sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Fabiano Wanderley (Baú de Trovas) 2


Abraçado a uma criança
chora o pai, vendo a enxurrada.
Sem seca, volta a esperança,
o verde, a terra molhada!
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A palavra proferida,
o seixo após atirado
e uma ocasião perdida,
não retornam; são passado!
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A vida é compreendida,
olhando-se para trás.
Porém, para ser vivida,
mire em frente, nada mais...
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Com mãos e pés, calejados,
revelando ardores seus,
em prece, os pobres coitados
procuram ajuda em Deus.
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Com todas limitações
que lhes cercam as crianças,
buscam sempre nas lições,
seu futuro de esperanças...
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Defronte a um jardim em flores,
à sombra dos arvoredos,
oh varanda, céu de amores,
és clausura de segredos!
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Desfez-se tudo e a saudade
se fez presente, ao dispor
e num bilhete, a verdade:
As cinzas do nosso amor.
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De um sentimento inerente
ao riso, à dor e a paixão,
há na lágrima premente
impulsos de um coração.
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És a flor que no alto aflora,
nativa essência, fagueira,
a aquarela que se arvora,
ornando a montanha inteira.
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Na roça, a feia Arabela,
seu calor aflora a pelos.
Roça tanto na janela,
que tem dor nos cotovelos.
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Neste instante divinal,
de raro e puro candor,
eu vivencio, afinal,
a lauta ceia do amor.
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O enigma de nossas vidas
traz razões, que aos olhos meus,
são teses indefinidas:
— Mistério! Coisas de Deus!
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O meu destino eu aceito,
por que ele me foi legado,
tal qual um rio no leito,
eu sigo o curso traçado.
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O passado é um doce-amargo,
é o retrato de uma vida;
é o ontem que passa ao largo,
dessa estrada, hoje, vivida.
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Paquerando a dona Bela,
não sai da sorveteria,
esfriando o calor dela
e pondo o marido em fria.
- - - - - –
Para a vida, um furo traz
transtornos, não muito amenos:
Na camisinha: – Um, a mais!
no paraquedas: – A menos!
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Para teres, certamente,
um viver com distinção,
faze conscientemente,
do trabalho uma oração!
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Parece até que é piada,
mas é vero o conteúdo,
pobre diz que não tem nada,
mas, se chove, perde tudo!
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Pode parecer bizarro,
mas são coisas do Senhor.
Com a argila, o João-de-Barro,
constrói seu ninho de amor.
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Por que Senhor, conceber
desigualdades no estar:
- Na feira, o pobre vai ver
o que não pode comprar!
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Quando a lua em seu açoite,
unge o céu com seu brilhar,
no plenilúnio da noite
Deus se esconde pra rezar...
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Quando à noite, o véu recua,
ornando um clarão disperso,
majestosa, sai a lua,
da varanda do universo!
- - - - - –
Que bom fazer mais um ano
nessa estrada prometida,
sentindo o calor humano,
estando de bem com a vida.
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Sua voz me consolida
e em seus gestos me alicerço.
Ele é a luz que rege a vida:
— O Arquiteto do Universo!
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Tudo que houve no passado,
quiçá, futuro premente,
não pode ser postulado
como augúrio do presente.
- - - - - –
Um sorriso de criança
transporta a paz para um lar.
Com ele, há luz e esperança,
contidas num doce olhar...
 
Fonte:
Fabiano de Cristo Magalhães Wanderley. Versos Di Versos. Natal/RN, 2014.

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