sexta-feira, 5 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 53 =


Trova humorística do Rio de Janeiro/RJ

JOUBERT DE ARAÚJO E SILVA 
Cachoeiro de Itapemirim/ES, 1915 - 1993, Rio de Janeiro/RJ

Cegonha é coisa de rico
e não passa de pilhéria...
- Quem trouxe o filho do Chico
foi o urubu da miséria!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de São Francisco de Itabapoana/RJ

ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE

Caminhos

Caminhos… Caminhos!
Cada um com a sua história,
cada um com um destino!…
Caminhos que levam e trazem;
caminhos cruzados, esquecidos, abandonados;
caminhos que se encontram;
caminhos que se perdem!…
Caminhos do medo, da incerteza e da revolta;
caminhos dos enganos e dos desenganos,
onde durante anos aguardei a sua volta!…
Caminho da insensatez, da vaidade;
pelo qual você foi
deixando de vez
um peito angustiado,
sofrendo de saudade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Mariana/MG

J. B. DONADON-LEAL

brigadeiro
cajuzinho
quindim
barrigas
nos
olhos
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Caucaia/CE

JOSÉ RIOMAR DE MELO

Meu verso

 Se meu verso te agrada, te conforta,
 Faz lembrar-te emoções que já viveste,
 Com algum deles talvez te comoveste,
 Ativando a esperança quase morta!

 É sinal que choveu na minha horta,
 Na emoção que a mim tu concedeste,
 Ao sentir que no verso que tu leste
 De euforia e de paz teu peito aborta;

 Entretanto se um deles não ressoa,
 Na fiel sintonia e te magoa,
 Na palavra ou na frase te feriu...

 Eu te peço perdão em tom profundo,
 Porque mesmo agradar a todo mundo,
 Jesus Cristo também não conseguiu...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada em Natal, 2008

FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

Na velhice, idade mestra
já sem forças para o embate,
vem a morte e nos sequestra
sem sequer pedir resgate.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Curitiba/PR

PAULO LEMINSKI
(1944 – 1989)

Pareça e Desapareça

Parece que foi ontem.
Tudo parecia alguma coisa.
O dia parecia noite.
E o vinho parecia rosas.
Até parecia mentira,
tudo parecia alguma coisa.
O tempo parecia pouco,
e a gente se parecia muito.
A dor, sobretudo,
parecia prazer.
Parecer era tudo
que as coisas sabiam fazer.
O próximo, eu mesmo.
Tão fácil ser semelhante,
quando eu tinha um espelho
pra me servir de exemplo.
Mas vice versa e vide a vida.
Nada se parece com nada.
A fita não coincide
Com a tragédia encenada.
Parece que foi ontem.
O resto, as próprias coisas contem.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Quadra Popular de Portugal

MARIA DE LOURDES GRAÇA CABRITA

Já tenho sinal aberto
pra no céu poder entrar,
não sei qual o dia certo,
vou quando Deus me chamar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Curitiba/PR

EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ

Um narigudo

Homem sério, porém politiqueiro,
De inteligência mais ou menos clara,
É um edil, camarista ou camareiro,
De raro estofo e de feição bem rara.

Mais seco do que arenque de fumeiro,
Todo feito em lasquinhas de taquara,
Sacode em contorções o corpo inteiro
E tem puxos de filme pela cara.

Tem um nariz de cinco ou seis andares.
Se ele o entulhasse, num mister diverso,
De bicha, traques, fogos populares,

Faria uma fortuna, — é incontroverso, —
Pois, naquele nariz, turvem-se os ares!
Cabem todos os traques do universo!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de São Fidélis/RJ

ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG

Nascemos com o passaporte
com visto para a partida,
mas só de pensar na morte,
sinto saudade da vida!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema dos Estados Unidos

LAWRENCE FERLINGHETTI
Bronxville/New York, 1919 – 2021,  São Francisco/Califórnia

15

Correndo risco constante
de absurdo e morte
toda vez que atua em cima
das cabeças da audiência
o poeta sobe pela rima
como um acrobata
para a corda elevada que ele inventa
e equilibrado nos olhares acesos
sobre um mar de rostos
abre em seus passos uma via
para o outro lado do dia
fazendo além de entrechats
truques variados com os pés
e gestos teatrais da pesada
tudo sem jamais tomar uma
coisa qualquer
pelo que ela possa não ser
Pois ele é o super-realista
que tem de forçosamente notar
a verdade tensa
antes de ensaiar um passo ou postura
no seu avanço pressuposto
para o poleiro ainda mais alto
onde com gravidade a Beleza
espera para dar
seu salto mortal

E ele um pequeno
homem chapliniano
que poderá ou não pegar
aquela forma eterna e bela
projetada no ar
vazio da existência

(tradução: Leonardo Fróes)
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Haicai de Belo Horizonte/MG

ÂNGELA TOGEIRO 

Traças nos armários,
destroem qualquer passado,
roendo o inútil.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto do Paraná

EMILIANO PERNETA 
Pinhais/PR, 1866 — 1921, Curitiba/PR

Iguaçu

Ó rio que nasceu onde nasci, ó rio
Calmo da minha infância, ora doce, ora má,
Belo estuário azul, espelhado e sombrio,
Quanto susto me deu, quanto prazer me dá!

Quantas vezes eu só, nestas manhãs de estio,
Ao vê-lo deslizar, pomposamente, lá,
Pálido não fiquei, tão majestoso vi-o,
Orgulho do Brasil, glória do Paraná!

Companheiro ideal! Durante toda a viagem,
Foi o espelho fiel a refletir a imagem,
Dos mantos e dos céus, discorrendo através

Da floresta, ora assim como um cão veadeiro,
A fugir, a fugir alegre e alvissareiro,
Ora deitado aqui quase a lamber-me os pés!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova do Rio de Janeiro/RJ

APARÍCIO FERNANDES 
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Os noivos fazem questão
de ter as mãos sempre unidas.
- É fácil unir as mãos...
difícil é unir as vidas!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Glosa de Ipameri/GO

LUPÉRCIO MUNDIM

Sonhos e ilusões

MOTE:
Quantos sonhos e ilusões
tecemos na mocidade!
Mas, nas cinzas das paixões,
nos resta apenas saudade.
Angela Stefanelli de Moraes 
(Niterói/RJ)

GLOSA:
Quantos sonhos e ilusões
juntamos pela existência,
sendo que as desilusões
do sonho é a desistência.

Milhares de sonhos lindos
tecemos na mocidade!
Muitos deles não são findos,
nos trazendo ansiedade.

Machucamos corações,
tirando-lhes a esperança.
Mas nas cinzas das paixões
encontramos temperança.

Seguimos mesmo feridos,
mantendo a afetividade,
porque dos sonhos perdidos
nos resta apenas saudade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Anastácio/MS

FLÁVIA GUIOMAR ROHDT

seus
olhos
faróis
necessários
nessa
escuridão
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Minas Gerais

CLÁUDIO MANOEL DA COSTA
Mariana/MG, 1729 – 1789, Ouro Preto/MG

Onde estou?

Onde estou? Este sítio desconheço:
quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
e em contemplá-lo, tímido esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
de estar a ela um dia reclinado;
ali em vale um monte está mudado:
quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
que faziam perpétua a primavera:
nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;
mas que venho a estranhar, se estão presentes
meus males, com que tudo degenera!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Mangualde/Portugal

ELISABETE AGUIAR
(Elisabete do Amaral Albuquerque Freire Aguiar)

Não quero correr Contigo,
mas a Teu lado correr,
pra correr com o perigo
que corre pra me vencer.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Portugal

ÂNGELO DE LIMA
Porto, 1872 – 1921, Lisboa

Olhos de lobas

 Teus olhos lembram círios
Acesos num cemitério...
Dr. Rogério de Barros

 Têm um fulgor estranho singular
Os teus olhos febris... Incendiados!...
 
Como os clarões finais... - Exaustinados
Dos restos dos archotes, desdeixados...
— Nas criptas dum jazigo tumular!...

 — Como a luz que na noite misteriosa
— Fantástica - Fulgisse nas ogivas
das janelas de estranho mausoléu!...

 — Mausoléu, das saudades do ideal!...

 — Oh saudades... Oh luz transcendental!
— Oh memórias saudosas do ido ao céu!...

 — Oh perpétuas febris!... - Oh sempre vivas!...
— Oh luz do olhar das lobas amorosas!...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Triverso de de São Paulo/SP

JEFFERSON HENRIQUE MODESTO

Vovô na varanda
Só tem um pensamento –
Mais uma geada!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Setilha de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Quanto sonho o verso opera...
Da Argentina a Portugal,
de Porto Alegre ao Caribe,
da Venezuela a Natal.
Sonho que une as nossas mãos
numa corrente de irmãos
tecendo um lindo ideal.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Niterói/RJ

ELEN DE NOVAES FELIX

As espadas da descrença
não ferem meu coração,
nem há presságio que vença
o poder de uma oração.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Hino de Santos/SP

Compositores: Maugeri Neto/ Maugeri Sobrinho

Santos poema, jardins pela praia
Cidade e porto de mar
Tens a magia de barcos estranhos
Na barra esperando adentrar
Morros, varandas alegres
Suspensas no arvoredo
Santos das ruas antigas
À beira do cais
Que escondem segredos

Tuas paineiras floridas
Salgueiros que choram
Nos velhos canais
Santos, cuidado menina
As tuas belezas
Não percas jamais

Os flamboiãs florescentes
Palmeiras imperiais
Ilha Urubuqueçaba
O verde reduto
Nas ondas do mar

Oh! Santos
És linda demais!
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
A Beleza e a Magia de Santos: Um Hino à Cidade
O 'Hino de Santos - SP' é uma celebração poética da cidade de Santos, localizada no litoral do estado de São Paulo. A letra da música destaca a beleza natural e a importância histórica da cidade, que é conhecida por seus jardins à beira-mar, suas ruas antigas e seu porto movimentado. A canção começa exaltando a magia dos barcos que chegam ao porto, trazendo consigo um ar de mistério e aventura. Essa imagem evoca a importância de Santos como um ponto de conexão entre o Brasil e o mundo, um lugar onde culturas se encontram e se misturam.

A música também faz referência aos elementos naturais que compõem a paisagem de Santos, como os morros, as varandas alegres e as paineiras floridas. Esses elementos são apresentados de forma quase nostálgica, como se fossem guardiões dos segredos da cidade. A menção aos salgueiros que choram nos velhos canais adiciona um toque de melancolia, sugerindo que a cidade tem uma história rica e complexa, cheia de momentos de alegria e tristeza.

Além disso, o hino faz um apelo para que a cidade preserve suas belezas naturais e arquitetônicas. A referência à Ilha Urubuqueçaba e às palmeiras imperiais reforça a ideia de que Santos é um lugar único, com uma biodiversidade e uma arquitetura que merecem ser protegidas. A exaltação final, 'Oh! Santos, és linda demais!', resume o sentimento de admiração e amor pela cidade, convidando os ouvintes a valorizar e cuidar desse patrimônio. (https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/467139/)
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poetrix de Limeira/SP

CARLOS ALBERTO FIORE

dia-a-dia 

Rostos pesados.
Corações ásperos.
As ruas se apressam.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Joaçaba/SC

MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS, 1923 – 2009, Joaçaba/SC

Outono em meio

O vento desistiu de seus andares,
cansou-se e resolveu dormir mais cedo.
As folhas, nem balançam no arvoredo.
Borboletas...algumas pelos ares.

Nuvenzinhas solteiras e sem medo
buscam no céu seus noivos ou seus pares.
Cá por dentro borbulham os cismares
numa ausência de rumos e de enredo.

(- Ó tardes, de domingo, ensolaradas!...)
O silêncio murmura uma cantiga
para ouvirmos a sós...mas de mãos dadas.

Deixemos, por enquanto o lábio mudo!
E o relógio, deixemos que prossiga...
Conversar?...Para que, se sabes tudo?!.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Santa Juliana/MG

DÁGUIMA VERÔNICA

Deixaste sobre o deserto
pegadas de tua andança;
o vento virá, por certo,
dissipar qualquer lembrança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A andorinha e os passarinhos

Certa andorinha que por esse mundo
Mil viagens fizera,
De muito e muito ver muito aprendera.
Chegara a tal primor, que ainda a tormenta
Nem sequer negrejava,
E já ela às marítimas companhias
A queda anunciava.
Sucedeu que no tempo em que é costume
Começar-se do linho as sementeiras,
Viu que um maltês andava nessa faina
Pelas compridas leiras.
«Mau vai isto — disse ela aos passarinhos —
Causais-me dó; por mim, tenho caminhos
De sobra onde vogar.
Vedes-me aquela mão que diligente
Gira e torna a girar?
Pois não vem longe o dia em a semente
Que hoje essas linhas traça,
Vos cause, pobre gente,
Eu sei, quanta desgraça!
Tereis a cada canto uma armadilha,
Perpétuo susto em horas de canseira;
Que na estiva sazão quando o sol brilha,
Anda perto a gaiola da caldeira.
Devorai-me esse pão já semeado,
E lestes, podeis crer».
Fez-lhe chacota o bandozinho alado:
Tinha mais que comer.
Ao surdir o linhal volta a andorinha:
«Fora com esta planta que é daninha,
Ou perdidos ficais!
Profeta de desastres, tagarela,
Bom feito nos lembrais;
Fora mister para um desbaste desses
Mil pessoas, ou mais!»
Crescera o linho, e a astuta conselheira
Insiste em martelar:
«Vejo que não há forma nem maneira
De vos poder guiar;
Pois, olhai: dentro em pouco o seareiro.
Apenas vir que a messe lhe loureja,
Põe logo mão na rede, e muito arteiro
Convosco entra em peleja
Sem vos deixar a cola;
Não sair do cadoz, e muito tento,
Ou dar asas ao vento
Como sucede ao pato e à galinhola.
Mas vós não podeis tal, não vos é dado
Transpor o monte, o cerro, a extensa onda:
Pois cada qual, prudente e a bom recado,
Na mais profunda toca se me esconda».
Refartos de presságios, os incautos
Rompem a vozear num desatino,
Quais Troianos no tempo em que Cassandra
Lia o porvir nas folhas do destino.
Andaram por igual: da passarada.
Muita se viu prender.

Nós damos peito à nova, se ela agrada,
E só cremos no mal depois de o ver.

(tradução: E. A. Vidal)

Recordando Velhas Canções (Cabecinha no ombro)


Compositor: Paulo Borges

Encosta a sua cabecinha no meu ombro e chora...
E conta logo suas mágoas todas para mim
Quem chora no meu ombro eu juro que não vai embora
Que não vai embora
Que não vai embora

Quem chora no meu ombro eu juro que não vai embora
Que não vai embora
Porque gosta de mim...

Amor, eu quero os seus carinhos, porquê, eu vivo tão sozinho
Não sei se a saudade fica ou se ela vai embora
Se ela vai embora
Se ela vai embora...
Não sei se a saudade fica ou se ela vai embora
Se ela vai embora
Se ela vai embora...

Encosta a sua cabecinha no meu ombro e chora
E conta logo suas mágoas todas para mim

Quem chora no meu ombro eu juro que não vai embora
Que não vai embora
Que não vai embora

Quem chora no meu ombro eu juro que não vai embora
No meu ombro chora,
Porque gosta de mim…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 

O Aconchego do Ombro Amigo na Voz de Almir Sater
A música "Cabecinha No Ombro", é uma canção que evoca sentimentos de conforto, apoio e a necessidade humana de compartilhar as dores e as mágoas. A letra sugere um momento de intimidade e consolo, onde uma pessoa oferece seu ombro para que outra possa chorar e desabafar suas tristezas. A repetição da garantia de que quem chora no ombro do eu lírico não irá embora reforça a promessa de fidelidade e a presença constante em momentos difíceis.

Almir Sater, conhecido por sua habilidade com a viola caipira e por suas composições que frequentemente exploram temas rurais e sentimentais, aqui apresenta uma música que fala diretamente ao coração. A canção pode ser interpretada como uma metáfora para o apoio emocional que todos precisam em algum momento da vida, sugerindo que a partilha de sentimentos pode fortalecer laços e aliviar a solidão. A referência à saudade, um sentimento profundamente enraizado na cultura brasileira, adiciona uma camada de melancolia à música, ao mesmo tempo que oferece uma esperança de alívio através da conexão com o outro.

A simplicidade da composição e a repetição dos versos contribuem para a sensação de acolhimento e segurança que a música transmite. A mensagem é clara: a importância de estar lá para alguém, oferecendo um ombro para chorar e um ouvido para escutar, criando um refúgio seguro contra as adversidades da vida. "Cabecinha No Ombro" é um lembrete de que a presença e o carinho podem ser remédios poderosos para a alma.

Apenas um verso pitoresco (“Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora”), cantado sobre uma melodia simples, de fácil memorização, pode às vezes despertar a atenção e a simpatia do público. Isso aconteceu a “Cabecinha no Ombro”, sucesso em 1958, quando recebeu 14 gravações, inclusive três em castelhano, e em 1992, quando foi relançada na trilha sonora da telenovela “Pedra Sobre Pedra”.

O curioso é que classificada como rasqueado, um gênero sertanejo, “Cabecinha no Ombro” tem como autor um citadino, o carioca Paulo Borges, irmão do fundador do conjunto Anjos do Inferno, Oto Borges.

Fontes:

Arthur Thomaz (Lançamento do livro “Leves Romances ao Léu: Pedro Centauro”, em Campinas/SP)

 

Em 13 de julho (sábado), a partir das 12h, o escritor Arthur Thomaz lançará a obra “Leves Romances ao Léu: Pedro Centauro” no Napses Habilitação Intensiva, em Campinas, no interior de São Paulo, pela Bueno Editora.

É um romance que valoriza não somente um personagem, mas a vida no campo e as sutilezas do cotidiano e de sua gente, um povo trabalhador, hospitaleiro e gentil. 

O enredo destaca a generosidade de Pedro Porteira, o trio de amigos universitários e a simplicidade de Clarice. 

Local 
O Napses Habilitação Intensiva está situado na R. Antônio Iório, 134, na Vila Laércio Teixeira, em Campinas.

Fonte: Texto enviado pelo autor 

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Varal de Trovas n. 605

 

Silmar Bohrer (Croniquinha) 116

Na língua grega "filosofia" significava "amor pela sabedoria", Era o estudo das questões humanas , existenciais , do conhecimento, e também da linguagem e das coisas do universo. 

Aprecio falar de filosofia, aprecio os filósofos e seus ensinamentos. Se somos seres pensantes, nada mais natural esse envolvimento . Somos os únicos animais que têm o "-sofos" , essa capacidade de raciocínio . 

Gostar de filosofia é compactuar com seus ensinamentos ou não, mas muita gente tem ideias arredias quando se diz que devemos ler seguidamente algum filósofo. Na verdade damos pouca atenção aos filósofos. Ou nenhuma. Se nos voltarmos para o nosso nós, o EU pessoal, vamos descobrir tanta coisa útil e importante através do pensamento . 

"A filosofia não é apenas um conjunto de ideias encadernado em livro , mas um modo de vida". (Caio Musônio Rufo, 25 - 95 d.C.) 

A filosofia está presente no dia a dia, compartilhada na fala e nos meios de comunicação - usada livremente, se transforma conhecimento racional e puro que engrandece o ser humano. 

Immanuel Kant (1724 - 1804) dizia que "não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar". Em verdade,  temos a capacidade de autoaprender a filosofar, a leitura está aí disponível há séculos nos pensares de tantos cultivadores da sabedoria, os filósofos. 

Costumo dizer que uma mente sem pensar enferruja seus neurônios e nesta inércia nos tornamos indefesos, brutos, menores. E se "a filosofia é o melhor remédio para a mente" (Cícero, 106 - 43 a.C.), sigamos filosofando, cada um à sua  maneira e ao seu estilo. 
Fonte: Texto enviado pelo autor

Vereda da Poesia = 52 =


Trova Humorística de Nova Friburgo/RJ
Otávio Venturelli

Levou susto o "Seu" Gracindo
ao ver, da mulher Tereza,
a dentadura sorrindo
num copo d'água na mesa...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Recife/PE
Amanda Mirella Simplício da Silva

Amores clareados

Calam os passos clareados
Pelo sol já desvendados
Proibido amor a vento.
Pele e corpo se conhecem
Mente e alma se padecem
Vai o amor, fica o lamento.

E os teus olhos clareados
Raros olhos revoltados
De fulgor e de tormento.
Sentem o fogo rotineiro
E com ele passageiro
Proibido amor a vento.

Clareada é tua chama
Que renasce e te proclama
Meio a tanto sofrimento.
Foge à luz a vil navalha
Com seu corte, incendiária.
Que retalha esse momento.

Alma clara, clareada.
Sombra sã que faz-se amada
Na certeza do contento.
Esperança em olhos claros
Para ti já não mais raros
Proibido amor a vento.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Belo Horizonte/MG
Ângela Togeiro

Poeta
dorme
verso
e
acorda
poema
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Joaçaba/SC
Miguel Russowsky
(Miguel Kopstein Russowsky)
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

Promessas

Estava eu só Passou... Sorriu... Olhei-a...
Estremeceu. Estremeci. Sucede
que o imprevisível manda e a gente cede.
No céu azul brilhava a lua cheia.

Depois... as consequências... — Quem as mede
se a razão, sem razão, já titubeia?
E o mar acariciando o ardil, na areia:
"O vinho é bom sorver antes que azede!"

Vai-se o verão. Agora é frio e neva.
Palavras sem valor, o vento as leva.
As juras antecedem as desditas.

Um instante de amor — eternidade!
Dois instantes de amor — fidelidade'
... Nem todas as mentiras foram ditas.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de Santos/SP 
Maryland Faillace

Terminada a criação,
Deus olhou a terra nova
e ao homem deu permissão
de eterniza-la na trova!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de São Luís/MA
Antônio Fernando Sodré Júnior

Declaração

Declaro para todos os fins que te amo
absoluta e incontrolavelmente
pois o Amor, sempre menino
de toda razão é livre...

Confesso, contudo, não quis te amar
não quis unir meu sorriso ao teu
prender no toque das mãos nuas
o tempo que paira lento
no ar quando te vejo...

Não quis a dor da ausência
o peso das lágrimas tristes
a corroer a superfície do desejo
dessa ardente vontade
de te querer mais que tudo...

Perdoe-me a ironia dos primeiros versos
é que cada lembrança traz a memória tua
viva em todos meus pensamentos...

Amo-te no instante das coisas infinitas
daquelas que têm moldura de nuvem
que se desfazem e voltam
à mesma forma de antes
etéreas e intocáveis...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Quadra Popular

Ter amor é muito bom
quando há correspondência;
mas amar sem ser amado
faz perder a paciência.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de de Baía de Mogunça/MA
Raimundo Correia
(Raimundo da Mota Azevedo Correia)
1859 – 1911, Paris/França

Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Natal/RN
Joamir Medeiros

O imortal desaparece
desta vida transitória,
mas seu verso permanece
nas letras vivas da história!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Castanhal/PA
Edilene de Sousa Araújo

Ponto celeste

Você é
Meu porto seguro,
Meu grito de terra à vista,
Resgate nas horas imprevistas
Minha nau de chegada
Nunca de partida.
Você é
Meu alicerce de concreto,
Meu caminho sempre reto
Meu oásis no deserto.
Você é
Meu sim,
Meu não,
Meu Leste-Oeste,
Meu norte-sul,
Meu ponto celeste.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Haicai de São Paulo
Guilherme de Almeida
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Hora de Ter Saudade

Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Setilha do Rio Grande do Sul
Gislaine Canales
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Sem ser cristãos ou ateus, -
somos iguais, na verdade;
em nosso mágico mundo
vivemos em liberdade,
com versos, por companhia,
cheios de paz e alegria,
que nos dão felicidade!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Maranguape/CE
Moreira Lopes

Acalento tanto sonho
dos meus tempos de criança
que me conservo risonho
e repleto de esperança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Glosa de Fortaleza/CE
Nemésio Prata

Mote:
o meu verso tem o cheiro 
da poeira do sertão!
Manoel Dantas 
(Pau dos Ferros/RN)

Glosa:
A luta do sertanejo 
meu Deus, como ela é puxada; 
ao cabo da sua enxada 
passa o tempo no manejo 
da terra. Ao ver um lampejo 
põe em Deus sua esperança
que chova, com abastança, 
pra molhar o seu torrão; 
não passou de uma ilusão; 
está seco o seu regueiro, 
o meu verso tem o cheiro 
da poeira do sertão!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Porto Alegre/RS
Eugênia Diana Silva de Camargo

borboleta
deixa
casulo
para
polinizar
vidas
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de São Paulo/SP
Filemon Francisco Martins

Noite e versos

Vai alta a noite. A madrugada é fria,
a insônia chega, fica e me namora.
Levanto-me à procura da poesia,
mas ela, impaciente, vai embora.

Percorro o céu do amor, da fantasia,
fico em vigília e vejo a luz da aurora:
- que paz a humanidade alcançaria,
se o amor reinasse pelo mundo afora.

Ouço distante, o farfalhar do vento,
e por que minha voz não tem alento,
- se o dia vai nascer como criança?

Surge, então, o cantar da passarada
e outros versos virão, na madrugada,
talvez mais coloridos de esperança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de Tambaú/SP
Sebas Sundfeld
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP

Vou lendo o livro da vida…
mas a página do fim,
uma voz compadecida
talvez a leia por mim!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Lisboa/Portugal
Carmo Vasconcellos

Do pagador de promessas…

Tu nada me prometeste…
E eu nada te prometi!
De lembrar-me não esqueceste,
do binómio não esqueci.

Que tinhas pra prometer
se nada tens para dar?...
Rio que não pode correr
não se abalança pró mar!

Promessas fazes, jamais,
nas aventuras corridas,
mas ilusões magistrais
espalhas no ar – sugeridas.

Por que haveria de supor
que tal promessa existia?...
Se te conheço… És d’amor,
uma vasilha vazia.

E por que iria prometer-te
alguma coisa, também?...
Se pra além de não querer-te,
do passado lembro bem.

Não volta às curvas da rota
quem tem dois dedos de testa,
de contrário, vira idiota
na loucura manifesta.

Se nada me prometeste
e eu nada te prometi…
Tu sem mim, nada perdeste
e eu sem ti, nada perdi!

E levas a cruz às costas,
no resgate que carece
quem induz falsas apostas
e a sorte tem que merece!

Encerra-se a peça em glória,
sem ninguém a pedir meças
aos atores desta estória
“do pagador de promessas”!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Triverso de Irati/PR
Marilena Budel 

Na velha floreira
pousa uma borboleta.
Mamãe faz tricô.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Setilha Popular


Eu nada sei do que sei
Como já filosofado
Muito em tudo que pensei
Está certo, estava errado
No sofisma dos ateus
Não acredito em Deus
Mas posso “está” enganado.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de São Paulo/SP
Therezinha Dieguez Brisolla

Sem ódio... sem armamento...
sem heróis, que a guerra faz,
será, o mundo, um monumento
erguido em nome da PAZ!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Hino de Joinville/SC

Tu és a glória dos teus fundadores,
És monumento aos teus colonizadores,
Oh! Joinville Cidade dos Príncipes,
Oh! Joinville Cidade das Flores.

Às margens do Rio Cachoeira,
Um dia o audaz pioneiro,
Plantou do trabalho a bandeira
E se deu, corpo e alma, ao torrão brasileiro.

Depois foram lutas e penas,
Mas nunca o herói fraquejou,
Com sangue, suor e com lágrimas
Do seu próprio corpo teu solo irrigou.

Tu és a glória dos teus fundadores,
És monumento aos teus colonizadores,
Oh! Joinville Cidade dos Príncipes,
Oh! Joinville Cidade das Flores.

E se hoje o bravo imigrante,
Que tua semente plantou,
Com a força e o vigor de um gigante
Nas mãos com que, em preces, ao céu suplicou,

Te visse radiosa e pujante,
Nascida na mata hostil,
A imagem da Pátria distante
Veria, grandiosa, exaltando o Brasil!
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
O Tributo Lírico à História e Beleza de Joinville
O 'Hino de Joinville - SC' é uma composição que presta homenagem à cidade de Joinville, localizada no estado de Santa Catarina, Brasil. A letra do hino destaca a bravura e o esforço dos fundadores e colonizadores da cidade, que enfrentaram desafios e adversidades para estabelecer uma comunidade próspera e vibrante. A menção à 'glória dos teus fundadores' e ao 'monumento aos teus colonizadores' reflete o respeito e a gratidão pelas raízes históricas da cidade.

O hino também faz referência à localização geográfica de Joinville, 'às margens do Rio Cachoeira', e ao espírito empreendedor dos pioneiros que 'plantaram do trabalho a bandeira'. Essa expressão simboliza a dedicação ao trabalho e o compromisso com o desenvolvimento da região. A imagem do 'audaz pioneiro' que 'com sangue, suor e com lágrimas' irrigou o solo da cidade com seu próprio corpo é uma metáfora poderosa para o sacrifício e a determinação dos primeiros habitantes.

Por fim, o hino celebra a transformação de Joinville de uma 'mata hostil' para uma cidade 'radiosa e pujante', que mantém viva a 'imagem da Pátria distante', referindo-se às origens europeias de muitos de seus imigrantes. A cidade é exaltada como 'Cidade dos Príncipes' e 'Cidade das Flores', evidenciando sua nobreza e beleza natural. O hino é um retrato poético do orgulho e da identidade cultural de Joinville, reconhecendo seu papel na construção da nação brasileira. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/942787/ 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poetrix de Osório/RS
Suely Braga

O meio ambiente

   O planeta chora.
   Precisamos ser conscientes.
   Cuidemos dele agora.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Santos/SP
Carolina Ramos

Anseio

 Por mais que em convulsões o mundo trema,
 rumo ao caos que implacável nos atinge…
 Por mais, seja negado o suave lema,
 Paz e Amor, que de sangue hoje se tinge…

 Por mais que o desencanto fel esprema
 nas almas secas de quem já nem finge,
 creio, ainda, num Deus que é Luz suprema,
 e é Sol que aclara o Bem e o Mal restringe!

 Mesmo envolta nas sombras da amargura,
 mesmo que os dias sigam mais tristonhos
 e a vida, cada vez menos segura,

 fujo à incerteza que o momento traz
 e, sempre vivo, a incrementar meu sonho,
 eu guardo o anseio de encontrar a Paz!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de Maringá/PR
A. A. de Assis

“Amor não enche barriga”, 
porém surpresas virão: 
- Fez “amor” a rapariga... 
e olha só que barrigão! 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Fábula em Versos da França
Jean de La Fontaine
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O homem e a sua imagem

Um homem singular nos fumos da vaidade,
Tinha-se para si na conta de gentil;
No espelho a que se vê sempre acha falsidade,
E vivia feliz nessa ilusão pueril.
Para o curar do achaque, a sorte, que é cruenta,
Aos olhos lhe apresenta
Por toda a parte os tais conselheiros das damas:
Espelhos nos salões, nas lojas, nas batotas,
Nos bolsos dos janotas,
Têm-nos criadas e amas.
O que lembra ao Narciso? Ele vai-se ocultar
Desesperado, então, num ignoto lugar
Sem de espelhos querer entrar noutra aventura.
Nesse local, porém, corria a linfa pura
De aprazível regato,
Que reflete fiel o grotesco retrato,
O qual julga ainda assim ser fantasia vã.
Tenta à pressa fugir por não ver essa imagem,
E da linda paragem
Partiu com certo afã.

Percebe-se o meu fito.
Aludo a toda a gente; o caso acha-se a esmo,
Cada qual o que é seu crê ser o mais bonito,
Nossa alma é este tal vaidoso de si mesmo.
Os espelhos sem conta eis as tolices do homem,
Dos defeitos nos dão legítima pintura;
E pela linfa pura
Das Máximas o livro é bem que todos tomem.

(tradução: Teófilo Braga)
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Colaborações: gralha1954@gmail.com

Recordando Velhas Canções (Pau de arara)


Compositores: Carlos Lyra e Vinicius de Moraes

Eu um dia cansado que eu tava
Da fome que eu tinha
que eu num tinha nada
que fome que eu tinha
que seca danada no meu Ceará
Eu peguei
e juntei os restinhos de coisas que eu tinha
duas calça velha e uma violinha
e num pau-de-arara toquei para cá

E de noite eu ficava na praia de Copacabana
Zanzando na praia de Copacabana
Dançando o xaxado pra moças oià

Virge Santa que a fome era tanta
Que nem voz eu tinha
Meu Deus quanta moça
Que fome que eu tinha
Que seca danada no meu Ceará

Foi aí que eu resolvi comer gilete. 
Tinha um compadre meu lá de Quixeramobim, que ganhou um dinheirão comendo gilete na praia de Copacabana.
De dia ele ia de casa em casa pedindo gilete velha e de noite ele comia aquilo tudinho pro pessoal ver. 
Eu num sei não Elis, mas eu acho que ele comeu tanto, que quando eu cheguei lá na praia, aquele pessoal já tava até com indigestão, de tanto ver o camarada comer gilete.
Uma vez, eu tava com tanta fome que falei assim prum moço que ia passando:
-Decente, deixa eu cume uma giletezinha, pra vosmecê vê?
Então ele me respondeu assim:
- Sai prá lá pau-de-arara. Tú não te manca não?
- Oh! Distinto, só uma, que eu num comi nadinha inda hoje.
- Tú enche, hein, pau-de-arara?
Aquilo me deixou tão aperriado, que se num fosse o amor que eu tinha na minha violinha, eu tinha arrebentado ela na cabeça daquele pai-d'égua.

Puxa vida não tinha uma vida
pior do que a minha
Que vida danada, que fome que eu tinha
Zanzando na praia pra lá e pra cá.
Quando eu via toda aquela gente
num come que come, eu juro que tinha
saudade da fome, da fome que eu tinha
No meu Ceará
E daí eu pegava e cantava
e dançava o xaxado
E só conseguia porque no xaxado
A gente só pode é mesmo se arrastá

Virge Santa
Que a fome era tanta
que até parecia que mesmo xaxando
meu corpo subia igual se tivesse
querendo voar

Às veiz a fome era tanta, que vorta e meia a gente rumava uma briguinha pra ir comer a bóia no xadrez.
Êta quentinho bom na barriga! Mas, com perdão da palavra, a gente devorvia tudo dispois, porque a bóia já vinha estragada... Mas enquanto ela ficava ali dentro da barriga, quietinha... Que felicidade!
Não, mas agora as coisas estão miorando. Tem uma senhora muito bondosa lá no Leblon, que gosta muito de ver eu comer é caco de vrido. Isso é que é bondade da boa! Com isto eu já juntei uns 500 mil réis.
Quando eu tiver mais um pouquinho, vou simbora, vorto pro meu Ceará.

Vou simbora pro meu Ceará
Porque lá tenho um nome
Aqui num sou nada, sou só Zé com fome
Sou só pau-de-arara, nem sei mais cantá.
Vou picar minha mula, vou antes que tudo arrebente
porque to achando que o tempo tá quente,
Pior do que anda num pode ficar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

A Jornada de um Migrante Nordestino: A Luta pela Sobrevivência em 'Pau De Arara'
A música 'Pau De Arara', interpretada por Ary Toledo, retrata a dura realidade de um migrante nordestino que, cansado da fome e da seca no Ceará, decide buscar uma vida melhor no Rio de Janeiro. A letra é um relato sincero e doloroso das dificuldades enfrentadas por muitos nordestinos que, na esperança de encontrar melhores condições de vida, se aventuram em outras regiões do Brasil. O 'pau de arara' mencionado no título e na letra é uma referência ao meio de transporte precário utilizado por muitos migrantes, que viajavam em caminhões adaptados, muitas vezes em condições desumanas.

Ao chegar ao Rio de Janeiro, o protagonista se depara com uma realidade igualmente difícil. Ele passa as noites na praia de Copacabana, tentando ganhar a vida dançando e cantando o xaxado, uma dança típica do Nordeste. A fome, que parecia insuportável no Ceará, continua a ser uma presença constante em sua vida, e ele se vê zanzando pela cidade, observando a abundância ao seu redor e sentindo saudades até mesmo da fome que conhecia em sua terra natal. A letra transmite um sentimento de desespero e desilusão, mostrando que a migração não trouxe a solução esperada para seus problemas.

A música também aborda a perda de identidade e dignidade que o migrante enfrenta. No Ceará, ele tinha um nome e uma identidade, mas no Rio de Janeiro, ele se sente como 'só Zé com fome', um ninguém. A decisão final de retornar ao Ceará, apesar das dificuldades, reflete um desejo de recuperar sua identidade e dignidade, mesmo que isso signifique voltar à fome e à seca. 'Pau De Arara' é uma poderosa narrativa sobre a luta pela sobrevivência, a busca por dignidade e a saudade de casa, temas que ressoam profundamente na experiência de muitos migrantes nordestinos.

Carlos Lyra ainda vivia sua fase de maior criatividade — que coincidiu com o melhor período do contemporâneo Tom Jobim — quando começou a sua parceria com Vinícius de Moraes. Então, certo dia, ao entregar ao poeta uma fita com várias melodias para serem letradas, dele recebeu a sugestão de transformarem aquele repertório num musical.

Assim surgiu “Pobre Menina Rica”, com Vinícius criando-lhe as letras, o enredo e os personagens numa estada em Petrópolis, onde também criara os versos de “Garota de Ipanema”. Com o papel título destinado a Nara Leão, a peça narrava a historinha de uma solitária menina rica, que se apaixonava por um mendigo, integrante de uma inacreditável comunidade de desvalidos, estabelecida ao lado de sua casa.

Com tal enredo servindo de pretexto para a apresentação de uma série de belas canções, como “Primavera”, “Maria Moita”, “Sabe Você” e “Samba do Carioca”, a peça foi inicialmente exibida no Teatro Maison de France, sendo depois levada para o Teatro de Bolso, quando vários atores seriam substituídos. Entre estes estava o paulista de Bauru, Ary Toledo, que pediu a Lyra para gravar “Pau de Arara”, a música que cantava no palco.

Essa composição era inspirada num tipo real, um pobre nordestino que sobrevivia dançando xaxado na praia de Copacabana e que, de repente, teve a ideia de melhorar seus rendimentos.., comendo gilete.

Em três longas estrofes, entremeadas por trechos recitados, a canção desfia espirituosamente as desventuras do personagem, que no final promete um sensato retorno às origens: “Vou-me embora pro meu Ceará / porque lá tenho um nome / e aqui não sou nada, sou um Zé-com-Fome.”

Depois de uma gravação realizada em estúdio e lançada num compacto, Ary Toledo voltou a gravar “Pau de Arara”, desta vez ao vivo, no Teatro Record, durante o programa “O Fino da Bossa”, versão que ganhou gargalhadas estrepitosas da plateia e de Elis Regina, o que acabou enriquecendo em alegria e espontaneidade a performance do intérprete.

O sucesso do disco foi tamanho, que fez muita gente pensar que Ary Toledo era realmente “um mísero cearense”, autor de “O Comedor de Gilete”, nome pelo qual a composição ficou conhecida.

Relembrando “Pobre Menina Rica”, Carlinhos Lyra conta que, ao tomar conhecimento do enredo da peça (na qual o mendigo seresteiro), ponderou com o parceiro: “Mas, Vinícius, você não acha assim meio artificial esse negócio de uma menina rica e bonitona se apaixonar por um mendigo?” Ao que o poeta respondeu: “Acontece que esse é um mendiguinho muito simpático, incrementado, arrumadinho”, e, reforçando a argumentação, fulminou: “Além do mais era primavera parceirinho, primavera, entendeu?” (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Fontes:

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Isabel Furini (Poema) 64: Sonhos

 

Mensagem na Garrafa = 123 =


Antonio Brás Constante 
Canoas/RS

A SIMPLES CORAGEM DE SORRIR

Sorrir é uma prova de coragem. Neste mundo pessimista e individualista, ter forças para sorrir nos faz compartilhar com nossos semelhantes à janela de nossas almas. O sorriso é um símbolo de carinho. É universal. Une as pessoas e embeleza a vida.

Pena que este gesto tão nobre e bonito, cada vez mais se perca dentro daqueles que se guiam pelo ódio e pelo preconceito. Para eles, um simples olhar já é motivo para externar toda sua raiva. Um sorriso é um sinal de fraqueza que deve ser combatido com agressividade insana, deboche ou tola antipatia. Não consideram os outros como sendo seus semelhantes, apenas intrusos aos seus domínios ilusórios. Comportam-se como animais. Não se enquadrando nas definições que conhecemos sobre humanidade. Pois preferem atear fogo em dicionários a descobrir suas definições. Pisar em sentimentos a ter que estender a própria mão.

Tais seres dantescos parecem estar sempre dispostos a tirar a luz de quem cruza o seu caminho nefasto. O único sorriso que conhecem é o do desprezo. Pobres essencialmente de espírito. São parasitas que apodrecem as relações entre as pessoas. Espalhando medo, crueldade e selvageria por onde passam. E é neste mundo louco em que vivemos, que a voz silenciosa do sorriso deve emergir com cada vez mais força. Combater o caos com civilidade, desespero com esperança, desamparo com auxilio, mas sempre com um cartão de apresentações saído de nossos corações e expresso em nossos lábios. O sorriso é uma arma de paz, que não mata, mas desarma. Encanta. Purifica sentimentos. Basta sabermos usá-lo, basta querermos usá-lo.

Enfim, mesmo vivendo em meio a uma realidade que cada vez mais nos fecha em conchas de solidão, quem sabe se esta demonstração de coragem oferecida gratuitamente e gentilmente aos nossos irmãos de vida, moradores e tripulantes desta pequena e grande nave chamada Terra, não consiga transformar as caras fechadas de tantas pessoas (meras fachadas vazias e tristes), em fachos de um singelo brilho de amizade, criando assim, um mundo onde nossos filhos tenham mais motivos para sorrir do que para chorar. O simples gesto de sorrir não depende de palavras, só depende de nós. 

Você já sorriu hoje?