segunda-feira, 16 de junho de 2008

Fiodor Dostoievski (O Idiota)

Livro escrito em Florença entre 1867 e 1868, durante quatro meses, por Fiódor Dostoiévski.

Foi bem recebido pelos críticos da época. O escritor inspirou-se em Dom Quixote para escrever essa obra, visto a similaridade do protagonista príncipe Míchkin com o protagonista do romance de Cervantes. A obra foi publicada em 1869.

Enredo

Príncipe Míchkin morou na Suíça por vários anos para tratar de sua idiotia. Quando precisou voltar à Rússia para reclamar uma herança, estando praticamente curado, conhece uma parente distante (Aglaia Epantchiná) e afeiçoa-se a ela. Ao longo do romance, o príncipe mostrará ser honesto, bondoso e romântico, mas terá problemas com isso, pois, os outros acham que isso é sintoma de idiotia.

Personagens do romance
Príncipe Lev Nikoláevitch Míchkin (o idiota) – É o protagonista desta história.
Visto que o mundo contém todo o tipo de espíritos entre o bem e o mal, e, se num extremo pode-se encontrar pessoas abomináveis, infames, corruptas e mais uma quantidade de adjectivos que caracterizam a perversidade, então poderemos ter a certeza de encontrar o príncipe Míchkin sentado no trono no extremo oposto a esta perversidade. Tal como o autor do livro, Míchkin é um doente que sofre de epilepsia, mas não é com certeza por padecer desta condição, o motivo que o fez viver completamente privado de poder racional; o seu apurado senso comum é que o dispensa de necessitar dessa racionalidade que lhe está em falta para poder fazer juízos de valor. Em compensação, é pejado de uma grande generosidade, benevolência e, consequentemente, de muita ingenuidade. No entanto, mesmo acarinhado e bem tratado por todos, embora até sendo visto como um coitadinho devido à sua bondade, não se consegue livrar da chacota e das alfinetadas que frequentemente lhe atiram, como é tão próprio serem lançadas por quem se aproveita da bondade de alguém que, erroneamente, a relacionam com algum tipo de pessoa fraca e débil. Nem suspeitam pois que, por ser conotado como um pateta, um idiota debaixo do olhar de toda a gente, o príncipe seja capaz de ser tão esperto que os restantes, quanto mais detentor de uma mente superior, possuindo um dom intuitivo, praticamente profético, capaz de deslindar a essência do espírito sob os rostos de quem o rodeia, o fundo das pessoas, ou seja, a verdadeira índole de cada um e avaliar na perfeição os seus atributos. Órfão de pais e sendo o último da linhagem dos Míchkin, a história começa quando ele retorna à Rússia para recolher uma herança deixada por um velho amigo e familiar de seu pai.

Rogójin, Parfion
Com esta personagem Dostojevski cria um puro antagonismo relativamente ao príncipe Míchkin. Uma personagem bastante sombria e endinheirada devido ao capital que o seu pai, Semion Parfiónovitch Rogójin, lhe deixou ao falecer. Ele e o príncipe Míchkin conhecem-se logo no início da história, criando-se rapidamente um laço de amizade entre os dois, todavia, o que neste laço que parecia estar bem atado, mais tarde ir-se-ia enfraquecer e tornar numa competição rival pelo afecto de Nastássia Filíppovna, uma mulher que se intromete na amizade entre as duas figuras principais.

Nastássia Filíppovna
Se na sua mocidade era já uma mulher culta, de boas maneiras e com uma notável presença de espírito, mais tarde iria mudar radicalmente o seu comportamento. Mesmo ainda antes de a conhecer, foi para o príncipe Míchkin uma das mulheres pela qual ele se apaixona imediatamente, quando, na casa dos Epantchin, fixa o olhar fascinado para um retrato seu. Devido à morte trágica de seus pais, foi ainda na sua meninice acolhida por Tótski juntamente com sua irmã, falecendo também esta última pouco tempo depois. Seria entregue a vários cuidados durante a juventude. Concluída a sua educação tornara-se então numa mulher adulta, portadora de grande beleza e de grande poder de sedução. Prometia muito para o seu futuro. Contudo, a partir do momento que soube do pretenso casamento de Tótski com uma das Epantchin, torna-se numa mulher completamente diferente, enchendo o coração e a alma de intensa malvadez.

Ivan Petróvitch Ptítsin
É um modesto usuário, amigo de Gavrila e frequente convidado em casa da família Ívolguin. Nutre, ao mesmo tempo, um especial carinho pela irmã de Gravila, a Varvara Ardaliónovna.

Kólia
É um miúdo alegre que se dá bem com toda a gente.

Lébedev
É um bêbado nato.

Ferdíchenko
Um jovem funcionário e um inquilino na casa dos Ívolguin.

Tótski, Afanássi Ivánovitch
É um homem adequado à alta sociedade. Um conservador bem estabelecido e proprietário de numerosas terras, que teve em Nastássia Filíppovna, o papel de orientá-la na sua educação. Enlaça ainda uma grande amizade com o general Epanchin. Sendo o tutor de Nastássia Filíppovna, reparando que ela estava extremamente sozinha na vida, atribui-lhe um dote no valor de setenta e cinco mil rublos. Desejava que ela se case, embora, visse Filíppovna desprendida de tal desejo, permanecendo ela indiferente a vários candidatos altamente classificados. Tótski, conjuntamente o general Epanchin, elaboram uma manobra de casar Filíppovna com Gavrila Ardaliónitch, talvez o único pretendente a quem ela pudesse vir aceitar como marido. E, sendo o próprio Tótski amante da beleza, um entendido no assunto, pretendia assim nesta ocasião casar-se aos cinquenta anos com uma das filhas do general Epanchin.

Pavlíchev, Nikolai Andréevitch
O parente afastado do príncipe Míchkin que pagava a sua manutenção na Suíça para tratamento médico. Dado a sua morte, deixa ao príncipe uma herança avultada de dinheiro.

Schneider
É o médico-professor que assistia o príncipe Míchkin enquanto este passou os anos na Suiça dentro de um sanatório para doentes mentais em tratamento da sua epilepsia.

Daria Alekséevna
Uma amiga de Tótski. Uma personagem muito secundária.

Os Epantchin
Ivan Fiódorovitch Epantchin
É um general com cinquenta e seis anos que se sente na fase ideal da sua vida, em pleno gosto por ele próprio e pela sua família. A fortuna avolumada que juntou deveio-se, substancialmente, do dote de sua mulher quando se haviam casado há já muito tempo, arrecadando apenas uns modestos cinquenta rublos. Dote pequeno, embora importante, que lhe veio servir de base fundamental para negócios posteriores. A sua presente actividade lucrativa é arrendar casas e propriedades, e até uma fábrica nos arredores de Petersburgo, da qual é senhor. A sua família numerosa é composta, no momento da história, pela esposa e pelas suas três filhas adultas.

Lisaveta Prokófievna Epantchiná
É a mulher do general Epantchin, recebendo, assim, o estatuto de generala. É proveniente da linhagem dos príncipes Míchkin, implicando-a ser parente do protagonista da história, o príncipe idiota.

Aleksandra, Adelaída e Aglaia Epantchiná
São as três filhas do casal Epantchin. Umas pequenas princesas, devido à linhagem principesca da mãe. Bonitas, dotadas de cultura e inteligência. Teriam cerca de vinte cinco, vinte e três, e vinte anos respectivamente. A primeira é a mais feliz e a mais simpática, a do meio, a mais enigmática, e por último mas não em último, Aglaia é das três irmãs a mais importante na história, caprichosa e bastante temperamental.

Os Ívolguin
General Ívolguin (Ardalion Aleksándrovitch Ívolguin)
O patriarca da família. Um general na reserva, acabado e amigo da bebida, simultaneamente com uma necessidade compulsiva de mentir, pedindo sempre dinheiro emprestado a toda a gente que lhe aparece pela frente para, enfim, gastá-lo todo em bebida.

Gavrila Ardaliónitch Ívolguin (por vezes Gánia, Gánetchka ou ainda Ganka)
Um amigo e secretário do general Epantchin. Sabendo da amizade que este mantinha com Tótski, acabaria para o interesse de todos por ganhar o consentimento de se casar com Nastássia Filíppovna assim que esta desse sua permissão. Ao mesmo tempo que isto, enquanto que Tótski, o general, e ele próprio congeminavam forças para que o enlace se concretizasse, o seu coração pertencia a Aglaia Epantchiná, alimentando esperanças ocultas para que esta findasse qualquer pretensão do seu casamento com Filíppovna.

Nina Aleksándrovna Ívolguina
É a mãe de Gavrila Ardaliónitch. Uma mulher modesta e digna, embora ressequida e amargurada pela sua vida triste e difícil.

Varvara Ardaliónovna Ívolguina (por vezes Vária)
A irmã de Gavrila Ardaliónitch.

Sujeitos pertencentes ao bando de Rogójin.
Zaliójev, o senhor dos punhos, keller, Lébedev, entre outros…
São uma cambada de salafrários e de trambiqueiros, acompanhando quem lhes for mais conveniente na onda dos seus interesses, sempre com o pretexto de oferecer a protecção e ajuda do bando.

Sobre o livro

Dostoiévski nesse livro fala do nacionalismo russo e do catolicismo eslavo. Com o príncipe, ele tenta resgatar uma figura pura e quase santa de uma sociedade russa que talvez tenha existido. O livro é considerado o mais típico de seu estilo, com abundantes personagens, análises psicológicas, histórias e humor. Pode-se dizer, como será natural, que o livro contém muita coisa da vida do autor e da sua ideologia. Uma semelhança bastante evidente é a de o príncipe também sofrer de ataques epitéticos, a personagem Aglaia crê-se que foi criada a partir de uma mistura entre Ana Korvin Krukovskaia e Paulina Suslova. A primeira mulher foi a quem Dostoiévski fez corte durante algum tempo por correspondência e pediu em casamento, mas esta recusou o pedido por achá-lo de aspecto pouco atraente (a família Epantchin também teria sido inspirada na própria família de Ana Krukovskaia, os Krukovski), a segunda mulher foi na realidade a grande paixão de Dostoievski e a pessoa mais retratada nos seus romances[2].

Ideologia

Os anos em que Dostoiévski viveu na Europa contribuíram para o escritor um forte conhecimento acerca de vários países e de vários costumes da época. Foi uma oportunidade excelente para este poder fazer comparações entre a Rússia da altura e a Europa Ocidental, sempre sob o ponto de vista eslavo. Os avanços técnicos eram notórios na Europa Ocidental com a industrialização que batia largamente a Rússia aos pontos, contudo, a espiritualidade da Rússia revelava-se bastante superior à da Europa Ocidental, e Dostoiévski, que acreditava piamente no renascimento da ortodoxia russa e sendo ele também um devoto da fé ortodoxa, tinha conhecimento desta Rússia e a sua força espiritual. Julgava o sentimento patriarcal e ortodoxo como sendo a única solução verdadeira para realização-pessoal de a Rússia não vir a cair na mesma cultura materialista de afirmação-pessoal que a Europa começava a eleger e até de poder salvar a Europa do seu próprio declínio, daí, sob o desejo de cultivar e propagar esse sentimento eslavo, escreve certas partes do romance acerca da contradição Europa-Rússia

Fontes:
http://pt.wikipedia.org

Fiodor Dostoievski (Os Irmãos Karamazov)

Em Os Irmãos Karamazov, Dostoievski se pôs inteiro. Suas vivências – o período na Sibéria, o pai autoritário, a epilepsia, a morte de um filho – estão todas ali. Mas também está ali um vasto painel da Rússia, de suas variadas classes, de seus homens, mulheres e profetas, os bêbados, os carbonários, os criminosos. É como uma síntese de seus livros anteriores. Se a concepção religiosa de Dostoievski e sua prosa dramática pudessem ser separadas, essa habilidade de mergulhar em vozes interiores e traçar um amplo e complexo painel social não existiria.

E Dostoievski não seria tão caro ao leitor sensível, muitas vezes na adolescência, que é tão tocado por sua intensidade moral, sem precisar adotar seu moralismo. Seu grande contemporâneo e rival, Tolstoi, para ele não ia além da descrição da realidade em seus detalhes, era um “historiador”; para Tolstoi, Dostoievski não conseguia olhar o mundo a distância, para então iluminar o detalhe. Como estuda George Steiner em seu Tolstoy or Dostoevsky – An Essay in Contrast, eles tinham religiões diferentes: o humanitarianismo de Tolstoi, sua utopia coletivista, era para Dostoievski equivalente à promessa de felicidade terrena, como a do Inquisidor; a ortodoxia masoquista de Dostoievski, sua crença no sofrimento redentor, era para Tolstoi uma fuga da paz e da razão.

Em outra passagem conhecida de Os Irmãos Karamazov, o diálogo entre o Diabo e Ivan, o Diabo diz que pode dar a Ivan mais originalidade que um enredo de Tolstoi. Mas nós não precisamos escolher entre Tolstoi e Dostoievski. Apenas ver o que cada um tem de mais original.

Fontes:
http://www.coladaweb.com/resumos/irmaos.htm
http://www.catanduvanarede.com/ (capa do livro)

Cybele Meyer (Resgatando o prazer de aprender)

Desde que eu me conheço por gente, toda vez que alguém pergunta: “O quê você mais gosta de fazer na escola?”, a resposta é sempre a mesma: “Eu adoro brincar no recreio”.

Será que já paramos para analisar esta resposta?

Se desde que eu era criança (eu também respondia assim) até os dias de hoje, a resposta é a mesma, porque então não analisamos este comportamento.

Se por ventura viéssemos a tirar o recreio do período escolar, a criança não gostaria de mais nada?

Sabemos que é no recreio que a criança se sente soberana em suas atitudes e pode exercitar toda a sua criatividade. Há escolas onde o recreio é dirigido. Neste caso, a resposta das crianças, não é mais unânime, pois ao dirigi-la no recreio, estará sendo cerceadas em sua liberdade.

Se, nos propuséssemos tirar pelo menos um dia na semana para observar o comportamento dos nossos alunos no recreio, com certeza, iríamos saber como lidar com eles em sala de aula. É ali que eles são verdadeiros, que eles se mostram sem ressalvas.

Quando voltam suados de tanto correr e brincar, nós, mesmo antes de eles entrarem em classe, já começamos a cobrar silêncio e comportamento estático: “Você já correu bastante, agora sente-se e fique quieto”. Ao sentarem, cada um em seu lugar, ainda sentem correr nas veias o sangue da participação ativa e do interagir sem barreiras. E iniciamos nossa oratória exigindo silêncio absoluto não permitindo qualquer intervenção. Caso o aluno insista, rebatemos sem ao menos ouvi-lo: “Já não brincou o suficiente? Agora, fique quieto e preste atenção”.

Não estou querendo dizer que o professor, ao explicar a matéria, deva permitir que a classe esteja em completo alvoroço. Não, muito pelo contrário, quando se está explicando a matéria é importante o silêncio, uma vez que, é ouvindo que se aprende. Mas, o que deve ser feito antes mesmo de iniciar a explicação, é uma preparação para o assunto que será abordado. Você terá que valorizar o que você vai explicar. Tem que tentar, ao máximo, motivá-los para que prestem atenção. A atenção deve vir pela motivação e não pela imposição do silêncio. Deve alertá-los sobre a parte prática e sobre a utilidade e eficácia do tema em questão. Assim que você sentir que conseguiu atrair para si a atenção da classe, comece a explanação. Se esta explicação for construída sobre um entrelaçamento de raciocínio, alerte-os, antes de iniciar, para que não façam perguntas até você terminar, não desestruturando assim, a seqüência lógica em construção. Logo após a explicação abra espaço para perguntas e comentários. Desta forma, você terá uma classe interessada e participativa. Ainda hoje, há casos em que o desinteresse é rotulado como falta de respeito. É mais fácil atribuir a culpa ao outro do que a nós mesmos.

Será mais conveniente você combinar certos tipos de procedimento e ter um desenvolvimento tranqüilo na classe do que ficar tropeçando no próprio pé em razão de não ter estabelecido regras de comportamento. E o que não foi combinado, não será cumprido e não poderá ser cobrado.

Uma aula dialógica não existe somente porque eu permito que os alunos façam perguntas. Aula dialógica é aquela em que eu induzo os alunos a questionarem e a opinarem sobre o tema. Ao professor caberá aguçar o interesse e o raciocínio do aluno. Desperte neles a dúvida que é o primeiro passo rumo ao conhecimento. Depois de esgotados todos os recursos, caberá ao professor a conclusão e o fechamento do pensamento.

Há quem diga que reproduzir uma aula é sinal de aprendizagem. Na verdade o que indica que houve aprendizagem não é a reprodução de uma aula e sim a produção do conhecimento. O aluno tem que fazer uma releitura do que o professor explicou e depois dar sua versão através do raciocínio. Assim sendo, precisamos desmistificar a versão de que o aluno que argumenta com o professor é um aluno mal educado ou um aluno que desacata o professor. Temos que desmistificar que o “saber” e a “verdade” são atributos somente do professor.

Adotando, o professor, estas posturas, terá ele uma classe produtiva, motivada e participativa. A avaliação passará então a ser uma conseqüência natural da aprendizagem, sem temores e sem traumas. O professor também perderá o hábito de usar a avaliação como um instrumento de poder, ou seja, não usará mais a prova como uma arma para conseguir a disciplina coercitiva, profetizando, concomitantemente, que os alunos terão dificuldades.

Se conseguirmos manter a sintonia e a harmonia entre o professor e os alunos, com certeza, teremos um índice maior de aproveitamento, de interesse e conseqüentemente de aprendizagem.

Então, arregacemos as mangas e caminhemos rumo ao prazer de aprender ligado ao prazer de ensinar.

Fonte:
http://www.duplipensar.net/artigos/2006-Q3/resgatando-o-prazer-de-aprender.html

Publicado em 11.08.2006

AACILUS - Biblioteca Digital em Literatura Portuguesa e Brasileira

A AACILUS, em cumprimento a um dos eixos do projecto com o ACIDI em 2007, no ano de 2008, continuará a divulgar a criação de uma BIBLIOTECA DIGITAL (disponível neste site [http://www.aacilus.org/?q=node/99]na coluna direita, no bloco inferior, cujo o título é BUSQUE SUA OBRA PREFERIDA, LITERATURA PORTUGUESA E BRASILEIRA), com um acervo inicial de 100 livros, e em permanente crescimento, encontra-se disponível para consulta e empréstimos. Além disso, estamos inserindo um site de busca, DOMÍNIO PÚBLICO, por orientação do Ministério de educação brasileiro - MEC, onde se pode consultar e fazer downloads de uma série de obras da Literatura Brasileira e Portuguesa, ou seja, trata-se de uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre , sendo um lugar onde você pode acessar gratuitamente, veja mais a seguir:

· As grandes pinturas de Leonardo da Vinci ;
· Escutar músicas em MP3 de alta qualidade;
· Ler obras de Fernando Pessoa, Machado de Assis ou a Divina Comédia;
· Ter acesso às melhores historinhas infantis e vídeos da TV ESCOLA
· 732 obras só de literatura portuguesa


Fonte:
Douglas Lara. In
http://www.sorocaba.com.br/acontece

domingo, 15 de junho de 2008

Jane Austen (1775 - 1817)

A Europa do século XVIII passa por importantes mudanças políticas e econômicas. Os tratados de Utrecht (1713-1715) encerram o período da preponderância francesa, que passa a ser britânica. O absolutismo triunfa até meados desse século em boa parte do continente, onde ocorrem diversos conflitos: a guerra da Tríplice Aliança, a guerra da sucessão da Áustria, a guerra dos Sete Anos e outros.

As rivalidades coloniais entre França e Inglaterra pesam muito nas relações entre esses países. Na Índia os britânicos suplantam definitivamente a influência francesa no decorrer da guerra dos Sete Anos.

A partir de 1760 tem início na Inglaterra a Revolução Industrial. A invenção da máquina a vapor é decisiva para a aceleração da série de transformações tecnológicas, econômicas e sociais que só depois de muitas décadas se estenderiam ao continente.

O impacto causado na Europa pela Revolução Francesa em 1789, é tão profundo e marcante que a partir daí tem início outra época, tradicionalmente denominada Idade Contemporânea.

A segunda metade do século XVIII passa a ser denominada Século das Luzes, em virtude do predomínio gradual das idéias de tolerância religiosa e reforma política e social que asseguram maior liberdade individual.

É nesse período de ebulição política na Europa que nasce Jane Austen, em 16 de dezembro de 1775, no presbitério de Steventon Parish, em Hampshire, zona rural da Inglaterra, no reinado de Jorge III.
Jane é a segunda filha e a penúltima dos oito filhos do reverendo George Austen e sua esposa Cassandra Leigh Austen, pertencentes a uma família tradicional e numerosa. Jane recebe em casa a maior parte de sua instrução.

Tem uma infância feliz em meio aos irmãos e a outros garotos, que se hospedam na casa e dos quais o reverendo George é tutor. Amantes do romance e da poesia, para se divertir as crianças escrevem e inventam jogos e charadas, e mesmo sendo uma garotinha, Jane é incentivada a escrever. Desde cedo revela sua inclinação para as letras, ao escrever bilhetes para parentes e amigos em uma época em que escrever cartas é uma espécie de modismo. A leitura pelas crianças de livros da extensa biblioteca do reverendo George fornece material para que escrevam pequenas peças teatrais, que elas próprias representam.

Em 1784, quando seus pais decidem enviar Cassandra – a inseparável irmã mais velha, então com dez anos – para uma escola em Oxford, Jane implora para ser levada junto, no que é atendida. Elas ficam sob os cuidados de uma preceptora; contudo, sem recursos para manter as meninas estudando fora, o pai traz as filhas de volta para casa três anos depois. Jane nunca mais se separaria da família.

Em 1790, com catorze anos de idade, Jane escreve seu primeiro romance, Amor e Amizade, sob a forma epistolar – estilo que nunca seria inteiramente dominado pela escritora. Essa e outras obras escritas anonimamente na adolescência, além de uma coleção de cartas, comporiam os três volumes da coletânea Juvenilia

A vida de Jane Austen até então não é marcada por grandes acontecimentos; nada ocorre que possa perturbar sua existência. Contudo, apesar de tão pouca vivência, do restrito convívio social e de morar sempre em pequenas cidades do interior da Inglaterra, a escritora possui uma visão extraordinariamente cosmopolita.

Transforma-se em uma notável cronista da sociedade inglesa da época, que, ao contrário do que se poderia supor, não é uma sociedade rural típica inglesa, estável, conservadora, e sim uma sociedade burguesa, um mundo fluido e arbitrário em que algumas famílias nadam em dinheiro novo, enquanto outras lutam para manter o pouco que possuem.

Com percepção aguda dos fatos e estilo pacífico, sereno e equilibrado, Jane consegue construir em seus romances uma descrição minuciosa do ambiente a que pertence com uma sutil ironia. Seus primeiros escritos contêm imagens anárquicas e de violência em abundância, e por ser filha de um eclesiástico do século XVIII, isso revela uma ousadia incomum.

O romance Lady Susan, escrito na adolescência, em 1792, é inspirado em As Relações Perigosas, de Choderlos de Laclos, um livro que seria proibido para uma senhorita da pequena burguesia, educada nos rigores do puritanismo. É possível que os pais de Jane não lhe censurem as leituras, pois seu trabalho literário também recebe influência de Sis Charles Dickinson, escrito por Samuel Richardson, e de Tom Jones, de Henry Fielding, livros igualmente considerados escandalosos na época.

A criação aristocrática também aflora na temática dos romances de Jane Austen, sobretudo na caracterização psicológica de suas personagens femininas, verdadeiras heroínas burguesas, cuja preocupação máxima é conseguir um bom casamento. Sem dúvida a principal diferença entre Jane Austen e suas heroínas sensuais é que, no caso destas, não só suas percepções e critérios são importantes como também em geral têm a oportunidade de escolher o próprio destino.
Ainda em 1792, Jane escreve Kitty ou o Caramanchão, e entre 1795 e 1798 Elinor e Marianne, romance epistolar que serviria de base para Razão e Sensibilidade e A Abadia de Northanger, que parodia os livros de terror, muito populares à época, mas que só seria publicado postumamente, e Orgulho e Preconceito.

Em 1795, no final da adolescência, Jane se apaixona por um irlandês encantador chamado Thomas Lefroy, mas o romance não se concretiza e termina no ano seguinte. Essa desilusão amorosa sem dúvida desencadeia em Jane os mesmos sentimentos de vulnerabilidade e de um relativo abandono que marcam sua infância, quando a mãe a deixara juntamente com a irmã Cassandra Elizabeth aos cuidados de uma preceptora em Oxford.

Em 1801, aos 26 anos, muda-se com os pais e Cassandra, para Bath. Após a morte do irmão George, deficiente mental, do pai, em 1805, e da cunhada, que deixa órfãos os onze filhos de seu irmão Edward, ela passa por um período de depressão, durante o qual escreve muito pouco.

Em março de 1807 Jane, Cassandra e a mãe mudam-se para Castle Square, Southampton. Passam a morar com seu irmão Frank, um capitão naval e sua esposa.

Em 1809 as três mulheres transferem-se para uma pequena mas confortável casa cedida pelo próspero irmão Edward em Chawton, próximo a Winchester, no sul da Inglaterra. Jane retoma a atividade literária e começa a preparar a versão final de Razão e Sensibilidade e de Orgulho e Preconceito.

Em 1811, então com 36 anos, publica Razão e Sensibilidade e começa a escrever Mansfield Park, que seria publicado em 1814, ano em que começa a escrever Emma, obra dedicada ao príncipe regente, futuro George IV, e publicada no ano seguinte..

No início de 1817 Jane começa a escrever outro romance, Sanditon, mas poucos meses depois adoece, vitimada por uma complicação pulmonar, e vê-se obrigada a ir para Winchester para se tratar. Porém, fica paralítica e morre em 18 de julho, aos 41 anos de idade. Cassandra está ao seu lado. Uma semana depois é sepultada na catedral da cidade, sem a presença da irmã, já que nessa época mulheres não assistem a funerais.

Além de A Abadia de Northanger, outras obras publicadas após sua morte são Persuasão e Lady Susan, com um prefácio biográfico escrito por Henry, seu irmão predileto. As obras The Watson e Sanditon também são póstumas, mas são trabalhos concluídos.

A linguagem pura e simples, o tom humorístico, sarcástico, a agudeza de espírito e os sempre atuais temas de amor e casamento garantem a imortal popularidade de Jane Austen, cujos romances são frequentemente reproduzidos com sucesso nas telas de cinema.

Ao longo dos séculos, biógrafos e críticos têm se perguntado como a tímida e reservada filha de um clérigo protestante do interior da Inglaterra viria a produzir livros tão sofisticados; como uma mulher de temperamento doce, morta aos 41 anos de idade, solteira e com pouco convívio social, se converteria em autora de romances tão irônicos e profundamente modernos, que não se enquadram em nenhum dos padrões literários característicos de sua época.

Fonte:
http://www.sociedadedigital.com.br/artigo.php?artigo=220&item=3

Jane Austen (Razão e Sensibilidade)

A história tem inicio com o falecimento do senhor Dashwood, que morava nas terras de seu tio que já era idoso e não tinha herdeiros. Assim sendo o senhor Dashwood e sua família herdou as terras após o falecimento do proprietário. Um ano após o ocorrido o senhor Dashwood também veio a falecer, herdando as terras, seu filho John, do primeiro matrimônio, contudo antes de falecer pediu a seu filho que em tempo algum desamparasse sua madrasta e suas irmãs, o que com o apoio de sua esposa, a senhora Fanny, não ocorreu. Obrigando a senhora Dashwood e suas filhas a procurarem uma nova moradia, a esse tempo sua filha mais velha, Elinor estava apaixonada por Edward Ferrars, irmão de sua cunhada, a senhora Fanny.

A senhora Dashwood mudou-se com suas filhas para Devonshire, foram morar nas terras de um parente distante, que as acolheu muito bem. Todas sentiram a mudança de ambiente, mas logo se familiarizaram com a nova vida. Tanto que Marianne, irmã de Elinor, logo provoca interesse no Coronel Brandon, um homem vivido, muito reservado, elegante e de gestos educados, de aproximadamente 35 anos. Porem Marianne o rejeita e, se apaixona por Willoughby de Allenham. O compromisso entre os dois é dado como certo até que Willoughby anuncia sua partida atendendo a uma ordem de sua tia, o que provoca em Marianne profunda tristeza e desilusão.

Coube às irmãs Elinor e Margaret, consolar Marianne, que durante um passeio acabaram por encontrar-se com Edward Ferrars, Marianne por um instante esqueceu sua tristeza e se alegrou com a felicidade de sua irmã Elinor. Marianne notou um anel com uma mecha de cabelo trançado a ele, e logo supôs que a mecha pertencia a sua irmã Elinor, Edward permaneceu na companhia da família Dashwood por uma semana e, partiu em seguida. Elinor procurou ocupar seu tempo para evitar o sofrimento que lhe afligia com a falta de Edward.

Em um baile, por convite de Lady Middleton, as irmãs Dashwood encontram-se com Willoughby, que ignorou a presença de Marianne, provocando constrangimento e sofrimento, Marianne, nada explicou. Elinor pediu a senhora Jennnings que parasse de espalhar boato de que sua irmã estava noiva de Willoughby, pois isso a estava prejudicando. Marianne recebeu uma carta onde Willoughby lhe pedia desculpas pelo seu comportamento no baile e desfez toda e qualquer ilusão de Marianne não sentido de que ele não tinha compromisso algum com ela, e lhe pediu desculpas se assim a fez pensar.

Elinor considerou a atitude da irmã como imprópria e inaceitável. Marianne havia fantasiado um relacionamento que somente existia em sua cabeça sonhadora. O Coronel Brandon revelou a Elinor que Willoughby era um canalha e havia engravidado e abandonado sua filha de criação, Elinor ficou indignada, e contou tudo a Marianne, que ficou chocada, a partir daí, Marianne não mais evitou a presença do Coronel Brandon. As irmãs Steele chegaram a Londres e Lucy foi hostil com Elinor, ao encontra-la ainda em Londres.

O Coronel Brandon se propôs a ajudar Edward e pediu a Elinor para transmitir a oferta. O que foi feito. Viajaram para Cleveland, e lá Marianne ficou enferma, o Coronel ficou muito apreensivo com a saúde de Marianne, e permaneceu com ela até que melhorasse. Com a noticia da eminente morte de Marianne, Willoughby, foi ao encontro desta para se explicar e pedir perdão por todo o sofrimento que lhe causara, foi recebido rispidamente por Elinor, que lhe ouviu pedir perdão pelo sofrimento causado a Marianne, Elinor disse que transmitiria oportunamente o recado, mas frisou bem que nada do que foi dito justificava sua atitude.
Por fim, Marianne se afeiçoa ao Coronel Brandon, casaram-se, e eram o retrato da felicidade. Lucy Steele fugiu com Robert Ferrars, logo depois que ele tomou posse da propriedade que sua mãe lhe deu, quando da deserção de Edward.

Edward pediu Elinor em casamento, o que foi prontamente aceito e comemorado; posteriormente fez as pazes com sua mãe, a senhora Ferrars, e tomou posse de sua parte na herança, o que proporcionou uma vida confortável a sua nova família.

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_2806.html

Jane Austen (Orgulho e Preconceito)

Pela primeira vez publicado em 1813, Orgulho e Preconceito tem sido consistentemente o romance mais popular de Jane Austen. A obra, retrata a vida pacata em uma sociedade rural daqueles dias; e contasobre osiniciais desentendimentos e mais tarde mútua compreensão entre Elizabeth Bennet (cuja vitalidade e humor tem geralmente atraído leitores) e a arrogante Darcy.

O título Orgulho e Preconceito se refere (entre outras coisas) à maneira em que Elizabeth e Darcy se viram pela primeira vez. A versão original do romance, entitulado Primeiras Impressões ,foi escrita em 1796-1797 e provavelmente num formato de troca de cartas. A opinião brincalhona de Jane Austen sobre o próprio trabalho dela, em uma carta à sua irmã Cassandra logo após a publicação, foi: "No todo...Eu estou bem satisfeita ...O trabalho é leve e brilhante; e resplandecente; ele quer (precisa) de forma; ele quer ser alongado aqui e ali com um longo e sensato capítulo, se isso pudesse ser conseguido, se não, de solenes enganosos desvarios, sobre algo desconectado com a estória: um ensaio de escrita, uma crítica sobre Walter Scott, ou a história de Buonaparté, ou algo que formasse um contraste echamasse o leitor (comcrescente deleite) para a diversão e geral paradoxo do estilo geral."

Orgulho e Preconceito pertence ao gênero comédia-romântica e é o mais famoso romance de Jane Austen; e sua introdução é uma das mais famosas linhas da literatura Inglesa---éuma conhecida verdade universal, que um homem solteiro em posse de uma grande fortuna, deve estar querendo uma esposa. Seu manuscrito foi primeiro escrito entre 1796 e 1797 e foi inicialmente chamado Primeiras Impressões, apesar de nunca ter sido publicado com este título.

Após revisado, foi publicado em 28 de janeiro de 1813 pela mesmo Sr. Egerton da Biblioteca Militar, Whitehall,que apresentou Razão e Sensibilidade. Assim como ambos seus predecessores e Northanger Abbey, foi escrito no Steventon, a estória traz o cortejo e casamento no meio dos possuidores de terra nos meados do século 19.

O principal personagem é Elizabeth Bennet, uma bela mulher de 20 anos, possuidora de uma mente ágil e ainda mais ágil língua. A amada irmã mais velha de Elizabeth, Jane, é mais gentil mas igualmente, se não mais, atrativa. Sr. Bennet é um excêntrico que passa a maior parte de seu tempo se escondendo em seus estudos (um refúgio por sua esposa irritante), e o resto de seu tempo fazendo sarcásticos comentários desmerecendo sua família. Uma outra irmã, Mary, é uma pregadora sem-graça, apaixonada por livros, enquanto as outras, Kitty e Lydia, são descuidadas e paqueradoras adolescentes, atraídas por homens de uniforme.Enquanto isso, a queixosa Sra. Bennet está desesperadamente determinada a assegurar bons partidos para as suas 5 filhas, enquanto tenta manter seus nervos em controle.

O estado modesto da família Bennet em Hertfordshire se deve à falta de seus homens---o que significa que um primo, Sr Collins, irá herdar todo o patrimônio com a morte do Sr. Bennet, deixando a Sra Bennet e cada uma das suas não casadas filhas, sem casa e deixadas à viver com uma pequena e insuficiente renda.

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_63.html

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen

por Fabio Silvestre Cardoso

Há alguns anos, foi relançada uma coletânea de obras clássicas da literatura universal. Cada livro da coleção custava exatos R$9,90 e tinha como objetivo difundir e incentivar não só a leitura, mas também a literatura – utilizando, como referência, livros de autores consagrados da literatura nacional e estrangeira. Entre os autores dessa coleção estava a escritora inglesa Jane Austen, com a obra Razão e Sensibilidade. À época, por algum motivo, não me interessei nem pelo livro, nem pela autora. E, apesar de ter um grande apreço pela literatura inglesa (Charles Dickens, P.G. Wodehouse, Jonathan Coe), jamais entrei em contato com a literatura de Jane Austen. O meu tempo de despertar aconteceu enquanto lia Desejo de Status, de Alain de Botton.

Na verdade, Botton mencionou a obra de Austen como exemplo para uma de suas teorias justamente quando tratava da forma em que determinados grupos se relacionam, um procurando ter status mais privilegiado que o outro, sempre de acordo com critérios pernósticos, superficiais e prosaicos. Nesse sentido, a literatura da escritora inglesa não poderia ter sido utilizada como melhor exemplo. Em outras palavras, é correto afirmar que, a despeito de não ter sido compreendida em seu tempo, Jane Austen foi quem mais habilmente soube decifrar os sentimentos, os desejos e as ansiedades dos grupos que viviam às voltas com a fogueira das vaidades e da ambição. Tratado de sociologia? Dissertação de Mestrado? Nada disso. Romance inglês, com ironia e sublime elegância.

Antes dos adjetivos, o substantivo. A história de Orgulho e preconceito (Record, 2006, 430 págs.) se passa no século XVIII, na Inglaterra, e trata da trajetória de uma família, a um só tempo, comum e bastante peculiar. Comum porque na residência dos Bennet havia cinco moças que foram criadas com o único propósito de se casar. Peculiar porque essas cinco moças tinham outros atributos além da beleza, dentre os quais cabe destacar a inteligência e a argúcia para enxergar e compreender o caráter para além das palavras e do rígido código de cordialidade que os bons costumes estimavam na época. Cria-se um certo clima de expectativa quando a família Bennet, encabeçada pela matriarca, descobre que dois ricos e saudáveis rapazes (mr. Bingley e mr. Darcy) aparecem na região de Longburn, onde a família Bennet reside. Uma recepção logo é preparada e todas as irmãs, ávidas por um casamento (algumas mais do que outras, é verdade), comparecem. A intriga acontece justamente porque um dos rapazes, mr. Darcy, se mostra por demais orgulhoso para o gosto da família Bennet. E muito embora mr. Bingley caia nas graças dos Bennet, suas irmãs não apreciam tanto o seu interesse na bela Janet Bennet.

Se o plot é aparentemente banal – afinal, relacionamentos sempre são permeados por intrigas, disputas e ciúmes – o que merece destaque no romance de Jane Austen é o fato de a autora conseguir contar essa história sem jamais descer o degrau da leveza. Há um tom delicado em sua narrativa que, se lido de outra forma, pode ser considerado arrogante e elitista. Trata-se, na verdade, de uma leitura equivocada, visto que a escritora propõe uma narração sóbria e bastante detalhada para que o leitor possa entender com argúcia o que cada trecho, cada gesto das personagens possa ser decifrada.

É interessante observar, aliás, como esse viés de leitura em muito se assemelha com a história de Orgulho e Preconceito. Isso porque, assim como uma interpretação do estilo de Jane Austen pode fazer com que alguém pense ser arrogância a simples utilização de um estilo mais refinado, no romance, as personagens também se impressionam com a aparência e com o gênio aparentemente indomável de determinadas personas naquele círculo social. É o que acontece, por exemplo, com mr. Darcy, cujas atitudes fazem com que Elizabeth Bennet crie uma espécie de redoma sempre que tem de se dirigir a ele. Do mesmo modo, o próprio mr. Darcy começa a se sentir atraído pelo comportamento espirituoso e não menos contundente dessa Elizabeth. E o que era rejeição, pouco a pouco, passa a ser atração.

Certamente, alguém dirá que é mais uma prova de que os opostos se atraem. Ou de que ninguém comanda o coração, nem mesmo a razão. Frases que se possuem algum sentido também são eivadas de um embasamento raso e mundano, o que definitivamente é rejeitado e criticado na obra de Jane Austen. Basta ver como a autora, a partir de suas personagens, ironiza a frivolidade e a fraqueza de caráter das pessoas. Nesse ponto, também é correto afirmar que o romance é uma crítica de costumes do seu tempo, uma vez que, pela imitação, chega a satirizar determinados tipos, como o do mr. Collins. Uma pessoa cujo único fim é atingir um status elevado na sociedade, descartando a importância de ter uma opinião mais profunda acerca do mundo que o cerca. Para Collins, o que vale são as aparências e a todo o momento ele quer aparecer como algo que, de fato, não é.

Nesse embate constante entre ver e ser visto, a autora resolve com propriedade a relação existente entre o orgulho e o preconceito. É o que se lê no trecho a seguir: "A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho se relaciona mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós". Não consigo imaginar explicação tão sucinta ou mais exata.

O relançamento de Orgulho e Preconceito aconteceu, coincidentemente ou não, no mesmo ano em que um filme baseado no romance de Jane Austen ganhou as telas do mundo todo, chegando até mesmo a concorrer a algumas estatuetas do Oscar. Não cabe aqui desmerecer o filme, dizendo que o livro é “certamente melhor do que sua adaptação”. Entretanto, não há dúvidas de que a obra da escritora inglesa possui refinamento e que proporciona um raro deleite aos amantes da literatura. Um livro para quem deseja ir além da aparência, dos clichês, sem qualquer preconceito.

Fonte:
http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=1910

Rodamundinho 2008

No dia 24 de julho durante a Semana do Escritor de Sorocaba será lançado o Rodamundinho 2008.

O Rodamundinho 2008 é um projeto do escritor Douglas Lara e do editor Mylton Ottoni, tem o apoio do suplemento infanto-juvenil Cruzeirinho do jornal Cruzeiro do Sul, do Gabinete Sorocabano de Leitura e da Fundec - Fundação de Desenvolvimento Cultural.

A obra é publicada em sistema de cooperativa, reunindo escritores brasileiros e também de diversos países. Experientes ou não, participam pessoas de diferentes áreas e também pessoas que querem publicar os seus primeiros textos em um livro.

O Rodamundinho 2008 é uma coletânea infanto-juvenil que reune 25 autores (textos de crianças e adolescentes) de até 15 anos de idade. Será uma antologia (seleção de textos) reunindo poesias, contos e crônicas com o objetivo de estimular a leitura e a escrita aos jovens sem que eles precisem pagar nada por isso. Cada autor tem quatro páginas para mostrar seu talento que será publicado num belíssimo livro de 100 páginas.

Confira os nomes dos 25 participantes do livro:
André Borges Dias, André Felipe Camargo Bruni, Beatriz Rodrigues Soares, Beatriz Silvério da Rocha, Bianca Marques Milanda, Carolina Arakaki de Camargo, Felipe Giacomin, Isabela Rodrigues Rigo, Jaqueline Andressa Oliveira Manão, José Estevão Pinto de Oliveira, Joyce Souza da Conceição, Júlia Mira dos Santos, Juliana Guimarães Terse, Katherine Martins de Oliveira, Laís Castro Franco de Almeida, Larissa da Silva Vendrami, Laura de Oliveira Marchetti, Laura Mattucci Tardelli, Lucas Geraldo de Milanda Miranda, Luiz Alberto Braga Stopa, Maria Giulia Jacção Alves, Matheus Dantas, Rafaela Moreno Lopes Benevides, Roberta Rodrigues Giudice e Verônica Rodrigues S. Lima.

Fontes:
http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=31&id=80511
http://www.leialivro.sp.gov.br/texto.php?uid=17920
http://www.sorocaba.com.br/acontece

Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras

ABL anuncia vencedor do Prêmio Machado de Assis 2008.

O romancista mineiro Autran Dourado é o vencedor do Prêmio Machado de Assis 2008 da Academia Brasileira de Letras.

A instituição também anunciou os ganhadores dos outros prêmios deste ano, como o ABL de Ficção, ABL de Poesia, ABL de Tradução, ABL de Literatura Infanto-Juvenil e o Prêmio Francisco Alves. Este último é conferido uma vez a cada cinco anos e atribuído a uma personalidade que se destaque no campo da Educação ou da Língua Portuguesa.

Os prêmios ABL de Cinema, ABL de História e Ciências Sociais e ABL de Ensaio foram anunciados na sessão da quinta-feira, dia 12/6.

A solenidade de entrega vai acontecer no Petit Trianon, dia 17 de julho, quando a Academia comemora 111 anos de fundação.

Vencedores de 2008

1) PRÊMIO MACHADO DE ASSIS
Autran Dourado

2) PRÊMIO ABL DE POESIA
Izacyl Guimarães Ferreira - "Discurso urbano"

3) PRÊMIO ABL DE FICÇÃO, ROMANCE, TEATRO E CONTO
José Alcides Pinto - "Tempo dos mortos"

4) PRÊMIO ABL DE LITERATURA INFANTO-JUVENIL
Daniel Munduruku - "O olho bom do menino"

5) PRÊMIO ABL DE TRADUÇÃO
Agenor Soares dos Santos
Leonardo Fróes

6) PRÊMIO FRANCISCO ALVES
Paulo Nathanael Pereira de Souza
Carlos Eduardo Falcão Uchôa

Fonte:
Academia Brasileira de Letras
http://www.academia.org.br/

Oficina Poética na Escola do Escritor (SP)

OFICINA POÉTICA: UMA FORMA LIVRE DE SE EXPRESSAR E ESCREVER.

É um curso sobre poesia e sobre o fazer poético. Depois de uma reflexão sobre os conceitos e definições de Poética, respeitando as interpretações subjetivas das pessoas, levantam-se as principais dificuldades para ler poesia como à insensibilidade para compreender as figuras de linguagem.

Mostra-se que em toda lírica há um substrato social e que a poesia deleita e dá alegria profunda. As principais temáticas da poesia universal como autoconhecimento, natureza, cotidiano, infância, amor, morte e a própria poesia são exemplificadas num painel significativo de poetas e poemas inspiradores.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
-Conceitos fundamentais de Poesia
-Das dificuldades em ler poesia
-Poesia? Para quê?
-Do fazer poético
-Painel de poetas, leituras e análises de poemas de Carlos Drummond de Andrade,
Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Cora Coralina, João Cabral de Melo Neto, Adélia
Prado, entre outros.
-Produções livres

Docente: Raquel Naveira: escritora sul- mato-grossense, radicada em São Paulo, autora de diversos livros de poemas e ensaios como: Abadia, Casa e Castelo, Portão de Ferro e Literatura e Drogas- e outros ensaios. Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP e Doutoranda em Literatura Portuguesa pela USP. Membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e do PEN Clube do Rio de Janeiro.

Dias: 17 e 18 de julho de 2008
Horário: das 14h às 17h30
30 vagas
Preço Único: R$ 150,00

Sala de aulas:
Rua Mourato Coelho, 3 93 - conjunto 1 - (esquina com Teodoro Sampaio),
Bairro de Pinheiros, São Paulo, SP

Estacionamentos: em frente no Pão de Açúcar ou na Rua Fradique Coutinho, 492 (ao lado do Correio).

Escola do Escritor
escoladoescritor@escoladoescritor.com.br
http://www.escoladoescritor.com.br/
Telefone: (11) 3034-2981

Fonte:
http://www.escoladoescritor.com.br/

Literatura fantástica em Debate

13/06/2008, no sábado, a Livraria Cultura apresentou uma mesa-redonda que teve como tema a literatura de gênero chamada de Fantasia. No encontro, a presença de escritores e editores do gênero, debatidos temas como o que é fantasia; existe uma literatura de fantasia brasileira?; mercado editorial - o que é lançado no Brasil e o que é lançado no exterior - escolhas e tendências; influência de Tolkien no Brasil; novas tendências como o ''New Weird Fiction'' e a influência de escritores como Neil Gaiman, Terry Pratchett, George R. R. Martin e China Miéville.

Sobre os palestrantes:
* Ana Cristina Rodrigues é historiadora e escritora. Presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica, modera diversas comunidades virtuais sobre Ficção Especulativa. Já publicou em diversos sites brasileiros e argentinos, tem um conto na antologia argentina ''Grageas'' e, atualmente, escreve um romance de fantasia inspirado no Renascimento e nas navegações portuguesas.

* Cláudio Villa é escritor e redator, autor do romance de fantasia ''Pelo sangue e pela fé''. Há três anos mantém o blog ''Mundos de Mirr'', em que relata suas experiências, dificuldades e realizações como escritor iniciante no Brasil.

* Gianpaolo Celli é formado em Administração de empresas, editor da Tarja Editorial, escritor e estudioso de ocultismo e esoterismo. Antes de se voltar à literatura, trabalhou com quadrinhos e apresentou matérias e aventuras-solo de fantasia na revista ''Dragão Brasil''. Além de colunista de sites, é co-autor dos livros ''Necrópole - Histórias de vampiros'', ''Necrópole - Histórias de fantasmas'', ''Visões de São Paulo - Ensaios urbanos'' e dos ainda não publicados ''Histórias do tarô'' e ''Necrópole - Histórias de bruxaria''.

* Rogério de Campos foi criador e editor da revista ''Animal'', em 1987, uma das principais publicações da cultura alternativa brasileira dos anos 80. Trabalhou no caderno ''Ilustrada'' do jornal ''Folha de S. Paulo'' e nas revistas ''Bizz'' e ''Set''. Em 1993, fundou a Conrad Editora, lançando as revistas ''General'' e ''Herói'' e foi o responsável pela introdução dos mangás no mercado editorial brasileiro. Em 1989, recebeu o Prêmio HQ MIX de Melhor Editor.

* Silvio Alexandre criou e dirigiu várias coleções de literatura fantástica como a coleção Zenith e a coleção Star Trek, da editora Aleph, além do selo Unicórnio Azul, da editora Mercuryo. Foi editor executivo da Devir Livraria, especializada em livros de RPG, fantasia, ficção científica, horror e quadrinhos. Foi gerente de marketing da Conrad Editora e da Pixel Media, empresas especializadas em quadrinhos. É organizador do ''Fantasticon - Simpósio de Literatura Fantástica'' e dos Festivais de Quadrinhos da Fnac, em São Paulo, Brasília e Curitiba.

* Delfin é coordenador editorial da Editora Aleph e jornalista cultural, especializado no segmento de histórias em quadrinhos. É colaborador da ''Rolling Stone'', ''Globo Online'', ''Overmundo'', ''Universo HQ'', ''Wish Report'' e ''Paralelos''. Também já escreveu sobre o assunto para o jornal ''Correio Popular'', as revistas Semana 3 e Zero. Acumula ainda a função de diretor de arte da Mojo Books. É autor de dois livros, lançados pela cooperativa de autores Edições K: ''Kreuzwelträtsel Redux'' e ''Se eu tivesse um machado''.

* Baseado em profunda pesquisa histórica, Orlando Paes Filho estreou na literatura com o sucesso ''Angus - O primeiro guerreiro''. A série, composta de sete volumes, atravessou fronteiras, entrando nas listas dos livros mais vendidos na China, Rússia, Taiwan, Austrália, Grécia, Coréia e países da América Latina, e terá lançamento em 2008 em mais de trinta países. Em 2006, lançou o ''Diário de um cavaleiro templário'', obra que obteve elogios de renomados historiadores. Além disso, o autor participa anualmente, como expositor, da maior feira internacional de livros, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt, na Alemanha, divulgando sua obra, sendo o único autor-expositor do evento.

Fonte:
http://www.literaturalivre.com.br/

sábado, 14 de junho de 2008

Ariano Suassuna (Auto da Compadecida)

Introdução – O Autor

Ariano Suassuna, professor da Universidade Federal de Pernambuco, e responsável por um dos mais importantes grupamentos musicais do Brasil – Armorial -,é natural da Paraíba, onde nasceu em 1927. Jornalista, escritor, crítico teatral, membro do Conselho Federal de Cultura (1968-1972), Bacharelou-se em Direito, em 1950. Escreveu diversas peças teatrais, e concluiu o Auto da Compadecida em 1955. A peça foi representada no Primeiro Festival de Amadores acionais em 1957, no Rio de Janeiro, tendo sido premiada. Com isso ganhou curso nos grandes centros teatrais do sul do País.

O AUTO DA COMPADECIDA E O ESTILO DE ÉPOCA

O teatro, isto é, o texto teatral é uma forma cultural, diferente de outras formas culturais que têm no texto seu veículo de comunicação. Uma peça teatral, portanto, não é a mesma coisa que um romance, um conto ou um poema, esses últimos indicativos de outra forma cultural, a Literatura.

Em linhas gerais, o teatro recebe um impacto muito maior dos condicionamentos de um dado momento histórico, do que, por outro lado, recebe a literatura. Esses impactos se refletem na temática, no tratamento do assunto, nas técnicas propriamente teatrais (cenarização, cenografia, ritmo, iluminação, etc.). Por outro lado, uma peça teatral pode descobrir motivos de criação em outras modalidades, essas que podem ou não interessar à Literatura.

Uma tragédia de Ésquilo, concebida nos elementos estruturais da cultura grega clássica, pode adquirir uma roupagem interpretativa moderna, e, como representação de um texto, ser perfeitamente assimilável pelo público contemporâneo, tornando-se com isso uma peça moderna.
O grande dramaturgo brasileiro, Guilherme de Figueiredo, compôs uma série de textos do teatro moderno brasileiro, que consistem na imposição de uma nova “roupagem” a determinados temas da cultura grega clássica.

Em resumo, quando tentamos verificar a que estilo de época se liga um texto teatral, deveremos fazê-lo, não em função de critérios válidos para a Literatura, mas em função de critérios possíveis para a história do teatro.

Nesse sentido, verificamos que Auto da Compadecida apresenta os seguintes elementos que permitem a identificação de sua participação num determinado estilo de época da evolução cultural brasileira:

1- O texto propõe-se como um auto. Dentro da tradição da cultura de língua portuguesa, o auto é uma modalidade do teatro medieval, cujo assunto é basicamente religioso. Assim o entendeu Paula Vicente, filha de Gil Vicente, quando publicou os textos de seu pai, no século XVI, ordenando-os principalmente em termos de autos e farsas.

Essa proposta conduz a que a primeira intenção do texto está em moldá-lo dentro de um enquadramento do teatro medieval português, ou mais precisamente dentro das perspectivas do teatro de Gil de Vicente, que realizou o ideal do teatro medieval um século mais tarde, isso no século XVI, portanto, em plano Quinhentismo (estilo de época).

2- O texto propõe-se como resultado de uma pesquisa sobre a tradição oral dos romanceiros e narrativas nordestinas, fixados ou não em termos de literatura de cordel. Propõe, portanto, um enfoque regionalista ou, pelo menos, organiza um acervo regional com vistas a uma comunicação estética mais trabalhada.

3- A síntese de um modelo medieval com um modelo regional resulta, na peça, como concebida pelo autor. Se verificarmos que as tendências mais importantes do Modernismo definem-se no esforço por uma síntese nacional dos processos estáticos, poderemos concluir que o texto do Auto da Compadecida se insere nas preocupações gerais desse estilo de época, deflagrado a partir de 1922, com a Semana de Arte Moderna, em São Paulo. Um modelo característico dessa síntese se encontra em Macunaíma, de Mário de Andrade, de 1927, e em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (1956), entre outros.

O Estilo do Autor

Entende-se por estilo do autor a modalidade de manipulação criadora através da qual o escritor cria sua obra. O estilo do autor, portanto, é a linguagem através da qual o texto alcança sua forma final e definitiva.

Quando se faz a interpretação de uma peça teatral, o estilo do autor deve ser analisado dentro de uma perspectiva totalmente diferente daquela que adotaríamos para a interpretação do romance, do conto, da novela, do poemas – da Literatura, enfim.

Isso acontece porque a concepção do texto teatral baseia-se na finalidade do mesmo: a representação por atores. Já o texto literário é concebido para ser lido e meditado pelo leitor, assumindo, portanto, outra feição.

Feita essa observação, vamos reparar que Ariano Suassuna procura definir a forma final de seu texto através dos seguintes elementos:

1- O Autor não propõe, nas indicações que servem de base para a representação, nenhuma atitude de linguagem oral que seja regionalista.

2- O Autor busca encontrar uma expressão uniforme para todas a personagens, na presunção de que a diferença entre os atores estabeleça a diferença nos chamados registros da fala.

3- A composição da linguagem é a mais próxima possível da oralização, isto, é, o texto serve de caminho para uma via oral de expressão.

4- Os únicos registros diferentes correm, como indicados no próprio texto, por conta:
a) do Bispo, “personagem medíocre, profundamente enfatuado” (p.72), como se nota nesta passagem:
Deixemos isso, passons, como dizem os franceses” (p.74).

b) de Manuel (Jesus Cristo) e da Compadecida (Nossa Senhora), figuras desataviadas, embora divinas, porque são concebidas como encarnadas em pessoas comuns, como o próprio João Grilo:
MANUEL: Foi isso mesmo, João. Esse é um dos meus nomes, mas você pode me chamar de Jesus, de Senhor, de Deus... Ele / isto é, o Encourado, o Diabo / `gosta de me chamar Manuel ou Emanuel, porque pensa pode persuadir de que sou somente homem. Mas você, se quiser, pode me chamar de Jesus. (p.147)
A COMPADECIDA: Não, João, por que iria eu me zangar? Aquele é o versinho que Canário Pardo escreveu para mim e que eu agradeço. Não deixa de ser uma oração, um invocação. Tem umas graças, mas isso até a torna alegre e foi coisa de que eu sempre gostei. Quem gosta de tristeza é o diabo (p.171).

5- Quatro denominações de personagens referem-se a determinados condicionamentos regionais: João Grilo, Severino do Aracaju, o Encourado (o Diabo) e Chicó. Quanto ao Encourado, o Autor dá a seguinte explicação:
Este é o diabo, que, segundo uma crença do sertão do Nordeste, é um homem muito moreno, que se veste como um vaqueiro. (p.140)

6- Na estrutura da peça, isto é, na forma final do texto é que se revela o estilo do Autor, concebido com o a linguagem através da qual ele cria e comunica sua mensagem fundamental.

A Estrutura do Auto da Compadecida

O estudo do Auto da Compadecida pode ser feito de dois ângulos que se completam:
a) a técnica de composição teatral
b) a estrutura propriamente dita, ou a forma final do texto.

1- TÉCNICA DE COMPOSIÇÃO.
Aqui faremos as seguintes observações:

A- A peça não se apresenta dividida em atos. Como o autor dá plena liberdade ao encenador e ao diretor para definirem o estilo da representação, convém anotar que são por ele sugeridos três atos, cuja divisão ou não por conta dos responsáveis pela encenação:
Aqui o espetáculo pode ser interrompido, a critério do ensaiador, marcando-se o fim do primeiro ato. E pode-se continuá-lo, com a entrada do Palhaço (p.71).
Se se montar a peça em três atos ou houver mudança de cenário, começará a aqui a cena do Julgamento, com o pano abrindo e os mortos despertando(p.137).

B- Do ponto de vista técnico, o Autor concebe a peça como uma representação dentro de outra representação.
/.../ o Autor gostaria de deixar claro que seu teatro é mais aproximado dos espetáculos de circo e da tradição popular do que do teatro moderno (p.22).

A representação dentro da representação caracteriza-se:
a) pela apresentação do Auto da Compadecida como parte de um espetáculo circense, espetáculo esse simbolizado no Palhaço, que faz a apresentação da peça e dos atores.
b) pela apresentação do Auto propriamente dito, com sua personagens.
Como a representação ocorre num circo, o Palhaço marca as situações técnicas e estabelece a ligação entre o circo e a representação no circo.

C- Ariano Suassuna dá plena liberdade ao diretor, no que respeita à definição do cenário, que poderá “apresentar uma entrada de igreja à direita, com um apequena balaustrada ao funda /../. Mas tudo isso fica a critério do ensaiador e do cenógrafo, que podem montar a peça com dois cenário /.../” (p.21).

D- Percebe-se, portanto, que a técnica de composição da peça segue uma linha simplista, solicitada pelo próprio Autor, o que faz residir a importância da mesma apenas na proposição dos diálogos e no decurso da ação conseqüente.

2- A ESTRUTURA propriamente dita, isto é, a forma final do texto é o elemento fundamental para a compreensão da peça.

A – Personagens. A peça apresenta quinze personagens de cena e uma personagem de ligação e comando do espetáculo.
PRINCIPAL: João Grilo
OUTRAS: Chicó, Padre João, Sacristão, Padeiro, Mulher do Padeiro, Bispo, Cangaceiro, o Encourado, Manuel, A Compadecida, Antônio Morais, Frade, Severino do Aracaju, Demônio.
LIGAÇÃO: Palhaço
As personagens são colocadas em primeiro lugar na análise da estrutura da peça porque ela assumem uma posição simbólica, e é desse simbolismo que deriva a importância do texto.
· João Grilo é a personagem principal porque atua como criador de tosa as situações da peça.
· As demais personagens compõem o quadro de cada situação.
· O Palhaço, representando o autor, liga o circo à representação do Auto da Compadecida.
Organizado o quadro desses personagens, vejamos agora as características de cada uma delas.

a) JOÃO GRILO. A dimensão de sua importância surge logo no início da peça quando as personagens são apresentadas ao público pelo Palhaço. Apenas duas personagens se dirigem ao público. Uma, a chamado do Palhaço, a atriz que vai representar a Compadecida, e João Grilo.
“PALHAÇO: Auto da Compadecia! Umas história altamente moral e um apelo à misericórdia.
JOÃO GRILO: Ele diz “à misericórdia”, porque sabe que, se fôssemos julgados pela justiça, toda a nação seria condenada” (p.24).
Mas a importância inequívoca de João Grilo na estrutura da peça define-se a partir do fato de que as situações do Auto da Compadecida são todas desenvolvidas por essa personagem:

1ª) a bênção do cachorro, e o expediente utilizado: o Major Antônio Morais. JOÃO GRILO: “Era o único jeito de o padre prometer que benzia. Tem medo da riqueza do major que se péla. Não viu a diferença? Antes era “ Que maluquice, que besteira!”, agora “Não veja mal nenhum em se abençoar as criatura de Deus!” (p.33).

2ª) a loucura do Padre João, como justifica para o Major Antônio Morais. JOÃO GRILO: /.../ “É que eu queria avisar para Vossa Senhoria não ficar espantado: o padre está meio doido”.(p.40). “Não sei, é a mania dele agora. Benzer tudo e chama a gente de cachorro”(p.41).

3ª) o testamento do cachorro. JOÃO GRILO:
Esse era um cachorro inteligente. Antes de morrer, olhava para a torre da igreja toda vez que o sino batia. Nesses últimos tempos, já doente para morrer, botava uns olhos bem compridos para os lados daqui, latindo na maior tristeza. Até que meu patrão entendeu, coma a minha patroa, é claro, que ele queria ser abençoada e morrer como cristão. Mas nem assim ele sossegou. Foi preciso que o patrão prometesse que vinha encomendar a benção e que, no caso de ele morrer, teria um enterro em latim. Que em troca do enterro acrescentaria no testamento dele dez contos de réis para o padre e três para o sacristão (p.63-64).

4ª) o gato que “descome dinheiro”. JOÃO GRILO: “Pois vou vender a ela, para tomar lugar do cachorro, um gato maravilhoso, eu descome dinheiro” (p.38). “Então tiro. (Passa a mão no traseiro do gato e tira uma prata de cinco tostões). Esta aí, cinco tostões que o gato lhe dá de presente”(p.96).

5ª) a gaita que fecha o corpo e ressuscita. JOÃO GRILO: “Mas cura. Essa gaita foi benzida por Padre Cícero, pouco antes de morrer” (p.122).

6ª) a “visita” ao Padre Cícero. JOÃO GRILO: “Seu cabra lhe dá um tiro de rifle, você vai visitá-lo. Então eu toco na gaita e você volta” (p.127).
Essa situação decorre da anterior, mas pode ser considerada com o independente.

7ª) o julgamento pelo Diabo (o Encourado). JOÃO GRILO: “Sai daí, pai da mentira! Sempre ouvi dizer que para se condenar uma pessoa ela tem de ser ouvida!”(p.144).

8ª) o apelo à misericórdia (À Virgem Maria). JOÃO GRILO: “Ah, isso é comigo. Vou fazer um chamado especial, em verso. Garanto que ela vem, querem ver?” (p.169).
Observemos agora a distribuição das personagens nas situações acima definidas, situações essas todas elas deflagradas por João Grilo, como já foi observado:

SITUAÇÃO/ PERSONAGENS/ CONTEÚDO DA SITUAÇÃO

1ª) João Grilo, Chicó, Padre João: a bênção do cachorro da mulher do padeiro.Expediente de João Grilo: o cachorro pertence ao Major Antônio Morais.

2ª) João Grilo, Chicó, Antônio Morais, Padre: chega o Major Antônio Morais.Expediente de João Grilo: o Padre João está maluco, benze a todos e chama todo mundo de cachorro.

3ª) João Grilo, Padre, Mulher, Padeiro, Chicó, Sacristão, Bispo: o testamento do cachorro morto.Expediente de João Grilo: o cachorro morto, encomendado em latim e tudo mais, deixa no seu testamento dinheiro para o Sacristão, para o Padre e para o Bispo.Fonte do dinheiro: o Padeiro e sua mulher.

4ª) João Grilo, Chicó, Mulher: a mulher do Padeiro lamenta a perda de seu cachorro.Expediente de João Grilo: arranja-lhe um gato que descome dinheiro. Vende-o e faz seu lucro.

5ª) João Grilo, Chicó, Bispo, Padre, Padeiro, Frade, Sacristão, Mulher, Severino (do Aracaju), Cangaceiro: o assalto do cangaceiro Severino do Aracaju.Expediente de João Grilo: a gaita que fecha o corpo e ressuscita. A bexiga cheia de sangue.Evento especial: todas as personagens morrem, inclusive João Grilo. Salva-se Chicó

6ª) Palhaço, João Grilo, Chicó. Todas as demais personagens: Demônio, o Encourado, Manuel: ressurreição no picadeiro do circo. O Julgamento pelo Demônio, pelo Encourado e por Manuel (Cristo).Expediente de João Grilo: forçar o julgamento, ouvindo os pecadores.

7ª) Todas as personagens de A Compadecida: condenação dos pecadores. Expediente de João Grilo: apelo à misericórdia da Virgem Maria.

Pela composição do quadro acima, nota-se que em todas as seqüências a presença de João Grilo é fundamental. Daí a afirmação de que a peça gira em torno dessa personagem, do ponto de vista estrutural.

Que é João Grilo?

a) João Grilo é uma figura típica do nordestino sabido, analfabeto e amarelo.
· Habituado a sobreviver e a viver a partir de expedientes, trabalha na padaria, vive em desconforto e a miséria é sua companheira.
· Sua fé nas artimanhas que cria, reflete, no fundo, uma forma de crença arraigada na proteção que recebe, embora sem saber, da Compadecida. É essa convicção que o salva. E ele recebe nova oportunidade de Manuel (Cristo), retornando- à vida e à companhia de Chicó. É uma oportunidade inusitada de ressurreição e retorno à existência. Caberá a ele provar que essa oportunidade foi ou não bem aproveitada.

b) CHICÓ. Companheiro constante de João Grilo e, especialmente, seu diálogo. Chicó envolve-se nos expedientes de João Grilo e é seu parceiro, mais por solidariedade do que por convicção íntima. Mas é um amigo leal.

c) PADRE JOÃO, O BISPO e o SACRISTÃO. Essas personagens, embora de atuação diversa, estão concentradas em torno de simonia e da cobiça, relacionada com a situação contida no testamento do cachorro.

d) ANTÔNIO MORAIS. É a autoridade decorrente do poder econômico, resquício do coronelismo nordestino, a quem se curvam a política, os sacerdotes e a gente miúda.

e) PADEIRO e sua MULHER. Encarnam, um lado, a exploração do homem pelo homem e, de outro, o adultério.

f) SEVERINO DO ARACAJU e o CANGACEIRO. Representam a crueldade sádica, e desempenham um papel importante na seqüência de número cinco, porque nessa seqüência matam e são mortos. Com isso propicia-se a ressurreição e o julgamento.

g) O ENCOURADO e o DEMÔNIO. Julgam, aguardando seu benefício, isto é, o aumento da clientela do inferno. É importante verificar que representam, de alguma forma, um instrumento da Justiça, encarnado em Manuel (O Cristo).

h) MANUEL. É o Cristo negro, justo e onisciente, encarnação do verbo e da lei. Atua como julgador final dos da prudência mundana, do preconceito, do falso testemunho, da velhacaria, da arrogância, da simonia, da preguiça. Personagem a personagem têm seu pecado definido e analisado, com sabedoria e com prudência.

i) A COMPADECIDA. É Nossa Senhora, invocada por João Grilo, o ser que lhe dará a Segunda oportunidade da vida. Funciona efetivamente como medianeira, plena de misericórdia, intervindo a favor de quem nela crê, João Grilo.

B- Estrato metafísico. Pela atuação das personagens, pelo sentido global que encima a peça, percebemos claramente que nela existe uma proposição metafísica, vinculada à Igreja Católica e à idéia da salvação.

Ao lado da significação global do texto, como estrutura, o Palhaço define essa proposição claramente.

O Palhaço realiza, nessa peça, o papel do Corifeu, no teatro clássico, e sua intervenção corresponde à parábase da comédia clássica – trecho fora do enredo dramático em que as idéias e as intenções ficam claramente expressas:

PALHAÇO: “Ao escrever esta peça, onde combate o mundanismo, praga de sua igreja, o autor quis ser representado por um palhaço, para indicar que sabe, mais do que ninguém, que sua lama é um velho catre, cheio de insensatez e de solércia. Ele não tinha o direito de tocar nesse tema, mas ousou fazê-lo, baseado no espírito popular de sua gente, porque acredita que esse povo sofre, é um povo e tem direito a certas intimidades” (p.23-24).
... Espero que todos os presente aproveitem os ensinamentos desta peça e reformem suas vidas, se bem que eu tenho certeza de que todos os que estão aqui são uns verdadeiros santos, praticantes da virtude, do amor a Deus e ao próximo, sem maldade, sem mesquinhez, incapazes de julgar e de falar mal dos outros, generosos, sem avareza, ótimos patrões, excelentes empregados, sóbrios, castos e pacientes (p.137).

A intenção moral, ou moralidade da peça, fica muito clara, desde que se torne claro, também, que essa intenção vincula-se a uma linha de pensamento religioso, e da Igreja Católica.

Problemática da Obra

Pela estrutura da peça, pudemos notar que:
1- sua intenção clara e expressa é de natureza moral, e de moral católica;
2- os componentes estruturais do texto revelam personagens que simbolizam pecados (maiores ou menores), que recebem o direito ao julgamento, que gozam do livre-arbítrio e que são ou não condenados.

Percebe-se, de outro lado, que a preocupação maior reside em compor um auto de moralidade, ao estilo quinhentista português (modelo Gil Vicente), mas seguindo alinha do teatro dirigido aos catecúmenos, do Padre Anchieta.

Para tanto, a peça se embasa em determinadas tradições localistas e regionalistas do folclore, com vistas à sua sublimação como instrumento pitoresco de comunicação com o público (que, no caso, seriam os catecúmenos).

Com isso, nota-se que a realidade regional brasileira, especificamente a realidade nordestina, está presente através de seus instrumentos culturais mais significativos, as crenças e a literatura de cordel.

O autor não pretende analisar essa realidade brasileira, mas a partir dela moralizar os homens, isto é, dinamizar nas usas consciências a noção do dever humano e da responsabilidade de cada um em relação a seus semelhantes e em relação a Deus, onisciente e onipresente.

Conclusão – Síntese

Como proposição estética, o Auto da Compadecida procura corporificar as seguintes noções:
1- a criação artística, o teatro em particular, devem levar o povo, a cultura desse povo a ele mesmo. Daí o circo, seu picadeiro e a representação dentro da representação.
2- menos do que essa realidade regional e cultural de um povo, o que importa é criar um projeto que defina idéias e concepções universais (as da Igreja, no caso) com o fim de consciencializar o público. Por esse motivo a realidade regional nordestina é, no caso, instrumento de uma idéia e não fim em si nessa;
3- criar um texto teatral é, antes de tudo, criá-lo para uma encenação, daí a absoluta liberdade que o Autor ‘da para qualquer modalidade de encenação. O próprio texto final da peça, como editado, é o resultado da experiência colhida a representação pública.

NOTA: As páginas indicadas se refere ao Auto da Compadecida, 10ª ed., Agir Editora, 1973.

Fonte:
Essa análise está no livro Vestibular-76 (1976), da Editora O Lutador-MG, edição dirigida aos exames vestibulares da UFMG. A equipe: Delson Gonçalves Ferreira, Teotônio Marques Filho, Juarez Távora de Freiras e Luís Paulo de Brito. O Lutador continua publicando a análise de livros da lista obrigatória daquela universidade mineira.
Disponível em http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/compadecida



Machado de Assis (O nascimento da crônica)

Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.

Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.

Quando a fatal curiosidade de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa degradação, a vantagem de uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o inverno; vieram as neves, os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos pelos doze meses do ano.

Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.

Que eu, sabedor ou conjeturador de tão alta prosápia, queira repetir o meio de que lançaram mãos as duas avós do cronista, é realmente cometer uma trivialidade; e contUdo, leitor, seria difícil falar desta quinzena sem dar à canícula o lugar de honra que lhe compete. Seria; mas eu dispensarei esse meio quase tão velho como o mundo, para somente dizer que a verdade mais incontestável que achei debaixo do sol é que ninguém se deve queixar, porque cada pessoa é sempre mais feliz do que outra.

Não afirmo sem prova.

Fui há dias a um cemitério, a um enterro, logo de manhã, num dia ardente como todos os diabos e suas respectivas habitações. Em volta de mim ouvia o estribilho geral: que calor! Que sol! É de rachar passarinho! É de fazer um homem doido!

Íamos em carros! Apeamo-nos à porta do cemitério e caminhamos um longo pedaço. O sol das onze horas batia de chapa em todos nós; mas sem tirarmos os chapéus, abríamos os de sol e seguíamos a suar até o lugar onde devia verificar-se o enterramento. Naquele lugar esbarramos com seis ou oito homens ocupados em abrir covas: estavam de cabeça descoberta, a erguer e fazer cair a enxada. Nós enterramos o morto, voltamos nos carros, c dar às nossas casas ou repartições. E eles? Lá os achamos, lá os deixamos, ao sol, de cabeça descoberta, a trabalhar com a enxada. Se o sol nos fazia mal, que não faria àqueles pobres-diabos, durante todas as horas quentes do dia?

Fonte:
Crônicas Escolhidas. SP: Editora Ática, 1994, e extraído de As Cem Melhores Crônicas Brasileiras. RJ: Editora Objetiva, 2007. In http://www.releituras.com/

UPF concede título de Doutor Honoris Causa a Cristovam Buarque


Cristovam Buarques à esquerda

Solenidade, com a participação de autoridades acadêmicas, escritores e público, aconteceu no Centro de Eventos

Engenheiro mecânico por formação acadêmica, político, escritor e acima de tudo, professor. Por sua incansável defesa da educação no país, Cristovam Buarque recebeu, na noite de quinta-feira, 05 de junho, a maior homenagem que uma universidade pode conceder: o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Passo Fundo (UPF). A Sessão Solene do Conselho Universitário, realizada no Centro de Eventos, marcou, igualmente, a comemoração de 40 anos de inserção comunitária da UPF na região e contou com a presença de autoridades, convidados, professores, alunos e funcionários. As apresentações culturais do Núcleo Suzuki de Violinos e do Coral Universitário abrilhantaram a noite.

Cristovam Buarque nasceu em Recife e é engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Fez doutorado em Paris e é professor da UnB desde 1979. Foi eleito senador em 2002, e depois nomeado ministro da Educação em 2003. Ele é o criador da ONG Missão Criança, que tem como objetivo divulgar o programa Bolsa-Escola no Brasil e no exterior. O programa, recomendado pela ONU, é um dos mais importantes para a educação e para o combate da pobreza em todo o mundo. Ao longo de sua carreira, Cristovam já publicou mais de 20 livros e colabora com vários jornais e revistas há mais de duas décadas. Atualmente é senador da República e presidente da Comissão da Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, e também membro do Instituto de Educação da Unesco.

Na solenidade, o reitor, Rui Getúlio Soares, proponente da homenagem, destacou que a UPF amplia e aprofunda sua história ao incluir, entre os intelectuais que já receberam o título de Doutor Honoris Causa – Ariano Suassuna e José Mindlin - o nome de Cristovam Buarque. “A história que tem sido construída pelas ações de Cristovam Buarque revela a qualidade de cidadania que exerce o homem público que tem a coragem de sair pelo Brasil afora insistindo na idéia de que a grande revolução somente acontecerá pela educação, apesar da contramão que tem sido trilhada por muitas autoridades governamentais ao longo da história recente do país”, referiu.

De acordo com o reitor, a concessão do título de Doutor Honoris Causa é prerrogativa de responsabilidade de todos os integrantes do Conselho Universitário que aprovaram por unanimidade a indicação de Buarque. “Nosso homenageado, sua obra, sua contribuição decisiva para a transformação brasileira deve, de forma diferenciada, significativa, insigne, qualificar sobremaneira a construção paulatina do currículo da Universidade de Passo Fundo em seus 40 anos de existência”, lembrou.

Refundar a universidade

De um professor, uma aula sobre os desafios da universidade brasileira na atualidade. Este foi o tema da conferência ministrada por Cristovam Buarque, após o recebimento do título de Doutor Honoris Causa. Sobre a honraria, agradeceu à UPF. “Sou professor, nasci para ser professor, e, portanto, essa gentileza deixa uma marca em meu coração. Não vou me esquecer disto”, comemorou.

Cristovam Buarque falou da crise pela qual passam as universidades, garantindo que refundá-las é a única maneira de enfrentar as atuais ameaças do mundo contemporâneo. “A universidade é o local onde se pode encontrar os caminhos para mudar os rumos que a sociedade vem seguindo, as dificuldades no âmbito ambiental, vencer as desigualdades sociais, a globalização, as ameaças do ponto de vista ético, à vida no planeta. Por tudo isso, uma reforma universitária não trará soluções a todos esses problemas. É preciso refundar a universidade”, salientou.

Entre as ações que precisam ser implementadas para que esta refundação aconteça, Cristovam Buarque mencionou a necessidade de a universidade estar integrada ao mundo exterior e a existência de uma estrutura multidisciplinar que propicie a formação de profissionais capazes de entender as diversas áreas do conhecimento. “Não há como formar hoje um profissional sem chamá-lo para os problemas da sociedade atual”, pontuou. Outro desafio urgente das universidades, segundo o palestrante, é descobrir seu papel na educação de base do país e do mundo, propiciando que cada criança tenha chances iguais de desenvolver o seu potencial.

Por fim, Cristovam Buarque ressaltou que para ser professor universitário é preciso ser um discípulo, e um discípulo comprometido com a revolução da educação. “Vamos assumir o orgulho de sermos universidade com a modéstia de sermos discípulos e a missão de mudar o Brasil e o mundo”, declarou. Durante a solenidade, Cristovam Buarque esteve acompanhado por sua esposa, Gládys Buarque.

Participação

Participaram da Sessão Solene os vice-reitores de Graduação, Eliane Lúcia Colussi; de Pesquisa e Pós-Graduação, Hugo Tourinho Filho; de Extensão e Assuntos Comunitários, Cléa Bernadéte Silveira Netto Nunes; e Administrativo, Nelson Germano Beck, além de diretores de unidades acadêmicas, coordenadores de curso, professores, acadêmicos; os deputados estaduais Luciano Azevedo, Giovani Cherini e Gilmar Sossella; prefeitos e vereadores de toda a região; representantes de entidades constituídas da região; o vice-presidente da FUPF, Marco Antônio Ruas Schilling; a coordenadora das Jornadas Literárias, Tânia Rösing; e o representante do DCE, Rafael Colussi.

Fonte:
Universidade de Passo Fundo/RS
Artigo de Cristiane Sossella
http://www.upf.br/assessoria/noticias/noticia.php?codNoticia=10375
Foto: Jaques Hickmann

Luiz Antonio Aguiar (Diário de um pai de primeira viagem)

resenha por Bruno Philippsen
A iminência da chegada do primeiro filho é algo que, indubitavelmente, modifica a vida de qualquer um. Mesmo que seja um casal maduro, que ache que está completamente preparado para isso, sempre há descobertas e temores. Agora, imagine quando isso acontece para um casal jovem e que não está esperando a chegada de mais um membro na família.

É nessas circunstâncias que Rui – um homem que já passou da adolescência, mas tem mais dúvidas do que um garoto de 15 anos – conversa com sua futura filha no livro Confidências de um pai pedindo arrego, de Luiz Antonio Aguiar. Sempre se dirigindo à filha, Rui apresenta os estranhos personagens da história: Anna, a namorada estressada de Rui; Dona Laura, sogra de Rui, muito mais rabugenta que a filha; Alfa-Ômega (ou A-O) irmão de Anna que estuda muito para prestar vestibular para medicina e Seu Coisa, sogro e criatura tenebrosa que se limita a soltar alguns grunhidos, na visão de Rui.

Anna e Rui descobrem que vão ser pais e decidem morar junto, mas as coisas ficam difíceis, pois ele trabalha por conta como escritor, fazendo roteiros para HQs e escrevendo para revistas, o que infelizmente não dá muito retorno financeiro ao casal. Então eles acabam tendo uma briga, pois os pais dela – seres absolutamente estranhos e intragáveis para Rui – decidiram começar a ajudar. É esse o enredo que é contado e ao mesmo tempo vivenciado por um pai inexperiente, mesclando a narrativa com lembranças de infância e devaneios muito engraçados sobre a paternidade, para sua filha ainda no ventre materno. No decorrer do livro, o narrador acaba aprendendo com quem ele nem imagina lições muito valiosas sobre como ser um bom pai.
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Luiz Antonio Aguiar

Luiz Antonio Aguiar nasceu em 1955, no Rio de Janeiro. Mestre em literatura brasileira pela PUC-RJ, resenhista em cadernos literários, animador de oficinas de leitura e redação, trabalhou durante muito tempo como roteirista de histórias em quadrinhos. Também escreveu pocket-books e atuou na área de publicidade e marketing. Tem 70 títulos publicados e ganhou diversos prêmios com seus livros, inclusive o Jabuti, em 1994, com Confidências de um pai pedindo arrego.
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Bruno Philippsen é formado em Letras - Língua portuguesa e respectivas literaturas, pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e atualmente é monitor no Centro de Referência de Literatura e Multimeios (Mundo da Leitura) da UPF.
É fácil perceber quem são os meus grandes mentores poéticos: Baudelaire, Augusto do Anjos, Fernando Pessoa, Paulo Leminski, Mário Quintana, Manoel de Barros, entre outros... Estou buscando uma voz e um estilo próprios. (ou talvez eu já os tenha... os críticos é que analisem...)
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Fontes:
Jornadas Literárias de Passo Fundo - n. 60 - 13/06/2008
http://mundodaleitura.upf.br/boletim/60/
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/laertidas