O POETA
Sonha com poemas
e acorda na noite,
escrevendo com os dedos
versos no ar.
Adora
navegar sobre ondas de folhas em branco,
velejar nos cadernos novos,
pular sobre areias de palavras,
correr na praia procurando o Verbo.
Livros, cadernos, papéis e mais papéis...
Continua a lutar com ondas indomáveis,
organiza os termos,
mas só ancora no oceano dos sentimentos.
Nesse instante,
o poeta compreende o poder do caos primordial.
TULIPAS
Lateja a vida nos meteoros das cores e das formas.
A artista pinta tulipas
no universo da tela,
e as flores alegram as retinas.
A MAGIA DO POETA
Serpenteiam os versos
de Quintana...
Caravanas de Poemas batem à porta do poeta,
tangem liras,
cata-ventos...
lâmpadas dilaceram a escuridão
dos pensamentos.
Espelho mágico
reflete
o aprendiz de feiticeiro.
Versos... infinitos versos
acenam,
entoam canções.
O poeta dança, dança...
Sombras começam a rir
na escuridão.
Os versos flutuam ao luar
e desenham
diadema de diamantes
na testa do poeta.
Poeta?
Epigramático?
Dono de infinitos roteiros
e mármore e obsidiana...
Serpenteiam os versos de Quintana!..
REFLEXÃO
Fácil é a crítica,
difícil a auto-crítica.
Fácil é reclamar,
difícil assumir o nosso destino.
POEMAS CORCUNDAS
Estes, meus poemas corcundas, são apenas
lembranças nebulosas,
alfinetes no oceano de tristezas.
Transitam famintos de letras e de verbos
e ao esculpi-los nas águas
só permanece erguida a ideia-semente ,
rocha de granito
arranhada pelas garras dos leões
e pelas unhas dos suicidas,
chicoteada
na busca sem descanso das palavras.
META
A poesia é a meta do poeta.
- metida a poeta -
ser poeta é minha meta.
A poesia é a meta de minha meta.
O VÉU
Na viagem da vida
os poema, as flores
e os sonhos arrasadores
são artifícios da alma para retirar o véu
revelar o seu lado oculto
e surpreender o nosso eu
esse eu
sempre obnubilado
com infantilidades.
O POÇO
a Poesia é poço sem fundo
(profunda loucura)
às vezes é euforia
e outras vezes é triste agonia
Poesia é trovão
que ensurdece as ruas
ou é vento galáctico
arrasando
o lado escuro da Lua.
OBSCURO RETRATO DE CLARICE
Duas Luas (torrentes impetuosas,
espelhos de paixão)
soterradas nas órbitas dos olhos
e nos lábios
agulhas de palavras (palavras fascinam
os ouvidos e o fluxo do pensamento crava
estacas na areia).
Planta rosas (carmesins e indestrutíveis rosas
que resistem a foice de Cronos).
Enfeitiçados contornos transfiguram a realidade
entre ondas e monólitos de pedra,
A Paixão segundo G.H.
quebra intrincados muros de angustias,
abrem-se perfumadas pétalas artísticas
e no orbe da solidão
é cinzelada a paixão de Clarice.
ISOLADO
o poema faz uma marca na ampulheta
(tenta acelerar o tempo)
o poema ama as flores do jardim
mas odeia ficar isolado no caderno
e fazer parte do conjunto de trastes velhos
esquecidos no porão
LABIRINTO DE PAPEL
sombras sobre o palco
o mundo de papel é destruído
pelas traças
e a realidade quebra a ilusão do mundo
o poeta observa o mundo do avesso
descobre paragens de espanto
avança
desvela o mistério
da criação poética
e dança
no labirinto da subjetividade
nos muros do labirinto
sobrevivem fragmentos do passado
imagens e palavras
e as dúvidas ocultas nas retinas
que em surdina
perguntam sobre amores quase olvidados.
AS NEREIDAS E OS CORVOS
a dama (da ma)drugada
chama um poeta
para poetizar as nuvens
e as ondas do mar
e às belas Nereidas
e cantar às profundezas
o poeta solicita um copo
de elixir sagrado
elixir criado na Constelação do Corvo
o mar respira e as Nereidas cantam
mas as gaivotas (des)mentem
as palavras veementes
dos duendes
(do outro mundo)
gaivotas e corvos
são amigos no mundo astral
mas somente as Nereidas
guardam as palavras de um mágico funeral
enquanto as Nereidas cantam
os corvos crocitam
aos ouvidos humanos poemas puros e sagrados
que serão cinzelados no momento final.
CHUVA POÉTICA
Dedicado à Cassandra Joerque
os corvos crocitam
nos campos de trigo
sob a Chuva Poética
nesses campos florescem
diversos poemas
que alimentam as almas
com belos perfumes
de rosas, jasmins e alfazemas
porque a Poesia é água
que abençoa a Terra.
Fontes