que deu ao homem o dom de cuidar,
por que há tanto desprezo e tanta dor
nos olhos dos que só querem amar?
Fui fiel ao meu dono, ao meu lar,
brinquei com as crianças, sempre contente,
lati aos estranhos para os afastar,
fui guardião, amigo e tão presente.
Um dia, cheio de alegria e esperança,
subi no carro achando que ia passear,
mas meu coração perdeu a confiança
quando me deixou sem olhar para trás.
Corri atrás, com todo o meu vigor,
meu peito arfava, meu coração doía,
mas meu corpo cansado perdeu o calor,
e caí na calçada molhada e fria.
Arrastei-me pelas ruas, tão magoado,
meu olhar suplicava por compaixão,
mas fui chutado, ignorado, humilhado,
recebendo migalhas de pão.
Nas esquinas frias, busquei abrigo,
no canto sujo da cidade sem luz,
mas a maioria me negou um amigo,
e só o céu ouviu meu pedido, minha cruz.
Oh, Senhor, fui criado para servir,
para ser fiel, para amar sem medida,
mas por que tantos me fazem ferir,
negando-me carinho, calor e comida?
Será que quem me deixou já se esqueceu
do olhar que um dia nele confiou?
Será que as crianças ainda dizem meu nome,
ou meu afago no lar se apagou?
Peço-te, Senhor, pelos outros iguais,
aqueles que sofrem na mesma solidão,
protege-os da fome, dos golpes fatais,
que encontrem amor e um lugar quentinho no chão.
Que nunca mais um ser desprezado
vague pelas ruas com olhar de dor,
que as mãos humanas, em vez de pecado,
ofereçam abrigo, esperança e amor.
E quando chegar minha última hora,
acolhe-me em Teus braços, meu Senhor,
dá-me a paz que tanto imploro agora,
pois só em Ti encontro meu valor.
Sou apenas um cão, um ser criado,
mas meu amor foi puro e verdadeiro,
e mesmo sofrendo, jamais fui culpado,
só quis ser leal ao meu companheiro.
Agora descanso, já sem forças para andar,
meu corpo cansado espera o final,
mas minha alma, Senhor, quer Te encontrar,
e em Teu abraço esquecer o mal.
Imagem de JFeldman com Microsoft Bing
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