sexta-feira, 23 de julho de 2021

Ronnaldo de Andrade (Caderno de Trovas) – 3 –

Amor, você me conduz
a uma infinita paixão,
feito um cego guiado à luz
e o justo pela razão.
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Ao seu sorriso, querida,
não resisto e mal não tem.
Sendo ele fonte de vida,
ninguém resiste, ninguém!
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Canta, canta passarinho,
para alegrar o meu dia,
pois eu me encontro sozinho,
e a solidão me judia.
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Com seu sorriso de santa,
que a mim encanta e diverte,
e essa voz que me acalanta,
qualquer ateu se converte.
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Da moldura, teu retrato
rir para mim com desdém.
Quero odiar-te, isso é fato,
mas não consigo, meu bem.
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Daria tudo que tenho,
nadaria em mar de espinhos...
Deus sabe o quanto me empenho
por um só dos seus carinhos.
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Deus lhe pôs no meu caminho,
pra não me ver sofrer mais.
Você, rosa sem espinho,
calou todos os meus ais.
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Ela partiu e deixou
minha alma crucificada,
no vestido que ficou
no degrau da velha escada.
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Ensaio a cada minuto,
pedir você em casamento,
mas em pensamento escuto
o não do seu pensamento.
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Eu e você bem juntinhos,
na rede se balançando,
parecemos passarinhos,
quando estão acasalando.
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Eu lhe quero em minha frente
para falar o que sinto,
pois tudo está diferente...
Creia, o amor chegou, não minto.
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Feito esse jardim imenso
que luta contra esse outono,
eu , também, luto e não venço,
o teu cruel abandono.
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Meu coração – em pedaços –
reclama a ausência do seu...
E eu, amor, sem seus abraços,
sou qualquer um, menos eu.
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Meu dedo sem aliança...
E na cama eu sem ninguém.
E quanto mais a hora avança,
chamo você que não vem.
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Não faça assim... Não maltrate
este pobre trovador.
Oh, linda flor, se retrate,
não por mim, por esse amor...!
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Ó coração, não reclama.
Maior do que Deus ninguém,
pois, hoje quem nos difama,
viveu na lama também!
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O nosso amor, meu Amor,
é romance que se encerra
sem mágoa, tristeza, dor...
E sem páginas de guerra.
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O nosso caso acabou,
e eu me questiono em vão:
– Errei? Errei, Amor, ou
nosso amor não tem razão?
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Para a sua e minha glória,
um sentimento surgiu;
temos hoje a mesma história:
– Somos dois que o amor uniu.
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Para você fui ingrato,
fui dor, tristeza, agonia...
Fui tudo, menos sensato,
pois te amei, e não devia.
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Por mais que eu queira não posso,
esconder coisas assim:
felicidade, remoço
e um amor chegado ao fim.
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Quando amanheço ao seu lado,
sinto um frenesi sublime.
Não me seria pecado
não lhe amar; seria crime!
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Quando me chamas de amor,
eu sinto alguns arrepios;
meu rosto muda de cor,
meus olhos se tornam rios…
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Relendo as cartas de amor
que para mim escreveu,
eu senti a maior dor...
Nosso amor, Amor, morreu!
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Se eu lhe beijei com prazer
e dei o néctar da flor,
como é que irei esquecer
nossos momentos de amor?
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Sempre que o amor ganhar a forma
de algo pesado e ruim,
claramente se transforma
em grande infortúnio em mim.
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Sou homem, porém eu cismo
não viver nova paixão,
porque conheço a abismo
que existe entre ela e a razão.
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Tens um perfil que encanta,
deixa-me bobo e disperso.
És para mim uma santa
e a inspiração do meu verso.
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Tudo estava ao nosso alcance,
tanta chance o amor nos deu.
Leiamos hoje o romance
"que a própria vida escreveu...".

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor.

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