quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Karen Hertzberg (Dicas de escrita: 30 dicas para tornar a escrita mais fácil)

 
Todos os dias você escreve, seja um trabalho universitário, uma postagem em um blog, um documento de trabalho, um e-mail ou uma atualização nas redes sociais. Sua escrita representa quem você é pessoal e profissionalmente, por isso vale a pena aprimorar suas habilidades. Aqui seguem trinta dicas de redação para ajudá-lo a se comunicar melhor por texto.

1- Defina metas de escrita.
Talvez você queira escrever um certo número de palavras por dia ou atualizar seu vocabulário. Você não pode alcançar uma meta a menos que tenha uma, então anote essa meta e trabalhe em direção a ela.

2- Escreva de manhã.
Para muitas pessoas, escrever fica mais fácil logo após uma boa noite de sono. Uma pesquisa da Grammarly também mostra que os madrugadores cometem menos erros de escrita.

3- Escreva diariamente.
Começar um grande projeto de escrita pode parecer intimidante se você não estiver acostumado com o ato de escrever. Pratique essa habilidade diariamente – seja uma frase curta ou um parágrafo inteiro – para se acostumar com o conceito mental e físico da escrita.

4- Inspire-se na pesquisa.
Antes de começar a escrever, faça uma leitura de reconhecimento. Tome notas enquanto você lê sobre o material do seu assunto. As ideias vão se formando à medida que você pesquisa.

Aqui vai uma dica de como fazer isso: Depois de entrar no processo de escrita, não pare para fazer mais pesquisas. Em vez disso, adicione um espaço reservado como [PESQUISA] e continue rolando. Você pode voltar para finalizar os fatos e adicionar referências quando seu primeiro rascunho estiver concluído.

5- Leve sempre um caderno e uma caneta, ou celular.
A inspiração pode bater a qualquer momento. Não deixe um discurso emocionante para um personagem, uma frase poética ou um nome de projeto cativante para sua memória. Anote em um caderno dedicado ou crie um arquivo de nota em seu celular

6- Experimente escrever roteiros.
Uma das melhores dicas de escrita para aspirantes a escritores é usar um roteiro. Você pode encontrar inúmeros roteiros de escrita on-line adequados para todos os tipos de gêneros. Escolha um que estimule sua imaginação e encoraje você a ser criativo.

7- Faça um esboço.
Se você costuma divagar sem uma estrutura clara, comece com um esboço, um rascunho, uma primeira versão. Siga este processo simples e infalível para se organizar desde o início.

8- Seja conciso.
A brevidade é importante na comunicação profissional. Respeite o tempo de seu leitor sabendo exatamente o que você precisa comunicar antes de começar a escrever para que você possa manter sua mensagem concisa.

9- Use voz ativa.
Escrever em voz ativa anima sua escrita para que o sujeito esteja agindo em seu verbo. Uma voz ativa parece mais confiante e segura de si; também é uma ótima maneira de eliminar palavras supérfluas da sua escrita.

10- Não negligencie o contexto.
O leitor tem as mesmas informações e referências que você? Se não, certifique-se de fornecer contexto. Você não precisa dar toda a história de fundo, apenas preencha as partes que faltam para que sua mensagem fique clara.

11- Formate seu texto corretamente.
Use uma boa estrutura de formatação de texto. Fica mais organizado para quando você for reler, editar e para quando outro profissional, como um preparador de texto ou um revisor, for trabalhar nele.

12- Use seus sentimentos na escrita
Emoções são partes fundamentais de texto, principalmente se estamos falando de livros de prosa, poesia, autoajuda e outros. Deixe que seus sentimentos fluam pelas suas páginas pois isso deixa mais pessoal e envolvente.

13- Revise cuidadosamente, principalmente antes de enviar para outra pessoa.
Erros de digitação e gramática são ruins. Sempre. Analise seu texto e corrija erros antes de enviá-lo. Mesmo se você enviar para um revisor, quanto menos erros, melhor.

14- Escreva como você fala, dentro da razão.
Sua escrita deve soar natural e fluida. A menos que você esteja se comunicando em um contexto mais formal, escreva como se estivesse conversando com um amigo.

15- Não divague.
Acabamos de dizer “Escreva como você fala”, mas há uma ressalva – não divague. Evite voltas e reviravoltas sinuosas e não use palavras de preenchimento como “tipo”, “realmente”, e “você sabe”. Uma boa escrita deve ir direto ao ponto e evitar frescuras.

16- Seja um contador de histórias.
Não importa qual seja a mensagem, nós humanos somos atraídos por histórias. Considere:
Era uma vez ___. Todos os dias, ___. Um dia ___. Por causa disso, ___. Até que finalmente ___.

17- Tenha empatia com o leitor.
A empatia pode melhorar todos os tipos de escrita, de ficção a marketing de conteúdo e divulgação por e-mail. Aproveite o tempo para se colocar no lugar do seu leitor. Você está pregando para eles ou está engajando-os mostrando que se relaciona com seus sentimentos e experiências?

18- Seja fascinado para ser fascinante.
Quanto mais interessado você estiver sobre o assunto sobre o qual está escrevendo, mais intrigados seus leitores ficarão com o que você escreveu.

DICA: Confrontado com material de assunto pouco inspirador para um projeto atribuído? Encontre um ângulo fascinante para sua história. Com a abordagem certa, é possível escrever uma história interessante até sobre algo desagradável.

19- Deixe sua escrita descansar por um tempo e edite de novo.
Sempre que possível, não edite logo após terminar de escrever. Volte depois de uma pausa e revise com novos olhos. Mesmo se afastar para uma caminhada rápida ou uma xícara de café pode ajudá-lo a mudar de escritor para editor.

20- Livre-se de palavras e frases de preenchimento.
Quando você edita, é hora de cortar. Cada palavra precisa de um trabalho, e aqueles que não estão dando o seu peso têm que ir.

Feche os olhos. Imagine as palavras como pessoas em um escritório. Os verbos correm, ativos e animados, realizando tarefas. Os adjetivos e advérbios evocam ideias e imagens no departamento de marketing. Mas sempre há aquele cara. Vê-lo? Ele está perto do bebedouro, encostado na parede. Ele é onipresente, mas ninguém sabe realmente o que ele faz. Ele pode estar por aí, mas com certeza não parece estar fazendo a sua parte.

Aquele cara poderia representar qualquer palavra ou frase que sempre aparece em nossa escrita, mas não contribui em nada. Aqui está uma lista de palavras e frases que você precisa para retirar.

Palavras e frases mais preguiçosas

Em todos os momentos
Cuidado com frases flácidas em todos os momentos.

Cada e todos
Procure palavras de preenchimento em sua escrita todos os dias diariamente.

Ainda
Ainda não sabemos se teremos sucesso.

Em ordem
Elimine o excesso de palavreado para limpar sua escrita.

Basicamente, essencialmente
Essas palavras basicamente não agregam valor. Eles são essencialmente inúteis.

Totalmente, completamente, absolutamente, literalmente, na verdade
Sem palavras de preenchimento, sua escrita será totalmente fabulosa.

Muito, realmente, bastante, bastante, extremamente
Essas palavras muito comuns realmente não são úteis. Eles são bastante chatos.

Simplesmente
Simplesmente Não use essa palavra com frequência.

Bonito
É uma muito boa ideia usar esta também com moderação.

Apenas
Se sua frase funcionar sem ela, você apenas não precisa dessa palavra.

Que
Esta é uma palavra que você só deve usar quando precisar dela para maior clareza.

Cima baixo
Não nos importamos se você fica de pé ou sentado deitado para escrever, basta escrever de forma limpa!

De fato
Na verdade, Suas habilidades melhoraram.

Tudo de
Todos Seus leitores vão gostar de ler textos mais limpos.

Como sendo
Você será conhecido como ser um escritor proficiente!

Sendo que
Sendo isso Como você é o melhor escritor da sua turma, certamente tirará boas notas.

Durante o curso
Durante o curso da aula de redação, aprendemos alguns truques novos!

Para todos os efeitos, na maior parte
Para todos os efeitos, Nossa redação melhorou.

Ponto no tempo
Você não precisa usar palavras de preenchimento neste momento agora.

Cada palavra precisa ter um propósito em sua escrita, e há muitas que não contribuem com nada além de confusão. Agora que você tem uma lista de infratores comuns, em quantos mais você consegue pensar?

21 – Evite clichês.
Enquanto você lê o que escreveu, procure frases usadas em demasia que possam ser reformuladas de uma maneira nova e única. É uma das dicas de escrita mais comuns, mas também uma das mais ignoradas.

22- Advérbios de despejo.
Livre-se da maioria dos advérbios e use escolhas verbais mais fortes. Lembre-se do que Stephen King disse: “Acredito que o caminho para o inferno é pavimentado com advérbios”.

23- Desenvolva sua técnica de vírgula.
A vírgula é um sinal de pontuação incompreendido. Existem muitas regras para o uso adequado da vírgula, mas se você as estudar, elas se tornarão uma segunda natureza.

24- Coloque tudo na ordem certa.
Costumamos escrever na ordem em que ideias e pensamentos chegam até nós, mas nem sempre essa é a melhor maneira de apresentar o produto final. Se você não esboçou antes de começar a escrever, tente delinear seu rascunho final. Às vezes, esse processo revelará parágrafos ou seções inteiras que fariam mais sentido se fossem movidos.

25- Leia sua escrita em voz alta.
Uma das melhores maneiras de encontrar uma estrutura de frases desajeitada é ler sua escrita em voz alta. Se você tropeçar enquanto estiver lendo, dê uma olhada na frase em que tropeçou e veja se consegue esclarecê-la.

26- Mantenha uma lista de erros que você comete com frequência.
Todos nós temos nossas dificuldades de escrita. Faça uma lista dos seus erros mais frequentes para que você possa encontrá-los e eliminá-los facilmente da próxima vez.

27- Pense no seu leitor ideal.
Ao escrever, pense no que seu público ou leitor ideal sabe hoje. Qual é a realidade deles e como sua escrita pode informá-la e melhorá-la?

Por exemplo, se você escreveu um guia sobre como consertar barcos, ele começa no mesmo nível de conhecimento que o nível de habilidade do seu leitor ideal? É importante saber onde seu leitor está em sua jornada para que sua escrita não os perca ao longo do caminho.

28- Recrute um amigo para ler seu rascunho.
Às vezes, um segundo par de olhos pode ser útil. De todos os conselhos que você receber dê sua total consideração, mas faça suas próprias escolhas no final.

29- Procure aplicativos/softwares de edição de texto.
Editar a si mesmo é difícil. Aplicativos pode ajudá-lo a encontrar todos os tipos de erros de escrita. Pense nisso como um amigo prestativo olhando por cima do seu ombro, dando dicas de escrita e dizendo: “Ei, isso não parece certo. Quer dar outra olhada?”

30- Continue lendo, aprendendo e praticando.
Leia sobre a escrita para obter mais dicas de escrita. (Você está aqui, então já começou bem!). Leia bastante e aprenderá dicas de escrita por osmose. E pratique com frequência. A melhor maneira de melhorar sua escrita é fazê-la.

Fontes: Karen Hertzberg, in Grammarly
https://www.grammarly.com/blog/writing-tips/
https://www.grammarly.com/blog/words-you-no-longer-need/ 

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) – Capítulo 25: O egoísmo e seus estragos

Isadora, sentada no quarto, vestida de noiva em frente ao espelho da penteadeira, não conseguia conter a chuva de lágrimas que escorriam, molhando-lhe a face e o vestido. 

Sua alma parecia desejar ausentar-se do corpo. queria criar asas, e feito pássaro, voar livre, sem destino, mas não só, junto de seu amor. Queria Genuíno para seu parceiro de vida. pois ele era um homem de caráter, justo, sensível... O oposto de Fábio, tão egoísta.

E ela sentia desprezo por pessoas egoístas. Acreditava que as pessoas merecem se dar o devido valor, mas sem esquecer de valorizar o seu semelhante. Excesso de egoísmo, desconecta qualquer um da realidade, faz com que gente feito seu pai, tome a vida de outras pessoas para si, as destruindo em benefício próprio. O egoísmo é a régua torta usada pelos injustos para medir o mundo segundo seus próprios interesses. E, justamente por conhecer os estragos que o egoísmo é capaz de promover, ela estava ali, prestes a se sacrificar pela mulher que lhe deu a vida. 

O casamento seguiria sem amor, mas imaginava futuramente ser feliz como mãe ou desenvolver alguma habilidade útil para si e para quem mais precisasse. Ou, ainda, lecionar, reabrir a escolinha que foi da dona Almerinda. 

Isadora, mesmo chorando, não pensava em esmorecer. Sabia que encontraria um jeito de conduzir as rédeas do seu destino. 

A cerimônia seria realizada em Cachoeira, na igreja São José, construída com o empenho do Padre Orestes, o qual era uma espécie de figura histórica da cidade. Dono de uma personalidade forte, rígida. Mas era muito trabalhador. E criativo. Suas quermesses faziam sucesso e rendiam bons lucros à igreja. Unindo esforços junto aos devotos, o templo religioso mais moderno da cidade foi construído. 

A pedido da noiva, somente sua família, a família de Fábio e alguns poucos amigos se fizeram presentes.

Isadora buscou manter o controle de suas emoções e fazer o que tinha de ser feito. Enila e Júlio foram os padrinhos da noiva. E um casal de amigos de infância foram os padrinhos do noivo. 

O senhor Antônio, pai de Isadora, era todo sorriso ao conversar com os pais de Fábio. Dona Ana, mantinha-se sóbria. Pensativa sobre o sacrifício da filha. 

- Belo casal! Será uma honra realizar a cerimônia - disse o padre Orestes. 

Durante as palavras de juramento, Fábio se sentia visivelmente vitorioso. 

No momento do “sim”, Isadora sentiu a alma estremecer, mas concluiu o juramento. 

Após a cerimônia, os convidados, incluindo o padre Orestes, foram para a fazenda comemorar a união dos recém casados, num jantar discreto. 

Enquanto os homens preparavam o churrasco do lado de fora da casa, as mulheres preparavam, na cozinha, outros pratos para acompanhar a carne.

Na sala estavam os recém casados conversando a sós.

- Pareces triste – disse Fábio a Isadora  

- Não estou. É impressão tua.

- Olha, posso não ser quem sonhaste para esposo. Mas te farei feliz. Dê um sorriso. Estou constrangido em te ver assim toda vez que estou por perto.

- Tens razão. Vamos lá fora nos juntar aos demais. E tomar um bom vinho. 

- Isso. Quero nossas taças cheias.

Os peões, os pais dos noivos, os vizinhos da fazenda ao lado, Enila e Júlio, conversavam descontraidamente ao redor do fogo de chão.  

O Senhor Antônio ofereceu um “trago” ao padre.

- Só um gole. Sabe como é, sacerdotes têm que dar o bom exemplo ao seu rebanho. 

- Deixa de besteira, padre.  É noite de festa. Aproveita – disse o anfitrião.

- Não acredito. 

- O que houve, padre? 

- A velha feiticeira tá chegando. 

- É minha convidada - disse Isadora.

- Filha, não sabes? 

- Do que, padre? 

- Ela é uma feiticeira. 

- Ela é uma curandeira. Já devolveu a vida a muitos doentes desenganados pelos médicos.

- Mas por meio de sortilégios. Esses procedimentos não são da vontade do Senhor.

- “Fia”, mandou me chamar, tô aqui – disse Vó Gorda. 

- Sim. Precisava vê-la. Sua presença me dá paz - falou Isadora abraçando-a.

O padre olhou para Isadora fazendo uma expressão de espanto. 

- Como vai, Reverendo? - perguntou a benzedeira.

- Muito bem, graças a Deus. 

- Tudo que é bom vem dele, do Criador. 

- Mais a sua grande invenção foi as chinocas - disse o velho Antônio.

- A sua grande invenção foi o amor - disse Vó Gorda.

- Bem... Nesse ponto concordo com a senhora.

A mesa, belamente posta por Amélia, foi elogiada. E todos se serviram à vontade. 

Mais tarde, quando os convidados foram embora, Isadora se deparou com a situação mais delicada e difícil de sua vida: ir para cama com um desconhecido, que de repente virou seu marido, era uma situação que a assustava, mas da qual não podia escapar.

As cenas de amor com Genuíno vieram à sua mente. E pensou: “será que Fábio vai perceber que não sou mais virgem? 

Que Nossa Senhora, mãe de Jesus me cubra com seu manto de proteção e amor. 

No quarto, enquanto Fábio despia sua mulher, do outro lado do cenário, armado, Genuíno chorava a perda do seu grande amor.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
continua…

Fonte: Texto enviado pela autora 

Aparecido Raimundo de Souza (“Corriquências” do dia a dia)


Trágico
O Barbosa acordou assustado. Ao se levantar da cama onde dormia, descobriu que havia morrido na véspera.

Na fazenda
O arado se apaixonou pela enxada.

Patife
Bateu na mulher e correu para os braços da vizinha.

Sonho de Ícaro 
O moleque se atirou do vigésimo andar. Ficou preso na sacada do oitavo.

Gesto impensado
A patroa, estressada, bateu com força a porta da geladeira. Furiosa, a velha Frigidaire lhe deu com o congelador no meio das ventas.

Destino
Viajou para Brasília. Acabou preso na Papuda.

Como se fosse o vento
O velhote gostava de soprar as saias das meninas que brincavam no parquinho em frente ao portão da casa dele. Foi preso por pedofilia. A arma do crime não foi encontrada.

Sem sorte 
Correndo desesperadamente da polícia, o meliante foi atropelado pela viatura que cruzava a esquina.

Impossível
Ao se olhar no espelho o ceguinho descobriu que além de não enxergar coisa alguma, estava sem a cabeça. 

No elevador
Quando o sujeito chegou no quinto, o diabo entrou estabanadamente e apertou o botão de descida.

Se molhar para quê?
A sombrinha da velhinha saiu as carreias das mãos dela, quando se deparou com uma chuvarada tremenda que se aproximava.

No circo
A onça pintada a mão, oriunda de Brasília fugiu com o domador. E levou o leão marinho de barca branca recém-chegado da cidade de Botucatu, para comer de sobremesa.

Inacreditável
Glorinha, a empregada aqui de casa, ao abrir a lixeira caiu de costas. Uma barata fugia, assustada, de uma embalagem de inseticida da marca RAID, que vinha em seu encalço.

Inconformismo
Os olhos choraram tanto que as pálpebras foram reclamar com as sobrancelhas.

Futuro
Não existe amanhã para quem morreu.

Do nada
Ao passar pela cancela da linha férrea, o bêbado foi cancelado. Não viu o trem que gritou para ele sair da frente.  

Destrambelhado
A gaiola fugiu e levou o papagaio de estimação de seu ex-dono só para sacanear o sujeito.

O amor quando é verdadeiro...
A escada do prédio onde moro fugiu com o corrimão. Antes de passar pela portaria, atropelou um degrau que vinha em sentido contrário.      

Fonte: Texto enviado pelo autor 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Versejando 129

 

Mensagem da Garrafa – 58 -


Weder de Assis
Cordisburgo/MG

Conheça a Ti Mesmo

É muito comum nos dias de hoje, ouvirmos que os cientistas criaram um fabuloso telescópio, uma câmera fotográfica poderosa, um submarino incrível. Essas invenções sempre têm a intenção de conquistar algo no universo, no fundo do mar ou nos lugares mais altos do planeta. Gastam milhões de dólares, com o objetivo, sempre é claro, de melhorar a vida dos “terráqueos”. Infelizmente nós ainda não nos atentamos que a maior conquista do ser humano, é quando ele conquista a ele mesmo. De que adianta conquistar o céu, as estrela, a lua, as profundezas dos oceanos se ainda não conseguimos conquistar e conhecer a nós mesmos. O nosso interior é muito mais importante do que marte ou a lua. Começaremos a mudar de vida, de atitude e principalmente de comportamento quando passarmos a olhar mais para dentro de nós.

A motivação, o entusiasmo, a força vai surgir quando começarmos a olhar mais para o nosso interior. Todas as biografias de homens e mulheres de sucesso, que venceram crises, enfrentaram batalhas e saíram vencedores, em algum momento, eles declaram: que olharam para o seu interior, que tiraram forças do seu interior. Por que será que não compreendemos esta lição rapidamente? Por que será, que não acreditamos em nós mesmos? Por que será que estamos sempre buscando algo tão longe e algumas vezes impossível? Se a solução está tão perto de nós. Todo o nosso sucesso e fracasso estão dentro de nós.                   

Sun Tzu em seu livro “A arte da guerra” declarou: “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”. O que você decidiu conquistar esta semana, neste mês ou neste ano? Altos salários, casa, apartamento, uma pessoa para amar, a viagem dos seus sonhos... Em sua lista de conquistas você colocou você mesmo. Você já decidiu conquistar e vencer o medo, a angústia, a depressão, o ódio, a mágoa, a solidão, o complexo de inferioridade, a baixo-estima. Tudo que acabei de mencionar está dentro de você. Será impossível conquistar vitórias externas se você não conseguiu conquistar a si mesmo.

Quando conquistamos o nosso interior, ele se torna uma base para conquistarmos e mantermos as nossas conquistas exteriores. Se você não conquistar a você mesmo, não estará pronto para conquistar outras coisas.

Pare agora e refaça sua lista de conquistas, e coloque você no topo.
(Fonte: Sorocult. acesso 9.1.2016)

I Jogos Florais de Congonhas-MG (Prazo : até 30 de abril de 2024)


A TROVA

É uma composição poética apresentada em quatro versos heptassílabos (sete silabas poéticas) contados até a última sílaba tônica. Possui rimas obrigatórias (rimas consoantes/perfeitas) do 1º com o 3º versos e do 2º com o 4º, sistema (ABAB). Deve apresentar sentido ou um pensamento completo (dispensando título e explicações), em português. 

A trova deve ser inédita e o tema deve constar no corpo da trova. 

O primeiro verso sempre inicia com letra maiúscula e os demais sempre com letra minúscula, salvo em casos onde a pontuação anterior exigir/justificar o uso de letra maiúscula.

HOMENAGEADO
DJALMA ANDRADE  (1894-1977)

Nascido em Congonhas /MG, em 03/12/1894, filho do Dr. Cândido de Andrade e de Leonor Martins de Andrade. Autor de: "Vinha Ressequida", "Versos Escolhidos e Epigramas", "Poemas de Ontem e de Hoje" e "Sátiras", entre outros. Foi Membro da Academia Mineira de Letras e da Academia de Lisboa. Formado em Direito, mas sua paixão mesmo era pelo jornalismo. Atuou em quase todas as revistas e jornais em Belo Horizonte. Além disso, também foi poeta lírico e satírico, sonetista brilhante, historiador, cronista, radialista, roteirista de cinema e teatro, apresentador de TV e compositor. Faleceu em 1977, aos 83 anos.

A título de curiosidade: o clube de futebol Atlético Mineiro, teve dois hinos. O segundo (o atual) foi composto em 1969 e o primeiro, de 1928, tinha a letra composta por Djalma de Andrade.

De todas que amei no mundo
uma somente ficou:
deixou traço mais profundo
quem mais de leve passou...
(Djalma Andrade)

ÂMBITOS, CATEGORIAS E TEMAS

ÂMBITO NACIONAL/INTERNACIONAL

Trovadores Veteranos

Tema - Profeta (Lírica/Filosófica): até 02 trovas inéditas por concorrente;

Tema - Imagem (Humorística): até 02 trovas inéditas por concorrente;

Novos Trovadores

Tema - Pedra (Lírica/Filosófica): até 02 trovas inéditas por concorrente;

Tema - Ladeira (Humorística): até 02 trovas inéditas por concorrente;

ÂMBITO ESTADUAL

Trovadores Veteranos

Tema - Escultura (Lírica/Filosófica): até 02 trovas inéditas por concorrente;

Tema - Risada (Humorística): até 02 trovas inéditas por concorrente;

Novos Trovadores

Tema – Canção (Lírica/Filosófica): até 02 trovas inéditas por concorrente;

Tema – Pedra Sabão (Humorística): até 02 trovas inéditas por concorrente;

OBSERVAÇÕES:

❖ É obrigatório constar a palavra tema na trova;

❖ Acima das trovas o autor deve colocar: âmbito, categoria e tema;
❖ Abaixo das trovas o autor deverá fazer a sua identificação (nome completo), endereço, telefone e e-mail.

MODO DE ENVIO

Trovadores Veteranos e Novos Trovadores deverão encaminhar as trovas
por e-mail ao Fiel Depositário:

Âmbito nacional/internacional (Lírica/Filosófica)
Jonathan Leandro Martins Reis 
ubt.congonhas@gmail.com;

Âmbito estadual (Lírica/Filosófica): 
Jerson Lima de Brito
jersonbrito.pvh@gmail.com;

Trovas humorísticas (todos os âmbitos): 
Ramon Barros de Brito
ramonbarrospoeta@gmail.com

CLASSIFICAÇÃO

Trovadores Veteranos (Trovas Líricas/Filosóficas):
5 Vencedores [1º ao 5º]; 5 menções honrosas [6º ao 10º]; 5 menções especiais [11º ao 15º].

Novos Trovadores (Trovas Líricas/Filosóficas):
5 Vencedores [1º ao 5º]; 5 menções honrosas [6º ao 10º]; 5 menções especiais [11º ao 15º].

Trovadores Veteranos (Trovas Humorísticas):
5 Vencedores [1º ao 5º].

Novos Trovadores (Trovas Humorísticas):
5 Vencedores [1º ao 5º].

PREMIAÇÃO
A premiação, composta de certificados, será enviada diretamente aos premiados via e-mail. A simples remessa do trabalho autoriza automaticamente a publicação do mesmo pela UBT com indicação do autor.

Fonte: enviado por Solange Colombara

Yoko Oshima Franco (Crônica da vida)

A vida me é tão óbvia. Cenas de emoções vividas. Dócil, seguia os passos de minha mãe, desviando dos capins mais altos que denunciavam a despedida de uma noite chuvosa, à medida que me esbarrava nas folhas e observava as gotinhas de chuva caírem. O frescor da manhã com sua leve brisa, o sol calmo anunciando um lindo dia e eu ali, simplesmente seguindo minha mãe. Não me importava para onde íamos, o que faríamos, nem por que. Girinos agitados nas poças de água causavam-me maravilha e minha imaginação voava, pois na minha sabedoria já sabia que se tornariam sapos. E da feiúra do sapo também já era conhecedora.   Sentia-me completa ali, nada a desejar, simplesmente encantada com a natureza, com tudo o que ela continha, com tudo ao meu redor.

E este mundo foi crescendo, que festa jubilosa quando aprendi a ler e escrever. Como me sentia grandiosa podendo ler o nome das lojas da pequena cidade, quando descobri a aventura que os livros traziam e me permitiam as mais distantes viagens, por mundos e mundos povoados pelos meus sonhos. Sonhos perturbados por uma fase de angústia, de vazio, de perguntas... sem respostas! Ah, aquela amiga que todos têm, que nos ajuda nessa travessia, como se estivéssemos em um barco sem remo, perdidos num mar turbulento. Que presente a vida nos oferece para nos mostrar que não estamos sós.

E que desalento foi descobrir que era preciso algo mais para dar completude à existência. Hoje, sei que tudo o que precisamos está dentro de nós. E rio internamente, pois esta parte é a mais engraçada e, ao mesmo tempo, a mais comovente. Ela move o mundo. Ela inspira os poetas, os dramaturgos, os cineastas, os musicistas... a arte enfim! E quanta arte existe em nossa vida. Outro dia, vendo minha filha caçula sofrer de amor, disse: “veja, agora eu não lhe basto como antigamente”. Ela sorriu com tais palavras. E silêncio se fez e ambas percebemos que o tempo havia passado rápido.

Completude é um sentimento que só a paz oferece. E paz só se alcança se permitirmos a criança renascer em nós. Se isto não fizer sentido, seremos adultos (muitas vezes infelizes) buscando no outro (alguém, emprego, objeto...) a felicidade, talvez pais sofredores quando os filhos se tornarem adolescentes e a troca pelos amigos (ou namorados/esposos e esposas) se tornar insuportável. Podaremos os seus sonhos (em nome de sabermos o que é melhor para eles. Será?) e desejaremos que realizem os nossos (aqueles que não conseguimos realizar). Como se fosse possível delegar a nossa vida a alguém.

Mas a vida é eterna fonte de aprendizagem. E oferece oportunidade para ampla revisão, para quem ainda não tem olhos de ver. O corpo envia mensagens sábias e necessárias. Um exemplo. Foi incrível ouvir o desabafo de um professor: “Já tinham me avisado que ‘chegar aos quarenta’ era difícil, mas nunca me avisaram dos ‘quarenta e cinco!”. Digo incrível, pois a manutenção da aparência tem sido uma milenar preocupação feminina (por inúmeros fatores, a que não cabe aprofundamento no momento). Contrariando a natureza, o envelhecimento é algo inaceitável para a grande maioria (arrisco dizer, sem paz). Renegam sua expressão facial (é preciso extinguir urgente este vinco entre as sobrancelhas, ah e essas bolsas debaixo de meus olhos, o que é isso?), suas manchas nos braços, a perda da elasticidade da pele. Renegam a vida vivida. Pior, esquecem de viver o presente e a beleza de cada fase da existência.

Observando a bisavó, o bisnetinho exclamou, “isto pendurado no seu braço é gordura?” Risada gostosa se seguiu entre os presentes e veio a resposta da bisa “é pelanca mesmo!”. O biso completou “Idade não se esconde mesmo!”. Refleti sobre a questão. Quanta verdade havia na frase. E escondê-la para quê? Esta pergunta não deveria ser calada.

Muito tempo atrás, conversando com meu então vizinho, ele confessou, aos seus 86 anos: “sabe, chega uma hora em que viver torna-se enfastiante”. Não conseguia entender aquela frase. O tempo se passou e pude ver quantos cuidados necessitava a vózinha, ‘bisa’. O que vem depois de bisa? (Sim, pois era o caso) Entendi o seu João (meu vizinho). Aos 105 anos, a vózinha não mais andava, depois de sua última queda que lhe rendeu cirurgia no fêmur  suas mãos ágeis que foram – habilidosas no crochê, não mais se abriam  não havia mais lente de óculos possível para trazer-lhe novamente a visão, cujas cirurgias de cataratas tinham sido realizadas no passado  era preciso gritar para que ela ouvisse alguma coisa o lado esquerdo era mais sensível, era preciso tocá-la com cuidado, pois qualquer pressão na sua pele provocava hematomas (parecia papel que se rasgava) necessitava de todos os cuidados imagináveis que iam da higiene à alimentação. A vózinha não tinha doença, seus exames de sangue sempre normais, sua mente saudável, lembrava-se mais de coisas do passado que recentes. A vózinha tinha apenas velhice. E um sorriso sempre estampado no rosto. A vózinha voltou a ser criança, conduzida apenas. Saberia para onde iria, o que faria, por quê? Tornou-se apenas uma espectadora da vida.

E, num determinado dia, partiu. Integrou-se à natureza. As lágrimas de despedida foram de paz. Viveu (o suficiente?) para dissipar rancores e angariar perdões. Hoje a palavra paz é uma das que me trazem maior significado. Tão curta e tão intensa. O amor? Por que não digo que é o amor? Ah, ainda não temos maturidade espiritual para entendermos o amor (em nome do amor se mata e muitas vezes ele é carregado de sofrimento). O amor é sentimento de liberdade e não de posse (para exemplificar, as pessoas diriam “eu amo você, mas respeito o fato de não ser correspondida, logo, como meu amor por você não tem limites e quero unicamente a sua felicidade, você é livre para seguir o seu caminho”!). Quanto à paz... ah este sentimento sublime! A paz é aceitação da vida (com todas as surpresas que ela encerra, boas e más). É integração com a natureza. É bem-estar. É tranquilidade nas decisões. É desapego (amar as coisas sem possuí-las).

Quantas vezes olhamos as crianças e perguntamos “o que será que elas estão pensando, o que desejam, o que esperam da vida etc?”. Desafio alguém que ainda não tenha pensado nisso. Só se nunca observou uma criança. Elas têm paz. Por isso vejo a vida tão óbvia. Buscar a paz é sabedoria, não importa em qual fase de vida estamos. Bem, mas se ainda assim nada do dito aqui fizer sentido, vamos apenas viver. Um dia de cada vez, saboreando cada momento. O tempo revela o necessário, aos poucos e generosamente…

Fonte: Sorocult. Site desativado. acesso 09.01.2016.

Wanda de Paula Mourthé (Canteiro de Trovas ) – 5


A indiferença é que explica
esta injusta distorção:
caviar em mesa rica,
e na do pobre, nem pão!
= = = = = = = = = 

A saudade em seu assédio,
se, à noite, insone eu me deito,
ocupa o lugar que o tédio
ocuparia em meu leito.
= = = = = = = = = 

Construiu a eternidade,
ao selar o nosso adeus,
ponte feita de saudade
entre meus braços e os teus!...
= = = = = = = = = 

Depois de tua partida
por desavença banal,
o que foi "a doce vida"
hoje é uma vida sem sal!
= = = = = = = = =

Em nosso mundo, até quando
haverá mundos distintos?
A ganância alimentando
a multidão de famintos...
= = = = = = = = = 

Envolta em brilhos e cores,
a natureza se esmera
para, em delírio de flores,
eclodir na primavera.
= = = = = = = = = 

Foi um lar... Hoje — eu confesso —
é tapera em desalinho,
esperando teu regresso
para ser de novo um ninho.
= = = = = = = = = 

Minha amada ouve a seresta
na moldura da janela,
e o luar, fazendo festa,
brilha mais no rosto dela.
= = = = = = = = = 

Não vens... e, já quase à aurora,
com tua ausência me deito.
Chora a neblina lá fora,
chora a saudade em meu leito.
= = = = = = = = = 

Não vens... e, sempre evasivo,
esse teu amor bissexto
denomina de "motivo"
o que eu chamo de "pretexto".
= = = = = = = = = 

Na praça da adolescência,
belas fontes luminosas
jorravam, em sua essência,
promessas de um mar de rosas...
= = = = = = = = = 

No poente, nosso amor
perde os arroubos de outrora,
mas, sem perder o frescor,
ganha ternuras de aurora.
= = = = = = = = = 

Notícias sensacionais
que ouviremos algum dia:
— Paz mundial! Bombas não mais...
explosões... só de alegria!
= = = = = = = = = 

O nosso amor teve fim,
mas ficaste em minha história,
pois te vejo junto a mim
pelos olhos da memória.
= = = = = = = = =

Ontem, estrela em cartaz,
hoje, uma atriz decadente:
seu brilho foi tão fugaz
quanto o da estrela cadente!
= = = = = = = = = 

Os estalidos ardentes
da floresta na queimada
são os protestos candentes
da natureza violada.
= = = = = = = = = 

O sol-por, ao se esvair,
cede à penumbra os espaços,
e, quando a noite cair,
caia você em meus braços!
= = = = = = = = =

Pago um preço alto demais
pela espera que não finda...
— Diz a razão: "Não vem mais"
— E a esperança; "É cedo ainda..."
= = = = = = = = = 

Partiste... e meu desencanto,
vendo ruir a ilusão,
escorre em gotas de pranto,
orvalhando a solidão.
= = = = = = = = = 

Percebo, agora, tristonho,
que, ao fim da minha viagem,
para manter vivo um sonho,
eu vivi só de miragem.
= = = = = = = = = 

Pintor, com tintas de amor,
às sombras não dou guarida,
porque Deus é o co-autor
do painel da minha vida.
= = = = = = = = = 

Por não ter destinatário,
notícias que invento a esmo,
em meu viver solitário,
sempre as remeto a mim mesmo.
= = = = = = = = = 

Quanta atrocidade encerra
o pretexto tão falaz
de quem leva um povo à guerra
sob a bandeira da paz!
= = = = = = = = = 

Quanto mais o céu eu fito
— que é de Deus o imenso império
mais vislumbro no infinito
um infinito mistério...
= = = = = = = = = 

Sejam fome e guerra extintas,
não mais violência e opressão:
nutram-se as bocas famintas,
não a boca do canhão!
= = = = = = = = = 

Teu amor, sonho distante,
porque és pedra lapidada,
mais brilhante que o brilhante,
e eu, pedra bruta... mais nada!
= = = = = = = = = 
Fonte: Wanda de Paula Mourthé. Com…passos de emoções. Belo Horizonte: Flux, 2013.
Enviado pela trovadora.

Viviane das Graças Vieira Bufalari (Ócios do pacote)

Dizem que enquanto um brasileiro descansa um chinês trabalha. Não duvido, nem contesto, acho até uma teoria interessante. Mas já se viu em outro país um funcionário como o brasileiro? Temos o dom de absorver serviços inimagináveis, não somos os mais ágeis ou infalíveis, porém se erramos, o fazemos com classe e sabemos ser flexível.

Trabalhei num respeitável setor de pacotes de uma renomada loja em minha cidade. Foi um bom emprego, o meu melhor primeiro emprego, lá eu presenciei diariamente situações que me proporcionaram um aprendizado incomensurável.

Havia coisa que eu amava outras, no entanto, que dói só de lembrar. Vi de perto algumas situações que me levaram a observar algumas curiosidades, como por exemplo, o fato das pessoas se preocuparem tanto com a opinião de terceiros.

A mulher compra uma bacia – o item varia podendo ser uma caixa de isopor ou uma panela industrial – o caso é que não há uma sacola que comporte tais produtos. E então? Pelo estranho desconforto em imaginar a reação das outras pessoas ao verem esse objeto sendo carregado pelas ruas e ônibus, as pessoas fazem a seguinte opção, para o desgosto do empacotador:

- Pode passar um papel?

E ainda arrematam:

- É para as pessoas não ficarem olhando.

Passar um papel?! Sabe que papel é esse? É manilha ou Kraft e dependendo da situação financeira e do humor do funcionário pode ser até jornal. Pobre, pobre, pobre! Se não é tão pobre, é pobre e feio.

No lugar de uma bacia de cor saliente e grande utilidade doméstica, a dona de casa se propõe a andar com um estranho e gigante embrulho atraindo olhares curiosos e críticos. Contraditório e esquisito!

Outro caso que leva a loucura o mais simpático empacotador é a pessoa que apresenta uma pequena sacola para ser guardada e quando este com toda gentileza lhe oferece a senha de pequenos itens, ela faz sinal para que entre toda a família com sacolas, malas e caixas.

Sem falar daqueles clientes que invadem o balcão para pegar suas coisas, ou ameaçam o pobre funcionário ao serem parados para guardar as sacolas.

Existem clientes carentes e atendentes carentes, são aqueles que mendigam uma conversa, ainda que boba falando sobre  o tempo. Em meio ao silencio de um embrulho o cliente começa a contar para quem é o presente e termina citando a manchete do jornal de domingo. Funcionário carente é o que em poucos minutos passa a falar mais do que o cliente revelando seus traumas e expondo sua intimidade.

Entre casos e acasos do cotidiano de cada trabalhador, convive-se com o difícil contraste entre o que somos e o que fazemos, conciliar essa situação pode ser exaustivo, contudo acredito que ninguém o faça melhor do que o brasileiro. Pelo menos não com tanta alegria, criatividade e excelência atrás ou na frente de um balcão.

Fonte: Sorocult. site desativado. acesso 9.1.2016.

Artur de Azevedo (Os dentes do Braz)

O Braz era bonito, mas — coitado! —
Tinha maus dentes; quando a boca abria,
Todo o encanto perdia:
Por isso era calado,
E não ria: sorria.

Mas que namorador!... tinha a mania
De acompanhar senhoras; quando via
Passar alguma sem marido ao lado,
Sendo bela, ficava entusiasmado,
E os passos lhe seguia.

Mais de uma dama, tendo reparado
Que tão belo rapaz a perseguia,
Não se mostrava esquiva ao namorado;
Mas quando descobria
Naquela boca um singular teclado
Em que somente — pobre desdentado! —
Sustenidos havia,
Toda a ilusão se lhe desvanecia.

Muita gente dizia:
— É pena que um rapaz tão adamado
Na boca tenha aquela cacaria,
Quando há dentes postiços no mercado,
E um dentista afamado
Em cada rua chama a freguesia!

O Braz bem percebia
Que aquela boca era o seu negro fado,
Porém não se atrevia
A entrega-la ao dentista; a covardia
Era tanta, era tal, que o desgraçado
Só de pensar no boticão, tremia!

No entanto, o Braz, um dia
Apareceu metamorfoseado,
Mostrando, quando os lábios entreabria,
Dentes que um deus do Olimpo invejaria!

Foi um caso engraçado
Que dos contos a Musa desafia,
E em versos maus ei-lo aqui vai contado:

I

Dissimulando os dentes,
Estava o Braz silencioso à porta
De uma alfaiataria onde se corta,
Mais do que o fato, a pele dos ausentes,
Quando passou, ligeira e saltitante,

Uma dama elegante
E desacompanhada.
— Oh, que linda mulher! que anjo! que fada! —
Murmura o Braz consigo, — com que graça
O vestido arregaça
E pega no sombrinha!
Vou atrás dela, porque está sozinha! —

II

Ocioso é dizer-vos
Que a cena representa
A rua do Ouvidor (fere-me os nervos
Dar-lhe outro nome: nenhum mais lhe assenta.)
A dama vai ao largo da Carioca,
Seguida pelo Braz; num armarinho
Entra, e ele, de pé, fica-lhe à coca.

Ela sai afinal; toma um bondinho
Da praça Onze. Ele o bondinho toma,
Disposto a acompanha-la ao fim do mundo.

Embora fique sem jantar nem ceia,
Pois ou bem se conquiste, ou bem se coma!
Mas — oh, felicidade! — ela dá fundo
Na praça Tiradentes.
Do bondinho se apeia
E entra na loja de um joalheiro, enquanto
O Braz fica no canto,
Suspiros a soltar intermitentes.

Sai da loja a mulher, sempre sozinha,
E, desta vez, ligeira se encaminha
Para o largo de São Francisco. Para
Diante de uma vitrine, e então repara
Que é seguida de perto
Pelo Braz, e sorri assim de certo
Modo que o encoraja,
Pois aquele sorriso,
Vago, estranho, indeciso,
Não é de quem reaja.

III

Ele aproxima-se, e ela, resoluta,
Como heroína habituada à luta,
Deste modo lhe fala:
— Que deseja de mim o cavalheiro? —
Ele, a sorrir, pergunta-lhe, gaiteiro:
— Dá-me licença para acompanha-la? —
Ela responde muito amavelmente:
— Pois não! Como quiser! — E incontinente
A caminho se põe. O Braz, ditoso,
Não cabendo na pele de contente,
Vai-lhe seguindo o passo vagaroso.

A rua do Ouvidor atravessaram,
E uma esquina dobraram.

IV

À dama num magnifico sobrado
Entra, e após ela o Braz também, coitado!
Ela, do alto da escada, grita: — Suba!
E ele, com mais denodo
Que um espanhol em Cuba,
Sobe, mas fica todo
Atrapalhado quando vê que um homem
No patamar o espera.
Um lobo, um tigre, ou qualquer outra fera
Dessas que nos atacam e nos comem,
Tamanho susto não lhe causaria;
Mas o dono da casa lhe sorria,
Dizendo: — Queira entrar... tenha a bondade...
O cavalheiro tem necessidade,
Disse minha mulher, dos meus serviços,
Essa boca realmente
Pede uns dentes postiços...
Entre, e lhe afianço: ficará contente!

V
O Braz entrou, e, passeando a vista
Por tudo que o cercava,
Notou então que estava
Em casa de um dentista;

Mas teve que fazer o pobre diabo
Das tripas coração. Sentou-se. Ao cabo
De uma hora de tormentos
E dores excessivas,
Tinham deixado as túmidas gengivas
Os últimos fragmentos
Dos caninos de outrora.
Finda a sessão, disse o dentista: — Agora
Vou fazer-lhe uma rica dentadura. —

VI

E assim foi, realmente:
Pouco tempo depois desta aventura,
Impava o Braz, — não lhe faltava um dente.

Fonte: Artur de Azevedo. Contos em verso. Publicado originalmente em 1909. Disponível em Domínio Público.