terça-feira, 17 de julho de 2018

18 de Julho - Dia do Trovador


Trovas de Luiz Otávio

1
A Trova definitiva,
ideal do Trovador,
por mais que eu padeça e viva
eu jamais hei de compor…
2
Dura menos que um suspiro
ou como a folha que cai…
Mas quando penetra na alma,
a Trova fica… Não sai…
3
Enfrentando tantas provas,
ao desenrolar dos anos,
vou tirando da alma Trovas,
e enchendo-a de desenganos…
4
Estas Trovas foram sonhos
que um trovador já sonhou…
São uns farrapos tristonhos
de um grande amor que passou…
5
Este doce e grande amor,
esta saudade indiscreta,
fizeram de um trovador
o mais tristonho poeta…
6
É um prazer bem diferente
e de sabor sempre novo,
ouvir a trova da gente
andar na boca do povo!…
7
Há trovas, ricas, sonoras,
tem brilho, cintilação…
Lembram “foguetes de lágrimas”
nas noites de São João…
8
Longe de ti, triste eu passo,
se vivo mesmo, nem sei…
E, cada trova que faço
um beijo que não te dei…
9
Louvo a Deus por me ter dado
a sorte de trovador,
pois o mal quando é cantado,
diminui o seu rigor…
10
Mediunidade esquisita
de duração muito breve:
– a Trova – é o povo quem dita,
o trovador… só escreve…
11
Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos ...
12
Não desejo nem capela
nem mármore em minha cova…
Apenas escrevam nela
pequenina e humilde Trova…
13
Não digo não: “minha” Trova
quando faço um verso novo:
– não é minha e nem é nova
quando cai na alma do povo…
14
Nem sempre nós conseguimos
traduzir as nossas dores…
Quantas trovas ficam mortas
nas almas dos trovadores…
15
Nesta trova pequenina,
quero deixar o sabor,
do beijo que ainda há pouco
eu roubei do meu amor…
16
Ó trovas — simples quadrinhas
que têm sempre um quê de novo...
— Como podem quatro linhas
trazer toda alma de um povo?!
17
Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem.
18
“Pequena” – dizem zangados,
muitas vezes com desdém.
Jamais saberão, coitados,
que grandeza a trova tem!
19
Por estar em solidão
tu de mim não tenhas dó.
Com Trovas no coração,
eu nunca me sinto só!
20
Quando a Trova é mesmo boa,
é sempre assim que acontece:
– o dono fica esquecido,
mas a Trova não se esquece…
21
Saudade – brisa tristonha…
e o meu coração magoado
desprende Trovas… e sonha…
é um rosal despetalado…
22
Sou devoto, sou um crente!
Não zombes, não rias não…
Trago um rosário de Trovas
no fundo do coração…
23
Tão pequenina... parece
humilde e distante estrela...
porém, como a Trova cresce
quando alguém sabe entende-la!
24
Tirem-me tudo o que tenho
neguem-me todo o valor!
Numa glória só me empenho:
– a de humilde trovador!
25
Toda noite ao me deitar
(por certo você reprova),
eu me esqueço de rezar
e fico fazendo trova.
26
Toda trova herdou o espírito
navegante português…
Nasce…foge… corre o mundo
e abandona quem a fez…
27
Toma cuidado, poeta
com teu sentir mais profundo;
a trova é muito discreta:
– conta tudo a todo mundo…
28
Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever ...
29
Uma trova pequenina,
tão modesta, tão sem glória,
bem pouca gente imagina,
que também tem sua história.
30
Um trovador veterano
concorre e zomba: - é "barbada"!
Depois de entrar pelo cano,
bronqueia: foi marmelada!...

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