quinta-feira, 20 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 39 =


Trova Humorística de São Gonçalo/RJ

GILVAN CARNEIRO DA SILVA

O truque falha...vermelho,
o mágico diz que o enguiço
é culpa do seu coelho
que ainda é novo no serviço...
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

Covardia

Se ela bater de novo à minha porta,
arrependida, para o meu amor,
hei de dizer-lhe tudo quanto corta
minha alma, como um gládio vingador!...

O que vier desse gesto, pouco importa!
Não se fez cega e surda à minha Dor?!
Pois bem, nem mesmo se hoje a visse morta,
dar-lhe-ia a reverência de uma flor...

Mas, ai! batem de leve na janela.
Entram na sala... Sua voz... É tarde
para fugir de vê-la! Enfrento-a... É ela!

Hesito... Tremo... E sôfrego... aturdido,
caio nos braços seus como um covarde,
e me ponho a chorar como um perdido! 
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Aldravia de Vitória/ES

MATUSALÉM DIAS DE MOURA

minha
alma
chora
um
sonho
morto
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Soneto do Rio de Janeiro

ATHOS FERNANDES
Itaperuna/RJ, 1920 – 1979, Bom Jesus do Itabapoana/RJ

Pedintes

O pobre pede o pão. O nobre pede o trono.
O santo pede o altar, o crente pede a missa,
e quem das leis sociais sofre amargo abandono
ergue as mãos para o Céu, pedindo por justiça.

Quem ama pede amor. O insone pede o sono.
O mártir pede a cruz, e pede, o herói, a liça.
Pede o inverno o verão. A primavera o outono,
e o sábio pede a luz da verdade castiça!

Quem luta pede a paz. O enfermo pede a cura.
O verme pede a terra e a águia pede a altura
e quem sofre a opressão pede a mão que o redima.

E o Poeta, também, seguindo a mesma norma,
é um mendigo a pedir a pureza da Forma,
a beleza da Ideia e a riqueza da Rima!
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Trova Premiada em Ribeirão Preto/SP, 1998

DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombro os fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos…
e eis-me a sonhar outra vez! 
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Poema de Divinópolis/MG

ADÉLIA PRADO
(Adélia Luzia Prado Freitas)

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
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Quadra Popular

Meu benzinho não é este,
nem aquele que lá vem.
Meu benzinho está de branco,
não mistura com ninguém.
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Soneto de Portugal

FLORBELA ESPANCA
(Florbela de Alma da Conceição Espanca) 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca, 
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo 
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
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Trova de Belém/PA

ANTONIO JURACI SIQUEIRA

Vão-se as agruras da lida
e tudo tem mais valia
sempre que a vida é envolvida
nos braços da poesia!
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Poema de Petrópolis/RJ

CARMEN FELICETTI

Acalanto do mar

Linda rede azul e verde
Azul e verde é o mar
Uma ponta em Cabo Frio
A outra, onde estará?
A sua franja branquinha
De renda do Ceará
Vai se arrastando na areia
Num doce pra lá pra cá.
O vento a embala fraco
O vento a embala forte
Depende se vem do sul
Depende se vem do norte.
O pescador no seu ventre
Todo dia arrisca a sorte
A sua trama é tecida
Com fios de vida e morte.
Á noite a voz da sereia
O marinheiro convida
Para dormir e sonhar,
Deitar no fundo da rede
E enroscar o seu corpo
No corpo de Iemanjá.
E vai e ondula e oscila
E vem balança e tonteia
E sua renda branquinha
Risca um bordado na areia.
Linda rede azul e verde
Azul e verde é o mar
Uma ponta em Cabo Frio
A outra, onde estará?
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Haicai de Goiânia/GO

RENEU DO AMARAL BERNI

Borboleta

No varal do pátio,
Sobre a saia de florzinhas,
Uma borboleta.
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Sextilha de Limoeiro do Norte/RN

ANTONIO NUNES DE FRANÇA

Em Limoeiro do Norte,
a tarde mudou de clima;
assim houve duas chuvas:
uma d’água, outra de rima;
uma de cima pra baixo,
outra de baixo pra cima.
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Chegou a sogra, querida,
e a desgraça aconteceu:
veio o cão... Com a mordida,
deu a raiva... e o cão morreu!
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Glosa do Rio Grande do Sul

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Lareira saudade...

MOTE:
Fiz da saudade que aquece
a solidão dos meus dias,
a mensagem que enternece
minhas horas tão vazias.
Carolina Ramos
Santos/SP

GLOSA:
Fiz da saudade que aquece,
minha doce companheira,
peço, fique, quase em prece,
comigo, na noite inteira!

Eu preciso amenizar
a solidão dos meus dias,
minhas noites, a chorar,
são tristes, sem alegrias.

Quando o meu tempo anoitece
lanço em ecos pelo mundo
a mensagem que enternece
desse meu sofrer profundo!

Saudade, lareira ardente,
vem, aquece as horas frias,
enche de amor, ternamente,
minhas noites tão vazias.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MESSODY RAMIRO BENOLIEL

chuvas
gostosas
lembranças
tuas
minhas
nossas
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Soneto de Euclides da Cunha/BA

INÁCIO DANTAS

Soneto aos poetas

Todo poeta canta para si
a paz e o amor que deseja para o mundo!

Canta, entra no mundo da magia,
põe o tom da paixão n´alma inquieta
move do céu os trovões da alegria
diz o amor com lábios de profeta.

Ergue o teu pensar em linha reta
canta o que tem da vida mais valia,
se alguém não se lembrar do poeta
talvez ainda se lembre da poesia.

Fugir do amor quem o faz se ilude,
revela uma poesia feita a esmo
quem ama e se fecha em si mesmo.

O amor é poesia na sua plenitude!
– Poeta, dessa madeira que tu lavras
constrói o teu castelo de palavras!
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Trova Premiada de São Paulo/SP

ROBERTO TCHEPELENTYKY

O destino escreve a escolha
do amor de nós dois assim:
Páginas da mesma folha…
Tu… de costas para mim!…
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Poema de Portugal

AL BERTO
(Alberto Raposo Pidwell Tavares)
Coimbra, 1948 – 1997, Lisboa

Acordar tarde 

tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte

procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia
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Triverso de Curitiba/PR

ALICE RUIZ

Tempo

Voltando com amigos 
o mesmo caminho 
é mais curto.
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Spina de Campo Mourão/PR

JOSÉ FELDMAN

REPOUSO DA GUERREIRA

Repousa a gatinha
envolta na aura
de pura serenidade.

Em seu semblante, a sensação
de satisfação de outro dia
de lutas contra a adversidade.
Dorme o sono da guerreira,
baú de sonhos da divindade.
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Trova de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Na vida, são tantos "ismos",
no entanto, o que é mais feroz,
é aquele que abre os abismos
do abismo que há entre nós!
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Acróstico de Contenda/PR

HILDEMAR CARDOSO MOREIRA

Antônio Eugênio 
(Acróstico ao graduando Antônio Eugênio Pavloski)

A escalada do progresso é sempre dura,
Não progride nesta vida quem não luta
Todos têm necessidade da cultura:
O saber, valor garante na labuta.
Não é apenas o diploma conquistado,
Isso que consegue o jovem estudante,
O mais importante, é sim, o aprendizado,

E aprender e saber nunca é bastante.
Um degrau tu venceu galhardamente,
Ganhaste uma batalha heroicamente,
E muitas vencerás nos dias teus.
Não descure porém o analfabeto,
Irmane-se ao inculto, dê-lhe afeto:
O amor é a nave que nos leva a Deus.
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Poetrix de São Paulo/SP

BETO QUELHAS

águas do rio

passam com rapidez
como o amor que partiu
e a dor que se fez
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Soneto do Paraná

EMILIANO PERNETA 
(Emiliano David Perneta)
Pinhais/PR, 1866 — 1921, Curitiba/PR

Ao cair da tarde

Agora nada mais. Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...

Nem rosas, nem luar, nem damas... Não me iludo,
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder-lhe a espada e o manto de veludo?

Sim, que nos resta mais? Já não fulge e não arde
O sol! E no coril negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!

Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor. É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Na minha idade avançada,
ser sensato é insensatez...
– Agora ou é tudo ou nada:
sou feliz ou perco a vez!
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)

Tempo de olhar o tempo

Um olho no relógio, outro na vida;
O tempo não convida, ele intima;
Quem não sabe lutar, foge da esgrima;
Quem bate no destino, ele revida.

Embora a tristeza nos oprima,
Quem não conhece a dor, sente a ferida
Na víscera da dor mais dolorida…
O amor é uma dor que não vitima.

Deus nunca olha o homem lá de cima,
Ele aproxima o ser do Criador;
E quando ele se vê no seu senhor, 
Entrega-lhe essa dor que o subestima. 

O amor é uma sublime obra-prima
Que prima pela criatividade;
Ele se move acima da maldade,
Por mais que alguma mágoa o deprima.

Ninguém consegue ver olhando a esmo,
E quando  o nosso olhar nos desanima,
Fazemos nosso amor ter como rima
A dor que o desamor faz de si mesmo.

Um olho no relógio… e na manhã;
Poetas têm a solidão por prima
Mas é na solidão que os anima
Que a emoção se torna… sua irmã.

(Primeiro Lugar no Concurso Literário da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil 2013)

Recordando Velhas Canções (Fui no Itotoró)


Cantiga Popular

Fui no Itororó beber água
Não achei
Achei linda Morena que no Itororó deixei

Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada

Oh, Mariazinha
Oh, Mariazinha
Entra nesta roda
Ou ficarás sozinha!

Sozinha eu não fico
Nem hei de ficar!
Por que eu tenho Joãozinho
Para ser o meu par!
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Águas do Itororó: A Dança da Vida e do Amor nas Cantigas Populares
A música "Fui no Itororó" é uma tradicional cantiga popular brasileira, cujas origens se perdem no tempo, mas que continua sendo transmitida de geração em geração. A letra simples e repetitiva é característica das cantigas de roda, que são cantadas em jogos infantis e brincadeiras populares. O Itororó, mencionado na música, pode ser interpretado como um lugar fictício ou como uma referência a algum local específico, mas em um contexto mais amplo, simboliza um destino ou um objetivo que se busca alcançar.

A busca pela água no Itororó e o encontro com a 'linda Morena' podem ser vistos como metáforas para a busca por amor e companheirismo. A água, essencial para a vida, é comparada ao amor, que é vital para a existência humana. A música também destaca a importância da socialização e da participação em comunidade, como visto no convite para Mariazinha entrar na roda e não ficar sozinha, reforçando a ideia de que a vida é melhor compartilhada.

Além disso, a cantiga aborda a noção de aproveitar o momento presente ('que uma noite não é nada'), sugerindo que a vida é efêmera e que devemos desfrutar de nossas relações e alegrias enquanto podemos. A referência ao dormir 'de madrugada' pode ser uma alusão ao ciclo da vida, onde cada fase deve ser vivida em seu tempo. Em suma, "Fui no Itororó" é uma celebração da vida, do amor e da comunidade, elementos essenciais da cultura popular brasileira. (https://www.letras.mus.br/cantigas-populares/983990/

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Carolina Ramos (Trovando) “17”

 

Jaqueline Machado (Tirei o dia para descansar)

Tirei o dia para descansar. Mas não consegui. Ao tentar relaxar senti a alma, o coração e o corpo, doloridos e pesados. 

Tentei não focar nas dores. Nem dar ouvidos aos ruídos do passado, mas perturbações não me deixavam quieta. E descansar parecia impossível. 

Ainda assim, resiliente, me mantive positiva. E pensei: “amanhã as dores cessam, os ruídos se calam. E meu corpo entenderá que merece desfrutar um pouco de alivio e descanso". 

Só que no dia seguinte acordei ainda mais exausta. E não entendi o porquê, já que meu pensamento estava sintonizado em coisas positivas, como fé e amor. 

Tento não dar mais razão às trevas do que às luzes do destino, no entanto essa dualidade, por vezes – muitas vezes toma conta do meu ser. E transforma a leoa que há em mim, numa gatinha. Uma gatinha sensitiva que, depois de absorver as dores do mal que há no mundo, precisa dormir para se recompor. 

Demorei a relaxar, mas consegui. Dormi umas doze horas e acordei refeita. Voltei a ser leoa, a rainha da minha floresta. Botei alguns intrusos pra correr. E fui à caça de minha felicidade.  Mas logo raposas, serpentes e ratazanas deram início a novas emboscadas. Me mantive fria. Intacta, armada de coragem. E dessa vez fui eu quem os enfraqueci. Com um ruido estrondoso ceguei os olhos da inveja, cortei o veneno das más línguas e dei um basta nos vampiros sugadores de energia, que tentam confundir meus pensamentos, me trair em meus sentimentos, pensar que todo mal que está em mim, é fruto de minhas sombras. Tentam. E como tentam me colocar contra mim mesma. A fim de saírem ilesos de toda confusão que semeiam. Ah, mas estou a vigiar. Aprendi a distinguir minhas responsabilidades, das responsabilidades alheias. 

Aprendi a encarar a mulher que sou, de frente. E aceitá-la como ela é: amante da alegria, da escrita e da utopia... E nos braços desses três dons, grandes amores, que em verdade é uma trindade de luz, sempre me refaço. E volto a brilhar! 

Fonte: Texto enviado pela autora 

Vereda da Poesia = 38 =


Trova Humorística de Bandeirantes/PR

JOSÉ REGINALDO PORTUGAL

Estes carecas sofridos,
sem cabelos ... que ironia,
deixam piolhos perdidos
por falta de moradia!
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Soneto de Assaré/CE

PATATIVA DO ASSARÉ
(Antonio Gonçalves da Silva)
Assaré/CE, 1909 – 2002

O Burro

Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.

Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.

Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,

É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

DALADIER CARLOS

metáforas
não
eliminam
liberdades
abrem
alternativas
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Soneto do Rio de Janeiro

NARCISA AMÁLIA DE CAMPOS
São João da Barra/RJ, 1852 – 1924, Rio de Janeiro/RJ

Por que Sou Forte
(a Ezequiel Freire)

Dirás que é falso. Não. É certo. Desço
Ao fundo d’alma toda vez que hesito...
Cada vez que uma lágrima ou que um grito
Trai-me a angústia - ao sentir que desfaleço...

E toda assombro, toda amor, confesso,
O limiar desse país bendito
Cruzo: - aguardam-me as festas do infinito!
O horror da vida, deslumbrada, esqueço!

É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,

E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!...
- E eis-me de novo forte para a luta.
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Trova Premiada  em Cachoeiras de Macacu/RJ, 1999 

ANTONIO COLAVITE FILHO 
Santos/SP

“Cara-de-pau!” E o grã-fino 
não se abala, não se afoba;
e no rosto, enfim, ladino,
passa um óleo de peroba…
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Poema de Maringá/PR

CÔNEGO BENEDITO VIEIRA TELLES
Bueno Brandão/MG, 1928 – 2022, Maringá/PR

Lembranças da Velha Árvore

A árvore traz-me lembrança
dos verdes anos, agora.
Como foi bom ser criança,
com meu sonhos desde a aurora.

Toda a árvore oxigena o ar,
purifica a natureza.
Escuta os cantos do mar, 
e da brisa co´a sutileza.

O vento farfalha a copa,
da árvore, folhas e flores,
e a ave seu ninho envelopa
para abrigar seus amores.

Às vezes, no entardecer,
prateia a lua as ramagens.
Velha árvore a fenecer!...
Com ela, as frescas aragens!

A árvore dos ancestrais,
plantada com seus carinhos.
Terno abrigo de animais,
dos ninhos dos passarinhos!

Ó árvore frondosa, bendita,
que antepassados plantaram.
Árvore alegre, bonita,
de ti, saudades ficaram!
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Quadra Popular

Muito vence quem se vence
muito diz quem diz tudo,
porque ao discreto pertence
a tempo fazer-se mudo.
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Soneto de Portugal

MANUEL BOCAGE
(Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage)
Setúbal, 1765 – 1805, Lisboa

Apenas vi do dia a luz brilhante

Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá em Setúbal no empório celebrado,
Em sanguíneo caráter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.

Aos dois lustros a morte doravante
Me roubou, terna mãe, teu doce agrado;
Segui Marte depois, e em fim meu fado
Dos irmãos e do pai me pôs distante.

Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da pátria, longe da ventura,
Minhas faces com lágrimas inundo.

E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.
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Trova de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Que as estrelas com seu brilho,
   e o sol, com seu loiro raio,
        iluminem cada filho 
 do adorável mês de Maio!
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Poema de Lisboa/Portugal

ANTONIO JOSÉ DA SILVA
Rio de Janeiro/RJ, 1705 – 1739, Lisboa/Portugal

A Mulher e o casamento

Toda mulher que não for
Inclinada ao matrimônio,
Se a não levar o amor:
Trate logo de depor
Seu tirano desdenhar;
Seu rigor, deve escolher
Ou casar, por não morrer,
Ou morrer por não casar.
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Haicai de Promissão/SP
Primeiro Haicai Japonês no Brasil (1908)

HYOKOTSU
(Shuhei Uetsuka)
Kumamoto, 1875 – 1935, Promissão/SP

A nau imigrante
chegando: vê-se lá no alto
a cascata seca
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Sextilha Agalopada de Natal/RN

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Ninguém quer sucumbir em luta inglória,
por mais tosca que seja sua lança,
porque a vida é um tesouro inestimável
que no campo dos sonhos se balança,
e por ela assumimos neste mundo
as melhores promessas de esperança.
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Trova de Ponta Grossa/PR

SONIA MARIA DITZEL MARTELO
1943 – 2016

 A Natureza hoje chora
a cruel devastação
que faz o verde ir embora  
e veste de cinza o chão !
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE:
Saudade... espelho quebrado,
com cacos por todo chão
que ao deixar-me angustiado
faz sangrar meu coração!
José Feldman 
Campo Mourão/PR

GLOSA:
Saudade... espelho quebrado,
não mais reflete, uniforme,
as lembranças do passado
na minha memória, informe! 

Quebrado, sem serventia,
com cacos por todo chão
em cada pedaço eu via
reflexos de uma ilusão!

Hoje, ao chão espatifado,
só reflete uma lembrança
que ao deixar-me angustiado
faz-me chorar, feito criança!

Reflexos da uma saudade
que, espalhada pelo chão,
ao lembrá-la, é bem verdade,
faz sangrar meu coração!
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Aldravia de Belo Horizonte/MG

AUXILIADORA DE CARVALHO E LAGO

fugitivo
solitário
é
meu
coração
sagitário
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Soneto de São Felipe (hoje Eirunepé)/AM

PADRE MANUEL ALBUQUERQUE
(Manuel Rebouças e Albuquerque)
1906 – 1977, Rio de Janeiro/RJ

Prova Infalível

Quando eu soltar meu último suspiro;
quando o meu corpo se tornar gelado,
e o meu olhar se apresentar vidrado,
e quiserdes saber se inda respiro,

eis o melhor processo que eu sugiro:
—  Não coloqueis o espelho decantado
cm frente ao meu nariz, mesmo encostado,
porque não falha a prova que eu prefiro:

— Fazei assim: — Por cima do meu peito.
do lado esquerdo, colocai a mão.
e procedei, seguros, deste jeito:

—  Gritai “MARIA!” ao pé do meu ouvido,
e se não palpitar meu coração,
então é certo que eu terei morrido!
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Trova Humorística de Belo Horizonte/MG

DODORA GALINARI

Na venda, a moça esculacha
pelo engano que se deu:
pediu a maior bolacha,
e o vendedor lhe bateu!
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Poema do Recife/PE

JORGE FILÓ

Idas e Idas

Nunca é tarde a partida
E sempre cedo é a ida
Pra quem um fio de vida
Servia de inspiração
Cada gole um novo tema
Em cada trago um poema
Tudo dentro do esquema
Sem dar-se trela à razão.

Vai-se cedo mais um forte
Sem precisar de transporte
Nessa bússola sem norte
Sem que se saiba o destino
Na visão do indeciso
Viaja sem dar aviso
Pois num instante impreciso
Bate o derradeiro sino.
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Triverso de Curitiba/PR

ÁLVARO POSSELT

Meu violão me intriga
Morre de tanto rir
quando lhe coço a barriga
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Spina de Capanema/PR

CLEUSA PIOVESAN

Saldo Final 

Velhice sem idade,
Idade sem traumas,
Medo? Só sobreviver.

Saldo de noites mal dormidas,
Bem vividas em poesia insone,
Instigam minha ânsia de viver.
Tive amores, paz, medo, dores...
Tenho benção de não esquecer!
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Ouço ainda, ao longe, o canto
de um velho carro de boi...
Lembrança de um tempo e tanto,
que há tanto tempo se foi!
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Acróstico* de Jacarepaguá/RJ

ANTONIO CABRAL FILHO

Acróstico Rimado

Agora eu preciso ver
Como a jiripoca chia,
Riscar e não escrever
O que a caneta exigia;
Sair por aí sozinho
Tonto como a vaca louca,
Irritando meu vizinho
Com mais outro bate-boca,
Ou então cair de quina
Rumo à terra do Drummond
Inventando um mal na esquina
Mais que a dona Trianon,
Ainda que a mesma seja
Dependente de cerveja
Ou eu cumpra minha sina.
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Poetrix de Santa Maria de Itabira/MG

ANÍSIO LAGE

epitáfio

sou na vida um opróbio
escrevam em minha lápide:
finalmente sóbrio!
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Soneto de Coimbra/Portugal

LUIS VAZ DE CAMÕES
Coimbra, 1524 – 1580, Lisboa

Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se d'uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio
Que d'uns e d'outros olhos derivadas
S'acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas.
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Trova Premiada em Natal/RN, 2010 

PROFESSOR GARCIA 
Caicó/RN

Cadeira velha, esquecida, 
sem dono e sem mais ninguém… 
Só a saudade atrevida 
reclama a ausência de alguém.
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Poema de Belo Horizonte/MG

CLEVANE PESSOA
(Clevane Pessoa de Araújo Lopes)

Lunar

Nasci sob teus signo e signais.
Se estou em solidão, recolho-me minguante,
à míngua de carinhos entressonhados
ou já vividos...
Se a esperança acena sua mãozinha de jade
alegro-me,  permito-me imaginar, crescente...
Quando empobreço de cansaço, perdas e ausências,
visto-me de dourado, alma nua,
em campo aberto, deixo que tua luz me envolva,
vestido longo e fascinante,
seda pura...
E então, volto a bailar...
Quando engravido,
meu corpo é semiplenilúneo,
ventre túmido, imenso.
E nasce um novo ser...
Minha mente abre a porta do imaginário 
e criativa, dá à luz
tudo que nela foi gestado...
Lua, lua, sou lunar,
minha bela fada madrinha ,
inspiração perene,
rainha...
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* Acróstico  é um gênero de composição geralmente poética, que consiste em formar uma palavra vertical com as letras iniciais ou finais de cada verso gerando um nome próprio ou uma sequência significativa.

Os acrósticos já existiam na antiguidade com escritores gregos e latinos e na Idade Média com os monges. Foi um gênero muito utilizado no período barroco, durante os séculos XVI e XVII, e ainda hoje é muito utilizado por pessoas de várias faixas etárias, classes sociais e culturas diferentes.

A palavra ACRÓSTICO originou-se da palavra grega Ákros (extremo) e stikhon (linha ou verso), onde o prefixo indica extremidade, apontando a principal característica desse tipo de composição poética: as letras de uma das extremidades de cada verso vão formando uma palavra vertical. Mas as letras podem também aparecer no meio do verso.

Segundo a Enciclopédia Britânica, o acróstico é utilizado desde a antiguidade, inclusive nos livros bíblicos dos Provérbios e dos Salmos.

Em português o acróstico apareceu no Cancioneiro geral (século XVI) e chegou a ser feito por Camões, no soneto CCIX, cujo primeiro verso é “Vencido está de amor meu pensamento".

Há muitas variantes: o acróstico alfabético, em que se vai enfileirando o alfabeto verticalmente; o mesóstico, em que as letras da palavra-chave aparecem no meio da composição, no final de cada primeiro hemistíquio ou início do segundo; e outras modalidades ainda mais complicadas.

Fizeram-se acrósticos em prosa, com as letras do começo de cada parágrafo, e se chegou a verdadeira mania de acrósticos nos tempos do barroco.

Os acrósticos podem ser simples, com frases, nomes ou palavras que não tenha ligação entre si, ou ainda poemas completos. Podem ser encarados como atividade lúdica, tornando-se um jogo muito interessante. Assim, uma das funções pode ser ressaltar as qualidades ou defeitos de alguém.

Pode-se dar evidência às letras em cada verso para evidenciar a quem são dedicados, ou ainda deixá-las sem evidência alguma, para torná-las secretas. Depende da intenção com que se fez o acróstico. Os acrósticos são ainda encontrados na Bíblia, principalmente nos Salmos, e em alguns poemas com o objetivo de revelar sua autoria.

Podemos dizer que o acróstico parece englobar três funções: 1) uma procura de virtuosidade própria dos poetas palacianos; 2) um caráter lúdico que designa todo um jogo de espírito sutil; 3) um certo gosto pelo secreto.

O duplo acróstico é uma composição difícil, na qual a leitura de duas séries de letras separadas forma uma frase significativa. Mas se relermos o repertório das curiosidades poéticas deparamos com o pentacróstico que repete cinco vezes a mesma palavra, em cinco partes verticais dos versos (v. Tratatus de Executoribus de Silvestre de Morais, Tome II, Lisboa, 1730, p. 11).

O acróstico dissimula a palavra, que ele dá, escondendo-a; e requer do leitor uma certa esperteza para descobrir a sua sutileza. Relaciona-se com a adivinha e liga-se logicamente com ela pois existem enigmas em verso cujo nome figura em acróstico. Um autor pode assinar com um tipo de assinatura  cifrada o seu próprio nome em acróstico.
(Fonte: Ana Paula de Araújo, in http://www.infoescola.com/literatura/acrostico

Recordando Velhas Canções (Cirandeiro)


Compositor: Edú Lobo

Ô cirandeiro, cirandeiro ó
A pedra do teu anel brilha mais do que o Sol
Ô cidandeiro, cirandeiro ó
A pedra do teu anel brilha mais do que o Sol
Ô cirandeiro, cirandeiro ó
A pedra do teu anel brilha mais do que o Sol
Ô cirandeiro, cirandeiro ó
A pedra do feu anel brilha mais do que o Sol

Mandei fazer uma casa de farinha
Bem maneirinha que o vento possa levar
Oi passa o Sol oi passa a chuva, oi passa o vento
Só não passa o movimento do cirandeiro a rodar
Mandei fazer uma casa de farinha
Bem maneirinha que o vento possa levar
Oi passa o Sol oi passa a chuva, oi passa o vento
Só não passa o movimento do cirandeiro a rodar

Achei bom e bonito, meu amor brincar
Ciranda maneira
Vem cá Cirandeira, vem cá balançar
Achei bom e bonito, meu amor brincar
Ciranda faceira
Vem cá Cirandeira, vem me namorar

Ô cirandeiro, cirandeiro ó
A pedra do teu anel brilha mais do que o Sol
Ô cidandeiro, cirandeiro ó
A pedra do teu anel brilha mais do que o Sol
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A Dança da Vida na Ciranda Popular
A música "Cirandeiro", interpretada por diversos artistas e grupos que resgatam as cantigas populares brasileiras, é uma expressão da cultura folclórica do Brasil, especialmente do Nordeste. A letra da canção evoca a imagem do cirandeiro, figura central na dança da ciranda, uma roda de dança tradicional onde os participantes se dão as mãos e giram ao som de músicas ritmadas e poéticas.

A referência ao "anel que brilha mais do que o Sol" pode ser interpretada como uma metáfora para a riqueza cultural e o valor imaterial que a tradição da ciranda representa, superando até mesmo a grandiosidade do astro rei. A casa de farinha mencionada na letra é uma alusão à simplicidade e à funcionalidade da vida rural no Nordeste, onde a farinha de mandioca é um alimento básico e a casa de farinha é o local onde ela é produzida. A ideia de que ela possa ser levada pelo vento sugere a leveza e a transitoriedade das coisas, mas contrasta com a permanência do movimento do cirandeiro, que continua a rodar, simbolizando a continuidade das tradições culturais.

A ciranda é apresentada como algo que encanta e convida à participação ('Vem cá Cirandeira, vem cá cirandar'), reforçando a ideia de comunidade e celebração coletiva. A música celebra a alegria e a beleza encontradas na simplicidade da vida e na preservação das tradições culturais, convidando todos a se juntarem na dança.

Lançamento de livro da Jaqueline Machado, em Portugal


Lançamento da coletânea À flor da Pele, Contos & Crônicas & Poemas em Lisboa - Portugal.

 
No dia 13 deste mês de junho, teve a live de lançamento da Coletânea Contos & Crônicas & Poemas, volume 6, com autores brasileiros, na "94ª Feira do Livro de Lisboa (Portugal) - Pavilhão Rede Sem Fronteiras H-40”. Projeto do qual também faço parte.



Quando jovem, eu sonhava escrever coisas bonitas, mas não tinha domínio sobre a escrita, já que por ser cadeirante e por outras razões particulares não pude estudar. E não sabia como realizar meu sonho.

Fui alfabetizada aos 11 anos, por uma tia chamada Almerinda, que não se encontra mais no plano físico.

Depois de uma breve alfabetização, tivemos que morar longe uma da outra. E dali em diante tive que me virar sozinha nessa constante busca pelo saber.

Apesar da dificuldade que foi estudar sozinha, meu amor pelas letras crescia cada vez mais ao longo do tempo. E depois que descobri os livros, especialmente os clássicos, como “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, “Grande Sertão Veredas”, de João Guimarães Rosa, “O sonho de um homem ridículo” de Fiódor Dostoiévski, entre outros, percebi que a literatura é uma paixão indissociável ao meu ser...

Sou a prova viva de que não se pode desistir dos sonhos. E que estamos no mundo para sermos felizes percorrendo o caminho que escolhemos.

Estou me sentindo feliz e honradíssima em ver minha escrita ganhar asas e chegar a
Além -Mar.

Gratidão, VIDA, por mais esta realização.
Viva a literatura!
 
- Minha gratidão também vai para a professora Cleusa Mazuim que me ajudou com a minha primeira publicação e para as poetas Zaira Cantarelli, Soninha Porto (coordenadora do projeto) e Lúcia Barcelos, escritora, poeta, trovadora e revisora dos meus livros: elas me ajudam alçar lindos voos com minha escrita.

Fonte: Texto enviado pela autora  

terça-feira, 18 de junho de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 49: O baú do poeta

 

Arthur Thomaz (Perfume da saudade)


A brisa, resvalando nas brancas flores das azaleias, sussurrou teu nome. Tentando evitar a dor, fingi não ouvir, mas algo mais forte levou-me até o jardim. 

Nessa hora, o perfume da saudade impregnou meu coração, posto que é composto de essências de tormentosas paixões. 

Este inebriante aroma fixou-se indelevelmente em meu fragilizado espírito. Imediatamente, minhas amargas lembranças vieram à tona. O esforço para não chorar e não gritar esvaiu minhas forças, e neste instante, cada pedaço de minha alma transformou-se em um poço de dor.

Desesperado, gritei teu nome e nem o eco respondeu. Tentei afastar a imagem de nossos corpos abraçados, mas cada vez mais sentia que os teus braços me apertavam.

Despertei algum tempo depois, abraçado à uma touceira da alva azaleia, solitário e infeliz, rescendendo ao cruel perfume da saudade.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor