quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Vereda da Poesia = 91 =


Trova de Londrina/ PR

CIDINHA FRIGERI

Eu ouço na voz do vento,
quer na brisa ou tempestade,
que a vida é um fugaz momento
nas asas da eternidade.
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Poema de Cachoeira do Sul/ RS

JAQUELINE MACHADO

Eu e o mundo

Eu não tive infância...
Mas Deus não tirou – me a ânsia
de buscar... tocar... saber...

Desde muito menina,
o mistério da vida me fascina...
e de mim indaga sobre coisas que não posso ver...

Eu não tive infância...
Mas essa minha aliança com o universo,
despertou em mim um desejo confesso,
pelas artes do descobrir...

Meus olhos buscavam o céu,
e por detrás de sete véus,
uma voz perguntava:
e se ao invés do tudo, existisse o nada?
Se ao invés do princípio, restasse apenas o fim?

Eu não tive infância...
Mas as eras habitavam minha alma...
E uma senhora de sabedoria infinda,
com doçura me acalentava...

Eu não tive nada.
E por isso, tive tudo...
O mundo adentrou o meu puro ventre.
E eu o amamentei com as lágrimas do meu sofrer
e o ninei com as canções que fazem girar o mundo...
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Trova de Juiz de Fora/MG

DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO 

Há uma lição que sem cola 
pelo estudante é sabida: 
na vida a melhor escola 
é a grande escola da vida.
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Soneto sobre Cenas do Cotidiano

FERNANDO ANTÔNIO BELINO
Sete Lagoas / MG

A feira

É puro encantamento e poesia
a feira de domingo na cidade!
Envolve intensamente a sociedade,
num vai-e-vem, repleto de alegria!

Ali, circula gente, nesse dia,
de toda classe e de qualquer idade!
Produtos há de grande variedade,
para atender à imensa freguesia. 

Os importados têm presença certa!
Salgados, doces, caldos com pimenta!
Sempre bem-vindos, quando a fome aperta!

Roupa usada, sapato, ferramenta
e um burburinho, que a atenção desperta:
É a fila do pastel que só aumenta!
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Trova Premiada em Barra do Piraí/RJ, 2000

DARLY O. BARROS 
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP

“Não cedas!”, meu sonho manda,
“luta mais, redobra o empenho,
para a casa com varanda
deixar de ser só desenho!”...
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Poema de Portugal

JOÃO MARIA VILANOVA
Madeira/Angola, 1933 – 2005, Vila Nova de Gaia/Portugal

O Poeta vestido a rigor
em nossa terra

 o poeta pondera o fato
poeta transcende o fato & a notícia
poeta sem astúcia
poeta sempre sempre com alguma malícia

 os racistas temem o poeta
os golpistas temem o poeta
os inimigos do povo oh
esses temem o poeta

 o poeta sem teto
o poeta sem teto
o poeta vestido a rigor
em seu cadáver putrefato.
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Trova Popular

Ninguém descubra o seu peito
por maior que seja a dor;  
quem o seu peito descobre      
é de si mesmo traidor.         
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Soneto sobre Cidade do Interior

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/ PR

Cidadezinha do interior 

Sequer se vê no mapa o seu ingresso…
parece um vilarejo e não cidade.
Gente pacata e afeita à honestidade,
mas sem anseios próprios do progresso.

Das frutas sobrevive a sociedade 
com poucos lucros, quase em retrocesso.
Dali se vão os jovens (sem regresso),
e a lentidão prossegue, na verdade.

Ao fim da tarde, o som da “Ave-Maria,”
lá na Matriz, despede-se do dia
e, nas janelas, povo atento à fé.

Carroças e compadres se visitam…
Compartilhando tudo em que acreditam,
comadres vão servindo um bom café…
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Desafio aceito: corto
pavios diante do fogo.
Ê assim que me comporto:
vendo a vida como um jogo.
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Poema de  Portugal

ALBANO DIAS MARTINS
Aldeia do Telhado (1930 – 2018) Vila Nova de Gaia

Compêndio
 
Dizias: daqui o mar parece    '
uma tarântula
azul. Eu respondi:
vermelhas
são as flâmulas,
das algas e o fermento
das águas.
Escrever
é isso: fazer
da vida uma pauta
e um compêndio de espuma
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Sultão velho vende, urgente,
tendas sem uso, importadas.
No aperto, dá de presente,
odalisca e esposa... usadas.
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Soneto sobre Cidade do Interior

RICARDO CAMACHO
Rio de Janeiro/RJ

Humilde lugar

Diante do cenário prazenteiro,
Imerso no silêncio, à luz do dia,
Contemplo o micromundo brasileiro,
Volvido numa doce calmaria.

Na praça, um sorridente pipoqueiro...
E, logo, a criançada, na alegria,
Pula ao sentir o irresistível cheiro,
Rompendo o império da monotonia.

De vez em quando a brisa, sonolenta,
Passa no embalo da carroça lenta
No entardecer pacato do lugar...

A escuridão dos morros argilosos 
Mostra o poente e os astros luminosos
Como atração no interior de um lar.
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Trova de Santos/SP

ANTONIO COLAVITE FILHO

Daquele galho tão forte,
onde existe um velho ninho,
eu posso ouvir - e que sorte! -
o cantar de um passarinho!
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Poema de Porto/Portugal

ALBERTO DE SERPA
(1906 – 1992)

Riqueza

Por parques e praças,
Ruas e travessas,
Tu, meu olhar, caças
A vida.  E tropeças.

Uma gargalhada
Vem dum par contente. 
Guarda-a bem guardada,
Mas caminha em frente.

Surgem-te sorrisos
Dum e de outro lado.
Não faças juízos
Rápidos.  Cuidado!

Uma face grave
Nada te revela?
Talvez a dor cave,
Só mais tarde, nela.

Num choro, num grito,
Pressentes a dor?
E quedas, aflito.
Seque, por favor!

Seque, bem aberto
Para cada canto!
Olha o desconcerto
Que parece tanto!

Corre, olhar, em roda!
O que me intimida?
A vida?  Só toda
Pode amar-se, a vida.
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

No meio de uma fogueira,
as labaredas farfalham.
Em tua face trigueira,
faíscas de amor se espalham.
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Soneto sobre Cidade do Interior

GILLIARD SANTOS
Fortaleza/CE

Cidadezinha do sertão

Mulheres andam entre as aroeiras,
Enquanto o dia segue sossegado...
Um homem, devagar, conduz o gado
Para o curral e fecha-lhe as porteiras.

Chegando a noite, acendem-se as fogueiras
E o prato principal é milho assado.
Pelos terreiros corre, lado a lado,
A criançada em suas brincadeiras...

Neste cenário rústico e tão belo
Não tenho as mordomias de um castelo,
Mas sigo por caminhos que são meus.

Nenhuma falta sinto da cidade,
Pois neste reino da simplicidade 
Eu vivo a vida que pedi a Deus.
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Trova Premiada em Barra do Piraí/RJ, 2000

DOMITILLA BORGES BELTRAME
São Paulo/SP

A vovó não tem memória;
perde os óculos... na testa!
Mas jamais esquece a história
da varanda... e uma seresta!...
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Soneto sobre a Vida no Interior

JÉRSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/ RO

Vida interiorana

Entregue à inapetência do ponteiro
que marca seu compasso lentamente,
o tempo, generoso e complacente,
afaga o coração de um povo ordeiro.

A prosa na calçada, o sol dormente,
a brisa, a mata e o clima hospitaleiro
produzem novas linhas do roteiro
escrito na memória dessa gente.

Na rubra passarela preparada
desponta a noite calma e, na chegada,
promete mais brandura ao fim do dia.

Quando a simplicidade prepondera,
nenhum prazer suplanta o da quimera
que a vida interiorana propicia...
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

A vida é uma corda bamba, 
na qual a esperança eu ponho. 
Basta um errinho e descamba 
abismo abaixo o meu sonho... 
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Pantun de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Pantun da alma arrependida

TROVA TEMA:
Na praça da minha vida
vi, de joelhos, em vão,
uma ofensa arrependida
pedindo abraço ao perdão...
José Valdez de Castro Moura 
Pindamonhangaba/SP

PANTUN:
Vi, de joelhos, em vão,
um alguém, que nunca via,
pedindo abraço ao perdão
no altar da Virgem Maria.

Um alguém, que nunca via,
Confessa os pecados seus,
No altar da Virgem Maria,
pedindo perdão a Deus.

Confessa os pecados seus,
por sentir-se angustiada;
pedindo perdão a Deus
vi a pobre alma penada.

Por sentir-se angustiada,
tristonha e arrependida,
vi a pobre alma penada
na praça da minha vida.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Boneca sem cor, partida...
uma bola abandonada...
- Saudade mostrando à vida
quanto vale um quase nada!
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Hino de Ponta Grossa/PR

Ponta Grossa aparece na altura
Dominando campanhas natais
Temos crença na glória futura
Da princesa dos campos gerais

Nossa terra sempre será
Por seu gênio varonil
O orgulho do Paraná
Na grandeza do Brasil

Há na história de nossa cidade
O destino de um povo feliz
Dando as mãos em penhor da amizade
Onde agora se eleva a matriz

Nossa terra ainda será
Por gênio varonil
O orgulho do Paraná
Na grandeza do Brasil

Como a pomba que o barco sagrado
Com o ramo da paz retornou
Um casal de pombinhos soltado
No lugar da cidade pousou

Nossa terra ainda será
Por gênio varonil
O orgulho do Paraná
Na grandeza do Brasil

Quantas vezes o tropeiro valente
Não saudou das bandas do sul
Ponta grossa em seu trono virente
Junto à barra do céu sempre azul

Nossa terra sempre será
Por seu gênio varonil
O orgulho do Paraná
Na grandeza do Brasil

Pátria livre! No teu centenário
Férreos braços nos fazem ligar
Briareu com seu dom legendário
Bandeirantes, gaúchos e o mar
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Trova Humorística de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Bêbado morre afogado,
e o "colega" diz, formal:
– Ele num tava habituado,
bebeu água... se deu mal.
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Soneto sobre Cidade do Interior

ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

Vida no interior

Já não há mais cadeiras nas calçadas 
nas maiores cidades do país 
mas podem ser às vezes encontradas
na parte onde a nação é mais feliz.

Deixa o progresso a sua cicatriz
ao tornar as pessoas separadas.
Porém no interior a diretriz
é manter sempre as almas irmanadas.

Os laços de amizade permanecem...
Quase todos, de fato, se conhecem.
A vida é mais pacata e mais profunda.

Pela questão somente financeira,
no entanto, muita gente de primeira 
vai levando uma vida de segunda.
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Trova de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

Vindo de tão longe, não
se deu conta que chegara
ao seu velho e antigo chão, 
que há muito tempo deixara!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A ostra e os pleiteantes

Dois peregrinos,
Um dia encontram
Na praia uma ostra,
Que o mar lançara.
Já com os olhos a sorvem, já com o dedo
A apontam um ao outro.
Pôr-lhe dente? Isso é ponto contestado.
Um se debruça
A colher preia,
E o outro o arreda.
E diz: «Saibamos
A quem compete
Ter dela o gozo.
O que a avistou primeiro, a trinque; e o outro
Veja-a com o olho,
Coma-a com a testa!
— Se o negócio, diz o outro, assim se julga,
Tenho — graças a Deus — esperto lúzio (olhos).
— Nem os meus são ruins, disse o primeiro:
Que antes que tu, a vi; por vida o juro.
— Se a viste, a mim cheirou-me.»
Neste comenos,
Chega ao pé deles
Juiz da Casinha,
Nele se louvam.
Mui grave o juiz recebe a ostra e — papa-a.
E os dois a olhar... Refeição feita:
Tomai — lhes diz, em tom de presidente —
Cada um sua casca,
Salva de custas,
E vão-se andando.»

Contai quanto hoje custa uma demanda,
E o que a muitas famílias depois fica;
E vereis que o juiz vos leva o bolo,
E vós ficais com o saco, e com os trebelhos.

A. A. de Assis (Amorologia)

Deduz-se  que o ser humano, para ser feliz, precisa antes ser salvo, ou seja: recuperar a boa saúde espiritual.

São João vai direto à essência: “Deus é Amor”, de onde chegamos a um silogismo fundamental para a fé cristã: Deus é Amor; Jesus é Deus; logo, Jesus é Amor. Dizer, pois, que só Jesus salva é o mesmo que dizer que sem Amor ninguém se salva.

Tudo bem. Mas o que significa exatamente salvar? A etimologia ajuda a entender: salvar é curar, sarar, sanificar (cf. latim “sanus” / “salus” / “salvus”), daí vindo também saúde (“salud” em espanhol, “santé” em francês), tal como sanar, sanear, salutar, sanidade, santidade.

Mas salvar quem? Salvar a humanidade, visto que, embora tendo sido criados para ser plenamente felizes, até hoje continuamos distantes desse ideal. Há bloqueios vários dificultando o acesso à bem-aventurança: uma série de distúrbios, entre os quais o egoísmo, a ambição, a arrogância, a inveja, o ódio – enfermidades geradoras de toda espécie de sofrimento.

Ante tal diagnóstico, deduz-se  que o ser humano, para ser feliz, precisa antes ser salvo, ou seja: recuperar a boa saúde espiritual. Foi para isso que Jesus (o Amor em sua manifestação visível) esteve alguns anos entre nós. Veio ensinar a gente a ser feliz, começando por formar equipe com um grupo de amigos chamados apóstolos. Treinou-os e os enviou mundo afora com a missão de convidar toda gente a com ele recolocar na trilha do céu a história da terra.

Era o início de um longo processo de salvação, a ser desenvolvido passo a passo: acolhimento > eclesialização > purificação da mente e da alma > evangelização > amorização.

Com a mente limpa e a alma encharcada de ternura, bondade e paz, estaremos prontos para iniciar uma nova caminhada rumo à eterna graça, bastando, daí por diante, manter o coração permanentemente conectado com a fonte do Amor – o coração de Jesus.

Quanto maior o número de pessoas amorizadas, mais próximos estaremos todos do estado de bem-aventurança. Só assim finalmente seremos uma grande família de gente feliz.

Gente feliz é feliz por ser gente que ama.

Gente que ama tem o coração hospitaleiro e alegre, tem a mente sadia e limpa, tem a alma serena e doce. Gente que ama não se irrita, não comete injustiça, não abusa da inocência das crianças, não ofende, não agride, não calunia, não mata, não rouba, não mente, não guarda mágoa ou rancor, não deixa que alguém a seu lado sofra por falta de pão ou de cobertor ou de medicamento ou principalmente por falta de colo.

Gente que ama sorri, escuta, perdoa, ajuda, abraça, beija. Gente que ama gosta de gente, gosta dos passarinhos, gosta dos bichos, gosta das plantas, gosta das flores, gosta das águas, gosta do sol, da lua, da brisa, das estrelas. Gente que ama gosta de amar – gosta da vida.

No dia em que todos nos encharcarmos de Amor, seremos todos felizes sim, e então não haverá mais maldade no mundo, não haverá mais pobreza, não haverá mais sofrimento, não haverá mais tristeza. Seremos uma só família, unida e boa, do jeito que Deus programou.

Recordando Velhas Canções (A praia)


Em plena praia no céu azul brilhava o sol
E junto ao mar a meditar coisas de amor
Mal poderia imaginar, que ao sol se pôr,
Encontraria um grande amor

E de repente o amor aconteceu
Unindo para sempre você e eu
Um beijo então calou a nossa voz
Somente o amor falou, falou por nós.

Quando na praia novamente o sol brilhar
Lá estarei e ficarei bem junto ao mar
Perguntarei que ao sol se pôr
Em plena praia eu encontrei um grande amor

E de repente o amor aconteceu
Unindo para sempre você e eu
Um beijo então calou a nossa voz
Somente o amor falou, falou por nós.
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O Encontro do Amor na Praia
A música 'A Praia' é uma celebração do amor inesperado e profundo que surge em um cenário idílico. A letra começa descrevendo um dia ensolarado na praia, onde o eu lírico está imerso em pensamentos sobre o amor. A praia, com seu céu azul e o brilho do sol, serve como um pano de fundo perfeito para a meditação e a introspecção. É nesse ambiente sereno e contemplativo que o amor surge de forma inesperada, como um evento quase mágico ao pôr do sol.

O refrão da música destaca o momento em que o amor se manifesta de maneira súbita e intensa, unindo duas pessoas para sempre. O beijo que 'calou a nossa voz' simboliza a comunicação profunda e silenciosa que só o amor verdadeiro pode proporcionar. Esse momento de união é tão poderoso que transcende as palavras, deixando o amor falar por si mesmo. A simplicidade e a pureza desse encontro são enfatizadas pela repetição do tema do amor que 'falou por nós'.

Agnaldo Rayol, conhecido por sua voz potente e emotiva, utiliza essa canção para explorar a beleza do amor que surge de forma inesperada e transforma vidas. A praia, um lugar de tranquilidade e beleza natural, torna-se o cenário perfeito para esse encontro amoroso. A música transmite uma mensagem de esperança e a crença no poder do amor para unir e transformar. A repetição da cena da praia ao longo da canção reforça a ideia de que o amor verdadeiro é eterno e sempre presente, mesmo nos momentos mais simples e cotidianos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Therezinha Dieguez Brisolla (Trovas em preto e branco)

                                    


1
À pergunta: - Qual andar?
Responde o pinguço, a esmo:
- Onde quiser me levar;
já errei de prédio mesmo!
2
Ao vir "de fogo" recua
gritando, após a topada:
- Que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
3
Cai no trilho e a triste sina
maldiz tanto o beberrão...
"Essa escada não termina
e é tão baixo o corrimão!”
4
"Depois do jantar, o mate",
diz, ao filho, o anfitrião.
Foge, ao perigo, o mascate.
Foi sem tomar chimarrão!…
5
- É o piloto... tô em perigo!...
Tem fumaça... e um fogaréu!...
- É a torre... reze comigo:
“Pai nosso, que estais no céu...”
6
Foi o par pro beleléu...
e o fantasma, em tom moderno:
- Venho, à noite, aqui no céu,
ou você vai lá no inferno?
7
Jaz o ancião na cascata!...
Seu anjo, que é seu abrigo,
já velho e com catarata,
não viu a placa "PERIGO"!
8
Na escada, a aposta suicida
dos genros, no arranha-céu:
- Leva, quem perde a corrida,
a sogra como troféu!
9
Não houve pancadaria
nem sufoco na paquera...
“Sou homem”, disse a Maria.
Ainda bem que o Zé não era!
10
O bombeiro subalterno
morreu... e o céu foi seu rogo...
Mas, foi mandado pro inferno
porque no céu não tem fogo!!!
11
Pede a graça ao padroeiro
e promete ao santo, à beça...
É um beato caloteiro
que não paga nem promessa!
12
Querendo ver o acidente,
ele abriu caminho a murro...
Foi dizendo: "Sou parente"...
Mas quem morreu foi um burro!

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SOBRE AS TROVAS DE THEREZINHA
por José Feldman

As trovas humorísticas de Therezinha Dieguez Brisolla capturam de forma leve e irônica situações cotidianas, muitas vezes com um toque de absurdo.

AS TROVAS

1 – Ironia do pinguço: A resposta do pinguço mostra a desorientação que o álcool pode trazer, transformando uma simples pergunta em uma piada sobre confusão, refletindo uma crítica ao consumo excessivo de álcool e suas consequências.

2 – Poste na madrugada: A indignação de encontrar um obstáculo à noite ilustra a falta de atenção que todos podem ter em momentos de distração.

3 – A escada interminável: O desespero do beberrão reflete a frustração de situações que parecem não ter fim, uma metáfora para desafios da vida.

4 – Chimarrão perdido: O mascate foge do perigo sem se preparar adequadamente, uma. É uma crítica ao despreparo e à falta de atenção nas interações sociais, às próprias tradições, ironizando a seriedade que as pessoas costumam dar a eventos triviais.

5 – O piloto em perigo: A cena humorística mostra como a fé pode ser uma reação imediata ao medo, mesmo em situações absurdas.

6 – Fantasma moderno: A troca entre o fantasma e o homem traz um humor surreal, questionando o que é realmente assustador.

7 – Catarata e perigo: A ironia da situação do ancião que ignora um aviso é um lembrete sobre a vulnerabilidade da idade.

8 – Aposta com sogra: A aposta arriscada entre genros e a sogra revela o humor em relações familiares e rivalidades.

9 – Confusão na paquera: A revelação sobre Zé traz um alívio cômico, jogando com expectativas em situações românticas.

10 – Bombeiro no céu: O bombeiro que, ao morrer, é enviado para o inferno porque "no céu não tem fogo" brinca com a expectativa de que heróis vão para o céu, revelando uma ironia sobre o destino das pessoas.

11 – Beato caloteiro: A figura do beato que não cumpre suas promessas é uma crítica social divertida, expõe a falta de sinceridade em práticas religiosas, mostrando como as pessoas muitas vezes não se comprometem com suas palavras.

12 – Abertura de caminho: A busca por atenção em um acidente termina tragicamente cômica, mostrando como a vida pode ser cheia de surpresas.

ESTILO E ESTRUTURA

Ritmo e Rima: As trovas têm uma cadência marcante, com rimas que tornam a leitura leve e divertida.

Personificação: Elementos como fantasmas e anjos são usados para dar vida a ideias e reflexões, criando um ambiente lúdico.

Simplicidade: A linguagem é acessível, o que permite que as mensagens sejam compreendidas por diversos públicos.

A IRONIA NAS TROVAS DE THEREZINHA

A ironia nas trovas humorísticas de Therezinha  está profundamente enraizada na cultura brasileira e se relaciona com diversos aspectos da sociedade.

As trovas refletem a oralidade e a riqueza do português falado no Brasil, utilizando expressões coloquiais que ressoam com o cotidiano das pessoas. O uso de ironia e humor é uma forma de expressar a identidade brasileira, revelando a capacidade de rir das próprias desventuras. serve como ferramenta de crítica às injustiças sociais e políticas, algo comum na tradição de humor no Brasil, desde a literatura até as manifestações artísticas.

O brasileiro tem uma tradição de usar o humor como forma de resistência, especialmente em tempos difíceis. A ironia nas trovas reflete essa capacidade de encontrar leveza em situações complicadas, pois o riso é uma parte fundamental da cultura brasileira, e as trovas humorísticas abraçam essa característica, criando um espaço para a reflexão através do humor.

CONCLUSÃO

Essas trovas ressoam por sua capacidade de fazer o leitor rir, enquanto o convida a refletir sobre a condição humana. Elas são uma forma de humor popular que preserva tradições e, ao mesmo tempo, traz à tona questões contemporâneas, cada uma com seu próprio charme e sagacidade.

Essa conexão entre ironia e cultura enriquece a compreensão das trovas, tornando-as não apenas divertidas, mas também significativas dentro do contexto social e cultural do Brasil.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Arthur Thomaz (Travessia) conto e análise

 Nota do blog: Pequena análise sobre o conto, ao final.

Era o barqueiro responsável por pilotar uma embarcação que levava pessoas para o lado de lá. Diferente do que imaginavam, não se tratava de um santo ou um enviado dos deuses. Em volta do barco, estava escrito em letras garrafais: “Lá, você encontrará o inesperado, o imponderável e o inescrutável”.

Simultaneamente, era emitido um aviso sonoro, com a voz dos pais ou de pessoas mais velhas que haviam advertido essa criatura a não ir até o lado de lá.

No início de sua carreira, o gentil barqueiro tentara também persuadir os passageiros a não embarcar, mas com o passar do tempo, percebendo a inutilidade de tais conselhos, calou-se, mesmo se sentindo contrariado com isso, limitando-se a remar e remar, tentando entender o que levava essas pessoas a aventurar-se nessa vã tentativa.

Seres que deixavam para trás estáveis situações sociais, econômicas e amorosas para lançarem-se com poucas ou nenhuma ficha em um difícil jogo, em que o próprio futuro estava em risco.

Eram indivíduos heterogêneos que possuíam em comum somente a obstinação em chegar à margem de lá. Casais apaixonados, outros já nem tanto, adolescentes guiados apenas por falsos apelos nas redes sociais, mulheres e homens solitários e iludidos com o que acreditavam encontrar no outro lado.

Atletas em fim de carreira em busca de um time que os fizesse ouvir novamente os aplausos de torcedores, artistas em decadência à procura de um palco qualquer que lhes devolvesse o assédio antigo de fãs. Idosos inconformados, almejando retornar à mocidade, e jovens querendo uma precoce maturidade.

Tinham ainda velhas raposas políticas, sonhando com a vitória na próxima eleição, para apagar a última e desastrosa derrota nas urnas. Incompreendidos, querendo reconhecimento, e desajustados, tentando retomar o rumo perdido.

Mesmo sendo um rio caudaloso, cheio de correntezas e bancos de areia, o barqueiro dominava inteiramente a rota a seguir. Mas, às vezes, uma inesperada onda derrubava algum passageiro e o desespero deste em chegar ao outro lado era tanto, que o fazia nadar em direção à distante margem, sem pensar em retornar à embarcação, causando-lhe a morte.

Ao chegar e desembarcar os passageiros, o barqueiro aguardava pacientemente por horas o retorno de alguns deles. 

Infrutífera espera, nenhum jamais voltou.

Esta rotina ocorreu por décadas (cerca de três gerações de barqueiros), até que certo dia, a embarcação rompeu-se na colisão com um recém-formado banco de areia.

Nesse naufrágio, mais do que as vidas, perdeu-se também a inútil esperança dos desesperados mortais transformarem-se em algo superior aos seus limites, dádiva reservada somente aos deuses.

Por ironia do destino, o Olimpo situava-se do lado de lá, muito perto, mas invisível e inexpugnável.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 
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Breve Análise do conto “Travessia”, 
por José Feldman

O conto de Arthur Thomaz, "Travessia", utiliza a figura do barqueiro como uma metáfora poderosa para a transição e a busca humana por significado.

O barqueiro, que deveria ser um guia, acaba se tornando um mero transportador, simbolizando a frustração das expectativas humanas. As promessas de um "lado de lá" repleto de esperanças contrastam com a dura realidade da travessia, evidenciando a futilidade de muitas aspirações.

A obstinação dos passageiros em buscar algo melhor, apesar dos avisos, revela a ironia da condição humana. A determinação em buscar o desconhecido, mesmo com a consciência do risco, reflete a natureza muitas vezes irracional das decisões humanas.

O barqueiro aguarda o retorno dos passageiros, mas nunca os vê voltar, simbolizando a ironia da esperança. A busca por algo maior muitas vezes resulta em desilusão, mostrando como as aspirações podem levar à perda.

A proximidade do Olimpo, invisível e inalcançável, intensifica a ironia. O que se busca está tão perto, mas é inatingível, destacando a tragédia da condição humana em sua incessante busca por um ideal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A narrativa reflete aspectos da cultura brasileira, como a busca contínua por melhores condições de vida e a esperança de transformação, mesmo em face de adversidades. A ironia serve como uma crítica sutil às promessas não cumpridas da sociedade, que frequentemente leva indivíduos a arriscarem tudo por um futuro incerto.

No fundo, "Travessia" é um convite à reflexão sobre as motivações humanas e as ironias da vida. Através da figura do barqueiro e de seus passageiros, Thomaz explora temas universais que ressoam profundamente na experiência humana, especialmente em um contexto cultural rico e complexo como o brasileiro.
Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos contos. Maringá/PR. IA Open.
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