quinta-feira, 30 de maio de 2024

Vereda da Poesia = 21 =


Trova de Santos/SP

Cláudio de Cápua
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP

Unindo a seresta ao verso
quero compor na amplidão.
Sou menestrel do universo,
em tardes de solidão.
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Soneto de Santo André/SP

Rommel Werneck
(Rommel dos Santos Andrade Werneck)

LUA LACRIMOSA

Não chores, lacrimosa e nívea Lua!
Se algo que falei agora te magoa,
Perdoa-me por vil lágrima tua
Que em ti desliza e em mim, na alma, ressoa!

Não chores, não destruas a beleza!
Por minha causa, por causa do amor
Eu não quis te causar nenhuma dor
Sabes que te amo, Musa da Pureza!

Mas, mesmo sendo à noite, a sinfonia,
Ficarias mais linda sendo rosa...
Ficarias mais linda sendo estrela...

Tu, se me amares, pálida e tão bela
Deixarás de ser lua lacrimosa
E serás o Sol, luz, fonte do dia!
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Trova Humorística do Rio de Janeiro/RJ

Jotão Silva

Casamento de verdade
pouca gente ainda procura:
querem ter a propriedade
sem pagar pela escritura!
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Poema de Cachoeira do Sul

Jaqueline Machado

QUERIA SER 

Na fração de tempo que cabe todo o meu existir, 
queria ser o brilho eterno de um raio dourado
a despertar a consciência 
de quem não sabe que nasceu para ser feliz...
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Trova de Sorocaba/SP

Dorothy Jansson Moretti   
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

A cada golpe que malha
a rude pedra, o escultor
bendiz o cinzel que entalha
a estátua do seu amor.
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Quase um Soneto, de Maringá/PR

José Feldman

A VELHA CHATA

Essa é uma história ridícula,
com certeza é puro papo,
que vivia em uma edícula
uma velha... que era um trapo.

Sempre estava resmungando,
sobre todos, sobre tudo,
e sua vida, estagnando
em seu modo carrancudo.

Passam horas, passam dias,
se esvaindo as alegrias 
passa o tempo sem cessar.

Só esta velha não passa,
chata... parece pirraça,
a todos a azucrinar.
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Trova de Angra dos Reis/RJ

Jessé Nascimento
(Jessé Fernandes do Nascimento)

Me esculpindo a cada dia,
vendo no Mestre o padrão,
tento chegar - que utopia! -
mais perto da perfeição.
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Sextilha de Caicó/RN

Hélio Pedro
(Hélio Pedro Souza)

Surge em cada alvorecer,
o sol que cumpre o seu plano
de aquecimento ao planeta
sem que falte ano após ano,
mas no mundo o que mais falta
é o calor do ser humano.
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Haicai de Manaus/AM

Anibal Beça
(Anibal Augusto Ferro de Madureira Beça Neto)
Manaus/AM, 1946 – 2009

Morcego em surdina
morde e sopra o velho gato.
Não contava o pulo...
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Pantun de Caicó/RN

Professor Garcia
(Francisco Garcia de Araújo)

PANTUN DE ELEVADA PRECE

TROVA TEMA:
Na aurora de cada dia,
a Deus elevo uma prece;
- Pai, enchei de poesia
nosso povo que padece!
(Joamir Medeiros – RN)

PANTUN:
A Deus elevo uma prece;
ó Pai, salvai por favor,
nosso povo que padece
por falta de pão, de amor,

Ó Pai, salvai por favor,
os excluídos do afeto,
por falta de pão, de amor,
vivem sem lar e sem teto.

Os excluídos do afeto,
não têm voz, nem têm razão,
vivem sem lar e sem teto
ante a cruel exclusão.

Não têm voz, nem têm razão,
por berço, a melancolia,
ante a cruel exclusão
na aurora de cada dia.
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Trova Humorística de Maringá/PR

A. A. de Assis
(Antonio Augusto de Assis)

Aceitas dar-me os deleites 
da próxima contradança?... 
– Aceito, desde que aceites 
não me apertar contra a pança!
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Soneto de São Paulo/SP

Therezinha Dieguez Brisolla

ACEITAÇÃO

É sorrateira… chega de improviso.
Não há ninguém que a queira ou que a cobice!
Tento aceitá-la… sinto que é preciso
pois expulsá-la, eu acho que é tolice.

Não bate à porta… entra sem aviso.
Põe em meu rosto triste, tal meiguice!
E me faz calma… abranda o meu sorriso
 me dá também um “quê” de criancice.

Mas, não vem só… me traz esta saudade
e a nostalgia desta dor que invade
meu coração e nele  se encarcera.

Pondero bem… e ao discutir comigo
refaço sonhos e, feliz, lhe digo
“Entre, velhice… estava à sua espera”
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Trova Premiada  em São Francisco de Itabapoana/RJ, 2007

Alba Helena Corrêa 
Niterói/RJ

Onde Deus pôs mais beleza?
Na face? Creio que não!
Trago comigo a certeza:
Foi dentro do coração!
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Soneto de Vila Velha/ES

Edy Soares
(Edmardo Lourenço Rodrigues)

QUANDO EU PARTIR

Dá-me o teu colo, afagos e aconchego,
conta-me histórias, dá-me o teu abraço,
sê meu parceiro em coisas que hoje eu faço,
demonstra em vida que me tens apego.

Quando eu mais velho reclamar cansaço,
estende o braço e dá-me paz, sossego
e, ao fim da vida apenas desapego,
deixa eu partir, sem muito estardalhaço.

Não me interessa quem me chora a morte,
melhor saber que em vida eu tive a sorte
de não ter tido amigos de mentira!

Quando chegar o dia da partida,
se vou deixar um corpo já sem vida,
pouco me importa quem acenda a pira.
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Aldravia de São Caetano do Sul/SP

Francisco Nunes

o
salva-vidas
morreu
afogado
na
tristeza
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Sextilhas de Niterói/RJ

Fagundes Varela
(Luiz Nicolau Fagundes Varela)
Rio Claro/RJ, 1841 – 1875, Niterói/RJ

Amo o cantor solitário
Que chora no campanário
Do mosteiro abandonado,
E a trepadeira espinhosa
Que se abraça caprichosa
À forca do condenado

Amo os noturnos lampírios
Que giram, errantes círios,
Sobre o chão dos cemitérios,
E ao clarão das tredas luzes
Fazem destacar as cruzes
De seu fundo de mistérios

Amo as tímidas aranhas
Que lacerando as entranhas
Fabricam dourados fios
E com seus leves tecidos
Dos tugúrios esquecidos
Cobrem os muros sombrios

Amo a lagarta que dorme,
Nojenta, lânguida, informe,
Por entre as ervas rasteiras
E as rãs que os pauis habitam
E os moluscos que palpitam
Sob as vagas altaneiras

Amo-os, porque todo o mundo
Lhes vota um ódio profundo,
Despreza-os sem compaixão
Porque todos desconhecem
As dores que eles padecem
No meio da criação.
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Trova de Bandeirantes/PR

Lucília Alzira Trindade Decarli

A felicidade é rara
e bem poucos a conhecem…
Os que a viram “cara a cara”,
nunca mais dela se esquecem!
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Poema de Portugal

Adolfo Casais Monteiro
(Adolfo Vítor Casais Monteiro)
Porto/Portugal, 1908 – 1972, São Paulo/SP

AURORA

A poesia não é voz - é uma inflexão.
Dizer, diz tudo a prosa. No verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho de cada um, expectativa
das formas por achar. No verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
E aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:
vôo sem pássaro dentro.
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Epigrama de Salvador/BA

Roberto Correia
(Roberto José Correia)
1876 – 1941

No Brasil, é pragmática,
Das discussões na fervura,
Entrar – no meio – a gramática,
No fim a descompostura.
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Glosa de Fortaleza/CE

Francisco Pessoa
(Francisco José Pessoa de Andrade Reis)
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

CADA PASSO É MAIS UM SONHO 
AO LONGO DO CAMINHAR

Esteja alegre ou tristonho
O poeta enxerga a vida
Tal a terra prometida…
Cada passo é mais um sonho.
Chega ao destino risonho,
Pelo prazer de rimar
E antes mesmo de apear
Em pensamentos, imerso,
Olha pra trás, vê seu verso
Ao longo do caminhar.

Usei todos os atalhos
Que encontrei pelo caminho,
Fiz de quando em quando um ninho,
Fiz de estrelas agasalhos.
Os meus cabelos grisalhos
Tingidos pelo luar,
Retratam bem meu andar…
Embora um tanto tardonho,
Cada passo é mais um sonho
Ao longo do caminhar.
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Trova Premiada  em Bauru/SP, 2004

Neide Rocha Portugal 
Bandeirantes/PR

Entre o barro e o pó da estrada
das lavouras de onde eu venho,
minha herança, na jornada,
são esses calos que eu tenho!
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Spina* de São Paulo/SP

Solange Colombara

SEMENTE

Renasço cada manhã,
ecoando em silêncios
esta intensa sensação

de sentir-se viva, uma ilusão
em que fragmentos da alma
unem-se aos ecos no chão,
germinando de novo a vida...
abraçando a voz do coração.
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* O Spina é um poema de duas estrofes. A primeira de três versos com três palavras, obrigatoriamente, iniciada por uma acepção trissílaba. A última palavra desta estrofe rimará sempre com a última do terceiro e quinto versos. Cada palavra dos versos está representada pelo sinal diacrítico (til). A segunda estrofe é composta por cinco versos com cinco palavras em cada verso.

Palavras compostas com e sem hífen são censuradas no início do poema. Da mesma forma que a ênclise e a mesóclise.

O último verso da primeira estrofe rimará sempre com o terceiro e quinto verso da segunda estrofe. Além deste esquema rímico obrigatório: ABC//DECFC se admite rimas nos demais versos. No entanto, não se deve mudar o esquema rímico obrigatório.

O título e a métrica são opcionais. Ao optar pela métrica regular, não se deve, jamais, alterar a quantidade de palavras dos versos com o intuito de alcançar a métrica desejada.

As conjunções: mas, e, porém, no entanto, entretanto, pois, todavia, contudo, são todas proibidas. As palavras compostas por hífen são contadas como uma única palavra. As compostas sem hífen são contadas individualmente. A aglutinação de palavras por apóstrofo não as tornam vocábulos únicos. Cada elemento será contado como único.

Utilizar palavras iguais nas rimas quando os seus significados forem diferentes; não são permitidas rimas imperfeitas nas sequências obrigatórias.

As palavras contendo as chamadas consoantes mudas (e sonoras) que tenham três sílabas compostas por consoantes e vogais podem iniciar o SPINA.

Eliana Palma (Microcontos) = 3 =

Não suportava mais a fibromialgia. A infiltração de anestésico a fez sorrir, aliviada, pouco  antes que o choque anafilático eliminasse a dor... definitivamente.
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Voluntariosos, não davam o braço a torcer. Trocaram o amor pelo orgulho. Hoje, duas famílias desfeitas sofrem com o reatar da paixão antiga!
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Sentira o carocinho há tempos. Não doía. Deixou para lá! Calva e sem curvas, lamenta a negligência!!!!!
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Depois da “barriga de aluguel”, a casa nova e o coração vazio…
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Trocou a mulher velha e gorda pela gatinha coquete. O coração safenado não resistiu à emoção da primeira noite!
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Sempre se achara diferente dos irmãos; loira, sardenta; os outros, morenaços como o pai. E a voz da vizinha não saía da cabeça: "você é a cara do ex-namorado de sua mãe"...
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Uma vida de paixão à distância. Enviuvou. Esperou impaciente o tempo do luto, e foi atrás do grande amor. Errara o timing. Ele morrera uma semana antes!
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Embirrou que queria o carro da moda. O marido não podia, mas ela exigiu. Saiu da agência tão feliz que os olhos se encheram de lágrimas. Nem viu o ônibus acelerado...
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Fez um book caprichado: muito photoshop, reclamações e correções. E as perguntas invariáveis: "é sua filha"?
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Queria ser famoso no mundo da literatura! Contratou um escritor competente e pagou caro pela edição. Só no dia do lançamento deu-se conta de que nada era seu: nem o nome do autor, na capa...
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Custou para entrar na equipe. Subornou o técnico! No primeiro jogo a falta de habilidade o fez cair, e o estalo no tornozelo o deixou fora das quadras para sempre!!!!
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Chovia torrencialmente. Um homem, ao lado da estrada, fez sinal para parar. Obedeceu, e a pista foi tomada por enorme carreta, na contramão. Não havia ninguém no acostamento a quem pudesse agradecer...
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Do alto, olhava montanhas e vales feitos de nuvens. Estranhou o verde abrupto, e nem ouviu a explosão.
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Não faria exames de prevenção; e se aparecesse alguma coisa? Não fez. Apareceu. Esparramou-se e levou-a!
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Boa pessoa, não acreditava no além. Na hora da passagem, em meio a vultos luminosos, julgou ouvir: "Eu não disse?”
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Sol forte, brisa fresca e mar azul. Tinha fome, mas decidiu dar um mergulho antes. Ainda no ar, ao saltar da popa, divisou o triângulo cinzento, na flor da água, também em busca do almoço...
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Nunca trabalhara, seguindo o exemplo paterno. Na calçada, sob a chuva, em meio aos últimos pertences despejados, amaldiçoava a sabedoria do avô: —"Pai rico, filho nobre, neto pobre"!
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Sonhava em ter asas! Mas, ao menos, não tinha raízes... Custou a subir no penhasco e, finalmente, voou...
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Seu sonho era ser cantor, mas a voz não ajudava. Comprou horários e jabás, mas nada de a carreira decolar. Um dia, ouviu seu empresário cantarolar e trocou os papéis. Hoje, contando muito dinheiro acordou!
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Adotaram-no pequenino, sem se importarem com a procedência. Após a festa de 18 anos, a execução dos ricos pais adotivos no aflorar dos genes assassinos!
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Casou-se com o mais pobre da turma, sob o escárnio dos amigos da roda. Trabalho, poupança, foco, a melhor vida do grupo e a inveja dos demais.
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Sempre fora bela, mas a idade chegava e não cessavam os procedimentos estéticos. E o amigo alemão se recusava a contar a ela o motivo de querer conservar a imagem!

Fonte: Maria Eliana Palma. Momentos em prosa e verso. Maringá, 2016. Entregue pela autora.

Recordando Velhas Canções (Força Estranha)


Compositor: Caetano Veloso

Eu vi um menino correndo
Eu vi o tempo
Brincando ao redor do caminho daquele menino
Eu pus os meus pés no riacho
E acho que nunca os tirei
O Sol ainda brilha na estrada, e eu nunca passei

Eu vi a mulher preparando
Outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga
A vida é amiga da arte
É a parte que o Sol me ensinou
O Sol que atravessa essa estrada que nunca passou

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Eu vi muitos cabelos brancos
Na fronte do artista
O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo
Do fogo das coisas que são
É o Sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão

Eu vi muitos homens brigando
Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta
E a coisa mais certa de todas as coisas
Não vale um caminho sob o Sol
E o Sol sobre a estrada, é o Sol sobre a estrada, é o Sol

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha
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A Eternidade e o Momento: A Força da Arte em 'Força Estranha'
A canção 'Força Estranha', interpretada por Caetano Veloso, é uma obra que contempla a relação entre o tempo e a existência, a arte e a vida. A letra, rica em imagens poéticas, sugere uma reflexão sobre a passagem do tempo e a percepção de momentos que, embora efêmeros, são eternizados pela arte.

No primeiro verso, a visão de um menino correndo e o tempo 'brincando' ao seu redor evocam a ideia de que a vida é um ciclo contínuo e que o tempo é um elemento lúdico, mas também inexorável. A menção aos pés no riacho que nunca foram retirados e ao Sol que brilha na estrada por onde nunca se passou, pode ser interpretada como a imersão do eu lírico na corrente da vida e na luz da criação artística, sem se deixar levar pela pressa ou pela necessidade de seguir um caminho pré-determinado.

A 'força estranha' que leva o eu lírico a cantar é uma metáfora para a inspiração e a necessidade intrínseca de expressão artística. A repetição do refrão enfatiza a intensidade dessa força que impulsiona o artista a criar, a despeito do tempo que não para e das adversidades. A música, portanto, celebra a arte como uma manifestação atemporal e poderosa, capaz de capturar a essência da vida e de resistir ao próprio tempo.

Marcelo Spalding (A Ambientação nos Textos)

A AMBIENTAÇÃO EM TEXTOS HISTÓRICOS

Quem se aventura a escrever um texto histórico deve ter alguns cuidados com o enredo e a ambientação, pelo bem da verossimilhança. O curioso é que em relação ao enredo alguns artistas fazem o que se chama metaficção historiográfica, combinando de modo irreal os fatos da história e por vezes, inclusive, modificando-os. Se isso no começo espantou os leitores e espectadores, hoje é considerado característica da cultura pós-moderna.

Mesmo nesses casos, porém, é fundamental que a ambientação seja verossímil. Por mais que o artista esteja recriando os fatos da Segunda Guerra, como Tarantino em Bastardos Inglórios, não pode de uma hora para outra aparecer alguém com um telefone celular, ou alguém ouvindo Lady Gaga, ou alguém comentando sobre Barack Obama, ou alguém de minissaia.

Nesse sentido, para escrever um texto histórico procure se informar sobre a cultura da época: os costumes, a moda, a gastronomia. Mas, quando possível, procure se informar com textos e documentos da época, não a partir de textos de outros escritores sobre a época, pois sempre que um autor contemporâneo resgata o passado, ele o faz com o olhar contemporâneo.

Claro que alguns se esforçam para tornar a ambientação mais realista, outros não se preocupam com isso (como os blockbusters históricos de Hollywood, em que as mulheres da Idade Média têm cabelos bem cortados, sobrancelhas aparadas e axilas depiladas), mas é impossível dissociarmos totalmente o tempo em que vivemos, seus valores, seu passado, seus aprendizados, do tempo representado.

Lembre-se, por fim, de que a língua também é parte da cultura e também se modifica com o tempo. O próprio vocabulário das personagens precisa ser adequado à época: tenha cuidado com gírias, regionalismos ou construções comuns hoje, mas não utilizadas na época de ambientação do texto.
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A AMBIENTAÇÃO EM TEXTOS FUTURISTAS

A criação de textos futuristas é sempre muito instigante? embora não seja nada fácil. Ocorre que a ambientação de um texto futurista parte da realidade atual, modificando-a de acordo com a proposição do autor: por exemplo, se no futuro viveremos todos vigiados por um Big Brother; ou se no futuro não teremos mais água; ou se no futuro voaremos como pássaros.

Como exercício, imagine o mundo de hoje. Agora faça uma ou outra modificação importante nas leis de hoje (sociais, físicas, econômicas, políticas). E desloque sua história para 50 ou 100 anos adiante. Pronto, pense em quanta coisa mudou em função desse deslocamento.

Alguns escritores, como Júlio Verne, foram saudados como visionários por terem escrito sobre invenções que futuramente se confirmariam. Outros influenciaram as próprias pesquisas e o desenvolvimento tecnológico com seus textos, como Asimov. Modernamente, porém, percebemos que há uma grande quantidade de textos futuristas que se inspiram em pesquisas e relatos já publicados, explorando-os de forma poética e reflexiva em seriados, livros e filmes.

O filme Gattaca, por exemplo, lida com a complexa questão da engenharia genética e seus dilemas éticos. Esta é uma pesquisa avançada, e se não há ainda uma manipulação genética como a proposta no filme é mais por questões legais do que questões tecnológicas. Já Minority Report traz uma temática bastante fantasiosa ? a possibilidade de se prever crimes ?, mas com uma ambientação muito cuidadosa, baseada em pesquisas de ponta, como holografia, realidade aumentada, transportes individuais automatizados, reconhecimento facial, etc. Além disso, o filme cria uma ambientação social muito verossímil, com a tecnologia sendo usada para aumentar a segurança do cidadão, ainda que para isso viole sua liberdade e privacidade (neste aspecto, não poderia deixar de citar o seriado brasileiro 3%). Em histórias como Gattaca ou Minority Report, o futuro parece melhor ou mais organizado (embora os homens, por questões sociais, possam torná-lo aparentemente pior). Pode- mos dizer que essa é uma visão utópica, a do futuro como algo promissor, comum especialmente por aqueles que acreditam nas maravilhas da tecnologia.

Outra visão que se reflete na ficção futurista é a visão distópica, em que a humanidade é destruída em função de guerras, invenções tecnológicas, doenças, etc. Matrix e O Livro de Eli são exemplos de filmes distópicos, sem falar nos clássicos romances Admirável Mundo Novo e 1984. Particularmente me parece melhor evitar o maniqueísmo, cuidando o futuro catastrófico (já um tanto clichê) ou o futuro paradisíaco (até porque você precisa de um conflito).

Fontes:

quarta-feira, 29 de maio de 2024

José Feldman (Versejando) 139

 

Jaqueline Machado (O presenteador)

O jovem disse a um velho sábio:

- Sou um viajante sonhador. Em cada lugar que chego, compro presentes para oferecer às pessoas que amo. Junto dos presentes, ofereço minha transparência e verdade. Mas elas acham que quero algo em troca. Por que isso acontece?

 - “As pessoas não acreditam mais em gentilezas. Acostumaram-se a um estilo de vida onde nada mais parece ser genuíno, gratuito e verdadeiro. Não veem você como um presenteador, mas como um manipulador. Só que manipuladores forçam, e você apenas oferece... E apesar das decepções deve permanecer assim.

“Porque tudo que é manipulado, calculado demais, foge à essência natural das coisas. 

“Tudo o que fere o livre arbítrio, não é da vontade de Deus. 

“Nem trabalho, nem amizade, nem amor. Nem outra coisa alguma. 

“Absolutamente nada deve ser forçado. 

“Se a pessoa recusa o seu presente, não o ofereça mais. 

“Nada pode ser exigido. O estranho é saber que muitos dos que se negam receber presentes da vida, são merecedores de tais dádivas, mas por algum motivo se sabotam.   

“E quando o que é sincero, por razões de orgulho e desconfiança parece ser falso, a Vida, zangada, vem e desfaz milagres e alianças que deveriam ser reconhecidas, celebradas e intensamente vividas junto dos anjos e dos homens.

“Em casos de negações, o merecedor vira pecador. 

“E o presente que era para ser de alguém, é tirado de suas mãos. E oferecido a quem merece mais. 

“É por motivos como estes que muita gente se perde do caminho da felicidade. 

“Vá em paz, meu bom garoto. Siga o seu caminho. E não deixe de viver de acordo com as regras de sua essência.” 

O rapaz, feliz, em sinal de reverencia beijou as mãos do ancião e com sua mochila cheia de lembrancinhas seguiu as trilhas de seu destino...

Fonte: Texto enviado pela autora

Vereda da Poesia = 20 =


Trova de Curitiba/PR

Emílio de Meneses  
Curitiba/PR, 1866– 1918, Rio de Janeiro/RJ

Estranha contradição
que a Terra vira e revira:
muita mentira é paixão,
muita paixão é mentira.
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Soneto de São Paulo/SP

Mauro Raul de Moraes Andrade
1893– 1945

ARTISTA

O meu desejo é ser pintor — Leonardo,
cujo ideal em piedades se acrisola;
fazendo abrir-se ao mundo a ampla corola
do sonho ilustre que em meu peito guardo...

Meu anseio é, trazendo ao fundo pardo
da vida, a cor da veneziana escola,
dar tons de rosa e de ouro, por esmola,
a quanto houver de penedia ou cardo.

Quando encontrar o manancial das tintas
e os pincéis exaltados com que pintas,
Veronese! teus quadros e teus frisos,

irei morar onde as Desgraças moram;
e viverei de colorir sorrisos
nos lábios dos que imprecam ou que choram!
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Triverso de Caxias do Sul/RS

Fabrício Carpinejar

A vida com erros de ortografia
tem mais sentido.
Ninguém ama com bons modos.
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Poema de Lisboa/Portugal

António Lampreia
(António José Lopes Lampreia)
Setubal, 1929 – 2003, Lisboa 

SOMBRAS DA MADRUGADA

Vi uma sombra bem unida
a dela e a tua
e a minha sombra já esquecida
surpreendida
parou na rua!
os dois bem juntos, tu e ela
nenhum reparou
que a outra sombra era daquela
que tu não queres
mas já te amou!
É madrugada não importa
neste silêncio há mais verdade
a noite é triste e tão sózinha
parece minha
toda a cidade!
nem um cigarro me conforta
nem o luar hoje me abraça
eu não te encontrarei jamais
e nestas noites sempre iguais
sou mais uma sombra que passa
sombra que passa e nada mais.
Ao longo desta madrugada
a sombra da vida
mora nas pedras da calçada
já não tem nada
anda perdida
quando a manhã, desce enfeitada
no sol, que a procura
nem sabe quanto a madrugada
chora baixinho
tanta amargura!
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Trova Humorística, de Fortaleza/CE

Nemésio Prata
(Nemésio Prata Crisóstomo)

Nos bailes não dava trela,
e a todos dizia não;
mas no fim foi a donzela
quem "dançou": ficou na mão!
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Poema de Divinópolis/MG

Adélia Prado

PARA PERPÉTUA MEMÓRIA

Depois de morrer, ressuscitou
e me apareceu em sonhos muitas vezes.
A mesma cara sem sombras, os graves da fala
em cantos, as palavras sem pressa,
inalterada, a qualidade do sangue,
inflamável como o dos touros.
Seguia de opa vermelha, em procissão,
uma banda de música e cantava.
Que cantasse, era a natureza do sonho.
Que fosse alto e bonito o canto, era sua matéria.
Aconteciam na praça sol e pombos
de asa branca e marron que debandavam.
Como um traço grafado horizontal,
seu passo marcial atrás da música,
o canto, a opa vermelha, os pombos,
o que entrevi sem erro:
a alegria é tristeza,
é o que mais punge.
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Epigrama da Bahia

Lafaiete Spínola Castro

É um caso de embasbacar,
mas, que faz a gente rir:
O De Nancy – a velar…
E seu talento – a dormir!

(Sobre o literato baiano De Nancy Avelar)
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Décima de Natal/RN

Ademar Macedo
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal

PERDÃO NA ETERNIDADE
 
Para alcançar o perdão
no reino da eternidade,
vão pesar meu coração
na balança da verdade;
pra saber a quantidade
dos meus erros capitais,
entre os pecados mortais
e meus atos de bonança,
quando eu botar na balança
Deus sabe quem pesa mais!…
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Trova Premiada  em Pedro Leopoldo/MG, 2003

A. A. de Assis
(Antonio Augusto de Assis) 
Maringá/PR

Era um guri tão terror,
que a escola inteira o temia.
Cresceu... virou professor...
paga com juro hoje em dia!
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Glosa de Catanduva/SP

Ógui Lourenço Mauri

MOTE:
 Pai, eu te peço perdão
por não ser o que querias!
Eu vivo na contramão,
num refúgio... de poesias!
 José Feldman 
(Campo Mourão/PR)
  
GLOSA:
 Pai, eu te peço perdão
por ter frustrado teu sonho.
Assim, não queria, não;
é disso que me envergonho!
 
Lamento muito, meu velho,
por não ser o que querias!
 Na leitura do Evangelho,
eu tento acalmar meus dias.
 
Desde cedo, fiz a opção,
eu nasci pra ser poeta.
Eu vivo na contramão
de tua paternal meta.
 
Não me ajeito a obrigações,
só faço o que repudias.
Vivo minhas emoções
num refúgio... de poesias!
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Aldravia de Juiz de Fora/MG

Cecy Barbosa Campos

metrô
transportando
cansaço
na
cidade
grande
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Sextilha Agalopada, de São Simão/SP

Thalma Tavares
(Vicente Liles de Araújo Pereira)

Martins Fontes amou uma roseira
e com ela casar-se pretendeu.
Sofreu tanta ilusão o bom poeta
que as delícias trocou do himeneu
pelo encanto floral da Natureza
e à pureza das rosas se rendeu.
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Trova de Santos/SP

Luiz Otávio
(Gilson de Castro)
Rio de Janeiro/RJ, 1916-1977, Santos/SP

Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto!.. 
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Poema de Cachoeira do Sul/RS

Jaqueline Machado

PALAVRAS 

Não pronuncio palavras sombrias 
porque todas elas
já foram lançadas em minha direção. 
São duras feito pedras. 
E como machucam... 
Se fugi de algumas delas? 
Não. 
Acolhi todas. 
E as transformei em bênçãos. 

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Quadra Popular

Mandei buscar na botica
remédio para uma ausência,
me mandaram a saudade,
coberta de paciência.
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Ditirambo de São Paulo

Oswald  de Andrade
São Paulo/SP, 1890- 1954 

Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade
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Ditirambo, poema lírico de estrofes irregulares que exprime o delírio do entusiasmo, da alegria.

O poema é simultâneamente claro e sombrio, talvez daí o nome ditirambo...faz lembrar um daqueles sonhos em que tudo parece perfeito, mas há um pormenor que o transforma em pesadelo, causando-nos espanto e desespero (Alexis, in http://www.luso-poemas.net)

Nas origens do teatro grego, o ditirambo era um hino grego antigo cantado e dançado em homenagem a Dionísio, o deus do vinho e da fertilidade; O termo também foi usado como um epíteto do deus. Platão, em As Leis, ao discutir vários tipos de música, menciona "o nascimento de Dionísio, chamado, eu acho, de ditirâmbdio". Platão também observa na República que os ditirâmbos são o exemplo mais claro de poesia em que o poeta é o único orador.

No entanto, em A Apologia, Sócrates foi aos ditirâmbos com algumas de suas passagens mais elaboradas, perguntando seu significado, mas obteve uma resposta de: "Você vai acreditar em mim?" que "me mostrou em um instante que não por sabedoria os poetas escrevem poesia, mas por uma espécie de gênio e inspiração; São como adivinhos ou adivinhos que também dizem muitas coisas boas, mas não entendem o significado delas".

Plutarco contrastou o caráter selvagem e extático do ditirâmbo com o peão. De acordo com Aristóteles, o ditirâmbo foi a origem da tragédia ateniense. Um discurso ou peça de escrita extremamente entusiasmada ainda é ocasionalmente descrito como ditirâmico.

Ditirâmbos foram cantados por coros em Delos, mas os fragmentos literários que sobreviveram são em grande parte atenienses. Em Atenas, os ditirâmbos eram cantados por um coro grego de até cinquenta homens ou meninos dançando em formação circular, que podem ou não estar vestidos como Sátiros, provavelmente acompanhados pelos aulos. Eles normalmente relatariam algum incidente na vida de Dionísio ou apenas celebrariam o vinho e a fertilidade.

Os gregos antigos estabeleceram os critérios do ditirâmbo da seguinte forma:

Ritmo especial
Texto enriquecedor
Conteúdo narrativo considerável
Caráter originalmente antistrófico

Competições entre grupos, cantando e dançando ditirâmbos eram uma parte importante das festas de Dionísio, como a Dionísia e Lenaia. Cada tribo entraria em dois coros, um de homens e outro de meninos, cada um sob a liderança de um corifeu. Os nomes das equipes vencedoras das competições ditirâmbicas em Atenas foram registrados. Os No entanto, a maioria dos poetas permanece desconhecida. 

Eduardo Martínez (Santana e o furto em residência)

O plantão da delegacia estava abarrotado, mas o agente Ricky Ricardo precisou designar dois policiais para um local de furto em residência. Chamou o Pedro, um dos mais competentes da delegacia. No entanto, para acompanhar o colega, estava sem melhores opções e, por isso, mandou o Santana. Que lástima! Fazer o quê?

Os dois agentes, já na viatura a caminho do local de crime, tiveram que enfrentar um engarrafamento. Pedro, ao volante, procurava encontrar uma brecha entre os carros para chegar logo, enquanto o Santana, com aquela vontade louca de acender mais um cigarro, abriu a janela da viatura. As baforadas começaram a sair da chaminé instalada entre o nariz e o queixo do antigo policial. 

Quase meia hora após, eis que os canas estacionaram em frente a uma casa na parte mais nobre da cidade. Pedro, mais ágil e proativo, desceu do veículo para desenrolar aquela situação. Quanto ao Santana, com os costumeiros movimentos de bicho-preguiça, ainda quis acender outro cigarro antes de descer da viatura. 

Pedro, serelepe que nem esquilo, sacou um pequeno caderno e uma caneta do bolso a fim de começar a anotar os detalhes para começar as investigações. Também precisava averiguar possíveis pontos de vestígios deixados pelo ladrão para que a seção de perícia fosse acionada. Quando o policial estava conversando com a dona da residência, eis que o Santana surge. Pedro, que já conhecia o modus operandi do colega, se afastou para procurar alguma pista, enquanto Santana e a vítima conversavam.

— Por onde o ladrão entrou?

— Por aquela janela.

— Hum... O ladrão entrou por aquela janela?

— Sim.

— Entrou por aquela janela?

— Isso.

— O ladrão entrou por aquela janela, né?

— Foi o que eu disse.

— Hum... Então, a senhora está me dizendo que o ladrão entrou por aquela janela ali?

Após quase 10 minutos naquela lenga-lenga, a mulher começou a se irritar com o Santana. Pedro, percebendo a situação, tratou logo de puxar o colega pelo braço e ir embora, mesmo porque sabia que precisava retornar o mais rápido possível para a delegacia, pois Ricky e Evelina estavam sozinhos para atender aquele mundaréu de gente. Mal entraram na viatura, o Santana, com a cara mais cínica do mundo, ainda quis se fazer de desentendido.

— Você viu aquela mulher, Pedro? Que estresse foi aquele? Esse mundo está mesmo perdido!

Fonte: Fonte> Blog do Menino Dudu – 27.05.2024