terça-feira, 19 de julho de 2022

18 de Julho – Dia do Trovador


No dia 18 de julho, em todo o território nacional, comemora-se o Dia do Trovador. A data foi escolhida para homenagear a data de nascimento de Luiz Otávio, pseudônimo de Gilson de Castro, fundador e presidente perpétuo da União Brasileira de Trovadores. Sendo uma composição poética concisa, a trova pode ser descrita como um micro-poema, devendo obedecer a características rígidas.

Luiz Otávio, cirurgião dentista, falecido em 1977, foi o responsável por dar um grande impulso à trova, divulgando-a no rádio, em revistas e em jornais. O resultado foi o lançamento do livro "Meus Irmãos, os Trovadores", em 1956. Com a colaboração de J. G. de Araújo Jorge, em 1960, Luiz Otávio lançou a primeira edição dos Jogos Florais de Nova Friburgo, sendo, ainda hoje, a principal forma de divulgação da trova no Brasil. Com isso, multiplicaram-se os trovadores e com eles a necessidade de congregá-los. Então, em 1966 foi fundada a União Brasileira de Trovadores.

Trovador" é uma palavra derivada do provençal 'trobador' (poeta), proveniente do verbo 'trobar' (compor versos).

Foi através dos portugueses que a trova chegou ao Brasil. O gênero continuou com Anchieta, Gregório de Matos, e foi intensificado com Tomaz Antonio Gonzaga, Claudio Manuel da Costa; com os românticos Gonçalves Dias, Casemiro de Abreu, Castro Alves; com os parnasianos Olavo Bilac, Vicente de Carvalho; e com os modernistas Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Hoje, a trova é o único gênero literário exclusivo da língua portuguesa. No Brasil, a trova originada da quadra popular portuguesa encontrou campo fértil. Porém, passou a ser estudada e difundida de fato somente depois de 1950.

De acordo com Jorge Amado, “não pode haver criação literária mais popular e que mais fale diretamente ao coração do povo do que a trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e por isto mesmo a trova e o trovador são imortais”. A trova deve ser composta de uma quadra, ou seja, deve ter quatro versos – o que equivale a uma linha no universo da poesia. Cada verso, por sua vez, deve ter sete sílabas poéticas, ou seja, ser setessilábico. A sílaba poética, diferente do que possamos pensar, é contada por seu som. O verso da quadra deve ter sentido completo e independente. Há três gêneros básicos de trovas:

Trovas líricas – falando dos sentimentos, amor, saudade;

Trovas filosóficas – possuem ensinamentos, pensamentos;

Trovas humorísticas – são as que fazem rir, engraçadas, bem-humoradas.
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A Trova, por Luiz Otávio

A sina dos trovadores,
e o meu destino também,
é sofrer as próprias dores
e as dores que os outros têm…
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Às vezes uma emoção
que na minha alma se aninha,
não cabe bem num poema...
…mas cabe numa quadrinha…
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A Trova definitiva,
ideal do Trovador,
por mais que eu padeça e viva
eu jamais hei de compor…
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A Trova, quando perfeita,
três reações pode causar:
a gente ri... ou suspira,
ou então, fica a pensar…
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A Trova tomou-me inteiro,
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas da minha vida!…
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Cada quadrinha que faço
em hora calma ou incalma,
é pequenino pedaço
que eu mesmo furto a minha alma.
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De santo tu me chamaste…
Eu juro, ri um pedaço…
Pois nunca vi nenhum santo
fazer as Trovas que eu faço…
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Digo tudo sem receio…
Sei amor que não aprovas.
Meu coração retalhei-o
e, de pedaços, fiz Trovas…
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Dura menos que um suspiro
ou como a folha que cai…
Mas quando penetra na alma,
a Trova fica… Não sai..
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Enfrentando tantas provas,
ao desenrolar dos anos,
vou tirando da alma Trovas,
e enchendo-a de desenganos…
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Estas Trovas foram sonhos
que um trovador já sonhou…
São uns farrapos tristonhos
de um grande amor que passou…
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Este doce e grande amor,
esta saudade indiscreta,
fizeram de um trovador
o mais tristonho poeta…
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É um prazer bem diferente
e de sabor sempre novo,
ouvir a Trova da gente
andar na boca do povo!…
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Há Trovas, ricas, sonoras,
tem brilho, cintilação...
Lembram "Foguetes de Lágrimas"
nas noites de São João…
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Longe de ti triste eu passo,
se vivo mesmo, nem sei…
E, cada Trova que faço
um beijo que não te dei…
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Louvo a Deus por me ter dado
a sorte de trovador,
pois o mal, quando encantado,
diminui o seu rigor…
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Muitas vezes me pergunto,
ao enfrentar duras provas,
se eu suportaria o mundo
sem o meu mundo de Trovas!
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Não digo não: "minha" Trova
quando faço um verso novo:
- não é minha, nem é nova
quando cai na alma do povo…
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Nem sempre nós conseguimos
traduzir as nossas dores...
Quantas trovas ficam mortas
nas almas dos trovadores…
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Nesta Trova pequenina,
quero deixar o sabor
do beijo que ainda há pouco
eu roubei do meu amor…
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Ó trovas – simples quadrinhas
que tem sempre um que de novo...
- Como podem quatro linhas
trazer toda a alma de um povo?!
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"Pequena" - dizem zangados,
muitas vezes com desdém.
Jamais saberão, coitados,
que grandeza a trova tem!
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Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves,
como a Trova nos faz bem!
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Por estar em solidão
tu de mim não tenhas dó.
Com Trovas no coração,
eu nunca me sinto só!
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Quando a Trova é mesmo boa,
é sempre assim que acontece:
- o dono fica esquecido,
mas a Trova não se esquece…
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Saudade - brisa tristonha…
e o meu coração magoado
desprende Trovas… e sonha…
é um rosal despetalado…
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Sou devoto, sou um crente!
Não zombes, não rias não…
Trago um rosário de Trovas
no fundo do coração…
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Tirem-me tudo o que tenho
neguem-me todo o valor!
Numa glória só me empenho:
- a de humilde trovador!
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Toda noite ao me deitar,
por certo você reprova,
eu me esqueço de rezar
e fico fazendo Trova…
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Toma cuidado poeta
com teu sentir mais profundo;
a Trova é muito indiscreta:
- e conta tudo a todo mundo…
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Trovador, grande que seja
tem esta mágoa a esconder:
- A Trova que mais deseja,
jamais consegue escrever…
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Uma trova pequenina,
tão modesta, tão sem glória,
bem pouca gente imagina,
que também tem sua história.


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