segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Paulo Cezar Tórtora* (Crônica de uma manhã de sol)


A janela aberta, no sétimo andar do hotel em uma cidade serrana, despeja para dentro do meu 
apartamento a exuberância da mata atlântica, a apenas alguns metros de distância. O sol matinal abraça a vegetação, celebrando a explosão de vida que grassa por entre o arvoredo.

Debruçado à janela reparo, tocaiado entre os arbustos, o menino. Silencioso, espreita sua caça. Tem nas mãos uma atiradeira, que retesa, apontando cuidadosamente para a copa das árvores mais altas. Os dedos que distendem os elásticos abrem-se, simultaneamente! Consigo ouvir a bolinha de gude partir como uma bala, "zásss!...", estraçalhando a folhagem em seu caminho até emudecer o canto de um sabiá, num baque surdo que arrebenta seu peito.

O menino corre a tempo de aparar a queda do corpo agonizante, antes mesmo que ele chegue ao chão. Assiste, impassível, ao último estertor da ave moribunda, em suas próprias mãos. Nem liga para o rubro do sangue que tinge seus dedos. Ao ver-me na janela a observá-lo, esboça um sorriso e some por entre as árvores.

Na sua inocência ignora que seu casto sorriso celebra a ignorância. Desconhece o que seja a covardia, a brutalidade gratuita e as mais elementares leis do convívio harmonioso entre homens, natureza e animais ditos irracionais. Terá pais que moldem seu caráter ainda na infância? Tornar-se-á um homem de bem? Quem poderá adivinhar os caminhos que lhe reservam os enredados fios do destino?...

Sem muita convicção, disse para mim mesmo que tudo daria certo, era preciso ser otimista. Afinal, era apenas um menino. Recolhi minhas dúvidas e apreensões. Fechei a janela. Fui para a rua. Lá fora a aurora me chamava.
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* O autor é Do Rio de Janeiro/RJ

(esta crônica obteve o 4. Lugar no Concurso de Crônicas Adulto Nacional “Foed Castro Chamma”, em 2020, com o tema Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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domingo, 24 de novembro de 2024

Luiz Poeta (Nuvens de Sonhos) 02

 

José Feldman (O Relógio das Memórias)

Em um futuro não muito distante, as pessoas começaram a perceber que o tempo não era apenas uma sequência de momentos, mas uma tapeçaria intricada de memórias. Em uma pequena cidade chamada Palatium, um inventor excêntrico chamado Victor criou um dispositivo revolucionário: o “Relógio das Memórias”. Este relógio tinha a capacidade de capturar e reproduzir memórias de forma vívida, permitindo que as pessoas revivessem momentos de suas vidas como se estivessem acontecendo novamente.

Victor, um homem de cabelos desgrenhados e olhos brilhantes, sempre acreditou que as memórias eram a essência da vida. Ele passou anos em seu laboratório, cercado por engrenagens e dispositivos, até que finalmente completou sua obra-prima. O Relógio das Memórias não apenas armazenava recordações, mas também as transformava em experiências sensoriais completas. As cores, os sons, os cheiros — tudo poderia ser revivido com um simples toque.

A cidade estava em polvorosa quando Victor apresentou seu invento ao público. 

“Imaginem, meus amigos!” ele exclamou. “Poder reviver os melhores momentos de suas vidas! Conhecer novamente aqueles que amamos, sentir a euforia da juventude, ou até mesmo corrigir erros do passado!” 

A multidão estava atenta, maravilhada com a ideia de ter suas memórias ao alcance da mão.

Entre os espectadores estava Clara, uma jovem professora de história. Clara sempre teve um amor profundo pelas memórias, especialmente as de sua infância, quando passava horas ouvindo sua avó contar histórias de tempos passados. Ao final da apresentação, Clara sentiu uma atração irresistível pelo Relógio. O desejo de reviver suas memórias mais queridas a levou até Victor.

“Posso experimentar?” perguntou Clara, sua voz trêmula de emoção.

“Claro!” respondeu Victor, ajustando os dials do relógio. “Escolha uma memória.”

Clara hesitou, mas logo decidiu: “Quero reviver o dia em que minha avó me contou sobre sua juventude.”

Assim que Clara tocou o relógio, a sala se iluminou e, em um piscar de olhos, ela se viu na cozinha de sua avó, o aroma de bolo de cenoura fresco no ar. As paredes estavam adornadas com fotos antigas, e o sol filtrava-se pelas cortinas, criando um ambiente acolhedor. Sua avó, com um sorriso caloroso, começou a falar sobre sua juventude e as aventuras que a vida lhe proporcionara.

Clara sentiu a alegria inundar seu coração. Ela riu, chorou e se lembrou do quanto amava aquelas histórias. O tempo passou, mas para Clara, tudo parecia tão real quanto antes. No entanto, quando a experiência terminou, uma tristeza profunda a envolveu. Ela percebeu que, apesar de reviver momentos felizes, não poderia alterar o que havia passado.

Com o passar do tempo, o Relógio das Memórias se tornou uma sensação na cidade. As pessoas começaram a usá-lo com frequência, cada vez mais dependentes das memórias que podiam reviver. No entanto, algo bizarro começou a acontecer. As pessoas estavam se tornando incapazes de viver no presente. Elas se isolavam, preferindo a segurança de suas memórias a enfrentar a realidade.

Clara, preocupada com o que estava vendo, decidiu confrontar Victor. 

“Victor, as pessoas estão se perdendo! Elas estão tão obcecadas por reviver suas memórias que esquecem de viver! O relógio se tornou uma prisão!”

Victor, que antes estava entusiasmado, agora parecia preocupado. 

“Eu não previ isso. A intenção era boa, mas talvez tenhamos aberto uma porta que não deveria ser aberta.”

Determinada a mudar a situação, Clara começou a pesquisar sobre o impacto das memórias e do tempo na vida humana. Ela descobriu que as memórias, embora belas, também podiam ser dolorosas. A idealização do passado impedia que as pessoas apreciassem o presente e planejassem o futuro.

Clara decidiu que precisava fazer algo radical. Junto com algumas pessoas da cidade, criou um movimento chamado “Viva o Agora”. As pessoas eram incentivadas a se desconectar do Relógio e a redescobrir a alegria de viver no presente. Era uma batalha difícil, pois o Relógio havia se tornado um símbolo de status e felicidade.

Em um evento público, Clara subiu ao palco e se dirigiu à multidão. 

“Amigos, o passado é uma parte de quem somos, mas não podemos deixá-lo nos aprisionar! Precisamos viver cada dia como se fosse um novo começo! O Relógio das Memórias pode ser uma ferramenta, mas não pode ser a nossa vida!”

Enquanto falava, Victor a observava, orgulhoso e triste ao mesmo tempo. Ele percebeu que havia criado algo que não só capturava memórias, mas também capturava as pessoas. Ele decidiu desativar o Relógio, mesmo que isso significasse perder sua invenção.

A decisão de Victor trouxe a cidade de volta ao presente. As pessoas começaram a se reconectar com suas vidas, a valorizar o que tinham agora, ao invés de viver no passado. Clara tornou-se uma líder na comunidade, ajudando as pessoas a entender o valor do presente.

O Relógio das Memórias foi desmontado e suas peças foram transformadas em arte. As pessoas começaram a criar suas próprias histórias e memórias, agora sem a ajuda de um dispositivo. Elas aprenderam a aceitar o tempo como um fluxo natural, onde cada momento, por mais simples que fosse, tinha seu valor.

Anos depois, em uma tarde ensolarada, Clara estava sentada em um parque, cercada por crianças rindo e brincando. Ela sorriu ao lembrar de sua avó e das histórias que tanto amava. Agora, Clara contava suas próprias histórias para as crianças, criando novas memórias.

E assim, a passagem do tempo tornou-se uma celebração da vida. As memórias não eram mais algo a ser revivido, mas uma parte de uma narrativa contínua. O Relógio das Memórias pode ter desaparecido, mas a essência do tempo, com todas as suas alegrias e tristezas, continuava a ser a verdadeira magia da vida.

Fontes: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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Ronaldo Henrique Barbosa Júnior* (A um passarinho)


Mal pus os pés no chão, ouvi um barulho diferente vindo da janela da sala de estar. Eu ouvia periódicas batidas no vidro, no que me apressei em afastar as cortinas para descobrir a causa de tal barulho.

A manhã ainda guardava uma névoa da madrugada, e o sol era apenas uma fresta a dar um tom azul-grisalho para o céu, ostentando suas dimensões nas peculiaridades infinitas: cada canto era um novo sabor a inundar os olhos, alumiando as retinas recém-acordadas.

O visitante que batia no vidro tinha a beleza de uma pétala e a efemeridade de uma gota de orvalho: um canário vinha chamar a atenção nas vidraças repleto de fugacidade a ensolarar aquele pedaço de manhã.

Minha primeira reação foi de espanto; não se tratava de uma visita típica, e o sabor da primeira vez possui nuances de felicidade.

Desde então, recebo-o todos os dias por volta do mesmo horário, como se viesse a mando do sol para anunciar a vida, repleto da leveza e da altivez própria dos pássaros, sempre trazendo o aprazimento que incendeia o espírito com seus manifestos trilantes.

Tenho para mim que ele vem me visitar por uns versos: a inspiração bate asas e toca com o bico na janela de casa, voando para o fio com sua beleza fundamental quando me aproximo para lhe contemplar.

Eu, no entanto, dou-lhe esta prosa na esperança de que retorne na próxima manhã e me traga as boas-novas do dia, extraindo de mim um primeiro riso a caçoar do tempo, posto que o vento me traz um suspiro de enlevo a me tornar locupleto.

As aves são fascinantes; fico a observar os serelepes passarinhos a sobrevoar a praça; os inquietos cantores no alto das árvores; e até aqueles que, podendo voar, arriscam-se a passear no chão, em pulinhos sem rumo à procura de algo para beliscar.

Meu visitante é um desses tantos pequeninos – fragmento de natureza - a traduzir seus sentimentos em cantos, numa pureza intocável, vítima da selvageria cega, incapaz de poluir a própria alma com mazelas do mundo: ele absorve as misérias e as dissipa pelo universo, talismã que é.

Queria eu poder não ser notado para abrir a janela e observá-lo calmamente mais de perto, pois pedaços do céu não ficam por muito tempo: esvoaçam no primeiro olhar de um admirador terreno - mal sabe que o quero era liberdade!

Há quem não entenda a beleza das aves; presas em gaiolas, são bibelôs a simbolizar o cárcere, pois desconhecem os infinitos azuis e cantam pela alforria num divino lamento. Soltas, guardam latente o lirismo que traduz a alma, são versos insensatos a nos advertir sobre o valor da existência - basta ter ouvidos para suas batidas na janela.
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* O autor é de Campos dos Goytacazes/RJ

(esta crônica obteve o 3. Lugar no Concurso de Crônicas Adulto Nacional “Foed Castro Chamma”, em 2020, com o tema Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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Vereda da Poesia = 165 =


Trova de
ABIGAIL RIZZINI 
Nova Friburgo/RJ +

Olhar triste, é o da criança,
que olha a vitrina, e em segredo,
chora a morte da esperança
ante o preço de um brinquedo!
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Poema de 
ARTHUR RIMBAUD
França, 1854 – 1891

A Eternidade
 
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
(Tradução: Augusto de Campos)
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Trova de
ARI SANTOS CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Do que vale o meu canteiro
de bom trigo, de primeira,
se joio dá mais dinheiro
na “cultura” brasileira ?!
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Soneto de
ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO
Ouro Preto/MG, 1870 – 1921, Mariana/MG

Os cavalos de fogo

A luz dissolve as pedras. E os cavalos
de fogo se projetam contra o vento.
Lá se vão eles, potros de ar sangrento,
por entre os sóis que intentam sufocá-los.

Lá se vão eles, potros de ar cinzento,
como se a própria luz incendiária
lhes desse uma aparência imaginária
de cor, de som, de céu em movimento.

E então o céu me envolve. Eis que me arrasta
o seu raro esplendor, o trepidante
fremir de intenso azul. No alto me espera

uma forma incorpórea, a visão casta
do que fascina e queda agonizante...
— Campo do amor chamando a primavera.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Com refulgências estranhas
de ternura e de calor,
são duas gemas castanhas
os olhos do meu amor!
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

A Rua dos Cata-ventos (X)

Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!

Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos!

"Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!"
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.
"Que tédio!" o coro dos Amigos clama.

"Mas que vos dar de novo e de imprevisto?"
Digo... e retorço as pobres mãos cansadas:
"Eu sei chorar... Eu sei sofrer... Só isto!"
= = = = = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

A liberdade do poeta,
está num verso... Num grito...
No equilíbrio se completa,
vencendo o próprio infinito!
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Poema de 
REGINA MÉRCIA
Novo Horizonte/SP

 Desilusão

É o maior mal a desilusão
Pois perdi o amor que
Tinha no coração
Perdi a esperança
Que decepção!
Ela demora passar
É um gosto amargo
Na boca que
Que demora passar!
O tempo não passa
Apesar dele ser
Meu aliado
Não sei como fazer
As horas passarem
Não sei como vou trabalhar
No dia-a-dia
Um dia a esperança
Voltou e trouxe me
Muita alegria
Ai comecei a relembrar
Os bons momentos
Que já vivi!
Eu me dei conta
Como fui boba
Em pensar que
A ilusão perduraria
Para sempre mas como
Um passo de mágica!
Mandei a desilusão
Embora e hoje
Sou muito feliz
Porque fui perseverante
E venci a desilusão!
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

De um amor que é só miragem
finjo agora ter o assédio,
para escapar da engrenagem
dessa moenda que é o tédio.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

“Idem”

Se alguém me diz: “eu gosto de você”,
eu digo “idem”.  Mas, bem ao contrário,
se outro me disser que sou otário,
lhe digo “um tudo bem”, sabe por que?

Porque por natureza eu sou hilário!
Jamais dei bola para “quelelê”...
Tenho este jeito por pura mercê
de Deus que à briga me fez refratário!

Nasci para viver só na amizade,
sem distinção..., com toda a sociedade.
Nem ligo à propensão de cada um...

Felicidade é o que desejo a todos,
para não ver ninguém vivendo em lodos...
mas com amor fadado ao bem comum!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Passei a vida cantando
minhas canções que eram dela...
e a ingrata, mesmo escutando,
nunca me abriu a janela!
= = = = = = 

Hino de 
SANTA INÊS/MA

Outrora no vale do Pindaré
Antes das vilas e dos canaviais
Predominava o Índio Amanajé
Em meios às sombras dos babaçuais.

Logrou após, o lugar mais projeção
Pela pesca, lavoura e pecuária
E pelo exemplo de dona Inez Galvão
Entre outras mestras extraordinárias.

Brava gente, terra amada!
Lar de paz hospitaleiro
Ó Santa Inês, prestigiada
Neste solo brasileiro.

Sua cultura é tradicional
Do bumba-boi ao folguedo junino
E do terreiro ao brio do carnaval
Da vaquejada a festa do divino.

Hoje, esbelta e tão modelar cidade,
Com o eixo rodoviário ativo
E a ferrovia dando prosperidade
Com o comércio a esse povo altivo.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Busquei-O além do horizonte,
nas águas do mar sem fim,
mas curvando a minha fronte
senti Deus dentro de mim.
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Recordando Velhas Canções
SÚPLICA CEARENSE
Waldeck Artur de Macedo

Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o Senhor se zangou
E só por isso o sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

Que sempre queimou o meu Ceará
Que sempre queimou o meu Ceará
Que sempre queimou o meu Ceará
= = = = = = = = = = = = = 

Trova de
NEI GARCEZ
Curitiba/PR

Machucando a natureza,
sem pensar numa enxaqueca,
paga, o homem, na represa,
a imprudência pela seca.
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Sílvio Romero (O Sargento Verde)


Havia um homem rico que tinha uma filha muito formosa. Apareceu uma vez um moço que também era muito bonito, que quis casar com ela. Combinaram o casamento. Mas Nossa Senhora, que era madrinha da noiva, lhe apareceu e disse:

 — Minha filha, tu vais te casar com o cão. Quando for no dia do casamento, depois da festa acabada, teu marido há de querer te levar para casa dele; tu, então, deves dizer a teu pai que só queres ir no cavalo mais magro e feio de todos, e quando chegares a um lugar da estrada onde faz cruz, teu marido há de tomar pela esquerda, tu deves tomar pela direita e mostrar-lhe o teu rosário para ele estourar e sumir-se para o inferno.

Passou-se o tempo. Quando foi no dia do casamento houve muita festa e divertimento, mas a moça estava sempre triste.

Quando chegou a hora da partida veio um cavalo muito bonito e muito bem arreado para a moça se montar. Ela disse ao pai que não queria aquele, e só o mais feio e magro. O pai se espantou muito e não quis concordar, mas afinal foi obrigado a fazer os gostos da filha. Partiram os noivos e quando estavam longe da casa havia no caminho uma encruzilhada, aí o cão quis botar a moça adiante pelo lado esquerdo. Mas a moça disse:

 — Vá o senhor adiante que sabe do caminho de sua casa e não eu que nunca lá fui.

O cão se zangou, mas a moça tomou pela estrada da direita, mostrando-lhe o rosário. O cão estourou, e foi cair nas profundezas, e a moça seguiu a toda velocidade. 

Mais adiante ela cortou os cabelos e vestiu-se de homem, toda de verde. Chegando a um reino, foi servir na guarda do rei com o posto de sargento. Todos a chamavam de Sargento Verde. 

O rei tomou-lhe muita amizade, tanto que quase todas as tardes o convidava para ir passear com ele no jardim. A rainha ficou, em poucos dias, apaixonada pelo Sargento Verde. 

Uma tarde, depois de jantar, tendo-o o rei convidado para passear no jardim, ao passar ele pela rainha, ela lhe disse:

 — Olha, Sargento Verde, que lindos olhos, e que lindo corpo para me divertir contigo!

O Sargento respondeu:

 — Não sou falso a meu rei.

A rainha despeitada levantou-lhe uma injúria ao rei:

 — Saberá Vossa Real Majestade que o Sargento Verde disse que se atrevia a subir e a descer as escadas de palácio montado no seu cavalo a toda a brida, dançando e atirando para o ar três limas, e todas três a caírem num copo.

O rei ficou muito admirado e mandou chamar o Sargento Verde, e contou-lhe o caso. 

O Sargento respondeu:
 
 — Saberá rei meu senhor que eu não disse tal; mas como a rainha minha senhora disse, eu vou fazer.

Saiu muito triste, e foi ter com o seu cavalo e lhe contou tudo. O cavalo disse que ele não se importasse, que no dia marcado fosse sem medo. 

No dia marcado, o Sargento Verde apresentou-se e andou pelas escadas a cavalo, correndo para cima e para baixo, dançando e atirando para o ar três limas e aparando todas três num copo. Houve muitos vivas, e a rainha ficou desesperada. 

Passaram-se vários dias, indo o rei passear de novo com o Sargento Verde no jardim, ao passar ele pela rainha, ela lhe disse:

 — Olha que lindos olhos e que lindo corpo para divertir contigo!

— Não sou falso a meu rei — foi o que ele disse.

A rainha, despeitada ainda mais, levantou-lhe outro acinte, que foi:

 — Saberá Vossa Real Majestade que Sargento Verde disse que era capaz de plantar na hora do almoço uma bananeira no chão do palácio, e, quando fosse na hora do jantar, estar ela deitando cachos com bananas maduras.

O rei mandou chamá-lo e perguntou-lhe se ele se atrevia a tanto, e ele deu igual resposta à primeira e saiu vexado e foi ter com o seu cavalo, que o animou muito. 

No dia seguinte, na hora do almoço do rei, o Sargento Verde levou um broto de bananeira, que plantou e na hora do jantar estava caindo de carregado de bananas madurinhas. 

Houve muitos vivas e muita saúde, e a rainha ficou ainda mais desesperada. 

Passados mais alguns dias, houve novo passeio do rei e do sargento no jardim, e novo oferecimento da rainha, e igual resposta do moço. A rainha armou-lhe novo acinte, que foi:

 — Saberá Vossa Real Majestade que o Sargento Verde disse que se animava a andar montado no seu cavalo no largo do palácio, por cima de duas fileiras de ovos sem quebrar um só.

Segue-se outra cena igual às precedentes. 

No dia seguinte o Sargento Verde caminhou diante de muita gente, por cima das fileiras de ovos sem quebrar nenhum. Houve muita festa. A rainha ainda mais apaixonada ficou. 

Passados alguns dias, ela armou-lhe nova falsidade, que foi:

 — Saberá Vossa Real Majestade que o Sargento Verde disse que se atrevia a ir buscar no fundo do mar a sua irmã, a princesa encantada.

Chamado pelo rei, o Sargento Verde ficou triste, mas não negou, e foi falar com o seu cavalo que lhe disse:

 — Não tema nada, muna-se minha senhora de um garrafão de azeite doce, de um punhado de sal e de uma carta de alfinetes, monte em mim, chegue na praia, e com a sua espada corte as ondas em cruz, que as águas se hão de abrir; entre, bote a moça na garupa, e largue para trás a toda a pressa e bote sentido nas três palavras que a moça disser no caminho. Tenha cuidado com o bicho feroz que guarda a princesa, porque ele há de persegui-la atrás, largue-lhe o sal e a carta de alfinetes.

Chegado o dia, o Sargento Verde preparou-se e se pôs a caminho montado no seu cavalo, fez tudo como lhe disse o cavalo, servindo-se da espada para abrir, e do azeite para clarear o mar. Tirou a moça e largou-se para trás a toda a brida. Ao sair do mar a moça disse "Já!" — e o Sargento tomou nota. Estando um pouco adiante olhou para trás e avistou o bicho que vinha danado correndo, largou o sal e logo gerou-se no mundo um nevoeiro tamanho que o bicho não pôde romper. Continuou; adiante a moça encantada disse: "Bela!"


E ele tomou nota. Olhando para trás, lá vinha o bicho outra vez; largou a carta de alfinetes e gerou-se uma mata serrada de espinhos e a fera não pôde passar. Já perto do palácio a moça disse:

 — Tudo! — ele de novo tomou nota, e chegaram ao fim da viagem, havendo muita alegria e muitas festas, e a rainha ainda mais perdida ficou pelo Sargento Verde.

No entanto a princesa encantada não falava, estava muda. 

Em pouco tempo a rainha levantou um quinto acinte ao Sargento Verde, e foi dizer ao rei que ele se atrevia, segundo dissera, a dar fala à muda. O Sargento Verde foi, como sempre, ter com o seu cavalo, que lhe disse:

 — Não tenha medo, na hora do almoço dê com uma corda na moça, até ela dizer qual foi a primeira palavra que disse ao sair do mar, e o que ela quer dizer. No jantar faça o mesmo, e indague pela segunda e na ceia o mesmo e indague pela terceira, e a princesa ficará falando.

Assim fez ele. No almoço do dia seguinte meteu a corda na princesa com as palavras:

 — Fale, moça! Qual a palavra que disse ao sair do mar?

A moça calada, e ele a dar-lhe, até que ela disse "Já!"

— O que quer dizer?

A muito custo ela disse:

 — Já quer dizer “já estou livre de tantos trabalhos.”

No jantar houve o mesmo, e a princesa disse:

 — Bela! quer dizer “são duas donzelas, ela e o Sargento Verde que se chama Lucinda.”

Na ceia o mesmo, e ela disse a última palavra, que quer dizer:

 — Tudo! Se Lucinda fosse homem, há muito el-rei, meu irmão, seria logrado.

Houve muito espanto de tudo aquilo. 

O Sargento Verde voltou aos trajes de moça, a princesa ainda ficou no palácio e falando, e o cavalo do Sargento desencantou-se num lindo moço. 

Este se casou com a princesa desencantada, o rei se casou com Lucinda, porque a rainha morreu amarrada em dois burros bravos, por ordem de seu marido.

Fonte:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Publicado em 1883.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

sábado, 23 de novembro de 2024

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 02

 

José Feldman (A Última Noite de Natal)

Era uma véspera de Natal na cidade. As luzes coloridas piscavam nas janelas, e as vitrines das lojas estavam adornadas com enfeites brilhantes e delicadas árvores de Natal, mas para João, um homem idoso de cabelos brancos e mãos enrugadas, tudo isso parecia distante, quase irrelevante. Ele caminhava lentamente pelas ruas, seu coração pesado com a solidão que o acompanhava como uma sombra.

As ruas estavam repletas de famílias, risadas e abraços calorosos, mas João se sentia como um espectador em um mundo que não o incluía. Ele parou em frente a uma vitrine que exibia uma bela mesa posta, com pratos finamente decorados e presentes embrulhados com cuidado. A cena o fez lembrar de tempos passados, quando sua casa estava cheia de vida e alegria, repleta de vozes familiares e risadas. Agora, tudo o que restava eram memórias.

Continuou seu passeio, observando as luzes refletindo na água acumulada em poças. O cheiro de pinheiro e canela pairava no ar, misturado ao aroma de castanhas assadas e chocolate quente. Cada passo que dava parecia ecoar em seu coração, um lembrete doloroso de sua solidão. Ele desejou que, ao menos, alguém o reconhecesse, que alguém o olhasse nos olhos e dissesse que ainda se importava.

Após algumas horas vagando pelas ruas, ele decidiu voltar para casa. A caminho, as paredes de sua pequena casa pareciam ainda mais frias. Assim que abriu a porta, uma onda de calor e amor o atingiu. Sua fiel companheira, Mila, uma cachorrinha de velhos cabelos grisalhos, com seus 17 anos de idade, estava à espera. Os olhos dela brilhavam com alegria ao vê-lo, e ela foi em direção a seus pés, abanando o rabo com entusiasmo. Para João, Mila era a única que sempre esteve ao seu lado, que nunca o abandonou.

Sentou-se no sofá, e Mila se acomodou sobre suas pernas, como fazia sempre. O calor do corpo dela confortava o coração de João, que, mesmo em meio à solidão, encontrava consolo na presença da sua amiga. Ele acariciou sua cabeça, sentindo a suavidade de seu pelo. Mas, à medida que o tempo passava, uma inquietação começou a crescer dentro dele. Algo não parecia certo.

Ele olhou para Mila e, de repente, percebeu que seu pequeno peito não subia e descia. O coração de João afundou. Ele a chamou, mas não houve resposta. Com mãos trêmulas, ele a pegou e a colocou em seu colo, mas a sua fiel companheira não reagiu. O desespero tomou conta dele ao perceber que Mila havia partido.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto enrugado enquanto ele a segurava, a dor da perda se misturando à solidão que já o consumia. Ele havia prometido que nunca a abandonaria, que sempre estariam juntos. Agora, ele se sentia perdido, sem saber como seguir em frente.

Com o coração pesado, João, segurando Mila em seus braços, em meio ao luto, começou a rezar. Com a voz embargada, pediu a Deus que o levasse também, que o levasse para estar com sua fiel amiga, onde quer que ela estivesse. Ele não queria viver em um mundo sem ela, sua única companheira que sempre o amou incondicionalmente.

“Meu Deus,” ele murmurou, “leve-me para onde ela está. Eu prometi que nunca a deixaria sozinha. Se for possível, que eu possa encontrá-la novamente.”

As palavras saíam de seu coração, um apelo de um homem que já não tinha mais a quem recorrer. O som da cidade lá fora se tornava distante, enquanto sua alma se unia em um último desejo. Ao sentir a ausência de Mila, ele sabia que o amor verdadeiro não se extingue com a morte.

Então, como se Deus tivesse ouvido sua prece, João sentiu uma paz inexplicável invadir seu ser. Seu coração, que tantas vezes havia carregado a tristeza da solidão, começou a desacelerar. Ele olhou para Mila, agora tão serena em seus braços, e um sorriso triste surgiu em seu rosto. Em um último suspiro, ele se deixou levar, o peso da vida desaparecendo enquanto se reunia com sua querida companheira de tantos anos.

E assim, naquela noite de Natal, João e Mila partiram juntos, lado a lado, em um último abraço eterno. Na quietude daquele momento, eles encontraram o que tanto buscavam: a certeza de que, onde quer que estivessem, nunca mais estariam sozinhos.
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MORAL:
O sofrimento das pessoas idosas, como João, que se sentem abandonadas por parentes e amigos, é uma realidade dolorosa e muito frequente e muitas vezes invisível na sociedade. À medida que envelhecemos, as relações podem mudar, e muitos idosos enfrentam a solidão em um momento em que mais precisam de apoio e companhia.

A falta de tempo se torna uma desculpa comum, mas, para o idoso, essa ausência pode se traduzir em solidão profunda e tristeza. A sensação de que não são mais úteis é dolorosa e pode levar a um ciclo de desânimo e depressão. Videochamadas e mensagens podem ajudar, mas nada se compara ao calor de uma visita pessoal. Para muitos idosos, a falta de interação face a face amplifica a sensação de abandono, fazendo-os sentir que seus entes queridos estão longe não apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

A tristeza da perda de um companheiro fiel, como no caso de João, pode ser devastadora, lembrando-os da fragilidade de suas relações e da inevitabilidade da morte. A história de João e Mila é um reflexo da realidade de muitos idosos que enfrentam o abandono e a solidão. É um chamado à empatia e à ação, lembrando-nos da importância de cultivar relações significativas e de cuidar daqueles que nos deram tanto ao longo de suas vidas. Cada gesto de amor e atenção pode fazer uma diferença significativa na vida de um idoso, ajudando a transformar a solidão em conexão e esperança.

Fontes: 
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por JFeldman com Microsoft Bing 

Bianca Cidreira Cammarota (Cinza)

Amanheci, esperando o sol brilhar em meu rosto. Mas não. Do cinza-chumbo nas nuvens carregadas, meu semblante mais uma vez se entristeceu. Sim... desde aquele Fatídico dia, quando as sombras espreitavam os corações, o sol não mais aqueceu mentes e almas. Ele se recolheu diante do horror que se normatizava e se normalizava em seus filhos.

O cinza-claro indicava as horas matinais e vesperais, dia interminável com muitos amanheceres monocráticos. Sem calor vivificador, apenas o mormaço apodrecendo as últimas esperanças dos que ansiavam pelo sol, enquanto fervilhava a insana maldade dos sonhos fanáticos, concretizados em filosofias macabras e ações infernais.

O cinza das cinzas de vidas escurecia no firmamento, descendo tom a tom, paulatinamente, tão imperceptível que ninguém mais discernia a partida do resto da claridade. As olheiras obscuras, escuras como a noite. O sorriso branco, afiado como presas. As mãos feitas para doar tomando tudo e a todos em um punho. O discurso odioso outrora mudo bradava agora pelos ventos da ignorância. O eu egoísta se incorporava ao nós narcisista e virulento, rugindo em sua individualidade coletiva e corporativa. Monumentos de ferro pendurados em pescoços, tingidos do sangue dos que se foram.

As horas correm com a fuligem escurecida, agora. A negridão da noite anunciada para toda uma vida, enfim, cobre os dias, sob os aplausos fanatizados dos ignorantes, Da minha janela, estranhamente as estrelas piscam para mim, saudações frias, luzes brancas, lembranças fantasmagóricas de sóis ardentes de outros tempos. Elas cintilam. Elas pulsam. Elas gritam.

Então, num rompante súbito, a lua cheia rasga o oceano noturno, explosão dourada inconcebível, uma aurora esplendorosa, gelada, mas ardente em sua luminosidade. Tinge o manto estelar em rajadas vermelhas, violetas, laranjas e douradas flamejantes.

Meu coração bate novamente em uníssono com aqueles sóis distantes, com o nosso sol vestido em trajes limares. Ele existe... Sempre esteve lá, mesmo encoberto pela noite dos monstros e pelas cinzas dos covardes.

Não espero mais o amanhecer no batente da janela. A aurora nasce em meus olhos.

A aurora sou eu.
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A autora é de Aracaju/SE

(esta crônica obteve o 2. Lugar no Concurso de Crônicas Adulto Nacional “Foed Castro Chamma”, em 2020, com o tema Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing