terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ieda Cavalheiro (Teia de Poesias)


FASE DE FAZER

 Saudade de ti... Que fase!
 Que fazes, que faço eu,
 das luas de nosso amar?

 Saudade de ti... que fazes tu?
 Que fase a minha!
 Tua e minha lua, côncavas,
 Na Via Láctea infinita em versos.

 Em que fase, conseguirei,
 Que, o que faças
 transmute teu verso
 em meu inverso,
 fase maior do meu universo?

LIBERDADE

 Essa noite sou tua.
 És meu inteiro!
 Como eu,
 Nua, a lua nos encara,
 Banha-te em luz .
 O vento varre os anos
 do meu - teu tempo,
 A nuvem encobre, solícita,
 As rugas e as imperfeições
 do meu - teu semblante,
 perfeitos, ficamos,
 perfeitamente, livres...
 e amantes,
 em busca,
 do sempre inenarrável.

ALEGRE PORTO

 A Porto Alegre - terra onde semeei dias e amores.

Porto Alegre, berço beira-rio,
Olhos cravados nos sonhos,
Ontem, futuro incerto,
Busquei teu céu - amanhã,
Muro azul, minha imaginação,
Magia de sol avermelhando no horizonte.

Rezei-te terços em luta, mais de meia vida,
Semeei de meus passos tuas ruas,

Praças, igrejas, escolas, casas de cultura,
Teu lago, um sorriso aberto,
Amenizou meu semblante-fantasia,
É minha a honra de seres o chão
Dos filhos de meus sonhos.
Hoje, dias obscuros, paço de meus amores,
Doces e terríveis momentos,
Ternura e luta - realização,
Estrela guia de tantos natais,
Vou contigo, tortuosas curvas,
Busco-te, alegre porto,
Amo-te mais e mais.

BARALHO DE AMOR  

Cinquenta e duas cartas de amor
Em tuas mãos solícitas,
Acarinhando e embaralhando tanto,
A trocá-las de lugar a cada instante,
Formando maços, traçando ouros,
Em copas, fazendo diferentes laços,
Afugentando sonhos e percalços.
Espadas em estranhos desenlaces,
Qual rei em guerra, sem valetes.
Perdida dama de paus,
Sem rumo entre coquetes,
Joguete, apenas.
Como último cartucho, o ás d’ouro,
A arder, qual ferro em fogo, 
Debato-me entre as damas
Reis e ases de alto luxo,
E coringas são insuficientes
Para salvar-me, abatida em mesa, 
Sonolentas vão 
As esperanças de deter-te,
Do monte, lanço mão.
E os sonhos já se acabam...
Em última partida agonizo,
Em mãos, o sete belos d’ouro,
Transforma-se à paixão,
Cartada vil de mísero baralho,
Sob a manga mágica do sonho,
E na última rodada, já em transe,
Banco o amor sem esperança,
Entrega especial antes de morrer: 
Viciado de ti, o coração…

A VOZ QUE CALA

A voz que cala no vale,
Sopro de tua voz,
Cheiro de tua boca,
Independente de ti,
Fica ao meu ouvido
Retumbante nos ares,
Dizendo da paixão 
Que nos arrebata para a vida.

A voz que cala nas colinas,
Vento devastador
Destruindo esperanças, 
Em nossas formas
Submersas no tempo
Que não nos exploramos, 
Submissa às visões do mundo,
Mais que palavras que falam de ti.

A voz que cala na cachoeira,
Brisa serena do universo de nós,
Do mais profundo de ti,
Emergente em meu ser,
Lava nossas almas
Do pecado originado,
Orações não rezadas 
De meu clamor por ti.

A voz que cala em tua boca, 
Teus beijos não dados, 
Nossa ânsia louca
Não nos entregando,
Relíquias do prazer 
De nos termos para sempre,
Mesmo na certeza de te ter, 
Não te tendo aqui.

A voz que cala no silêncio,
É a minha a teu ouvido,
Sinfonia que não quer parar
E te ofertando
O tema escolhido, 
Inacabado assim, mas salutar, 
Virtual, virtuoso, reprimido,
Vida e sobrevida para amar.

A voz que cala no tempo,
É meu ser que invade o teu, 
A lira que me encanta, 
E, maga, realiza meu sonho,
Apesar do desencanto, 
De tua surdez aos meus apelos,
Indubitavelmente,
É a voz do meu amor por ti.

SOU

 Sou teu sonho, teu deleite,
 Sou teu lençol , sou teu leito,
 Sou vida da tua vida,
 Sou o pelo do teu peito.
 Sou conto dos teus romances,
 Sou poesia de tua alma,
 Sou doce enlevo em teu monte,
 Sou linha da tua palma.
 Sou resposta aos teus anseios,
 Sou tua ira, tua calma.
 Sou tua sombra, tua escada,
 Sou pássaros em revoada.
 Se te ganho sou mulher,
 Sou fiel e apaixonada,
 Se te perco, és meu sonho,
 Sou uma folha empoeirada.

GRITO PELA PAZ

 Grito por esse amor imenso
 Rasgando meu pensar:
 - grito de paz, dos desvalidos,
 Na guerra a soçobrar,
 Dos aleijados de braços, pernas,
 De órfãos de pais,
 De irmãos de amar,
 De ouvidos loucos
 E corpos combalidos.
 Grito pelas insanas naus,
 Barcos sem velas
 Bombas sem rumo,
 Largados do oriente,
 Insanidade moral,
 Desatinada e má,
 Ativada por homens
 Ditos do bem,
 Em nome de um deus,
 Que ao encontro não vem.
 Grito desse ocidente explorado,
 Ainda tão criança,
 De exploração do verde
 E roubo da esperança.
 Grito por luzes não acesas
 E falta de água,
 De arroz e de feijão plantados
 Sem esperança de colheita,
 Pela fome e a miséria
 Que ao humano espreita.
 Grito pelas águas dos rios,
 Mudando de cor, sabor e berço.
 Grito pelos pássaros,
 Que não passarão de ovos...
 Pelas baleias e
 Tubarões mortos,
 Sem deixar herdeiros
 Para esticar sua história...
 Grito pela Paz,
 Onde tantos gritam pela guerra.
 Grito por meus gritos,
 De querer crer,
 Que a PAZ não é quimera
 PAZ é BEM
 Que há de ser à aurora,
 Iniciado no amor
 De um por outro ser!

Fonte:
http://www.teiadosamigos.com.br/Nossos_Poetas/ieda/index.html

Ialmar Pio Schneider (Soneto-Oração)


Aos familiares dos entes queridos falecidos na tragédia de Santa Maria - RS - 29.01.2013 - . - 

Transcorrem dias tristes, enlutados, 
e as pessoas se voltam à oração; 
que Deus conforte os pais desesperados, 
porque só n´Ele existe a salvação. 

Nós somos seres, filhos bem-amados
do Pai Maior que paira na amplidão, 
por Quem sempre seremos resgatados
e a retornarmos à ideal mansão. 

É difícil viver, tenhamos fé, 
embora atravessemos maus momentos
em que podemos vacilar até... 

Possamos enfrentar os sofrimentos
nesta terrena vida, de viagem, 
pois estamos aqui só de passagem...

Fontes:
O Autor
Charge de Carlos Latuff obtida no Blog do Tarso

domingo, 27 de janeiro de 2013

Fernando Sabino (Martini Seco)


O texto é dividido em quatro partes, que delimitam as etapas da história e as transformações ocorridas. Vamos, a seguir, acompanhar cada uma dessas partes. 

Primeira parte 

Esta parte se inicia com o relato do caso ocorrido em 17 de novembro de 1 957. Um homem e uma mulher entraram em um bar, sentaram-se e pediram dois martinis. Ela foi ao telefone e ele foi ao banheiro. Quando retomaram, a mulher (Carmem) tomou a bebida e caiu morta. Estabelecida a confusão, ninguém sabe como a polícia chegou. Chegou e, inicialmente, supôs tratar-se de suicídio. Entretanto logo surgiram as suspeitas de que se tratava de assassinato. O marido, Amadeu Miraglia, foi considerado como o principal suspeito. Preso, acabou confessando; mais tarde, em juízo, alegou que fora torturado para confessar e acabou absolvido da acusação. 

Cinco anos depois, Maria, 2º mulher de Amadeu Miraglia, vai à delegacia apresentar queixa, porque desconfia que ele quer inatá-la e que usará veneno para que o caso termine como anterior. Amadeu é interrogado e nega tudo. Levanta a hipòtese de que ela. Maria, pretende matar-se e jogar a culpa nele. Acrescenta que já está acostumado com este tipo de injustiça, pois quando criança também foi acusado pelo pai, injustamente, pela morte de um passarinho. 

Segunda parte 

Curiosamente, esta parte se inicia da mesma forma que a primeira, inclusive com a repetição das mesmas palavras. Para o leitor, fica parecendo que Miraglia e a mulher estão envolvidos num novo assassinato, mas na realidade o que se passa é a reconstituição do crime. A partir deste momento, o leitor toma contato com novas informações, que ele terá de juntar às anteriores para compor um quadro de hipóteses coerentes quanto à atitude dos personagens. Miraglia conta que ia se casar com Carmem e que ela estava grávida. Miraglia diz que o filho não poderia ser seu, pois ele era estéril. Miraglia explica que Carmem se suicidou porque não queria admitir lhe fora infiel. Miraglia diz que Maria também queria se matar, porque também estava grávida e sabia que o filho era ilegítimo Em meio a tantas informações, o caso toma vários caminhos, que o comissário Serpa tenta questionar, concluindo que todas as suspeitas apontam para Miraglia. A història se repete: Maria vai com Miraglia ao bar, toma um martini e cai fulminada 

Terceira parte 

Como se pôde ver, esta história acontece como num jogo, o de damas por exemplo, em que novas possibilidades de jogadas vão acontecendo. O detetive Serpa levanta a hipòtese de que Miraglia pretendia matar-se e Carmem, tomando o martini no cálice errado, terminou morrendo. Neste momento, Maria lhe telefona para saber se deve tomar o cálice de martini que Miraglia lhe oferece. Serpa diz que ela deve beber o outro cálice, o que pode configurar um erro, pois se Miraglia pretendia se matar, ela, Maria, morreria fatalmente. 

Quarta parte 

Novamente o leitor é levado a crer num real assassinato, que acaba por não ocorrer. Maria não havia morrido e resolve retirar a queixa contra Miraglia, porque se arrependeu e acabou dando o caso como encerrado. Serpa, finalmente, tem uma pista concreta em suas mãos: a morte de uma mulher desconhecida, por envenenamento, no mesmo bar onde ocorreu a primeira morte. O fato leva Serpa a concluir que uma desconhecida havia tomado o martini de Miraglia e morrera, o que confirma que ele pretendia mesmo se matar. 

O final é inconcluso, não deixando qualquer certeza sobre a culpabilidade ou não de Miraglia.

Fonte:

Marluce Portugaels (Eu Vou Cantar o Meu Rio)


 Eu vou cantar o meu rio 
 meu rio de muitas voltas 
 mil meandros tem o meu rio 
 O meu rio Juruá 

 Eu vou cantar o meu rio 
 meu rio de margens largas 
 como é bonito o meu rio 
 O meu rio Juruá 

 Eu vou cantar o meu rio 
 meu rio de terras caídas 
 barrancos toldam o meu rio 
 O meu rio Juruá 

 Eu vou cantar o meu rio 
 meu rio de aves ligeiras 
 garças voam sobre o meu rio 
 O meu rio Juruá 

 Eu vou cantar o meu rio 
 meu rio cheio de estórias 
 lendas, causos contam o meu rio 
 O meu rio Juruá 

 Eu vou cantar o meu rio 
 meu rio de tantas lembranças 
 como é bom lembrar o meu rio 
 O meu rio Juruá

Fonte:

Conto do Folclore Brasileiro (História da Coca)


Uma vez um menino foi passear no mato e apanhou uma coca; chegando em casa, deu-a de presente à avó, que a preparou e comeu.

 Mais tarde, sentiu o menino fome e voltou para buscar a coca, cantando:

 Minha vó, me dê minha coca
 Coca que o mato me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 A avó, que já havia comido a coca, deu-lhe um pouco de angu.

 O menino ficou com raiva, jogou o angu na parede e saiu. Mais tarde, arrependeu-se e voltou, cantando:

 Parede, me dê meu angu
 Angu que minha vó me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 A parede, não tendo mais o angu, deu-lhe um pedaço de sabão.

 O menino andou, andou, encontrou uma lavadeira lavando roupa sem sabão e disse-lhe: — Você lavando roupa sem sabão, lavadeira? Tome este pra você.

 Dias depois, vendo que a sua roupa estava suja, voltou para tomar o sabão, cantando:

 Lavadeira, me dê meu sabão
 Sabão que a parede me deu
 Parede comeu meu angu
 Angu que minha vó me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 A lavdeira já havia gasto o sabão: deu-lhe então uma navalha.

 Adiante, encontrando um cesteiro cortando o cipó com os dentes. Disse-lhe: — Você cortando o cipó com os dentes?... Tome esta navalha.

 O cesteiro ficou muito contente e aceitou a navalha.

 No dia seguinte, sentindo o menino a barba grande, arrependeu-se de ter dado a navalha (ele sempre se arrependia de dar as coisas) e voltou para buscá-la, cantando:

 Cesteiro me dê minha navalha
 Navalha que lavadeira me deu
 Lavadeira gastou meu sabão
 Sabão que parede me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 O cesteiro, tendo quebrado a navalha, deu-lhe, em paga um cesto. 

 Recebeu o cesto e saiu dizendo consigo: — Que é que eu vou fazer com este cesto?

 No caminho, encontrando um padeiro fazendo pão e colocando-o no chão, deu-lhe o cesto. Mais tarde, precisou do cesto e voltou para buscá-lo com a mesma cantiga.

 Padeiro me dê meu cesto
 Cesto que o cesteiro me deu
 O cesteiro quebrou minha navalha
 Navalha que a lavadeira me deu
 Lavadeira gastou meu sabão
 Sabão que parede me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 O padeiro, que tinha vendido o pão com o cesto, deu-lhe um pão.

 Saiu o menino com o pão, e, depois de muito andar, não estando com fome, deu o pão a uma moça, que encontrou tomando café puro.

 Depois, sentindo fome, voltou para pedir o pão à moça e canta:

 Moça me dê meu pão
 Pão que o padeiro me deu
 O padeiro vendeu meu cesto
 Cesto que cesteiro me deu
 O cesteiro quebrou minha navalha
 Navalha que a lavadeira me deu
 Lavadeira gastou meu sabão
 Sabão que parede me deu
 Minha vó comeu minha coca
 Coca recoca que o mato me deu

 A moça havia comido o pão; não tendo outra coisa para lhe dar, deu-lhe uma viola.

 O menino ficou contentíssimo; subiu com a viola numa árvore e se pôs a cantar:

 De uma coca fiz angu
 De angu fiz sabão
 De sabão fiz uma navalha
 Duma navalha fiz um cesto
 De um cesto fiz um pão
 De um pão fiz uma viola
 Dinguelingue que eu vou para Angola

Fonte:
Jangada Brasil. Setembro 2010. Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário.

Soares de Passos (Canto de Primavera)


Eis surge a quadra florida,
A quadra dos amores,
Vertendo almos fulgores
Do seio juvenil.
Tudo revive ao hálito
Que a natureza aquece;
Tudo rejuvenesce
À luz do ameno abril.

Os bosques odoríferos
Se cobrem de verduras:
Nos montes e planuras
Renasce a tenra flor;
Dos perfumados zéfiros
As músicas suaves
Se juntam das mil aves
Os cânticos d'amor.

Salve, estação esplêndida,
Ó luz apetecida,
Que à terra dando vida,
A tudo dás prazer!
Minha alma em doces êxtases
Festeja a tua vinda,
E se ergue à luz infinda,
Manancial do ser.

D'onde. ó calor benéfico,
Derivas teu alento?
E d'onde o movimento
Que dás à criação?
Do foco sempre vivido
Que anima a natureza
Por toda a redondeza
Da terra, e da amplidão.

Como nos campos fulgidos
Espalha essas estrelas,
Assim as flores belas
Nos campos terreais:
Quão belo, ó Providência,
É teu poder fecundo
Enchendo o vasto mundo
D'alentos imortais!

Debalde o imenso vórtice
Retoma quanto gera:
Tudo se regenera
No perenal crisol,
E tudo canta harmónico
O Ser que, das alturas,
Aos gelos dá verduras,
Às sombras novo sol.

Cantai, ó aves módulas,
Cantai em coro ledo!
Murmúrios do arvoredo,
Cantai a Jeová!
Campinas aromáticas,
Erguei-lhe os mil perfumes
Das flores em cardumes
Que a primavera dá!

Abriu-se o tabernáculo
Da terra florescente;
Todo sorri fulgente,
Todo respira amor:
Ressoem nele os cânticos
De mística harmonia,
Dizendo noite e dia:
– Hossana ao Criador!

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Heloisa Prieto (conto recontado: Arthur, o Rei em Busca de um Mundo Ideal)


Noite de tempestade. Baixa Idade Média. Um castelo na Grã-Bretanha. A rainha Igraine abraça o filho recém-nascido. Capaz de prever o futuro, ela sabe que Merlim, o grande mago, está a caminho para buscá-lo. Chora porque seu filho será criado em segredo, na casa humilde de um camponês. 

Assim começa a história do grande rei Arthur. Sempre acompanhado de um falcão, que o protege à distância, o pequeno rei brinca, convive com os irmãos adotivos e trabalha como pastor, sem jamais desconfiar de sua verdadeira identidade. Porém, sua coragem e inteligência manifestam-se quando os pais enfrentam algum problema que ele, tão jovem, rapidamente é capaz de resolver. Ou quando a montanha fala à sua alma. Afinal, Arthur traz a magia no sangue, e a prática da geomancia, a arte de prever o futuro por meio da observação da natureza, era comum entre os celtas.

Quem teria realmente invocado o rei dentro do menino? A espada excalibur ou o espírito da rocha na qual ela fora colocada? O pequeno Arthur, para ajudar um cavaleiro cuja arma fora danificada, acidentalmente encontra uma espada enfiada numa rocha. Ele a retira sem ler as inscrições na pedra: "Aquele que extrair a espada da pedra será o novo rei".

Menino, Arthur assume o trono e descobre que os pássaros que o protegeram durante toda a vida na verdade tinham sido enviados por seu mentor, o poderoso Mago Merlim. Conquistas e vitórias surgem na vida do jovem líder e seu sábio conselheiro. Estes são os tempos que o consagraram como rei mítico, porém, quando o rei se apaixona pela princesa Guinevere, nem mesmo as palavras de Merlim impedem que ele sofra como qualquer outro mortal. Se você casar-se com ela — alerta o Mago —, os ideais da cavalaria serão destruídos.

É nesse momento da vida de Arthur que a aura mágica se quebra e ele passa a viver sujeito a erros e desilusões. Ignorando o conselho de Merlim, Arthur casa-se com Guinevere que logo depois o trai com seu melhor amigo. A dor dilacera o coração de Arthur. No auge do sofrimento, o rei é vítima de um feitiço e concebe um filho com a meia-irmã, Morgana, hábil nas artes da bruxaria. Mordred, o príncipe maldito, é treinado para destruir o próprio pai. Quando Arthur cai, em campo de batalha, Merlim o abraça e chora, e o rei lhe pede: "Conte ao mundo minha história, Merlim!"

O Mago aceita a missão, sabendo que a vida de Arthur continha um toque divino. E que, além do sofrimento, restaria sempre seu sonho: a busca de um mundo de justiça, honra e fraternidade.

Fonte:
Revista Nova Escola: Contos

sábado, 26 de janeiro de 2013

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 18


Corrêa de Araujo
(Raimundo Correa de Araújo)
(Pedreiras/MA, 29 maio 1885 – São Luis/MA, 24 agosto 1951)

" AQUELES OLHOS "

Ela olhou e passou, graciosa e bela.
Passou... e foi-se para sempre, embora
brilhe em meu coração, desde tal hora,
ditosa, a doce luz dos olhos dela...

Estrela que no azul cintila e mora,
viu-a o Poeta e emocionou-se ao vê-la;
e amou a estrela doidamente, e a Estrela
fugiu, fulgindo, pelos céus afora...

Desde então, muitos anos já passaram;
talvez haja fechado - a garra adunca
da morte, - os olhos que me deslumbraram..

Neste vale de lágrimas e abrolhos,
viva cem anos, não verei mais nunca
olhos tão lindos como aqueles olhos!

DENTRO DO ABISMO

Morria... O abismo embaixo, esboroadas
Fauces horríveis para o espaço abria,
E eu suspenso no vácuo, as mãos pousadas
Nas margens negras, já sem fé morria.

Sei que caí mas que, ao cair, sagradas
Mãos me ampararam na voragem fria;
E, ao despertar, Alguém d'asas doiradas,
Alguém que eu amo, junto a mim sorria.

Eras tu! Amparaste-me a fugiste:
E eis-me de novo cheio de desditas!
E eis-me de novo desvairado e triste!

E clamo e gemo... que cruel contraste!
És tu agora que me precipitas
No meu abismo donde me tiraste!

NA ARENA

Sou cavalheiro e menestrel, chorosas,
Notas desfiro no arrabil das dores;
Brando a lança de lendas luminosas
E a guitarra imortal dos trovadores.

Buscando justas e buscando amores,
Vêm-me em sonhos todas as formosas,
Com uma harpa de pétalas de flores,
Com uma espada de jasmins e rosas.

Seguirei combatendo destemido,
E quando um dia em chagas escarlates
Entre agonias eu tombar vencido,

Oh! bando loiro em sonhos absorto!
Ponde este gládio tosco dos combates
Na tumba azul do cavalheiro morto.
============

Fernando Torquato Oliveira 
(Rio de Janeiro/GB, 1913 ).

 CERTEZA 

Hás de ser minha, sinto que estás perto,
como alguém que procura, a cada passo
ser a presença que faltou no espaço,
ou ganhar vida em sentimento incerto.

Não procuro caminhos, nem desfaço
a sombra momentânea, e nem desperto
a poesia latente onde, por certo
vibrarás - sensualíssimo compasso.

Porque despontarás a qualquer hora
vinda do azul cruzado pelos mastros
onde a espuma dos sonhos se demora,

ou virás silenciosa, sob os astros,
um momento talvez antes da aurora
quando o amor busca o amor quase de rastros.

MARINHA

Daquele dia breve, inesperado,
recordo a areia, o finar, a vastidão,
gravados com requintes de artesão
no reverso do mundo iluminado.

Recordo o pormenor de uma canção,
gente no dorso liquido, boleado,
o teu nudismo quase consumado,
o zumbido difuso da extensão...

Vagas avultam, prontas ao massacre,
e vagas de cristal... tocando, algumas,
teus pés de unhas polidas, cor de lacre.

Recordo o fundo azul, teu corpo, brumas,
o cheiro, mais sabor, mesclado de acre,
do "champanhe" espoucante das espumas.

MUNDO

Estás ausente. Pela porta aberta
vê-se, lá fora, a trilha luminosa
dos teus pés delicados, que se foram
em busca cie utensílios ou de plantas

Na mesa tosca, longe do papel
um lápis guarda versos na grafita;
há novelos de lã pelo silêncio
com que teces amor para agasalhos.

Delineiam-se frutas saborosas,
descansam porcelanas na penumbra
onde adejam lembranças dos teus gestos.

Nas folhagens cativas, mas felizes,
paira um rumor de pétalas cumprindo
a receita singela de uma flor.

SOLIDÃO

Gosto da solidão, mas por egoísmo.
Piso as estradas ermas, onde a vida
é sincera, nostálgica, esquecida,
entregue ao seu tranqüilo fatalismo.

Posso pensar em ti longe da lida
e do fragor amorfo do realismo.
Minha paixão procura a cor do abismo,
colho temas na estrada impercorrida.

Não há ninguém no azul desses momentos.
Águas mansas, talvez... E a reticência
das coisas vagas, sem delineamentos.

Envolve-me a poesia. Na inclemência
das distâncias, dos rumos, e dos ventos,
paira, como um perfume, a tua ausência. . .

VORAGEM

Recordei-me de ti naquele instante.
No silêncio, entre os riscos dos bambus,
havia um plano de águas, onde a luz
batia quase oblíqua, cintilante.

junto da relva, em movimentos nus,
singela flor da margem, vacilante,
refletia-se inteira, sem cambiante,
sobre os tons a pincel, argênteos... crus.

A lâmina, entretanto, foi quebrada
por algo que não vi, e a flor singela
fugiu na agitação da água nublada.

Sumiste certo dia, muito bela,
entre as ondas concêntricas,
levada por uma tempestade igual aquela.

Fonte:
– J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Pepetela (O Planalto e a Estepe – resumo da obra)


O livro começa com o narrador, Júlio, descrevendo onde nasceu (Huíla, sul de Angola), sua família e os tempos da escola. Quando menino, brincava com as outras crianças das redondezas, sendo amigo também dos filhos dos servos, que eram negros. Sua irmã, Olga, que declarava não gostar de negros (provavelmente no início por ter ouvido os adultos falando isso), alertou Júlio para não andar com os negros, mas para ele todos eram iguais. Mais tarde, porém, ele vai descobrir que há o racismo.

O pai de Júlio, que não teve como estudar, fazia de tudo para que o filho conseguisse frequentar a escola e se tornar doutor – qualquer tipo de doutor, contanto que seja um. Não poupava esforços para comprar livros e roupas novas para ele frequentar a escola, mas Júlio deveria ter boas notas, o que ele sempre teve. Quando se formou na escola com ótimo rendimento, Júlio conseguiu uma bolsa de estudos e foi estudar para Coimbra, Portugal. 

Em Coimbra, ingressou no curso de Medicina, mas logo percebeu que aquilo não era o que ele queria fazer. Logo Júlio se aproximou dos outros estudantes africanos que pensavam do mesmo modo que ele e foram morar juntos. Após perder a bolsa de estudos por mal rendimento no curso, resolve partir para o Marrocos junto com mais uns amigos para participar da revolução. Lá chegando, o grupo foi dividido: enquanto os mais escuros iam lutar, os mais claros iriam estudar na Europa. Júlio se sente desiludido e humilhado. É mandado, então, para estudar em Moscovo (Moscou, na Rússia) e lá resolve cursar Economia.

Em Moscovo, o grupo dos angolanos era guiado, e também vigiado, por uma mulher chamada Olga. Ela era quase como uma mãe para eles e se entusiasmava com os avanços de Júlio na língua russa. Por ser branco e de olhos azuis, muitos europeus não se aproximavam muito de Júlio e tinham dúvidas quantos às verdadeiras intenções dele. Mais uma vez, logo tornou-se amigo de outros africanos: o congolês Jean-Michel, o senegalês Moussa e o tanzaniano Salim. Os quatro logo fizeram sua primeira revolução no local: insatisfeitos com seus companheiros de quarto, conseguiram convencer o diretor a mudarem de quarto para os quatro ficarem juntos. Como Moussa e Salim eram muçulmanos e rezavam várias vezes ao dia, ficou acertado que eles ficariam em um quarto e Jean-Michel e Júlio em outro.

Após serem aprovados na língua russa, puderam ingressar na universidade: Jean-Michel e Júlio em Economia, Salim em Agronomia e Moussa em Engenharia. Embora estudando em locais diferentes, os quatro continuaram a se encontrar com frequência. Já Júlio e Jean-Michel continuaram a morar juntos e tornaram-se ainda mais amigos.

Os dois tinham as mesmas aulas e discutiam bastante sobre as coisas aprendidas na universidade. Enquanto Jean-Michel parecia aceitar passivamente tudo o que lhe era ensinado, Júlio tinha diversas dúvidas se tudo aquilo era ou não verdade ou válido. Porém, um dia conversando em um parque da cidade, Jean-Michel confessa também ter diversas divergências e críticas sobre o que é ensinado a eles, mas diz fingir que aceita tudo passivamente porque estão sendo vigiados o tempo todo. Além disso, alerta Júlio a tomar mais cuidado com o que fala. Nesse ponto, o narrador conta o que acontece com Jean-Michel no futuro: após terminar o curso, ele retorna a Brassaville e logo arranja emprego no gabinete de um ministro, subindo de cargo rapidamente até se tornar o chefe máximo da Juventude do Partido. 

Porém, ele havia perdido suas convicções no socialismo, pois todos só pensavam em mulheres e carros, “já que enriquecer é difícil em terra tão pobre”. Por fim, ele se mete em uma tentativa de revolução e é morto.

Quando Júlio estava no segundo ano do curso, uma aluna mongol chamada Sarangerel transfere-se para sua sala. Os dois tornam-se amigos e logo acabam começando um relacionamento amoroso. Um dia ela revela ser filha de um ministro da Mongólia, um dos homens mais importantes de seu país, e por isso pede segredo sobre o relacionamento dos dois. No fim desse ano Sarangerel vai passar as férias em sua terra natal e, ao voltar, os dois percebem que não conseguem ficar longe um do outro.

Jean-Michel já dá sinais de saber que Júlio tem uma namorada, mas não pergunta nada ao amigo e mantêm discrição. Porém, a companheira de quarto de Sarangerel, Erdene, insiste cada vez mais para saber o porquê dos atrasos da amiga e o que mais está acontecendo. 

Um dia, Sarangerel diz estar grávida e Júlio, sem medir as consequências, fica muito feliz. Os dois não queriam que ela abortasse, e Júlio diz que iriam se casar. Porém, Sarangerel diz que a escolha era dela também e que não era para ser nada imposto por ele assim. Ela conta tudo o que estava acontecendo para Erdene, que fica enlouquecida e revela ser uma guarda-costas de Sarangerel. Erdene conta ainda que o pai dela já está informado que ela tem um namorado não mongol e que ela só voltou das férias porque sua mãe queria que a filha se formasse. Erdene temia ser punida caso o pai de Sarangerel descobrisse que sua filha está grávida, e por isso pressiona a moça por uma solução.

Porém, Júlio e Sarangerel não querem o aborto e empreendem uma luta para se casarem. Ele mobiliza os alunos africanos e diversos outros amigos, que viam a criança como símbolo da união dos povos, um exemplo para o futuro. Pedem ajuda para Olga, mas essa nega, pois não quer fazer nada que possa causar uma crise entre dois governos aliados. Nesse ponto, o pai de Sorangerel já deve estar sabendo de tudo, pois Erdene foi até a embaixada e deve ter contado tudo antes que a KGB o fizesse. Júlio e seu grupo vão até a embaixada da Mongólia tentar achar uma solução, mas nem conseguem entrar. Ninguém queria ajuda-los e arriscar seus empregos ou mesmo causar uma crise internacional por conta disso.

A mãe de Sarangerel vai até Moscovo para tentar convencer a filha a abortar ir para Leningrado terminar seus estudos, mas não obtém sucesso em seu intento. No dia em que ela volta para a Mongólia, Júlio e Sarangerel passam a noite juntos na casa da moça. No outro dia, ela some e Júlio fica sabendo por Nara, uma amiga dela, que Sarangerel havia sido levada à força para a Mongólia. A partir daí, ele tenta de todas as forças entrar em contato com ela, mas não consegue. Depois de um tempo, Nara vai passar as férias na Mongólia e conta que Sarangerel deu luz a uma menina.

Júlio e seus amigos se formam e cada um tem um destino diferente. Júlio é mandando para ajudar na revolução na Argélia. Lá, chega a envolver-se com uma moça, mas a relação não dura muito. Ele aos poucos vai subindo de cargo devido a sua competência e dedicação ao trabalho, chegando a comandar um grupo de homens. Em certo momento, Júlio consegue um passaporte argelino para ir até a Mongólia, mas chegando lá ele é recebido por oficiais que o escoltam até o local onde hospedaria. Crente de que iria conseguir uma reunião com o pai de Sarangerel, ele espera. No dia seguinte, é levado para ver sua filha, mas os oficiais mantém Júlio preso dentro do carro e ele só consegue ver as costas da menina. De lá, é mandado direto para o aeroporto para pegar um avião para a Argélia.

Chega a independência, mas os países caem em guerra civil, uma vez que os colonizadores não queriam abrir mão do poder. Cerca de dez anos após a independência de Angola, Júlio é chamado para Lubango e reencontra sua terra-natal e família. Sua irmã Olga, antes racista, agora era nacionalista e defendia a igualdade entre todos. Júlio, que havia lutado na revolução, tornou-se seu herói e exemplo para os demais.

Em Luanda, Júlio logo tornou-se general e usou de sua posição privilegiada para tentar contato com a Mongólia. Todos prometiam ajuda, mas de nada adiantava. Júlio continuava a trabalhar como economista em Angola e tentava elaborar projetos efetivos de paz e progresso para o país. Sem nunca desistir de Sarangerel, o tempo foi passando. Após se reformar das forças militares, continuou trabalhando em uma empresa criada por um amigo seu. Assim, apesar de não ter ficado rico, tinha suas mordomias.

Um dia, sua amiga Esmeralda, que o havia ajudado em Moscovo para que ele e Sarangerel ficassem juntos, vai à Cuba e volta dizendo que encontrou Sarangerel lá. Que ela havia se casado e que sua filha, chamada Altan (significa ouro), estava casada e tinha filhos. Júlio fica atônito e resolve ir até Cuba. Consegue entrar para uma comitiva militar que iria à Cuba no mês seguinte.

Chegando em Havana, consegue tempo para visitar Sarangerel e os dois conversam pela primeira vez em 35 anos. Ela conta que teve dois filhos com seu marido e que esse queria conhecer Júlio. É marcado, então, um almoço para o outro dia. Nesse encontro, tudo ocorre amigavelmente e todos apenas conversam sobre política. De volta ao hotel, Júlio é surpreendido por um telefonema de Sarangerel, dizendo para ele arrumar um visto para ela que ela irá para a Angola viver com ele.

De volta a seu país, Júlio prepara sua casa para receber Sarangerel enquanto o visto fica pronto. Durante esse tempo, ela convence o marido a conceder o divórcio amigavelmente e também conta a seus filhos sua decisão. Algum tempo depois de chegar em Angola, Sarangerel diz que Altan quer conhecer Júlio e eles planejam uma viagem para Itália e toda a família se encontra lá. Altan fica feliz pelos dois pais que tem.

O casal volta para Angola e a vida passam a curtir os dias juntos, uma vez que Júlio decide sair do emprego. Algum tempo depois, Altan e seus irmãos vão conhecer a Angola e ficam encantados com as paisagens do lugar, mas também não deixam de mostrar espanto com a miséria da população.

Certo dia, Júlio resolve ir ao médico para descobrir o motivo de suas fortes dores nas costas. Após os exames, o médico o informa de que ele tem um câncer avançado e não dá muitas esperanças de cura. Júlio mantém isso em segredo de todos e Sarangerel só descobre tudo quando ele é levado ao hospital após uma crise. Altan novamente vai a Angola para despedir-se de seu pai. Júlio morre feliz após passar quatro anos ao lado de sua amada. Portanto, descobre-se ao final do livro que trata-se de um relato póstumo do narrador.

Lista de personagens

Júlio: angolano. decide tudo por instinto, sendo muitas vezes irracional e teimoso. 
Sarangerel: é uma mongol socialista que se transfere para a escola de Júlio no 2o ano. É filha do Ministro da Defesa da Mongólia, um dos homens mais importantes de seu país, mas é simples, modesta e meiga.
Jean-Michel: natural da República do Congo, tem grandes ideais fraternos. Para ele, as ideias socialistas não existem. É morto por ser herético.
Erdene: guarda-costas de Sarangerel, informa todos os passos da moça. Tenta encobrir o romance dela, mas fica com medo de ser punida.
Moussa: senegalês muçulmano, é um aristocrata.
Salim: natural da Tanzânia, é mulçumano. 
Olga: irmã de Júlio, inicialmente é racista, mas depois torna-se uma grande líder nacionalista e luta contra o racismo. Espécie de guia e vigia dos estudantes angolanos em Moscovo.

Sobre Pepetela

Artur Carlos Murício Pestana dos Santos, conhecido por Pepetela, nasceu em 29 de outubro de 1941 na cidade de Benguela, Angola. Seus pais eram angolanos de nascimento, mas descendentes de uma família colonial portuguesa. Começa seus estudos em sua terra natal, mas em 1956 muda-se para Lubango e termina seus estudos lá. Posteriormente, vai para Lisboa cursar o Instituto Superior Técnico. Em 1960 ingressa no curso de engenharia, mas muda logo em seguida para Letras, que também abandona para ingressar no Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) em 1963.

Durante sua época de militante político, Pepetela fugiu para Paris e depois se estabeleceu em Argel, capital da Argélia. Lá trabalhou no Centro de Estudos Angolanos com Henrique Abranches fazendo uma documentação da sociedade e cultura angolanas, além de divulgar as atividades da MPLA pelo mundo. Nesse tempo ele escreve seu primeiro romance, "Muana Puó", obra que só decide publicar em 1978. Depois da mudança do Centro de Estudos Angolanos para a República do Congo em 1969, Pepetela ingressa na luta armada contra os portugueses, experiência que lhe serviu como inspiração para a obra "Mayombe" (1980), que também só foi publicado após a independência de Portugal.

Com a independência de Angola conquistada em 1975, Pepetela retorna para seu país de origem e torna-se Vice-Ministro da Educação no governo do Presidente Agostinho Neto. O escritor fica no cargo até 1982, quando abandona a carreira política para se dedicar à literatura. Durante essa época, ele encontra apoio do presidente para lançar seus livros.

Em 1984, Pepetela lança um de seus romances mais prestigiados, "Yaka", romance histórico que trata da vida dos membros de uma família de colonizadores portugueses que vão para Benguela no século XIX. Durante as décadas de 1980 e 1990, continua a publicar diversas outras obras onde Angola é o centro de suas atenções. Em 1997, recebe o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário de língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra.

Durante os anos 2000 o escritor continua com uma intensa carreira literária, publicando livros que tratam da influência norte-americana em Angola, terrorismo e outros temais atuais. 

Suas principais obras são: "Muana puó" (1978), "As aventuras de Ngunga" (1979), "Mayombe" (1980), "Yaka" (1985), "A geração da utopia" (1992), "Parábola do cágado velho" (1996), "A gloriosa família" (1997), "Jaime Bunda, Agente Secreto" (2001) e "Jaime Bunda e a Morte do Americano" (2003)

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