brasil

De um total de 5564 municípios brasileiros, a Revista Veja desta semana selecionou 40 municípios que se destacam. Alguns, por possuírem indicadores sociais de países ricos, outros, que adotaram experiências dignas de serem reproduzidas em outras regiões. Muitos batem recordes mundiais e nacionais na agricultura e na indústria. Outros tantos são famosos por suas singularidades.

No item Educação e Cultura, Passo Fundo é considerada a cidade brasileira onde mais se lê. O texto da revista contém a seguinte informação:

“Os habitantes da gaúcha Passo Fundo lêem, em média, 6,5 livros por ano – um índice próximo ao francês e mais de três vezes superior ao brasileiro. Para alardear o feito, a prefeitura inaugurou em março um monumento de metal de 13 metros de altura chamado Árvore das Letras.”

Esse reconhecimento se deve ao trabalho realizado pela equipe interinstitucional coordenada pela Universidade de Passo Fundo, com apoio da Prefeitura Municipal, com a participação de professores e alunos de diferentes sistemas educacionais, de distintos níveis de ensino há 27 anos, através das Jornadas Literárias de Passo Fundo e seus desdobramentos: Centro de Referência de Literatura e Multimeios (Mundo da Leitura), realização da Pré-Jornada e da Pré-Jornadinha (metodologia de leitura antecipada das obras dos autores convidados para o evento), Jornadinhas Nacionais de Literatura (atendimento de, aproximadamente, 17 mil crianças e adolescentes a cada edição),

Programa Mundo da Leitura na TV (programa televisivo para crianças realizado na UPF, numa parceria entre o Centro de Referência de Literatura e Multimeios, a UPF TV e distintas unidades universitárias, reproduzido no canal Futura em nível nacional quatro vezes por semana e na Globo Internacional em, aproximadamente, 103 países.

Dois projetos similares se desenvolvem nas escolas – Mundo da Leitura na TV e Mundo da Leitura na escola, com vistas à formação de leitores multimidiais, a partir da proposta defendida pelo Centro de Referência de Literatura e Multimeios. Desenvolve-se, ainda, o quadro televisivo intitulado Boa Leitura que se configura como uma notícia sobre um livro novo disponibilizado pelo mercado editorial, divulgada no Jornal do Canal Futura às sextas-feiras. Desenvolve-se, dentro de uma perspectiva inovadora, o projeto Livro do Mês, com a realização de três seminários com a presença do autor do livro selecionado, direcionados a públicos distintos: alunos e professores de escolas municipais, estaduais, particulares e estudantes e professores universitários.

Outro desdobramento importante se constituiu no título concedido a Passo Fundo como Capital Nacional da Literatura (Lei Federal nº 11264, de 02/01/2006) que gerou a construção do Largo da Literatura, na Praça Armando Sbeghen, próxima à ponte do rio Passo Fundo, onde se encontra a Árvore das Letras. A idéia concebida pelos autores, Jéferson Lorentz e Luís Hoffman, consiste em espalhar sementes-letras para estimular mais pessoas a se envolverem com a leitura, a apreciarem textos literários e as linguagens de manifestações artístico-culturais. Nesse Largo da Literatura, há dois túneis de policarbonato onde são adesivados, a cada quinze dias, textos literários de autores brasileiros, de autores locais, viabilizando uma riqueza de textos aos leitores em formação, usuários desse espaço de lazer e de fruição da literatura.

Segundo a Prof. Tania Rösing, coordenadora das Jornadas Literárias e do Centro de Referência de Literatura e Multimeios, “o destaque concedido pela Revista Veja a Passo Fundo é reconhecimento que estimula cada um e todos os integrantes da comissão interinstitucional a se comprometerem ainda mais com o processo de formação de leitores numa perspectiva multimidial, crítica e cidadã.”

Fonte:
Boletim Jornadas Literárias de Passo Fundo.
n.65 - 22. julho. 2008
http://http://mundodaleitura.upf.br/boletim/65/veja.htm

4a. Semana do Escritor de Sorocaba


Programação

22/07 terça-feira

14h
Início da 4ª Semana do Escritor de Sorocaba

17h
Lançamentos e Palestras: Magda Vilasboas
Obras: “Crianciranda – Terapia Corporal com crianças” / “Terceira Idade: Uma Experiência de Amor” / “Resgatando a Vida” / CD: “Atraindo Realizações”

19h
Lançamentos e autógrafo: Lurdinha Blagitz
Obras: Êta Trem Bão, Sô!"

19h
Lançamentos e autógrafo: Edivaldo de Moraes Blagitz
Obras: Arroubos Poéticos

19h30
Abertura Solene - Com apresentação do Mestre de Cerimônia José Dezidério

-----------------------------------------------------------------------
23/07 quarta-feira

18h
Exposição Livro: Maria do Patrocínio S. Maia Lopes (Dra. Neta)
Obra: “Perdendo o medo de anestesia – mitos e verdades”

19h
Exposição Livro: Ana Paula Cattai Pismel
Obra: Tributo à Solidão
19h30
Exposição e autógrafo: Benedito Aleixo
Obras: O poeta de sargeta e Celebridades I
-------------------------------------------------------------
24/07 quinta-feira

17h
Exposição Livro e Cd: Marcelo Torca
Obras: Antológica Primazia e CD Música Instrumental e Vocal

18h
Lançamento: Antologia infanto-juvenil
Obra: Rodamundinho 2008

18h30
Apresentação: Associação dos Mágicos de Sorocaba e Região

19h
Lançamento: Coletânea
Obra: RODA MUNDO 2008

19h
Emposse do escritor Douglas Lara na ONE

19h30
Exposição: Laé de Souza
Obra: Nos Bastidores do Cotidiano

20h
Lançamento: 1ª Coletânea Teia dos Amigos
Obra: 1ª Coletânea Teia dos Amigos
-------------------------------------------------------------
25/07 sexta-feira
18h
Exposição e autógrafo: Dr. Sergio Balsamo
Obra: Revelação

18h
Exposição e autógrafo: Dr. Edgard Steffen
Obra: O anjinho dos pés tortos

19h
Exposição e autógrafo: Celso Ribeiro "Marvadão" e Walter Martins
Obras: Criando Com O Marvadão / Sorocaba bem-te-vi

19h
Exposição e autógrafo: Samuel Barros
Obra: DRACMAS

20h
Exposição e autógrafos: João Rosas Barrios
Obras: - Caminhos mesclados - A praça e a prosa - O monge, o santo e a devoção

DIA RESERVADO PARA OS ESCRITORES DA IMPRENSA
-------------------------------------------------------------
26/07 Sábado

15h
Exposição e autógrafo: Rodrigo Capela
Obra: Poesia não Vende

15h
Exposição e autógrafos: Renato de Oliveira Leme
Obra: A baleia que aprendeu a voar

16h
Exposição e autógrafos: Nilza Florentina Vendrami
Obra: Sete filhos de Maria

16h
Exposição e autógrafos: Ivone Carvalho
Obra: Poeminando

16h
Exposição e autógrafos: Míriam Cris Carlos
Obra: Arteiras sorocabanas

16h
Exposição e autógrafos: Leda Borguesi Rodrigues
Obra: Faça da sua cozinheira um sucesso na cozinha

16h
Exposição: Otto Wey Netto
Obra: Memórias do esporte sorocabano

18h
Exposição e autógrafos: Dalila Silva
Obra: Sob o olhar do corvo, a história de Hermes Tadeu/ Arrecadação para o GPACI

19h
Exposição e autógrafos: Prof. Mário Pereira Neto
Obras: Sorocaba Século 21 / Multinacionais em Sorocaba – BR

20h
Exposição e autógrafos: Carlos Roberto Mantovani
Obra: Escritos Ordinários
----------------------------------------------------------------
27/07 Domingo

10h
Atividades diversas

18h
Encerramento da Semana do Escritor de Sorocaba
===============
Mapa do local e acesso rodoviário encontra-se na postagem de 19 de julho.

Wallace Stevens (O homem do violão azul - O Imperador do Sorvete)

O HOMEM DO VIOLÃO AZUL

I
Homem curvado sobre violão,
Como se fosse foice. Dia verde.

Disseram: "É azul teu violão,
Não tocas as coisas tais como são".

E o homem disse: As coisas tais como são
Se modificam sobre o violão".

E eles disseram: "Toca uma canção
Que esteja além de nós, mas seja nós,

No violão azul, toca a canção
Das coisas justamente como são".
II
Não sei fechar um mundo bem redondo,
Ainda que o remende como sei.

Canto heróis de grandes olhos, barbas
De bronze, mas homem jamais cantei.

Ainda que o remende como sei
E chegue quase ao homem que não cantei.

Mas se cantar só quase ao homem
Não chega às coisas tais como são,
Então que seja só o cantar azul
De um homem que toca violão.
==========
THE MAN WITH THE BLUE GUITAR

I
The man bent over his guitar,
A shearsman of sorts. The day was green.

They said, "You have a blue guitar,
You do not play things as they are."

The man replied, "Things as they are
Are changed upon the blue guitar."

And they said to him, "But play, you must,
A tune beyond us, yet ourselves,

A tune upon the blue guitar,
Of things exactly as they are."

II
I cannot bring a world quite round,
Although I patch it as I can.

I sing a hero's head, large eye
And bearded bronze, but not a man,

Although I patch him as I can
And reach through him almost to man.

If a serenade almost to man
Is to miss, by that, things as they are,

Say that it is the serenade
Of a man that plays a blue guitar.
De The Man with the Blue Guitar, 1937

==============
O IMPERADOR DO SORVETE

Chama o enrolador de charutos,
O musculoso, e pede que ele bata
Em xícaras caseiras cremes lúbricos.
Que as raparigas vistam as roupas
Que é seu costume usar, e os rapazes
Tragam flores no jornal do mês passado.
Que parecer termine em ser somente.
O único imperador é o imperador do sorvete.

Pega no armário de pinho,
Com os puxadores de vidro quebrados,
O lençol que ela bordou com pombas
E cobre todo o corpo dela, até o rosto.
Se um pé ossudo aparecer, verão
Que fria e dura que ela está.
Que fixe a lâmpada seu feixe quente.
O único imperador é o imperador do sorvete.

THE EMPEROR OF ICE-CREAM

Call the roller of big cigars,
The muscular one, and bid him whip
In kitchen cups concupiscent curds.
Let the wenches dawdle in such dress
As they are used to wear, and let the boys
Bring flowers in last month's newspapers.
Let be be finale of seem.
The only emperor is the emperor of ice-cream.

Take from the dresser of deal,
Lacking the three glass knobs, that sheet
On which she embroidered fantails once
And spread it so as to cover her face.
If her horny feet protrude, they come
To show how cold she is, and dumb.
Let the lamp affix its beam.
The only emperor is the emperor of ice-cream.
De Harmonium, 1923
===================
O americano Wallace Stevens (1879-1955) era um cidadão em quem o senso comum não espera encontrar um poeta. Formado em direito, trabalhou longos anos numa companhia de seguros, onde chegou a vice-presidente. Conservador, casmurro e de poucos amigos, ele sempre manteve separadas as atividades de executivo e de poeta.

Para este boletim, selecionei dois poemas de Stevens. O primeiro, "O Homem do Violão Azul", de 1937, é um longo texto dividido em 33 partes (aqui são mostradas apenas as duas iniciais). Entre as idéias discutidas nesse poema, destaca-se a relação entre a arte e a realidade.

O outro poema, "O Imperador do Sorvete", vem do primeiro livro de Stevens, Harmonium, publicado em 1923. Nesse volume, o poeta apresenta uma poesia hermética, mas ao mesmo tempo capaz de impressionar o leitor.
===============
Fontes:
Wallace Stevens. Poemas. Seleção, tradução e introdução de Paulo Henriques Britto. Companhia das Letras, São Paulo, 1987
Carlos Machado. poesia.net. in:
www.algumapoesia.com.br , 2004

Manoel Antônio de Almeida (Memórias de um Sargento de Milícias)

1. Enredo

Leonardo, o futuro sargento de milícias, filho de Leonardo-Pataca e de Maria -da-Hortaliça, é o resultado das pisadelas, beliscões e outros atos similares praticados pelo casal de imigrantes portugueses durante a travessia do Atlântico rumo ao Rio de Janeiro.

Maria-da-Hortaliça sente enjôos logo ao desembarcar e sete meses depois nasce um robusto menino, batizado com o nome do pai. A parteira - a comadre - e o barbeiro - 'de defronte' foram os padrinhos do herói, que passa junto aos pais os primeiros anos da infância. Leonardo-Pataca, que se tornara meirinho, confirma certo dia as suspeitas de que sua mulher não mantinha a mesma fidelidade que durante a viagem.

Em conseqüência, briga com ela, expulsa de casa o garoto com um enérgico pontapé e sai em busca de consolo. Ao retornar à tarde, em companhia do compadre e padrinho do menino, é informado de que Maria-da-Hortaliça, saudosa da pátria, tinha fugido e embarcado novamente, rumo a Portugal, a convite do capitão de um navio que partira pouco antes. Logo a seguir, Leonardo-Pataca vai viver com uma cigana, que, por sua vez, também o abandona.

Enquanto isso, Leonardo, o filho, adotado pelo padrinho, que muito se afeiçoara a ele, vai crescendo e a cada dia se revela mais briguento e travesso, prenunciando futuros envolvimentos com o famoso major Vidigal, que era o terror de todos os malandros e baderneiros da época.

O padrinho, com infinita paciência, tenta encaminhar o menino na prática da religião para qual este não revela grandes pendores. Coloca-o na escola e o ensina a ajudar a missa. Se na escola se revela um péssimo aluno e colega, na Igreja da Sé, onde consegue ser sacristão, vê a melhor oportunidade para grandes travessuras, como o experimenta o mestre-de-cerimônias. Este, um padre de meia idade, virtuoso por fora, mas bastante diferente por dentro, envolve-se com uma cigana, a mesma, aliás, com quem Leonardo-Pataca vivera depois da fuga de Maria-da-Hortaliça. O sacristão se vinga das reprimendas que sofre por suas constantes travessuras levando os fiéis a tomarem conhecimento dos fatos, o que faz com que seja expulso e deixe a igreja da Sé.

Para desgosto do padrinho e da madrinha, que queriam encaminhá-lo em uma profissão, Leonardo não demonstra qualquer interesse. Prefere a vida livre da vadiagem e das brincadeiras. Certo dia, em casa de Dona Maria, uma mulher das vizinhanças, conhece a sobrinha desta, Luisinha, sua futura mulher. Até que o casamento se realizasse, porém, muita coisa, iria acontecer. Leonardo-Pataca, depois de vencer o mestre-de-cerimônias na disputa pela cigana, é abandonado novamente por esta e passa a viver com a filha da parteira, Chiquinha. Daí nascem uma filha e grandes confusões, pois Chiquinha e Leonardo se detestavam e a parteira é chamada continuamente para serenar os ânimos. Por esta época aparece em cena José Manuel, um rival do futuro sargento de milícias em seu amor por Luisinha. Apesar dos esforços da comadre para afastá-lo do caminho, ela não tem sucesso. Além disso, a morte do padrinho e as contínuas brigas com Chiquinha fazem com que Leonardo saia de casa e passe a vagabundear pelos subúrbios da cidade, quando conhece Vidinha, uma mulata sensual, de olhos pretos e lábios úmidos, pela qual se apaixona imediatamente. Como Vidinha tinha outros pretendentes, cria-se grande confusão, o onipresente major Vidigal intervém e Leonardo consegue fugir, deixando-o furioso. Mas a vida continua e, com proteção da comadre, o Leonardo entra para as hostes do major Vidigal, não revelando, naturalmente, grande amor por esta nova profissão e passando boa parte de seu tempo na prisão por indisciplina. Sempre com a proteção da comadre, que recorre à ajuda de Maria Regalada, um antigo amor de Vigida, Leonardo supera todas as adversidade, chegando ao posto de sargento de milícias.

Assim, o final feliz se aproximava. José Manuel, o rival de Leonardo no amor por Luisinha, revela-se péssimo marido e, além do mais, morre providencialmente, deixando-a viúva e livre para casar com o sargento de milícias. Passando o tempo indispensável do luto, Leonardo, em uniforme da tropa, recebe Luisinha como mulher, na mesma igreja da Sé que fora palco de suas grandes travessuras como sacristão.

2- Personagens principais

Leonardo
De menino traquinas, sempre pronto para fazer travessuras e vingar-se de quem não o suportava, passa a sargento de milícias, posto de grande responsabilidade, o que caracteriza a trajetória desordenada e contraditória de um personagem que não controla o meio em que se envolve e vai, pelo contrário, deixando-se levar por ele. Leonardo é, indiscutivelmente, a figura central do enredo, apesar de muitas vezes ser ofuscado pela ação de outros personagens.

Leonardo-Pataca
Tendo conseguido chegar a meirinho, o que lhe garante uma vida de ócio, Leonardo-Pataca é apresentado como o infeliz que é perseguido sempre pela má sorte na vida pessoal, má sorte que, na verdade, é resultado da pouca inteligência e do excesso de sentimentalismo amoroso. Mas a velhice o acalma e, afinal, encontra a paz ao lado de Chiquinha.

A comadre
Como parteira, a comadre faz uso da influência e das informações que obtém no exercício de sua profissão para organizar o mundo segundo interesses. Nem sempre é bem-sucedida, mas a sorte a favorece e consegue ver o afilhado bem casado e na posição de sargento de milícias.

O compadre
De bom coração, apesar do famoso arranjei-me, o compadre, o compadre afeiçoa-se a Leonardo, no qual parece identificar-se, pois também fora um menino abandonado que tivera que enfrentar a vida sozinho. Não vive o suficiente para ver o final feliz do afilhado.

Vidigal
O terror dos malandros e vagabundos, 'o rei absoluto, o árbitro supremo' e o distribuidor dos castigos em uma sociedade em que a polícia ainda não estava organizada, o major é visto de forma simpática, principalmente porque termina sendo uma peça fundamental para que o destino de Leonardo, o herói central, se encerre de forma favorável.

Vidinha
A 'mulatinha de 18 a 20 anos...de lábios grossos e úmidos' é o primeiro personagem da ficção brasileira que aparece o estereótipo da mulata sensual que enlouquece os homens com sua vida e sem compromissos.

3- Estrutura narrativa

Memórias de um sargento de milícias, a história do filho 'da pisadela e de um beliscão', é narrado em 48 capítulos por um narrador onisciente que orienta a leitura ao longo de toda a obra apontando e comentado as intrigas, os sucessos e os fracassos dos personagens. Se a estrutura narrativa é frágil e pouco organizada, dados os constantes saltos no tempo e no espaço, os comentários do narrador, ora humorísticos, ora irônicos, lhe dão inegável unidade, em que pesem alguns lapsos, como é o caso do personagem Chiquinha, apresentada às vezes como sobrinha e às vezes como filha da comadre.

Toda a ação do romance se desenvolve no Rio de Janeiro, 'no tempo do rei', isto é, entre 1808 e 1821.

4- Comentário crítico

Esquecido durante muito tempo, reavaliado positivamente a partir de 1920, Memórias de um sargento de milícias sempre constituiu um problema para a visão tradicional da crítica literária brasileira, que, quase sempre mais preocupada, em rotular e catalogar as obras a partir das concepções idealistas próprias da periodização por estilos [romantismo, realismo, etc.] sentia-se pouco à vontade diante da irreverência e da desordem próprias de Manuel Antônio de Almeida. Irreverência e desordem que fizeram e fazem de Memórias de um sargento de milícias um dos romances mais lindos de toda a ficção brasileira do século.

Como tantos outros romances de sua época, a obra de Manuel Antônio de Almeida foi publicada originalmente em folhetins de jornal. Cada um de seus capítulos, à semelhança das modernas telenovelas, devia provocar no leitor a curiosidade sobre o desenrolar subseqüente da história.

Mas as semelhanças entre AM e os romancistas brasileiros seus contemporâneos terminam aí. Ao contrário destes, que construíram mundo ideais, impregnados dos valores da classe dominante brasileira da época, AM centra sua atenção sobre um grupo social específico que poderia ser identificado, forçando um pouco a expressão, como a classe média do Rio de Janeiro de então.

Eram os homens livres, que, não sendo escravos mas também não dispondo de poder econômico e político, viviam, ou sobreviviam, de acordo com suas possibilidades, numa espécie de zona de penumbra na qual os limites entre os valores da ordem vigente e da marginalização completa se tornavam bastante tênues.

Por retratar com certa objetividade os costumes e hábitos deste grupo social, o romance de MAA foi qualificado, ainda no século passado de realismo. Mais tarde, por volta de 1920, ao ser reavaliado, o Memórias de um sargento de milícias foi considerado um romance picaresco a partir do argumento de que possuía as características das obras de ficção européia dos séculos XVI e XVII assim denominadas: ausência de critérios morais rígidos, um herói central de origem social pobre, uma visão de mundo ingênua e ao mesmo tempo satírica, etc.

Mas a definição não vingou, principalmente porque há uma diferença fundamental entre Leonardo e os heróis do chamado romance picaresco europeu: sua vida se limita ao espaço dos homens livres do século XIX, sem transitar através de vários grupos sociais. Além disto, ciente da ineficiência dos rótulos e catalogações da crítica tradicional, a concepção que predomina hoje na análise da obra de MAA é a que, a partir de uma perspectiva histórica, vê em Leonardo o primeiro grande 'malandro'
da ficção brasileira.

De fato, 'no tempo do rei' a ordem social definia-se a partir de dois pólos extremamente rígidos: o escravo e o senhor-de-escravos. No meio, os homens livres sem poder econômico e político representavam um grupo restrito mas, certamente, de alguma importância em termos sociais. Sua ação era definida fundamentalmente a partir da necessidade de sobreviver através de expediente raramente ligados a uma atividade econômica específica. Caracterizavam-se antes por exercerem ocupações ocasionais, pequenos serviços e alguns cargos burocráticos subalternos: vendeiro, barbeiro, parteira, miliciano, sacristão.

Leonardo, típico representante deste setor, tem como alternativa desempenhar um destes papéis. Não chega, a rigor, a optar por um ou por outro. Vê-se, antes, obrigado pelas circunstâncias, a aceitar ora esta, ora aquela ocupação. Já de início, o compadre e a comadre, seus tutores, desejam para ele uma carreira de mais destaque: advogado, padre ou algo semelhante. Leonardo desaponta-os. Pensa em casar com Luisinha, moça de certas posses. Ela, porém, escolhe alguém de nível social superior. Por fim, o 'malandro' Leonardo vê-se obrigado a entrar para o serviço militar. Não se adapta à nova carreira mas, depois de muita confusão, Vidigal, o terrível major, símbolo da ordem constituída, incumbe-se de salvar-lhe a pele e coloca-o no confortável posto de sargento de milícias. Isto não seria estranhável não fosse o fato de que a artífice de tudo é Maria Regalada, a mulher que já fora de 'vida fácil', ou seja, uma típica representante da desordem social, uma marginal.

Assim é que, entre a ordem constituída [representada por Vidigal] e a desordem tolerada [Maria Regalada], quem sai beneficiado é Leonardo. E de tudo isto, de acordo com a visão de mundo ingênua e sem conflitos que impregna o romance, não resta qualquer sentimento de culpa, tanto que ao final, em paz, o herói casa, é reformado e desfruta de cinco heranças!

O salto, em termos de enredo, pode ser um tanto brusco, mas o fato é que Leonardo escolhe a ordem e suas vantagens. Afinal, não por nada resolve esquecer Vidinha e seus encantos, aos quais faltava o charme da fortuna e do reconhecimento social.

Neste sentido moderno, Memórias de um sargento de milícias poderia ser qualificado de realista, pois MAA deixou registrado, tanto no personagem central, como nos outros, a regra constitutiva dos valores do grupo social dos homens livres do Brasil do séc. XIX: para eles ordem e desordem pouco representavam. Sem trabalhar, o que era obrigação dos escravos, e sem estar no poder, como os senhores-de-escravos, Leonardo passeia pelo mundo não levando muito em conta as convenções sociais, a não ser quando funcionam em seu próprio benefício.

Em conseqüência, sob hipótese alguma é possível aproximar Memórias de um sargento de milícias dos romances e novelas que saíram da pena de Bernardo Guimarães, Alencar e Macedo, cujos mundos ideais e quase sempre rigidamente organizados em termos éticos, encarnam e reforçam a ordem vigente. A obra de MAA encontra similar apenas nas peças de Martins Pena, que, com uma visão crítica bem mais contundentes que a do criador de Leonardo, também produziu verdadeiros instantâneos do Brasil urbano de meados do séc. XIX.

5- Estilo de época

Apesar de estar classificado como romântico, o romance Memórias de um sargento de milícias apresenta traços estéticos que ultrapassam o Romantismo. Sua composição não segue a trilha deixada pelos demais ficcionistas desse estilo. A fragmentação do enredo deixa margens de dúvida se não seria um precursor do estilo digressivo e fragmentário de Machado de Assis. Suas personagens passam longe das idealizações românticas, então mais próximas do Realismo, não raro configurando tipos. A ausência de um final feliz definitivo é outro elemento fora dos parâmetros românticos. Dentro dos romances românticos, não se direciona especificamente para os romances urbanos, que focalizam a sociedade burguesa, pois caracteriza a sociedade suburbana, a gente humilde e trabalhadora.

Sem dúvida, a situação é controversa. Devemos enxergar a presente obra como um romance de costumes, que apresenta também tendência à novela picaresca, pela presença do anti-herói Leonardinho.

Cabe ressaltar que alguns críticos enxergam na obra uma percursora do Realismo no Brasil. Há, sem dúvida, elementos realistas, mas ainda predominam componentes românticos, já que não mostra nítida intenção realista. O elementos considerados realistas presentes nessa obra filiam-se à narrativa picaresca espanhola, que tem por preocupação retratar naturalmente os costumes populares sem idealizá-los.

6- Estilo individual

Como vimos, a presente obra foge das características gerais do Romantismo, apresentando características próprias. O estilo da obra, bem como de seu autor, apresenta tendências bem pessoais e marcantes. Destaquemos algumas dessas tendências:

a. Emprego de linguagem bem coloquial, marcada por incorreções e linguajar lusitano, interiorano ou das periferias de Lisboa, lembrando que boa parte das personagens são imigrantes portugueses ou gente simples do povo.

b. Ausência de personagens idealizadas e de análise psicológica: o romance prefere focalizar os costumes, hábitos e cacoetes das pessoas de camadas sociais inferiores, numa construção mais realista da sociedade suburbana do início do século XIX.

c. Presença do humorismo, do ridículo e do burlesco: o tom geral da obra segue a tendência da gozação, marcado que está pela construção de personagens que tendem para o caricatural, para o mais absoluto ridículo. A essa tendência chamamos carnavalização.

d. Presença da ironia.

e. Presença da linguagem: A obra volta-se para si mesma, comentando os procedimentos que estão sendo empregados: palavras utilizadas, explicações sobre capítulos ou personagens que desaparecem de cena.

f. Presença de digressões: a narrativa não segue a ordem linear dos fatos, é episódica e, não raro, foge da história para comentar fatos paralelos ou para dar explicações sobre o próprio livro.

g. Presença do narrador intruso, que o tempo todo se intromete para dar explicações, analisar fatos ou personagens e conversar com o leitor.

h. Presença do leitor incluso, com quem o narrador procura estabelecer conversação: 'Pôr estas palavras vê-se que ele suspeitaria alguma coisa; e saiba o leitor que suspeitara a verdade'.

A obra deixa transparecer a presença de diversas figuras de linguagem, bem como, hipérboles, comparações, metáforas, perífrases, trocadilhos, metonímias, linguagens forenses, sarcasmos, barbarismos, etc...

7- Problemática e principais temas

Mesmo com o risco de nos tornarmos repetitivos, retomamos a problemática central da presente obra. Afinal, temos ou não uma obra que foge uma rígida classificação? Sem dúvida a resposta a esta questão é evidente uma vez que a obra apresenta elementos que escapam à típica caracterização dos moldes em voga no Romantismo, mas não atende de forma direta às perspectivas do Realismo, que sequer havia começado na Europa. É um romance que apresenta variáveis, tais como: novela picaresca, romance de costumes e romance de aventuras, sendo considerado por alguns um romance anti-romântico, o que implicaria em tendências precursoras do Realismo, que só se confirmaria a partir das Memórias Póstumas de Brás Cubas [1881], de Machado de Assis. A presença da realidade objetiva é inquestionável, mas apenas isto não configura o Realismo na linha flaubertiana.

A obra é fundamentalmente humorística, estabelecendo contatos com gênero picaresco espanhol através do protagonista, que traz em si toda esperteza e picardia de um anti-herói, Leonardinho foi o antecessor em linhagem direta de Macunaíma, de Mário de Andrade e o continuador, no Brasil, de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes.

Retrato vivo dos costumes bem brasileiros do início do séc. XIX, romance focaliza um sem número de tipos populares do RJ suburbano. Esse painel pitoresco retrata a alegria de viver, a malícia da época, as fofocas, as beatices, as crendices, as festas, as profissões, os costumes e hábitos de nosso povo. Leonardinho é o típico malandro carioca, cheio de picardia, esperteza, sarcasmo e desejo de vingança.

Podemos destacar entre as temáticas fundamentais as críticas ao aurtoritarismo policial, à religião, ao clero imoral, ao interesse econômico, ao casamento como meio de ascensão social e à vadiagem como meio de vida. Há, ainda, uma espécie de paródia do próprio Romantismo, montado nessa obra às avessas, abandonando os adocicados finais felizes para deixar nas entrelinhas uma sucessão de fatos tristes que poderiam vir a acontecer.

Fonte:
http://www.algosobre.com.br

Folclore Hindu (Os cegos e o elefante)

Numa cidade da India viviam sete sabios cegos. Como seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas os consultavam.

Embora fossem amigos, havia uma certa rivalidade entre eles, que de vez em quando discutiam sobre qual seria o mais sábio.

Certa noite, depois de muito debaterem acerca da verdade da vida, e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da montanha. Disse aos companheiros:

- Somos cegos para que possamos ouvir melhor e compreender melhor que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí brigando como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora.

No dia seguinte, chegou á cidade um comerciante montado num elefante imenso. Os cegos jamais haviam tocado nesse animal e correram para ao encontro dele.

O primeiro sábio apalpou a barriga do bicho e declarou:

- Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar em seus m£sculos e eles não se movem: parecem paredes.

- Que bobagem! - disse o segundo sábio, tocando na presa do elefante.

- Este animal é pontudo como uma lança, uma arma de guerra. Ele se parece com um tigre-dente-de-sabre!

- Ambos se enganam! - retrucou o terceiro sábio, que apalpava a tromba do elefante. - Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia.

- Vocês estão totalmente alucinados! - gritou o quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante. - Este animal não se parece com nenhum outro. Seus movimentos são ondeantes, como se seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante!

- Vejam só! Todos vocês, mas todos mesmo, estão completamente errados! - irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante. - Este animal é como uma rocha com uma cordinha presa no corpo. Posso até me pendurar nele.

E assim ficaram debatendo, aos gritos, os seis sábios, durante horas e horas. Até que o sétimo sábio cego, o que agora habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança.

Ouvindo a discussão, ele pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e errados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:

- Assim os homens se comportam diante da verdade. Pegam apenas uma parte, pensam que é o todo e continuam sempre tolos.

Fonte:
http://www.esnips.com

Projeto de Trovas para Uma Vida Melhor (2a. Parte)

2a. CIRANDA DE TROVAS Tema: Entendimento 61. A quem busca entendimento, o maior apoio é dado; a trova é um grande momento pra entender o inusitado. Cidinha Frigeri Londrina - PR ~ * ~ 62. Todo bom entendimento, resultante da razão, se dá com discernimento e com paz no coração. Nei Garcez UBT-Curitiba - PR ~ * ~ 63. Quem busca viver em paz, é amigo a todo momento; vive bem do bem que faz pelo bom entendimento; Nilton Manoel de Andrade Teixeira Ribeirão Preto - SP ~ * ~ 64. Por falta de entendimentos brigam cristãos toda hora... É que em seus questionamentos deixam o Cristo de fora. Thalma Tavares São Simão - SP ~ * ~ 65. Com o dom do Entendimento, até mesmo infiéis ateus hão de ter, no pensamento, verdadeira fé em Deus. Lairton Trovão de Andrade Pinhalão - PR ~ * ~ 66. O entendimento é completo tendo reciprocidade pois forma um elo repleto de nobre felicidade Agostinho Rodrigues Campos dos Goytacazes - RJ ~ * ~ 67. Eu pedi um entendimento e ouvi Jesus me dizer meu filho este é o teu momento sinta, ouça, ame... Queira crer. Lucia Helena de Lemos Sertã Rio de Janeiro - RJ ~ * ~ 68. Pelo dom do entendimento, Deus legou à humanidade a luz do conhecimento - fonte de toda a verdade. Leonilda Yvonneti Spina Londrina – PR ~ * ~ 69. É uma luz de entendimento contemplar a natureza: cada flor tem seu momento nesse jardim da beleza! Maria da Conceição Fagundes Curitiba - PR ~ * ~ 70. Eis o dom do Entendimento, faz-nos ver o que é divino, por meio de um instrumento material, mas peregrino. Joel Hirenaldo Barbieri Taubaté - SP ~ * ~ 71. Jesus teve o da missão que Lhe foi dada quando, no auge do tormento, teve a alma libertada!... Hermoclydes Siqueira Franco Nova Friburgo - RJ ~ * ~ 72. Quando na terra cessar fome, guerra e sofrimento, ninguém mais vai duvidar do valor do entendimento. Helio Pedro Souza Natal - RN ~ * ~ 73. -Quando houver entendimento no seio da humanidade, vai soar na voz do vento um hino à felicidade. José Lucas de Barros Natal - RN ~ * ~ 74. Não quero ser violento, nem agredir meus irmãos. Deus nos dá entendimento, para unirmos nossas mãos. Vanda Alves da Silva Curitiba – PR ~ * ~ 75. Ao se viver em um mundo Sem buscar entendimento, Cria-se um vácuo profundo, Por faltar discernimento... Severino José de Britto Belém - PA ~ * ~ 76. A inspiração é o momento, que num poema imortal, faz do verso entendimento da linguagem universal. Hélio Alexandre Silveira e Souza Natal - RN ~ * ~ 77. O entendimento mais nobre, foi quando cristo, afinal, nasceu num bercinho pobre numa noite de natal !!! Francisco Garcia de Araujo (Prof. Garcia) Caicó - RN ~ * ~ 78. Em se tratando de amor vale todo o sentimento; seja na emoção que for se revela o entendimento. Denise Cataldi Nova Friburgo - RJ ~ * ~ 79. Diante da Guerra Atômica, Tudo em cinzas se desfaz. O entendimento é a tônica Para se alcançar a Paz. Cesar Serrano São Gonçalo - RJ ~ * ~ 80. Eu creio em seu nascimento, e, nunca duvidei disto; Mas falta-me o entendimento, da ressurreição de Cristo! Ademar Macedo Natal - RN ~ * ~ 81. Paz, amor, entendimento, mandai, ó Deus, sobre a Terra, e expurgai todo o tormento das nações que estão em Guerra! Joamir Medeiros Natal - RN ~ * ~ 82. Só com a exegese d'alma se depura o sentimento, que a nossa consciência esalma pra nos dar o ENTENDIMENTO! Genilton Vaillant de Sá Vitória - ES ~ * ~ 83. Eleva neste momento, sublime eterna função... Tem que haver entendimento, para assegurar razão. Nicolau Abicalaf Neto Pinhais - PR ~ * ~ 84. Para haver entendimento é importante o perdão, sem mágoa, sem fingimento, qual verdadeiro cristão! Amilton Maciel Monteiro São José dos Campos - SP ~ * ~ 85. Havendo consentimento e um dos dois lados ceder, haverá entendimento entre a Vida e todo ser!!! Gertrudes Greco Gauratinguetá - SP ~ * ~ 86. De tanta barbárie ver, vivo em constante tormento... Vai o homem sobreviver à falta de entendimento? Renato Alves Rio de Janeiro - RJ ~ * ~ 87. Se nos entendermos, pode gerar outro entendimento, a cada vez se sacode o mundo! Por um momento... Divenei Boseli São Paulo - SP ~ * ~ 88. Com juízo o coração, diz que o tal entendimento, sob o jugo da razão, dá num lindo casamento. Condorcet Aranha Joinville - SC ~ * ~ 89. Entendimento é saber... Um saber de pura luz, vivência de bem querer sob aplausos de Jesus. Vidal Idony Stockler Curitiba - PR ~ * ~ 90. Eu procuro entendimento! Mas, a mulher é casada, e, por ser um "monumento", sempre é muito vigiada... Geraldo Lyra Recife - PE ~ * ~ 91. Uma frase solta, ao vento, pode tornar-se nefasta... para um bom entendimento, só uma palavra basta. Francisco José Pessoa UBT Fortaleza - CE ~ * ~ 92. ENTENDIMENTO perfeito entre irmãos de toda cor, para exercer o direito de viver com Paz e Amor Agostinho Paco Maringá - PR ~ * ~ 93. O mundo será melhor e atingirá rumos novos, quando se fizer maior o entendimento entre os povos... Ercy Maria Marques de Faria Bauru - SP ~ * ~ 94. No mundo tudo é possível, na busca do entendimento. Só não faz-se admissível... por culpa do embirramento! Laérson Quaresma de Moraes; Campinas - SP ~ * ~ 95. Bem antes do ENTENDIMENTO estradas seguiamos sós, pro nosso contentamento, bastou desatar os nós. Cyroba Braga Ritzmann Curitiba -PR ~ * ~ 96. Fiz a Deus o juramento de tornar real meu sonho: - Procurar entendimento para o Mundo ser risonho! Gabriel de Sousa Lisboa - Portugal ~ * ~ 97. Vem o amor e , depois... Se houver Entendimento há união entre os dois celebrada em casamento !... Euclides Cavaco Canadá ~ * ~ 98. Voz divina...Entendimento, que vem do Espírito Santo! Bela luz do pensamento, e de nossa alma o encanto! Cristina Oliveira Chavez California / USA Delegado da UBT/ Walnut Creek California / USA ~ * ~ 99. Poderá o homem obter com a luz de entendimento, a paz e o amor ceder, reflexionando ao momento! Carlos Imaz France ~ * ~ 100. Deus tinha no pensamento um Mundo mais doador: mas não houve "Entendimento" na partilha do Amor!... Clarisse Barata Sanches Góis - Portugal
===================
continua... 3a. e última parte
===================== Fonte: Colaboração de Mifori

Nilto Maciel (Panorama do Conto Cearense - Parte VIII)

Por fim aqueles que publicaram suas primeiras peças ficcionais curtas em jornais, revistas e antologias ainda nos anos 1970 e somente depois de 1980 estrearam com livro: Nilze Costa e Silva, Fernando Câncio, Carlos Emílio Corrêa Lima, Rosemberg Cariry, Joyce Cavalcante, Audifax Rios, Barros Pinho e Batista de Lima.

Da antologia 10 Contistas Cearenses (1981) Nilze Costa e Silva participou com “O julgamento” e sobre ela escreveu F. S. Nascimento: “Numa proposta reveladora de intenções fictivas, Nilze Costa e Silva faz uso de projeções visionárias, reflexões, reminiscências, definições e indefinições teológicas. Mas seu “O Julgamento” não chega a transpor o deslinde, detendo-se numa esfera espacial reservada às formas contingentes, o que não invalida o seu esforço criador”.

Um dos fundadores da revista O Saco, Carlos Emílio Corrêa Lima publicou suas primeiras composições em jornais e revistas nos anos 1970, mas somente em 1984 teve editado Ofos. Carlos Emílio é daqueles criadores para quem a folha de papel em branco diante dele deve causar angústia, por ser tão pequena, limitada. Carlos Emílio foge aos padrões do conto tradicional quando empurra suas personagens para fora dos restritos espaços de uma sala, de uma casa. Ele prefere os quintais, as praias, os desertos, os campos, as montanhas, os pomares, as árvores, que buscam o firmamento, o mais longínquo, o infinito. Na verdade, o contista não tem a mínima vontade ou necessidade de geografar as suas narrativas, talvez para não se enquadrar neste ou naquele tipo de prosa de ficção, seja o regionalismo, seja outro qualquer.

A linguagem das peças curtas (e dos romances) de CE é esparramada, volumosa, como uma corredeira, uma cachoeira. Ele nem precisa de diálogos, quase sempre curtos. O narrador transmite uma ou outra fala de personagem e continua a narrar. Ele é o protagonista da narração, embora nem sempre seja da narrativa.

O diálogo interior, o fluxo da consciência, todas as modernas linguagens estão presentes nos contos e romances de CE.

O ponto de vista é o mais das vezes o do observador, mesmo quando a primeira pessoa fala, seja ela protagonista, testemunha ou personagem secundária. Às vezes o narrador fala por ele e por outros, na primeira pessoa do plural (nós) e, aqui e ali, muda para o singular (eu). Os outros, no entanto, são bem mais que secundários, são quase que apêndices, figurantes. Em algumas obras narrador não é narrador de verdade. Como se a história já estivesse escrita e fosse o leitor, ao ler, o narrador. O leitor seria, assim, co-autor. Pode-se supor também que a história (se é que há história) é narrada pelo escritor, que pode ser um personagem oculto. Carlos Emílio consegue enganar o leitor com facilidade. Às vezes o narrador parece ser o principal da trama, quando na verdade é apenas um observador, isento quase sempre, imune aos dramas que se apresentam aos seus olhos ou saltam de sua memória. Outras vezes parece ser o protagonista, de tão presente na narração e na narrativa. Mas isto não importa ao leitor.

Muito bem apontou Dimas Macedo, em “Os Enigmas de Carlos Emílio” (LC, pág. 77), ao se referir ao romance Além, Jericoacoara: (...) “não estamos obrigados a concluir pela existência de um enredo, ainda porque o mesmo não se manifesta de forma literal, embora pareça emergir em diversos momentos do seu entretexto”. E assim também se pode observar da leitura de muitos de seus contos: a ausência de enredo ou a sua manifestação de forma furtiva, como o colear de uma serpente. Em “O Barco”, por exemplo, não se vislumbra um enredo. Talvez não haja o enredo tradicional ou mais usual. Ocorre que se trata de um enredo esgarçado, sobretudo quando o narrador parece falar para si mesmo.

Também Rosemberg Cariry se iniciou na poesia e no conto desde os tempos da revista O Saco. Suas histórias curtas são fábulas ou narrativas de crueldade, como a do ratinho do campo que, em visita ao parente urbano, termina como iguaria, em banquete de natal. Ou a mulher que, possuída pelo macho, o expele pela boca, como se fosse ela uma gruta ou um animal grande, e ele, um simples mosquito. Sobre o livro A Lenda das Estrelinhas Magras, de 1984, Ciro Colares assim se manifestou: “Suas estórias, seus contos relâmpagos, seus poemas possuem luz própria, piscam no papel como pirilampos, dando sinais claros de mensagens convincentes e carregando aquela sensibilidade que só as pessoas escolhidas, privilegiadas possuem”.

Joyce Cavalcante deixou o Ceará no início de suas atividades de escritora. Estreou em 1978, com o livro De Dentro Para Fora. Jornalista, romancista, contista, cronista e conferencista, teve editados sete livros de prosa de ficção individualmente e se integrou em oito coletâneas de contos com outros autores. Tem obras traduzidas para o inglês, sueco, francês, italiano, espanhol e holandês. No gênero conto é autora de O Discurso da Mulher Absurda (1985).

Contemporâneo dos contistas surgidos em 1970, porém mais conhecido como artista plástico, Audifax Rios estreou em 1978, com Bar Peixe Frito. Tem elaborado histórias curtas de feição jocosa, sem esquecer o lado trágico da vida. Dimas Macedo, num prefácio intitulado “Gente de Santana” (CI, págs. 221/222), assim se manifestou a respeito da obra de Audifax: “Falar de gente, de pessoas que se encontram pelos bares da vida, principalmente numa tarde de segunda-feira ou numa madrugada de qualquer outro dia da semana, eis um ofício que Audifax Rios sabe fazer como ninguém. Os caminhos e descaminhos de Fortaleza, a Loura Desquitada, amada, possuída, sorvida em deliciosos tragos, ele sabe percorrer e pintar e sentir”.

Quando Barros Pinho publicou o livro A Viúva do Vestido Encarnado, em 2002, muita gente se sentiu surpresa. Todos o conheciam como poeta, desde Planisfério, de 1969. No entanto, em 1971 Barros Pinho participou da Antologia de Contistas Novos, organizada Moacir C. Lopes e publicada pelo Instituto Nacional do Livro. Publicou conto também em O Saco.

Barros faz questão de se apresentar como representante de um neo-regionalismo, de resgate do linguajar nordestino, dos costumes e das tradições.

Os dramas vividos pelos personagens de A Viúva do Vestido Encarnado são dramas universais, embora localizados no sertão do Nordeste brasileiro ou, mais precisamente, às margens do rio Parnaíba, no Piauí.

As narrativas de Barros Pinho têm uma estrutura definida: primeiro ele pinta o espaço em que se desenrolará o drama, em seguida desenha o protagonista e logo o leitor se percebe no meio do redemoinho do conflito. Como bem vislumbrou José Alcides Pinto, em “Barros Pinho: as teias da escritura” (DN, 27/10/2002), “A paisagem geográfica vai se delineando como na montagem de um filme” (...).

Em todo o livro observa-se o emprego de frases curtas e enxutas, até com a supressão de artigos e verbos. A par disso, a linguagem poética é uma constante. Metáforas e mais metáforas são encontradas no decorrer das narrações e nas falas dos personagens, tal como em José de Alencar.

Em “Recriação da linguagem” (DN, 27/10/2002), Dimas Macedo já se referia a este aspecto na obra de Barros Pinho: “Mas poesia, na sua ficção, como no poema, se infiltra, às vezes, quase absoluta, e reina, absoluta, de maneira quase provocante, desafiando jargões, anunciando formas, propondo universos lingüísticos, restabelecendo vernizes populares e códigos de unidade semântica”.

Com A Viúva do Vestido Encarnado Barros Pinho se afirma como uma das revelações da ficção curta não somente no Ceará mas no Nordeste brasileiro, empunhando a bandeira de um novo Regionalismo – poético nas frases e nas falas dos personagens, de elaborada feitura e sem os cacoetes do velho regionalismo.

A surpresa do leitor e do crítico em relação ao contista Barros Pinho também se deu quando Batista de Lima deu a lume o primeiro livro de contos. O autor de Miranças (1977) é outro que vem do início dos anos 1970, embora tivesse se dedicado mais à poesia. Passou a divulgar suas obras de ficção mais recentemente: O Pescador da Tabocal saiu em 1997 e Janeiro é Um Mês Que Não Sossega, em 2002.

Batista utiliza sempre a narração como forma básica de contar as suas histórias. Não há diálogos explícitos, diretos. Tabocal é o grande palco onde as personagens se movimentam, nascem, vivem e morrem. As personagens são a gente do sertão, até mesmo aqueles já desaparecidos, já tornados mitos, como Lampião. São padres, coronéis, doutores, fabricantes de cachaça, valentões, afinadores de violões, coveiros e até animais. Um universo habitado por criaturas às vezes picarescas, mas sempre muito reais. O narrador-escritor ou o narrador-onisciente atua como um memorialista muito cioso da verdade dos fatos ou um repórter astuto.

Em “O Pescador de Tabocal” (Da Pena ao Vento-III), Dias da Silva fala de “linguagem simples, conhecida, cotidiana, correta, mas pessoalmente trabalhada”. E explica: “Não espere, porém, o leitor tratar-se de contos puramente descritivos, lineares, bem arrumados e comportados. São histórias curtas que transmitem a sensação de personagens, de lugares e de objetos como são percebidos e não como são conhecidos”. Quanto aos aspectos formais da obra de Batista de Lima, o crítico destaca a correção gramatical e a concisão.

O segundo livro mereceu uma “Apresentação” de Graças Musy, que captou bem a gênese das narrativas: “A moldura do cenário batistiano é repleta de imagens que resgatam o universo telúrico do autor e explodem, sintagmaticamente, como se quisessem trazer à tona todos os paradigmas de que se valeu, estabelecendo assim uma cumplicidade de linguagem com o leitor, que se assenhora desse universo, seduzido impressionisticamente pelas próprias memórias, que lhe permitem ser um agregado da casa do narrador-autor (...)”

Também Fernando Câncio não tem sido pródigo na publicação de livros. Divulgou em 1979 Meu Nome é Saudade, de “crônicas, contos, casos e devaneios”. Recebeu elogios de Risette Cabral Fernandes: “O micro-conto e a crônica configuram, portanto, o mosaico de sua imaginação, onde está decalcado o seu talento”. Participou da antologia 10 Contistas Cearenses e sobre o seu “A Pagadora de Promessas” anotou F. S. Nascimento: “De início, a impressão que se tem é de um registro à maneira de crônica. Mas o contista não tarda a identificar-se como tal, conseguindo animar a sua personagem a ponto de seu halo se fazer sentir (...)”.

Como se pode observar, nos anos 1970 não foram poucos os escritores cearenses que se dedicaram à prática da ficção curta, uns de forma tradicional, outros mais voltados para as inovações estruturais; uns obedientes à economia verbal, outros atraídos pelos horizontes mais amplos da narração; uns cautelosos na elaboração das histórias, outros dispostos a inventar mais e mais. Seja como for, naqueles anos surgiram importantes narradores no Ceará, alguns colhidos cedo pela foice do tempo, outros ainda em plena atividade intelectual, sejam aqueles que publicaram livros a partir de 1970, sejam os que, embora já escrevessem contos e poemas, somente nos anos 1980 em diante divulgaram em livro as suas obras.
***
Segue-se relação de breves biobibliografias dos contistas que despontaram a partir de 1970. Como na parte anterior, os contistas serão apresentados na ordem cronológica de edição do primeiro livro de contos. Cada um será focalizado em separado, para facilitar a leitura. A seguir virão, em ordem alfabética, os contistas que não ousaram reunir em livro as suas obras.

Francisco Sobreira nasceu em Canindé, Ceará (1942), passou a residir em Fortaleza e, em 1965, em Natal, Rio Grande do Norte. Por esta razão, seu nome é hoje muito mais conhecido neste Estado do que naquele onde nasceu. Assim o vêem os críticos potiguares, como Nelson Patriota, que, nas abas do livro Crônica do Amor e do Ódio, ao se referir à vasta produção de Sobreira no gênero conto, destaca tratar-se “de uma produção sem paralelo na história literária norte-rio-grandense”. E ainda o chama de “modelo para futuros ficcionistas potiguares”.

Deu a lume o primeiro livro usando o sobrenome Bezerra após Sobreira. Estreou, no gênero conto, em 1972, com A Morte Trágica de Alain Delon. Seguiram-se A Noite Mágica (1979), Não Enterrarei os Meus Mortos (1980), Um Dia ... os Mesmos Dias (1983), O Tempo Está Dentro de Nós (1989), Clarita (1993), Grandes Amizades (1995) e Crônica do Amor e do Ódio (1997). É autor dos romances Palavras Manchadas de Sangue (1991), A Venda Retirada (1998) e Infância do Coração (2002). Tem participado de antologias no Rio Grande do Norte e no Ceará. Ganhador de prêmios literários. Exerceu a crítica cinematográfica na imprensa de Natal e se dedicou ao cineclubismo nas décadas de 1960 e 1970.

***
Socorro Trindad, nascida em Nísia Floresta, Rio Grande do Norte (1950), fez uma espécie de permuta geográfica com Francisco Sobreira, pois passou a morar em Fortaleza, onde estudou e escreveu algumas de suas narrativas. Depois se radicou no Rio de Janeiro.

Estreou em 1972, com o volume Os Olhos do Lixo, com prefácio de Câmara Cascudo. Seguiu-se Cada Cabeça uma Sentença, em 1978, com prefácio de Aguinaldo Silva, intitulado “A Árdua Batalha Contra os Papangoos”.
***

Holdemar Menezes nasceu em Aracati, (segundo Raimundo Girão, em Jaguaruana) em 1921, e faleceu em 1996. Moço ainda saiu de Fortaleza, tendo morado no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, razão pela qual geralmente não é mencionado pelos estudiosos da Literatura Cearense e aparece em antologias de escritores catarinenses. Hélio Pólvora o chama de “escritor cearense-catarinense”. Deixou os seguintes livros: A Coleira de Peggy (1972), O Barco Naufragado (1977), A Sonda Uretral (1978) e Os eleitos para o sacrifício (1984).
***

Cláudio Aguiar nasceu em Poranga (1944). Apesar de radicado por muitos anos em Pernambuco, não deixa de ser escritor cearense. Teve impressos Exercício Para o Salto (1972) e Depoimento de um Sábio (1977). Sua obra literária está exaustivamente analisada por diversos críticos, brasileiros e estrangeiros, em artigos e ensaios reunidos no livro Viento del Nordeste, com o subtítulo Homenaje Internacional al Escritor Brasileño Cláudio Aguiar, em espanhol, da Universidad Pontificia de Salamanca, 1995.
***

Gilmar de Carvalho nasceu em Sobral (1949) e editou os livros Pluralia Tantum (1973), Resto de Munição (1982), Queima de Arquivo, Buick Frenesi e Pequenas Histórias de Crueldade. Escreveu também para teatro, crônicas e um romance fundamental da literatura cearense ou brasileira, Parabelum. Tomou parte da antologia O Talento Cearense em Contos, com “Coração Materno II”.
***

Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral (Fortaleza). Uma das fundadoras do Grupo Siriará. Morou em Brasília de 1980 a 1994, onde foi redatora dos Cursos da Universidade Aberta, da UNB. Tem um livro de histórias, O Menino D’água (1976) e romances. Com o “Casamento” fez parte da antologia O Talento Cearense em Contos.
***

Mario Pontes nasceu em Novas Russas (1932). Reside no Rio de Janeiro desde 1958. Além de contista, é romancista e ensaísta. É outro que, vivendo há muitos anos longe do Ceará, tem seu nome poucas vezes citado nos artigos e ensaios de literatura cearense. Tornou-se jornalista aos 16 anos de idade. Durante meio século trabalhou em revistas culturais e suplementos literários, como o do Jornal do Brasil, que editou por muitos anos. Estreou em 1977, com o volume Milagre na Salina, embora catalogado como romance. No entanto, o próprio Mario Pontes explica, em nota prévia, o que é seu livro: “histórias da Salina”. Em 1999 editou pela Bertrand Brasil, do Rio de Janeiro, o volume Andante Com Morte – Quatro Ficções, composto das novelas “A Morte Infinita”, “Sentinelas da Noite”, “A Engrenagem Universal” e “A Nova Rota da Seda”, catalogadas como contos. Tem traduzido importantes obras filosóficas e literárias, entre as quais do Prêmio Nobel espanhol Camilo José Cela e textos teatrais de Julio Cortázar.
***

Yehudi Bezerra nasceu em 1946 e faleceu jovem, tendo deixado impresso apenas um livro de histórias, Tocaia (1977). Deixou inéditos Momentos (poemas de 1964 a 1970), Barriga de Bombo ou As Desventuras de Pedroca Mundo, 1º. lugar no Concurso Universitário de Peças Teatrais, promovido pelo Serviço Nacional de Teatro e, inacabados, A Revolução das Bonecas e o romance Tonante.
***

José Hélder de Souza nasceu em Massapê (1931) e cedo se mudou para o Rio de Janeiro e depois Brasília. Contista, poeta, romancista e crítico literário, é autor de Coisas & Bichos (1977), Rio dos Ventos (1992) e Pequenas Histórias Matutas (2000), no gênero conto. Em outros gêneros publicou A Musa e o Homem (1959), A Grandeza das Coisas (1978), Os Homens do Pedregal (1979), Sonetos de São Luiz (1981), De Mim e das Musas (1982), Cabo Plutarco, O Berro D’água (1982), Raul de Leoni, Poeta de Transição (1984), Relvas do Planalto (1990), Brilhos e Rebrilhos de Goiás (1990).
***

Glória Martins estreou em 1978 (2ª edição de 1999) com o volume Reencontro, prefaciado por Pedro Paulo Montenegro, para quem “a nota dominante (no livro) é a espontaneidade, espontaneidade tão grande que pode mesmo a alguns parecer, em determinados momentos, descuidos formais.”
***

Joyce Cavalcante (Fortaleza, 1949) mora em São Paulo. Iniciou-se na revista O Saco e integrou o Grupo Siriará. Estreou em 1978, com o livro De Dentro Para Fora. Jornalista, romancista, contista, cronista e conferencista, teve editados sete livros de prosa de ficção individualmente e se integrou em oito coletâneas de contos com outros autores. Tem obras traduzidas para o inglês, sueco, francês, italiano, espanhol e holandês. No gênero conto é autora de O Discurso da Mulher Absurda (1985). Idealizadora e atual presidente da REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras. Incorporou-se nas seguintes antologias: Contos Pirandelianos (Editora Brasiliense, SP, 1985); O Outro Lado do Olhar (Verano Editora, Brasília, 1988), com quatro peças, ao lado de outras quatro contistas; Contos Paulistas (Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1988); Antologia do Conto Cearense (Edições Tukano, Fortaleza, 1990); Contra Lamúria, Ano 20, 1974/1994 (Casa Pindaíba, São Paulo, 1994); O Talento Cearense em Contos (Editora Maltese/Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, São Paulo, 1996), da qual foi a organizadora; Letras ao Sol (Edições Fundação Demócrito Rocha, Fortaleza, 1996). Tem também peças ficcionais em jornais e revistas, como Seara: “Um Desejo de Verão, uma Brincadeira no Ar” (n.º 6) e “Movimento Sem Fim” (n.º 7) e Espiral: “Um peixe entre as pernas” (n.º 1).
***

Gerardo Mello Mourão nasceu em Ipueiras (1917). Reside há vários anos no Rio de Janeiro. Romancista, poeta, contista, ensaísta, tradutor e jornalista. No gênero conto publicou, em 1979, Piero Della Francesca ou As Vizinhas Chilenas, constituído de 19 narrativas. Estreou em livro com Poesia do homem só, 1938. Seu primeiro romance foi O Valete de Espadas, 1960. Recebeu o Prêmio Mário de Andrade, da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1972.
***

Geraldo Markan nasceu em Fortaleza (1929), onde morreu, e é autor dos livros O Mundo Refletido nas Armas Brilhantes do Guerreiro, Edições Siriará, 1979, e Canoa Quebrada – Oniricrônicas, de 1980, além de peças de teatro. Reuniu-se a outros contistas em antologias, como O Talento Cearense em Contos, com “Primeira Rosa para Norma Jean”, e Antologia Literária (1.º Prêmio Domingos Olímpio de Literatura, 1998, Sobral), com “Quem Resiste ao Tango?” (2º.).
***

Airton Monte nasceu em Fortaleza (1949) e nunca dela se mudou. Filho de Airton Teixeira Monte e Valdeci Machado Monte. Médico psiquiatra formado pela Universidade Federal do Ceará, cronista do jornal O Povo, comentarista de rádio, redator de televisão, letrista, teatrólogo, é essencialmente poeta e contista. Iniciou-se na revista O Saco, onde publicou histórias. Um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura. Estreou, no gênero conto, com o volume O Grande Pânico (1979), seguido de Homem Não Chora (1981) e Alba Sangüínea (1983). Tem no prelo Os Bailarinos. Participou de algumas antologias: Os Novos Poetas do Ceará III, Antologia da Nova Poesia Cearense, Verdeversos e 10 Contistas Cearenses. Tem também um livro de poemas.
***

Paulo Véras nasceu no Piauí (1953), tendo se radicado em Fortaleza, onde faleceu precocemente. Estreou em 1979, com O Cabeça-de-Cuia. Embora tenha editado apenas uma coleção de prosa de ficção, é nome obrigatório em todo inventário do conto cearense.
***

Fernando Câncio Araújo (Fortaleza, 1922), cronista, poeta e contista, divulgou em 1979 o livro Meu Nome é Saudade, de “crônicas, contos, casos e devaneios”, e Pelos Caminhos do Norte, de contos. Integrou-se em antologias, como 10 Contistas Cearenses. 6º. com “Chão Violento”, no 1º. Prêmio Cidade de Fortaleza.
***

Nilze Costa e Silva (Natal, RN, 1950) passou a morar em Fortaleza com um ano de idade. Romancista e contista. Autora de Viagem (1981) e Dilúvio (1988), no gênero conto. Tem se incorporado a coletâneas, como 10 Contistas Cearenses (1981), Multicontos (1984), Antologia de Contos Eróticos (1988), com “O Exibicionista e a Espectadora Solitária”; Antologia do Conto Cearense (1990), com “Procura-se”; Antologia do Conto Erótico (1992); O Talento Cearense em Conto (1996); Iracemar (1996) e Talento Feminino em Prosa e Verso (2002). Tem também narrativas em jornais e revistas, como Seara e Espiral.
***

Rosemberg Cariry nasceu em 1953 em Farias Brito. Fundou a revista Nação Cariry e ajudou a criar o Grupo Siriará. Poeta, letrista, pesquisador de folclore, cineasta e contista, vem publicando desde o início dos anos 1970. Seu primeiro livro, de poemas, Semeadouro, saiu em 1981. Incluído em Queda de Braço – Uma Antologia do Conto Marginal, de 1977, com os minicontos “A Visita” e “Um Mosquito na Boca da Amante”. No gênero ficção menor tem o livro A Lenda das Estrelinhas Magras, de 1984.
***

Carlos Emílio Corrêa Lima nasceu em Fortaleza (1956). Morou no Rio de Janeiro. Um dos fundadores de O Saco. Editou seus primeiros contos em jornais e revistas. Somente em 1984 teria editado o volume Ofos. Tem mais três inéditos. Publicou, ainda, os romances A Cachoeira das Eras (1979), Além, Jericoacoara (1982) e Pedaços da história mais longe (1997). Correspondente da revista espanhola de literatura e artes El Paseante durante vários anos, também tem sido editor de diversas publicações em Fortaleza e no Rio de Janeiro, como o jornal Letras & Artes (prêmio APCA para melhor divulgação cultural cultural do país em 1990) e a revista Arraia Pajéurbe, lançada em 2001. Tem exercido a crítica literária. Participou da fundação e da consolidação de inúmeros movimentos literários no Ceará, em São Paulo e no Rio de Janeiro, tais como o Siriará, o CEP 2000 e o Rodas de Poesia. Em 2002 teve editado Virgílio Varzea: os olhos de paisagem do cineasta do Parnaso (Editora UFC e Fundação Catarinense de Cultura). Mestre em Literatura Brasileira pela UFC.
***

Audifax Rios, natural de Santana do Acaraú (1946), é mais conhecido como artista plástico. Versátil, tem divulgado alguns livros, onde mistura realidade à ficção, sempre se valendo da memória e da observação. Estreou em 1978, com Bar Peixe Frito, classificado como novela. Já Fez a sua Fezinha Hoje?, de 1987, seria seu primeiro livro de contos. Seguiram-se Gentes da Licânia (1989), Porto do Bingo (1990), Os Descaminhos da Loura Desquitada (1992), Viventes de Aroeiras (1993) e Iracemar (1996).
***

Moacir C. Lopes nasceu em Quixadá (1927). Cedo passou a habitar em Baturité, depois Fortaleza, fez-se marinheiro e conheceu o mundo, até se radicar no Rio de Janeiro. Estreou em 1959, com o romance Maria de Cada Porto. Seguiram-se diversos romances, traduzidos para idiomas como russo, checo, inglês. Em 1969 fundou a Editora Cátedra. Em 1971 organizou e editou a Antologia de Contistas Novos. Seu primeiro livro é O Navio Morto e Outras Tentações do Mar, de 1995.
***

Eugênio Leandro teve uma história publicada na revista Siriará, intitulada “O Vale das Pedras”. Editou um volume de contos, Nas Terras do Rei Piau e tem outro inédito. É cantor e compositor dos mais destacados no Ceará.
***

Batista de Lima (José), nascido em Lavras da Mangabeira (1949), embora pertença ao “grupo” da revista O Saco, pois seu primeiro livro, de poemas, é de 1977, passou a divulgar seus contos mais recentemente: O Pescador da Tabocal saiu em 1997 e Janeiro é Um Mês Que Não Sossega, em 2002. Seminarista no Crato, formou-se em Letras e Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Especializou-se em Teoria da Linguagem na Universidade de Fortaleza, onde exerceu a chefia do Departamento de Letras e a diretoria do Centro de Ciências Humanas. Cursou o mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará. Iniciou-se como professor de Português em colégios de Fortaleza. Na vida literária deu os primeiros passos no Clube dos Poetas Cearenses. Mais tarde participou ativamente dos grupos Siriará, Arsenal, Catolé e Plural. De poesia publicou os livros Miranças (1977), Os Viventes da Serra Negra (1981), Engenho (1984) e Janeiro da Encarnação (1995). Na área do ensaio literário deu a lume, em 1993, Os Vazios Repletos e Moreira Campos: A Escritura da Ordem e da Desordem, e, em 2000, O Fio e a Meada – Ensaios de Literatura Cearense. Membro da Academia Cearense de Letras.
***

Barros Pinho, nascido em Teresina, Piauí (1939), tornou-se cearense no decorrer do tempo. Filho de Antônio Bezerra de Pinho e Ana Barros de Pinho, é bacharel em Administração Pública, formado pela Escola de Administração do Ceará. Participou do Grupo SIN e se iniciou em livro com Planisfério, poemas, em 1969. Seguiram-se Natal de Barro Lunar & Quatro Figuras no Céu (1970), Circo Encantado (1975), Natal do Castelo Azul (1985), As Pedras do Arco-Íris ou Invenção do Azul no Edital do Rio (1988), todos de poesia. Participou de algumas antologias de prosa e verso, como Mini-Sinantologia (1968), Sinantologia (1968), Antologia dos Novíssimos Contistas do Brasil (1963), organizada por Moacir C. Lopes, Antologia Poética Projeto Mão Dupla (s.d), Antologia da Academia Cearense de Letras (1994) e A Poesia Cearense no Século XX. Editou A Viúva do Vestido Encarnado, em 2002, pela Editora Record. Barros faz questão de se apresentar como representante de um neo-regionalismo, de resgate do linguajar nordestino, dos costumes e das tradições.
======
continua... "Outros que não chegaram a publicar livros de contos".

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Folclore Japonês (O paraíso dos gatos)

Era uma vez uma bela menina órfã que se chamava Youkiko.

Ela trabalhava na casa de uma velha terrível. Sua vida era pura tristeza, pois a menina só tinha como amiga uma gatinha. Mas um dia a gatinha desapareceu. Youkiko chorou muito. E a dona da casa, em vez de consolar a pobre menina, lhe dizia assim:

- Viu no que dá se apegar aos animais? A gata a abandonou!

A menina, porém, não acreditava nisso. Sua confiança no bichinho continuava a mesma. Foi então que um adivinho passou pela cidade.

Falava-se que ele era capaz de revelar todos os segredos do mundo. Youkiko foi correndo lhe perguntar sobre o paradeiro de sua gatinha.

- Sua gata está na montanha dos felinos, que fica a leste daqui. Se você for corajosa e tomar cuidado, será fácil reencontra-la - ele lhe disse.

Youkiko não hesitou. Pediu licença à patroa e partiu em busca da gata.

Andou muito até chegar a uma cidade lindíssima, onde foi acolhida por outra menina, que a convidou para jantar. De início ela se sentiu feliz, mas á noite ouviu vozes estranhas que diziam:

- Essa menina adora gatos. Vamos protegê-la. É melhor impedir que algum de nós tente devorá-la.

A menina despertou muito assustada. Que lugar era aquele? Porém, antes que ela pudesse partir, alguém bateu à porta de seu quarto. Youkiko a abriu e deu com sua gatinha, que havia se transformado em gente.

- Minha querida amiga - disse-lhe a gata - você está no paraíso dos gatos. É um lugar perigoso para os humanos que nos tratam mal. Mas, como você sempre nos ajudou, os felinos pediram que eu lhe desse um presente.

E então entregou à amiga uma caixinha repleta de jóias e pedras preciosas. Na manhã seguinte Youkiko voltou à sua cidade. Deixou o antigo emprego e comprou uma casa. Aliás, a caixinha era mágica: as jóias nunca se acabavam.

Furiosa de inveja, a antiga patroa viajou até a montanha dos felinos.

Quando lá chegou, bateu à porta da mesma casa onde a menina ficara hospedada e foi logo dizendo:

- Quero as jóias também! Pois vocês, gatos, não vivem rondando a minha cozinha?

Mas quando a porta se abriu ela foi jogada num salão. Um imenso tigre surgiu e lhe perguntou:

- Você prefere trabalhar ou morrer?

A patroa preferiu viver. Porém, como no paraíso dos gatos o tempo é eterno, lá ela continua e continuará a trabalhar até o final do mundo.

Fonte:
http://www.esnips.com