quinta-feira, 15 de novembro de 2012

André Rosa (Plano de Aula: Realismo fantástico: o que está por trás destas histórias?)


Ajude a turma a entender o que é o realismo fantástico - também conhecido como realismo mágico ou maravilhoso - e peça que escrevam um texto neste gênero

Conteúdos

 - Realismo fantástico (também chamado de realismo mágico ou realismo maravilhoso)
 - Literatura 

Objetivos

 - Apresentar as origens da literatura fantástica
 - Perceber a constituição do realismo fantástico a partir de elementos incomuns
 - Escrever uma narrativa fantástica

Anos

 Ensino Médio

Tempo estimado

 Duas aulas

 Materiais necessários:

 - Cópias da reportagem "Deixe-se enganar" (Veja, 2294, 7 de novembro de 2012)
 - Trechos selecionados de "A divina comédia - Inferno" (Dante Aleghieri); "Odisseia" (Homero); "Cem anos de solidão" (Gabriel García Marquez); "O último voo do flamingo" (Mia Couto) e da obra de Julio Cortázar e Murilo Mendes.
- Leia mais - Para ficção, realidade é só cenário
- Leia mais - Investigue as relações entre textos literários e realidade

Flexibilização

Para alunos com deficiência visual
 Se houver algum aluno com deficiência visual na sala, a sugestão é utilizar esculturas e outros objetos com formas exageradas como bonecos com cabeças e pernas desproporcionais, réplicas de insetos ou figuras que misturem características humanas e animais, entre outros. Em contato com essas formas, os alunos poderão iniciar o reconhecimento do fantástico de forma materializada, auxiliando não só aos deficientes visuais, mas a todos os alunos.

Introdução

 A reportagem "Deixe-se enganar", publicada em Veja, fala sobre o fascínio que a obra do escritor japonês Haruki Murakami vem exercendo sobre a crítica especializada e em leitores de várias origens. Sua trilogia, "1Q84", tornou-se um best-seller no mundo todo ao utilizar elementos e citações da realidade cotidiana atrelados a acontecimentos e situações anormais. Tudo isso para gerar um conflito, na melhor tradição da literatura fantástica. 

 Utilize a reportagem como ponto de partida para uma aula que explique o que é o realismo fantástico e oriente seus alunos a escreverem uma narração nesse modelo.  

Desenvolvimento

1º etapa 

 Conte aos estudantes que nas próximas aulas eles vão estudar um gênero literário muito interessante: o realismo fantástico (também conhecido como realismo mágico ou realismo maravilhoso). 

 Comece questionando a turma sobre o que significa o adjetivo "fantástico". Anote as respostas no quadro e aproveite o gancho para explicar que a narrativa fantástica é cultivada desde as origens da literatura. Ela pode ser definida como a descrição de um acontecimento insólito que produz um estranhamento ou rompimento com a realidade habitual e leva personagens e leitores a uma outra realidade, em parte inexplicável, onde o conflito é resolvido por meios não convencionais.
  
 Essa literatura não deve ser vista como mera alegoria, mas como uma expressão de uma realidade incomum. Isto é, nem sempre é apenas uma criação ficcional, mas fundamentalmente uma tentativa de propor interpretações não convencionais aos problemas reais. Indique aos alunos que essas características estão presentes tanto em obras recentes quanto antigas. É possível encontrar nos clássicos da literatura ocidental a origem de elementos fantásticos. Na Odisseia de Homero há muitos acontecimentos incomuns como o encontro do herói Odisseu com as Sereias (entes mitológicos antropófagos, que detinham o poder de encantamento e sedução) e o ardil utilizado pelo herói para vencer o ciclope Polifemo. 

 Outro autor clássico cuja obra influenciou  a literatura ocidental foi o poeta Dante Alighieri (1265-1321). O épico "A divina comédia" é marcado pelo estranho encontro do autor com a alma do poeta latino Virgílio (70 a.C. - 19 a.C.), que serve de guia às regiões infernais e ao Purgatório, locais em que o poeta florentino testemunha toda série de martírios destinados às almas condenadas. Na viagem, os poetas encontram personagens como o barqueiro Caronte, responsável por conduzir as almas pelo rio Aqueronte; o cão Cérbero, monstro de três cabeças responsável por vigiar as almas dos glutões; além de outros seres mitológicos, como as Hidras, os Centauros, as Hárpias e o gigante Gerião - personagens da mitologia clássica utilizados como parte da alegoria dos horrores descritos por Dante em sua viagem fantástica ao mundo dos mortos.

 A literatura dos viajantes, feita entre os séculos 15 e 17, também foi marcada pela descrição de espaços, seres e situações que, para a realidade europeia recém-saída da Idade Média, eram manifestações próximas aos mitos e lendas do passado. A literatura contemporânea deu sequência à tradição do fantástico. No século 20, vários autores fizeram do chamado "realismo fantástico" o mote de sua obra: Kafka, Edgar Allan Poe, José Saramago, Mia Couto, Murilo Rubião, Gabriel García Márquez, Julio Cortázar são alguns deles.

2º etapa

 Retome a definição de realismo fantástico para que os alunos consigam responder se gostam deste tipo de história e deem exemplos. Conte que a transgressão realizada pela literatura fantástica se traduz pelo aparecimento do absurdo e do choque entre a realidade como conhecemos e uma outra, criada pelo escritor, que podemos chamar de "supra-realidade". Pergunte aos estudantes se conhecem ou se interessam por obras consideradas fantásticas. Em caso positivo, peça que citem obras de sua preferência. Não tenha preconceitos: é possível que sejam obras populares, filmes de ficção ou jogos. O importante é estabelecer um elo entre as características literárias e aquelas que forem identificadas pelos adolescentes. Além disso, é interessante observar que o fantástico está presente em muitos tipos de textos: nas lendas e contos de fada, nos mitos antigos, na literatura, nas histórias em quadrinhos e até nos heróis dos filmes de ficção científica e terror.

 Distribua  cópias do texto "Deixe-se enganar", publicado em Veja. Oriente a leitura e observe que o próprio título da reportagem já oferece uma possibilidade interpretativa da literatura fantástica: o leitor deve se deixar "enganar" pelo que parece irreal ou espantoso para fazer uma leitura profunda da obra. 

3º etapa

 A seguir, apresente alguns autores para a turma e leia trechos previamente selecionados por você de algumas dessas obras. Peça aos alunos que participem com comentários! Abaixo algumas sugestões de escritores que podem ser trabalhados com a turma:

Escritores "fantásticos" 
 O escritor moçambicano Mia Couto é um deles. Sua obra é marcada pela interpretação dos acontecimentos marcantes de seu país a partir de um viés fantástico. Livros como os romances "A varanda do frangipani" e "O último voo do flamingo" são bons exemplos. No primeiro, o fantasma de um velho carpinteiro luta contra a tentativa do governo revolucionário em torná-lo herói nacional. No segundo, o incomum acontece a partir da presença de soldados das Forças de Paz da ONU durante o período do pós-guerra: sem qualquer explicação aparente, os soldados de capacete azul simplesmente começam a explodir. Em ambos os romances, a presença de lendas e mitos africanos é utilizada como contraponto à realidade habitual, e os acontecimentos inusitados recebem explicações plausíveis a partir da compreensão desses mitos. 

 A literatura latino-americana do século 20 foi profícua na produção de narrativas vinculadas ao realismo-mágico ou realismo fantástico. A obra máxima de Gabriel García Marquez, "Cem anos de solidão", é sem dúvida das mais marcantes narrativas do continente. Por meio de um enredo considerado fantástico, o escritor colombiano fala sobre a origem e o declínio de uma família tradicional e faz uma crítica acentuada ao engessamento da sociedade no continente.

 O argentino Julio Cortázar escreveu livros em que a ambigüidade e a fragmentação surgem para criar enredos alegóricos, em que a realidade cotidiana é abalada pelo surgimento de um acontecimento quase inexplicável. Seus contos e novelas são marcados pela presença de uma temporalidade não linear nem progressiva, e também pela ideia do "duplo", do contrário e do outro como elemento de tensão. O conto "As babas do diabo" deu origem ao filme "Blow-up", do cineasta Michelangelo Antonioni. 

 Outro exemplo que você pode mostrar à turma é o brasileiro Murilo Rubião, um dos mais importantes autores do realismo mágico em nossa literatura. Contos como "O ex-mágico da Taberna de Minhota", "Teleco, o coelhinho" ou "O pirotécnico Zacarias" apresentam elementos inverossímeis que acabam por trazer reflexões profundas sobre a realidade e os sentimentos das pessoas, sempre dosados com ironia sutil. 


Indique aos alunos a leitura de ao menos um conto completo de um dos autores citados - escolha, por exemplo, um dos contos curtos de Julio Cortázar ou Murilo Rubião. Peça que pesquisem e tragam anotados outros exemplos de autores e as características principais da obra. 

4º etapa

 Peça aos estudantes que comentem os contos lidos e as pesquisas. Pergunte o que mais chamou a atenção deles: o que diferencia estas histórias das mais realistas? Por que  acreditam que a literatura fantástica possa atrair tantos leitores?

 A seguir, proponha que escrevam uma história com as características da literatura fantástica. O trabalho pode ser individual ou em equipes. Os alunos podem escolher se preferem uma lenda, uma história de terror ou até um texto bem humorado. Lembre à turma que um acontecimento absurdo é o que traz a surpresa para uma narrativa fantástica. Muitas vezes uma história que começa de forma aparentemente linear, "normal", acaba oferecendo um elemento-surpresa que a transforma numa narrativa fantástica. Quando os estudantes terminarem, peça que compartilhem suas produções. 

 Avaliação

 Tomando como referência os textos produzidos e os debates feitos em sala, observe se os alunos entenderam o que é o realismo fantástico e se conseguem distinguir uma história com estas características.

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André Rosa é  Professor de Literatura e Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Fonte:

Arthur Nestrovski (Os Bêbados e os Sonâmbulos)


“Nada nele era aparente. Não mostrava nada”, diz o narrador, com o amante agonizando nos braços. É quase o contrário do que poderia ter dito sobre o novo romance de Bernardo Carvalho, onde tudo se expõe, tudo é aparência, mas nada também se revela, exceto em momentos privilegiados, epifanias que explodem ao longo da narrativa. Em seu terceiro livro, depois do bem acolhido Aberração (1994) e dos contos de Onze (1995), Bernardo Carvalho vem nos propor riscos ainda maiores, nessa ficção disposta, praticamente contra si mesma, a testemunhar as aberrações absolutas do amor e da morte.

 Nada mais difícil para um autor tão consciente das possibilidades e ainda mais das impossibilidades do seu meio. Sua desconfiança traduz-se, desde logo, numa linguagem quase sem pathos, numa profusão de pequenas histórias narradas em registro neutro. Mas essa neutralidade é ainda mais suspeita para um autor que, apesar de tudo, está sempre do lado da experiência. Sua condição, nada invejável, mas que ele compartilha com alguns dos melhores escritores da atualidade, é precisamente a de reconhecer a natureza do afeto e do sofrimento, sem que a empatia descambe em identificação. O resultado é um romance duplo, onde melodrama e testemunho vão se mascarando e revelando um ao outro.

 A duplicidade, aliás, é a alma fugidia desta seqüência de histórias dentro de histórias, onde autor e narrador se confundem, pensadamente, com homônimos e narradores de narradores; onde as vozes dividem-se entre países e continentes; e onde a vontade de “não mais ser o que eu era” ressoa como um bordão do início ao fim. E a duplicidade – com ecos demoníacos de Shakespeare e Poe – assume aqui também caráter de gênero, neste romance assumidamente homossexual. Cabe apontar, quanto a isto, a atualidade de um contexto internacional mais amplo, no qual se enquadram escritores como Aldo Busi, Reynaldo Arenas, Alan Hollinghurst e Edmund White, e à luz do qual um romance desses será forçosamente lido. Bernardo tem ambições menos programáticas que a de outros autores brasileiros como Alberto Guzik e Jean-Claude Bernardet; têm também ambições mais altas, nem sempre ao alcance do livro.

 Fica difícil recontar ordenadamente o xadrez refinado da forma sem estragar as surpresas de quem não leu. Uma simples lista será o suficiente para sugerir os seus cenários. Há o caso da operação de tumor cerebral da mãe – homenageada traiçoeiramente na dedicatória (verdadeira ou falsa?), como fonte sigilosa da história que não se deveria contar. Há o caso da testemunha acidental, que viu uma mulher sair, com uma criança no colo, das águas da baía, no Rio, depois de um desastre de avião. Há o caso dos pintores cariocas da virada do século, que pintavam uns aos outros como “modelos vivos”, depois de mortos. Há o estranho caso do emissário do Museu Metropolitan, que veio tratar desses quadros no Brasil e o caso ainda mais estranho, retomado ao longo dos anos, desse emissário com o narrador. Há o caso do executivo americano, aparentemente seqüestrado durante uma festa no Rio de Janeiro em 1969, e da sua mulher, que ficou. Há o caso do “repatriamento sanitário” do psicólogo louco, encontrado em Los Angeles, Chile (a Paris, Texas do livro). Há o caso do narrador que contou todos esses casos e que domina a segunda parte, supostamente verdadeira, e o caso de como esses casos se ligam, admiravelmente dobrados e redobrados em si.

 A habilidade narrativa pode ser o maior trunfo ao autor, mas não é sua maior cartada. Todo o seu esforço é o de não se deixar vencer pelas histórias. O excesso mesmo desses casos, multiplicados em outros tantos episódios parentéticos, sugere que o que interessa está noutro lugar – no inatingível reino que as histórias parecem ocultar. “A consciência é uma armadilha”, diz o psicólogo louco, autor de uma série de diagnósticos “como pequenas fábulas”. Em seus momentos mais frágeis, porém, é o próprio romance que, inversamente, ameaça se transformar numa série de fábulas como pequenos diagnósticos.

 Que o controle das aparências seja calculado para a explosão das paixões – como se a vida toda fosse uma placa sísmica, perpetuamente ameaçada por tremores e erupções – é algo que funciona melhor como instrumento de ritmo do que como lição. E mesmo esse ritmo tende a se tornar insistente demais, uma alegoria do recalcado. O livro, porém, é mais forte que as suas falências e essas imagens recuperadas acabam descrevendo uma outra figura, no limite apenas da compreensão, lá onde o que se sabe ecoa incompreensivelmente. “Os poetas estavam lá antes de nós”, escreveu Freud; e Bernardo Carvalho, à sua maneira, chegou antes de nós no terreno do trauma e do testemunho, questões candentes da literatura e da teoria literária contemporânea – mas não (até agora) entre nós.

 Neste domínio, não é mais possível afirmar, como Jean-Claude Bernardet em A Doença, uma Experiência, que a ironia é “um valor acima de qualquer outro”; e Bernardo é mesmo um escritor sobriamente feroz, indisponível para as alegrias. Sua literatura é mais do jejum que da festa, mais do magro consolo que da reconciliação. As inúmeras coincidências que vão dirigindo a narrativa tem menos de humor do que de paranóia e a tensão da voz só relaxa, artificiosamente, em quase piadas sobre o poder antecipatório da literatura, ou na presença fugaz dos coadjuvantes Henry Kissinger e Emma Thompson, ou em um ou outro registro da comédia (mais geralmente o transe, ou apuro) sexual.

 A ferocidade tem sua dose de sentimentalismo, por certo, mas o melodrama, aqui, foi roubado do melos, que só ressoa inaudivelmente, em tudo o que não foi dito. E nos dois momentos de clímax, no final da primeira parte e em seu espelho parcial, no fim, quando o autor, virtuosisticamente chegado até lá, abdica então do controle e deixa que a literatura – ou que outro nome se dá para o que não é nem bebedeira, nem sonambulismo – tenha a palavra, e seja capaz, afinal, de dizer o que importa.

 Nestes momentos, Bernardo Carvalho transcende os limites que ele mesmo se criou, nessas narrativas tão ensimesmadas e obsessivas. Daqui para a frente, como diz um narrador, tudo é verdade e o livro completa um retrato do morto que fica fora daquelas pinturas cariocas. É um morto que o livro traz de volta à vida: o último duplo, testemunha e objeto, sobre cujo rosto o romance vem desenhar, com a força de uma compulsão, as feições amorosas e aberratórias de cada leitor.

Fonte:
Revista USP, n. 36, fev./1998.

Arthur Nestrovski (1959)


Arthur Nestrovski nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 1959. Formou-se em música na Universidade de York, na Inglaterra, e doutorou-se em literatura e música na Universidade do Iowa, nos Estados Unidos. É articulista da Folha de S.Paulo, editor da série Folha explica (Publifolha) e professor titular de Literatura na Puc de São Paulo, ensaísta e autor de livros infantis premiados. 

Dedicado a complexos temas culturais, autor de livros eruditos como Ironias da Modernidade (1996), um estudo sobre a linguagem irônica na literatura e na música do modernismo, e organizador de obras como Figuras do Brasil (2002), onde se encontram reunidos textos de 80 das mais representativas personalidades da cultura brasileira, Arthur Nestrovski é também um dos mais sensíveis e criativos autores da literatura infantil brasileira. 

Depois de receber o prêmio Jabuti como autor-revelação por Debussy e Poe (1986), Arthur lançou, em 1998, Histórias de Avô e Avó (1998), um livro infantil, de cunho autobiográfico, onde ele reconta as histórias que ouviu dos avós, imigrantes judeus, como quem coloca um ladrilho indispensável ao imenso mosaico da diversidade étnica brasileira. Em seguida, foi a vez do violinista Arthur contar para crianças sua história de amor com a música, desde o primeiro concerto a que assistiu. Em O Livro da Música (2000), o autor vai de reminiscência em reminiscência, explicando os termos e as coisas do mundo da música. Nestrovski também empresta seu ouvido privilegiado de músico aos leitores de Barulho, Barulhinho, Barulhão e ensina a ouvir os sons que nos rodeiam, do barulhinho da latinha de refrigerante que se abre ao barulhão do avião que risca o céu.

Em Coisas Que Eu Queria Ser (2003), o escritor mostra que, além de ouvido, também tem olhos e coração para perceber as possibilidades de vida em objetos que cercam nosso dia-a-dia, como um simples lápis, ou naqueles que sonhamos, como uma máquina de exterminar chatos. Dando novas respostas à eterna pergunta “o que você vai ser quando crescer?”, o livro leva o leitor à aventura de experimentar outras maneiras de viver.

Essa liberdade de trafegar entre o real e o imaginário é a matéria com que o autor constrói o consagrado Bichos Que Existem e Bichos Que Não Existem (2002). Trazendo para o universo infantil a idéia do escritor francês Francis Ponge, que explorou poeticamente as coisas e objetos do mundo, o autor apresenta, com muito humor, bichos reais, de todos os tipos, e animais fantásticos que habitam os mitos gregos e o folclore nacional. E mergulhar na fantasia das lendas brasileiras é coisa que Nestrovski faz com fôlego de boto, como se vê também em A Iara (2002), a serei de água doce que, nesse livro, encanta não só o protagonista, mas também todos os leitores.

Algumas Obras

Infantil & Juvenil

- Histórias de Avô e Avó (il. Mª Eugênia) – 1998, Cia. das Letrinhas
- O Livro da Música (il. Marcelo Cipis) – 2000, Cia das Letrinhas
- A Iara – 2002, FTD 
- Bichos que Existem & Bichos que Não Existem (il. Mª Eugênia) – 2002, Cosac & Naify 
- Coisas Que Eu Queria Ser (il. Mª Eugênia) – 2003, Cosac & Naify
- Barulho, Barulhinho, Barulhão – (il. Marcelo Cipis) – 2004, Cosac & Naify

Fonte:

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 728)



Uma Trova de Ademar  

Procuro sempre crescer 
mesmo enfrentando empecilhos, 
mostrando em meu proceder, 
exemplos para os meus filhos... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

A noite calada e escura
que silencia meu pranto,
revela toda a amargura
na falta de teu encanto.
–Nilton Manoel/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Ao rever a sua imagem 
N’alma abri minhas cortinas 
e retoquei a tatuagem 
feita nas minhas retinas! 
–Manoel Cavalcante/RN– 

Uma Trova Premiada  

2010   -   TrovaUneVersos/RN 
Tema   -   SILHUETA   -   3º Lugar 

Quando o sol se faz mais forte 
e a chuva responde...não! 
a silhueta da morte 
se espraia pelo sertão. 
–Francisco José Pessoa/CE– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Tua carta inesperada
tantas lembranças me trouxe,
que eu vivi de um quase nada,
um quase tudo tão doce!...
–Analice Feitoza de Lima/SP– 

U m a P o e s i a  

Hoje existe uma corrente, 
pela qual alguns autores, 
defendem que, na escola, 
os nossos educadores 
tragam de volta à cultura 
de novo a literatura 
dos cordéis encantadores. 
–Hélio Pedro/RN– 

Soneto do Dia  

VARAL DE LUZES. 
–José Antonio Jacob/MG– 

Vem! Dá-me a mão princesa, o mundo é belo! 
Deixa um bilhete simples sobre a estante, 
descalça os teus pezinhos do chinelo 
e vamos juntos caminhar adiante!... 

Se o azul combina o tom com o amarelo 
e o arco-íris se inclina em céu distante, 
por que tu vives dentro de um castelo 
se a vida te ilumina a todo instante? 

Ajunta os teus sonhos cor de mel 
nas rimas de um soneto bem escrito 
e exprime teus encantos no papel! 

Colore neste dia um tom bonito 
que a noite põe estrelas no teu céu 
como um varal de luzes no infinito!

Nilton Manoel (Ribeirão Preto em Destaque)


Nilton Manoel e Rita Mourão – oradores - 
em evento no colégio Marista de Ribeirão Preto.

O lançamento de livro de poesia dos alunos da escola teve por estilo literário a literatura de Cordel. 

Ribeirão Preto homenageia o Cordel Brasileiro com o dia municipal do Cordel (dia do natalicio de Rodolfo Coelho Cavalcante e rua ) através do vereador (natural do nordeste) prof. dr. Cicero Gomes da Silva. Na coordenação de escola publica temos aqui uma sobrinha de Rodolfo. 

A literatura do Paraná (Sul) era divulgada no Diário da Manhã, onde destaca matéria que nos alerta dos 100 anos do Centro de Letras com quem tivemos vasta correspondência nos tempos de Vasco Taborda.

Fonte:
Nilton Manoel

Jornais e Revistas do Brasil (A Manha / RJ)


Período disponível: 1926 a 1955 
Local: Rio de Janeiro, RJ 

Publicação de humor político, A Manha foi criada e dirigida por Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, posteriormente auto-intitulado Barão de Itararé. O próprio nome do periódico parodiava um dos grandes jornais da época, A Manhã (de cujo título subtraiu-se o til), no qual Torelly, sob o pseudônimo Apporelly, antes de criar o seu jornal, publicava uma coluna humorística intitulada “A Manhã tem mais”. A Manha procurava imitar A Manhã também no seu aspecto visual.

Torelly foi na sua especialidade, o humor, importante personagem das redações cariocas, sendo considerado um precursor da moderna imprensa satírica brasileira. A Manha começou a circular no dia 13 de maio de 1926 com o subtítulo “Órgão de ataques... de riso”. Propunha-se abertamente a “morder o calcanhar das autoridades”, especialmente a classe política. Com estilo irreverente e inovador, A Manha revelou-se em pouco tempo um sucesso de vendas, colocando-se à frente das publicações concorrentes, como O Malho, Careta e Fon-Fon. 

Homem de idéias socialistas, ligado ao Partido Comunista Brasileiro – o que lhe valeria três prisões durante governo Vargas –, Torelly gostava de atacar com suas piadas os valores estabelecidos, enquanto se solidarizava com os setores marginalizados da sociedade. A própria figura fictícia do Barão de Itararé era uma crítica bem-humorada ao conservadorismo das elites e aos valores aristocráticos. 

Criado como semanário de circulação nacional, mas caindo depois em periodicidade irregular, A Manha era quase totalmente escrita pelo próprio Torelly, que na primeira fase do jornal ainda se assinava Apporelly. No entanto escondiam-se, sob vários pseudônimos, colaboradores importantes como Manuel Bandeira, Henrique Pongetti e José Madeira de Freitas (o caricaturista e escritor que se assinava Mendes Fradique). O jornal contava também com charges de Nássara, Pedro de Lara, Martiniano, Mollas e Hilde.

O diagramador e desenhista paraguaio Andrés Guevara foi, pela constância e qualidade do seu trabalho, o mais importante colaborador do periódico, atuando nele do início ao fim, já na década de 1950. Dividia o seu tempo entre Brasil e Argentina, onde tinha sua principal residência. Guevara não só influenciou muitos cartunistas brasileiros como introduziu modernos conceitos de diagramação e paginação em nossa imprensa, tendo sido responsável, inclusive, pelo projeto gráfico do jornal Última Hora, lançado em 1951, que introduziu a técnica da diagramação na imprensa brasileira. Muito devido a seu trabalho, A Manha foi o primeiro jornal humorístico a fazer uso de fotomontagens para ridicularizar as autoridades. 

A Manha tinha formato tabloide (fator que viria a influenciar a chamada imprensa alternativa dos anos 1960/70) e apresentava várias seções: economia, política, cotidiano, noticiário policial, página de literatura e esportes etc. Trazia também previsões de fim de ano e um suplemento de supostos correspondentes estrangeiros, com artigos redigidos à maneira pela qual imigrantes portugueses, alemães e italianos falavam coloquialmente o português, com suas respectivas pronúncias e erros de ortografia. A política, vista sempre pela ótica do humor, era o assunto predominante do jornal, que mantinha também uma seção destinada a denúncias dos leitores. 

Em 1929, durante a campanha política promovida pela Aliança Liberal, com Getúlio Vargas candidato à Presidência e João Pessoa a vice, A Manha circulou por quatro meses como encarte semanal do jornal Diário da Noite, órgão dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, em apoio ao movimento. Na primeira semana, dobrou de tiragem, vendendo 15 mil exemplares, até chegar à marca de 125 mil exemplares, vendidos na data da publicação do programa da AL. 

Após a Revolução de 1930, que levou Getúlio ao poder, A Manha se dizia um órgão independente, “que não se vende, apenas se troca por quinhentos réis”. Foi nesse período que Torelly contemplou-se com um título de nobreza, barão de Itararé, em alusão à cidade de São Paulo, de nome Itararé, onde se esperava um cruento e decisivo confronto entre as forças governistas fiéis ao presidente Washington Luís e os revolucionários liderados por Getúlio. A "Batalha de Iraré", da qual ele emergiu como "barão", jamais aconteceu, no entanto. Essa sutil provocação seria apenas o começo de uma conflituosa relação do dono de A Manha com a ditadura de Vargas. 

Em setembro de 1932, Torelly foi preso por causa de seus constantes ataques ao regime. Em 1933, seu jornal já aderia fervorosamente à campanha antifascista, ironizando o movimento integralista brasileiro, de extrema-direita, comandado por Plínio Salgado e inspirado no ideário de Hitler e Mussolini. O slogan integralista “Deus, Pátria e Família” foi substituído nas páginas de A Manha por “Adeus, Pátria e Família”. Neste período, Torelly sofreu violento atentado perpetrado por militares integralistas da Marinha por causa de uma série de reportagens sobre o marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, publicada no Jornal do Povo, editado em paralelo a seu jornal humorístico. Mas em A Manha até as tragédias se transformavam em anedota. Consta que depois do incidente Torelly teria afixado uma tabuleta na porta de sua sala com os dizeres: “Entre sem bater”. 

Em 1934, mesmo ano em que se inicia o regime nazista na Alemanha, Torelly já denunciava em A Manha a “carnificina dos campos de concentração, onde se encontram presos os adversários do regime (…) e milhares de judeus que curtem o crime de não terem nascidos arianos puros”. As posições políticas levam Torelly para a prisão pela segunda vez, em dezembro de 1935, quando seu periódico saiu temporariamente de circulação. Dessa vez o Barão de Itararé era apontado como militante e um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora. A ANL fora desarticulada pelo governo Vargas após o fracasso dos levantes armados de 1935, liderados pelo PCB (Intentona Comunista). Algumas reuniões da ANL ocorriam, de fato, na própria sede de A Manha, com a presença de Francisco Mangabeira, Carlos Lacerda, Roberto Sisson, Manuel Venâncio Campos da Paz, Benjamim Soares Cabello e outros. 

A Manha só foi reaberta após a soltura de Torelly, em 21 de dezembro de 1936, passando a circular sob censura exercida pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Nesta fase, o periódico concentrava seus ataques às ditaduras de Hitler, Mussolini, Franco e Salazar, evitando choques frontais com a direita brasileira. Mesmo assim, o jornal só conseguiu funcionar por cerca de um ano a mais, sucumbindo finalmente sob as pressões da ditadura do Estado Novo. Torelly se refugiou então no Diário de Notícias, na condição de colaborador, mas acabou sendo preso novamente. Em novembro de 1937, dividiu uma cela, no presídio da Frei Caneca, com Graciliano Ramos, fato citado no livro Memórias do cárcere, do escritor alagoano. 

Quase uma década depois, em abril de 1945, A Manha ressurge, alcançando um sucesso até maior do que antes. Neste momento, em clima de instabilidade política pelo qual passava o governo Vargas, o jornal prenunciava a articulação de um golpe contra o presidente em manchete que se tornaria mais uma das célebres criações de Torelly: “Além dos aviões de carreira há qualquer coisa no ar”. Nesta nova fase, contando com a colaboração de escritores como José Lins do Rego, Álvaro Lins, Rubem Braga, Raimundo Magalhães Jr., Raul Lima, Pompeu de Sousa e Sérgio Milliet, entre outros, o jornal passou a ter Arnon de Melo como responsável pelo seu departamento comercial. Incentivou-se, nesse período, o uso da imagem do Barão de Itararé como garoto-propaganda, mas a sociedade mantida entre Torelly e Arnon de Melo acabou desfeita pouco tempo depois, quando este passou a apoiar a candidatura de Eduardo Gomes, da União Democrática Nacional (UDN), nas eleições presidenciais. 

Devido a problemas financeiros, A Manha deixou de circular em 1948. Torelly havia sido eleito vereador do antigo Distrito Federal, pelo PCB, no ano anterior, sendo cassado em 1948, assim como outros parlamentares da legenda. Um ano depois, associado a Andrés Guevara, o Barão de Itararé edita em São Paulo (SP) o Almanaque d’A Manha, também chamado Almanhaque. Impulsionada pelo repentino sucesso da publicação, A Manha volta a circular em 1950, agora em São Paulo, para desaparecer em setembro de 1952. Em 1955 Torelly lança as duas edições derradeiras do seu Almanhaque. A Manha teve ainda curta sobrevida em 1960, ao reaparecer como encarte de uma página no jornal Última Hora. Em 1989, o Almanhaque teve reedições fac-similares, editadas pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e pela Editora Studioma.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/manha

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 17 de dezembro: O Teatro Lírico


I

Por enquanto, em falta de melhor, falemos do Teatro Lírico, que está hoje na ordem do dia, justamente pela desordem em que tem andado todas estas noites, depois que o diabo lhe entrou no corpo.

Todos os jornais têm dito a sua opinião a respeito; todas as opiniões são muito acertadas; mas parece-me que ainda ninguém chegou à conseqüência necessária deste estado anormal em que se acha o nosso teatro italiano.

Nas circunstâncias atuais, só há um remédio, e é interromper os espetáculos, pelo menos durante um mês, para dar tempo a que a nossa companhia de cantores inválidos se restabeleça e possa novamente entrar em trabalhos.

Consta-nos que a maior parte dos embaraços e dificuldades que a diretoria tem ultimamente encontrado nasce dos seus próprios empregados. Ora, com o fechamento do teatro durante um mês, poderão os diretores restabelecer a ordem necessária e destruir essa soberania do capricho, que até agora era privilégio das primas-donas, mas que já se vai estendendo às comprimárias, e breve passará às coristas e às comparsas.

Temos um regulamento de teatro, que, se não é perfeito, contém ao menos um bom número de disposições acertadas, suficientes para impor o respeito a alguns cantores, que por terem meia dúzia de panegiristas, entendem poder abusar da indulgência do público.

Faça a diretoria cumprir rigorosamente este regulamento, requisite nos casos necessários a ação da polícia, que se tem mostrado zelosa, e pode ficar certa que ninguém deixará de aplaudir essa boa resolução, cujos efeitos salutares em pouco tempo se começarão a fazer sentir.

Que importa que um cantor, punido por uma falta de suas obrigações, seja recebido com palmas a primeira vez que apareceu na cena, depois do seu ato de insubordinação? Há sempre nos homens um bom instinto que ilude, e os faz tomar o partido daqueles que julguem oprimidos, que consideram como vítimas. Isto, porém, não é uma razão para que se deixe de manter o princípio da autoridade, sem o qual não há ordem nem tranqüilidade possível.

Se todas as infrações do regulamento tivessem sido punidas como essa de que falamos, ninguém se lembraria de enxergar uma vítima no ator que caíra em falta, nem de protestar contra o ato dos diretores por uma semelhante manifestação de simpatia.

Tomando a diretoria a posição que lhe convém, e fechando o teatro pelo tempo necessário para preparar as óperas que tem de levar à cena, poderá em pouco tempo continuar os espetáculos sem interrupção, e com aquela regularidade que até hoje tem sido impossível conseguir.

Todos os anos por este tempo a imprensa lembra a idéia de fechar-se o Teatro Lírico por um ou dois meses, e, apesar disto, ainda não nos compenetrarmos bem desta necessidade; não queremos reconhecer que, se na Europa a ópera italiana abre-se por uma estação, no nosso país, com o nosso clima, é quase impossível continuar os espetáculos sem dar aos artistas algum tempo de repouso e descanso.

Estou certo que este ano sucederá a mesma coisa; que a diretoria não julgará necessária uma medida sem a qual se passou muito bem os anos anteriores. Mas também este ano veremos acontecer o mesmo que o verão passado. O teatro continuará aberto por formalidade e por luxo unicamente, os cantores estarão constantemente doentes; passarão doze dias sem espetáculo; o calor e o receio das transferências afugentará os espectadores; e por fim, depois de dois ou três meses de vegetação, a companhia ficará extenuada e incompleta, e, como o ano passado, seremos obrigados a fechar o teatro justamente quando se acabar o verão, e quando os espetáculos começarem a ser agradáveis.

Talvez percamos o nosso tempo a falar destas coisas. O teatro lírico, que já tomou as proporções gigantescas de uma questão de gabinete, hoje apenas serve de tema sediço às palestras e correspondências de jornais. Entretanto isto não pode continuar assim; já não podemos passar sem ópera italiana, e por conseguinte mais cedo ou mais tarde se descobrirão os meios de possuirmos constantemente no nosso teatro uma companhia regular e composta de artistas de merecimento.

Para isso o governo pode achar um grande auxílio no nosso Conservatório de Música, dirigido pelo hábil professor o Sr, Francisco Manuel da Silva. O gosto e a aptidão que têm geralmente as brasileiras para o canto pode  concorrer para o futuro do nosso teatro, fornecendo as empresas de coristas e comprimárias, e facilitando-lhe assim os meios de contratar na Europa as primeiras partes, pelo preço que pagam os melhores teatros europeus.

Na visita que o Sr. Ministro do Império fez ultimamente a este estabelecimento, assistiu aos trabalhos da aula destinada ao sexo feminino. Estiveram presentes 34 jovens alunas, que executaram, entre outras três peças de música sacra, compostas pelo diretor, duas sobre poesias do Padre Caldas, e uma sobre a letra latina – Ó salutaris hóstia.

O Sr. Ministro do Império conta visitar igualmente a aula dos meninos, e, depois que tiver assistido a todos os trabalhos do Conservatório, é de crer trate de completá-lo, anexando às aulas rudimentais, únicas que existem, aulas de aplicação, que poderão daqui a algum tempo dar-nos ótimos instrumentistas para nossas orquestras.

A escassez dos recursos é a primeira causa do pouco desenvolvimento que tem tido o Conservatório. Os auxílios concedidos por meio de loterias estão hoje reconhecidos como pouco eficazes, principalmente correndo elas com longo espaço. Fora preferível que o corpo legislativo votasse uma dotação anual, com a qual o governo poderia contar para ir melhorando gradualmente esta instituição.

Hoje ninguém se lembra do Conservatório de Música. Entretanto quem sabe daqui a alguns anos quantas horas agradáveis não nos dará ele por ocasião dos seus concursos e dos seus exames anuais! Quem sabe se ainda não terei de contar aos meus leitores a história de alguma Rosina Stoltz brasileira, educada neste Conservatório, e para quem algum Donizetti também brasileiro escreverá uma nova Favorita.

Talvez julguem que isto são votos de imaginação: é possível. Como não dar largas à imaginação, quando a realidade vai tomando proporções quase fantásticas, quando a civilização faz prodígios, quando no nosso próprio país a inteligência, o talento, as artes, o comércio, as grandes idéias,tudo pulula, tudo cresce e se desenvolve?

Na ordem dos melhoramentos materiais, sobretudo, cada dia fazemos um passo, e em cada passo realizamos uma coisa útil para o engrandecimento do país.

Não há muito tempo que S.M. teve a bela idéia de fundar em terras de uma fazenda sua uma colônia, que recebeu o nome de Petrópolis. O ano passado, à imitação da primeira, se começou a criar uma nova cidade, à qual se deu o nome de Teresina. Hoje sabemos que uma terceira colônia se vai formar na Serra dos Órgãos, na fazenda do Marsch; já começou a divisão dos prazos, pelo mesmo sistema de Petrópolis.

A situação é a mais aprazível e a mais linda que se pode imaginar: é plana, cortada por um belo rio, e acha-se no alto da serra, num ponto de muita passagem, e por onde talvez tenha de seguir um dos ramais da estrada de ferro do Vale do Paraíba.

A viagem desta corte é a mais cômoda possível. Vai-se até Sampaio em barca de vapor; o resto é um agradável passeio de duas léguas e meia, que se pode fazer de carro, por uma excelente estrada. Reúne, portanto, todas as condições, a comodidade, a rapidez e a segurança.

Isto no estado atual; porque, logo que se começar a povoar o lugar, logo que os habitantes desta corte tiverem gozado aquele clima frio e seco, aquele céu sempre azul, aquelas águas frescas e puras, logo que se estabelecer a concorrência, não faltarão companhias regulares de ônibus e de carros, que ainda tornarão a ida mais breve e mais cômoda. Então não será uma viagem, mas um passeio; poder-se-á almoçar na corte e ir lá jantar-se, mas, jantar-se à hora curial, e não às cinco, como sucede com Petrópolis, por causa da maré.

De maneira que daqui a uns dez ou vinte anos, se as coisas continuarem, em vez de  se passar o domingo em Andaraí, Botafogo, ou no Jardim Botânico, iremos a Petrópolis, a Teresina, ou a cidade dos Órgãos; depois do almoço, se estivermos aborrecidos, tomaremos a estrada de ferro e iremos por distração ver correr o Paraíba; de noite voltaremos para o teatro, ou para o baile, e nos recolheremos tendo andado de léguas o que hoje andamos de braças.

Talvez ainda me tachem isto de sonho e de utopia. Será sonho, não o nego; mas que melhor se pode fazer neste tempo de repouso e descanso, do que sonhar? O trabalho vai cessar, as festas aí vêm, cheias de prazeres e de folhas para aqueles que estão alegres e dispostos a goza-las.

As férias começam. Os colégios se fecham desde que concluem os seus exames, os quais este ano já têm mostrado mais zelo da parte dos diretores e mais aplicação nos discípulos. O que se nota apenas é que em cada colégio o menino ressente-se um pouco da influência de uma ou outra especialidade, conforme a educação dos diretores.

Com as férias, com os dias de festa, nem a exposição da Rua do Ouvidor, verdadeira exposição, porque deixa a bolsa dos passeantes exposta a um perigo terrível. Este ano apresenta-se à concorrência uma nova casa brasileira do Sr. C. Lase, que entrou pelos domínios estrangeiros, mas com um luxo e um brilhantismo que nada tem que invejar às casas francesas.

Se não preferis, pois, o sossego e a tranqüilidade do campo, tereis durante esses dias algumas horas bem agradáveis, vendo passar diante  daqueles salões,brilhantemente iluminados, tudo quanto há de elegante e distinto na nossa sociedade.

Tereis ainda o prazer de poder escolher, entre tantas galanterias, uma bem delicada, bem mimosa, como as mãozinhas a que a destinardes; e em paga recebereis algum olhar, alguma palavra de agradecimento, que vos fará andar por ai a roer as unha e a sorrir às pedras das calçadas até o momento em que o cruel e positivo negociante vos traduzir aquele encantador olhar em linguagem de cifra, e lhe der um valor em moeda corrente.  

Tudo isto, e os mais divertimentos que gozardes durante a festa, me referireis a primeira vez que nos encontrarmos no ano seguinte. Em troca vos contarei a festa do campo, os dias passados à sombra a conversar com algum amigo, a contemplar a natureza, e a evocar as lembranças adormecidas de outros dias já passados.

II

Voltemos uma folha ao livro da semana. Um grande pensamento, uma idéia brilhante foi nela escrita pelo amor da pátria, e pelo amor da ciência.

O Instituto Histórico do Brasil celebrou a sua sessão aniversária sexta-feira no Paço Imperial. SS.MM., o seu Conselho de Estado, alguns ministros, o corpo diplomático, e quase todas as ilustrações do país, assistiram a este ato solene, celebrado com as formalidades do estilo.

Depois da breve alocução do Exmo. Visconde de Sapucaí, o Sr. Dr. Macedo, 1.º Secretário, leu o seu relatório dos trabalhos do Instituto durante o ano. É um resumo completo, um pouco longo, como exigia o seu assunto, mas ao qual o seu autor soube, com rara habilidade, dar uma forma amena, e muitas vezes eloqüente. Depois de mostrar a incansável solicitude com que S.M. continua a proteger o Instituto, o Sr. Dr. Macedo passou à enumeração dos trabalhos, e terminou por um belo trecho, notável não só pela boa dicção da frase, como por uma verdadeira apreciação da atualidade.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Raquel Ordones (Guardados de Mim)


Ruth Rocha (Bom dia todas as cores)


Meu amigo Camaleão acordou de bom humor.
- Bom dia, sol, bom dia, flores,

bom dia, todas as cores!

Lavou o rosto numa folha
Cheia de orvalho, mudou sua cor
Para a cor-de-rosa, que ele achava
A mais bonita de todas, e saiu para
O sol, contente da vida.

Meu amigo Camaleão estava feliz
Porque tinha chegado a primavera.
E o sol, finalmente, depois de
Um inverno longo e frio, brilhava,
Alegre, no céu.
- Eu hoje estou de bem com a vida
- Ele disse. - quero ser bonzinho
Pra todo mundo...

Logo que saiu de casa,
O Camaleão encontrou
O professor pernilongo.
O professor pernilongo toca
Violino na orquestra
Do Teatro Florestal.
- Bom dia, professor!
Como vai o senhor?
- Bom dia, Camaleão!
Mas o que é isso, meu irmão?
Por que é que mudou de cor?
Essa cor não lhe cai bem...
Olhe para o azul do céu.
Por que não fica azul também?

O Camaleão,
Amável como ele era,
Resolveu ficar azul
Como o céu da primavera...

Até que numa clareira
O Camaleão encontrou
O sabiá-laranjeira:
- Meu amigo Camaleão,
Muito bom dia e você!
Mas que cor é essa agora?
O amigo está azul por quê?

E o sabiá explicou
Que a cor mais linda do mundo
Era a cor alaranjada,
Cor de laranja, dourada.

Nosso amigo, bem depressa,
Resolveu mudar de cor.
Ficou logo alaranjado,
Louro, laranja, dourado.
E cantando, alegremente,
Lá se foi, ainda contente...


Na pracinha da floresta,
Saindo da capelinha,
Vinha o senhor louva-a-deus,
Mais a família inteirinha.
Ele é um senhor muito sério,
Que não gosta de gracinha.
- bom dia, Camaleão!
Que cor mais escandalosa!
Parece até fantasia
Pra baile de carnaval...

Você devia arranjar
Uma cor mais natural...
Veja o verde da folhagem...
Veja o verde da campina...
Você devia fazer
O que a natureza ensina.

É claro que o nosso amigo
Resolveu mudar de cor.
Ficou logo bem verdinho.
E foi pelo seu caminho...

Vocês agora já sabem como era o Camaleão.
Bastava que alguém falasse, mudava de opinião.
Ficava roxo, amarelo, ficava cor-de-pavão.
Ficava de toda cor. Não sabia dizer NÃO.

Por isso, naquele dia, cada vez que 
Se encontrava com algum de seus amigos,
E que o amigo estranhava a cor com que ele estava...
Adivinha o que fazia o nosso Camaleão.
Pois ele logo mudava, mudava para outro tom...

Mudou de rosa para azul.

De azul para alaranjado.

De laranja para verde.

De verde para encarnado.

Mudou de preto para branco.

De branco virou roxinho.

De roxo para amarelo.
E até para cor de vinho...

Quando o sol começou a se pôr no horizonte,
Camaleão resolveu voltar para casa.
Estava cansado do longo passeio
E mais cansado ainda de tanto
mudar de cor.
Entrou na sua casinha.
Deitou para descansar.
E lá ficou a pensar:
- Por mais que a gente se esforce,
Não pode agradar a todos.
Alguns gostam de farofa.
Outros preferem farelo...
Uns querem comer maçã.
Outros preferem marmelo...
Tem quem goste de sapato.
Tem quem goste de chinelo...
E se não fossem os gostos,
Que seria do amarelo?

Por isso, no outro dia, Camaleão levantou-se
Bem cedinho.
- Bom dia, sol, bom dia, flores,
Bom dia, todas as cores!

Lavou o rosto numa folha
Cheia de orvalho,
Mudou sua cor para
A cor-de-rosa, que ele
Achava a mais bonita
De todas, e saiu para
O sol, contente
Da vida.

Logo que saiu, Camaleão encontrou o sapo cururu,
Que é cantor de sucesso na Rádio Jovem Floresta.
- Bom dia, meu caro sapo! Que dia mais lindo, não?
- Muito bom dia, amigo Camaleão!
Mais que cor mais engraçada,
Antiga, tão desbotada...
Por que é que você não usa
Uma cor mais avançada?

O Camaleão sorriu e disse para o seu amigo:
- Eu uso as cores que eu gosto,
E com isso faço bem.
Eu gosto dos bons conselhos,
Mas faço o que me convém.
Quem não agrada a si mesmo,
Não pode agradar ninguém...
E assim aconteceu
O que acabei de contar.
Se gostaram, muito bem!
Se não gostaram, AZAR!


Fonte:

João Anzanello Carrascoza (Ponta da Língua)


Ilustração: Clouds

Cheia de graça é a nossa língua, portuguesa.
 Você nem precisa aprender o á-bê-cê para rir com ela.
 Desde pequeno já ouve dizer que mentira tem pernas curtas.
 E mentira tem pernas?
 E a verdade? A verdade tem pernas longas?
 E quando dói a barriga da perna?
 Ou quando ficamos de orelha em pé?
 O que a barriga tem a ver com a perna, e orelha com o pé?
 Pra ser divertido, não leve nada ao pé da letra!
 Até porque letra não tem pé. Ou tem?
 Pé-de-meia é o dinheiro que a gente economiza.
 Pé-de-moleque, doce de amendoim.
 Dedo de prosa é papo rápido.
 Dedo-duro é traidor.
 Pão-duro, pessoa egoísta.
 E boca da noite? E céu da boca?
 É uma brincadeira atrás da outra!
 Cabeça de cebola, dente de alho, braço de mar.
 Com a nossa língua, a gente pode pegar a vida pela mão.
 Pode abrir o coração. Pode fechar a tristeza.
 A gente pode morrer de medo e, ao mesmo tempo, estar vivinho da silva.
 Pode fazer coisas sem pé nem cabeça.
 Mas brincar com palavras também é coisa séria.
 Basta errar o tom e você vai parar no olho do furacão.
 Então, divirta-se. Cuidado só para não morder a língua portuguesa

Fonte:

Mário de Carvalho (Três personagens transviadas)


Escrevo num computador instalado num móvel polido que tem uma prateleira que se puxa. Muito vulgarizados, tais móveis podem encontrar-se em qualquer loja informática das grandes. Menciono este dado pessoal porque ele estabelece o cenário de desconfortáveis ocorrências, há pouco mais duma hora, aqui no meu escritório. Possuir um móvel destes não é coisa de que alguém se gabe, e eu preferiria ocultar o facto, se não fosse necessário confessá-lo.

Estava a premir a tecla F 11, quando um homenzinho magro, de fato escuro completo e chapéu fora de moda emergiu atrás do teclado e começou a fazer esforços para se içar para o tampo superior, onde se agigantam monitor e impressora. Levantava os braços, numa gesticulação que me pareceu desesperada e dava grandes saltos, em cima da consola. Calçava sapatos ferrados que tiravam do plástico x sons fortes lembrando bicadas repetidas de catatua.

Não foi esta a primeira vez que me vi assediado por personagens. Acontecia-me, não raro, quando ia passear para o Jardim Constantino, depois do jantar, em certos plenilúnios. Saíam-me ao caminho por detrás das árvores e quase sempre eram mais altas e encorpadas do que eu. Algumas mostravam-se pouco benignas e chegavam a maçar-me. Essa a razão por que evito o Jardim Constantino e, quando tenho de passar por ali, sigo numa corrida e oculto a cara como posso. Nunca estou bem certo do plenilúnio.

Agora, uma personagem de doze centímetros de altura, magrita, a saltar ao alcance dos meus dedos é que nunca me tinha acontecido. Alguma vez havia de ser a primeira. O que pensei logo foi «com este posso eu bem». Apesar de parecer bastante ginasticado, capaz daqueles pulos todos, não me deu para ter medo dum homenzinho que me cabia na palma da mão. E se ele estivesse armado? Pelo aspecto não parecia.

Mas havia já outra personagem. À claridade do monitor, uma jovem loura, de blusa rosa e saia preta, passeava ao comprido pelo tampo do móvel, esfregando uma na outra as mãos ansiosas. Parecia estar muito preocupada. Usava bandós e calçava saltos altos. Podia estragar-me o verniz. Aproximei a cara. Tranquilizei-me. O peso dela não era bastante para que os saltos de agulha perfurassem a mobília. A mulherzinha não deu por mim. Continuava a andar, de um lado para o outro, fazendo soar, ao de leve, no móvel o tique-tique dos saltos. Ao debruçar-me, pareceu-me ouvir, muito sumidamente, uma vozinha angustiada: «Oh, Augusto, Augusto!» Mas não garanto.

O homem, entretanto, conseguia pendurar-se no tampo, e depois de um esforço complicado de braços e cotovelo içava o corpo, com dificuldade. Demorou que tempos nisto. Sobreveio a tentação de lhe dar uma ajuda com os dedos. Mas resolvi não interferir. Se ele me desabasse sobre o teclado, então poria a mão debaixo, não fosse danificar-me algumas teclas ou ficar entalado entre elas. Seria um tanto ridículo, aparecer na loja de informática a explicar que tinha um fulano esprimido entre as teclas, e que fizessem o favor de mo tirar com aquelas pinças largas que os especialistas usam.

Mas, enfim, o homenzinho lá se levantou, sacudiu o pó do fato, num manifesto exagero, ou num reflexo habitual (injusto porque eu posso comprovar que não há pó neste móvel) teve uma hesitação, e fez qualquer coisa de absolutamente inesperado.

Em vez de se dirigir à mulher, como eu erradamente previa, encaminhou-se para o velho do tambor.

O velho, de barba branca e barrete frígio, estava sentado na borda do cinzeiro, e tocava permanentemente tambor. Não se ouvia um som. Mas eu notava que às vezes aplicava as baquetas com grande energia. E a mulher lá continuava, dum lado para o outro, tique-tique, a arrepelar as mãos. Notei que teve um sobressalto, talvez um susto, e recuou um passo. Mas quando o homem desapareceu por trás do cinzeiro, fora do seu alcance, voltou à perturbada deambulação anterior.

A mulher estava, de certeza, à espera de alguém, provavelmente do tal Augusto, que não era o do chapéu. Eu comecei a enternecer-me e quase a desejar que o Augusto se mostrasse. O velho do tambor suspendeu a batida e olhou para o homem de chapéu que o tirou, num repelão, e tornou a colocá-lo. Era educado. O velho do tambor rodou a cabeça, repetidamente, numa obstinação negativa e recomeçou a rufar.

Mas o receio de que pudessem surgir mais personagens inquietou-me. Qual Augusto! Não me apetecia nada que a casa se me enchesse de cavaleiros, de ciclistas, de pugilistas e meninas do can-can. Ou de tropa. Não, é que podia perfeitamente aparecer um pelotão, a formar, em ordem unida, no braço do meu sofá orelhudo...

Em circunstâncias difíceis como esta, não há nada como recorrer a um perito. Telefonei a um amigo, que é escritor. Atendeu mal-disposto, porque foi acordado. É um escritor dos diurnos, nove às cinco.

«Ouve, meu caro, desculpa lá, mas estão a aparecer-me personagens em volta do computador. O que é que eu faço?»

O meu amigo formulou muitas perguntas sábias. É um grande especialista de personagens. Se eram pesadas ou leves, grandes ou pequenas, silenciosas ou barulhentas, sentimentais ou secas. «Têm máscara?», inquiriu. «Não? Então são de grau inferior...» Quando eu o informei de que eram pequenas e silenciosas, ele sugeriu-me com um tonzinho superior de quem enuncia uma evidência: «Agarra nas três e atira-as pela janela.»

«E se atinjo alguém? Estás a ver-me em tribunal por defenestrar personagens, com dano para os utentes da via pública?» «Então, conduta do lixo com elas.» «Não posso fazer uma coisa dessas, sempre são gente.»

Do lado de lá do telefone o meu amigo fez um «ts» de rabugice. Desconfio de que trata as personagens dele com uma certa dureza. É o que dá a experiência.

«Escuta, não andas agora a escrever umas crónicas, uns comentários, ou lá o que é?» Como é que ele sabia? Isto é uma cidade muito bem informada. Admiti.

«Então, faz o seguinte: aprisiona-as no texto.»

Fonte:
Mário de Carvalho. Contos Vagabundos. Lisboa: Editorial Caminho,2000. 

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 727)



Uma Trova de Ademar  

Meu momento mais doído
foi perder quem tanto adoro,
por isso eu choro escondido
para ninguém ver que eu choro!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional  

Arruaça sempre grande:
jogo, bebidas, e orgia,
Quanto mais o vício expande,
mais sua alma se esvazia!
–Eliana Palma/PR–

Uma Trova Potiguar  

Não fumo nem por esporte,
porque cigarro fascina;
mas deixa um gosto de morte
no trago da nicotina.
–José Lucas de Barros/RN–

Uma Trova Premiada  

2005   -   Nova Friburgo/RJ
Tema   -   APELO   -   M/E

Preenchi a tua vida:
fui musa, amante, modelo.

Mas, hoje, a minha partida...
resiste a qualquer apelo!
–Dilva Maria de Moraes/RJ–


...E Suas Trovas Ficaram  

Quando o solo estranho pisa,
o imigrante, esta é a verdade,
imigra porque precisa,
mas não foge da saudade.
–José Maria Morgade/SP–

U m a P o e s i a  

Fugindo à desarmonia,
no Bem vivemos imersos,
numa redoma de paz,
onde os males mais diversos,
sublimamos com ternura...
e um punhadinho de versos!
–Vanda Fagundes Queiroz/PR–

Soneto do Dia  

CRIATIVIDADE NA TERCEIRA IDADE
–Roza de Oliveira/PR–


Ser criativo na terceira idade
é sublimar os próprios desenganos!
Sócrates – a lira, aos setenta anos ,
aprendeu e tocou....na intimidade!

O filósofo, em criatividade,
uniu-se aos demais gênios – mais que ufanos:
Michelângelo – Goethe – soberanos
astros e gênios na melhor idade!

Em nossos tempos Cora Coralina
nos seus setenta, jovem se insinua
nas poesias tão puras, que ao escrevê-las

revela, em sua arte cristalina,
que lançando sua rede ao mar da lua
busca as estrelas ... tão somente estrelas!!!