quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Hans Christian Andersen (As cegonhas)

Era uma vez uma cegonha que construiu o ninho no teto da última casa da aldeia. A mãe estava no ninho com seus quatro filhotes, que espichavam a cabeça, com seus bicos escuros - porque ainda não tinham ficado vermelhos.

Perto deles estava o pai cegonha, na beirada do telhado, duro e teso, pousado em um pé só, para ter ao menos alguma preocupação, enquanto montava guarda. Parecia até feito de madeira, de tão quieto e duro que estava! E pensava lá consigo:

- É certamente grande honra para minha mulher ter uma sentinela de guarda ao seu ninho! As pessoas não sabem que sou o marido dela, e pensam que tive ordem de vir fazer sentinela aqui... Isto é muito aristocrático!

E continuava parado, sobre uma perna só,

Na rua brincava um bando de crianças; quando viram a cegonha, um dos meninos mais atrevidos começou a cantar a velha cantiga das cegonhas, e os outros o acompanharam imediatamente. Mas cada um cantava os versinhos como lhe vinham à cabeça:

"Cegonha, cegonha da perna comprida!
Vai para o teu ninho, cuidar dos filhotes:
Um deles agora vai ser enforcado;
O outro em seguida será esfolado;
O outro num tiro vai perder a vida;
E o derradeiro dos teus pensamentos
Vai ser no espeto varado e assado!"

- Mas escutem o que aquelas crianças estão cantando! - disseram os filhotes da cegonha - dizem que nós vamos ser enforcados e assados no espeto!

- Ora! Não façam caso deles! - retrucou a mãe cegonha. - Se vocês não lhe derem ouvidos, não terão de que se incomodar.

Mas os rapazinhos continuavam a cantar, apontando com o dedo para as cegonhas, só um pequerrucho, chamado Peter, declarou que era um injustiça se divertirem assim à custa dos pobres animais e não tomou parte na brincadeira.

A mãe cegonha consolava os filhos:

- Não se importem com eles, não se inquietem assim. Olhem para o papai, como está ali tão quieto, e por sinal, em uma perna só!

- Mas nós estamos com tanto medo... - disseram os pequenotes, encolhendo a cabeça para dentro do ninho.

No outro dia, quando as crianças voltaram e  viram as cegonhas, começaram a velha cantiga:

" Um deles agora vai se enforcado;
E o derradeiro dos teus pequenotes
Vai ser no espeto varado e assado!"

- Então nós vamos ser enforcados e assados? - perguntaram os filhotes.

- Nada disso ! Não! - respondeu a mãe. - Vocês vão mas é aprender a voar; eu vou exercitá-los. Depois iremos aos campos, fazer uma visita às rãs, elas nos cumprimentarão lá dentro d'água, e cantarão: Coaxe! Coaxe! Coaxe!...e nós as comeremos. Será um excelente petisco, acreditem-me!

- E depois? - indagaram os filhotes.

- Depois todas  as cegonhas da terra se reunirão em assembleia e começarão as manobras do outono. E vocês todos devem saber voar muito bem, porque isso é muito importante. O general atravessa com o bico todos os que não sabem voar, por isso devem tratar de aprender alguma coisa nos ensaios.

- Então, afinal acabaremos todos no espeto, como disseram os rapazes, e...oh! Lá estão eles cantando outra vez aquilo.

- Ouçam-me a mim, e não aos rapazes. - disse a mãe cegonha. - Depois da grande revista, voaremos para longe daqui, para os países quentes, por sobre montes e florestas. Iremos ao Egito, onde há três casas de pedra, cujo topo alcança as nuvens - chamam-lhes Pirâmides, e são mais velhas do que uma cegonha pode imaginar. E naquela mesma terra há um rio que transborda das margens, e vira o país inteiro em um lodaçal. então nós entramos na lama e comemos rãs.

- O...oh! ...- exclamaram todos os pequerruchos.

- É um lugar verdadeiramente delicioso! A gente pode comer o dia inteiro, e enquanto estamos passando bem por lá, aqui neste país não há uma só folha verde nas árvores! É tão frio aqui que até as nuvens se transformaram em massa geladas e caem em farrapos.

Ela queria falar na neve, mas  não sabia explicar-se melhor.

- E aqueles rapazes malvados também vão ficar em uma massa gelada? E cair em farrapos? - perguntou o filhote mais novo.

- Não; eles não ficam em massa gelada, mas não andam muito longe disso; e são obrigados a ficar apatetados em uma sala triste, enquanto vocês estarão voando em terras estrangeiras, onde há flores e sol quente.

Passou-se algum tempo, os filhotes tinham crescido tanto que já podiam ficar de pé no ninho e olhar em roda. E todos os dias o pai cegonha trazia lindas rãzinhas, cobrinhas, e toda a espécie de manjares do agrado das cegonhas, que podia encontrar. Divertido era ver todas as brincadeiras que ele fazia para distraí-los! Metia a cabeça debaixo da calda, depois batia o bico como se fosse uma pequena matraca, e depois contava histórias, toda elas relativas aos brejos e pauis.

- Vamos, agora devem aprender a voar! - disse um dia a mãe cegonha.

E os quatro nenês se viram obrigados a ir para o beiral. Mas como cambaleavam! Tentaram equilibra-se com as asas, mas quase caíram ao chão.

- Olhem para mim! - disse a mãe. - É assim que devem manter a cabeça! E ponham os pés deste jeito!" Assim! Um, dois! Um, dois! Um ,dois! Isto há de ajudá-los a vencer no mundo.

Ela fez um voo um pouco longo, e os filhotes deram um pequeno salto sem assistência, mas - bumba! Foram abaixo, direitinho, porque ainda tinham o corpo muito pesado.

- Eu não quero voar! - disse um, arrastando-se para o ninho. - Não me importo de ir para as terras quentes!

- Gostarias mais de ficar aqui, e ficar gelado no inverno, feito um bloco? E esperar que os rapazes te venham enforcar, queimar ou assar no espeto? Pois bem, então vou chamá-los já e já!

- Não , não! - disse o filhote, saltando outra vez para o teto, com os outros.

No terceiro dia já começaram a voar um pouco, e pensaram então que já podiam pairar no espaço, amparados nas asas, mas, quando tentaram a façanha, caíram e foram obrigados a bater as asas o mais que podiam. Os meninos tinha aparecido lá embaixo, cantando a sua canção

"Cegonha, cegonha, da perna comprida..."

- Nós não vamos voar para baixo e dar-lhes bicadas? - perguntaram os pequenos.

- Não; deixem os meninos- disse a mãe. - Escutem o que eu digo; isto é muito importante - um...dois...três! Agora vamos voar para a direita. Um...dois...três! Agora para esquerda, ao redor da chaminé. Foi muito bem! Este último golpe de asas foi tão lindo, e tão direito, que dou licença de voarem comigo amanhã para o brejo. Estão já aparecendo lá algumas famílias de cegonhas muito elegantes, e todas com seus filhos, quero que se veja que os meus são os mais bem-educados de todos, e recomendo que andem por lá com o devido grau de altivez, porque isso produz bom efeito e traz consideração.

- E não vamos nos vingar dos rapazes perversos?

- Ora! Deixemo-los gritar quanto quiserem. Vocês podem voar até as nuvens, e ir para a terra das Pirâmides, enquanto eles estão ficando gelados, e não veem uma só folhinha verde, nem tem uma maçã doce para comer.

- Sim, mas nós havemos de nos vingar! - cochicharam eles entre si.

E foram exercitar-se de novo.

De todos os meninos da rua o mais encarniçado em repetir a cantiga escarninha era o pequenote que a cantara no primeiro dia, e era tão pequeno, que mal teria seis anos. Os filhotes, porém, julgavam que ele havia de ter pelo menos cem, pois era maior que as cegonhas grandes. Mas - que sabem os filhotes de cegonha da idade das crianças, ou da gente grande? O certo é que tinham resolvido dirigir a sua vingança contra aquele rapazinho, porque fora ele o primeiro a cantar, e teimava sempre em motejar deles. Os filhotes estava muito irritados, e quanto mais cresciam menos paciência sentiam para aturar insultos e sua mãe viu-se afinal obrigada a prometer-lhes que seriam vingados, sim, mas somente no dia da partida.

- Precisamos ver primeiro como vocês se portam na revista geral, Se vocês não cumprirem seu dever, e o general tiver de espetá-los com o bico, então os rapazes terão razão de falar, pelo menos nesse ponto. Vamos pois esperar até as grandes manobras.

- Sim, a senhora vai ver! - disseram os filhotes.

E deram-se tanto trabalho, ensaiando todos os dias que chegaram a voar com muita elegância e leveza: era um prazer vê-los.

Chegara enfim o outono, tempo em que todas as cegonhas começam a reunir-se e partem afinal para os países quentes, deixando para trás o inverno. E que manobras! As avezinhas recém- empenadas receberam ordem de voar sobre florestas e aldeias, para ver se já sabiam voar direito, porque tinham uma longa viagem a fazer. Mas as jovens cegonhas deram tais provas de capacidade, que seu certificado rezava assim: " Voaram com maestria notável - com uma rã e uma cobra de prêmio." Era certamente prova palpável de que se saíram a contento; e podiam agora comer a rã e a cobra - e não perderam tempo em começar!

- Agora - diziam eles - à nossa vingança!

- Sim, certamente, - disse a mãe cegonha - e descobri qual há de ser a mais bela vingança. Sei onde fica a lagoa em que estão esperando todas as criancinhas humanas, até que as cegonhas as vão buscar, para levá-las a seus pais. Lá estão dormindo as criancinhas mais lindas do mundo, e sonhando sonhos tão suaves como jamais tornarão a sonhar no futuro. Todos os pais desejam muito um filhinho, e todas as crianças querem um irmãozinho. Ora, vamos agora voar para a lagoa e trazer um para cada uma das crianças que não cantaram aquele canto perverso, nem escarneceram das cegonhas.

- Mas o menino malvado, aquele menino feio, que foi o primeiro a cantar a cantiga - gritaram os filhotes - que vamos fazer dele?

- Há lá na lagoa um nenezinho que ficou sonhando, e não  acordou: ele está agora morto. Vamos levá-lo para a casa do menino mau e ele vai chorar, porque nós lhe levamos um irmãozinho morto. Mas para aquele menino bonzinho - vocês não se lembram dele? - aquele que disse que era uma pena escarnecer dos animais? Pois para esse vamos levar um irmão e uma irmã. E, como aquele menino se chama Peter, vocês todos ficarão com o nome de Peter, em honra dele.

E assim se fez. Desde então todas as cegonhas se chamaram Peter, e assim são chamadas até hoje.

Fonte> Hans Christian Andersen. Contos. Publicados originalmente entre 1835 – 1872. Disponível em Domínio Público

Vereda da Poesia = 84 =


Trova de Curitiba/PR

JANSKE NIEMANN

Sejamos gratos pelo ar
que respiramos de graça
ou iremos transformar
nosso planeta em fumaça!
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Poema Pernambucano

JOAQUIM CARDOSO
Joaquim Maria Moreira Cardozo
Recife, 1897-1978, Olinda

Chuva de caju

Como te chamas, pequena chuva inconstante e  breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Tereza? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos.
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros
E em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Tereza ou Maria.
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Trova Hispânica de Barcelona/Espanha

ESTHER DE SANTANDER

Si no me puedes amar,
 ¡vete! salte de mi vida,
 y yo la quiero cerrar,
 que tu amor es una herida.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

CLÁUDIA DUTRA GALLO

Espectro de natal

O brilho das luzes já se faz presente.
Na praça o presépio, a grande aventura.
No ar um aroma de doce e candura.
Nos rostos os risos, os ares contentes.

Na chuva miúda promessas de paz.
Nas mãos as sacolas, muitos presentes.
As ruas bonitas tão cheias de gente
Rindo, apressadas, em busca de mais.

Jogado à sarjeta, num canto escuro,
Um ente sofrido encostado no muro
Estende ao mundo seu olho comprido.

Parece um fantasma assombrando a festa
Lembrando às pessoas ali manifestas:
-Não existe Natal para os esquecidos!
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Trova Premiada em Vila Velha/ES, 2018

LUZIA BRISOLLA FUIM 
São Paulo/SP

Ao romper os horizontes,
em seus muares cargueiros,
tropeiros teceram pontes
integrando os brasileiros!
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Poema de São Paulo/SP

IEDA ESTERGILDA DE ABREU

P de palavra e pedra

Palavras às vezes pesam como pedras
ferem a boca como pedra que se mastiga.
Agudas, acertam rápidas como pedras
dirigidas
esfriam como pedras frias na boca
ressentida
pensam e "pedram" como pedras no caminho.
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Trova Popular

Quem quiser ter vida longa
fuja sempre que puder
do médico, boticário,
melão, pepino e mulher.
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Soneto de Poços de Caldas/MG

LAÉRCIO BORSATO

A orquídea

NA ENTRADA da casa, a orquídea abriu
Seu vasto sorriso, lilás e amarelo.
O verde das folhas também aderiu,
Esbanjando um quadro, nobre e mui belo!

Da sacada eu contemplo de perfil
Essa obra que Deus, de modo singelo,
Mormente nos recantos de meu Brasil,
Faz da graça e da beleza, um forte elo!

Quem passar por ali, sentirá a candura
Dessa flor, que com delicadeza pura,
Indelével toca o coração humano...

Nesse meditar a minha alma cogita.
Meu ser acende, se rende e acredita:
Isso só é possível, com toque soberano!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Amizade... de verdade...
vem desse tipo de irmão
que sem consanguinidade,
doa mais que um coração.
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Poema de Santo André/SP

TARSO DE MELO

Seus cacos 

ao alcance do olho
estilhaços: um cão late
ao longe, talvez ao acaso

o que sobra da vida
entre um e outro passo

poça, o que fica da chuva

como uma flor — precisa
em seus disparos; a dor
como presença
nos detalhes; o corpo de
uma cor, seus claros

espaço que se abre
temporário
no agosto desse concreto
armado
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

"No fogão eu passo o dia",
disse ele antes de casar.
Só não disse pra Maria
que o tal "fogão"... era um bar!
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Soneto de Nova Iguaçu/RJ

JORGE CARDOZO

O Poeta e a Dor

Desabita de mim esta tristeza,
Que não cabe num corpo tanto mal.
Toda febre agora ficou fria.
Todo doce tornou-se agora sal.

Que se afaste de mim a taça escassa
Onde o vinho vinagre se tornou.
Uma dor verdadeira que não passa,
Mesmo o tempo passando; e passou.

Um poeta falou por toda a praça
(E virou do seu tempo professor)
A pergunta proposta pela esfinge:

Se ao poeta de fato nada atinge,
Ou se finge a dor completamente,
Como agir, se a dor deveras sente?
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Do futuro não se sabe;
- branco e preto, ou colorido?.
Por enquanto, só nos cabe
ao presente dar sentido.
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Spina de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

O som do silêncio 

Ouvindo meu silêncio,
liberto este momento
disfarçado em dilema,

em um aroma de alfazema. 
A vida devolve em sorrisos
a esperança, abre a algema
do meu silêncio, que enreda
linhas de um singelo poema.
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Não tem preço, a amizade,
é o ditado popular.
E os amigos de verdade
são difíceis de encontrar.
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Soneto de Indaiatuba/SP

LUCAS MUNHOZ

O pássaro

Canto-te, saio da gaiola e vivo
Cantando a linda melodia e o canto,
Que voa, aninha e memoriza em pranto...
Com que precises do carinho ativo.

Quem ama o dono do balsão passivo,
É cuidadoso... É o coração do encanto!
Para abraçar e eternizar, portanto...
Se és amoroso, isso é bonito! Eu privo!

Solta a cadeia e ama o bichinho amado!
Um sentimento do maior cuidado!
Que o deixes livre, totalmente belo.

Mas ele volta, eis a alegria amável
E muito fofa, em reviver notável,
É bom sorrir alegremente a vê-lo.
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Trova Premiada em São Paulo/SP, 2003

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA 
Bauru/SP

Quando disseres “Adeus”,
para que a dor diminua,
além dos pertences teus
leva minha alma, que é tua!...
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Poema de Cândido Mota/SP

VERA LÚCIA DE OLIVEIRA

Andorinhas

Estou de bem com o mundo até
um tanque de guerra se cansa
da guerra até um pássaro para
para
repousar

e depois o céu hoje é de um
azul que faz mal aos olhos
agudo que a gente fica ali
barriga pro ar
admirando as andorinhas
    que volteiam
matutando no que pensam lá no alto
no que
sabem
se sabem que estou de bem com o mundo
que volteiam lá em cima também para mim
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Trova de São Fidélis/RJ

ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG

Nascemos com o passaporte
sem visto para a partida…
Mas só de pensar na morte,
sinto saudade da vida!
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Pantun de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Pantun da vida circense

TROVA TEMA:
No picadeiro da vida
às vezes somos palhaços:
com atitude fingida
maquiamos os fracassos.
Hélio Pedro 
Natal/RN

PANTUN:
Às vezes somos palhaços:
E nesse circo sem pano,
maquiamos os fracassos
ante a incerteza e o engano.

E nesse circo sem pano,
com tanta banalidade,
ante a incerteza e o engano,
as marcas vis da maldade.

Com tanta banalidade,
vê-se em qualquer direção,
as marcas vis da maldade
moldando as marcas no chão.

Vê-se em qualquer direção,
a maldade desmedida,
moldando as marcas no chão
no picadeiro da vida.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

A lua beija a favela...
A estrela no céu reluz...
- Meu bem, apaga essa vela,
o amor não quer tanta luz!...
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Hino de Pedro Leopoldo/MG

Pedro Leopoldo ditosa,
"progressista do sertão"
Cidade boa e formosa
de teus filhos és rincão!

Entre matas já frondosas
e colinas bem garbosas
margeando a ferrovia,
tu nasceste mui gentil,
tendo, a porta, a rodovia
mais bonita do Brasil!

Tua origem é singela,
A história nos revela,
grandes vultos de coragem
transformaram a ribeira
numa indústria: tecelagem
com a bela cachoeira!

Pedro Leopoldo ditosa,
"progressista do sertão"
Cidade boa e formosa
de teus filhos és rincão!

Veneramos com carinho
o artista "Aleijadinho"
escultor do belo altar
lá na Quinta, Sumidoro;
onde foram explorar
bandeirantes minas d'ouro!

Com as lindas cachoeiras
e a riqueza das pedreiras
tens progresso e muita vida
e belezas naturais,
cada vez mais conhecida
vais ficando nas "Gerais"! (bis) 
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Trova de Alverca do Ribatejo/Portugal

ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO 

Com tanta austeridade,
que..., ainda está pra vir,
vai crescer a ansiedade,
nesse tempo do porvir...
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

PAULO HENRIQUES BRITTO

II

As coisas que te cercam, até onde
alcança tua vista, tão passivas
em sua opacidade, que te impedem
de enxergar o (inexistente) horizonte,
que justamente por não serem vivas
se prestam para tudo, e nunca pedem

nem mesmo uma migalha de atenção,
essas coisas que você usa e esquece
assim que larga na primeira mesa —
pois bem: elas vão ficar. Você, não.
Tudo que pensa passa. Permanece
a alvenaria do mundo, o que pesa.

O mais é enchimento, e se consome.
As tais formas eternas, as ideias,
e a mente que as inventa, acabam em pó,
e delas ficam, quando muito, os nomes.
Muita louça ainda resta de Pompeia,
mas lábios que a tocaram, nem um só.

As testemunhas cegas da existência,
sempre a te olhar sem que você se importe,
vão assistir sem compaixão nem ânsia,
com a mais absoluta indiferença,
quando chegar a hora, a tua morte.
(Não que isso tenha a mínima importância.)
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Trova de Magé/RJ

MARIA MADALENA FERREIRA

Quem planta em terras fecundas
colhe bons frutos! - E mais:
- cria raízes profundas,
à prova de vendavais!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

Os tavões* e as abelhas

Na produção se reconhece o artífice.

Alguns favos de mel não tinham dono:
Logo a si os chamaram os tavões;
As abelhas, opondo-se, levaram
O pleito a certa vespa. Era difícil
De tirar deste caso as conclusões.

Depondo, as testemunhas declararam
Que alados animais, um tanto longos,
Zumbindo, escuros, tais como as abelhas,
Rondando os favos por ali andaram.
Mas, ah! que nos tavões estes sinais
São os mesmos — tais quais.

Não sabendo que opor a estas razões,
A vespa quis mais luz e decidira
Tirar, segunda vez, inquirições.
Ouviu um formigueiro;
Mas o caso, ainda assim, que era intricado,
Ficara no tinteiro.

Uma abelha ladina exclama então:
«A que vem para aqui, fazem favor,
Todo este arrazoado?
Há seis meses que o pleito está pendente.
E nós como a princípio, exatamente.
Com a tardança o mal ganha bolor.

Decida-se o juiz;
Já nos levou a pele como bem quis.
Nós agora sem réplicas nem tréplicas,
Sem contraditas mais, nem mais farragem,
Mãos à obra, e munidas de coragem,
De par com os tavões a trabalhar,
Deste mimoso suco a ver quem sabe
Tão primorosas celas fabricar.»

Recusando os tavões, claro se via
Que o seu estreito engenho não podia
Tal arte exercitar.
Julgando a vespa, então, à parte contra
O mel foi dar.

Provera a Deus que todos os processos
Se julgassem assim. Ah! quem seguira
O método dos turcos neste ponto —
O bom senso de código servira!
Não se fora o melhor gasto nas custas:
Não fôramos sugados, arrasados,
Com delongas constantes:
Afinal o juiz faz-se com a ostra,
E atira com a casca aos litigantes!
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* Tavões = mutucas, moscões.
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contatos/ colaborações: gralha1954@gmail.com

O texto literário em Preto e Branco (“Um conto para nossos dias”, de Monsenhor Orivaldo Robles)


O conto de Rabindranath Tagore, mencionado no texto, oferece uma crítica profunda ao egoísmo e à avareza que permeiam a sociedade. A história do mendigo e do carro de ouro simboliza a esperança e a desilusão que muitos enfrentam ao se deparar com a riqueza e o poder.

TEMAS PRINCIPAIS
Egoísmo e Generosidade:
A atitude do mendigo, que se vê diante de uma figura de poder, reflete como a generosidade pode ser ofuscada pela dúvida e pelo medo de perder o pouco que se tem.

A mão estendida do "rei" simboliza a expectativa de doação, mas ao invés de receber, ele pede, subvertendo as expectativas sociais.

Desigualdade Social:
Tagore denuncia as diferenças sociais e a indiferença que permite que bilhões vivam em condições precárias enquanto outros acumulam riquezas.

O contraste entre a vida do mendigo e do "rei" serve para questionar os valores que sustentam essa estrutura social.

A Mensagem Cristã:
A citação de Jesus sobre os ricos e o chamado à generosidade ecoa a mensagem do conto. A verdadeira felicidade e satisfação vêm não da acumulação, mas do ato de dar.

A crítica se estende à hipocrisia de muitos que professam valores cristãos, mas não os praticam em suas vidas diárias.

Consequências da Indiferença
A constatação de que milhões sofrem devido à cobiça e à corrupção nos leva a refletir sobre nossa responsabilidade social. O documento pontifício mencionado destaca a urgência de agir contra a fome e a pobreza, promovendo uma ética de serviço à comunidade.

O conto de Tagore, ao abordar a relação entre o mendigo e o "rei", nos leva a refletir sobre diversos aspectos da condição humana. 

TEMAS E IMPLICAÇÕES:

1. A Ilusão da Riqueza
O mendigo espera que a riqueza do "rei" traga alívio e generosidade, mas se depara com a dura realidade da indiferença. Isso ilustra como a riqueza pode ser uma armadilha, levando à desumanização.

2. A Fragilidade das Relações Humanas
A interação entre o mendigo e o "rei" força uma reflexão sobre como as relações autênticas são frequentemente sacrificadas em favor de status e poder. A verdadeira conexão humana é baseada em empatia, não em hierarquia.

3. O Papel da Comunidade
O texto sugere que a solução para a desigualdade não está apenas em atos individuais de generosidade, mas na construção de uma comunidade que valorize o bem-estar coletivo. A união pode ser uma poderosa força de mudança.

4. A Mensagem da Bíblia
A referência a Jesus e os ensinamentos sobre o cuidado com os "menores" reforçam a ideia de que a verdadeira espiritualidade se manifesta em ações concretas. É um convite à reflexão sobre como aplicamos esses princípios em nossas vidas.

IMPLICAÇÕES PARA A ATUALIDADE

Desafios Contemporâneos:
A crítica à cobiça e à corrupção continua relevante. Em um mundo onde a desigualdade social persiste, a mensagem de Tagore e a reflexão cristã são mais importantes do que nunca.

Ação e Responsabilidade:
Cada um de nós é chamado a agir, seja através de doações, voluntariado ou simplesmente promovendo a empatia nas interações diárias. A mudança começa no individual, mas deve se expandir para o coletivo.

CONCLUSÃO
O conto de Tagore e as reflexões sobre ele nos convidam a examinar nossas próprias atitudes em relação à riqueza, generosidade e responsabilidade social. A verdadeira transformação requer coragem para dar, reconhecer nossas fragilidades e trabalhar juntos por um futuro mais justo e solidário.

A obra de Tagore, assim como os ensinamentos cristãos, nos desafia a olhar para nossas atitudes e motivar mudanças. A pergunta "Que tens para me dar?" ressoa como um chamado à ação, instigando cada um a refletir sobre como podem contribuir para um mundo mais justo e solidário. A prática da generosidade e a compaixão são fundamentais para combater a desigualdade e promover um futuro melhor para todos.

Fonte: Análise por José Feldman. Open IA .

Recordando Velhas Canções (Fascinação)


(primeira parte)
Os sonhos mais lindos... sonhei...
De quimeras mil um castelo ergui...
E no teu olhar... tonto de emoção...
Com sofreguidão, mil venturas... previ...

O teu corpo é luz, sedução...
Poema divino cheio de esplendor...
Teu sorriso prende, inebria, entontece...
És fascinação, amor...

(declamado)
A sorrir, a cantar e a beijar... 
nossas bocas se uniam então ...
E os campos sorrindo viviam ... 
e nos vendo, as flores se abriam ...
Mas um destino mau certo dia chegou ... 
e, sem o teu, o meu coração secou ...

(segunda parte)
Hoje sombra sou... do que fui...
Minhas ilusões o destino levou...
Nada mais existe... desde que partiste ...
em meu coração só saudade... ficou ...

Vivo com o passado a sonhar...
Vendo-te ainda em meu coração...
Mas tudo promessas, quimeras, mentiras...
Da tua fascinação...
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A Doce Ilusão do Amor em 'Fascinação'

A música 'Fascinação', eternizada na voz de Elis Regina, é uma ode ao amor e à idealização romântica. A letra da canção fala sobre sonhos e desejos intensos, construídos a partir da admiração e da paixão por alguém. A referência a 'sonhos mais lindos' e a construção de um 'castelo' simbolizam a criação de um mundo perfeito e utópico no qual o amor é o alicerce central. A quimera, uma criatura mitológica que representa algo inalcançável ou fruto da imaginação, reforça a ideia de que o amor vivido é quase um devaneio, um ideal sublime e talvez distante da realidade.

A canção prossegue descrevendo o ser amado como uma figura quase divina, cuja presença é luminosa e cujo sorriso tem o poder de inebriar e entontecer. Essa descrição eleva o amor a um patamar de adoração, onde o outro é visto como fonte de luz e inspiração poética. A repetição da linha 'Teu sorriso quente inebria e entontece' enfatiza a intensidade do sentimento que domina o eu lírico, sugerindo uma entrega total à experiência do amor.

Elis Regina, conhecida por sua interpretação emocionante e técnica vocal impecável, dá vida a 'Fascinação' com uma performance que transmite a profundidade e a sinceridade dos sentimentos descritos na letra. A música, que se tornou um clássico da MPB, reflete a capacidade da artista de conectar-se com a audiência através de temas universais como o amor e a paixão, tornando a canção atemporal e ressonante com ouvintes de diferentes gerações.

"Fascinação" é uma valsa popular que seduziu o mundo no século passado e foi gravada em diversos e distintos idiomas, originalmente composta por um italiano e um francês, faz cerca de 110 anos. Aquela que se tornou uma “canção do mundo” teve música composta em 1904, por Fermo Dante Marchetti e letra de Maurice de Féraudy, inserida no ano seguinte.

Em 1943, Armando Louzada traduziu a canção para o português, criando a versão interpretada por Carlos Galhardo, a mais clássica em português, registrada em impecável gravação feita com sua voz e orquestra naquele mesmo ano.

Somente mais de 30 anos depois surgiria outra versão clássica na língua portuguesa gravada por Elis Regina em seu álbum "Falso Brilhante" (1976), que popularizou a antiga canção para as últimas gerações no Brasil.

Ainda no Brasil, a música esteve presente na trilha das seguintes novelas da Rede Globo de Televisão, “O Casarão” (1976, com Elis Regina), “Fascinação” (1998, em duas gravações distintas: Carlos Galhardo e Nana Caymmi), “O Profeta” (2006, com Elis Regina) e em algumas produções do cinema nacional.
Fontes: