sábado, 7 de janeiro de 2012

Proposta de Ensino para a 1a. Série (O Tesouro Encantado no Reino dos Castelos.)


Justificativa

Ah! Tu, livro despretensioso, que, na sombra de uma prateleira, uma criança livremente descobriu pelo qual se encantou, e, sem figuras, sem extravagâncias, esqueceu as horas, os companheiros, a merenda... tu, sim, és um livro infantil, e o teu prestígio será, na verdade, imortal. (Cecília Meireles, 1984).

Os castelos compõem o cenário de muitas das famosas histórias dos contos de fadas, que envolvem personagens importantes do imaginário infantil: princesas, príncipes, reis e rainhas. E cada vez mais, se percebe a importância e a influência dos contos de fadas, no desenvolvimento do imaginário infantil.

A criança ao ouvir contos de fadas, transforma em sua memória as palavras que lhe são contadas, trazendo em seu imaginário lembranças, sonhos, desejos, personagens, dúvidas, medos e associações com a sua realidade.

O contato da criança com histórias amplia o seu horizonte cultural, linguístico e literário; o autor Valotto (p. 19, 1997) nos afirma que: "A imaginação da criança, estimulada a inventar palavras, aplicará seus instrumentos sobre os traços da experiência, que provocarão sua intervenção criativa".

"O livro infantil é caracterizado por três requisitos básicos: simplicidade, clareza e fantasia" (SANCHEZ, 1983, p. 19). Esses valores resultam da associação de outros que, ao longo de séculos, preponderavam como mensagens sublineares em histórias destinadas a adultos e crianças.

Todas as histórias infantis que envolvem a vida nos castelos, despertam o imaginário infantil, pois seus enredos são ricos em personagens maravilhosos que as crianças desejam ser.

Os castelos em sua história são caracterizados como símbolos de defesa, força, conquistas e histórias que marcaram significativamente o tempo. Hoje muitos dos castelos estão em ruínas proporcionando para nós um resgate histórico e cultural da época, em que eles eram poderosas fortalezas.

Durante os primeiros séculos da Idade Média (até o século XI, aproximadamente), os castelos eram construídos com troncos de madeira retirada das florestas. Seu interior era rústico e não possuía luxo e conforto, como contam as histórias infantis.

A partir do século XI, a arquitetura de construção de castelos mudou completamente, pois eles passaram a ser construído com blocos de pedra. Tornaram-se, portanto, muito mais resistentes e com o design que as histórias infantis relatam.

E as crianças encantadas com toda esta nobreza, transportam os detalhes que percebem nas ilustrações dos livros infantis, para as suas brincadeiras de faz de conta. Sentadas na areia da praia ou do quintal, realizando construções, camada por camada, elas constroem partindo de sua imaginação, um reino de castelos.

O autor Derdyk (p. 131, 1989), nos afirma que:

Imaginar é projetar, é antever, é a mobilização interior orientada para determinada finalidade antes mesmo de existir a situação concreta. A imaginação possui uma natureza visionário, detectando a intencionalidade contida na ação humana.

A capacidade da criança de imaginar é fundamental para a construção do conhecimento. Na infância uma das formas da criança expressar o seu conhecimento é através do desenho, sendo que através dele também podemos observar e compreender como os contos de fadas influenciam no imaginário infantil.

Conforme o autor Lajolo e Zilberman, (p.13, 1991) nos afirma que:

Se a literatura infantil se destina as crianças e se acredita na qualidade dos desenhos como elemento a mais para reforçar a história e a atração que o livro pode exercer sobre os pequenos leitores, fica patente a importância da obra infantil. É o caso, por exemplo, da ilustração.

É fundamental na infância que o adulto proporcione momentos em que a criança possa ouvir e contar histórias, proporcionando que ela desenvolva a sua identidade. Através desta experiência elas têm a possibilidade de ensaiar seus futuros papéis na sociedade, adaptando-se a situações reais e colocando-se dentro da história, proporcionando que elas se sintam autoras da sua história.

Quando a criança entra no mundo da fantasia e da imaginação de um conto de fadas, ela estimula as suas ideias sobre o assunto, opiniões, sentimentos e a sua criatividade. Com todos estes estímulos, ela consegue elaborar hipóteses para a resolução de seus problemas, antecipando situações de liderança ou passividade, modificando o seu comportamento e tomando atitudes além daquelas de sua experiência cotidiana, que só iria experimentar na vida adulta.

É o que nos afirma o autor Novaes (p. 9, 1987), "[...] o que nelas parece apenas infantil, divertido ou absurdo, na verdade carrega uma significativa herança de sentidos ocultos e essenciais para a nossa vida".

No faz de conta, seus desejos podem facilmente ser realizados e quantas vezes a criança desejar, criando e recriando situações que ajudam a satisfazer algumas necessidades presentes no seu cotidiano.

"Os contos, representam valores que se cruzaram através de ciclos históricos." (KHÉDE, p. 24, 1990).

Lendo e ouvindo os contos de fadas, a criança pode vivenciar os valores na relação com os seus amigos, pois as histórias são instrumentos poderosos de transmissão de valores de geração em geração. Por meio delas, perpetuam-se valores como solidariedade, companheirismo, amor, carinho, respeito e entre outros que contribuem para a formação da identidade da criança.


Objetivos gerais

Propiciar através das histórias de contos de fadas o envolvimento das crianças com a cultura escrita transformando o aprendizado em um processo prazeroso.
Vivenciar os valores na relação com os amigos no cotidiano, resgatando através das histórias, sentimentos importantes para a vida em harmonia.
Instigar através do tema Castelos o conhecimento de uma época com estilo de vida e cultura bem diferente dos atuais, fazendo com que elas possam refletir a partir das diferenças da nossa condição atual de vida.

Objetivos específicos

- Despertar o imaginário e a criatividade através das linguagens artísticas: artes visuais, música, teatro e dança.
- Conhecer diferentes histórias infantis que envolvem em seu enredo o tema "Os Castelos" e seus personagens.
- Identificar os diferentes tipos de habitação confeccionados pelo homem e seu modo de vida em cada época.
- Instigar o conhecimento histórico cultural sobre castelos medievais no Brasil e no mundo.

Conteúdos conceituais

- Estudo sobre diferentes tipos de habitação confeccionados pelo homem e seu modo de vida em cada época.
- Conhecimento de diferentes histórias infantis que envolvem em seu enredo "Os Castelos".
- Aprendizado de adivinhas, poesias e histórias em quadrinhos sobre o tema abordado.
- Estudo dos valores, o seu significado e a sua importância para a nossa vida em harmonia.

Conteúdos procedimentais

- Identificação no mapa de castelos presentes no Brasil e no mundo.
- Conhecimento das partes que compõem um castelo: fosso, muralha, caminho da ronda, ameias, porta, cisterna.
- Confecção de trabalhos com materiais de texturas diversificadas.
- Identificação de fonemas e sílabas através de exercícios de consciência fonológica.
- Representação de desenhos com detalhes de objetos, pessoas e cenários.
- Vivência com os pais sobre os trabalhos confeccionados pelas crianças durante o semestre.

Conteúdos atitudinais

- Incentivo a criatividade como fonte de criação de castelos e vestuário da época.
- Valorização da história dos castelos e época em que simbolizavam a defesa, força e conquistas.
- Reaproveitamento de materiais.
- Desenvolvimento da responsabilidade social e cultural.
- Importância da convivência em grupo.
- Vivência de valores, como: amor, companheirismo, bons modos, bondade, responsabilidade, abraçar, paciência, obediência, honestidade, alegria, compartilhar, consideração, cuidado, compreensão, gratidão, justiça e sucesso.

Procedimentos

- Pesquisa sobre como era a vida nos castelos;
- Pesquisa sobre os castelos que existem no Brasil e no mundo;
- Conhecer as partes que compõem um castelo e como era construído;
- Descobrir quais eram os membros da nobreza (rei, rainha, príncipe, princesa);
- Recordar que Joinville também é reconhecida como Cidade dos Príncipes, devido a sua história;
- Confecção de um castelo gigante com caixas de leite;
- Realizar estimativas de contagem com as crianças sobre quantas caixas são necessárias para construir um castelo;
- Confecção de coroas e cetros com material reciclável;
- Construir castelos na areia;
- Confeccionar castelos com argila e material reciclável;
- Confecção do Jogo de Xadrez, que possui em suas peças os personagens desta época: rei, rainha, bispos, cavalos, torres e peões.
- Brincar de dramatizar histórias infantis (O quebra nozes) e parlendas (A linda rosa juvenil) que envolvem o enredo dos castelos;
- Ampliar o vocabulário das crianças sobre o tema, formando bancos de palavras;
- Confeccionar textos coletivos sobre o tema e realizar releituras de obras de arte.

Avaliação

As crianças serão avaliadas durante todo o projeto através de atividades coletivas e individuais realizadas conforme a descoberta de detalhes de cada novidade trazida ou apresentada. Como fechamento deste projeto faremos a apresentação de uma peça teatral e exposição, na qual estarão presentes o livro do projeto e diversos trabalhos de artes visuais que serão confeccionados durante o semestre.

Referências bibliográficas

DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. São Paulo: Scipione, 1989.
KHÉDE, Sonia Salomão. Personagens da literatura infanto-juvenil. São Paulo: Ática, 1986.
LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira Histórias e Histórias. 5 ed. São Paulo: Ática,1.991.
MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
NOVAES, Nelly. Coelho: O Conto de Fadas. São Paulo: Ática, 1987.
SANCHEZ, Martina. Pequeno tratado da literatura infantil e infanto-juvenil. Goiânia: Imery, 1983.

VALOTTO, E. R. Contando e encantando. São Paulo: S.M. edições, 1998.
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Diretora: Cladis L. Lermen
Coordenadora: Cláudia Cristina Dietrich
Professoras: Janaina Jerlane Coelho
Solange Marília da Silva

Fonte:
Associação Educacional Luterana Bom Jesus/IELUSC
http://www.ielusc.br/portal/?ENSFUN1_3=714

Lauro Pinheiro (Trovas, Apenas)


Amor que existe na Terra,
E entendo agora daqui,
É uma alegria que chora
Num sofrimento que ri.

O que se ganha da vida
(Ensino de lá e cá)
Depende em qualquer momento
Daquilo que se lhe dá.

Nos problemas de melhora
Dos sentimentos humanos,
Doença faz mais num dia
Que estudo de muitos anos.

O Céu conta com dois ralos
Para limpar o destino,
Instrução é o ralo grosso,
Sofrimento, o ralo fino.

Se sofres dores crescentes,
Não esmoreças na estrada.
Quando chega a meia-noite,
É hora da madrugada.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Lendas e Contos Populares do Paraná (Morretes /Nova Cantu /Palmital /São José dos Pinhais /São Mateus do Sul /Tomazina/ Verê/ Virmond)


MORRETES
Saci-pererê


Em Morretes, aconteceu o caso de um jovem que, voltando para casa após uma noite de festa, levou uma chicotada do saci. Assustado, ele entrou em casa e até o dia amanhecer ouviu os assobios do saci, que perambulava por seu quintal.

Segundo os moradores de Morretes o assovio é uma das melhores maneiras para descobrir
se o saci está perto, ou não. Ele tem um assovio duplo e curto, um aspirar e um expirar que soa fino. Outra forma de visualizá-lo é em seu segundo corpo, pois afirmam que à noite ele tem o corpo de Fin-Fin, um pássaro que habita nas florestas e difícil de ser encontrado.

MORRETES
As bruxas


As bruxas apareciam principalmente em noite de lua cheia, nas fazendas e nos engenhos de Morretes. Ainda hoje elas galopam, sentadas no pescoço do cavalo, fazendo em suas crinas tranças finas e unidas para servir de estribo. São trançadas de tal modo, que não se pode desfazer, só cortando. Segundo a lenda, quem consegue desmanchar a trança, é uma bruxa ou bruxo.

Temos vários relatos de pessoas, pertencentes às famílias tradicionais de Morretes, que tiveram oportunidade de ver de perto a trança feita pela bruxa. Dizem, também, que a noite elas vão aos engenhos, em forma de patas, para beber; depois vão reunir-se aos outros patos, numa lagoa dourada, onde se banham.

NOVA CANTU
Lenda do lobisomem


Contam os antigos moradores, que em época de quaresma ninguém podia sair nas ruas durante a noite, pois havia um homem andarilho que virava lobisomem. Ele saía à noite e andava pelos quintais das residências, nos galinheiros, nos chiqueiros e nos currais. Os cachorros saíam correndo atrás do lobisomem, que se transformava num monstro barbudo com rabo bem grande e era o terror da quaresma.

Esse ser estranho amedrontava as crianças e os adultos, pois todos acordavam com os urros e gemidos estridentes. Os antigos diziam que para o lobisomem ir embora, e saberem quem era o andarilho, devia-se jogar sal nele e mandá-lo vir buscar no dia seguinte sal emprestado. Curioso é que na manhã seguinte o andarilho passava nas casas pedindo sal emprestado.

PALMITAL
Bicho-homem


Em épocas passadas, ouviam-se muitas histórias do tal bicho-homem: o lobisomem. Em uma fazenda aqui em Palmital, morava uma família. Ela residia em uma grande casa e possuía garotos muito sapecas, que não tinham medo de nada.

Certa noite, resolveram prender um bicho que os incomodava e pelas características deduziram que fosse o tal lobisomem. Prenderam o animal e ficaram aguardando o amanhecer, enquanto lentamente a fera sofria transformações, retomando as características humanas.

Após a tal mudança de bicho para homem, ele começou a gritar desesperadamente pedindo que o soltassem, mas os meninos o mantiveram preso e lhe deram uma boa surra, soltando-o logo em seguida. Este, totalmente sem roupa, saiu correndo e nunca mais voltou a incomodá-los.

PALMITAL
A surpresa


Era uma vez uma família que morava em um sítio, nas redondezas de Palmital. Nesse sítio também morava outra família, a do seu João, que cuidava da terra, trabalhando-a e ocupando-se com tarefas que necessitavam ser feitas. Seu João gostava de contar histórias e suas preferidas eram as de lobisomem.

Certa noite de lua cheia, estava muito frio e o dono do sítio resolveu acender uma fogueira no meio da casa, pois naquela época, nas casas não havia assoalho e sim chão batido, facilitando-se o acender do fogo, onde todos poderiam aquecer-se.

Fizeram o fogo e todos estavam alegremente conversando enquanto se aqueciam. De repente, ouviram que algo arranhava as paredes pelo lado de fora. Mais do que depressa, o dono da casa pegou sua espingarda e ficou aguardando, pois poderia ser uma onça, um tigre ou outro animal qualquer, pensou ele. Os ruídos aumentavam, assim como a angústia em meio às preces, dos que estavam dentro da casa.

Assim, o clima tenso permaneceu por alguns minutos, até que a dona da casa lembrou que poderia ser o lobisomem, pois era época de quaresma; e foi logo dizendo ao bicho que retornasse pela manhã para apanhar um pouco de sal, dito isto, o barulho cessou.

Na manhã seguinte, acordaram com batidas à porta; ao atenderem, para surpresa de todos era João, que estava ali para apanhar o pouco de sal que haviam lhe prometido.

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
Chico Bracatinga


Pouco antes do sol se pôr, passava pela rua Voluntários da Pátria; todo dia, o Chico Bracatinga, meio velho, manco; mais pra pequeno do que pra gente grande, magro, enrugado e ajudado por um bastão de Cambuí. Dizia boa tarde pra famílias que se sentavam à frente da casa, vendo as crianças brincarem de ciranda, cirandinha, bete, búrico, polícia e ladrão e outras. Nunca ninguém viu o Chico Bracatinga voltar. Ele ia até o centro de São José dos Pinhais e todo mundo sabia que, à noite, ele virava lobisomem.

SÃO MATEUS DO SUL
História real


Havia um casal que tinha acabado de se casar, o marido tinha dado à mulher um lindo vestido de seda vermelha, pois naquele tempo as mulheres usavam só vestidos e de seda. Toda noite o marido saía e chegava antes do sol sair.

Sua mulher, cansada de ficar sozinha, falou a ele que também iria passear à noite. Lá havia um carreiro muito escuro, com árvores de cambuí. Ele, porém, lhe falou: “não vá, você vai tomar um susto”. A mulher não deu importância, só disse: “eu não tenho medo de nada”.

Ela saiu e ela foi passear na casa da sua vizinha. Quando estava voltando com seu lindo vestido de seda, avistou um cachorro muito grande embaixo da árvore, que pulou nela e rasgou todo o vestido de seda vermelho.

Quando chegou em casa seu marido ainda não tinha chegado. Quando ele chegou, perguntou a ela se não tinha visto nada. Ela lhe disse: “só um grande cachorro que me avançou e rasgou meu vestido vermelho, aquele que você me deu, lembra?”

Então, ele sorriu com os pedaços do vestido dela em seus dentes.

SÃO MATEUS DO SUL
A cobra


Há muitos anos atrás, uma família humilde que morava numa casa simples, de chão batido, foi vítima da maldade de uma cobra. A senhora tinha uma filha recém-nascida e quando ia amamentar o bebê a cobra as hipnotizava e se alimentava do leite da senhora, enquanto dava o seu rabo para a criança chupar, assim a criança não chorava. Desconfiado, seu marido resolveu sondá-las, ao perceber que sua filha tinha assaduras em toda a boca.

Certa noite, sua desconfiança se confirmou, havia uma cobra se alimentando do leite materno da criança e, ao satisfazer-se, voltava para o seu lugar. Neste momento, o marido da vítima matou a cobra, mas, infelizmente, a filha nunca se livrou da conseqüência de tal fato, pois ao morrer com seus setenta anos ainda possuía as assaduras na boca.

TOMAZINA
Lenda da cobra encantada


Conta-se que duas moças tiveram duas crianças. Para esconder o nascimento delas uma jogou seu filho no rio, à altura da corredeira, e a outra jogou o seu na curva da prainha.

Na prainha existe um redemoinho; dessa maneira, as crianças ali jogadas subiram o rio, ao invés de descer. As duas crianças se encontraram na curva do rio, atrás da Igreja. Assim, transformaram-se em uma serpente, que se encontra adormecida com a cabeça embaixo da igreja e o rabo no rio, embaixo da ponte. Conta a lenda que as rachaduras da igreja são conseqüências dos movimentos da serpente tentando acordar.

Dizem que os pecados dos tomazinenses é que irão acordar a serpente. Ela destruirá a igreja e unirá o rio das Cinzas em linha reta, provocando a junção das duas corredeiras, acabando com a curva do rio e destruindo a cidade.

VERÊ
História de lobisomem


Minha mãe Vergínia não queria que a gente voltasse para casa, depois do anoitecer. Ela dizia que, à noite, aparece o lobisomem, ainda mais numa sexta-feira. Um dia eu estava de namoro com uma moça do Sbalqueiro.

Fui ficando, escureceu e era uma sexta-feira. Joguei os baixeiros e os pelegos no cavalo e saí apressado.

Logo que passei o rio Tigre, apareceu um vulto, o cavalo se assustou, deu uma corcoveada, jogou-me no chão e saiu em disparada. Quando me vi ali caído, calculei que era o lobisomem que vinha me pegar. Mas já que ele ia me pegar mesmo, abri os olhos para ver como ele era. Aí entendi a história.

Era só um tatu que tentava subir um barranco e quando chegava numa certa altura, não conseguia e descia rolando. Quando eu cheguei em casa, com o baixeiro e o pelego debaixo do braço, o cavalo já tinha chegado. E a mãe preocupada, porque o cavalo chegou sozinho.

VIRMOND
O lobisomem


Antigamente, no início da colonização de Virmond, as pessoas costumavam sair muito para passear, visitar seus parentes e vizinhos à noite. Um homem sempre saía sozinho, não gostava de levar sua esposa. Ela começou a desconfiar dele e então pediu para ir junto, no caminho ela sentiu que seu esposo estava estranho; quando de repente ele pediu para entrar na floresta.

Da floresta logo saiu um lobisomem, tentando morder a mulher. Ela foi agarrada pela saia, que era vermelha, esta ficou toda despedaçada. Depois disso, o lobisomem sumiu no meio da floresta. A mulher correu muito e voltou para casa; chegando lá viu seu esposo dormindo, com a boca aberta, e entre seus dentes haviam pedaços vermelhos de sua saia. Descobriu, então, que seu próprio marido era o lobisomem.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

Guerra Junqueiro (O Pinheiro Ambicioso)


Era uma vez um pinheiro que não estava contente com a sua sorte. «Oh! dizia ele, como são horrendas estas linhas uniformes de agulhas verdes, que se estendem ao longo dos meus braços! Sou um pouco mais orgulhoso que os meus vizinhos, e sinto que fui feito para andar vestido de outro modo. Ah! se as minhas folhas fossem de ouro».

O Gênio da montanha ouviu-o, e no dia seguinte pela manhã acordou o pinheiro com folhas de ouro. Ficou radiante de alegria, e admirou-se, pavoneou-se todo, olhando com altivez para os outros pinheiros, que, mais sensatos do que ele, não invejavam tão rápida fortuna. À noite passou por ali um judeu, arrancou-lhe todas as folhas, meteu-as num saco e foi-se embora, deixando-o inteiramente nu dos pés à cabeça.

«Oh! disse ele, que doido que fui! Não me tinha lembrado da cobiça dos homens. Despiram-me de todo. Não há agora em toda a floresta uma planta tão pobre como eu. Fiz mal em pedir folhas de ouro: o ouro atrai as ambições.

«Ah! se eu conseguisse um vestuário de cristal! era deslumbrador e o judeu avarento não me teria despido.»

No dia seguinte acordou o pinheiro com folhas de cristal, que reluziam ao sol como pequeninos espelhos. Ficou outra vez todo contente e orgulhoso, fitando desdenhosamente os seus vizinhos. Mas nisto o céu cobriu-se de nuvens e o vento rugindo, estalando, quebrou com a sua asa negra as folhas de cristal.

«Enganei-me ainda, disse o jovem pinheiro, vendo por terra, feito em bocados, o seu manto cristalino. O ouro e o cristal não servem para vestir os bosques. Se eu tivesse a folhagem acetinada das aveleiras, seria menos brilhante, mas viveria descansado.»

Cumpriu-se o seu último desejo e, apesar de ter renunciado às vaidades primitivas, julgava-se ainda mais bem vestido do que todos os outros pinheiros seus irmãos. Mas passou por ali um rebanho de cabras, e vendo as folhas tenrinhas e frescas, comeram-lhas todas sem lhe deixar uma única.

O pobre pinheiro envergonhado e arrependido, já queria voltar à sua forma natural. Conseguiu ainda este favor e nunca mais se queixou da sua sorte.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Moisés Eulálio (Trovas – Lembretes)


Quem busque felicidade
Atente nesta lição:
Excesso de liberdade,
Caminho de escravidão.

A paixão tem dois venenos
Que sempre lhe são fatais:
Entendimento de menos
E reconforto demais.

Sabedoria avançada
Nesta lição das mais nossas:
O que em mim te desagrada,
Corrige em ti como possas.

Fé sem obras – sonho vão,
Mão fechada, vida oca,
Bela conversa vazia
Enclausurada na boca.

Quem não sofre nem teme
E tão-só de si se agrade,
Parece barco sem leme
Na hora da tempestade.
~ * ~ * ~ * ~ * ~
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Irmão de Pinóquio – VI – O alfinete


E salvou-se. Quando Narizinho reabriu os olhos, viu que estava outra vez no pomar, à beira do ribeirão, sentada na “sua raiz” com Faz-de-conta ao colo, mudo e morto como antes. Sacudiu-o, como se fosse um relógio que houvesse parado, mas o boneco não andou. Parece que havia quebrado a corda.

— Que pena! — murmurou Narizinho. — “Mudei de estado” outra vez. Estou agora no estado de todos os dias — um estado tão sem graça...

E voltou correndo para casa porque era quase noite.

— Vovó! — gritou ela ao entrar. — Faz-de-conta viveu mais de uma hora, e conversou comigo, e me acompanhou ao País das Maravilhas, lá onde mora Capinha Vermelha. E vi as ninfas dançando, e um fauno tocando flauta, e quebrei-lhe a flauta, e saiu de dentro uma nuvem de vespas, e uma delas era fada e...

— Pare, pare, menina! — exclamou dona Benta tapando os ouvidos. – Você me deixa tonta. Não estou entendendo coisa nenhuma.

— E a fada quis me morder e fechei os olhos bem fechados, e João Faz-de-conta puxou o prego e bateu nela, e a malvada fugiu e a cabeça de Faz-de-conta rolou pelo morro abaixo...

— Pare, pare! — gritou outra vez a velha. — Vá contar essa história a Pedrinho e deixe-me em paz.

Pedrinho naquele momento já saíra da floresta. Vinha carrancudo e desapontado, pensando no melhor meio de vingar-se da boneca e do Visconde.

Quando chegou, a menina foi ao seu encontro, gritando:

— Três grandes novidades, Pedrinho! Faz-de-conta viveu por mais de uma hora e revelou-se um nobre caráter. Tem Gênio muito diferente do de Pinóquio. Muito mais sensato e, além disso, valente e leal. Pedrinho ficou inteiramente desnorteado com aquelas palavras. Não podia admitir que fosse possível semelhante coisa. Se Faz-de-conta não era feito de nenhum “verdadeiro pau vivente”, como poderia ter vivido?

— Viveu, sim! — insistiu a menina. — Mas só vive quando a gente “muda de estado”.

— Que história é essa?

— Não sei explicar. Só sei que em certos momentos a gente muda de estado e começa a ver as maravilhosas coisas que estão em redor de nós. Vi ninfas, e um fauno, e uma vespa que era fada, e Faz-de-conta lutou com ela e me salvou, e vi uma fumacinha lá longe e fui correndo e dei com a casa — sabe de quem? — Da menina da Capinha Vermelha

— Não diga!...

— E estive conversando com ela uma porção de tempo, e soube que se dá muito com Peter Pan. E Peter Pan apareceu para Faz-de-conta e prometeu chegar até aqui.

Pedrinho deu pulos de alegria, porque era aquilo o que mais desejava no mundo.

— E a terceira novidade é ainda mais importante — continuou a menina. — Imagine que descobri que aquele alfinete de pombinha que tia Nastácia deu à Emília é uma poderosa vara de condão – e portanto Emília, se quiser, pode virar fada!

Pedrinho deu novos pulos de alegria, tal barulho fazendo que a boneca lá da sala ouviu e veio ver o que era. E o mesmo Pedrinho que minutos antes vinha formando planos para vingar-se do logro que levara, mudou completamente de idéia. Tratou mas foi de adular a futura fadinha.

— Emília — disse ele com a voz mais amável do mundo – vou fazer três cavalinhos novos para você, cada qual de uma cor, e uma casinha linda para você morar, e um fogãozinho para você cozinhar, e um trapézio para você balançar-se, e umas asinhas para você voar e uma...

A boneca espantou-se tanto com aqueles nunca vistos excessos de gentilezas, que foi arregalando os olhos, arregalando, arregalando, até que — pluf! — arrebentaram.

— Malvado! — berrou ela com cara de choro. — Está aí o que você me fez...

Os olhos de Emília eram de retrós e sempre que se arregalavam demais acontecia aquilo — arrebentavam...
––––––––––––––
Continua… Circo de Cavalinhos – I – A operação cirúrgica

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Trova Ecológica 63 - Delcy Canalles (RS)



Maria do Carmo Marques Ramos (Poemas Escolhidos)


Tatuí / SP

SONETO AO SONO

Entre os vermelhos tons do ocaso, o dia
Agonizava. A luz do sol não mais
Resplandecia. E a noite veio audaz.
Chegou com seus mistérios e seguia...

Entre nuvens, a lua, a luz abria.
Silencioso, o sono vaga e traz
Às almas o descanso que desfaz
A saudade cruel. Cala a agonia...

Voando com o sono, vem o sonho,
Levando em suas asas fascinantes,
Um mundo de ilusões em cada canto.

Vejo, querido, teu rosto risonho,
Teus olhos feiticeiros, faiscantes
De amor. Vens em meu sonho, amo-te tanto!

O AMOR SOA NA AMPLIDÃO

Um doce calor brilha, o amor ateia.
Teu olhar faiscante vibra aceso.
Tua voz rouca, tépida, tão cheia
De paixão, solta o amor no peito preso.

No céu claro dardeja o sol, alteia
No poente. A tormenta vem, surpreso,
Olhas ao longe o verde mar que ondeia...
E a noite afuma o céu, com todo peso.

Que fogo em teu sorriso fascinante!
Boca vermelha, cálida, macia...
Em brasa, balbucias por meus beijos!

Teu coração lateja delirante!
No peito, o amor ardente, em alegria,
Soa na amplidão mágicos arpejos.

(Poesia publicada no Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea - Junho de 2011)

AMOR ARDENTE

Querido! Pousa teu olhar sobre mim,
Essa luz sem fim, terna enigmática.
Penetra-me a alma triste, descrente,
Com teu olhar quente, a aquecer-me o ser.

Vem sentir o esplendor do amor antigo!
Aspiro estar contigo, meu amor,
Quero sentir teus beijos doces, saborosos,
Teus lábios fogosos a me beijar.

Meu coração é fogo que abrasa,
É amor, é brasa a queimar.
Desejo teu amor, desejo tanto,
Envolvendo-me como manto luminoso.

Vem carregando todas as alegrias!
Sem ti, frias, silentes são as noites.
Vem dizer-me que sou tua querida,
Perfuma minha vida com teu amor.

(Poema de Os mais belos poemas de amor – 2011)
-

Soares Bulcão (Trovas para Pensar)


Não te dês ao pessimismo,
Por mais que a dor te requeira,
Se o mal te empurra no abismo,
Deus te segura na beira.

Felicidade provém
De uma verdade, só uma:
Dar tudo quanto se tem,
Sem pedir coisa nenhuma.

Tua dádiva é mais bela,
Conforme razão concisa,
Se te colocas com ela
No lugar de quem precisa.

Prazer comprado no mundo
Por alheio sofrimento
É como cheque sem fundo
Na hora do pagamento.

Quem perde a fé no futuro
Vive de sonhos plebeus...
A própria flor no monturo
Lembra um sorriso de Deus.
~ * ~ * ~ * ~ * ~
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Versos Verdes (Parte 1)


GABRYELE MAIA DA SILVA
São Luís / MA


Natureza, grandes belezas

No céu, na terra ou no mar
Com a natureza quero estar
Observando as maravilhas do seu luar

Junto com o sol nascendo
Trazendo alegria para o nosso olhar
Quero com os bichos brincar

A biodiversidade posso captar
E nas suas belezas posso navegar
Nas tuas florestas posso andar
E com seu pulmão posso respirar

Trazendo vida ao nosso coração
Sem cobrar nenhum tostão
Essa é a nossa relação

Se você ficar conosco
Vamos viver um tempão
Juntos numa só emoção

IVAN JOSE VIANA BARBOSA
CANDÓI / PR

Pássaro

Pássaro amigo meu é
Amigo dele sou
Ele canta e me encanta
Com sua cantiga durmo
E sonho
Noite após noite
Acordo e ele está lá ...
Me desejando Bom Dia!

LUCIANA OLIVEIRA
JABOATÃO DOS GUARARAPES / PE

O verde da natureza

O verde da natureza,
das folhas e das frutas que não estão maduras.
O verde da natureza
que está sempre nas matas na redondeza
na esquina da natureza no espaço da mãe natureza.
O alegre cabelo das árvores,
o brilho do modesto que tem.
Os pássaros cantando alegres no galho de folhas verdes
os bichos ouvindo a linda canção na sua casinha de barro
enfeitada de verde claro e escuro
e com lindas flores coloridas.

PAULA GIOVANA PEREIRA DOS SANTOS
CAÇAPAVA DO SUL / RS

Joaninha valente

Sou uma joaninha,
Que vivo na figueira.
Sou feliz porque
As meninas cuidam de mim.
Me chamam joaninha valente,
Eu fico tão contente.
Fui viver em outra figueira,
Mas lá, meninas não havia.
Aprendi...
Não troco mais de morada.

VILMAR WIEDERGRÜN
SANTA ROSA / RS

Rio sem alma

Rio que cheira a esgoto
Que traz a sujeira do mundo
Que muda de cor
Ora marrom, ora preto
Seus saltos são em vão
Não irão despoluí-lo.
Rio que vaga solitário
Que desce sem esperança
Cadê seus peixes?
Dentro de você não há ninguém
Nem uma vida a lhe povoar
Rio frio, sem graça,
Sem oxigênio
Onde tudo desce,
Onde ninguém sobe.
Ah, rio das mil cores,
Continuará descendo
Mais morto que vivo.
Será que vai resistir
Tendo o mundo contra você?
Assim como está
Será sempre um rio,
Mas sem alma.

VERÔNICA VINCENZA
ÁGUAS CLARAS / DF

O clamor verde

Eu quero a natureza de volta
A tiraram de mim, e isso me revolta!
Quero os pássaros, quero a mata, eu quero ar puro
E tudo isso não é capricho, eu juro

É o meu direito de cidadã
E de todos nós, estejamos aqui ou em Pontaporã
Quero tudo limpo e sem demora
Quero a natureza viva, já está na hora!

Cansei de esperar tanto descaso
Vejam como está o clima e como o rio está raso
Não quero saber de ganância
O que dá aos políticos relevância

Só sei que isso tem de ser feito
Por Presidente, Ministro, Prefeito
E todos nós temos dever de ajudar
A replantar o verde de nosso lugar

Pois sem ele, não viveremos mais
E não vai adiantar culpar os nossos pais
É hoje que devemos nos mexer
E plantar os frutos que queremos colher

Resgatar a natureza é o que faremos
Aqui, Ali, em todos os lugares estaremos
E o verde começará a brotar
Junte-se a nós e venha ajudar!

VALDIRENE DE ASSUNÇÃO PEREIRA
CAÇAPAVA DO SUL / RS

A árvore da vida

Nela vejo os frutos,
Nascerem como se fossem duradouros
Amizades amadurecerem
E ficarem com um sabor todo especial.
Alguns apodrecem e caem.
Em outros fica o prazer, no sabor de quem os saboreou.
Uns enfeitam, uma mesa deixam bela,
A árvore da vida, mostra suas folhas bem vistosas,
Como se fossem lugares,
Lugares por onde passamos que ficam pra sempre,
Outros caem de nossa memória.
Em suas flores está toda beleza da vida,
Sua pureza e sua alegria.
No seu caule a dureza,
Dos desencontros,
Dos desamores,
Das incertezas,
Das decepções,
Das magoas,
Dos desafetos,
Das desilusões,
Na sua raiz está a prova,
Que temos pra onde ir, um solo firme para pisar.
Uma certeza de um retornar,
Uma nova esperança para surgir,
Mostrando-nos que onde há vida,
Sempre restará uma esperança.

SÉRGIO RIBEIRO BORSOI JR
NITERÓI / RJ

Verde

Criou noite... alegrias.
Verdejantes sintonias.
Fizeram-se notas... melodias
Cantou-se tudo que se
podia.

Verdes foram aqueles
dias quem não lembra,
deveria.

Verdes eram as borboletas,
puras voavam e repousavam.
Verdes sombras que faziam
se tornando obsoletas.

O verde veio pra ficar
E as outras cores cativar.
Do escuro e tarde noite,
Surge o sol a verdejar.
-
Fonte:
Versos Verdes. RJ: Câmara Brasileira dos Jovens Escritores, 2010.

Ernani Maller (Livro de Poemas)


ESTÃO POR AÍ

As dores que eu causei estão por aí
Os corpos que eu amei estão por aí
As magoas que eu não guardei
Os sonhos que não encontrei
Feridas das qual só eu sei estão por aí

Os ventos que levam segredos estão por aí
Canções de ninar nossos medos estão por aí
O dia repleto de azul
Saudades em bando pro sul
Distantes do meu olho nu estão por aí

Os prantos desperdiçados estão por aí
As súplicas dos desesperados estão por aí
Os lábios repletos de sim
Os corpos que esperam por mim
Colombinas sem seus Arlequins estão por aí

A PALAVRA

A palavra é a matéria prima do escritor,
ela é maleável, sujeita-se aos caprichos do criador.
Mas também se impõem,
em sua ampla diversidade de interpretações.
A palavra morre, cai em desuso, mas também ressuscita.
Idiomas se extinguem,
levando consigo não somente palavras, mas formas de pensar.
Palavras que adjetivam o belo, como: a flôr, a borboleta
e principalmente a mulher.
São obrigatóriamente poéticas, assim como o é,
a palavra que da nome à “lembrança triste”,
um previlégio do idioma português: saudade.
Ao contrário da fotografia, que é o que se vê,
a palavra, é o que se imaginar ser,
ela da campo ao pensamento, asas à imaginação.
Na descrição de uma cena, cada leitor,
com suas experiências de vida, imaginará sua própria cena,
isso torna a palavra infinita, sem limites.
Pela palavra passa o conhecimento, a sabedoria, a erudição.
Sem a palavra não seriamos diferentes dos animais.
Ela distingue povos, classes socias,
profissionais liberais, com seus mais variados discursos,
é o poder das palavras, as palavras do poder.
Quantos livros? Quantos poetas? Quantas religiões?
Filosofia, história, tudo baseado na palavra,
que o ser humano manipula, em um inesgotável quebra-cabeça.
Através da palavra, o ser humano vai se forjando, vai se recriando,
portanto, não acredite se alguêm lhe disser:
“palavras são palavras, nada mais do que palavras”.

SABERÁS QUE É NATAL

Assim que brotar
A lua dos pinheiros crispantes
Assim que soar
Um sino distante

Com cantigas singelas
De inocência angelical
Mesmo que não te digam
Saberás que é natal

Assim que a gota salgada
Correr tua face tranquila
Assim que dor
Se fizer arrependida

Mesmo que sol não venha
E que o desgosto seja fatal
Porém, pela paz devastadora
Saberás que é natal

Mesmo que o silêncio vitalício
Lhe ensurdeça por fim
Que o deserto da alma
Encubra teu jardim

Poderás soluçar
Num sorriso passional
Mas com toda confiança
Saberás que é natal

DEUSA DA SENSUALIDADE

Eu sou carmim de sol que deita no poente
Brilho de estrela cadente
Lua velha na sertão

Nebulosa a fervilhar em noite silente
Olho de água corrente
Que se arrasta no porão

Sou a verdade que arrebenta em qualquer cara
Pau-de-fogo, pau-de-arara
A voar na imensidão

Sou liberdade de um grito incontido
Dos passos do perseguido,
Sou o norte e a razão

Sou a que tem malemolência de serpente
Pra colher estrela cadente
No azul do teu olhar

Sou a que chora amando contra a corrente
Se eu sou tão indecente
É pra poder te despertar

BRIGA DE FOICE

Pode me torturar
Me rasgar
Me bater
Pode me ferir a dente
Me botar corrente
Pois eu sei sofrer

Pode me tratar a berro
Pois eu sou de ferro
Vou até o fim
Pode me ferir a boca
Por que isso é sopa
Lindo querubim

Mas quando cair a noite
Vai ter briga de foice
Pois não quero ver
Você virar de lado
Dizer que está cansado
Sem me enlouquecer

Se não sou eu
Quem te trata a berro
Tu terás que ser de ferro
Para me satisfazer
-
Fontes:
http://musistoria.blogspot.com/
http://www.recantodasletras.com.br/sonetos/2698861

Ernani Maller (Na Porta do Hospício)


Tocou a campainha da garagem do hospício e o guarda foi atender, abriu uma pequena uma janela que mostrava apenas parte do seu rosto no meio do grande portão de ferro, um senhor de meia-idade aparentando muita tristeza perguntou:

_ É aqui que é o hospício?

_ É sim. - Respondeu o guarda.

_ Eu vim me internar.

_ Quem mandou o senhor?

_ Ninguém, eu vim por minha conta, eu “tô” maluco.

_ Mas hoje é domingo, e só está o médico de plantão, ele só atende os pacientes que já estão internados, o senhor tem que voltar amanhã as dez da manhã e falar com o doutor Renato.

_ Mas caso de emergência, esse médico que está aí, não atende?

_ Atender ele atende, mas o seu caso não é de emergência.

_ Como não?

_ Caso de emergência é quando chega em camisa de força.

_ E onde eu consigo essa tal camisa de força?

_ Eu não sei não, é o pessoal da ambulância que tem.

_ Será que eu não posso dormir aqui para amanhã eu falar com o doutor? Eu sei que ele vai me internar mesmo.

_ Não pode não, o senhor tem que voltar amanhã. Mas eu trabalho aqui há duas semanas e já tenho alguma experiência, posso lhe adiantar uma coisa.

_ O quê? _ Perguntou o candidato a paciente.

_ O senhor não está maluco, não.

_ Como é que você sabe?

_ Eu sei por que o senhor afirma que está maluco, não é?

_ É.

_ Então? Quem está maluco, não sabe que está maluco, portanto, se senhor acha que está maluco, é porque o senhor não está maluco.

_ Tem certeza?

_ Tenho.

_ Então o que eu faço com essa tristeza, essa angústia no meu peito e essa vontade de chorar?

_ O senhor vai pra casa, toma um copo de água com açúcar, senta quietinho num canto, que isso passa.

_ Sério?

_ Sério.

_ Então tá bom, muito obrigado.

_ De nada.

Deve ter dado certo, o homem nunca mais voltou.

Fonte:
Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo. RJ: Câmara Brasileira dos Jovens Escritores, Junho de 2011.

Cornélio Pires (Trovas de Casa)


De nada vale rancor.
Quando a justiça se atrasa,
Seja lá que conta for,
Pagamos dentro de casa.

Não guardes antipatia.
Paz é luz de vida sã.
Inimigo de hoje em dia –
Parente nosso amanhã.

Teu filho, roga, de fato,
Ensino claro e seguro,
Nele põe o teu retrato
Em marcha para o futuro.

Família – escola que traz,
Com muitas lições de vez,
Todo o bem que a gente faz
E todo o mal que se fez.

Casar reclama cuidado
Na escolha da companhia,
Doido é quem faz de noivado
Um jogo de loteria.
~ * ~ * ~ * ~ * ~
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Vicência Jaguaribe (A Madrugada Nunca Está Sozinha)


A madrugada nunca está sozinha. Há sempre um bêbedo retardatário, sentado na calçada ou deitado num banco da praça. Um pequeno fazendeiro, que inicia a ordenha. Um padeiro, que encosta a bicicleta e mergulha no calor aromoso e reconfortante da padaria. Um insone, que, cansado da batalha com Morfeu, abandona a rede e abre a janela. Um poeta, que, depois de apelar às musas durante toda a noite, acaba produzindo um verso de pé quebrado. O amante, que sai sorrateiramente dos braços de um amor proibido, mergulha na semiescuridão de uma rua qualquer e caminha colado ao muro, para passar despercebido. Mas há, principalmente, o homem triste, que sai do cemitério, onde passou a noite sentado no túmulo da amada.

Ninguém mais se admira daquelas visitas noturnas. Ele sai de casa por volta das vinte e duas horas, com a caixa do violino na mão. Abre o portão, fechado apenas com uma corrente, e aproxima-se do túmulo com certa dificuldade. A cidade cresceu, o número de óbitos aumentou, e o cemitério, único, não tem como acolher aqueles corpos abandonados pelo sopro do espírito. Deposita a caixa na laje e dela retira o instrumento. Por quase uma hora os moradores das imediações ouvem o lamento comovente, que paira sobre as sepulturas e é dispersado pelo vento. Há o intervalo de uma meia hora, e novamente se ouvem os acordes chorosos, que penetram pelo mármore dos túmulos e pelas rachaduras do cimento das sepulturas mais humildes. E novamente o intervalo e, mais uma vez, o som do violino, até que a madrugada se anuncia, e o homem triste vai para casa.

Esse ritual repete-se há dez anos, desde que a mulher, a única que ele amou em toda a sua vida, morreu dando à luz o primeiro filho. O sepultamento fora pela manhã e à noite lá estava ele, seguindo para o cemitério, abraçado à caixa do violino. Foi um escândalo na cidadezinha, que via nas visitas noturnas do viúvo uma prática meio satânica. Mas ele não dava ouvido aos comentários maldosos, e os habitantes daquele recanto do mundo tiveram que acostumar-se, e incorporar a prática esquisita na rotina da cidade.

Durante o dia, o viúvo levava uma vida quase normal. Trabalhava, fazia crescer os negócios, cuidava do filho, conversava com os amigos. Mas sempre com o semblante meio anuviado e uma aura de tristeza que ele procurava suavizar, com a educação e a fineza que sempre o caracterizaram. As moças da cidade já haviam perdido as esperanças de puxá-lo para dentro da vida, e passaram a tratá-lo com o respeito e a distância cerimoniosa com que tratavam as autoridades do lugar.

Na madrugada em que se deu o ocorrido, chovia, como poucas vezes chovera naquela região. Relâmpagos clareavam a escuridão, e raios ziguezagueavam pelo céu para logo em seguida se lançarem em algum ponto da terra. Não se viu quando o viúvo se dirigiu ao cemitério, porque chovia desde o final da tarde e ninguém se aventurava a pôr a cabeça do lado de fora. Mas na hora de sempre, envolto em uma capa plástica, com a qual protegia o violino, ele abriu o largo portão da necrópole, e penetrou no território da morte. Aproximou-se do túmulo da esposa e, protegido por uma das colunas de mármore, começou a tocar o Concerto para Violino em Ré Maior Opus 3/9, de Vivaldi, predileto da amada, cujos acordes tristes se misturavam com a cavalgada enlouquecida dos trovões. A claridade de um relâmpago o encandeou, e instintivamente ele fechou os olhos. Foi o momento exato em que um raio lançou-se sobre o túmulo, cavando uma fenda larga e profunda na laje de mármore. Por entre as nuvens, que já se iam dispersando, podia-se se ver os primeiros clarões da madrugada.

O zelador do cemitério apavorou-se ao aproximar-se do túmulo, e nem viu o violino queimado em parte e caído sobre um dos batentes que dava acesso à sepultura. Observou a fenda que se fizera na pedra tumular – uma fenda larga, que apartara a pedra em duas. Olhou pela abertura e teve a impressão de ver um corpo dentro da gaveta. Correu à casa do viúvo, mas a empregada informou que, apesar da chuva, ele saíra com o violino na hora de costume e ainda não voltara.

O delegado, chamado pela família, mandou remover a pedra de mármore, dividida em dois pedaços. Apanhou o instrumento musical, no qual o zelador não havia tocado, e esperou. Lá dentro, por cima da urna funerária da esposa, cuja madeira se conservava intacta, jazia o corpo sem vida do dono do violino.

Fonte:
Vicência Jaguaribe. Ancoragem em Porto Aberto. RJ: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2010.

Milton da Cruz (Inscrições da Vida)


Coração, dirige o leme
Que te regula o dever,
Quem a si próprio se teme,
Nada mais tem a temer.

Herói!... Herói com vantagem
Tem esta clara expressão:
Procede com mais coragem
Contra o próprio coração.

Se vais falar, fala em paz
Do bem que ampare ou que preste;
Jamais te arrependerás
Daquilo que não disseste.

Para quem dá com prazer
E servo, espontâneo assim,
A gratidão deve ser
Um pagamento sem fim.

Olha a vida tal e qual
No fundo que a vida tem,
Há bem que surge por mal
E há mal que surge por bem.

Na consciência tranqüila
Há duas glórias sem nome:
A luta que nos burila,
O pranto que nos consome.

Segue sempre, alma abatida,
Larga o cansaço infecundo;
Quanto mais alta a subida,
Mais ampla a visão do mundo..
~ * ~ * ~ * ~ * ~
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Lendas e Contos Populares do Paraná (O diabo de Capanema/ O petiço/A coruja/ Quaresma/ Leitoa mateira/ Serpente da figueira/Saga da Caetana)


CAPANEMA
O diabo de Capanema


Certa feita, um carroceiro gritava com seus bois, fatigados pela carga excessiva de toras de peroba. Era ajudado por seu filho, que chicoteava grosseiramente os animais, não avaliando que era impossível os bois saírem do local, um lamacento buraco. Os bois respiravam aos sufocos, largando uma saliva espumosa pela boca, enquanto o homem esbravejava.

Aos urros e berros ecoantes, com blasfêmias de todas as espécies e contra as divindades, os animais se contorciam de um lado para outro, sem o efeito esperado que o carro pudesse ser removido dali. O homem recorreu a todos os santos e demônios; por fim, gritou: “talvez quem pudesse nos ajudar, só mesmo o diabo!”. E o seu santo, naquela hora, passou a ser o demônio, já que não resolveram nada os demais santificados. Que surgisse, então, o demônio. Para resolver uma situação que se encontrava sem remédio.

Repentinamente, ouviu-se um barulho, com grande claridade e um pouco de fumaça. Lá estava “ele” sobre as toras amarradas na carroça atolada, lançava pela boca e olhos uma lasciva chama avermelhada e observava o carroceiro atônito. O carroceiro pôs suas mãos no bolso à procura de um rosário e encontrou somente fumo de rolo. Tentou se lembrar dos seus santos e recitava até orações nunca ouvidas! Mas nada resolvera. Ele, o diabo, continuava ali, sentado e indiferente ao homem que tentava agora se lembrar dos santos e dos desafios que fizera anteriormente contra a divina providência. Enquanto isso, como por encanto os bois lentamente saíram da lama e caminhavam com o peso, como que ajudados por alguma força diferente, invisível.

Essa história se espalhou pelo lugar. E o Diabo de Capanema permaneceu no folclore do lugar. Até hoje, alguns fazem troça, outros ignoram, os demais comentam com dedicação e curioso interesse. E foi assim que aconteceu; a figura ilusória e persistente na imaginação de muitos ficou, vagando por longos tempos.

CARAMBEÍ
O petiço


Contam os antigos que na casa de Aart Jan de Geus havia um petiço, um cavalo pequeno, bem cabeçudo, tão cabeçudo quanto seis burros cabeçudos juntos, mas domado igual a um cavalo de circo. Após a ordenha, os rapazes colocavam as latas de leite em cima de uma carroça sem cocheiro e o petiço as levava direto para a fábrica de queijos, manobrava para frente e para trás, até que a parte traseira da carroça se encostasse na porta.

Então, o rapaz, que era queijeiro naquela época, esvaziava as latas, enchia-as com soro e colocava-as novamente na carroça e falava: “huuu”! Depois disso, o cavalinho fazia sua corrida de volta para casa, até o chiqueiro, onde fazia as manobras e encostava a parte traseira da carroça nas tinas de soro.

Conta-se que, se por acaso, demorassem em atendê-lo, o “excelentíssimo” sozinho se livrava das rédeas e ia fazer uma “boquinha” no pasto, relinchando e olhando para trás, como se assim chamasse a atenção dos rapazes por tê-lo deixado esperar tanto tempo.

IPIRANGA
A lenda da coruja


Há muito tempo atrás havia um armazém em Avencal, tendo como proprietários um casal. Todas as noites ouviam barulhos no armazém e no dia seguinte ele amanhecia todo bagunçado, com doces e sabão comidos. Numa certa noite, o casal criou coragem, pegou o lampião de querosene e foi até o armazém ver o que acontecia. Encontraram uma enorme coruja, do tamanho de uma pessoa, comendo doces e sabão, que, ao ver o casal, transformou-se em uma mulher, uma conhecida vizinha deles.

Então, perguntaram o que estava acontecendo e ela respondeu que se transformava em coruja porque havia casado de branco sem merecer e se o casal não contasse para ninguém, ela nunca mais voltaria a incomodá-los.

MALLET
Histórias de quaresma


O período de quaresma é conhecido popularmente como um tempo em que acontecem fenômenos extraordinários, como é o caso do lobisomem, meio homem, meio cachorro. Algumas pessoas que viveram o fato que passamos a relatar, ainda vivem.

Uma família de imigrantes poloneses, vindos da região dominada pela Áustria, veio fixar-se em Mallet e trouxe para cá sua modalidade de trabalho, o ramo de açougue. É a família Kolosowski. O senhor Kolosowski criava gado bovino para leite e corte, bem como suínos. Guardava em latas o produto dos suínos, a banha; e também estocava latas vazias. Na sua casa havia dois bons cachorros, que guardavam a propriedade e o açougue.

Numa sexta-feira de quaresma, a família já estava dormindo quando se ouviu um barulho estrondoso de latas vazias e os cachorros latiam desesperados, como se estivessem atacando alguém, mas com desespero ou medo. O dono da casa saiu na varanda e avistou no pátio um homenzinho esquisito e perguntou:

– O que você está fazendo aí? O que você quer aqui?

A criatura respondeu-lhe com um palavrão. Então o senhor Kolosowski pegou uma ripa de cerca e a esposa um galho de pessegueiro e o expulsaram para a estrada, fecharam o portão, encostando-o com um vigote. Os cachorros pareciam pedir do pátio proteção ao patrão.

Entraram em casa e quando viram pela janela, lá estava o homenzinho no pátio, novamente. Entrou sem abrir o portão. Colocaram-no para fora do pátio outra vez. O seu corpo não estava mais coberto por pêlos, pois a crença é que quando o lobisomem é mordido por cachorro, os pêlos desaparecem.

No dia seguinte pela manhã o senhor Kolosowski e seus irmãos foram à estação ferroviária para despachar a carga de banha. Qual não foi o susto, quando viram o homenzinho sentado no banco da praça Getúlio Vargas, provavelmente aguardando o trem.

Ele estava todo machucado pelas mordidas dos cachorros, deduziram então que ele era o lobisomem. Este fato ocorreu em meados de 1940.

MAMBORÊ
Lenda da leitoa mateira


Em tempos remotos, Mamborê era a principal região extrativista de erva-mate da região; quem tomava conta das plantações eram os porcos, pois não havia o costume de criá-los em regime fechado.

Diz a lenda que em torno a um grande pé de erva-mate, os mateiros se reuniam para celebrar a colheita. Nesta festa de confraternização, estimulavam-se as amizades e a fraternidade, que os mantinham unidos até o próximo ano. Com o tempo esta tradição foi se extinguindo e a festa deixou de acontecer. Com isso, a produção deixou de ser farta, as amizades entre mateiros já não eram tão estreitas e as intrigas entre produtores já eram constantes.

Uma leitoa, que sempre acompanhava as festividades, percebeu o caos que estava para acontecer e, em um ato de solidariedade, pediu para a mãe-natureza que tudo voltasse a ser como antes, nem que ela tivesse que sacrificar a sua própria vida.

E assim ocorreu. Em meio às discussões e atritos entre produtores, escutou-se um grande estrondo, como um raio que caíra na proximidade de um grande pé de erva-mate. Todos correram para ver e encontraram um grande banquete, no qual o prato principal era a leitoa. Todos, então, compreenderam que as tradições e as amizades estavam sendo trocadas pelos sentimentos de ganância e materialismo.

Esta festividade durou por décadas, advinda da lenda da leitoa mateira. E até hoje, a comunidade se reúne para saborear a leitoa mateira, com o intuito de promover as amizades e a fraternidade.

MATINHOS
Serpente da figueira


Há muitos anos atrás no canal do Milone (mil homens) no bairro Tabuleiro, existia um pé de figueira, na qual vivia uma serpente; era o caminho que as pessoas usavam para ir ao balneário Caiobá. Segundo contam, a serpente não deixava ninguém passar, assombrando-as. Hoje a figueira não existe mais, mas as pessoas contam que a serpente continua assombrando os moradores.

MATINHOS
A saga da Caetana


Contam que Caetana Paranhos, professora, hoje nome de escola municipal, morava em Caiobá e vinha a cavalo todas as manhãs reger aulas em Matinhos. Ela trabalhava na escola, onde hoje é a Câmara Municipal. Caetana retornava à noitinha para casa. Lá pelos idos de 1900, existiam muitas onças na região. Próximo a um córrego, numa noite de luar uma onça acometeu a montaria de Caetana junto aos rochedos, num lugar no extremo sul de Caiobá. Quando Caetana caiu desfalecida e a onça ia atacá-la o cavalo gritou “Caetana” e a onça fugiu.

Dizem que Caetana na linguagem dos animais significa onça. Até hoje contam que tempos depois alguns alunos ainda viam o cavalo da mestra, circulando pela região. No local existe uma estátua do cavalo.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 3a. Parte


" APORTAR... "

Você chegou, pequena e humilde
como quem pede proteção
e nada tem a dar...

E hoje, em teus braços, sou eu que me recolho
como um barco cansado de tormentas
feliz da praia calma onde pôde aportar…

" AS SEIS FACES... "

Quando te encontro e observo que ficaste mais linda
e soltaste os cabelos para me agradar,
e me entregas os lábios num beijo leve e morno como a aragem,
e tranças os teus dedos em meus dedos, e me olhas
como no dia em que te tirei para dançar pela primeira vez,
é que percebo que continuas
a namorada.

Quando te preocupas com o tempo porque vou sair,
e recomendas detalhes como se me visse criança,
e repreendes a minha falta depois que as visitas se foram,
e endireitas a minha gravata, e escolhes a minha camisa,
e me fazes trocar os sapatos que não combinam;

quando surpreende o meu cansaço, e me enlaças,
e recosta a minha cabeça em teu colo,
e me dás conselhos como se eu pudesse segui-los,
é que descubro que há em ti, para mim, até mesmo
um pouco de mãe.

Quando te consomes muito mais com as minhas preocupações
e advinhas meus pensamentos, me prevines contra falsos amigos,
e te empenhas em partilhar também minha luta;

e economizas, como se com isso poupasses minhas forças,
e, sem querer, com uma palavra, desvendas uma solução
tão próxima e tão evidente, mas que meus olhos não percebiam;
quando à noite , na sombra, sem tocarmos os corpos,
conversamos, esquecidos, como dois amigos numa encruzilhada,
é que compreendo que tu és
a companheira.

Quando chego, e ao abrir a porta, estás à espera
com tua felicidade que me envolve e me aconchega,
e tirar da minha mão a pesada pasta de couro,
e me entregas os lábios (úmidos e trêmulos);

quando te encontro depois, em todos os detalhes cotidianos
e prosaicos, que fazem o melhor da vida:
minha toalha de banho no lugar; meus chinelos no seu canto;
minha roupa limpa sobre a cama; aquela jarra com flores arrumada;
aquela mesa posta, com seus talheres brilhando;
aquele odor de refeição que é o perfume do lar;
quando te vejo, leve e diligente, a circular pela casa
que consideras teu Reino, teu Mundo, teu Universo;
sei que tu és então
a esposa.

Quando à noite, de tarde, ou de manhã, (é um momento imprevisto
e nunca marcado) sinto que precisas de mim, que te faço falta,
como do ar, ou da água, de alimento, ou de vida,
e te encontro ao meu lado sempre irrevelada, e te dispo,
e se desencontraram as mãos e nossos corpos
e subitamente nos jogamos, como banhistas
contra o mar, contra as ondas, o mar desconhecido
as ondas que afogam e arrastam,
e de súbito estamos salvos na areia, como náufragos, és
a amante.

Quando te encontro ao meu lado, deitada numa nuvem
a acompanhar outras nuvens preguiçosas e itinenrantes
no céu do coração;

quando te pões a falar como crianças nas brincadeiras
em diminutivos, em “faz-de-contas” de pura imaginação,
e de ti restou apenas o contato dos nossos corpos, que
[permaneceu em nós
entretanto distante, imaterial, a planar
como aquela gaivota na vaga luz da tarde que se esvai;
quando estirados na areia, cansados, mas felizes,
já podemos conversar, eu diria nesta hora que tu és
simplesmente
a irmã.

Quando penso em ti, e te sei tantas, no milagre da multiplicação
do amor,
recolho-me a ti, como pássaro às ramagens, onde encontra
a sombra, o ninho, o balanço, o fruto, - o impulso
para o vôo.

E amo, e trabalho, e sonho, e canto.

" ASTRONAUTA "

Já foste o mapa-mundi
de meus desejos,
percorri-te em todas as direções

Agora,
veste-te, meu amor...
Não adianta continuares
bela... e nua...

Meu destino é a lua…

" AVISO "

Por que não te vais ? Por que não segues
teu caminho, sem acidentes,
e teimas em me querer ?

Hei de vingar em ti, também, a culpa que não tens
meu desespero e meu abandono,
o que a Vida me fez sofrer...

" BAILADO "

Gestação. O sonho Nasce...
O palco é um ventre.

Não eram estátuas
eram mil formas vivas na multiplicidade da beleza
e do ritmo,
nos instantâneos
de cada momento...

Os pássaros perderam as asas
mas o vôo permaneceu
no firmamento...
O canto fez-se harmonia
no plástico silêncio
do movimento

O palco
era um pensamento…

" BASTA VOCÊ "

Por Você
que encontro e veio,
- que é como um sonho bom que eu sonho
e em vão desejo,
só porque a tenho ao meu lado)
em nome dos meus olhos:
- Obrigado !

Obrigado, por Você!

Basta você ser Você. Para que mais?
E por essa alegria que Você me dá,
por essa estranha felicidade, inexplicável,
que me faz ser feliz sem saber bem por que,
só por isto, e por tudo isto, eu lhe agradeço,

pois o destino achou que vez por outra
mereço
ver Você!

Basta Você ser Você. Basta, por um segundo
sentir a sua mão na minha mão,
tão pouco, pensarão!)
- e, entretanto, para mim é tanta coisa, um mundo
encantado...

Mesmo sem nada me dar, Você já está-se dando
com a sua presença,
e isto é quase tudo para quem não pode, como eu,
senão
sonhar acordado!

Sim, porque tudo, já se vê,
tudo: seria Você!

"HISTÓRIA"

Eras a Musa
eu, o poeta...

Aconteceu naquele instante
em que, displicente,
me estendeste a mão dizendo adeus
- como que diz até logo, -
e eu tive a impressão de que subitamente,
minha vida era uma nova Pompéia
que submergia em lavas para os séculos.

Agora
revendo as provas dos velhos poemas
que me queimaram,
te desenterro estátua irreconhecível
entre cinzas e palavras,
lembranças de um mundo em que fomos personagens,
e em que hoje, és história,
e eu, - arqueólogo.

Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.