sábado, 9 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 153 =


Trova de
GEORGINA RAMALHO
Rio de Janeiro/RJ

Que bela nossa existência
a correr, pipa empinando...
Nossa alma é, na essência,
uma criança brincando.
= = = = = =

Poema de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

Todas as cartas de amor…

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
= = = = = = 

Trova de
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP

Renúncia é uma ponte estreita,
onde das extremidades,
pode-se ouvir sempre à espreita,
chorando duas saudades...
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

O bem maior

Entre nós uma lança em duas pontas
voltadas bem direto a nosso peito,
porém compreensão com o respeito
são atributos de insondáveis montas.

Na conta permanente do direito
espaços dão às asas, sempre prontas,
os ares das visões do preconceito
e afastam as algemas tão medrontas.

É assim que um grande amor entre pessoas
atrai as vibrações das almas boas
com a esperança de um mundo melhor.

Respeito o teu espaço em todo meio
assim como respeitas meu passeio.
Nosso trabalho ao bem é bem maior!!
= = = = = = 

Trova Premiada de
MARIA APARECIDA F. DE VASCONCELOS
Santos/SP

A essência do trovador
está na sua humildade
de lindas trovas compor
com amor e humanidade.
= = = = = = 

Soneto de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

Último Fantasma

Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso...

Baixas do céu num vôo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso!...

Onde nos vimos nós?... És doutra esfera?
És o ser que eu busquei do sul ao norte...
Por quem meu peito em sonhos desespera?...

Quem és tu? Quem és tu? — És minha sorte!
És talvez o ideal que est'alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!...
= = = = = = 

Trova Popular

Eu quero bem, mas não digo
a quem é que quero bem;             
quero que saibam que eu quero,  
mas que não saibam a quem!
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Alforria!

Os meus devaneios perfumas, adoças
Fervente desejo se alastra, domina
Persigo no sonho essa boca ferina
Procuro o sabor das carícias tão nossas

Não deixes sedentas de amor belas taças
Permitas que o mel do prazer entre em cena
Não prives de luz e esplendor minha pena
Injusto é manter nestes versos mordaças

Aflige-me tanto esperar outra chance
De ver vicejando o gostoso romance
Repleto de cores, fulgor, alegria

Revolta-se o canto sem ter alimento
Em vão é conter tal impulso... Nem tento!
As letras suplicam sem pejo: "alforria!"
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Trova de
JOSÉ KALIL SALLES
Barbacena/MG

Amor é brasa vibrante
no peito dos sonhadores,
dos poetas, dos amantes
e também dos trovadores.
= = = = = = 

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

O Boto cor de rosa

Em um rio profundo, um encanto a surgir,
é o Boto, o sedutor nas noites de luar,
com seu corpo elegante e brilhante olhar,
transforma-se em homem… com o amor a emergir.

As moças encantadas ao som do seu cantar,
sentem seu perfume, a volúpia despertando,
mas ao amanhecer é um mistério pairando,
o Boto desaparece deixando a saudade a flutuar.

Ele é o amante das águas serenas,
com segredos guardados, e histórias amenas.
Na dança das marés, um sonho a vagar,

e enquanto a lua reflete no rio,
os corações pulsando um doce desafio,
na lenda do boto, a vida a se propagar.
= = = = = = 

Trova de
JANSKE NIEMANN
Curitiba/PR

Minha tristeza é tão linda
(não dói e não me angustia).
Uma tristeza bem-vinda
quando se torna Poesia!
= = = = = = 

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

Plagiadores

Há poetas que sabem enganar.
Pois nasceram eternos fingidores!
E fingem serem grandes escritores,
Mas palavras de outros, vão buscar!

Já dissera Pessoa, a versejar:
Que chegava a fingir que suas dores,
Das quais ia sentindo seus horrores,
Eram dores, que fingia acreditar!

Por isso muita gente anda a fingir,
Que escreve nos poemas seu sentir,
E orgulhoso os lê, à descarada!

O seu fingir é forte, tem poder!
Que consegue a si próprio fazer crer,
Que não é poesia plagiada!
= = = = = = 

Trova de
ROZA DE OLIVEIRA
Curitiba/PR

Quando o infortúnio surgir,
tenha calma, muita calma!
Que gigante há de ferir
esse Davi de sua alma?
= = = = = = 

Soneto de 
FREI AGOSTINHO DA CRUZ
Ponte da Barca/Portugal, 1540 – 1619, Setúbal/Portugal

À coroa de espinhos

A que vindes, Senhor do Céu à terra,
Terra que sendo vossa vos enjeita,
E que tanto vos honra e vos respeita,
Que em não vos receber insiste e emperra?

Ah! Quanta ingratidão nela s’encerra!
Quão mal de vossa vinda se aproveita!
Pois se põe a tomar-vos conta estreita,
Mais brada contra vós, quanto mais erra.

E vós de vosso amor puro forçado
Os malditos espinhos lhe pisais,
Dos quais ainda sendo coroado,

A maldição antiga lhe trocais
Na bênção, que lhe dais crucificado,
Quando morto d’amor, d’amor matais.
= = = = = = 

Trova de
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP

À noite, em frente á TV,
a vovó e o manto dela...
Ela dorme e nada vê,
o manto assiste à novela...
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Ode a São Paulo 

Cidade de encantos
em cantos boêmios
ou versos cantados 

pelo poeta, em teus anseios. 
Em tuas esquinas há poesia, 
em teus becos, ecos falados
em rimas. Teus nobres tons,
eternizam a vida em legados.
= = = = = = 

Trova de 
RODOLPHO ABBUD
Nova Friburgo/RJ (1926 – 2013)

Contemplo o céu para vê-las
com um respeito profundo,
pois na raiz das estrelas
eu vejo o dono do mundo.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Meu anjo amigo

Quando voltar a minha inspiração,
que tirou férias longas, pelo jeito,
vou ter o que preciso bem à mão,
para acabar com a dor deste meu peito!

Em versos vou dizer da ingratidão
que suporto calado e contrafeito,
dês que meu bem negou-me o seu perdão,
com enfado deste amor não tão perfeito!

Hoje a tristeza é dona de minha alma...
Roubou-me a voz e a minha velha calma!
E fez o amor virar meu inimigo!

Se agora, então, também meu estro falha,
com quê me salvarei nesta batalha?
- Volta, ó poesia, ó vem, meu anjo amigo!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A mais bonita homenagem, 
concede-a Deus, qual troféu, 
a quem completa a viagem, 
sem mancha, do berço ao céu!
= = = = = = 

Poema de
YOLANDA MARAZZO
São Vicente/Cabo Verde

Derrocada

A asa de um morcego transparente
e no canto um olho descaído
de pestanas longas espreitando
o ácido viscoso da loucura
escorrendo pelos telhados do mundo

Viajante incansável do pasmo
no silêncio das órbitas vagabundas
dos mares-mortos delírio-espasmo
do cansaço mole das brisas vazias
que do nada se afirmam nas florestas
do ódio de gigantes e anões liliputianos

Blocos monolíticos tristes quedos
imagens-desespero cancerosos
miasmas-visco cobras moribundas
agonizando em convulsões de magma
lanças setas envenenadas dirigidas
ao coração das virgens e crianças

Sombra parda pálida acutilante
teu vulto de insônia transparente
bóia nas trevas flutuantes
da noite dos espiões pelas estradas
das feras que matam as ovelhas
e apunhalam pastores no caminho

Sombra feroz invernal medonha
destroços e cadáveres pútridos
sugando o seio das madonas
e acalentando monstros nas cavernas
pelas horas taciturnas do medo dos teus passos.
= = = = = = 

Haicai de 
GUILHERME DE ALMEIDA 
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP+

Pescaria

Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.
= = = = = = 

Soneto de
JERÓNIMO BAÍA
Coimbra/Portugal, 1620/30 – 1688, Neiva/Portugal)

Falando com Deus

Só vos conhece, amor, quem se conhece;
Só vos entende bem quem bem se entende;
Só quem se ofende a si, não vos ofende,
E só vos pode amar quem se aborrece.

Só quem se mortifica em vós floresce;
Só é senhor de si quem se vos rende;
Só sabe pretender quem vos pretende,
E só sobe por vós quem por vós desce.

Quem tudo por vós perde, tudo ganha,
Pois tudo quanto há, tudo em vós cabe.
Ditoso quem no vosso amor se inflama,

Pois faz troca tão alta e tão estranha.
Mas só vos pode amar o que vos sabe,
Só vos pode saber o que vos ama.
= = = = = = 

Trova de
RENATO ALVES
Rio de Janeiro/RJ

Quem não tem medo da morte,
quem nunca faz nada em vão,
quem, antes de tudo é um forte...
Este é o homem do sertão!
= = = = = = 

Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Dia de chuva
 
As espumas desmanchadas
sobem-me pela janela,
correndo em jogos selvagens
de corça e estrela.
 
Pastam nuvens no ar cinzento:
bois aereos, calmos, tristes,
que lavram esquecimento.
 
Velhos telhados limosos
cobrem palavras, armários,
enfermidades, heroísmos...
 
quem passa é como um funâmbulo,
equilibrado na lama,
metendo os pés por abísmos...
 
Dia tão sem claridade!
só se conhece que existes
pelo pulso dos relógios...
 
Se um morto agora chegasse
àquela porta, e batesse,
com um guarda-chuva escorrendo,
e com limo pela face,
ali ficasse batendo
 
- ali ficasse batendo
àquela porta esquecida
sua mão de eternidade...
 
Tão frenético anda o mar
que não se ouviria o morto
bater à porta e chamar...
 
E o pobre ali ficaria
como debaixo da terra,
exposto à surdez do dia.
 
Pastam nuvens no ar cinzento.
Bois aéreos que trabalham
no arado do esquecimento.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Brancas, rubras, amarelas,
de rosas colho um balaio!
Mas te ofereço as mais belas,
as rosas rosas de maio!
= = = = = = 

Hino de 
CARAUARI/ AM

Carauari, és brasileira
terra de minhas razões
que teus filhos altaneiros
sejam sempre soberanos
no progresso e na união.

O teu sacado sereno
caprichos do rio Juruá
criação da natureza
em momentos singular.

No verão, tuas vazantes,
que se mostram prazenteiras,
desafiam tuas barrancas
com promessas alvissareiras.

Carauari, rio Juruá,
terra boa para se cantar
a nossa voz no meio da floresta,
em nossa volta a natureza em festa.

Carauari, no Amazonas,
és beco de tradições,
para tantos que te amam,
nordestinos os teus filhos,
tem raízes no teu chão.

Batata vinda do céu,
teu nativo te chamou,
com sua sabedoria
o teu solo abençoou.
Carauari, és brasileira,
terra de minhas razões,
que teus filhos altaneiros
sejam sempre soberanos
no progresso e na união.

O teu sacado sereno,
caprichos do rio Juruá,
criação da natureza
em momentos singular.

No verão tuas vazantes,
que se mostram prazenteiras,
desafiam tuas barrancas
com promessas alvissareiras.

Carauari, rio Juruá,
terra boa para se cantar,
a nossa voz no meio da floresta,
em nossa volta a natureza em festa.

Carauari, no Amazonas,
és beco de tradições,
para tantos que te amam,
nordestinos os teus filhos,
tem raízes no teu chão.

Batata vinda do céu,
teu nativo te chamou,
com sua sabedoria
o teu solo abençoou.

Enquanto tuas terras firmes
envolvem na vastidão
vestígios de ouro negro,
o tesouro desta nação (2x)
= = = = = = 

Trova de
RAYMUNDO DE SALES BRASIL
Santo Amaro/BA

A cor dos teus olhos faz
o que só fazem os vinhos:
Me embriaga e é bem capaz
de embriagar os vizinhos.
= = = = = = 

Soneto de 
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

Ser Paulista

Ser paulista! é ser grande no passado
E inda maior nas glórias do presente!
É ser a imagem do Brasil sonhado,
E, ao mesmo tempo, do Brasil nascente.

Ser paulista! é morrer sacrificado
Por nossa terra e pela nossa gente!
É ter dó das fraquezas do soldado
Tendo horror à filáucia do tenente.

Ser paulista! é rezar pelo Evangelho
De Rui Barbosa - o sacrossanto velho
Civilista imortal de nossa fé.

Ser paulista em brasão e em pergaminho
É ser traído e pelejar sozinho,
É ser vencido, mas cair de pé!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Para ter felicidade,
ao buscá-la eu pressuponho,
que seja qual for a idade
felicidade é ter sonho.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
O TROVADOR 
(marcha-rancho, 1965) 

Sonhei que eu era um dia um trovador
Dos velhos tempos que não voltam mais  
Cantava assim a toda hora
As mais lindas modinhas
De meu tempo de outrora

Sinhá mocinha de olhar fugaz
Se encantava com meus versos de rapaz 
Qual seresteiro ou menestrel do amor
A suspirar sob os balcões em flor
Na noite antiga do meu Rio 
Pelas ruas do Rio
Eu passava a cantar novas trovas 
Em provas de amor ao luar
E via então de um lampião de gás
Na janela a flor mais bela em tristes ais
= = = = = = = = = = = = = 

José Feldman (Visita dos Urbanos na Zona Rural)

Era uma manhã ensolarada quando a fazenda de Seu Zé Capim se preparou para receber uma visita muito especial: um grupo de amigos da cidade, aqueles que acham que a vida no campo é feita apenas de vacas pastando e pôr do sol cinematográfico. A expectativa era alta, mas a realidade seria ainda mais divertida.

Os visitantes chegaram em uma van, todos com suas roupas de grife, óculos escuros e uma expressão que misturava curiosidade e um ar de superioridade. Assim que desembarcaram, a primeira coisa que fizeram foi puxar os celulares para registrar o momento, como se estivessem em um safári. 

"Olha, o campo!" exclamou uma delas, enquanto apontava para um touro que, sinceramente, parecia estar mais interessado em comer capim do que em ser o foco de um ensaio fotográfico.

Seu Zé Capim, com seu chapéu de palha e sorriso no rosto, fez questão de dar as boas-vindas. 

"Bem-vindos à fazenda! Aqui, a gente vive na tranquilidade." 

Mas, a tranquilidade logo se tornaria um conceito relativo.

A primeira atividade programada era a ordenha das vacas. Ao ouvir isso, os citadinos trocaram olhares de perplexidade. 

"Ordenha? Como assim? Não é só apertar um botão?" perguntou um deles, enquanto sua amiga tentava entender a diferença entre a vaca e o boi. 

"É tudo a mesma coisa, né?" 

A risada de Seu Zé foi tão alta que até as galinhas pararam de ciscar para ver o que estava acontecendo.

Com um pouco de paciência — e algumas demonstrações de como se faz — os visitantes finalmente se aproximaram das vacas. 

A cena era digna de uma comédia: um deles, armado com um balde, se aproximou da vaca com uma cautela que mais parecia estar tentando conquistar uma celebridade do que fazer uma simples ordenha. 

"E se ela correr atrás de mim?", ele sussurrou, quase em pânico. 

A vaca, claro, estava mais preocupada com o seu lanche do que com a presença de um humano nervoso.

Depois de algum tempo e muitas risadas, a primeira ordenha foi realizada. 

"Olha, saiu leite! Como se faz para embalar isso?" 

Um outro amigo, que estava mais interessado em saber como o leite virava queijo, já estava desenhando planos de um negócio de laticínios. 

"Podemos fazer um delivery de queijo artesanal na cidade! O que vocês acham?" 

A ideia de colocar queijo de fazenda em uma embalagem causou gargalhadas na turma.

A próxima parada foi na horta. 

"Como assim, você planta as coisas aqui? E o supermercado, não faz nada disso?", perguntou uma moça, enquanto segurava um tomate como se fosse um artefato raro. "E se a gente não tiver água? Como as plantas vão crescer?" 

Seu Zé, já acostumado com a curiosidade dos urbanos, respondeu: "A gente rega, minha filha! Aqui a gente não tem água da torneira, mas a gente faz acontecer!" 

A expressão dela ao ouvir "água da torneira" era como se tivesse descoberto que o mundo não é plano.

A tarde avançou com uma trilha pela mata. 

"Aqui é tudo muito verde!", exclamou um dos rapazes, enquanto outro já tentava identificar se o som que ouvira era uma onça ou apenas um sapo. 

"É só um sapo, amigo! Para de ser medroso!", gritou um dos outros, que já começava a se sentir como um verdadeiro desbravador. A verdade é que a natureza, com suas folhas e barulhos, parecia tanto um mistério quanto um parque temático para eles.

Para completar a experiência rural, Seu Zé decidiu preparar um autêntico almoço caipira. 

"Vocês vão adorar a comida da roça!", disse, enquanto começava a fritar um frango. 

A expectativa era alta, mas quando os pratos chegaram à mesa, um dos amigos olhou para a farofa e perguntou: "E isso, é o que? Um acompanhamento ou um novo tipo de arroz?" 

A confusão era tanta que a farofa quase foi confundida com um novo prato gourmet. A refeição, por sua vez, acabou se tornando um concurso de quem conseguia comer mais, sem saber o que estava colocando na boca.

Os amigos até tentaram ajudar na cozinha, mas a situação rapidamente saiu do controle. Um deles, ao tentar fazer um suco de limão, acabou espremendo mais limão na roupa do que no copo. 

“É uma nova técnica de tempero!” gritou, enquanto todos riam e o limão escorria por suas mãos.

À medida que o dia chegava ao fim, as risadas e as histórias compartilhadas se tornaram o verdadeiro espírito do encontro. O campo, com suas simplicidades e suas complexidades, havia mostrado aos visitantes que a vida rural era muito mais do que eles imaginavam. As dificuldades do dia a dia, as alegrias simples e as risadas ao redor da mesa criaram uma conexão que superou qualquer preconceito que eles pudessem ter.

No final do dia, enquanto se preparavam para voltar à cidade, um dos amigos olhou para Seu Zé e disse: "Sabe, acho que vou começar a plantar um pé de alface na varanda." 

E Seu Zé, com um sorriso cúmplice, apenas respondeu: "É um bom começo! Mas não esquece de regar, tá?"

E assim, a visita dos urbanos à fazenda se tornou uma lembrança hilária e inesquecível, um lembrete de que, às vezes, é preciso sair da zona de conforto para descobrir que a vida, com suas simplicidades e desafios, é muito mais divertida do que parece — mesmo que isso signifique lidar com vacas e farofas!

Fontes: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
Imagem criada por JFeldman com Microsoft Bing

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 64: Sombra e Luz

 

Flávio de Azevedo Levy (Faz de conto)

A aurora veio lentamente da escuridão, a luminosidade inicialmente rasa ia mostrando aos poucos a sua presença, acentuando-se na cadência do prenúncio da manhã. Uma ave sonora interpretava satisfeita um canto pelo introdutório deste espetáculo. Pássaros rasgavam o céu em formação de flecha e os vagalumes saíam de cena, como também a noitada fria. A temperatura ia aumentando, enquanto as rãs quedavam. Os caramujos teimavam em continuar a reproduzir o som dos mares e as gotas de orvalho passaram a fornecer, em tempo real, a transmissão da alvorada nas folhagens das plantas. O lusco-fusco perdeu seu equilíbrio quando 
a tocha vermelha apontou ao leste, despindo o primeiro clarão. Os contornos das formas superiores pareceram adquirir vida própria, e quanto mais a bola de fogo subia, iam descendo as bênçãos de mais um dia glorioso nesta parte privilegiada do planeta. A noite, como soprada, seguiu apagando as últimas imagens de um dia em paragens mais distantes, deixando descortinado este imenso palco onde o astro-rei todos os dia nos fornece um espetáculo único.

– Ainda não está bom - disse-me o professor Vinícius, devolvendo o texto que havia lhe entregado - parece que você exagera em tudo o que escreve! Tente ser mais realista. E claro que o leitor precisa sonhar, mas aquele que escreve não pode perder o senso e os parâmetros. Por favor - continuou ele - não quero desestimulá-lo de ser um escritor, mas seria bom se você simplesmente pudesse relatar algo que realmente possa estar acontecendo. Você já viu uma luminosidade rasa? Uma ave interpretar satisfeita um canto por algum introdutório? Vagalumes deixando um palco? Caramujos teimarem e, o mais absurdo, o orvalho transmitir em tempo real alguma coisa? Transmitir? Por favor, concentre-se melhor no texto. Pássaros rasgando o céu, em formação de flecha ainda vá lá, faz algum sentido...

Enquanto ele falava, um maravilhoso crepúsculo acontecia nas suas costas emoldurado pelo janelão da sala. O mar recebia o Sol como um anfitrião, oferecendo um caldo saboroso de luzes em águas salinas. O convidado, feliz, mergulhava radiante numa efervescente sopa marinha, enquanto a claridade diminuía, um grande prato branco vinha a seguir trazendo as primeiras estrelas da noite...
= = = = = =  = 
O autor é de Campinas/SP

(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
Imagem = criação por JFeldman com Microsoft Bing

Vereda da Poesia = 152 =


Trova de
PEDRO GRILO NETO
Natal/RN

A nostalgia me alcança
quando, branda, a tarde cai,
cravando-me a aguda lança
da saudade do meu pai.
= = = = = =

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Sempre igual

Num ato de pura loucura 
busquei teu rosto...
e para meu desgosto
no lugar dele
me deparei com a tua ausência 
toda ela grudada em mim...
= = = = = = 

Trova de
JOÃO COSTA
Saquarema/RJ

É nobre o gesto de quem
o sofrimento ameniza,
partilhando o que mal tem
com alguém que mais precisa.
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

...E a vida continua

Aos poucos meus amigos vão embora...
Saudade hospitaleira abre janelas
e os ares das paisagens amarelas
aumentam o vazio que devora.

As mãos saudosas ficam sem aquelas
que tanto me afagaram mundo afora
nas horas tristes bem fora de hora
e nos momentos das tertúlias belas.

E assim eu sinto que também vou indo
na esteira da fatal apoteose.
Sublime é caminhar sempre sorrindo

sabendo que ao beber da mesma dose
os planos das paisagens verdejantes
ressurgirão sorrindo como antes
= = = = = = 

Trova Premiada de
MERCEDES LISBÔA SUTILO
Santos/SP

Finquei firme, os pés no chão:
- Esta é a minha terra nova!
E a rosa do coração 
se abriu em forma de trova!
= = = = = = 

Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

O Coração

O coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um — tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.

O outro — voa em mais virentes balsas,
Pousa de um riso na rubente flor.
Vive do mel — a que se chama — crenças —,
Vive do aroma — que se diz — amor. —
= = = = = = 

Trova Popular

Se mil corações tivesse
com eles eu te amaria;
mil vidas que Deus me desse
em ti as empregaria.
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Tuas marcas

Nas lágrimas que verto inconsolado
Repousam minha dor, meu sofrimento.
No sal dessa torrente há desalento:
Escombros do meu sonho estilhaçado.

Aflitas, vozes d'alma, em seu lamento
Num canto lacrimoso, emocionado,
Do adeus farto em pungência têm lembrado
Registro lancinante... Ah, que tormento!

Conserva o coração saudade imensa,
Não vejo essa paixão esmaecida,
Em mim é natural tua presença,

Embora com loucura parecida
Vivaz, noto luzir sem par querença,
Marcaste a ferro e fogo minha vida.
= = = = = = 

Trova de
NEI GARCEZ
Curitiba/PR

Todo dia é da Criança 
e também do Professor: 
um aprende com confiança 
e outro ensina com amor.
= = = = = = 

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Curupira

Pequeno guardião, de cabelos a arder,
Curupira, a lenda das matas a zelar,
com pés ao contrário, faz o mundo tremer,
todo que se atreve a seu reino invadir.

Por entre as árvores, seu rugido ecoa,
desbravador feroz, com astúcia a guiar,
protege a floresta, a fauna e a lagoa,
e ao homem ganancioso, ensina a respeitar.

Mas não te enganes, ele é brincalhão,
faz do viajante um alvo de ilusão,
e em cada caminho, um truque a espreitar.

se o fogo da floresta queres apagar,
cuidado, amigo, o Curupira está à mão,
no riso do vento, a natureza a amar.
= = = = = = 

Trova de
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
Santos/SP

Desperta-me a Paz de um grito: 
quando os sonhos são diversos... 
rebuscando no infinito, 
o amor com Chuva de Versos!!!
(dedicado ao Almanaque Chuva de Versos, de josé Feldman)
= = = = = = 

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

O meu diário

Peguei no meu diário envelhecido,
um velho confidente meu amigo!
Que eu fiz das suas folhas meu abrigo…
Meu fiel conselheiro enternecido!

No diário se encontra redigido:
O meu sentir. A dor que não mitigo,
que vive aboletada e não consigo,
retirar do meu peito tão sofrido!

Suas capas afago com amor!
Elimino alguns fungos de bolor,
que o tempo e a idade provocaram!

Há manchas; caracteres indefinidos!
São sinais indeléveis produzidos,
p’las lágrimas, que os olhos derramaram!
= = = = = = 

Trova de
NEOLY VARGAS
Sapucaia do Sul/RS

Nos carnavais do passado,
dos arlequins, dos palhaços,
fui pierrô apaixonado,
que terminava em teus braços.
= = = = = = 

Soneto de 
GUILHERME DE ALMEIDA 
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP+

Tristeza

Tristes versos que a pena entristecida
Foi, por o gosto de penar, traçando,
Sem saber que me estava retalhando,
A alma, o peito, a razão, o sonho, a vida:

Em quais terras da terra será lida
A confidência que ides confiando?
E, bem mais e melhor que lida, quando,
Em qual tempo dos tempos, entendida?

Às terras, e ainda aos tempos mais diversos,
Ide, sem pressa aqui, ali sem pausa,
Pois só por o partir foi que partistes.

Qual glória hei de esperar, meus tristes versos,
Se já vos falta aquela vossa causa
De serdes versos e de serdes tristes?
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Tu foste nuvem dourada,
mas o sol te dissipou.
Como guardavas minh'alma,
contigo se desmanchou.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Miragem

Relances do tempo
traduzem em ecos
sua suave história,

apenas resquícios de uma trajetória. 
A memória não distingue momentos
futuros, talvez breve lacuna aleatória.
Um oásis reflete diversas passagens, 
estremeço em cena, intuo dedicatória. 
= = = = = = 

Trova de 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Pequenino grão latente,
que brota e aos poucos se expande,
criança é humana semente,
na conquista de ser grande.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Marcas do amor

Se alguém pensa que amar não faz sofrer,
está redondamente equivocado...
É que o amor, grande fonte de prazer,
tem um lado que impõe fardo pesado!

Assim, meu bem-querer, tu podes crer
que, se eu sofrer, estou bem preparado...
Jamais me insurgirei por padecer,
contanto que não saias do meu lado!

Viver contigo é o que eu sonhei um dia
e a tua ausência eu não suportaria,
pois ninguém mais preenche o meu desejo!

Entre afagos, que conta um arranhão?
Vamos chegar às marcas que eu almejo:
juntar amor-paixão e amor-perdão!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ave-Maria, uma prece 
tão gostosa de rezar, 
que às vezes mais me parece 
cantiguinha de ninar! 
= = = = = = 

Poema de
MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Casa Vazia

Falar de amor não é mistério
Nem tão difícil de explicar
A gente nunca faz por mal

Meu coração praia deserta
Morre de medo do inverno
E da solidão que me devora

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

Pensar que o amor é sempre eterno
Que é impossível ele se acabar,
Você bem que podia tentar, mas não, não, não.....

Então quero falar por um momento 
(só por um momento)
Da tua ausência no meu corpo
E dessa lágrima no meu rosto

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

o fogo arde sob o nosso chão
nada é tão fácil assim
eu ando sozinho, no olho do furacão
você nem lembra mais de mim

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde
= = = = = = 

Poetrix de
ANTHERO MONTEIRO
São Paio de Oleiros, Santa Maria da Feira/Portugal

Morte 

uma cadeira vazia na alameda
sentada numa tarde de outono
a olhar o meu ponto de fuga 
= = = = = = 

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Saudade

...e mesmo sem te ver quero-te tanto
que sinto-te em mim, e tua voz no pranto
que escapa-me em torrentes de tristeza.
Antes que dúvida, és minha certeza...

Quero-te na amenidade do poente,
No sol do fim de tarde, reluzente,
Quando nasces em mim, como uma flor.
...e mesmo sem te ver, és meu amor...

Quero-te tanto, que em minh’alma trago
O gosto do vinho em que me embriago
Nesses lábios sedentos que ofereces.

Algum anjo há de ouvir as minhas preces,
E há de entender a solidão que canto
Por não te ver e por amar-te tanto…
= = = = = = 

Trova de
MARIA LÚCIA DALOCE
Bandeirantes/PR

À velha, o doutor confessa:
- Um susto ser-lhe-á fatal!
E o genro mais que depressa,
põe fantasmas... no quintal !
= = = = = = 

Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Monólogo

Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutaste? - Nunca.

Perdido, perdido. Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

De um lado das águas, de um lado da morte,
tua sede brilhou nas águas escuras.
E hoje, que barca te socorre?
Que deus te abraça? Com que deus lutas?

Eu, nas sombras. Eu, pelas sombras,
com as minhas perguntas.
Para quê? Para quê? Rodas tontas,
em campos de areias longas
e de nuvens muitas.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Se tu buscas na partida
além do horizonte, a paz,
não fujas da própria vida,
que a vida sabe o que faz!
= = = = = = 

Hino de 
São Jerônimo da Serra/PR

Foi a fibra do valente pioneiro
Desbravando o sertão do Jatai
Que fez nascer neste solo alvissareiro
Junto às margens do rio Tibagi.

Tão formosa e fagueira cidade
Para orgulho de imparra gentil
Berço augusto de prosperidade
Que ornamenta o querido Brasil.

És a joia mais linda que há
neste recanto feliz do Paraná
São Jerônimo da Serra, meu torrão
viverás para sempre em meu coração.

Rio Tigre de alvura singular
Serra da Esperança, a mais linda que há
São tesouros a ornamentar 
as riquezas que temos aqui.

São Jerônimo, adorado padroeiro
Abençoa com seu manto esta terra
Protegendo este povo hospitaleiro
Que impulsiona São Jerônimo da Serra.

Isto será passageiro
E verás, quando passar
que em lindo sol
Pioneiro em teu céu há de brilhar.

Por que em tua juventude
Em tuas sábias crenças
reside a maior virtude
Depósito de esperança.

São Jerônimo da Serra,
Simples e muito mais
Eu pisei em tua terra,
Não te esquecerei jamais.
= = = = = = 

Trova de
ADELINO MOREIRA MARQUES
São Paulo/SP

Do livro da minha vida
arranquei, com mão irada,
tua página, fingida...
...e a guardo toda amassada!
= = = = = = 

Soneto de 
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

São Francisco e o Rouxinol

Um rouxinol cantava. Alegremente,
quis São Francisco, no frutal sombrio,
acompanhar o pássaro contente,
e começa a cantar, ao desafio.

E cantavam os dois, junto à corrente
do Arno sonoro, do lendário rio.
Mas São Francisco, exausto, finalmente,
parou, tendo cantado horas a fio.

E o rouxinol lá prosseguiu cantando,
redobrando as constantes cantilenas,
os trilados festivos redobrando.

E o santo assim reflete, satisfeito,
que feito foi para escutar, apenas,
e o rouxinol para cantar foi feito.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Nesta espera em que me farto
só dispenso a nostalgia,
é quando a porta do quarto
tua chegada anuncia!
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
FOI ASSIM 
(samba-canção, 1963) 

Foi assim,   
eu tinha alguém que comigo morava 
Mas tinha um defeito que brigava  
Embora com razão,
ou sem razão 
Encontrei um dia uma pessoa diferente 
Que me tratava carinhosamente  
Dizendo resolver minha questão 

Mas não foi assim,  
Troquei essa pessoa que eu morava 
Por essa criatura que eu julgava 
Pudesse compreender todo meu eu 
Mas no fim fiquei na mesma coisa em que estava 
Porque a criatura que eu sonhava  
Não fez aquilo que me prometeu 
Não sei se é meu destino, não sei se meu azar 
Mas tenho que viver brigando 

Todos no mundo encontram seu par 
Porque só eu vivo trocando  
Se deixo alguém por falta e carinho 
Por brigas e outras coisas mais 
Quem aparece no meu caminho 
tem os defeitos iguais
= = = = = = = = = = = = =