domingo, 9 de fevereiro de 2025

Aparecido Raimundo de Souza (O sapo ciclista e a bicicleta de pneu furado)

ZÉLIO DO PAPO COAXANTE era um autêntico sapo que embora não fosse cachorro, tinha pedigree por conta de sua consanguinidade familiar, ou seja, nascera em berço e lago cobertos de ouro. Pertencia a linhagem dos Bufos Marinus. Para início de conversa, a criatura não coaxava simplesmente. Ao fazê-lo, a sua voz não saia sensaborona (desengraçada). Pelo contrário, a sua dicção se propagava graciosa e aconchegante aos ouvidos de todos os demais moradores da deliciosa lagoa de Santa Bárbara do Barranco Morro Acima. Zélio do Papo Coaxante tinha um prestígio danado entre os demais de seu meio. Crescera e se tornara um anfíbio que trazia (não só trazia) orgulho a seus pais. Nascera, e logo que abrira os olhos, se perfilou o orgulho de dona Zica Namoradeira —, a mãe que adorava pedalar pela floresta. 

Zélio do Papo Coaxante puxara os dotes da rainha de seus dias e, ainda metido nas fraldas, saia a correr tresloucadamente desembestado, como se fugisse de um ramerrão (ladainha) montado numa bicicletinha de cor vermelha que ganhara de seu avô. Tal brinquedo, ele apelidara carinhosamente de “Fogueteira”. Todos os dias, explorava novos trilhos e veredas, sentindo o vento fresco e ouvindo o canto dos pássaros. Dessa forma, ele cresceu livre, leve e solto, enquanto os anos voavam ao redor da lagoa. Sua bicicleta de rodinhas, de repente, passou para uma Bike Kruiser S Plus de cor preta. Com marcha, motor e tudo o que tinha direito. De bicicleta nova, manteve o mesmo nome de batismo. Certo dia, enquanto pedalava alegremente, Zélio ouviu um som estranho vindo de sua bicicleta. “Pssssss…” O pneu dianteiro havia furado. 

Parou imediatamente e desceu para inspecionar o dano. Ele sabia que um pneu furado poderia arruinar a sua aventura, mas Zélio se desenvolvera num sujeito determinado e não se deixaria abater tão facilmente por um simples contratempo. Com a sua mochila sempre preparada, tirou dela um kit de reparo de pneus. Lembrou das instruções que seu amigo Cururu, o sapo mecânico havia lhe dado. Primeiro, Zélio retirou a roda da bicicleta com cuidado. Em seguida, usou uma espátula para remover o pneu do aro e encontrar o furo na câmara de ar. Depois de localizar o pequeno buraquinho, limpou a área ao redor e aplicou um remendo com cola especial. Esperou pacientemente até que a cola secasse, enquanto aproveitava para descansar um pouco e apreciar a beleza da floresta ao seu redor. 

Com o remendo bem fixado, recolocou a câmara de ar e o pneu no lugar. Encheu com sua bomba portátil e verificou se estava tudo em ordem. Estava. Satisfeito com seu trabalho, montou novamente na sua “Fogueteira” e continuou a sua jornada. Aquele pequeno contratempo não apenas ensinou a importância de estar sempre preparado para o que pintasse diferente. Também serviu para reforçar a sua paixão pelo ciclismo. Sabia que, como na vida, os desafios poderiam surgir a qualquer momento, porém, com determinação e um pouco de habilidade, não havia meio possível para desapontá-lo de seguir em frente. Com esse pensamento aflorado, Zélio do Papo Coaxante o sapo ciclista, reiniciou a sua jornada feliz se embrenhando mais a fundo pela floresta, atento e pronto para a próxima aventura, com a sua fiel bicicleta. 

Depois de um dia cheio de pedaladas, Zélio decidiu que queria experimentar algo novo. Ouvia falar quase diariamente, das maravilhas da floresta à noite. Nunca teve a oportunidade de explorá-la sob a luz das estrelas. Sem mais delongas, certa tarde, preparou a sua mochila com uma lanterna, um mapa e alguns lanches e refrigerantes. Esperou o sol se por totalmente. Quando a noite chegou, montou em sua amiga “Fogueteira” e deu início à tão sonhada aventura noturna. A floresta, ao seu redor, parecia um lugar completamente diferente à noite. As árvores lançavam sombras misteriosas, e os sons dos animais noturnos criavam uma sinfonia encantadora. Pedalou, sem pressa de voltar. Se embrenhou por trilhas e desvãos que conhecia muito bem durante o dia. 

Contudo, em plena escuridão da noite, pareciam coisas novas e emocionantes. Avistou vagalumes brilhando como pequenos astros ao seu redor e ouviu admirado o canto suave dos grilos. Em um momento, estancou para observar uma coruja majestosa pousada em um galho. Seus olhos grandes e brilhantes refletiam a luz da lanterna de uma maneira exuberante que ele jamais havia visto. Enquanto explorava, o local, encontrou um pequeno lago iluminado pela mesma lua que o acompanhara por todo o trajeto. Decidiu fazer uma pausa e se sentar à beira da água, apreciando a tranquilidade daquele momento que lhe pareceu único e indescritível. O fulgor da constelação, na superfície do lago se fazia hipnotizante, e ele sentiu uma paz profunda. Depois de comer, beber e descansar, resolveu continuar a sua jornada. 

Assim fez. Descobriu, logo adiante, novas sendas e apreciando a beleza da floresta noturna, desejou ter uma câmera fotográfica ou uma filmadora para registrar aqueles momentos espantosos e colossais. Sabia que essa aventura seria transformada em uma das suas favoritas. As trilhas por onde passou, lhe descortinou um lado da mata que ele nunca havia visto antes. Quando finalmente voltou para casa, estava exausto e apesar do cansaço, imensamente feliz. Tinha consciência de que a floresta guardava em seu interior muitos segredos e mal podia esperar para descobrir outras novidades em suas próximas façanhas. Não deu outra. Enquanto explorava aquele bosque denso, em uma outra noite, ouviu um som suave de canto vindo de uma clareira próxima. Curioso, seguiu o som e encontrou, sentada numa pedra enorme, uma linda perereca*.

O nome dela, Banja. A beldade se fazia sentada à beira de um minúsculo riacho. Banja, de posse de um violão, cantava uma canção do Roberto Carlos e a sua voz parecia se harmonizar perfeitamente com os ruídos nascidos do seio da terra. Encantado, ou melhor, embasbacado pela voz e pela beleza daquela estonteante sapa, a mente de Zélio foi perdendo o fio das ideias, ao tempo em que dela se aproximava pé ante pé. Foi se achegando timidamente e a cumprimentou. Ela sorriu e sem demonstrar um pingo de medo, percebeu que naquele momento havia perdido o tom de uma possível emergência em vista do recém-chegado. Sem receio algum, o convidou para se sentar ao seu lado. Nesse momento cresceu dentro dela uma emoção impossível de dominar. 

Começaram a conversar e papo vai, papo vem, descobriram que tinham muito em comum, especialmente no amor incondicional pela natureza e claro, pelas aventuras. Nesse chove não molha, passaram a noite explorando juntos, compartilhando histórias e risadas. Zélio mostrou à Banja alguns de seus lugares favoritos e a prestimosa, por sua vez, o levou para conhecer um campo de flores estonteantes que brilhavam sob a luz cálida da lua. Ambos se divertiram tanto, que perderam a noção do tempo. Quando a noite chegava ao fim, os dois perceberam que não queriam mais se separar. Decidiram que, embora cada um tivesse a sua própria lagoa, poderiam se encontrar frequentemente naquele mesmo lugar, para novas proezas. Selaram, pois, esse compromisso com um longo aperto de mãos e beijos quentes, quase perspirando (transpirando). 

Sem falar nos olhares prolongados e carinhosos, entrelaçados em sorrisos efusivos. Prometeram explorar juntos outros pontos daquele paraíso sempre que pudessem. Não cabendo em si de contentamento, Zélio regressou para a sua lagoa com o coração cheio de alegria e expectativa pelas próximas andanças e aventuras com a Banja. A pequena diva, por sua vez, em dias posteriores, voltou para a sua lagoa, ansiosa para contar às suas amigas sobre o sapo ciclista bonitão que havia conhecido. A partir daquele dia, Zélio do Papo Coaxante e Banja se tornaram grandes amigos e companheiros de muitas peripécias, sempre prontos para descobrirem os segredos insondáveis daquele lindo e flamejante pedaço de chão, agora ricamente aconchegante ou melhor, importante e repleto de mil galhardias e incontáveis magnificências. 
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* Perereca = origem na palavra do tupi pere'reg (“ir aos saltos”), passam mais tempo na água do que os sapos, sendo considerados animais semiaquáticos.
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APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA, natural de Andirá/PR, 1953. Aos doze anos, deu vida ao livro "O menino de Andirá," onde contava a sua vida desde os primórdios de seu nascimento, o qual nunca chegou a ser publicado. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal "Municípios em Marcha" (hoje "Diário de Osasco"). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista "QUEM" (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal "O Dia, no Rio de Janeiro." Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.

Fontes:
Texto enviado pelo autor.
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sábado, 8 de fevereiro de 2025

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 10

 

Figueiredo Pimentel (A moça do lixo)

Passavam um dia duas fadas por um jardim formosíssimo e bem tratado, quando viram um monte de estrume que o chacareiro havia deixado para estercar a terra.

— Que coisa nojenta! Disse uma delas. Como é que se consente num jardim tão belo tamanha porcaria, ainda que seja por um momento!...

— Tive uma ideia, disse a outra. Eu faço para que essa esterqueira se transforme numa mulher tão linda como Leona, a princesa adivinha, que é a mais formosa criatura do mundo.

— E eu faço, retorquiu a outra, para que ela tenha um anel no dedo. Enquanto estiver com esse anel, só poderá pronunciar a palavra “porcaria”, sem que nada mais possa dizer. Tirando-lhe o anel, será uma moça instruída e espirituosa, ao passo que, quem o usar, ficará com o mesmo defeito.

As duas fadas desapareceram e do estrume surgiu uma moça maravilhosamente formosa.

E nos jardins reais, o príncipe, passando por acaso, viu-a e ficou apaixonado. Perguntando-lhe quem era, de onde vinha, como se chamava, só obteve em resposta:

— Porcaria! Porcaria!...

Admirado por ouvir aquela grosseria, tão suja, em boca tão formosa, sua alteza insistiu. Em vão! A deslumbrante moça respondia sempre:

— Porcaria!... Porcaria!...

O príncipe quis fazê-la sua esposa, mas o rei, os ministros, os conselheiros da coroa e os grandes dignatários não o consentiram.

Não podendo, entretanto, deixar de vê-la a todos os instantes, o futuro soberano fê-la se alojar no palácio.

Tempos depois teve de se casar, como era obrigado por lei. Deram-lhe como noiva uma princesa, filha de um imperador vizinho e aliado.

Preparando-se a toalete da noiva, uma criada lembrou-se que Porcaria tinha um anel sem igual.

Tirou-o, e apresentou-o à sua nova ama, que o enfiou no dedo

Quando o cortejo chegou à igreja, na hora da celebração do casamento, perguntando o padre à noiva, se livremente recebia o príncipe, ouviu-a dizer:

— Porcaria!... Porcaria!...

Não houve meios de se lhe arrancar outra coisa:

— Porcaria!... Porcaria!... – falava sempre.

O príncipe, em vista daquilo, exclamou:

— Não! Não me serve! Porcaria por porcaria, tenho lá no palácio uma melhor.

Foram buscar a outra, que encontraram falando e conversando com todo o espírito, e o casamento foi celebrado.
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ALBERTO FIGUEIREDO PIMENTEL nasceu e morreu em Macaé/RJ, 1869 - 1914, foi poeta, contista, cronista, autor de literatura infantil e tradutor. Manteve por muitos anos, desde 1907, uma seção chamada Binóculo na Gazeta de Notícias. Publicou novelas, poesia, histórias infantis e contos. Um de seus grandes êxitos foi o romance O Aborto, estudo naturalista, publicado em 1893, e por mais de um século completamente esgotado. Como poeta, participou da primeira geração simbolista chegando a se corresponder com os franceses. Era amigo de Aluísio Azevedo, com quem trocou cartas, enquanto o autor de O Cortiço estava fora do país como diplomata. Poeta, romancista, escritor de literatura infantil, ganhou destaque e se perpetuou nos compêndios da literatura brasileira. A coluna Binóculo, assinada pelo autor na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, de 1907 até 1914, obteve grande sucesso entre leitores e leitoras, ditando moda, o que faz de Figueiredo Pimentel o primeiro cronista social da capital. Era ele quem tratava das novidades da moda, do bom gosto, do chique em voga em Paris e que deveria ser aqui aclimatado. Obras: Fototipias, poesia, 1893; Histórias da avozinha, conto - somente em 1952; Histórias da Carochinha; Livro mau, poesia, 1895; O aborto, 1893; O terror dos maridos, romance e novela, 1897; Suicida, romance e novela, 1895; Um canalha, romance e novela, 1895.

Fontes:
Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado originalmente em 1896. 
Disponível em Domínio Público. 
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Miríade de Trovas “04”


151
De barro se faz o homem, 
e de luz principalmente. 
O barro, os anos consomem; 
a luz eterniza a gente!
A. A. DE ASSIS 
152
Dos inimigos que temos,
o mais impiedoso e atroz
geralmente não tememos:
— ó o que está dentro de nós!
ADALBERTO DUTRA DE REZENDE
153
Sou qual um rio sem rumo
 que não encontrou o mar;
 de mágoas eu me avolumo
 sem ter onde desaguar.
ADEMAR MACEDO
154
A idade é uma companheira
que traz sempre algum encanto...
e eu, levando em brincadeira,
nem vi que ela cresceu tanto!
ALBA CHRISTINA CAMPOS NETTO
155
Não digas toda a verdade,
se for triste e for grosseira.
Ê melhor ter caridade
que ser muito verdadeira.. .
ANA ROLÃO PRETO MARTINS ABANO
156
Não há coração, garanto,
entre os demais corações,
que não guarde, nalgum canto,
um punhado de ilusões.
ANTÔNIO CHAVES
157
Para consolar alguém,
muitas vezes — que ironia! —
a mentira faz um bem
que a verdade não faria.. .
APARÍCIO FERNANDES
158
Quem faz o bem a seu jeito,
nem sempre acerta, afinal.
— O bem deve ser bem feito,
para que não faça mal!
ARCHIMIMO LAPAGESSE
159
Entre o mar e o céu profundo,
esta é a maior verdade:
todo o dinheiro do mundo
não compra a felicidade!
ARNALDO LÚCIO
160
Confesso que gostaria
— sem nutrir desconfiança —
de ter esperança um dia
de um dia ter esperança!
CARLOS DE ALENCAR
161
Ninguém maldiria o fado,
seria a vida um prazer,
se às nossas mães fosse dado
nosso Destino escolher.
CARLOS GUIMARÃES
162
Teu regresso é uma quimera
nos meus dias de abandono,
mensagens de primavera
em galhos secos de outono...
CARMEN OTTAIANO
163
O amor não marcou hora,
chegou cedo, sem aviso.
Eu tentei mandá-lo embora,
mas me faltou o juízo!...
CARMINHA XIMENES
164
Sou filha, neta e bisneta,
de corpo e de alma, também!
No meu sangue um dom de poeta
me transporta para o além..!!!
CECÍLIA SOUZA ENNES
165
Céu escuro, céu tristonho,
por que despertas em mim
esta vontade de um sonho
que nunca tivesse fim?
CIREMA DO CARMO CORRÊA
166
Se em flores se transformasse
todo e qualquer mal sofrido,
a vida tornar-se-ia
um jardim belo e florido.
CLADYR OLIVEIRA DOS SANTOS
167
O amor e a morte, a rigor,
são faces da mesma sorte:
no fim da palavra amor
começa a palavra morte!
CLEÔMENES CAMPOS
168
A Terra gira no espaço,
como a gente aqui na Terra,
girando em torno do laço
que nosso destino encerra...
DARIO NOGUEIRA DOS SANTOS
169
Eu plantei minha esperança
no cintilar de uma estrela,
para que em má temperança
jamais eu venha a perde-la!
DÉBORA NOVAES DE CASTRO
170
"Era pouco e se acabou.,."
como a cantiga da infância...
Mas o teu vulto ficou,
mergulhado na distância!
DEIRES HOFMANN ALONSO
171
Seja a tua lealdade,
rio que nunca se esgota.
Quem luta com falsidade
caminha para a derrota.
DE PAULA MADIA
172
Liberdade, quanta gente
sua voz tenta calar!
Mas liberdade é semente
que brota em qualquer lugar!
EDEN JOSÉ GRÜNEWALD
173
O barulho na cozinha
denunciou mais um duelo:
o gordo atrás da sardinha,
a esposa atrás do chinelo...
FLÁVIO ROBERTO STEFANI
174
Afirmo com certo orgulho
que, na maior desavença,
não temo qualquer barulho,
pois sou surdo de nascença!
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
175
Tem a velhice a quietude
da lagoa adormecida,
lembranças da juventude,
no triste poente da vida...
GEORGINA MACHADO XAVIER
176
Meu amor é um rio santo
que passa em cursos atrozes...
Mas Deus abençoa o canto
das suas águas velozes.
HÉLIO ALEXANDRE
177
Quem busca a felicidade
e não consegue encontrá-la,
é porque, na realidade,
não sabe nem procurá-la...
ISAÍAS RAMIRES
178
Para uma vida perfeita,
devemos ter sempre em mente,
que toda e qualquer colheita,
deve-se à boa semente.
JOSÉ FELDMAN
179
Nos acordes, uma festa,
namoro no coração;
são enlevos da seresta
nas cordas de um violão.
JOSÉ HAROLDO DO VALE LYRA
180
No amor, a felicidade,
não passou de um sonho vão...
Sob as cinzas da saudade
hoje jaz meu coração!
JOSÉ LOURENÇO
181
O amor, o sonho, querida,
são graças que Deus nos deu...
Quem não ama não tem vida,
quem não sonha já morreu.
JOSÉ LUCAS DE BARROS
182
Na praça da minha vida,
unidas, vi, a chorar,
abraçada à despedida
a saudade a soluçar...
JOSÉ VALDEZ CASTRO MOURA
183
O bem nunca vem de graça,
nem o mal que nos alcança.
— Deus pesa a graça e a desgraça
usando a mesma balança.
JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
184
Procura fazer o bem,
se queres ser ajudado;
— quem faz o bem, quase sempre
recebe o juro dobrado!
JUVENAL GOULART
185
É um momento bom que tenho
se sinto que fiz o bem,
e feliz, não me contenho,
vendo o sorriso de alguém...
LOURDES BALASSIANO
186
Se o caçador decifrasse
o canto dos passarinhos,
talvez nunca os arrancasse
da tepidez de seus ninhos!
LOURIVAL PASSOS
187
Imagino da Saudade
a mais verdadeira estampa,
quando vejo a claridade
do luar sobre uma campa.
MAIA D'ATHAYDE
188
A vida, que nos parece
ora alegre, ora tristonha,
é mais do que se merece,
é menos do que se sonha...
MARIA TERESA GUIMARÃES NORONHA
189
Descobrindo a falsidade
que havia em teu bem-querer,
perdi a felicidade
mas aprendi a viver!
NELLY D. WERNECK
190
Uma criança vadia
é um atestado bem triste
do quanto de hipocrisia
nas leis humanas existe...
NICOLINO LIMONGI
191
O bambu com muita gente
se parece, no feitio:
por fora — é belo e Imponente,
por dentro — é oco e vazio...
NILO APARECIDA PINTO
192
Cascata, teu pranto triste,
parece que não tem fim!...
Comparo ao pranto que existe
doendo dentro de mim!
PROFESSOR GARCIA
193
Batendo contra os rochedos,
o som do mar abafava
as mentiras e os segredos
que, na praia, eu te contava...
RENATO ALVES
194
Mesmo sendo feia, suja,
dolorosa e até maldita,
a Verdade sobrepuja
qualquer mentira bonita!
SÉRGIO FONSECA
195
Brincando com as estrelas,
anoiteço devagar...
Sorrio feliz, em vê-las
abraçadas ao luar.
SOLANGE COLOMBARA
196
Como somos diferentes!...
Mas, é tamanha a paixão,
que nos tornou coniventes
na mais estranha união!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
197
Desconfio que a velhice
chega sempre bem depressa
quando se faz a tolice
de pensar que ela começa...
VASQUES FILHO
198
Eu te espero noite afora...
Plange o som de um carrilhão,
fatalmente, de hora em hora,
compassando a solidão...
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
199
Se é para o alento da alma,
o pranto deixa no olhar,
frescor de uma ilha calma
que não se rendeu ao mar.
WANDIRA FAGUNDES QUEIRÓZ
200
Morrer?!... Morrer não ó nada!
É o final de cada Eu.
— O pior é ir na estrada
sepultando quem morreu.
ZÂLKIND PIATIGORSKY

José Feldman (Pafúncio e o Coquetel dos Prêmios)

Era uma noite de gala na cidade, e o prestigiado “Coquetel dos Prêmios Fuxicos” estava prestes a começar. Celebridades, influenciadores e jornalistas se reuniam para celebrar os maiores acontecimentos do ano no mundo das fofocas. E, claro, Pafúncio, o jornalista trapalhão da revista “Fuxicos & Fofocas”, não poderia ficar de fora desse evento.

Vestindo um terno que parecia ter sido escolhido às pressas — com uma gravata que mais parecia uma serpentina — Pafúncio chegou ao local com um sorriso de orelha a orelha. Ele estava determinado a fazer sua cobertura ser a mais memorável de todas, mesmo que isso significasse algumas trapalhadas pelo caminho.

Assim que entrou, foi recebido por uma multidão de pessoas bem vestidas, todas segurando taças de champanhe e sorrisos brilhantes. Pafúncio, empolgado, decidiu que a primeira coisa que faria seria se aproximar do buffet. Afinal, quem poderia resistir a uma mesa cheia de aperitivos?

Com um pé na frente do outro, ele se dirigiu à mesa. No entanto, ao tentar pegar um canapé de salmão, ele esbarrou em uma bandeja cheia de bebidas. Em um movimento de câmera lenta, as taças de champanhe voaram pelo ar, chacoalhando como se estivessem dançando. Pafúncio apenas assistiu, paralisado, enquanto as taças atingiam o chão, fazendo um barulho estrondoso.

As pessoas ao redor ficaram em silêncio, olhando para ele. Pafúncio, tentando se redimir, levantou as mãos e disse: “Acho que agora temos um ‘brinde’ ao chão!” A plateia, inicialmente chocada, não conseguiu conter a risada, e o clima começou a relaxar.

Mas o infortúnio de Pafúncio estava apenas começando. Ao se afastar da mesa, ele tropeçou em uma perna de uma cadeira e, sem saber como, acabou caindo de joelhos. Para sua sorte, ele aterrissou bem embaixo de uma mesa que, ao ser puxada, virou, derrubando pratos e copos. O barulho foi ensurdecedor.

“É uma nova dança, a ‘Dança da Mesa Voadora’!” gritou Pafúncio, enquanto tentava se levantar. As pessoas estavam atônitas, mas não conseguiam conter as risadas, e ele começou a se sentir como o verdadeiro centro das atenções. Mas ele não sabia que a situação ainda podia piorar.

Decidido a continuar sua cobertura, ele se levantou e se dirigiu ao palco, onde as premiações estavam prestes a começar. Com um microfone na mão, ele queria fazer uma pergunta ao apresentador, mas, em sua empolgação, tropeçou no próprio pé e caiu para a frente, fazendo com que o microfone batesse em sua boca. O som de um barulho metálico ecoou, e ele, atordoado, exclamou: “Acho que o microfone também quer participar da festa!”

O público estava um pouco surdo devido ao som agudo do microfone, e Pafúncio decidiu que, que para ser o melhor jornalista da noite, ao menos deveria ter mais atenção.

Quando as premiações começaram, ele se aproximou de um grupo de celebridades que estava esperando seu prêmio. Tentando ser sutil, decidiu fazer uma pergunta para a atriz mais famosa da noite, que estava com um vestido deslumbrante. “Se você pudesse ganhar um prêmio por sua habilidade em… em… ficar linda, qual seria o seu segredo?” 

A atriz, sem saber se ria ou se ficava ofendida, respondeu: “Apenas muita água e um bom hidratante!”

Pafúncio, anotando furiosamente, comentou: “Então, a verdadeira receita do sucesso é água e cremes, não champanhe e canapés!” 

Finalmente, chegou o momento do grande prêmio: “Melhor Fuxiqueiro do Ano”. Pafúncio, com seu jeito desajeitado, decidiu que precisava fazer uma cobertura de última hora. Ele se aproximou da mesa dos vencedores, mas, ao tentar tirar uma selfie com todos, fez uma careta tão estranha que acabou derrubando novamente uma taça de champanhe que, por sorte, atingiu apenas seu próprio terno.

“Parece que sou o verdadeiro vencedor da noite!” exclamou, enquanto tentava limpar a mancha com um guardanapo, que, por acaso, estava mais sujo do que o terno em si.

A premiação terminou em risadas, e Pafúncio, exausto mas feliz, voltou para casa com um material inusitado. Ao escrever sua matéria, ele transformou cada trapalhada em um momento hilário e divertido, fazendo com que seus leitores se divertissem tanto quanto ele.

E assim, Pafúncio provou que, mesmo nas situações mais desastrosas, o humor sempre vence. Afinal, em uma noite cheia de glamour, ele conseguiu fazer todos rirem e esquecerem das formalidades, mostrando que, às vezes, o que mais importa é saber rir de si mesmo.

Fontes:
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: Plat.Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Silmar Bohrer (Gôndola de Versos) 10

 

Júlia Lopes de Almeida (Carta)

"Minha querida.

Venho do circo. Lá ao fundo, na noite escura, em uma baixada do morro, há ainda um clarão avermelhado rompendo o toldo e as paredes de lona suja, onde a rapaziada do bairro assobia ao ritmo da charanga desafinada. As personagens da pantomima esbordoam-se na última cena, fazendo voar as cabeleiras e as longas abas das casacas imundas. O povo ri, mas começa a voltar costas ao espetáculo.

Veem já umas lanternas de doceiras trôpegas pela encosta, como estrelinhas cansadas. No meio da treva, mal atenuada pelos espaçados lampiões de gás, diviso as linhas ondeantes do morro, de onde escorre o aroma agreste das plantas, que o relento refresca e ativa.

Sinto-me triste; e a placidez da noite silenciosa, acolhe a minh'alma como um seio materno. Nunca a escuridão me pareceu mais doce; posso mostrar ao céu a amargura da minha face, porque só Deus a vê, e deixar que o desalento do meu espírito se infiltre e transpareça no meu corpo.

Quem há que não tenha tido, ao menos, uma hora dessas, em que toda a força vital parece esgotada e não nos resta nem ao menos a vontade de reagir?

A meu lado uma voz fala, como um rumor continuado de água rolando em pedregulhos baixos.

Mal me atrevo a esboçar um gesto com que lhe responda. Decididamente a tristeza é o agente da preguiça!

A última bexiga da pantomima deve ter rebentado agora nas costas do estalajadeiro, que era velhaco e sonso. Calou-se a charanga, e o clarão rosado do circo sumiu-se de repente na treva.

Aumenta a bulha de passos; ouço uma voz dizendo: — O palhaço é muito engraçado!

Eu por mim achei-o estúpido, repetidor de trapaças antigas, de um rancismo bolorento. Engraxou-se mal, não tocou ao violão e pouco dançou da chula. Mas a razão não estaria do meu lado; a razão nunca está do lado da gente triste.

O palhaço devia ter cumprido a sua missão. Lembrei-me de ter visto torcer-se toda, em um acesso de hilaridade, uma espectadora velha, expondo no auge da expansão o seu único dente descarnado e longo. Outras caras da arquibancada foram surgindo na minha memória.

Olhar para os espectadores é, em certos espetáculos, o melhor espetáculo, e o único pitoresco num circo de roça. O rosto dos velhos tem sobretudo uma cândida expressão de deleite, mais demonstrativa de enlevo que os das crianças mesmo. A alegria desabrocha-lhes por entre as gelhas da face e as pálpebras franzidas, com o frescor viçoso de flores em ruínas. Aquela alegria curiosa, que eu invejo causa-me entretanto uma certa piedade... É a profanação do uso, a abjeção do gosto.

Parece-me que aquelas cozinheiras e operárias que pasmam radiantes para as misérias da arena só se deveriam sentir à vontade em um circo de sedas claras, com festões de lâmpadas elétricas e ramos de violetas em cada camarote...

Um equilibrista fecha a primeira parte, sustentando maravilhosamente uma pena na ponta do nariz. 

A vaidade do homem devia ser grande naquele indivíduo! Cruzaram-se fardas de belbutina e casacas luxuosas dos ajudantes na arena.

Cerrei as pálpebras, aspirei o aroma de meu lenço e fiz de conta que estava vendo a pompa circense com que se precediam os jogos no circo de Maxencio... e a ilusão talvez se prolongasse, se uma preta moça e tafula se não lembrasse de roçar pelos meus joelhos, exalando o cheiro de um raminho de arruda espetado na carapinha. Entonteci; e logo tudo me pareceu ignóbil: as desafinações da charanga, as pernas grossas das écuyères (escudeiras) mal calçadas o ondear das fitas e das tarlatanas baratas, a repetição das sortes tantas vezes vistas, os assobios do povo, os estalos dos chicotes e das bofetadas, o ruído da mastigação de um vizinho, que enchia a boca de mendubi (amendoim), o fumo dos cigarros, a deficiência das luzes, e os pregões de um espanhol maltrapilho anunciando biscoitos.

Restabelecido o equilíbrio, notei com surpresa que alguns daqueles saltimbancos tinham logrado prender-me a atenção em uma matinê do S. Pedro. Sim, era a mesma gente, era o mesmo trabalho. Somente a atmosfera através da qual eu os via era outra. Não se comia mendubi, mas pastilhas de chocolate; a sala era clara, limpa, e nos camarotes apinhavam-se crianças lavadas e cheirosas. Nesse dia os artistas tinham trabalhado bem, pareceram-me até pessoas de qualidade, que vinham por excepcional obséquio divertir a gente...

Para penitência relembro uma página de Tolstói, sinto sobre o meu ombro fraco a sua mão pesada e como que o seu espírito sussurra ao meu: — A alegria e a verdade estão neste barracão armado à pressa, como uma tenda de campanha, para a cambalhota e as miséria mal disfarçadas.

Sedas? flores? luzes elétricas! são fantasias para gente de casaca, que não sabe rir. Só a gente rude conserva frescura e sensibilidade de alma. Os únicos velhos que têm riso gostoso são os ignorantes. Vai-te embora.

E eu vim-me embora, pensando nessas coisas quando, eis passa por mim um médico ilustrado a quem ouço dizer: — Pois senhores, o palhaço tem graça!

A opinião dos homens confunde-me. O homem, pelo simples motivo de ser homem, está determinado que tenha de tudo uma visão mais positiva, mais clara e mais perfeita do que a minha. Relembro a cena principal do clown: Um sujeito de casaca e de chicote dá-lhe a incumbência de levar um embrulho de doces a certa moça...

Procuro fixar o resto: não posso. foge-me a ideia para outro assunto.

O céu está estrelado, o ar doce, o aroma das magnólias sai dos jardins e envolve-me toda, como uma túnica invisível, que dá à minha alma uma pureza de Vestal.

Pirilampos salpicam o ar de fulgurantes esmeraldas viajoras. Chego ao alto e volto a vista para o local do circo: tudo em trevas; a noite como que suspira de alívio. Passa-me ainda uma vez pelo espírito o romance explorado pelos velhos contistas: o riso agudo do palhaço que se rebola na arena e que se transmuda em soluços quando nos intervalos se atira sobre o corpo moribundo do filho; as sovas nas crianças roubadas, nos estudos da acrobacia, e o pudor das écuyères, virgens e recatadas.

Para mim, todo o palhaço tem sempre no bastidor um filho moribundo e todas as crianças sinais de pancada sob os maillots (camisas) rosados.

E é talvez por isso que este circo de roça, grotesco, e em que as misérias se mostram tanto a nu, não consegue divertir-me nem dissipar-me a tristeza.

À hora em que vou chegando a casa, está o palhaço, e estão os seus companheiros refazendo as forças com o bife e o vinho da ceia, e rindo-se, ainda por cima, porque a féria foi boa.

Entretanto, (oh! prodígios da imaginação enfeitiçada pelos romancistas!) como que distingo no ar, lá muito perto do céu, o senhor clown enfarinhado e choroso sustentando nos braços um filhinho morto!

E como são horas de dormir, digo-te adeus!"

Tua
FRANCISCA.
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JÚLIA VALENTIM DA SILVEIRA LOPES DE ALMEIDA, nasceu em 1862 no Rio de Janeiro e morreu em 1934 na mesma cidade. Passou parte da infância em Campinas - SP. Seu primeiro livro - Traços e Iluminuras - foi publicado aos 24 anos, em Lisboa. Antes disso já publicara artigos na imprensa, tendo sido uma das primeiras mulheres a escrever para jornais. Com uma linguagem leve, simples, cativou seu público: escreveu e publicou mais de 40 volumes entre romances, contos, narrativas, literatura infantil, crônicas e artigos. Foi abolicionista e republicana além de mostrar, em suas obras, ideias feministas e ecológicas. Contista, romancista, cronista, teatróloga. Fez conferências e colaborou em vários periódicos do Rio de Janeiro e de São Paulo, entre eles Gazeta de Notícias, Jornal do Comércio, Ilustração Brasileira, A Semana, O País, Tribunal Liberal. Casou com o poeta e teatrólogo português Filinto de Almeida, com quem dividiu a autoria do romance A casa verde. Ocupou a cadeira nº 26 da Academia Carioca de Letras. Em seu livro A árvore (1916), defende com rigor o ambiente natural, afirmando que "cortar uma árvore é estrangular um nervo do planeta em que vivemos", preocupação inusitada para a sua época. Seus filhos Afonso Lopes de Almeida, Albano Lopes de Almeida e Margarida Lopes de Almeida também se tornaram escritores.

Fontes:
Júlia Lopes de Almeida. Livro das Donas e Donzelas. Publicado originalmente em 1906. Disponível em Domínio Público.  
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Vereda da Poesia = 213


Trova de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE

Foi a força do migrante
com seu braço varonil
que moldou este gigante,
hoje, chamado Brasil!
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Poema de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

MANHÃ

A manhã nasce das muitas janelas
deste sereno corpo fatigado,
sede  dos meus caminhos sem cancelas,
na luz de muitos astros albergados.

Casa em que me recolho das mazelas,
dos louros, derroteiros, lado a lado,
para de mim ouvir franca sequela:
Ecce Homo! Eis o triste camuflado.

Essa tristeza antiga em residência,
às vezes se constrói em face alegre,
máscara sem eu mesmo em aparência

num carnaval insólito em seu frege.
O que me salva a cor nessa vivência
é saber que a poesia é quem me rege.
= = = = = = = = =  

Trova de
MARIA NASCIMENTO S. CARVALHO
Rio de Janeiro/RJ

Um trambique, o sem vergonha
do meu genro faz tão bem
que, até dormindo, ele sonha
que dá trambique em alguém...
= = = = = = 

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

Ausência...
O tempo
Descolore
A janela
Mas a esperança
Da tua chegada,
Ainda mantém
Um fio
De brilho
No meu
Olhar.
= = = = = = = = =  

Trova de
ALZIR CARVALHAES FRAGA
Juiz de Fora/MG

A miséria está tão feia...
Lá em casa virou mania:
falar com a boca cheia
é mais chique que vazia!
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

EU SEI QUE VOAREI, NA IMENSIDADE
(João Baptista Coelho, in "Um outro livro de Job", p. 75.)

Eu sei que voarei, na imensidade
Do reino da palavra que é magia
Se as brancas asas gráceis da Poesia
Me derem essa pura caridade.

Com alma solta em franca liberdade
Planarei sobre o mar e a maresia
E tudo o que até aqui não entendia
Verei na limpidez de uma verdade.

Nesse dia em que a treva se dilui
Serei mais do que algum dia já fui
Numa grandeza de alma sem ter fim.

E este mundo será meu por completo
Que no imenso infinito eu me projeto
E já não caibo inteiramente em mim. 
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Eu me faço de blindado.
Amor? Bobagem... Pieguice...
Meu medo é que, apaixonado,
eu me envolva na tolice.
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

VITA NUOVA

Se ao mesmo gozo antigo me convidas,
Com esses mesmos olhos abrasados,
Mata a recordação das horas idas,
Das horas que vivemos apartados!

Não me fales das lágrimas perdidas,
Não me fales dos beijos dissipados!
Há numa vida humana cem mil vidas,
Cabem num coração cem mil pecados!

Amo-te! A febre, que supunhas morta,
Revive. Esquece o meu passado, louca!
Que importa a vida que passou? Que importa,

Se ainda te amo, depois de amores tantos,
E inda tenho, nos olhos e na boca,
Novas fontes de beijos e de prantos?!
= = = = = = 

Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Eu sou príncipe tristonho
porque, na história real,
não há, na escada do sonho,
sapatinhos de cristal!...
= = = = = = 

Poema de
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE
São Francisco de Itabapoana/RJ

EXALTAÇÃO A SÃO FRANCISCO DE ITABAPOANA

São Francisco de Itabapoana
Como eu gosto de você.
Sua beleza encantadora
Há de sempre resplandecer.

Suas praias, sua grandeza,
Seus campos e floração colorida,
Obra prima da natureza
Eu me orgulho de ter nascido aqui.

Salve seu povo hospitaleiro,
Bom, amigo e trabalhador;
Salve terra abençoada
De São Francisco nosso senhor…

Abraçada pelos rios,
Beijada pelo mar,
Ornada com lagoas
Você é linda, sempre vou lhe amar.

São Francisco de Itabapoana
Onde o sol brilha mais o ano inteiro,
Estrela de grandeza reluzente
Do Estado do Rio de Janeiro.
= = = = = = = = =  

Trova de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

Ontem, família reunida...
Cantos, abraços, folias.
Hoje, em telas entretida
no silêncio de mãos frias!
= = = = = = 

Poetrix de
SUELY BRAGA
Osório/RS

O pensamento voa
    ao sabor do vento
    com o pássaro que revoa.
= = = = = = 

Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

ESTRELA DO MAR

Mote:
Perguntei para uma estrela
que encontrei à beira-mar:
- O que faço para tê-la
se você pertence ao mar?
(Sarah Rodrigues)

Glosa:
Perguntei para uma estrela
num passeio matinal,
pela praia, logo ao vê-la:
Você é mesmo real?

Era a estrela da alegria,
que encontrei à beira-mar,
que ao enfeitar o meu dia,
enfeitiçou meu olhar!

Como posso não querê-la
se é tão linda e me fascina?
– O que faço para tê-la,
bela estrela pequenina?

Mas fico só no desejo...
Sei que é esse o seu lugar,
só posso lhe dar meu beijo,
se você pertence ao mar!
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Foi sempre assim! Escondida
no engodo que a desvirtua,
a Verdade anda vestida
quando a Miséria está nua!
= = = = = = 

Hino de 
CIANORTE/PR

Cianorte de viva esperança
de uma luz reluzente de paz
Óh cidade de encantos perenes
és abrigo de um verde eficaz

Cianorte de braços abertos
que enaltece o mundo feliz
és o fruto de um grande progresso
A grandeza que o povo bem quis

Cianorte, Cianorte
és a fonte de um grande valor
Cianorte de paz e eterno fulgor
que aquece com a chama do amor

Óh que terra celeira e farta
verdejante de intenso vigor
Óh cidade de campos e flores
construída com paz e amor

Cianorte de famas e glórias
és a honra de um povo gentil
por ser capital do vestuário
o orgulho do nosso Brasil

Cianorte, Cianorte
és a fonte de um grande valor
Cianorte de paz e eterno fulgor
que aquece com a chama do amor
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

SOMENTE O AMOR CONSTRÓI 

O amor universal é o limite
para infinitas dores e alegria.
Nada o arrefecerá, só acredite
nas bênçãos que do céu Ele te envia.

És a mãe amorosa para os filhos
que são três para só, orientares.
Não é tarefa fácil, mas com brilhos
tens enfrentado lutas aos milhares.

Para quem tem o amor como alimento
e a caridade ao próximo, não julga
atitudes alheias, se o acalento,

que tem a oferecer não  é de ajuda;
portanto não dês bola a quem divulga
opiniões vazias , Deus, acuda!
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
OCTÁVIO BABO FILHO
Rio de Janeiro/GB (1915 – 2003) Rio de Janeiro/RJ

Ante a vinda inesperada
da indesejável cegonha,
de susto morre a empregada,
morre o patrão... de vergonha!
= = = = = = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
OS ESCRAVOS DE JÓ

 “Os escravos de Jó” é uma cantilena cuja origem, significado e letra é motivo de controvérsia. Presume-se que fazem alusão aos escravos que em África juntavam caxangá (uma espécie de crustáceo). É usada num jogo infantil que remota ao século XVIII. Para se jogar, forma-se uma roda de jogadores e, ao ritmo da lengalenga, inicia-se o jogo passando um objeto que têm na mão direita para o vizinho da direita, ao mesmo tempo que recebem com a mão esquerda o objeto do vizinho da esquerda, trocando-o rapidamente de mão. O que se enganar e deixar cair o objeto, perde e sai da roda.
 
 Os escravos de Jó,
 Jogam caxangá.
 Tira, põe, deixa ficar.
 Guerreiros com guerreiros,
 Fazem zigui, zigui, zag. (repete)
= = = = = = = = =  

Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Tigelinha d’água morna,
o que faz na prateleira?
Esperando o meu benzinho,
que chega segunda-feira.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

TECENDO O DESTINO

De dia ela tece,
E a noite, ponto por ponto
Ela destece...
À espera do seu Amor,
Tecendo o Destino…
= = = = = = 

Trova de
HUMBERTO RODRIGUES NETO
São Paulo/SP

Os meus dois olhos castanhos
são tristes, pobres, plebeus...
não têm encantos tamanhos
como esses que têm os teus!
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