ANGÉLICA VILLELA SANTOS
Guaratinguetá/SP, 1935 – 2017, Taubaté/SP
Às crianças ensinemos
que a nossa união é que traz
a este mundo em que vivemos,
a grande benção da paz!
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Poema de
MÁRIO DE ANDRADE
São Paulo/SP 1893– 1945
Eu Sou Trezentos...
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh ! Pirineus ! Ôh caiçaras !
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro !
Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis,
nas camarinhas seus próprios beijos !
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,
Mas um dia afinal toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
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Trova de
ADILSON ROBERTO GONÇALVES
Lorena/SP
A família do passado
era unida, sempre em festa;
hoje tudo é conectado,
mas pouca relação resta.
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Soneto de
AMADEU AMARAL
Capivari/SP, 1875 — 1929, São Paulo/SP+
Voz íntima
Fecha-te, sofredor, na alva túnica ondeante
Dos sonhos! E caminha, e prossegue, embebido,
Muito embora, na dor de um fiel celebrante
De um estranho ritual desdenhado e esquecido!
Deixa ressoar em torno o bárbaro alarido,
Deixa que voe o pó da terra em torno... Adiante!
Vai tu só, calmo e bom, calmo e triste, envolvido
Nessa túnica ideal de sonhos, alvejante.
Sê, nesta escuridão do mundo, o paradigma
De um desolado espectro, uma sombra, um enigma,
Perpassando sem ruído a caminho do Além.
E só deixes na terra uma reminiscência:
A de alguém que assistiu à luta da existência,
Triste e só, sem fazer nenhum mal a ninguém.
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Trova de
CRISTINA CACOSSI
Bragança Paulista/SP
Reunião familiar
tem nova tecnologia:
usa o verbo conectar
em total desarmonia...
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Soneto de
COLOMBINA
(Yde Schloenbach Blumenschein)
São Paulo/SP, 1882 – 1963
Invicta
As distâncias venci e venci as procelas
da vida; e toda a humana ingratidão venci.
Dos sonhos que sonhei, as áureas caravelas,
afundá-las no mar do olvido, consegui.
Vitoriosa alcancei as altitudes belas
da solidão! E, altiva, então, aos pés, eu vi i
espatifar-se um mundo em ódios e querelas
e só desprezo foi o que n'alma senti,
Os venenos do amor e da ilusão, venci-os!
Invejas, detrações (ladrar de cães vadios)
e calunias pisei, como se faz á lesma,
Mundanas tentações e aspirações de gloria,
tudo venci, enfim. A única vitória
que não pude alcançar, foi vencer a mim mesma.
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Do sino, ouvindo a amargura,
da tarde que já morria,
fiz da triste partitura
a mais feliz melodia !
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Soneto de
CORNÉLIO PIRES
Tietê/SP, 1884 – 1958, São Paulo/SP+
A Origem do Homem
— O senhor por acaso não descende
dos bugres que moravam por aqui?
— Hom'eu num sei dizê, vancê compreende
que essa gente inté hoje nunca vi.
Mais porém o Bernado dis-que intende
que os moradô antigo do Brasi
gerava de macaco!... Inté me offende
vê um véio cumo elle, ansim, minti.
D'otra feita um cabocro - ai um caiçára -
dis-que nasci um de dois e inté de treis,
quano estralava um gommo de taquara!
Nois num temo parente purtugueis,
nem mico, nem cuaty, nem capivára...
Semo fio de Deus cumo vanceis!
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Trova Humorística de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
O destino traiçoeiro
separou-nos, sem piedade,
mas o amor fez do carteiro
o porta-voz da saudade.
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Poema de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
Queira Conversar com Deus
Faça Deus seu inquilino
Mas não lhe cobre aluguel
Nem mande assinar papel
Pois o contrato é divino
Se quer mudar seu destino
Para amenizar a dor
Nas veredas colha flor
Mas uma flor de verdade
Peça força de vontade
Ao Poder Superior.
Como revela a ciência
E eu mesmo comprovei
Só Deus sabe o que passei
Com a crise de abstinência
Percebi minha impotência
Perante aquela assassina
Sedutora messalina
Fez-me sua dependente
Uma paixão tão ardente
Pela tal da nicotina.
Tomei uma decisão
Fortaleci a vontade
Falei com sinceridade
Com meu frágil coração
Deus, a nós, nunca diz não
Se o pedido é salutar…
Queres experimentar?
Peça a ele como fiz
Sou hoje um homem feliz
Pois já deixei de fumar!!!
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Não chores, mãe, os pinheiros
que o pai cortou com afeto,
pois são agora os madeiros
que sustentam nosso teto!
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Hino de
SÃO JOSÉ DE MIPIBU/ RN
São José de Mipibu, terra linda de coqueirais
Em teu seio onde está a tua gente
Terra linda de carnavais, com seus verdes canaviais
Que estarão sempre a embelezar
REFRÃO
Mostrarás tua cultura, teu orgulho e teu esplendor
Seus artistas, suas famílias, seus poetas
E um povo trabalhador...
São José de Mipibu, para sempre triunfarás
No agreste, no sertão e litoral
Os seus rios, os seus pássaros e a bonita Mata da Bica
Vão ser sempre o jardim do seu quintal
Seus sobrados, suas casas e os Índios de Mopebus
Na lembrança do seu povo ficarão
Os engenhos de outrora e os seus filhos mais ilustres
Para sempre o seu povo lembrará.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Minha saudade em vigília
revive os velhos Natais,
das orações em família
que os anos não trazem mais.
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Poema de
CLEVANE PESSOA
Belo Horizonte/MG
Um copinho d'água, um rio, a poça...e a sede...
Um simples copinho d'água,
se posto ao alcance do olhar,
é promessa de que em breve,
a sede se vai saciar...
Mesmo quem anda na neve.
como quem dorme na praia,
fica sempre a cobiçar
o frio e claro lenitivo...
E no amor, há quem, sedento
não mais o consiga alcançar:
pois para longe o empurram,
como enxotam o cão sarnento
-quantos o chutam, esmurram,
e já foi de estimação...
No abandono explode a ponte
cada um fica num lado,
com sede à beira da fonte,
sem poder descer ao rio...
Cada olhar alcança o amado,
faz calor e sentem frio...
Descobrem então que o ausente
lhes parece cheio de espinhos,
e que amar não é suficiente
quando se esgotam carinhos...
A história dos dois se esgarça,
não importa quem mais amou...
Baixa o pano sobre a farsa,
mas a sede não acabou...
Um copo, um cão ,uma ponte
nada possuem em comum
apenas aparentemente...
Se você souber, me conte
como voltar a ser um:
a sede enfraquece a gente...
Sem poder chegar ao copo
A sede nos seca a boca...
Boca seca
seca...
sede...
E o copo rola, se parte,
ao sabor da ventania...
Parece que vou morrer...
Se eu fosse cão, lamberia
a poça d'água no chão...
Mas por certo cortaria
minha língua exposta, então...
Essa imagem me apavora
e ante tal alegoria,
as mãos desamarro, saio
vou viver noutro lugar!
Descalça, tropeço e caio,
outro copo vou buscar...
uma água me espera agora
minha sede vou matar...
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Trova de
MARINA GOMES VALENTE
Bragança Paulista
Nesta era da informática,
computadores de mão,
sugam da família, a prática
da confraternização.
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