Aquele amor passageiro,
aquela afeição tão pura,
e esta saudade tamanha
de tão pequena ventura!…
Até o próprio mendigo
pode ser rico também:
se possui um grande amigo,
tem algo que poucos têm!
Beijos de mãe… filha… esposa…
Tantos beijos ganha a gente!
– Como pode a mesma coisa
ter sabor tão diferente?!
Ciúmes talvez não ferissem
e eu teria paz infinda,
se os homens jamais te vissem,
ou tu não fosses tão linda!…
Com tristeza a gente conta:
No mundo, que tanto ilude,
há virtude – quase afronta,
pecado, quase virtude!…
Dois anos… e a angústia, o medo
do mundo desconhecido…
– Minha mãe partiu tão cedo!
Primeiro sonho perdido!
Esta ~mágoa, sem remédio…
Esta esquisita ansiedade…
Esta doçura que é tédio…
– É o que chamamos Saudade…
Esta saudade pungente
de um bem que não volta mais,
se amargura a alma da gente,
quanto alívio ela nos traz!
Eu, amor, te procurava,
estando perto de ti…
ao meu lado, não te achava…
Agora, longe, eu te vi…
“Feliz Natal!” – você diz…
– Numa carta, já se vê.
Mas como o terei feliz,
se estou longe de você?!…
Não há maior desencanto
do que ouvir, com suavidade,
ao dizer: “Amo-te tanto!”
– “Tenho-te muita amizade…”
Não me pagaste a promessa
de me fazeres feliz
e como eu paguei tão caro
promessas que não te fiz!
Nossa casa pequenina
é um céu em miniatura!
Possui a bênção divina,
a paz… o amor… a ventura!
Por mais que na vida amemos
com loucura e intenso ardor,
jamais nos esqueceremos
do nosso primeiro amor…
Saudade – um sonho desfeito…
uma angústia… um “não sei quê…”
– Este vazio em meu peito
todo cheio de você…
Semeia sempre com calma!
Ajuda a planta a crescer!
E eleva mais a tua alma,
deixando os outros colher!…
Sentimento singular
que virtude deve ser:
sentir mais prazer em dar,
do que mesmo em receber…
Sorrias… e eu te beijei
nesse momento preciso…
Desde então ficou gravado
nos meus lábios teu sorriso…
Tua saudade, querida,
tão viva no peito meu,
é a morte dentro da vida…
é a vida do que morreu…
Tu me pedes que te esqueça…
Eu só queria, porém,
que olvidasses a quem queres,
como eu te quero, meu bem…
Fonte:
Luiz Otávio. Cantigas dos sonhos perdidos, Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1964.
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