sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Fernando Pessoa (Caravela da Poesia)


Se tudo o que há é mentira

Se tudo o que há é mentira,
É mentira tudo o que há,
De nada nada se tira,
A nada nada se dá.

Se tanto faz que eu suponha
Uma coisa ou não com fé,
Suponho-a se ela é risonha,
Se não é, suponho que é.

Que o grande jeito da vida
É pôr a vida com jeito.
Fana a rosa não colhida
Como a rosa posta ao peito.

Mais vale é o mais valer,
Que o resto ortigas o cobrem
E só se cumpra o dever
Para que as palavras sobrem.
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Fosse eu...

Fosse eu apenas, não sei onde ou como,
Uma cousa existente sem viver,
Noite de Vida sem amanhecer
Entre as sirtes do meu dourado assomo ...

Fada maliciosa ou incerto gnomo
Fadado houvesse de não pertencer
Meu intuito gloriola com ter
A árvore do meu uso o único pomo ...

Fosse eu uma metáfora somente
Escrita nalgum livro insubsistente
Dum poeta antigo, de alma em outras gamas,

Mas doente, e, num crepúsculo de espadas,
Morrendo entre bandeiras desfraldadas
Na última tarde de um império em chamas ...
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Gato que brincas

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
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Tenho dó das estrelas

Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo ...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir ...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão
Qualquer coisa assim
Como um perdão?
Boiam leves, desatentos,
Meus pensamentos de mágoa,
Como, no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas.

Boiam como folhas mortas,
À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.

Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.

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Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra cousa ainda.
Essa cousa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
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O menino da sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
Duas de lado a lado
Jaz morto, e arrefece.

Raia lhe a farda o sangue.
De braços estendidos
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
e cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"o menino da sua mãe"

Caiu lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera lha a mãe.
Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embaínhada
De um lenço...
Dera lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há prece:
"Que volte cedo e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
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Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
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Não digas nada!

Não digas nada!
Não, nem a verdade!
Há tanta suavidade
Em nada se dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada!
Deixa esquecer.

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vâ
Toda esta viagem
Até onde quis.
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz...
Não digas nada.
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Tenho uma grande constipação.

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor!
0 que fui outrora foi um desejo; partiu se.

Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando,
Não estarei bem se não me deitar na cama
Nunca estive bem senão deitando me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina.
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"Cartas de Amor"

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem,
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal.
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade e que hoje
As minhas memorias Dessas cartes de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
como os sentimentos esdrúxulos.
São naturalmente
Ridículas)
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"Poeta fingidor"

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
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Um dia, num restaurante...

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram se comigo. Nunca se pode ter razão, nem num restaurante. Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta, E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele. E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
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Edson Harada (Poesia Imitativa, Tragédia, Comédia e Mito)


Espécie de poesia imitativa, classificadas segundo o meio da imitação

A Epopéia, a Tragédia, todas geram imitações. Todas elas imitam com o ritmo, a linguagem e a harmonia, usando esses elementos separados ou conjuntamente. Diferem-se porém por três aspectos:
· porque imitam por meios diversos
· porque imitam objetos diversos
· porque imitam por modos diversos e não da mesmo maneira

Espécie de poesia imitativa, classificadas segundo o objeto da imitação

Cada uma das imitações contém diferenças, e que cada uma delas há de variar, na imitação de coisas diversas.

A mesma diferença separa a Tragédia da Comédia: procura esta imitar os homens piores, e aquela, melhores do que eles ordinariamente são.

Espécies de poesia imitativa, classificadas segundo o modo da imitação: narrativa, mista dramática. Etimologia de “drama” e “comédia”

Há ainda uma terceira diferença entre as espécies de poesias imitativas, a qual consiste no modo como se efetua a imitação. Com os mesmos objetos, quer na forma narrativa, quer mediante todas as pessoas imitadas, operando e agindo elas mesmas. Consiste a imitação nestas três diferenças.

Daí alguns denominarem as tais composições de DRAMAS, pelo fato de se imitarem agentes (dróntas). Os Dórios reclamam a invenção da Tragédia e da Comédia. A Comédia, pretendem-se os Megarenses. A Tragédia também se dão por inventores alguns dos dórios que habitam Peloponeso.

Origem da poesia - Causas
História da poesia trágica e cômica

Ao que parece, duas causas, e ambas naturais, geram a poesia. O imitar é congênito no homem, e os homens se comprazem no imitado. Aprendem e discorrem sobre o que seria cada uma delas, e dirão, por exemplo: “esta é tal”.

Sendo pois a imitação própria da nossa natureza, os que ao princípio foram pouco a pouco dando origem à poesia, procedendo desde o mais toscos improvisos.

A poesia tomou diferentes formas, segundo a diversa índole particular dos poetas. Os de mais alto ânimo imitam as ações nobres e das mais nobres personagens; e os de mais baixas inclinações voltaram-se para as ações ignóbeis, compondo, estes, vitupérios, e aqueles, hinos e encômios.

Homero foi o primeiro que traçou as linhas fundamentais da Comédia, dramatizando, não o vitupério, mas o ridículo.

Nascida de um princípio improvisado, a Tragédia pouco a pouco foi evoluindo, à medida que se desenvolvia tudo quanto se manifestava; até que passadas muitas transformações, a Tragédia se deteve, logo que atingiu sua forma natural. Quanto à grandeza, tarde adquiriu a Tragédia o seu alto estilo: só quando se afastou dos argumentos breves e da elocução grotesca, isto é, do elemento satírico. Quanto ao metro, substituiu o tetrâmetro trocaico pelo jâmbico. Com efeito, os poetas usaram primeiro o tetrâmetro porque as suas composições eram satíricas e mais afins à dança; mas, quando se desenvolveu o diálogo, o engenho natural logo encontrou o metro adequado; pois o jambo é o metro que mais se conforma ao ritmo natural da linguagem corrente: demonstra-o o fato de muitas vezes proferirmos jambos na conversação, e só raramente hexâmetros, quando nos elevamos acima do tom comum.

· Ésquilo foi o primeiro que elevou de uma a dois o número de atores, diminuiu a importância do coro e fez do diálogo protagonista.
· Sófocles introduziu três atores e a cenografia.

A comédia: evolução do gênero
Comparação da Tragédia com a Epopéia

A Comédia é a imitação de homens inferiores, não quanto a toda a espécie de vícios, mas só quanto aquela parte do torpe que é ridículo.

Se as transformações da Tragédia e seus autores nos são conhecidas, as da Comédia, pelo contrário, estão ocultas, pois que delas se não cuidou desde o início: só passado muito tempo o arconte concedeu o coro da Comédia, que outrora era constituído por voluntários. E também só depois que teve a Comédia alguma forma é que achamos memória dos que se dizem autores dela. Não se sabe, portanto, quem introduziu a máscara, prólogo, número de atores e outras coisas semelhantes.

A Epopéia e a Tragédia concordam somente em serem, ambas, imitação de homens superiores, em verso. Mas diferem pelo seu metro único e a forma narrativa. E também na extensão, porque a Tragédia procura, o mais que é possível caber dentro de um período do Sol, ou pouco excedê-lo, porém a Epopéia não tem limite de tempo.

Quanto as partes construtivas, algumas são as mesmas na Tragédia e na Epopéia. Outras são próprias da Tragédia. Todas as partes da poesia épica se encontram na Tragédia, mas nem todas as da poesia trágica se intervêm na Epopéia.

Definição de Tragédia.
Partes ou elementos essenciais.

A Tragédia é a imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com as várias espécies de ornamentos distribuídas pelas diversas partes do drama, limitação que se efetua não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o “terror e a piedade, tem por efeito e purificação dessas emoções”.

Algumas partes da Tragédia adotam só o verso, outras também o canto.

Como esta imitação é executada por atores, em primeiro lugar o espetáculo cênico há de ser necessariamente umas das partes da Tragédia, e depois, a Melopéia e a elocução, pois estes são os meios pelos quais os atores efetuam a imitação.

· Elocução: mesma composição métrica.
· Melopéia: aquilo cujo efeito a todos é manifesto.

E como a Tragédia é a imitação de uma ação e se executa mediante personagens que agem e que diversamente se apresentam, conforme o próprio caráter e pensamento, daí vem por conseqüência o serem duas causas naturais que determinam as ações: pensamento e caráter.

· Mito: imitação de ações; composição dos atos;
· Caráter: o que nos faz dizer das personagens se elas têm ou tal qualidade.
· Pensamento: tudo quanto digam as personagens para demonstrar o que quer que seja ou para manifestar sua decisão.

É portanto necessário que sejam seis as partes da Tragédia que constituam a sua qualidade: Mito, caráter, elocução, pensamento, espetáculo e Melopéia.

Quanto aos meios com que se imita são duas.
Quanto ao modo por que se imita é uma só.
Quanto aos objetos que se imitam, são três.

O elemento mais importante é a trama dos fatos, pois a Tragédia não é imitação dos homens, mas de ações e de vida, de felicidade e infelicidade. Daqui se segue que na Tragédia, não agem as personagens para imitar caracteres, mas assumem caracteres para efetuar certas ações; por isso as ações e o Mito constituem a finalidade da Tragédia. A finalidade é tudo o que mais importa. O Mito é o princípio e como que a alma da Tragédia. Só depois vêm os caracteres.

A Tragédia é por conseguinte, imitação de uma ação e através dela, principalmente, imitação de agentes.

O terceiro elemento da Tragédia é o pensamento: consiste em poder dizer sobre ta; assunto o que lhe é inerente e a esse convém. Caráter é o que revela certa decisão ou, em caso de dúvida, o fim preferido ou evitado. Pensamento é aquilo em que a pessoa demonstra que algo é ou não é ou enuncia uma sentença geral.

Quarto entre os elementos literários é a elocução: o enunciado dos pensamentos por meio das palavras. Tem a mesma efetividade para verso ou prosa.

Dos restantes, a Melopéia é o principal ornamento.

Estrutura do Mito trágico
O Mito como ser vivente

A composição dos atos é a parte da Tragédia mais importante. Já sabemos que a Tragédia é imitação de uma ação completa, constituindo um todo que tem certa grandeza, porque pode haver um todo que não tenha grandeza.

· Todo: é aquilo que tem princípio, meio e fim.
· Princípio é o que contém em si mesmo o que quer que siga necessariamente outra coisa, e que, pelo contrário, tem depois de si algo com quem está ou estará necessariamente unido.
· Fim: é o que naturalmente sucede a outra coisa, por necessidade ou porque assim acontece na maioria dos casos, e que, depois de si, nada tem.
· Meio: é o que está depois de alguma coisa e tem outra depois de si.

É necessário portanto que os Mitos bem compostos não comecem nem terminem ao acaso, mas que se conformem aos mencionados princípios.

Uma Tragédia quanto mais bela será mais extensa. O limite suficiente de uma Tragédia é o que permite nas ações uma após outra sucedidas, conforme a verossimilhança e à necessidade, se dê o transe da infelicidade à felicidade ou vive-versa.

Unidade de ação: unidade histórica e unidade poética

Muitas são as ações que uma pessoa pode praticar, mas nem por isso elas constituem uma ação una. Tal é necessário que nas demais artes miméticas una seja a imitação, quando o seja de um objeto de uno, assim também o Mito, porque é imitação de ações, deve imitar as que sejam unas e completas, e todos os acontecimentos se devem suceder em conexão tal que, uma vez suprimido ou deslocado um deles, também se confunda ou mude a ordem do todo.

Poesia e história
Mito trágico e Mito tradicional. Particular e universal. Piedade e terror. Surpreendente e maravilhoso.

Deve-se ter sempre a verossimilhança e a necessidade. Por isso a poesia é algo mais filosófico e mais sério do que história, pois refere aquela principalmente o universal, e esta o particular.

· Universal: atribuir a um indivíduo de determinada natureza pensamentos e ações que, por liame de necessidade e verossimilhança, convém a tal natureza.
· É universal: porque visa a poesia ainda que dê nomes às suas personagens.
· É particular: pelo contrário ao universal.

Quanto à Comédia, já ficou demonstrado este caráter universal da poesia: os comediógrafos, compondo a fábula segundo a verossimilhança, atribuem depois às personagens os nomes que lhes parecem.

Na Tragédia mantém-se os nomes já existentes. Algumas Tragédias são conhecidos os nomes de uma ou duas personagens, sendo os outros inventados. Em outras, nem o nome é citado.

O poeta deve ser mais fabulador do que versificador porque ele é poeta pela imitação e porque imita ações.

Dos Mitos e ações simples, os episódicos são os piores.
· Episódico: o Mito em que a relação entre um e outro episódio não é necessária nem verossímil.

A Tragédia também suscita o terror e a piedade. Essas emoções se manifestam principalmente quando se nos deparam ações paradoxais, e, perante casos semelhantes, maior é o espanto que ante os feitos do acaso e da fortuna.

Mitos simples e complexos
Reconhecimento e Peripécia

Dos Mitos, uns são simples outros complexos, porque tal distinção existe, por natureza, entre as ações que eles imitam.

· Simples: aquela que sendo una e coerente, efetua a mutação de fortuna, sem Peripécia ou reconhecimento.
· Complexa: aquela em que a mudança se faz pelo Reconhecimento ou pela Peripécia, ou por ambos conjuntamente.

Elementos qualitativos do Mito complexo: Reconhecimento e Peripécia.

· Peripécia: é a mutação dos sucessos no contrário, e esta inversão deve produzir-se verossímil e necessariamente.
· Reconhecimento: é a passagem do ignorar ao conhecer.

Posto que o Reconhecimento é o reconhecimento de pessoas, pode acontecer que ele ocorra apenas numa pessoa a respeito de outra, quando uma das duas fica sabendo quem seja esta outra.

São estas duas partes do Mito: Peripécia e Reconhecimento. A terceira é a Catástrofe.
· Catástrofe: ação perniciosa e dolorosa, como o são as mortes em cena, as dores veementes, os ferimentos e mais casos semelhantes.

Partes qualitativas da Tragédia

As partes da Tragédia são as seguintes:
· prólogo: parte completa da Tragédia que precede a entrada do coro.
· êxodo: parte completa, a qual não sucede canto do coro
· episódio: parte completa da Tragédia entre dois corais
· coral (que é dividido em párodo e estásimo): o párodo é o primeiro, e o estásimo é um coral desprovido de anapestos e troqueus.

A situação trágica por excelência
O herói trágico.


As Tragédias mais belas não são simples, mas complexas, e além disso devem imitar casos que suscitam o terror e a piedade.

O ideal é a do homem que não distingue muito pela virtude e pela justiça, que nele se não passe da infelicidade para a felicidade, mas pelo contrário, da dita para a desdita; e não por malvadeza, mas por algum erro de uma personagem.

A mais bela Tragédia, conforme as regras da arte, é aquela que for composta do modo indicado.

O trágico e o monstruoso
A Catástrofe. O poeta e o Mito tradicional

O terror e a piedade podem surgir por efeito do espetáculo cênico, mas também podem derivar da íntima conexão dos atos, e este é o procedimento preferível e o mais digno do poeta.

O Mito deve ser composto de tal maneira que quem ouvir as coisas que vão acontecendo, ainda que nada veja, só pelos sucessos trema e se apiede.

As ações desse gênero devem necessariamente desenrolar-se entre amigos, não há que compadecer-nos, nem pelas ações nem pelas intenções deles, a não ser pelo aspecto lutoso dos acontecimentos; e assim também, entre estranhos.

É possível que uma ação seja praticada a modo como a poetaram os antigos, por personagens que sabem e conhecem que fazem. O melhor porém é a do que age ignorando, e que, perpetrada a ação, vem a conhecê-la; ação tal não repugna, e o Reconhecimento surpreende.

Caracteres. Verossimilhança e necessidade.
Deus ex machina.

No respeitante a caracteres, há quatro pontos importantes a visar:

· eles devem ser bons
· é a conveniência; há um caráter de virilidade, mas não convém à mulher ser viril ou terrível.
· outra qualidade é a semelhança, distinta da bondade e da conveniência.
· Coerência, ainda que a personagem a representar não seja coerente nas suas ações, é necessário que no drama ela seja incoerente coerentemente.

Deve-se sempre procurar a verossimilhança e a necessidade. O irracional não deve entrar no desenvolvimento dramático, mas se entrar, que seja unicamente fora da ação.

Reconhecimento: classificação de Reconhecimentos

A primeira e de todas a menos artística, se bem que a mais usada, é a que se efetua por sinais. Dos sinais uns são congênitos, outros são adquiridos e, ou se encontram no corpo como as cicatrizes, ou fora do corpo, como os colares ou aquela cestinha, mediante a qual se dá o Reconhecimento. Desses sinais pode se fazer uso melhor ou pior dele São esses sinais usados como meio de persuasão, os menos artísticos.

Em segundo vem o Reconhecimento urdido pelo poeta, e que, por isso mesmo, também não é artístico.

A terceira espécie de Reconhecimento efetua-se pelo despertar da memória sob as impressões que se manifestam à vista.

A quarta espécie de Reconhecimento provém do Silogismo.

Há também o Reconhecimento combinado com um paralogismo da parte dos espectadores.

De todos os Reconhecimentos, melhores são os que derivam da própria intriga, quando a surpresa resulta de modo natural. Só Reconhecimentos dessa espécie dispensam artifícios, sinais e colares. Em segundo vem os que provém de Silogismo.

Exortação ao poeta trágico
Os episódios na Tragédia e na Epopéia

Deve o poeta ordenar fábulas e compor elocuções das personagens, tendo-as à vista o mais que for possível. Deve também reproduzir por si mesmo, tanto quanto possível, gestos das personagens.

Quanto aos argumentos, quer os que já tenham sido tratados, quer o que ele próprio invente, deve o poeta dispô-lo assim em termos gerais e só depois introduzir s episódios e dar lhes a conveniente extensão.

Umas vez denominadas as personagens, desenvolvem-se os episódios. Estes devem ser conforme ao assunto.

Nos dramas, os episódios devem ser curtos, ao contrário da Epopéia, que, por eles adquire maior extensão.

Nó e desenlace
Tipos de Tragédia, classificada pela relação entre nó e desenlace. Estrutura da Epopéia e da Tragédia

Em toda Tragédia há o nó e o desenlace. Nó é constituído por todos os casos que estão fora da ação e muitas vezes por alguns que estão dentro da ação. O resto é o desenlace.

· Nó: é toda parte da Tragédia desde o princípio até aquele lugar onde se dá o passo para a boa ou má fortuna
· Desenlace: parte que vai do início da mudança até o fim.

Há 4 tipos de Tragédia, e 4 também são suas partes:
· Tragédia complexa: que consiste toda ela em Peripécia e Reconhecimento
· Tragédia catastrófica
· Tragédia de caracteres
· Episódicas

Pelo Mito se estabelece a igualdade ou a diferença entre as Tragédias; e que são iguais quando o sejam o nó e o desenlace. Porém, há muitos que bem tecem a intriga e mal a desenlaçam; o que importa é conjugar ambas as aptidões.

Quer nas Tragédia como Peripécias, quer nas Episódicas, podem os poetas obter o desejado efeito mediante o maravilhoso.

O coro também deve ser considerado como um dos atores; deve fazer parte do todo, e da ação.

Na maioria dos poetas, contudo os corais, tampouco pertencem à Tragédia em que se encontram como a qualquer outra.

O pensamento
Modos de elocução

O pensamento inclui todos os efeitos produzidos mediante a palavra. Devem fazer parte, o demonstrar e o refutar, suscitar emoções (como a piedade, o terror, a ira e outras) e ainda o majorar e o minorar o valor das coisas.

Quanto à elocução, há uma parte dela, constituída pelos respectivos modos, cujo conhecimento é próprio do ator e de quem faça profissão dessa arte, que consiste em saber o que é ordem ou súplica, uma explicação, uma ameaça, uma pergunta uma resposta, e outras que tais.

A elocução poética

Há duas espécies de nomes:
· Simples: não são constituídos de partes significativas
· Duplos: todos os são duplos.

Há também nomes triplos, quádruplos, múltiplos. Cada nome depois, ou é coerente, ou é estrangeiro, ou metáfora, ou ornato, ou inventado, ou alongado, abreviado ou alterado.

· Corrente: aquele que ordinariamente se serve cada um de nós
· Estrangeiro: aquele que se servem os outros e por isso é claro que o mesmo nome pode ser ao mesmo tempo corrente e estrangeiro.
· Metáfora: consiste no transportar para uma coisa o nome de outra, ou do gênero para a espécie, ou da espécie para o gênero, ou dá espécie de uma para a espécie de outra, ou por analogia.

A elocução
Partes da elocução

Quanto à elocução, as seguintes são as suas partes: letra, símbolo, conjunção, nome, verbo, artigo, flexão e preposição.

· letra: som indivisível, não porém qualquer som, mas apenas qual possa gerar um som composto. Dividem-se em vogais, semivogais e mudas. Vogal é a lera de som audível sem encontro dos lábios ou da língua. Semivogal, a que tem um som produzido por esse encontro. Muda, sem som.
· Sílaba: é um som desprovido de significado próprio, constituído por uma muda e soante.
· Conjunção é a palavra destituída de significado próprio, mas que não obsta nem contribui para que vários sons significativos componham uma única expressão significativa.
· Nome: é o som significativo, composto, sem determinação de tempo, que não tem nenhuma parte que, como parte do todo, seja significativa por si.
· Verbo: som composto, significativo, que exprime o tempo, e cujas partes, como as do nome, fora do conjunto não tem significado nenhum.
· Preposição: é som composto e significativo, do qual algumas partes são de per si significantes.
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Fonte:

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte XIV



II. - Merlin

Personagem lendário, Merlin — em céltico Myrddhin, em armoricano Marzin — foi poeta, profeta e mágico. Companheiro do rei Artur, estabeleceu a Távola redonda e seu nome fica ligado à demanda do Santo Graal.

1. — Textos literários

a) A crônica latina — Na Crônica latina, atribuída a Mônio (fim do século X), vê-se o rei bretão Wortingem abandonado pelos seus devido à sua crueldade. Desejoso de uma fortaleza que não pudesse ser tomada, os mágicos aconselham-no a regar o solo com o sangue de uma criança nascida sem pai. Merlin — nomeado Ambrósio — confunde o rei com suas respostas proféticas e salva assim a sua vida.

b) Geoffroy de Monmouth — Em aproximadamente 1135 Geoffroy de Monmouth dá um caráter cavaleiresco, cortês e histórico à lenda de Mênio. A pedido de Alexandre, bispo de Lincoln, redige as Profecias (Atribuídas a Merlin) e depois a Vita Merlini.

c) Robert de Boron — Esse autor inclui o nome de Merlin à lenda do Graal. Sua trilogia comporta um poema sobre Merlin que institui a Ordem da Távola redonda (Brut de Wace mencionava a Távola redonda em 1155). Merlin é o herói de uma epopéia espiritual.

d) Os continuadores — O simbolismo desaparece e a profecia torna-se um meio literário. Merlin aparece em numerosos romances (Claris et Loris). O Ariosto, Cervantes (Don Quixote, II, 21), Rabelais, Shakespeare (O rei Lear, III, 11), observam esse personagem que inspirou Gluck (A ilha de Merlin, Viena, 1758). Para K. L. Immermann (Merlin, 1832) é um Fausto cristão; Heine por ele se interessa (1835) bem como Tennyson (Vivien, 1859, 0 Santo Graal, 1870), e Edgar Quinet (Merlin l’enchanteur, 1860). Apollinaire escreveu L’enchanteur pourrissant (1909), Cocteau, Les chevaliers de la Table ronde e Aragon Brocêliande (Cahiers du Rhône, 1942). Contudo, a lenda de Merlin parece estar a caminho da extinção.

e) As críticas — Depois dos estudos de Bâle (1559), Buchanan (1590), David Powel (1603), é preciso esperar a de Walter Scott (1638) para tocar realmente o assunto (The Ministrelsy). Francisque Michel e Thomas Wright (1837), tentaram uma síntese crítica. Depois de Saint-Aignan (1921), de Eschevannés (1935), Paul Zumthor apresentou, em 1943, uma tese à Universidade de Genebra com uma bibliografia muito completa.

2. — Símbolo da lenda

a) Origem de Merlin — O nascimento desse Proteu da Idade Média é muito obscuro. De acordo com Robert Boron, o diabo seduziu uma virgem; Merlin, com sua palavra eloqüente faz com que sua mãe, tornada responsável por esse estranho nascimento, seja absolvida. Eis a lenda de Ambrósio cujo tema é o de Robert de diable.

Para La Villemarqué a mãe de Merlin teria sido uma princesa que, penetrando num bosque atraída pelo canto de um pássaro, adormeceu e a criança que nascerá de modo tão sobrenatural e poético, falará imediatamente. Supõe-se também que seja um personagem real, um burdo galês ou da Cornualha do século VI; ou um deus gaulês, parente de Mercúrio, Merddyn cujo nome vem da raiz Mercs encontrada em Mercúrio.

b) A ação de Merlin — Mestre do Heptacórdio formulou as regras que regiam os cavaleiros da Távola redonda; dirige as batalhas e sua harpa encanta os poderes hostis; comanda os demônios, encanta as fadas.

O episódio mais dramático continua a ser o do seu amor por Viviana. Todo-poderoso, deseja que essa mulher o procure livremente; mas o temor de Viviana torna-se odioso. Merlin transformou-se no profeta vencido pelo amor e o encantamento feminino.

c) Evolução do personagem — Profeta, Merlin não é o mestre de uma alquimia misteriosa; torna-se a seguir o fascinador. O papel de Merlin ao lado dos cavaleiros arturianos permanece, entretanto, episódico. Seu simbolismo corresponde às nossas exigências pessoais e finalmente nada mais é do que uma significação poética.
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continua...
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Trova LXXX - Heloisa Zanconato Pinto (Juiz de Fora/MG)

Alex Giostri (O Ator e o Autor)


Tudo se inicia no texto. Na realidade tudo se inicia no pensamento do autor. O autor tem uma idéia, pensa sobre essa idéia, formula questões, analisa possibilidades e constrói uma trama pensando na figura do ator. Sem um texto, o ator não pode criar nada, assim como sem o ator o autor não verá sua obra representada. Ambos são criadores. Um da sua própria obra e outro da visão, do entendimento da obra alheia.

É fundamental ao ator que tenha a consciência de que ao se utilizar das palavras do autor a sua função é transformá-las em impressões. Em impressões para os espectadores. Na mesma medida em que ao ator cabe a transformação das palavras do autor em impressões, cabe-lhe também ocultar o homem por trás de si apresentando apenas a personagem, sua ação e a fala.

A relação entre esses dois ofícios é muito próxima uma vez que ambos, autor e ator, iniciam seus trabalhos através de pesquisas e ambos doam seus espaços internos às figuras desconhecidas, irreais. O primeiro interlocutor do autor é o ator enquanto o do ator é o público. E mesmo sendo obra do autor a que está sendo apresentada pelo ator, passa a ser de sua autoria também a concepção, a leitura do que apresenta. É como se dentro do universo do autor o ator criasse a sua melhor maneira de dizer aquilo que se quis dizer.

Sendo também um criador, o ator fica muito mais completo uma vez que deixa de ser mera marionete para oferecer ao universo do autor seus pontos de vista e suas experiências de vida a respeito da personagem em questão. Há sempre o que aprender; o que observar de um outro ângulo. E por isso é fundamental que as duas pontas criadoras estejam sempre em sintonia e que ambas compreendam o que a outra quer falar.

Há uma corrente que diz que o autor é uma ferramenta social e que sua função é tornar a vida das pessoas menos dolorosa, é trazer um pouco de esperança para o mundo, é fazer com que os conflitos sejam expostos de modo não tão duro como a vida expõe. É uma corrente com razão. De fato essa é a função do autor. Há no ofício da escrita essa função social. E há também a mesma função no ofício do ator. E de uma maneira muito mais visível quando se trata de obra teatral, televisiva ou cinematográfica.

Por essa razão é mais que urgente que os atores jovens tenham a compreensão de que suas bases profissionais e emocionais sejam construídas sobre alicerces concretos para que possam levar seus discursos adiante de maneira digna. Essa consciência fará do ator um ator muito mais amplo, mas profundo e com mais responsabilidade em seu ofício.
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Fonte:

Alex Giostri (Cursos)


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Oficina Sobre Criação Literária
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A oficina de Criação Literária destina-se a escritores novos e experientes, e também a pessoas interessadas em criar histórias ficcionais.

O intuito é que todos os participantes concluam as atividades compreendendo seu próprio processo criativo.

Para isso, é aplicada uma metodologia para a vida, onde é apresentada e discutida a importância da leitura na vida do escritor, a importância da observação, da boa estrutura, do conhecimento da técnica de cada linguagem, da construção das personagens, da ambientação, do tempo e do bom final.

O interesse de Alex nesta atividade é ampliar o olhar do autor, seja ele novato ou experiente. Alex acredita que o campo do aprender é infinito, e que se tratando de criação um sempre tem o que aprender com o outro, independentemente do tempo de vida ou experiência profissional. A troca é o alimento do escritor, sempre.

O foco maior na oficina de Criação Literária é o próprio homem autor e sua visão de mundo.

“Não há como ser um bom autor se não tivermos um olhar amplo sobre nós, sobre o universo que vivemos, e sobre as pessoas que nos rodeiam.
O bom autor é o homem conhecedor de si próprio, e do que se passa a sua volta. Naturalmente, as técnicas literárias são imprescindíveis, no entanto, não há técnica que resista à falta de conhecimento, à ignorância e à imbecilidade humana. O observar o outro é uma das maiores ferramentas que se pode ter enquanto escritor. Não podemos esquecer que tratamos da natureza humana. Mas só podemos ser tal observador, ou tratar da natureza humana se nós tivermos em contato profundo e honesto com nós mesmos. E aí tal afirmação, a da imbecilidade, ignorância e falta de conhecimento, se faz justa e compreensível, e o tornar-se bom autor se concretiza, desde que haja algo a ser dito.”

A oficina de Criação Literária divide-se em oito encontros de quatro horas cada.

Além das atividades em Universidades e em cursos especializados, o autor também faz acompanhamento individual de obras em andamento, obras finalizadas, revisões e reestruturações.
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A construção emocional do ator
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A construção emocional do ator é uma atividade nova que Alex idealizou no ano de 2008 para trabalhar com atores jovens e veteranos. Nela, é discutida a ética da profissão, a importância do indivíduo por trás do ator, as sensações e as percepções.

Alex também trabalha a construção de personagens complexas, ambíguas. Para isso, dialoga através da psicanálise trazendo para todos um pouco de cada um.

É uma atividade para os jovens atores, principalmente os jovens, mas também para os mais experientes, para ambos entrarem em contato com questões relacionadas à construção do indivíduo, com a relação vida/generosidade, com a maneira branda de ver a vida; para que, ao descobrirem mais sobre si mesmos, tais atores possam oferecer mais para suas personagens e, naturalmente, às platéias. Eu me utilizo de obras teatrais, de personagens complexos da dramaturgia, me interesso em saber um pouco de cada participante e ofereço a possibilidade de questionarem mais de si mesmos e das personagens apresentadas. Todo o meu trabalho com os atores passa pelas vias da psicanálise, da filosofia e da vida como ela é, ou deveria ser.”.

O grupo tem duração de três meses, sendo um encontro semanal de duas horas cada.

Além da atividade grupal, o autor também faz um trabalho individual específico para quem está elaborando alguma personagem e precisa de auxilio na construção emocional.
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Textos teatrais
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A oficina de Textos Teatrais é para quem quer aproximar-se da linguagem cênica. Nela, Alex apresenta a ambientação cênica, a questão do tempo no teatro, a importância do ator no palco, o efeito dramatúrgico da iluminação e a responsabilidade das palavras postas nas bocas das personagens.

Além disso, Alex apresenta a história do teatro e fala sobre Dramaturgia clássica, moderna e contemporânea.

Alex é dramaturgo e possui um prêmio nacional com um de seus textos teatrais. Seu interesse por novos autores e pelo próprio teatro já é antigo.

Esse trabalho nasceu da enorme curiosidade de conhecer e contribuir com novos autores.

“É difícil dizer o que é certo e o que é errado no teatro. Na realidade, é difícil dizer isso na vida como um todo. Na arte, principalmente. O que podemos pensar é no que dá certo e no que dá errado. Daí, portanto, partimos prum denominador comum. Naturalmente não podemos esquecer as regras, as teorias clássicas e o que já foi dito e pensado sobre o fazer teatral, sobre a carpintaria de um bom texto cênico. O que busco apresentar em meus cursos, principalmente nos voltados pra autores que querem pensar teatro, é na verossimilhança interna da trama. O que não tem nada a ver com a questão da verossimilhança entre o que é possível ou não, tendo como parâmetro o mundo em que vivemos; o da realidade. O que estou tentando dizer é que o que importa - o que eu tento apresentar -, claro, uma das coisas do curso, é que o autor teatral deve ser verdadeiro nas verdades daquele universo apresentado. E isso independe do da vida real. Isso é verossimilhança interna.”

A oficina de Textos Teatrais divide-se em oito encontros de quatro horas cada.

Além das atividades em Universidades e em cursos especializados, o autor também faz acompanhamento individual de obras em andamento, obras finalizadas, revisões e reestruturações.
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Roteiro p/ Cinema e TV
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As oficinas de Roteiro p/ Cinema e TV já acontecem desde 2005 e são muito procuradas pelas Universidades e alunos.

O interesse maior do autor é possibilitar que seus alunos conheçam as ferramentas dramáticas externas e internas. São tais ferramentas que possibilitarão a construção visual daquilo que alguns querem contar.

Para isso, o autor apresenta uma série de questões fundamentais sobre as referências de cada um, fala sobre as memórias afetivas, dialoga sobre as possibilidades da transferência daquilo que é pensamento para o papel e discute sobre a maneira de contar uma história através da imagem e do som.

A parte teórica para um curso como esse é de enorme importância uma vez que quem se chama autor – roteirista – é o homem apto a desenvolver criativa, artística e intelectualmente um roteiro. Isso, de modo que saiba que o seu compromisso não é com a história em si, mas na maneira que irá elaborá-la e apresentá-la ao espectador.
Uma boa história mal contada não funciona e não chamará a atenção de muita gente. Já uma história média bem contada, bem elaborada, já funcionará ao contrário; acaba se tornando boa pela maneira que está posta à mesa.

O oficina de Roteiro p/ Cinema e TV divide-se em oito encontros de quatro horas cada.

Para saber mais sobre os cursos:

alexgiostri@terra.com.br

Fontes:
http://www.alexgiostri.com.br/cursos.html
Imagem =
http://oficinaliteraria3idade.blogspot.com

Alex Giostri



Alex é paranaense. Mudou-se muito cedo para São Paulo, cresceu na cidade, viveu por doze anos no Rio de Janeiro (1996-2008) e voltou à cidade, onde vive até hoje.

Começou a ler muito cedo. Com seis anos já tinha uma pequena biblioteca dentro do guarda-roupa.

Na adolescência, envolveu-se com muitas drogas e pequenos delitos, o que o levou à prisão já aos dezoito anos. O início de uma sofrida jornada de envolvimento com a criminalidade e com a justiça.

Sua vida se transformou num inferno, com idas e vindas da prisão, praticamente por três anos. Compreendeu que suas atitudes estavam lhe fazendo mal e constatou que o sistema carcerário não poderia em nada contribuir para o seu aprimoramento social, emocional etc.

Em 1996, inconformado com sua situação, Alex participou de uma fuga coletiva do presídio onde se encontrava. Mudou-se para o Rio de Janeiro e buscou auxílio psicanalítico, voltou a estudar, redescobriu os livros, a arte, a literatura e, lentamente, foi substituindo a dor e a agonia por uma vida de serenidade e esperança.

Formou-se em Cinema, algumas pós-graduações, inúmeros cursos profissionalizantes e ingressou profissionalmente no mundo das palavras.

Foi colaborador de jornais impressos como Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa, trabalhou como diretor de filmes publicitários. Dirigiu duas campanhas políticas para televisão, uma para um candidato a Governador e outra para um candidato a Prefeito, 2002 e 2004 respectivamente.

Idealizou e coordenou o Projeto Novo Autor (2004) - projeto de fomentação dramatúrgica que apresentou autores, atores e diretores teatrais para a sociedade carioca. O projeto teve mais de trezentos textos teatrais inscritos, todos lidos e analisados por Alex.

Entre 2004 e 2006, Alex iniciou a carreira docente com seus cursos de extensão e de aprimoramento profissional em algumas Universidades. Os cursos de Roteiro pra Cinema e TV e Criação Literária chamaram a atenção de muita gente pela competência e agilidade.

No mesmo período, Alex passou a pesquisar o mercado editorial, o que resultou no seu próprio selo editorial Giostri Editor. Com o início do marca, logo ampliou os trabalhos e apresentou ao mercado o RAG Editor e o selo infantil Giostrinho, os três selos da Giostri Editora Ltda. www.giostrieditora.com.br

Com cinco livros publicados até o ano de 2008, dois deles utilizados como bibliografia básica em várias Universidades nacionais. Um de seus títulos já ganhou versão em espanhol “Del pensamiento para el papel”, e em breve sairá em francês, “De la pensée pour le papier”.

Em 2007, o livro publicado foi de contos “Meninos”, um sucesso de venda. O que o transformará em breve na versão em inglês “Boys”.

Em 2008, o foco foi para o universo das relações. Alex publicou “Afeto, Amor e Fantasia”, um livro voltado às pessoas interessadas em saber mais sobre o universo das relações. O selo utilizado foi o RAG Editor, selo que faz parte da empresa e que será dessa obra em diante o oficial das obras do autor.

Na dramaturgia, Alex tem uma obra teatral com quatorze textos autorais e duas adaptações de obras literárias. Alex é premiado nacionalmente num concurso de dramaturgia em 2005 com um de seus textos autorais. Para 2009 esperam-se duas montagens com textos seus. Uma a adaptação da obra Perdas e Ganhos, de Lya Luft, outra um monólogo sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo. Ambas com estréia prevista para a cidade de São Paulo.

No cinema, como roteirista, Alex tem roteiros de curta-metragem em captação de recursos, uma sinopse de longa-metragem e inúmeras idéias. Atualmente está estruturando o longa-metragem “Na vida, de novo”, inspirado em sua própria vida.

A questão das prisões e as pendências judiciais entraram na reta final em 2005. Alex foi recapturado pela polícia no final do ano de 2005 por conta de uma denúncia anônima. A prisão foi feita na cidade do Rio de Janeiro e durou cinco dias.

O desfecho, enfim, foi em 2007, quando um Promotor de Justiça de São Paulo pediu novamente a prisão do escritor, não levando em consideração o prazo das prescrições das penas, nem o fato de Alex ter se reconstruído.

Não se levou em consideração que por mais de 12 anos Alex deu a volta por cima, tornou-se um homem produtivo para a sociedade, atuou por conta própria em algumas ONGS, empresas, Secretarias de Cultura e Educação.

O pedido do Promotor rendeu ao autor mais dois meses e meio de prisão, findando definitivamente suas pendências judiciais causadas por uma formação complicada e uma juventude inconseqüente e dolorosa. Alex não possui mais nenhuma restrição com a Justiça e não há nenhum processo criminal contra ele em lugar algum do país.

A vida o fez preocupado com a educação, com as referências familiares, com questões como: o sistema carcerário, a saúde pública, a cultura popular, a educação e, principalmente, com o ser humano e seu olhar equivocadamente demagógico e um tanto hipócrita.

Premiado nacionalmente com texto teatral QUASE
1º Concurso Nacional de Dramaturgia de Curitiba – PR, em 2005.

Obra Teatral

O autor possui alguns textos teatrais, sendo um deles premiado nacionalmente. O interesse pela linguagem teatral é antigo na vida de Alex. Tanto que no ano de 2003 idealizou um projeto de leitura dramatizada na cidade do Rio de Janeiro.

O projeto, na época, tinha por princípio apresentar à sociedade novos autores, atores e diretores teatrais através de leituras na Livraria Letras e Expressões de Ipanema. Chamou-se Projeto Novo Autor e foi financiado pelo próprio autor.

A minha idéia era fomentar o teatro apresentando a nova geração; eu sou a favor da reciclagem. Há muitas rodas de novos talentos espalhadas pelas cidades e pela própria cidade do Rio de Janeiro, no entanto, há uma grande parcela de artistas totalmente desamparados e sem perspectivas. São pessoas que têm o que dizer, mas não a quem dizer. E isso é terrível. O projeto nasceu primeiramente disso. Depois também pelo meu interesse em saber o que e quem escreve teatro na cidade. Mas o meu interesse era além. Era não, é. Tenho curiosidade em conhecer as pessoas que fazem teatro no país, nas cidades pequenas, nos municípios afastados, enfim... Li muito texto de novos autores entre 2002 e 2005. Uns quinhentos pelo menos. Muitos muito ruins e alguns fantásticos. Os ruins podem ficar bons e os fantásticos precisam aparecer. Precisamos de novos autores teatrais e de pessoas que pensem teatro no país. É uma urgência.”.

Fontes:
http://www.escritoresdosul.com.br/
http://www.alexgiostri.com.br/

Cloe de Vries (A)


Tenho antipatia pelo A. Descobri isso a pouco quando, insone, olhei a estante de livros e afrontaram-me, de tal modo, entediados, aquela infinidade de livros de títulos ostentando logo no início esse artigo definido e antipático que achei melhor deixá-los de lado e prosseguir noite a dentro sozinha.

Na verdade, às vezes, sou mordida por uma antipatia pungente por qualquer letra ou semelhante. É que me aborreço quando estas se amontoam, embaralham sem sentido algum, enquanto, eu tenho urgência como um vulcão desperto de me esvaziar em lava espessa de significados. Mas acabo por soprar uma leve fumaça que nada significa.

Pausa.

O que será de mim nessa noite em que preciso lhe falar, embora você possa estar tão distraído que eu toda te escape? Eu amontoada em letras, quase sufocada por imagens que seriam indizíveis e, no entanto, nada do que te escrevo faz sentido. Antevejo que você um pouco surpreso pensará em silêncio quase audível ‘Eu estou te lendo’.

Pausa. Dúvida.

Tenho que confessar que esse meu texto é morno e onde nada habita. Você que me lê a espera de uma revelação, perdoa-me, mas é que as palavras todas se rebelaram. Nessa noite estéril, eu preciso de companhia que não se desagrade do silêncio, porque esta noite é mais uma daquelas que não consigo manipular nem ao menos o vazio de estar existindo completamente só.

Sentimento de ser um artigo indefinido.
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Sobre a autora
Cloe de Vries é uma mulher que gosta de viajar. Nasceu no Brasil, mas não revela a data. Já viveu na Índia, Egito e agora mora em uma pequena província na Holanda. Gosta de colecionar pesos de papéis e cartas antigas.
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Meu Livro Está Pronto e Agora ?


Completar um livro é alcançar o cume de uma montanha que até agora só você enxergou. Não é tarefa fácil, mas você conseguiu. Após as revisões e o registro de sua obra na Biblioteca Nacional (ou no órgão responsável pelos Direitos Autorais em seu país), chega a hora de enfrentar outro obstáculo, ainda mais difícil que o primeiro.

AS DIFICULDADES DO AUTOR

Por certo você já ouviu falar das dificuldades que os autores encontram para conseguir uma editora. Ainda assim, você imprime algumas cópias de seu livro (ou vai até a copiadora mais próxima) e as envia para três ou quatro editoras que você vê como ideais para ele. Meses depois, você tem as respostas. Em cartas polidas, agradecem a oportunidade de analisar sua obra, percebem o seu valor, mas preferem não publicá-la naquele momento. Você seleciona outras oito ou dez editoras e segue novamente para a copiadora mais próxima (ou compra novos cartuchos de tinta para sua impressora). E o ciclo se repete, inclusive com as posteriores cartas de recusa. No fundo, você não acreditava que pudesse ser tão difícil. Acaba sendo inquietante ver que, meses ou anos após a conclusão de sua obra, ela ainda permanece na gaveta.

Esta é a história real de 199 em cada 200 obras produzidas. Mesmo assim, você não deve desistir. São muitos os BEST-SELLERS que só alcançaram o mercado após dezenas de rejeições. O grande problema é o custo deste processo para o autor.

AS RAZÕES DO PROBLEMA

Do outro lado desta questão está a outra vítima: a editora. Mesmo não sendo, em sua maioria, grandes corporações, as editoras precisam processar centenas de novos originais a cada mês. Em uma primeira triagem, percebe-se que muitas das obras enviadas sequer são compatíveis com a linha editorial da empresa. Editoras de livros de medicina recebem coletâneas de poesia, editoras de livros de ficção recebem obras jurídicas, e assim por diante. Mesmo dentre as obras corretamente direcionadas à editora, muitas abordam temas que não interessam à empresa naquele momento, enquanto outras trazem textos notadamente mal escritos. Realizada mais esta seleção, ainda restam dezenas de obras que precisam ser lidas, o que obriga a editora a arregimentar pareceristas para julgá-las. Veja o trabalho de manter constante este esforço de análise, aplicando-o a tudo o que chega. E chegam pilhas todos os dias.

Perceba que existe um fator de oportunidade nesta relação. Uma mesma editora pode rejeitar ou aprovar um mesmo livro em momentos diferentes. Isso significa que, além de mostrar competência, ambos os lados precisam contar com a sorte para que seu encontro se dê na hora certa e da forma adequada. Você sabe o trabalho que teve para escrever seu livro; encontrar uma boa editora para ele não deveria ser comparável a uma cara loteria.

Fonte:
http://www.mesadoeditor.com.br/

Douglas Lara questiona: Antologia, para que serve?



"Fui me encantando com o trabalho e percebendo que, discretamente, os 'antologistas' buscam uma tribuna"

No último ano, trabalhei com coletâneas de textos de aproximadamente cem escritores e poetas. Pude ler biografias e textos de muitos autores, num total de mil páginas, provenientes de quatorze países em quatro continentes.

Tentava identificar o que desejavam estes escritores que, cooperativados, colocavam suas obras-primas para divulgar o que andam dizendo e escrevendo os não muito famosos, tendo também a oportunidade de mostrar suas ideias e ideais.

Fui me encantando com o trabalho e percebendo que, discretamente, os "antologistas” buscam uma tribuna.

Isso me lembrou de uma conversa com o Blota Junior e a Baby Garroux, no primeiro programa de entrevistas Dia-a-Dia da TV Bandeirantes, quando eu era um dos entrevistados. Tinha certos conhecimentos que os produtores do programa acharam que valia a pena colocar no programa de estréia.

Antes de começar o programa, tive a oportunidade e o prazer de trocar algumas palavras com o Blota Junior, experiente entrevistador, apresentador de programas de muita audiência (ele tinha a experiência de âncora nas principais TVs da época, tinha sido deputado estadual e era mestre de cerimônias dos principais eventos no país).

Aproveitei para perguntar por que ele não se aposentava da TV, agora que sua esposa (Sônia Ribeiro, também conhecida) tinha acabado de falecer.

Com sua elegância e educação, respondeu:

- Para ter minha tribuna e poder levar minhas mensagens e pensamentos aos telespectadores. Se não tiver uma tribuna para me manifestar, acabo morrendo de agonia, por não poder botar pra fora o que penso.

E, levantando-se:

- Vamos então?

- Pra onde? Perguntei.

Gentilmente, esclareceu:

- Para nossa entrevista, esqueceu? Agora a tribuna é sua...
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Douglas Lara é bacharel em Ciências Contábeis com mestrado em Controladoria e Gestão de Processos Comunicacionais. Idealizador e organizador da antologia internacional Roda Mundo e da Semana Internacional do Escritor de Sorocaba.

Fonte:
O Autor

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de outras linguas (Letra T)

tabula rasa
Latim: Tábua raspada. Expressão muito empregada em linguagem filosófica de origem aristotélica. Aristóteles admitia que o espírito humano era, antes de qualquer experiência, inteiramente vazio como as tabuinhas cobertas de cera em que nada fora escrito.

taedium vitae
Latim: Tédio da vida; desgosto de viver.

tantae molis erat
Latim: Era tamanha a dificuldade. Expressão usada por Virgílio (Eneida, I, 33), descrevendo as dificuldades da fundação de Roma.

tanto tienes, quanto vales
Espanhol: Tanto tens, tanto vales. Expressão que coloca o dinheiro acima dos valores morais e intelectuais.

tantum ergo
Latim: Palavras iniciais da penúltima estrofe do hino Pange Língua, cantada antes da bênção do Santíssimo Sacramento.

tarde venientibus, ossa
Latim: Ossos para os que chegam tarde. Aplica-se àqueles que, por desídia ou inépcia, perdem um bom negócio.

taxi-girl
Inglês: Moça-taxa. Empregada de boate e outros lugares de diversão que recebe uma importância, para o estabelecimento, cada vez que dança com um dos freqüentadores.

te Deum
Latim: A ti Deus. Rel e Mús 1 Hino sacro de ação de graças que começa com Te Deum laudamus (A ti, ó Deus, louvamos) e é atribuído a Santo Ambrósio, ou a este e a Santo Agostinho, que, segundo a tradição, num rapto de fervor religioso, o improvisaram na Catedral de Milão, entoando alternadamente os seus versículos. 2 Cerimônia que acompanha essa ação de graças. 3 Solenidade religiosa em ação de graças, geralmente pública.

tempo di marcia
Italiano: Tempo de marcha. Movimento musical que regula o passo militar ordinário.

tempora si fuerint nubila solus eris
Latim: Se os tempos forem nublados estarás só. Reflexão triste mas verdadeira, de Ovídio (Tristes, I, 1-40).

tempus edax rerum
Latim: Tempo devorador das coisas. Pensamento de Ovídio (Metamorfoses, XV, 234).

tempus est optimus judex rerum omnium
Latim: O tempo é o melhor juiz de todas as coisas.

tempus lenit odium
Latim: O tempo abranda o ódio.

tenere lupum auribus
Latim: Ter o lobo pelas orelhas. Vencer uma grande dificuldade, mas encontrar-se embaraçado em conseqüência desse mesmo triunfo.

terminus ad quem
Latim: Termo a que. Ponto que determina o fim de uma ação.

terminus a quo
Latim: Termo do qual. Ponto que marca o início de uma ação.

testis unus, testis nullus
Latim: Testemunha única, testemunha nula. Aforismo antigo, recusado pelo Direito brasileiro, o qual admite, em determinadas circunstâncias, a validade do depoimento de uma só pessoa.

thalassa! Thalassa!
Grego: Ó mar! Ó mar! Exclamação de alegria dos soldados de Xenofonte, ao avistarem as praias do Ponto Euxino, durante a retirada dos dez mil.

that is the question
Inglês: Esta é a questão. Expressão shakespeariana no monólogo de Hamlet.

the right man in the right place
Inglês: O homem certo no lugar certo. Para indicar a competência de quem ocupa determinado cargo ou posto.

tibi quoque
Latim: A ti também. Frase designativa dos bacharéis de Coimbra que colavam grau por decreto, sem prestar exames.

time is money
Inglês: Tempo é dinheiro.

timeo Danaos et dona ferentes
Latim: Temo os gregos ainda quando oferecem presentes. Episódio da Eneida, II, 49, que se refere ao famoso cavalo de Tróia, deixado como oferta aos deuses. Virgílio atribui a frase ao sacerdote de Laocoonte.

timeo hominem unius libri
Latim: Temo o homem de um só livro. Santo Tomás de Aquino empregou esta expressão para dizer que temia aquele que não tinha uma cultura vasta, mas era adversário temível quando se aprofundava no estudo de uma especialidade.

to be or not to be
Inglês: Ser ou não ser. Assim inicia Shakespeare o monólogo de Hamlet (III, l) que caracteriza a existência de um indivíduo ou de um povo, em jogo.

totum continens
Latim: Que contém tudo. Expressão designativa de um indivíduo que tem ou pretende ter muitas aptidões.

tour de mains
Francês: Passagem de mãos. Contradança em que os pares se dão as mãos e as soltam em determinados momentos.

tour de promenade
Francês: Passeio.

tous les genres sont bons, hors le genre ennuyeux
Francês: Todos os gêneros são bons, fora o gênero aborrecido. Frase de Voltaire para justificar-se de ter escrito uma comédia.

tout passe, tout casse, tout lasse
Francês: Tudo passa, tudo quebra, tudo cansa.

tout est bien qui finit bien
Francês: Tudo que termina bem é bom.

trade marke
Inglês: arca de fábrica. Expressão impressa em produtos industriais, para garantia de sua procedência.

traduttori, traditori
Italiano: Tradutor, traidor. Trocadilho nada honroso para os tradutores considerados como infiéis ao pensamento do autor.

trahit sua quemque voluptas
Latim: Cada qual tem o seu prazer que o arrasta. Palavras de Virgílio nas Éclogas.

trompe l'oeil
Francês: Engana-olho. Pintura que produz, através de artifícios de perspectiva, a ilusão de objetos em relevo.

trop de zèle
Francês: Muito zelo. Zelo comprometedor.

tua res agitur
Latim: Trata-se de coisa tua. É de teu interesse (Horácio, Epístola I, 18, 84).

tu duca tu signore e tu maestro
Italiano: Tu guia, tu senhor, e tu mestre. Palavras de Dante a Virgílio (Inferno, II, 14).

tu es ille vir
Latim: Tu és aquele homem. Palavras com que Natan repreendeu a Davi por seu adultério com a mulher de Urias, a quem mandou matar (II Samuel, XII, 7).

tulit alter honores
Latim: Outro teve as honras. Queixa de Virgílio por ver outros colherem os frutos do seu trabalho.

tu quoque fili!
Latim: Tu também, filho! Exclamação de César ao ver Bruto, considerado seu filho, entre os conspiradores.

tutti frutti
Italiano: Todas as frutas. Alimento preparado com todas as frutas.

tutti quanti
Italiano: Quantos outros. Segue-se a uma enumeração e tem, muitas vezes, sentido irônico.

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LETRA C http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_21.html
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Fonte:
Por Tras das Letras
http://www.portrasdasletras.com.br

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Trova LXXIX - Aparício Fernandes (Rio de Janeiro/RJ)

Montagem da trova sobre capa de Livro de Geografia e Livro Tratado Geral dos Chatos.

Trovas Mensageiras

Fonte:
Jornal Mensageiro da Poesia - Fortaleza, CE - outubro de 2009 - ano XXI n. 275.
Enviado por Nilto Maciel.

Virginia Fulber (Virgínia Além Mar)



AMOR INOCENTE

Andarilho Poeta, cúmplice silente
Ouvidor da escrita dos montes
Suplica baixinho ; não quero que me contes
Deixe guardado segredo inocente !

Dos ecos como lâmina fria e pungente
Atravessaram-me ânsias das fontes...
Escutei tanto desejo aflito e ardente
Sei, pela vileza aniquilaram-se pontes...

Estou repleto das entranhas; do solo ardente
Das profundezas dos mares
Das estrelas antigas...

Povoam-me, inclusive, não nascidos luares
Também lamentos dos lares, disfarçados em cantigas
Dai-me o justo silêncio e, amarei -te docemente...

R O M A N C E

Quando a lua aconchegou-se ao mar
Avolumou-se entre as pedras carícia
Fogueira acesa, cumplicidade e delicia
Além de confidencias, promessas do amar...

Em meio as águas naus e o sonhar
Líquidos corpos isentaram-se de malicia
Na aura do amantes cristalino colar...
Diamante equivalia-se ao beijo de Letícia !

Jamais alguém o fizera ancorar ...
Com delicadeza inigualável a desejara
Ele, que ao naufrágio até então ansiara

Marcelo, suavemente, sussurrava a amada...
Oceano calou-se para decorar palavra rara
Das brumas do romance, conta-se nasceu Clara...

AURORA

Será pecado gastar hora em contemplação ?
Entregar-se à embriaguez e ao espanto ?
Sacrilégio insano penso, desperdiçar-se em pensamento
Quando Sabiá na manhã reclama atenção

Aos Curiós, Bem te vis, em sublime canção
Anunciando Primavera e encantamento !
Desperta mais cedo dia em oração
Inexiste tempo ao lamento

No bocejo da aurora abre-se a flor do coração
Renascimento anunciado
Olhar, ouvido, enfim sentidos impregnados

É tempo de viver alucinado
De amor pelos seres iluminados
Que em inocência conduzem-nos à compreensão

P L U M A G E M

Condecorado com dorso luminoso
Não se abstém de exibi-lo à luz
Impermeável , permeável, verde lilás reluz
Companheiro cuja pena desconhece chapéu mimoso

Meio dia do teclado e da leitura formoso
Fru- fru, pic-pic, beijo em flor seduz
Ao linguajar devaneante, ao condão misterioso
Imagem deslumbrante ao esplendor conduz

Dizem-no mensageiro do despertar glorioso
Frágil ligeiro, vens se convidado !
Beija Flor querido por ti aprendi a cultivar jardim

Buscando conhecer singelo ensinamento sobre cuidado
Arrisquei-me em vales perigosos em busca de Jasmim
Linhagem compreendo; é tecido sem nó o laço amoroso...

R E N O V A Ç Ã O

Quando o ar se fez caliente
Entre as folhas iniciou-se o burburinho
Pequeninos preparavam ninho
Olhar e terra acolheram semente

Esquecidos do sábado e do presente
Viam-se flores e sorvia-se vinho
Espera-se que o lar resista, permanente
Ao luar, às crises ao linho...

Quando o azul fez-se mais brilhante
Multiplicavam-se como pipas, coloridas
Pássaros, sorrisos guirlandas

E, a nudez pálida pariu voz comovida
Ao sabor de casais de Corruíras nas varandas...
Primavera fez-se visível no semblante
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Folclore de Portugal – Distrito de Leiria (O Lidador ou a Lenda da Porta da Traição)


Numa noite sem luar, cercava o exército de D. Afonso Henriques a fortaleza de Óbidos onde os mouros resistiam já há cerca de dois meses. D. Afonso Henriques e Gonçalo Mendes da Maia, o Lidador, tinham decidido que o ataque seria realizado na madrugada do dia seguinte antes de se retirarem para as suas tendas.

Dormia já o Lidador quando foi acordado por uma voz de mulher que lhe pedia para ser conduzida à tenda do rei de Portugal, pois tinha algo de importante a comunicar-lhe.

A jovem vivia no castelo dos mouros mas não sabia se era moura porque nunca tinha conhecido os seus pais. Temendo uma cilada dos mouros, foi com alguma relutância que o Lidador a conduziu à presença do rei, perante o qual a jovem revelou o sonho que se repetia há três noites. Neste sonho, aparecia-lhe um homem novo de barbas castanhas e olhar doce que a incumbiu de transmitir uma mensagem para o rei de Portugal: o rei deveria reunir os soldados e liderá-los num ataque surpresa na parte fronteiriça do castelo, enquanto que o Lidador se deveria dirigir com dez homens às traseiras onde a jovem donzela abriria uma porta para os deixar passar. O homem de olhar doce prometia Óbidos aos cristãos e a salvação à jovem donzela.

Apesar da hesitação do Lidador, D. Afonso Henriques já não se atrevia a duvidar dos desígnios divinos após o Milagre de Ourique. Na manhã seguinte, Óbidos foi conquistada conforme o sonho da misteriosa jovem que nunca mais foi vista. A porta que franqueou a entrada dos cristãos ficou para sempre conhecida como a Porta da Traição.

Fontes:
http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/
Imagem = http://correioalentejo.com

Isaac Asimov (O Demônio de Dois Centimetros)



Conheci George em uma convenção literária, faz muito tempo. O que me chamou mais a atenção foi a expressão de honestidade e inocência que havia naquele rosto redondo, de meia-idade. Era o tipo de pessoa – pensei – que a gente deixa tomando conta da carteira quando vai dar um mergulho.

Ele me reconheceu pelas fotografias que saem na quarta capa dos meus livros. Cumprimentou-me jovialmente, dizendo que adorava meus contos e romances, o que, naturalmente, me convenceu de que se tratava de uma pessoa inteligente e de bom gosto.

Apertamos as mãos cordialmente e ele disse:

- Meu nome é George Bimnut.

- Bimnut – repeti, para gravá-lo melhor. – É um nome diferente.

- É dinamarquês – explicou -, e muito aristocrático. Descendo de Cnut, mais conhecido como Canuto, um rei dinamarquês que conquistou a Inglaterra no início do século XI. Um dos meus ancestrais era filho dele, nascido do lado errado das cobertas, é claro.

- É claro – murmurei, embora não entendesse bem o que havia de evidente em tal afirmação.

- Ele recebeu o nome de Cnut em homenagem ao pai – prosseguiu George. – Quando foi apresentado ao rei, o monarca perguntou:

“”Homessa, este é o meu herdeiro?”

“Não, majestade”, disse o cortesão que segurava no coIo o pequeno Cnut. “Ele é um filho ilegítimo. A mãe é aquela lavadeira que Vossa Majestade…”

“”Ah! Ainda bem!”, exclamou o rei. Daquele dia em diante, meu ancestral passou a ser conhecido como Bemcnut. Apenas por este nome. Herdei-o por sucessão direta, mas com o tempo o sobrenome mudou para Bimnut.

Nesse momento, seus olhos azuis olharam para mim com uma espécie de ingenuidade hipnótica que me impediu de duvidar de suas palavras.

- Quer almoçar comigo? – disse para ele, fazendo um gesto na direção de um restaurante muito enfeitado, que obviamente cobrava preços extorsivos.

- Não acha que ele parece muito vulgar? – observou George. – Talvez a lanchonete do outro lado da rua seja…

- Como meu convidado – acrescentei.

George lambeu os lábios e disse:

- Agora que estou olhando para o restaurante de um ângulo melhor, ele parece ter uma atmosfera aconchegante.

- Está bem, vamos até lá.

Enquanto comíamos, George comentou:

- Meu antepassado Bimnut teve um filho de nome Sweyn. Um típico nome dinamarquês.

- Eu sei – disse eu. – O nome do pai do rei Cnut era Sweyn Forkbeard. Nos tempos modernos, o nome geralmente é escrito Sven.

George franziu a testa e protestou:

- Não há necessidade, meu velho amigo, de ficar se exibindo para mim. Aceito o fato de que você tem os rudimentos de uma educação.

- Desculpe – respondi, sentindo-me envergonhado.

Ele fez um gesto complacente, pediu outro copo de vinho e disse:

- Sweyn Bimnut era fascinado por mulheres jovens, uma característica que todos os Bimnuts herdaram, e fazia muito Sucesso com elas, também… o que parece ser um traço de família. Contam que as mulheres o viam passar e comentavam: “Oh, como ele é lindo!”. Ele também era um arquimago. – Fez uma pausa e depois perguntou, muito sério: – Sabe o que é um arquimago?

- Não – menti, sem querer ofendê-lo de novo com meus conhecimentos. – Explique para mim.

- Um arquimago é um grande mago – disse George, com o que me pareceu ser um suspiro de alívio. – Sweyn havia estudado as artes ocultas. Naquela época, isso ainda era possível. As pessoas não eram céticas como hoje em dia. A intenção dele era descobrir maneiras de persuadir as jovens a se comportarem daquela forma dócil e gentil que só faz enaltecer a feminilidade e a deixarem de lado qualquer atitude in-transigente e pouco cooperativa.

- Ah.

- Para isso, precisava de demônios. Descobriu que podia conjurá-los queimando certos arbustos e pronunciando palavras místicas.

- E deu certo, Sr. Bimnut?

- Chame-me de George, por favor. Claro que deu certo. Havia um bando de demônios trabalhando para ele, porque, como costumava observar, em tom queixoso, as mulheres de sua época eram céticas e indelicadas; recusavam-se a acreditar que fosse neto de um rei e faziam observações desairosas a respeito da sua genitora. Depois que um dos demônios entrava em ação, porém, tudo se tornava diferente; elas passavam a compreender que um filho natural é uma coisa muito natural.

- Tem certeza de que o seu antepassado realmente conseguia conjurar demônios, George?

- Tenho, sim. No verão passado encontrei o livro dele de receitas para chamar demônios. Estava em um velho castelo inglês que hoje não passa de uma ruína mas já pertenceu à minha família. Havia uma lista com os nomes dos arbustos, a maneira de queimá-los, as palavras a serem lidas, tudo. Estava escrito em inglês antigo (anglo-saxão, você sabe), mas estou estudando filologia e…

Não pude esconder um certo ceticismo.

- Você deve estar brincando – observei.

George olhou para mim, ofendido.

- Por que pensa assim? Por acaso estou rindo? Era um livro autêntico. Testei as receitas pessoalmente.

E conseguiu um demônio.

- Isso mesmo – declarou, apontando para o bolso de cima do paletó.

- Está ai dentro?

George apalpou o bolso e preparava-se para fazer que sim com a cabeça quando seus dedos sentiram (ou deixaram de sentir) alguma coisa. Olhou para dentro do bolso.

- Ele sumiu – declarou, aborrecido. – Desmaterializou-se. Mas a culpa não é dele. Veio me visitar ontem à noite porque estava curioso para saber como era uma convenção, você entende. Dei-lhe um pouco de uísque com um conta-gotas e ele gostou. Talvez tenha gostado até demais, porque começou a puxar briga com uma cacatua que estava em uma gaiola, perto do bar, chamando-a de nomes horrorosos. Felizmente, adormeceu antes que o pássaro ofendido resolvesse tomar uma atitude. Esta manhã, não estava com uma cara muito boa. Deve ter ido para casa, curtir a ressaca.

Eu me sentia um pouco ofendido. Será que ele esperava que eu acreditasse naquilo?

- Está me dizendo que havia um demônio no bolso do seu paletó?

- Seu poder de dedução é impressionante – disse George.

- Qual é a altura dele?

- Dois centímetros.

- Mas isso é menos que uma polegada!

- Absolutamente certo. Uma polegada tem 2,54 centímetros.

- Quero dizer: que tipo de demônio tem dois centímetros de altura?

- Um demônio pequeno, é claro. Mas, como diz o velho ditado, é melhor um demônio pequeno do que nenhum demônio.

- Depende do tipo de demônio.

- Oh, Azazel {é o nome dele) é um demônio bonzinho. Desconfio que é desprezado pelos colegas, porque se mostra extremamente ansioso para me impressionar com seus poderes. Entretanto, recusa-se a usá-los para me tornar rico, o que não seria nada de mais, considerando que sou seu único amigo terrestre. Não, ele insiste em que seus poderes devem ser usados apenas para fazer o bem a outras pessoas.

- Ora, vamos, George. Esta certamente não é a filosofia do inferno.

George levou o dedo aos lábios.

- Não diga coisas como essa, amigo velho. Azazel fica ria muito ofendido. Ele garante que sua terra é simpática, decente e altamente civilizada, e fala com enorme respeito do governante dele, a quem se refere simplesmente como o Todo-poderoso.

- Ele faz mesmo coisas boas?

- Sempre que pode. Veja o caso da minha afilhada, Juniper Pen…

- Juniper Pen?

- Isso mesmo. Posso ver pela expressão de curiosidade no seu rosto que você está doido para conhecer a história, e , terei muito prazer em contá-la.

Juniper Pen [disse George] estava no segundo ano da faculdade quando a história que vou lhe contar começou. Era uma mocinha doce e inocente, fascinada pelos jogadores do time de basquete, todos rapazes altos e simpáticos.

Entre eles, o que mais lhe atraía a atenção era Leander Thomson, alto, esguio, com mãos grandes, capazes de segurar com facilidade uma bola de basquete ou qualquer coisa com a forma e o tamanho de uma bola de basquete, o que por alguma razão me faz pensar em Juniper. Ele era sem dúvida o objeto dos gritos dela quando se sentava na arquibancada para assistir aos jogos.

Juniper conversava comigo a respeito dos seus sonhos, porque, como todas as jovens, mesmo as que não são minhas afilhadas, sentia que eu era uma pessoa merecedora de toda confiança. Minha postura digna, mas solícita, convidava a confidências.

- Oh, tio George – costumava dizer -, certamente não é errado sonhar com um futuro para nós dois. Posso ver Lean como o maior jogador de basquete do mundo, como o mais cobiçado de todos os profissionais, como o dono do maior contrato da história do esporte. Não sou muito ambiciosa. Tudo que quero da vida é uma pequena mansão coberta de hera, um pequeno jardim na frente, estendendo-se até onde a vista puder alcançar, uma modesta criadagem, dividida em pelotões, todas as minhas roupas arrumadas em ordem alfabética para cada dia da semana e para cada mês do ano, e… Fui forçado a interrompê-la.

- Meu anjo, existe uma pequena falha no seu plano – disse para ela. – Leander não é um dos melhores jogadores do time. Acho pouco provável que seja contratado por um salário nababesco.

- Isso não é justo! – protestou minha afilhada, fazendo beicinho. – Por que ele não é um dos melhores jogadores?

- Porque é assim que o universo funciona. Por que não se apaixona pelo melhor jogador do time? Ou, melhor ainda, por um jovem corretor de ações de Wall Street que tenha acesso a informações confidenciais?

- Já pensei nisso, tio George, mas gosto mesmo é de Leander. Existem ocasiões em que penso nele e digo para mim mesma: será que o dinheiro é tão importante assim?

- Que é isso, meu anjo! – exclamei, chocado. As meninas de hoje dizem cada bobagem…

- Mas por que não posso ser rica, também! É pedir muito?

Pensando bem, seria mesmo? Afinal, eu era amigo de um demônio. Um demônio pequeno, é verdade, mas com um grande coração. Certamente estaria interessado em colaborar para a consolidação de um amor verdadeiro, em levar a felicidade a duas almas cujos corações bateriam em uníssono enquanto pensavam em beijos mútuos e fundos mútuos.

Quando o chamei, usando a palavra mágica apropriada, Azazel ouviu a história com muita atenção. (Não, não posso lhe contar qual é a palavra. Você não tem nenhum senso de ética?) Como estava dizendo, ele me ouviu com atenção, mas não com a simpatia que eu estava esperando. Admito que o trouxe para a nossa realidade no momento em que tomava alguma coisa parecida com um banho turco, pois estava enrolado em uma pequena toalha e tremia dos pés à cabeça. Sua voz parecia mais fina e esganiçada do que nunca. (Na verdade, não penso que seja realmente sua voz. Acho que ele se comunica comigo por telepatia, mas a voz que imaginei ouvir era fina e esganiçada.)

- Que é basquete? – perguntou. – Algum tipo de esporte? Como se joga?

Tentei explicar, mas, para um demônio, Azazel às vezes consegue ser incrivelmente obtuso. Ficou olhando para mim como se eu não estivesse explicando cada detalhe do jogo com clareza transparente.

Afinal, propôs:

- Será que eu não podia ver um jogo de basquete?

- Claro que pode. Por coincidência, vai haver uma partida hoje à noite. Leander me deu uma entrada. Você pode ir no meu bolso.

- Ótimo – disse Azazel. – Pode me chamar quando for sair para o jogo. Agora, preciso terminar meu zymjig (certamente estava se referindo ao banho turco) – concluiu, antes de desaparecer.

Devo admitir que fico irritado quando alguém coloca seus interesses mesquinhos acima das questões transcendentais em que estou envolvido… o que me faz lembrar, amigo velho, que O garçom parece estar tentando atrair a sua atenção. Acho que quer lhe entregar a conta. Pegue-a, por favor, e deixe-me continuar a história.

Naquela noite, fui ao jogo de basquete levando Azazel no bolso. Para poder ver a partida, ele teve de colocar a cabeça para fora, o que teria causado uma verdadeira comoção se alguém estivesse prestando atenção em nós. Sua pele é vermelha e ele tem dois pequenos chifres na cabeça. Ainda bem que só a cabeça estava de fora, porque sua grossa cauda, de mais de um centímetro de comprimento, é simplesmente repugnante.

Eu mesmo não entendo muito de basquete, de modo que deixei por conta de Azazel entender o que estava acontecendo na quadra. Sua inteligência, embora demoníaca em vez de humana, é bastante desenvolvida.

Depois do jogo, ele me disse:

- Pelo que pude deduzir do comportamento dos indivíduos corpulentos, desajeitados e totalmente desinteressantes que se movimentavam na arena, o objetivo do jogo é fazer aquela bola esquisita passar por dentro de um aro.

- Isso mesmo – concordei. – Isso se chama fazer uma cesta.

- Então seu protegido se tornaria um ás deste jogo estúpido se conseguisse fazer a bola passar por dentro do aro todas as vezes que tentasse?

- Exatamente.

Azazel balançou a cauda pensativamente.

- Isso não deve ser difícil. Preciso apenas ajustar os reflexos do rapaz para que ele possa avaliar corretamente o ângulo, a força do arremesso…

Ficou em silêncio por um momento e depois acrescentou:

- Acontece que eu aproveitei o jogo para registrar o seu complexo de coordenadas pessoais… Sim, pode ser feito… Na verdade, já está feito. Daqui em diante, seu amigo Leander não terá a menor dificuldade para fazer a bola passar por dentro do aro.

Eu estava um pouco nervoso enquanto esperava o jogo seguinte. Não disse nada para minha afilhada Juniper, porque nunca havia recorrido aos poderes demoníacos de Azazel e não estava inteiramente certo de que fosse capaz de fazer tudo que afirmava. Além do mais, queria surpreendê-la. (No final das contas, fiquei tão surpreso quanto ela.)

Afinal, chegou o dia do jogo, e que jogo! A nossa faculdade, a Escola de Engenharia de Buraco Quente, em cujo time de basquete Leander desempenhava um papel tão apagado, estaria enfrentando os brutamontes da Universidade e Reformatório Al Capone, no que prometia ser um combate épico.

Mas ninguém esperava que fosse tão épico. O quinteto da Capone assumiu a dianteira na contagem, enquanto eu observava Leander atentamente. Ele parecia não saber direito o que fazer e a princípio suas mãos deixavam escapar a bola toda vez que tentava fazer uma jogada. Era como se seus reflexos tivessem sido tão alterados que não se sentia mais em condições de controlar os próprios músculos.

De repente, porém, foi como se tivesse se acostumado com o novo corpo. Agarrou a bola e ela pareceu escorregar-lhe das mãos… mas de que forma! Descreveu uma curva no ar e entrou na cesta sem tocar o aro.

A torcida começou a comemorar, enquanto Leander olhava para a cesta, como se não estivesse entendendo nada.

A cena se repetiu uma segunda vez… e uma terceira… e uma quarta. No momento em que Leander tocava na bola, ela saltava no ar. Depois, descrevia uma curva elegante e entrava na cesta. Tudo acontecia tão depressa que não dava tempo nem para Leander fazer pontaria. Interpretando isso como uma demonstração de perícia, a torcida ficou ainda mais histérica.

Logo em seguida, porém, o inevitável aconteceu, e o jogo se transformou em um caos total. Os aplausos deram lugar às vaias; os alunos mal-encarados que torciam pelo reformatório Al Capone começaram a xingar a torcida adversária e várias brigas irromperam na arquibancada.

O que eu tinha me esquecido de explicar a Azazel, achando que era evidente, e que Azazel não percebera, era que as duas cestas de uma quadra de basquete não eram idênticas, que uma delas era a do time local e a outra dos visitantes, e que cada time tinha de acertar a bola em uma cesta diferente. A bola de basquete, como a lamentável ignorância de um objeto inanimado, se dirigia para a cesta que estivesse mais próxima do local onde Leander a segurara. O resultado era que muitas vezes Leander fazia cestas contra seu próprio time.

Ele continuou a insistir nessa prática suicida a despeito da& advertências que o técnico de Buraco Quente, Fritz Schmitt, mais conhecido como Alemão, proferia através da espuma que lhe cobria os lábios. Schmitt cerrou os dentes em sinal de tristeza por ter de tirar Leander da partida e começou a chorar quando tiraram seus dedos da garganta de Leander para que o jogador pudesse ser removido da quadra.

Meu amigo Leander nunca mais foi o mesmo. Eu havia imaginado, naturalmente, que ele procuraria refúgio na bebida, tomando-se um bêbado filosófico e respeitável. Isso seria compreensível. Entretanto, ele se degradou mais ainda. Dedicou-se aos estudos.

Diante dos olhos desdenhosos, e às vezes até pesarosos, dos colegas de faculdade, passou a freqüentar as salas de aula, enfiou a cara nos livros e mergulhou nas profundezas sombrias da erudição.

Mesmo assim, Juniper não o deixou. “Ele precisa de mim”, disse-me ela, com os olhos úmidos. Em um gesto de supremo sacrifício, casou-se com Leander logo que se formaram. Continuou com ele mesmo quando desceu até o fundo do poço, adquirindo um ignominioso doutorado em física.

Hoje em dia, ele e Juniper vivem em um pequeno apartamento de subúrbio. Ele ensina física e faz pesquisas na área de cosmogonia. Ganha menos de 60.000 dólares por ano, e aqueles que o conheceram quando era um sujeito respeitável cochicham às suas costas, em tom escandalizado, que está cotado para receber o prêmio Nobel.

Juniper nunca se queixa, mas permanece fiel ao seu ídolo caído. Jamais demonstrou sua decepção, nem por pensamentos nem por atos, mas não pode enganar seu velho padrinho. Sei muito bem que, de vez em quando, pensa com tristeza na mansão coberta de hera que jamais poderá ter e no jardim a perder de vista que permanecerá para sempre fo-ra do seu alcance.

- Esta é a história – disse George, enquanto recolhia o troco que o garçom havia trazido e copiava o valor da conta (para descontar do seu imposto de renda, suponho). – Se eu fosse você – acrescentou -, deixaria uma gorjeta generosa.

Obedeci automaticamente, enquanto George sorria e se afastava. Não me incomodei por ele haver ficado com o troco. Ocorreu-me que George lucrara apenas uma refeição, enquanto eu tinha uma história que podia contar como se fosse minha e me poderia render várias vezes o preço de uma refeição.

Na verdade, decidi continuar a jantar com ele de vez em quando.

Fonte:
ASIMOV, Isaac. Azazel. RJ: Record, 1988.