sábado, 14 de julho de 2012

Sara Gaspar Pedro (“Vila de Rei – Rostos e Olhares” / Elisa Moniz (1990))

Capítulo 1

Passo os dias, imóvel, junto à janela, a tentar observar, de olhos semi cerrados. Hoje, uma criança brinca lá fora e tenta, com grande esforço, colocar o seu papagaio a voar. Não sei quem ela será, provavelmente a neta de algum dos anciãos que me acompanham nesta casa. Gostava de me aproximar, correr com ela, como teria feito muito anos antes com os meus irmãos.

Já conheço o mundo há oitenta e nove longas Primaveras, mas o tempo não foi simpático comigo. Hoje, quando acordei, tentei ver-me, através da branquidão que se vai apoderando do meu olhar, e não me reconheci. O meu rosto, repleto de marcas profundas mostram uma vaga ideia do que fui. As minhas mãos, marcadas pelo tempo, têm constantemente aquele aspecto de quem passou demasiado tempo debaixo de água.

Durante muito tempo fui considerada a rapariga mais bonita da aldeia de Fernandaires. O meu cabelo avermelhado, igual ao do meu pai, dava nas vistas, em especial durante o pôr-do-sol, em que parecia brilhar. Eu e os meus irmãos costumávamos mergulhar todos os dias no rio Zêzere e saíamos a tempo para observar o entardecer. A Maria era a mais velha, como tal, era quem tomava conta de todos nós. Passado um mês da minha irmã ter nascido, a minha mãe tinha engravidado novamente. O meu pai desejava ardentemente um rapaz, para que o ajudasse nos campos e na casa, e ficou radiante quando 9 meses depois recebeu dois: o Luís e o Pedro.

A minha mãe descrevia aquela noite como uma das mais assustadoras da sua vida. Estava a chover torrencialmente, a trovoada rebentava no céu e até o rio parecia zangado! Assim que se ouviram os primeiros trovões, as dores começaram, e a parteira não havia forma de chegar. As Fernandaires não eram um local fácil de aceder, pior ainda naquelas condições. As dores iam aumentando e chegaram a um ponto tal que o meu pai foi obrigado a ajudar a minha mãe a trazer ao mundo o Luís. Ela falava com carinho da cara de felicidade do meu pai quando viu o rapaz. Era pequeno mas chorava com força: “Vai ter garra este rapaz!”. Assim que disse estas palavras, a minha mãe voltou a gritar de dores, sem conseguir compreender porquê. Por momentos achou que ia morrer. Foi nesta altura que chegou a parteira, completamente encharcada e enlameada. E minutos depois nasceu o Pedro.

Enquanto cresciam, os meus irmãos eram exactamente iguais, tanto no aspecto como em tudo o que faziam, quase como se tivessem feito um pacto no ventre da minha mãe de se revezarem em tudo. Havia alturas que trocavam de lugares, sem que ninguém se apercebesse. Por mais que a minha mãe tentasse vestir-lhes roupas diferentes, de modo a conseguir distingui-los, eles arranjavam sempre forma de a confundir. Quando nasci, eles tinham apenas um ano, e já eram as crianças mais irrequietas que se tinham visto naquela pequena aldeia.

Visitaram-me há pouco tempo. Incrivelmente, mesmo na velhice, continuam iguais um ao outro. Mais que isso, conseguiram manter aquele sorriso matreiro que sempre os caracterizou. Fui sempre a sua protegida, mesmo agora, cada vez que os vejo, o meu coração sossega e acabo sempre por sorrir na sua companhia.

Capítulo 2

As dores nas minhas costas, assim como a curvatura que já as caracteriza há uns anos são marcas de todos aqueles anos que passei a ajudar o meu pai, com uma enxada na mão, dobrada, a apanhar todos os alimentos que saiam da terra. Desde muito cedo fui habituada a trabalhar com os meus irmãos nas hortas que tínhamos em volta da casa e nas margens do rio, onde as terras eram mais férteis. O meu pai cultivava tudo o que conseguia e ia todos os Domingos, ainda o sol não tinha nascido, para Vila de Rei, para vender os seus produtos no mercado.

Adorava tudo acerca do mercado: os cheiros, as pessoas, as cores, tudo. No entanto, era cada vez mais difícil vender e as terras, apesar de férteis, quantos mais anos passavam, menos frutos pareciam dar. A minha mãe, ajudava todos os Sábados a limpar as frutas e legumes, e a escolher aqueles que se iriam levar para o mercado. Os que tinham pior aspecto, ficavam sempre connosco e a minha mãe esforçava-se para fazer o que conseguia com o que sobrava. Nos piores dias, comíamos apenas uma batata cada um. Com sorte, os meus irmãos tinham pescado qualquer coisa, ou o meu pai tinha ganho o suficiente para comprar um pedaço de carne para alimentar toda a família.

Hoje relembro esses dias com nostalgia. Eram dias duros, em que se trabalhava estivesse sol, chuva, frio ou calor. Mas toda a família estava reunida, todos tínhamos um propósito e trabalhávamos para um fim. Ao final do dia, toda a família se banhava no rio, e todos sorríamos, satisfeitos com aquilo que tínhamos alcançado naquele dia.

Os gémeos costumavam fazer um jogo, em que ambos mergulhavam mas apenas um vinha à superfície, e nós tínhamos que adivinhar qual dos dois é que aparecia. Quando eram mais velhos e fazia bom tempo, costumavam percorrer o rio e ficar a pescar durante horas. No início a minha mãe ficou muito nervosa, com receio que algo de mal lhes acontecesse, mas rapidamente se convenceu com as iguarias que traziam para a nossa mesa.

Eu e a minha irmã Maria, acompanhávamos a minha mãe em tudo o que ela fazia. Rapidamente aprendemos a cozinhar, limpar e cozer, tudo o que uma boa senhora deveria saber. A minha irmã era, no entanto, muito mais habilidosa do que eu, e muito mais dedicada também. Eu tinha o hábito de desaparecer para explorar os terrenos em volta da casa. Gostava de descobrir os sítios mais recônditos e marcá-los com o meu nome, numa árvore da minha preferência. O meu nome era a única coisa que conseguia escrever, até ter começado a acompanhar o meu pai ao mercado. Rapidamente aprendi a matemática necessária, e as contas pareciam-me bastante óbvias. A escrita, nem tanto, mas todos os Domingos, a professora Amélia, da escola de Vila de Rei, ensinava-me, com a sua paciência, aquilo que conseguia. Seguia, de manhã, com o meu pai e ajudavam nas contas e em tudo o que fosse necessário. Ia ter com a professora Amélia às 2 da tarde, onde limpava a sua casa o mais depressa e o melhor que podia, para que depois ela me desse a lição. Praticava sozinha durante a semana e apresentava os resultados no fim-de-semana seguinte.

Tinha 8 anos quando recebi o meu primeiro livro, mas lê-lo não foi tarefa fácil. Era um catecismo, já com alguma idade e páginas amarelecidas. As letras eram pequenas e as palavras inúmeras, mas passado algumas semanas já sabia cada palavra de cor. Ainda o tenho guardado numa caixa debaixo da minha cama aqui no Lar. É das poucas coisas que guardo do meu pai, que quase chorou por lamentar não conseguir dar-me mais do que aquilo. Fui eu que tratei de ensinar tudo o que aprendia aos meus irmãos, o que não era tarefa fácil, mesmo sendo eles mais velhos que eu. A única escola que havia era longe e nós não tínhamos forma de nos deslocar até lá e os meus pais precisavam de nós.

Apesar de todas as dificuldades, recordo com carinho o pôr-do-sol no rio, as águas frescas, todos aqueles recantos com “Anita” escrito nas árvores… Deveria ter regressado antes que as cataratas me tivessem impedido de ver com clareza.

Capítulo 3

Em cima da minha mesa-de-cabeceira tenho uma fotografia antiga da minha família. Foi tirada antes que o meu irmão Mário tivesse nascido e antes do dia em que a minha família se começou a dividir.

Deveria ter 8 anos quando o meu tio Alberto nos veio visitar. Chegou num carro amarelo berrante, que foi a novidade do dia na aldeia. Vinha vestido com um fato bege e com uma bela gravata. Estava na Alemanha há muitos anos, e ao que parecia tinha vingado no mundo dos negócios. Foi uma noite animada, com muito vinho à mistura. Acho que nunca tinha visto o meu pai ficar com o nariz tão vermelho, mas a verdade é que já fazia dez anos que não via o irmão. Já era bastante tarde quando fomos para os nossos quartos. Os gémeos tinham bebido vinho e estavam a ressonar muito alto no quarto ao lado, apesar disso eu parecia ser a única que não conseguia dormir.

Dirigi-me para a cozinha, queria beber um copo de leite com mel, que mesmo na velhice sempre me ajudou a adormecer. Quando descia as escadas ouvi vozes no andar de baixo. Lembro-me da conversa como se fosse hoje:

“- A vida está cada vez mais difícil por aqui… A minha mulher acha que está grávida outra vez e eu não sei como vou conseguir alimentar mais uma boca. – dizia o meu pai.

- Então, deixa-me levar um dos teus filhos comigo. A vida corre-me bem, mas a Madalena não consegue gerar um filho para nós. Moramos numa zona simpática e temos uma boa vida, mas ninguém para a partilhar. Talvez a tua mais nova… - nesta altura o meu coração deu um salto. Aquilo que menos queria era ir para longe da minha família.

- Não, a Anita é óptima com as contas e já não me imagino no mercado sem ela. E não posso separar os gémeos, acho que nenhum deles sobreviveria.

- A Maria então. Prometo que a deixo bem casada e bem na vida!

- Tenho de falar com a mulher primeiro… Confio que cuides bem dela, mas é difícil deixar ir assim um filho meu. Amanhã falamos melhor sobre o assunto, preciso de pensar.”

Voltei a correr para a cama, a tremer e com suores frios, só de pensar que poderia ter de ir, de partir para tão longe, separar-me da realidade que conheço e adoro. Não há nada como o cheiro da manhã, o som dos pinheiros quando passa aquela brisa suave, a frescura da água, tão próxima, tão fresca.

Dois dias depois o meu pai anunciava que a Maria ia partir com o tio Alberto para Munique, na Alemanha. A minha mãe chorava silenciosamente e todos nós olhávamos a Maria com pesar. Tinha escolhido não lhe dizer nada, não adiantava assustá-la se nada fosse realmente acontecer. Mas agora era tudo real, ela ia partir e eu não conseguia abandonar a sensação que nunca mais a iria ver, o que acabou por acontecer.

A última imagem que tenho dela, é aquele carro amarelo a partir, com o cabelo avermelhado que caracteriza a nossa família, a brilhar ao sol, enquanto nos acena através da janela do carro, tentando esconder as lágrimas e o medo de partir com para um país novo, com um tio que mal conhecia. Foi o início do fim.

Capítulo 4

Uma das meninas que trabalha aqui no Lar da Fundada, costuma ler para mim. Acho que ela nem percebe como isso me faz feliz e infeliz ao mesmo tempo. O meu sorriso, que aparece ligeiro nos momentos felizes da história, mal transparece na minha face enrugada e sem expressão.

Durante muito tempo, a leitura foi a minha paixão, e cada livro um pequeno tesouro. Passei a minha vida a tentar ler tudo o que conseguia arranjar e adorava. Cada vez que a minha irmã nos enviava uma carta, eu lia-a e relia-a vezes sem conta. Era a única forma de me sentir mais próxima dela. Entretanto, o meu irmão Mário nasceu. Era uma criança calma e recatada, que admirava os irmãos mais velhos como se fossem deuses. Costumava vê-los a desaparecer rio abaixo, com as suas canas de pesca e desejava secretamente segui-los. Uma vez ainda o apanhei a tentar e consegui impedilo. Infelizmente, não o vi naquela tarde.

Estava um dia fantástico, solarengo e com aquela brisa que caracteriza os dias de Verão na zona do Pinhal. Os meus irmãos tinham ido à Vila com os meus pais e eu tinha ficado sozinha com o Mário. Depois de fazer as tarefas que a minha mãe me tinha deixado, peguei num livro que uma senhora da escola do Abrunheiro me tinha dado quando a visitei, e estava distraída a lê-lo à beira do rio. Hoje já não me lembro do que tratava, mas lembro-me do pânico que se apoderou de mim quando olhei à minha volta e não vi o meu irmão em lado nenhum. De repente, ouço uma rapariga a gritar, junto ao leito do rio e a pedir ajuda! Foi aí que vi que qualquer coisa contrastava com a água à sua volta, muito perto de onde se encontrava a rapariga que ainda não tinha parado de gritar. Não sei quanto tempo demorei a perceber o que se passava, mas para mim aqueles segundos pareceram horas. Atirei-me à água e lutei com as pedras do fundo para chegar o mais depressa possível onde estava o corpo do meu irmão pequenino a boiar nas águas claras do Zêzere. Trouxe-o o mais depressa que pude para a margem, mas nesse momento, fiquei sem saber o que fazer. Não conseguia gritar, nem chorar, só olhava para aquele corpo branco, sem vida… Como era possível que aquilo tivesse acontecido? Foram segundos, simples segundos de uma vida que mudaram tudo. Ainda hoje me pergunto como é que tudo se passou. Lembro-me de ver os meus pais a surgir ao longe, na sua carroça e aí começo a chorar. Não me lembro do que aconteceu depois, quase como se tivessem apagado da minha memória qualquer memória do que se passou. Nunca consegui ultrapassar aquele dia, chorei durante semanas e nesse tempo decidi que não iria ter filhos, não poderia deixar que o mesmo acontecesse outra vez, não suportaria a dor.

Uns meses depois, a minha mãe ficou gravemente doente, com febres e dores que ninguém conseguia explicar. Mas eu sabia! Era dor, a dor tão profunda de saber que o filho tinha morrido antes da mãe, não era natural. Pouco depois de a minha mãe ter caído neste estado sem razão ou cura, recebemos uma carta da Maria, a sua última carta, trazida à mão por um rapaz que transportava madeira através da fronteira, e tinha percorrido muito até nos encontrar.

Segundo o que a Maria explicava, o meu tio tinha vingado na vida, quando se juntou aos judeus influentes, ricos e poderosos do país. Com a ascensão de Hitler ao poder, todos eles estavam a ser perseguidos e tiveram de fugir. Não sabia quando poderia voltar a escrever ou se o voltaria a fazer. Mandou-nos o seu amor e a sua saudade, com a sua doce assinatura no final da carta, esborratada provavelmente pelas lágrimas. Quando li ao meu pai o conteúdo da carta, conseguia ver o carregar do seu olhar a cada palavra, e as lágrimas no seu olhar quando terminei. Aquele olhar acompanhou-me ao longo de toda a minha vida. Decidimos não contar à minha mãe, mas, a verdade é que não precisávamos porque as mães têm o poder de sentir a dor dos filhos. A cada dia, a sua condição piorava até ao dia em que o seu frágil corpo não aguentou mais e simplesmente adormeceu para um sono eterno.

Capítulo 5

Tento observar as pessoas à minha volta, as senhoras que me fazem a cama, que me trazem a comida, todas as pessoas que partilhavam a mesa comigo. Muitos comiam devagar, como se fosse um desafio enorme levar a colher com a sopa do prato até à boca. Outros, como eu, não conseguiam comer sozinhos. Eu observava mas não via, nada era nítido, apenas vultos e cores. Não conseguia distinguir caras, mesmo que estivessem muito perto dos meus olhos. Assim, a minha vida tornou-se um jogo de sombras. No entanto, era menos sombrio do que a altura da minha vida em que passei casada com o Marco.

Tinha 19 anos quando me apaixonei perdidamente e saí de casa. Entretanto os meus irmãos tinham partido juntos para Lisboa, e eu tinha ficado sozinha com o meu pai, que pareceu ter envelhecido 40 anos depois de a minha mãe ter partido.

Conheci o Marco quando passeava pelos meus recantos privados e ele estava num deles. Tinha montado uma espécie de acampamento com dois amigos, para se dedicarem à caça. Estava encostado a uma das árvores com a minha marca, e observavaa com curiosidade. Eu não estava à espera que alguém estivesse ali, pelo que não foi difícil que ele reparasse rapidamente em mim. Trocámos algumas palavras e rapidamente me senti levada por aquele rapaz grande e forte, mas com uma voz doce e olhos cor de mel. Ele seguiu o meu olhar que se dirigia para o nome que estava escrito na árvore e apenas disse: “Anita?” Eu acenei com a cabeça.“Não sabia que mais alguém conhecia estes lados. Sou o Marco. Prazer em conhecê-la, exploradora Anita.” E foi assim que ele me arrancou o meu primeiro sorriso.

Depois desse encontro, encontrávamo-nos quase todos os dias, sempre à beira do Zêzere. Levou-me a conhecer Vila de Rei, as cascatas de Penedo Furado, os Poios, as igrejas, as aldeias mais lindas. Eu mostrei-lhe todos os meus segredos, todos os espaços e todos os locais que considerava como meus santuários. Costumávamos ir a todas as festas que havia nas aldeias ao lado, e dançávamos, muitas vezes até de madrugada. Passado alguns meses, pediu-me em casamento e mudámo-nos para o Vale da Urra.

Inicialmente tudo correu bem e o amor continuou a dominar as nossas vidas. No entanto, a mesma discussão parecia surgir quando menos se esperava: ele queria filhos e eu não. Com o passar do tempo, a discussão passou a ser cada vez mais frequente e violenta. Num dia, como outro qualquer, a discussão surgiu naturalmente como nos outros dias, mas o final foi bastante diferente. Começou com uma estalada nesse dia, seguida de um grande pedido de desculpas e lágrimas. No entanto, cada semana piorava, e eu ficava cada vez mais magoada. Cheguei a um ponto que deixei de falar, não valia a pena dizer uma palavra. Eu sentia-me envergonhada, toda eu estava vermelha tal como os meus cabelos.

Apesar de tudo, continuámos a passear, e a manter a ilusão que estava tudo bem. Relembro quando apanhámos o meu pai e fomos ver a inauguração da barragem do Castelo do Bode. Não foi uma altura muito feliz para o meu pai. Com a construção da barragem ele tinha perdido todos os terrenos onde tinha as suas plantações nas Fernandaires. Quando perdeu o trabalho da sua vida, pareceu perder o seu sentido. Enquanto via o Salazar no topo da barragem, a celebrar o sucesso da sua construção, ouvia-o a rogar-lhe todas as pragas que se lembrou. Pouco tempo depois, faleceu, sentado à entrada de casa, a olhar para o rio e para aquilo que antes tinha sido o seu trabalho e a sua vida.

Após toda a minha família ter desaparecido da zona, as coisas com o Marco pioraram. Foi um amigo da minha família, o tio Elias, que me salvou daquele que poderia ter sido o meu último dia. Costumava passar no Vale da Urra para entregar o pão, tal como fazia nas Fernandaires, onde o meu pai acabava sempre por dar um cesto com fruta e vegetais para a sua família. Acabaram por ficar amigos, e várias vezes iam para as adegas um do outro. Segundo o que ele me disse depois, o meu pai tinha-o feito prometer que tomaria conta de mim quando ele já não estivesse por este mundo para me ajudar. Como tal, cada vez que passava com a sua carrinha abrandava e certificava-se que estava tudo bem. Naquele dia, percebeu que qualquer coisa não estava certa. Quando viu o Marco subir as escadas e entrar, percebeu que ele não estava no seu estado normal. Ouviu o som seco quando caí no chão após um murro no estômago. Depois, aconteceu tudo muito rapidamente: ele entrou, atacou-o, pegou no meu corpo inconsciente, meteu-me na carrinha e levou-me para casa dele, enquanto o Marco ainda estava demasiado confuso para perceber o que tinha acontecido.

Acabei por ficar em casa do Elias, na Fundada, onde encontrei naquele corpo franzino de olhos verdes, mais que um amigo mas um segundo pai. Nunca mais pensei em voltar para o Marco, apesar de ele ainda ter feito algumas tentativas. Demorei alguns meses a voltar a falar, e quando o fiz, a minha garganta estava seca e roufenha da falta de uso. A primeira coisa que disse foi: “Obrigada”.

Ele tratou-me como a filha que nunca teve e não poderia ter pois a esposa dele tinha falecido há alguns anos. Passámos muitos e bons anos juntos, em que ele me ensinou tudo o que havia para saber acerca da padaria e acabou por me deixar o negócio. No entanto, a idade acabou por levá-lo de mim com um sorriso nos lábios. Nas suas últimas palavras ele disse-me: “Graças a ti, vivi os melhores aos da minha vida. Obrigada.”

Pouco depois disso, recebi uma carta dos meus irmãos, a contar-me como estavam felizes. O Luís já tinha arranjado uma namorada e o Pedro estava noivo. Junto com a carta vinha um convite para o casamento deles, que seria dai a dois meses. Durante muito tempo não recebi notícias dos meus irmãos. Estavam ambos envolvidos em movimentos anti-fascitas, e o facto de serem gémeos permitiu que se livrassem de várias situações de perigo, pois conseguiam arranjar um alibi infalível. Apenas tiveram a sua liberdade após o 25 de Abril, no qual se destacaram sendo chamados para altos postos
na polícia.

Finalmente, tudo começava a encaixar e tinha voltado a sorrir.

Capitulo 6

Hoje o meu sobrinho João veio visitar-me. Disse-me que ainda se lembrava do cheiro do pão e dos bolos que costumava fazer na padaria com o tio Elias, e que tinha saudades das minhas aventuras culinárias que nem sempre corriam bem.

Ao contrário de mim, os meus irmãos vigoravam da terna saúde da idade, e viviam com os filhos e netos mimando-os e contando as suas histórias. Os filhos de ambos os meus irmãos, costumavam vir passar os Verões comigo. Costumava levar os meus sobrinhos a passear no rio, e a conhecer todos os recantos que eram importantes para mim. Fazia jogos e desenhava mapas para ver quem os achava mais depressa. Esses foram os melhores tempos da minha vida.

Quando da sua visita, o João contou-me que tinha remodelado a casa dos avós nas Fernandaires, e que tinha ficado absolutamente fantástica. Agora, os seus filhos poderiam ir para lá brincar no Verão e crescer com memórias do rio, que tanto marcou também a sua infância.

Naquele dia, o meu sobrinho trouxe o filho, um bebé com um ano. E apesar de não lhe conseguir distinguir bem as formas, disse-lhe que era lindo. Só poderia ser. Sempre considerei um acto de coragem ser mãe, e ver aquela criança fez o meu coração saltar. Mas ver a felicidade dos meus irmãos ao longo dos anos, dos seus filhos e agora dos seus netos fez-me sentir mais realizada que nunca.

Amava-os a todos com todas as minhas forças, mas isso já não era suficiente para me manter aqui, à espera que chegue a hora em que a misericórdia chegue e me leve em paz deste mundo, muitas vezes cruel. Em retrospectiva, apesar de todas as dificuldades que passei, nunca escolheria viver longe da minha terra, longe das águas do Zêzere.

Diz-se que na velhice se encontra a sabedoria, o que não deixa de ser verdade, mas na realidade é que a experiência e as memórias são tudo o que se tem quando a vitalidade nos começa a abandonar.

Às vezes a luta torna-se cruel, e nessa noite, não quis lutar mais. A minha vida foi completa, cheia de momentos de dor mas também vivi momentos intensos de pura felicidade. As marcas do meu rosto mostram cada desafio, cada prova que passei. O meu olhar, cada vez mais claro como o sol da manhã, impede-me de ver o que há no mundo lá fora. Talvez já tenha visto aquilo que tinha para ver nesta vida e o meu corpo não tenha mais espaço para memórias.

A menina que costuma ler para mim, passou pelo meu quarto depois de jantar.

- Quer que comece a ler outro livro para adormecer?

- Amanhã, quem sabe, amanhã…

Fonte:
Município Vila de Rei

Affonso Romano de Sant'Anna (Velho Olhando o Mar)

Meu carro pára numa esquina da praia de Copacabana às 9h30m e vejo um velho vestido de branco numa cadeira de rodas olhando o mar à distância. Por ele passam pernas portentosas, reluzentes cabeleiras adolescentes e os bíceps de jovens surfistas. Mas ele permanece sentado olhando o mar à distância.

O carro continua parado, o sinal fechado e o estupendo calor da vida batia de frente sobre mim. Tudo em torno era uma ávida solicitação dos sentidos. Por isto, paradoxalmente, fixei-me por um instante naquele corpo que parecia ancorado do outro lado das coisas. E sem fazer qualquer esforço comecei a imaginá-lo quando jovem. É um exercício estranho esse de começar a remoçar um corpo na imaginação, injetar movimento e desejo nos seus músculos, acelerando nele, de novo, a avareza de viver cada instante.

A gente tem a leviandade de achar que os velhos nasceram velhos, que estão ali apenas para assistir ao nosso crescimento. Me lembro que menino ao ver um velho parente relatar fotos de sua juventude tinha sempre a sensação de que ele estava inventando uma estória para me convencer de alguma coisa.

No entanto, aquele velho que vejo na esquina da praia de Copacabana deve ter sido jovem algum dia, em alguma outra praia, nos braços de algum amor, bebendo e farreando irresponsavelmente e achando que o estoque da vida era ilimitado.

Teria ele algum desejo ao olhar as coxas das banhistas que passam? Olhando alguma delas teria se posto a lembrar de outros corpos que conheceu? Os que por ele passam poderiam supor que ele fazia maravilhas na cama ou nas pistas de dança?

Me lembra ter lido em algum lugar que o inconsciente não tem idade. Ah, sim, foi no livro de Simone de Beauvoir sobre "A velhice". E ali ela também apresentava uma estatística segundo a qual por volta dos 60 anos poucos se declaram velhos; depois dos 80 anos, só 53% se consideram velhos, 36% acham que são de meia-idade e 11% se julgam jovens.

Não sei porque, mas toda vez que vejo um senhor de cabelos brancos andando pela praia penso que ele é um almirante aposentado. Às vezes, concedo e admito que ele pode ser também da Aeronáutica. Por causa disto, durante muito tempo, vendo esses senhores passeando pela areia e calçada, sempre achava que toda a Marinha e Aeronáutica havia se aposentado entre Leblon e Copacabana.

Mas esses senhores de short e boné branco que passam às vezes em dupla pelo calçadão, são mais atléticos que aquele que denominei de velho e, sentado na cadeira, olha o mar.

Ele está ali, eu no meu carro, e me dou conta que um número crescente de amigos e conhecidos tem me pronunciado a palavra "aposentadoria" ultimamente. Isto é uma síndrome grave. Em breve estarei cercado de aposentados e forçosamente me aposentarão. Então, imagino, vou passear de short branco e boné pelo calçadão da praia, fingindo ser um almirante aposentado, aproveitando o sol mais ameno das 9h30m até cair sentado numa cadeira e ficar olhando o mar.

Me lembra ter lido naquele estudo de Simone de Beauvoir sobre a velhice algo neste sentido: "Morrer, prematuramente, ou envelhecer: não há outra alternativa." E, entretanto, como escreveu Goethe: "A idade apodera-se de nós de surpresa." Cada um é, para si mesmo, o sujeito único, e muitas vezes nos espantamos quando o destino comum se torno o nosso: doença, ruptura, luto. Lembro-me de meu assombro quando, seriamente doente pela primeira vez na vida, eu me dizia: "Essa mulher que está sendo transportada numa padiola sou eu." Entretanto, os acidentes contingentes integram-se facilmente à nossa história, porque nos atingem em nossa singularidade: velhice é um destino, e quando ela se apodera de nossa própria vida, deixa-nos estupefatos. "O que se passou, então? A vida, e eu estou velho", escreve Aragon.

Meu carro, no entanto, continua parado no sinal da praia de Copacabana. O carro apenas, porque a imaginação, entre o sinal vermelho e o verde, viajou intensamente. Vou ter de deixar ali o velho e sua acompanhante olhando o mar por mim. Vou viver a vida por ele, me iludir que no escritório transformo o mundo com telefonemas, projetos e papéis. Um dia, talvez, esteja naquela cadeira olhando mar à distância, a vida distante.

Mas que ao olhar para dentro eu tenha muito que rever e contemplar. Neste caso não me importarei que o moço que estiver no seu carro parado no sinal imagine coisas sobre mim. Estarei olhando o mar, o mar interior e terei alegrias de nenhum passante compreenderá.

Fonte:
Releituras

Bernardo Trancoso (Caderno de Sonetos I)


A ROSA BRANCA (I)

Tantas púrpuras rosas no rosal;
Grosas e grosas, tão bonitas rosas;
Entre as rosas vultosas, majestosas,
Brota uma branca rosa, desigual.

Meu olhar só percebe a rosa tal;
Prefere-lhe, entre rosas mais charmosas;
Rosas prá te dizer que, em meio às grosas,
És como a rosa branca, especial.

Tens no andar que alucina novas cores;
É por ter novas cores que alucina;
És preferida, dentre mil amores.

Como a flor no rosal, tão pequenina
Que, perante outras mais formosas flores,
Difere e, o coração, logo ilumina.

A ROSA BRANCA (II)

Tantas púrpuras rosas pelo chão;
Grosas e grosas, lá se vão as rosas;
Entre as rosas feiosas, mal-cheirosas,
Brilha uma branca rosa, em exceção.

Meu olhar escolheu tal rosa, então,
Protegeu-lhe, entre rosas perigosas.
Rosa a seiva que falta àquelas grosas,
Concede à rosa branca o coração.

Contrastes já não valem mais, nem cores
Que, dentre mil amores, são só teus,
Pois o tempo carrega esses primores.

Vale é ser essa flor que, aos olhos meus,
Nunca apodrecerá, como outras flores.
Vais brilhar nos rosais do eterno Deus.

A ROSA BRANCA (III)

Tantas púrpuras rosas na avenida;
Grosas e grosas, tão vendidas rosas;
Entre as rosas vistosas, preciosas,
Falta uma branca rosa, preferida.

Meu olhar arrancou da rosa a vida,
Elevou-lhe, entre rosas valiosas.
Rosa eterna nos versos e nas prosas,
És como a rosa branca, a mais querida.

Elegi essa cor, dentre outras cores,
Prá provar grande amor que, às vezes, vem.
Que não podem trazer vermelhas flores,

Que nem podem querer comprar, também,
Porque, nessa avenida, os vendedores
Não darão seus amores prá ninguém.

SONHO ACORDADO

Sonhei teu grande amor ter encontrado.
Quando acordado, não acreditei
No corpo que avistei, ali, deitado,
Bem ao meu lado, como desejei.

Paraíso sem lei, por mar cercado;
Diante de um reinado imenso, o rei;
De desejo, eu fiquei desencontrado;
Fui tentado a sonhar, quando acordei.

Por demais te querer, te ter também -
Sentimento que, vez em quando, imponho,
Quando alguém já me torna mais risonho -

Tive a alegria, enfim, que poucos têm,
Ao ver um dia, ao lado do meu bem,
Um sonho, transformar-se em outro sonho.

SONHOS E TROVAS

Um grande sonhador quer acordar
No meio de um amor que faz sonhar
Prá, quando se deitar, sua alma em flor,
Desperto, ele sonhar com esse amor.

Quer mais um trovador, já quer cantar
Toda forma de amor que imaginar
Prá, quando a flor murchar e ele se for,
Seu canto inda ecoar, num sonhador.

Sonhos e trovas juntos na alegria
Que, um dia, plante fé no coração,
Ao sentimento amor, que principia,

Levando o sonhador à conclusão:
Paixão não sobrevive, sem poesia;
Poesia também morre, sem paixão.

O PERFUME

O amor, como o perfume, deixa indícios
De euforia em quem sente o seu odor;
Ambos dão alegria, ambos dão vício,
E mesmo os seus resquícios têm sabor.

Em tão pequenos frascos, benefícios;
Num coração ou vidro, tanto ardor;
Mas deves desfrutar sem desperdícios,
Seja perfume d'alma, seja amor.

Têm de todos os tipos prá agradar:
Um deles, quase eterno; outro, ligeiro.
Melhor é o que mais caro te custar,

Mas importa que seja verdadeiro
Pois, tendo um falso, logo há de notar
Que paixão não vai dar, com ou sem cheiro.

NATUREZA

Tens das pedras dureza; tens, agora,
Da noite que apavora, vã frieza.
A incerteza que tens, é de quem chora
Quando o amor vai embora; tens tristeza.

Tens, porém, chama acesa; vida aflora
Do teu peito, ó senhora; és natureza -
Da fauna, tens riqueza e quem te adora,
E da flora, bem mais, pois, tem beleza.

Só pareces não ter o dom vibrante,
O desejo constante de viver,
A grandeza de ser a cada instante,

Quando o mais importante é renascer.
Esse dom de manter a dor distante,
Em plantas e animais, vais perceber.

CEM PALAVRAS

Não pode ser você quem vejo aqui!
Sim, sou... Que bom te ver! Tempo passou,
Você cresceu... Você também mudou...
Por onde andou? Aí... Muito aprendi!

Por que voltou? Saudade deu de ti!
Não fale assim... É, sim... Quem me ensinou
O amor, nunca esqueci... por isso, estou
Aqui! Prá ter de volta o que perdi!

Anos depois... Pois é... Um dia, eu cá
Pensei, não voltará! Errei... Você
Deixou-me a dor, mas cri... Quem ama, crê!

Foi tanto o que sofri! Não sofrerá!
Se depender de ti... Mudei! Virá?
Vou... Sem palavras, já... Falar, prá quê?

JARDINEIRO

- Recita uma poesia para mim!
- Jardim! - o trovador já respondia -
tens do brilho das flores a alegria.
Em teu corpo, o perfume é de jasmim.

Lugar que eu regaria tanto assim,
Com luz e com paixão, e todo dia.
Para mim, nada mais importaria
Que ter tua beleza minha, ao fim.

Faria um paraíso em teu canteiro,
Se tu me concedesses um segundo,
Prá provar meu amor, que é verdadeiro.

Nessa doce empreitada, lá no fundo,
Eu seria o teu servo, um jardineiro...
O jardineiro mais feliz do mundo.

Fonte:
Sonetos

Machado de Assis (Badaladas – 22 de outubro de 1871)

Escapamos de boa!

Ali ao pé de nós, a vinte minutos de viagem, ali na formosa Niterói, esteve há dias prestes a romper uma guerra terrível - uma guerra entre a província do Rio de Janeiro e a Itália.

Dois deputados provinciais propuseram que a assembléia, em nome da província, protestasse “contra o escândalo de que é vítima o Santo Padre” – que esta sendo “acometido insólita e traiçoeiramente em seus direitos incontestáveis”, e cuja posição “é nimiamente precária, injusta, inqualificável, vexatória e atentatória, etc.”.

Isto é declarar guerra à Itália, creio que era uma e a mesma coisa.

Para sustentar o seu ultimato fez o Sr. padre Alves dos Santos um discurso, não longo, mas entremeado de apartes, com que os seus colegas iam cortando-lhe impiedosamente as asas.

O melhor, porém, aquilo em que o Sr. padre Alves dos Santos me pareceu abjurar dos princípios da nossa Igreja, foi um aparte que deu ao Sr. Mattoso Ribeiro.

Dizia este seu colega:

“— A conquista do território romano nada tem com a religião católica, apostólica, romana, — porque, se o Papa sai de Roma, não se perderá o catolicismo.”

Acode o Sr. Alves dos Santos:

“– Está muito enganado!”

Ó divino Cristo, que pensarás tu ao ouvir esta resposta? Dizias uma necessidade quando afirmavas que contra a tua Igreja não prevaleceriam as portas do inferno. Estavas em erro, meu divino Cristo. A força da tua Igreja não vem da tua doutrina; vem de alguns quilômetros de território. O catolicismo em Roma vale tudo; se o pusessem em Jerusalém, não valia nada. Verité em deçà, erreur au delà.

Victor Manuel deixou ainda uma parte da cidade ao Santo Padre; é por isso que existe a Igreja. Se ele amanhã o expulsasse de lá, acabava-se o catolicismo. Victor Manuel dava cabo da obra de Jesus; podia mais que o inferno.

Em trocos miúdos, é a opinião do deputado fluminense.

É escusado dizer que todo o católico, e o próprio deputado se refletir no dito, deve repelir tão singular opinião.
Em todo o caso, ainda que o orador tivesse razão, não era motivo para que a assembléia provincial rompesse as relações (que não tem) com a Itália. O Sr. Vieira Souto acudiu a tempo, desbastando a moção inicial, com uma emenda que nada compromete, e assim ficou encerrado o incidente.

Perguntam-me várias pessoas se não estou disposto a dizer alguma coisa a respeito do caso triste e digno de memória que se deu entre uma freira da Ajuda e o nosso prelado.

Respondi que sim, e pretendia navegar nas águas do Sr. Ribeiro Franco, quando o Jornal do Comércio de quinta-feira, em que vem a resposta de um Sr. Apostolo ao irmão da finada freira. Mudei de opinião.

O tal Apostolo, depois de algumas expressões que apostam mansidão com as do Evangelho, explica francamente que o pedido da freira era fraqueza feminil; que a carne, a carne, e mais a carne (ils sont très espirituels) não devia ser atendida; que S. Excia. fez ouvidos de mercador (textual) às lamúrias encapotadas da carne (textual) já, solene e irrevogavelmente, renunciada pela dita freira, etc.

Depois de tão vigorosa resposta, pensava eu que o Sr. Ribeiro Franco poria termo aos seus artigos.

Mas qual!

O irmão da finada quer imitar os comunistas de Paris que também morderam o nosso prelado...

Aqui para o leitor, e pergunta se estou zombando dele.

Não, caro leitor; não zombo, repito o que nos disse a referida folha:

“O nosso sábio e virtuoso bispo foi de modo insólito agredido pelo Sr. José Ribeiro Franco, por um fato bem simples, que bem demonstra que a impiedade desenvolve todos os dias mais força a ponto de não trepidar, como os comunistas de Paris, em erguer o asqueroso colo para fincar dentes envenenados na sagrada pessoa do nosso preclaro e virtuosíssimo bispo, inegavelmente a honra e glória do episcopado brasileiro”.

O Sr. José Ribeiro Franco continua, pois, a imitar a comuna de Paris.

No seu artigo de quinta-feira censura o nosso prelado por haver dito que S. José era duas vezes onipotente.

Não se dá maior impiedade! Bem se vê que o Sr.Ribeiro Franco parou nos evangelistas e nos padres da Igreja. Está abaixo do seu século; anda na aldeia e não vê as casas.

O erro do Sr. Ribeiro Franco provém de uma ilusão deplorável. S. S. supõe que nós ainda estamos no Cristianismo, quando essa religião vai senão vantajosamente substituída pelo Marianismo.

A demissão do Padre, do Filho e do Espírito Santo pode-se dizer que é um fato; não está oficialmente publicado, mas é um fato. A teoria do Marianismo é que Deus nada pode contra a vontade de Nossa Senhora, e se nada pode, pode menos, e se pode menos é poder inferior.

A isto se prende naturalmente a idéia das duas onipotências de S. José.

A propósito. . .

Corre em Lisboa, já, em 2ª. edição, e sei se aqui também, um livrinho com o título :
Novíssimo mês de Maria, ou mês das flores, coordenado pelo padre J. L. L.

A devoção de Maria e a consagração que se lhe fez do mês de maio, são coisas dignas de respeito: cumpria, porém, que estas obras, já que estamos no século XIX, se despissem de superstições que não levantam o ânimo do povo.

Não li o livro aludido; mas uma folha de Lisboa transcreve um pedaço que aí se lê a págs. 308,309 e 310.

Destacarei o primeiro período da transcrição para que melhor se aprecie a doutrina:

“Nas crônicas dos padres capuchinhos (cap. 11, part. 1ª.) se conta que em Veneza havia um célebre advogado, o qual com enganos e injustiças tinha enriquecido, e vivia em mau estado. Não tinha talvez de bom mais que rezar todos os dias uma certa oração à Santíssima Virgem; e contudo esta pobre devoção lhe valeu para escapar da morte eterna pela misericórdia de Maria.”

Leitor sagaz, isto é um verdadeiro achado. Trapaceia como puderes, dá, a tua facadazinha, e fica certo de que escaparás da morte eterna mediante uma oração a Virgem — é a receita mais barata que se conhece. . . renouvellée de Louis XI.

Vejamos agora o resto da notícia; precisa ser lida com muita atenção e sem se perder uma linha.

Lá vai:

“. . . E eis aqui como. Por fortuna sua, tomou este advogado amizade com o padre fr. Matheus de Basso, e tanto lhe pediu que viesse um dia jantar a sua casa, que finalmente lhe fez a vontade. Chegando a casa, lhe disse o advogado: Ora, padre, eu quero-lhe fazer ver uma coisa que nunca terá visto. Eu tenho uma macaca admirável, a qual me serve como um criado, lava os copos, põe a mesa, abre-me a porta. – Veja (lhe respondeu o padre) não seja essa macaca mais alguma coisa: faça-me a vir aqui.
“Chamou ele a macaca, tornou-a a chamar, procurou-a por toda a parte, e a macaca não aparecia; finalmente foram achar debaixo do leito, escondida em um vaso da casa ; mas a macaca dali não queria sair. Então disse o religioso: Vamos nós buscá-la. E chegando juntamente com o advogado, onde estava a macaca, lhe disse o religioso: Besta infernal, sai para fora, e da parte de Deus te mando, que declares quem és. Respondeu a macaca que era o Demônio e que estava esperando que aquele pecador deixasse de rezar algum dia aquela acostumada oração à Mãe de Deus porque a primeira vez que deixasse, tinha ordem de Deus para afogar, e levá-lo para o inferno. Com esta resposta o pobre advogado se pôs logo de joelhos pedindo ao religioso que o socorresse, o qual o animou e mandou ao demônio que se ausenta-se daquela casa sem fazer dano a coisa alguma. - Só te dou licença (lhe disse o religioso) que, em sinal de te teres ausentando, rompas uma parede destas casas. – Apenas lhe disse isto, se viu, depois de se ouvir um grande estrondo, feita na parede uma abertura, a qual, ainda que muitas vezes intentaram tapar com pedra, quis Deus que por muito tempo perseverasse; até que por conselho do religioso se pôs naquela abertura, uma pedra, com a figura de um anjo. O advogado se converteu; e esperamos que dali por diante continuaria na mudança da vida até a hora da morte.”

Não explica o autor do livrinho, nem a crônica dos capuchos, nem o jornal a que aludi, por que motivo foi Deus buscar para seu instrumento um demônio, podendo servir-se de um anjo, que era muito mais natural. Também não compreendo muito a razão por que Deus não consentiu que se tapasse o buraco da parede, e só depois de muito tempo deixou de fazer oposição a essa obra necessária.

São verdadeiros mistérios em que nunca poderá meter o dente o
Dr. Semana.

Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Publicado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

Marina Colassanti (Palavras Aladas)

Silêncio era a coisa de que aquele rei mais gostava. E de que, a cada dia, mais parecia gostar. Qualquer ruído, dizia, era faca em seus ouvidos.

Por isso, muito jovem ainda, mandou construir altíssimos muros ao redor do castelo. E logo, não satisfeito, ordenou que por cima dos muros, e por cima das torres, por cima dos telhados e dos jardins, passasse imensa redoma de vidro.

Agora sim, nenhum som entrava no castelo. O mundo podia gritar lá fora, que dentro nada se ouviria. E mesmo a tempestade fez-se muda, sem que rolar de trovão ou correr de vento perturbassem a serenidade das sedas.

- Ouçam que preciosidade - dizia o rei. E toda a corte se calava ouvindo embevecidamente coisa alguma.

Mas, se os sons não podiam entrar, verdade é que também não podiam sair. Qualquer palavra dita, qualquer espirro, soluço, canto, ficava vagando prisioneiro do castelo, sem que lhe fossem de valia fresta de janela ou porta esquecida aberta, Pois, se ainda era possível escapar às paredes. nada os libertava da redoma.

Aos poucos, tempo passando sem que ninguém lhe ouvisse os passos, palavras foram se acumulando pelos cantos, frases serpentearam na superfície dos móveis, interjeições salpicaram as tapeçarias, um miado de gato arranhou os corredores, E tudo teria continuado assim, se um dia, no exato momento em que sua majestade recebia um embaixador estrangeiro, não atravessasse a sala do trono uma frase desgarrada. Frase de cozinheiro que, sobrepondo-se aos elogios reais, mandou o embaixador depenar, bem depressa, uma galinha.

Mais do que os ouvidos, a frase feriu o orgulho do rei.

Furioso, deu ordens para que todos os sons usados fossem recolhidos, e para sempre trancados no mais profundo calabouço.

Durante dias os cortesãos empenharam-se naquele novo esporte que os levava a sacudir cortinas e a rastejar sob os móveis. A audição certeira abatia exclamações em pleno vôo. Algemava rimas, desentocava cochichos. Uma condessa encheu um cesto com um cento de acentos. Um marquês de monóculo fez montinhos de monossílabos. E houve até quem garantisse ter apanhado entre os dedos delicado “não” de uma donzela. Enfim, divertiram-se tanto, tão entusiasmados ficaram com a tarefa, que acabaram por instituir a Temporada Anual de Caça à Palavra.

De temporada em temporada, esvaziava-se o castelo de seus sonhos, enchia-se o calabouço de conversas. A tal ponto que o momento chegou em que ali não cabia mais sequer o quase silêncio de uma vírgula. E o mordomo real viu-se obrigado a transferir secretamente parte dos sons para aposentos esquecidos do primeiro andar.

Foi portanto por acaso que o rei passou diante de um desses cômodos. E passando ouviu um: murmúrio, rasgo de conversa. Pronto a reclamar, já a mão pousava na maçaneta, quando o calor daquela voz o reteve. E, inclinado à fechadura para melhor ouvir, o rei colheu as lavas, palavras, com que um jovem, de joelhos talvez, derramava sua paixão aos pés da amada.

A lembrança daquelas palavras pareceu voltar ao rei de muito longe, atravessando o tempo, ardendo novamente no peito. E em cada uma ele reconheceu com surpresa sua própria voz, sua jovem paixão. Era sua aquela conversa de amor há tantos anos trancada. Fio da longa meada do passado, vinha agora envolvê-lo, religá-lo a si mesmo, exigindo sair de calabouços.

- Que se abram as portas! - gritou comovido, pela primeira vez gostando do seu grito, ele que sempre havia falado tão baixo. E escancarou os batentes à sua frente.

- Que se abram as portas! - correu o grito da sala ao salão, da escada ao jardim, muro acima, até esbarrar na cúpula de vidro, e voltar, batendo no queixo majestoso.

- Que se derrube a redoma! - lançou então o rei com todo o poder de seus pulmões. - Que se abatam os muros!

E desta vez vai o grito por entre o estilhaçar, subindo, planando, pássaro-grito que no azul se afasta, trazendo atrás de si em revoada frases, cantigas, epístolas, ditados, sonetos, epopéias, discursos e recados, e ao longe - maritacas - um bando de risadas. Sons que no espaço se espalham levando ao mundo a vida do castelo, e que, aos poucos, em liberdade se vão.

FONTE:
A Garupa, e outros contos /Sylvia Orthof...[et al.]. São Paulo: Martins Fontes, 2002 - (Coleção literatura em minha casa ; v.2)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 607)

Uma Trova de Ademar  

Inimigo do trabalho,
é meu primo, o “Paraíba;”
seu emprego é no baralho:
buraco, truco e biriba.

–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Maria anda bem vestida.
Dizem que faz quase nada.
Tem roupas caras... que vida!
Mas só trabalha pelada.

–Nilton Manoel/SP–

Uma Trova Potiguar


Maroquinha, o teu gingado
está dando o que falar!
Talvez não seja pecado,
mas faz a gente pecar!

–José Lucas de Barros/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Nova Friburgo/RJ
Tema - CINQUENTÃO - 2º Luga
r

Na sinuca, ela afobada
num jogo de sedução,
acertou uma tacada
no taco do cinquentão !

–Adilson Maia/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram


Há três coisas que a mulher
consegue fazer de um nada:
uma intriguinha qualquer,
um chapéu e uma salada!...

–Carolina A. de Castro/PE–

U m a P o e s i a


M O T E : Ademar Macedo/RN
Fiz a “pergunta” ao espelho
que para não me ofender
disfarçou, ficou vermelho,
e não quis me responder!

G L O S A : Lisieux/MG
Fiz a “pergunta” ao espelho
"existe mulher mais bela?
Dá-me aqui o teu conselho:
posso atuar na novela?"
O espelho, eu imagino
que para não me ofender
buscou com cuidado e tino
uma forma de dizer...
E, coitadinho do espelho!
Fez rodeio, embaraçou-se,
disfarçou, ficou vermelho,
engoliu seco, engasgou-se.
Sem poder dizer-me tudo
e por mentir não saber,
ficou cego, surdo, mudo,
e não quis me responder!
Soneto do Dia

BENEDITO SALGADO.
–Joinvile Barcelos/RS–


Vai às aulas e às feiras, lê, patina,
namora, odeia os militares. Tersos
os seus sonetos, nos jornais dispersos,
João dos Anzóis "pomposamente" assina.

Ama o truco, o bilhar, jogos diversos.
Ah! Viver no "xadrez" (que bela sina!!),
tendo ao lado uma cândida menina,
bons patins, bons autores e bons versos.

Vive alheio aos jurídicos assuntos.
Provas de exame nós "colamos" juntos,
eis por que ainda não levamos pau.

Prega aos calouros tímidos na Escola:
“não tenham medo, aqui tudo se cola”,
“Cola-se” até solenemente — “o grau!"

Guimarães Rosa (Conto de Sagarana: Minha gente)

Análise da obra

Narrado em primeira pessoa, tendo um narrador que participa da história com visão limitada dos fatos que narra, Minha gente é um dos contos mais bem tramados do livro, com a história principal emendada, alterada, recontada por pequenos detalhes e elementos dados pouco a pouco ao leitor.

O foco narrativo ilumina os passos do protagonista, mas também revela certas sutilezas que servem para esclarecer o sentido mais profundo da história. Há uma partida de xadrez, narrada no início, que mostra como se deve entender o enredo em si: um xeque, dado pelo protagonista, acaba se virando contra ele próprio. Assim, a narração insinua ao leitor que as aparências dos fatos escondem, mais que revelam, sua verdadeira intenção.

É um conto que fala mais do apego à vida, fauna, flora e costumes de Minas Gerais que de uma história plana com princípios, meio e fim. Os "causos" que se entrelaçam para compor a trama narrativa são meros pretextos para dar corpo a um sentimento de integração e encantamento com a terra natal. O lirismo dos temas do amor e da solidão transparece em Minha gente.

O autor utiliza uma linguagem mais formal, sem grandes concessões aos coloquialismos e onomatopéias sertanejas. Alguns neologismos aparecem: suaviloqüência, filiforme, sossegovitch, sapatogorof - mas longe da melopéia vaqueira tão ao gosto do autor. A novidade do foco narrativo em primeira pessoa faz desaperecer o narrador onisciente clássico, entretanto quando a ação é centrada em personagens secundárias - Nicanor, por exemplo - a oniscência fica transparente.

Muitas temáticas são desenvolvidas no conto, por exemplo: a saga da política no interior (tio Emilio); a honra sertaneja (morte do Bento Porfírio); os caprichos do Destino (casamento de Armanda com o narrador).

Aliás, esse último aspecto é desenvolvido também num conhecido poema de Drummond, Quadrilha:

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

O cenário é a Fazenda Saco-do-Sumidouro (interior de Minas Gerais), do Tio Emílio, pai de Maria Irma.

Personagens

Narrador - Homem da cidade que estava a passeio pelas fazendas dos tios, no interior de Minas Gerais. Chamavam-no "Doutor", gostava da prima Maria Irma, mas casou-se com Armanda, filha de uma fazendeira. É o protagonista do conto. Só sabemos que é um "Doutor" por intermédio da fala de José Malvino, logo no início da narrativa: "Se o senhor doutor está achando alguma boniteza...", fora isso, nem mesmo seu nome é mencionado.

Santana - Inspetor escolar intinerante. Bonachão e culto. Tem memória prodigiosa. É um tipo de servidor público facilmente encontrável. Companheiro nas andanças do narrador, tem mania de jogar xadrez, mesmo quando estão andando a cavalo.

José Malvino - Roceiro que acompanha o protagonista na viagem para a fazenda do Tio Emílio. Conhece os caminhos e sabe interpretar os sinais que neles encontra. Atencioso, desconfiado, prestitavo e supersticioso.

Tio Emílio - Fazendeiro e chefe político, para ele é uma forma de afirmação pessoal. É a satisfação de vencer o jogo para tripudiar sobre o adversário. Tio do narrador; sofreu mudança radical depois que se meteu na política.

Maria Irma - Prima do protagonista e primeiro objeto de seu amor. É inteligente, determinada, sibilina. Elabora um plano de ação e não se afasta dele até atingir seus objetivos. Não abre seu coração para ninguém, mas sabe e faz o que quer. Uma das filhas de Tio Emílio; no passado, o narrador e ela foram namorados de brincadeira. Tem cintura fina, olhos grandes, pretíssimos. Passou alguns anos no internato.

Armanda - Filha de fazendeiros; estudou no Rio de Janeiro. Terminou casada com o narrador.

Bento Porfírio - Empregado da fazenda de Tio Emílio. Vaqueiro; gostava de pescar. Envolveu-se com uma prima casada (de-Loudes) e terminou assassinado a foice pelo marido enciumado (Alexandre). É companheiro de pescaria do protagonista.

Resumo do conto

Caminham juntos, pelo sertão de Minas, a cavalo, o narrador, Santana e José Malvino. O narrador é um observador apaixonado das coisas do sertão: a paisagem, o céu, os pássaros, as árvores... Tudo para ele merece elogios e observações. A viagem chega ao fim: estão agora numa fazenda.

Dois dias na fazenda, e o narrador achava tudo mudado. Mas mudança de verdade notara no Tio Emílio: rejuvenescido, transfigurado. Logo, o narrador descobriu o porquê da mudança: Tio Emílio estava metido na política. Sempre atendendo aos pedidos do povo, a qualquer hora, mesmo à noite.

A prima Maria Irma, em conversa com o narrador, fez questão de informar que estava quase noiva. O narrador quis saber de quem, mas ela fez mistério.

Bento Porfírio, enquanto pesca com o narrador, vai-lhe contando uma história. Agripino, bom parente, convidou Bento para ir ao arraial. Queria apresentá-lo à sua filha de-Lourdes: quem sabe os dois podiam casar. Mas Bento não foi. Preferiu uma pescaria misturada com farra, com mulher-da-vida e sanfona pelo meio. Tempos depois, "quando Bento Porfírio veio a conhecer a prima de-Lourdes, ela já estava casada com o Alexandre". Os primos foram-se vendo e gostando um do outro. Por pirraça e por falta do que fazer, Bento casou-se com Bilica.

O narrador ficou na varanda até anoitecer. A prima Irma mudou de modos e, na hora do jantar, sorriu diferente para o narrador. Ele ficou desconfiado. "Mulher bonita, mesmo sendo prima, é uma ameaça". E o narrador lembra bem o conselho de Tertuliano Tropeiro: "Seu doutor, a gente não deve de ficar adiante de boi, nem atrás de burro, nem perto de mulher! Nunca que dá certo..." Noite sem estrelas, noite de roça. O narrador foi dormir.

O narrador foi novamente pescar no poço com Bento Porfírio. Depois de algum tempo, a história do adultério continuou. O marido da prima, o Alexandre, não sabe que está sendo enganado. De repente, o marido traíd????È?o surgiu de trás de uma moita, foice na mão, e matou Bento com um só golpe. O corpo caiu no poço, e o narrador, apavorado, não sabia o que fazer. O assassino foi embora, o narrador correu para casa e contou ao Tio Emílio o ocorrido. As ordens foram dadas: tirar o morto do poço, avisar o subdelegado e ir atrás do assassino. Não para matá-lo, mas para protegê-lo das autoridades.

Os dias vão passando, e o narrador começa a gostar da prima Maria Irma. Por que não namorá-la? Um rapaz da cidade veio visitá-la e trazer-lhe livros. Ela se enfeitou toda para o receber. Por que não estava toda enfeitada na chegada do primo? À noite, o narrador fica sabendo que o rapaz se chama Ramiro e que é namorado da Armanda, uma amiga de Maria Irma, filha da fazendeira do Cedro.

O narrador não se conteve e fez uma declaração de amor à prima. Ela ouviu e, depois, disse que não acreditava. Ele tentou convencê-la usando argumentos infantis. Em vão.

Depois de uma conversa séria com a prima e de obter dele somente negativas, o narrador ameaçou ir embora. Ela insistiu que ele ficasse: queria apresentar-lhe Armanda, a namorada de Ramiro. Ele, teimoso, partiu no outro dia. Iria para Três Barras, onde mora o seu tio Luduvico.

Em Três Barras, o narrador não conseguia esquecer Maria Irma. Depois das eleições, com vitória do partido de Tio Emílio, o narrador recebeu carta: ele, o tio, queria-o de volta. O narrador ficou muito alegre e nem esperou o outro dia para voltar.

De volta, o narrador foi apresentado a Armanda. Foram passear a pé pelos pastos. Dali, do primeiro passeio, já nasceu o namoro. Em pouco tempo, o noivado e, no mês de maio, o casamento, ainda antes do matrimônio da prima Maria Irma com Ramiro Gouveia.

Fonte:
Passeiweb

Concurso Nacional de Crônicas 'Altair Bail' -2012 (Resultado Final)

Categoria Nacional 

“PÓS-SOCRÁTICO” de EDUARDO FERREIRA MOURA/Rio de Janeiro-RJ

“O CIGARRO” de JULIANA LARISSA DE LAET GOMES/São Paulo-SP

“O PÃO SANGRENTO” de GABRIEL JOSÉ NASCENTE/Goiânia-GO.

Na mesma categoria coube Menção Honrosa para a crônica
“NOTAS DE UM VELHO SEM CÂNCER” de EDUARDO FERREIRA MOURA/Rio de Janeiro-RJ.

Categoria Local

“A VIZINHA DO 42” de LIANA AIÇAR DE SUSS

“O IMORTAL OPERÁRIO FERROVIÁRIO” de ÂNGELO LUIZ DE COL DEFINO

“NÃO SE FAZEM MAIS CRIANÇAS COMO ANTIGAMENTE” de NICOLY DA SILVA FRANÇA.

Coube na categoria Menção Honrosa para a crônica
“DOMINGO DA GENTE” de LIANA AIÇAR DE SUSS.

Os três primeiros vencedores em ambas as categorias receberão a premiação de R$1.000,00 (hum mil reais) cada um, exceto as menções honrosas. Todas as crônicas selecionadas serão publicadas na ANTOLOGIA DE CONTOS POESIAS E CRÔNICAS 2012, a ser impressa oportunamente e distribuída nas escolas, bibliotecas, imprensa especializada, críticos e escritores.

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 606)

Uma Trova de Ademar  

Por ver o sonho desfeito
de um grande amor, de verdade,
na varanda do meu peito
eu vi nascer a saudade...
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Tanto mal nós infligimos
em todos que bem nos queira,
e o perdão que lhes pedimos
é uma nuvem passageira.
–José Feldman/PR–

Uma Trova Potiguar


Na minha infância sofrida,
onde só a fé restava,
descobri na própria vida
que Jesus me acompanhava.
–Paulo Roberto/RN–

Uma Trova Premiada


1999 - Cachoeiras de Macacu/RJ
Tema - CORRENTEZA - 5º Lugar


Num derradeiro tributo
a um lenho e, em seu dorso presa,
uma orquídea veste luto,
boiando na correnteza...
–Darly O. Barros/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


De uma paixão incontida,
o tempo - insano juiz -
pode curar a ferida
mas nos deixa a cicatriz.
–Alonso Rocha/PA–

Uma Poesia

No meu dia derradeiro,
em saudades já imerso,
partirei para outra vida
pra viver noutro universo,
levando para Jesus
pregado na minha cruz,
o meu derradeiro verso!
–Ademar Macedo/RN–

Soneto do Dia

AFRONTA IMPIEDOSA.
–José Antonio Jacob/MG–


Em cada rua há um vendedor de flores
E anda distante o Dia de Finados;
Casais se beijam murmurando amores,
Também não é Dia dos Namorados...

Essa cidade tem muros dourados,
Por onde passam brisas sem rumores,
E nos salões de imperiais sobrados
Divertem-se os esnobes sem pudores.

E o céu é tão azul que dói na vista,
O mar parece capa de revista
E ao longe nos acena um iate à vela...

E o que mais nos afronta e desiguala
É o luxo se exibindo na novela
E essa pobreza muda em nossa sala.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 3

61 - Zé Lucas
O que mostra a verdade cristalina
é que a vida, na terra, é transitória;
as conquistas que às vezes nos encantam
pouco ou nada resistem como glória,
mas ainda acredito que a poesia
não se acaba da noite para o dia
e há de ter algum peso em nossa história.

62 – Ademar
A poesia marcou a minha história
povoando o meu mundo de alegria
através da divina inspiração
que o “Poeta Maior” sempre me envia;
tendo o verso e a poesia como arte,
vibro ao ver o meu nome fazer parte
do fantástico mundo da poesia.

63 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente cria
tem o santo mistério divinal,
porque vendo a poesia em todo canto,
e a beleza do reino universal;
acredito que Cristo foi poeta,
e escreveu a poesia mais completa
na lapela da aurora matinal.

64 - Zé Lucas
A poesia mais bela e original
há na Bíblia, e mil vezes eu já li,
na harmonia do Cântico dos Cânticos
e nos salmos bonitos de Davi,
mas, em termos de amor e de obra extrema,
no Sermão da Montanha encontro o poema
mais profundo e grandioso que já vi.

65 – Ademar
Emoções que na vida eu já vivi
não previa o mais sábio dos profetas;
pois eu que era na vida um sonhador
vejo agora, alcançando minhas metas
que em mim nasce a mais pura da certeza
de que tudo que tem de mais beleza
Deus coloca na mente dos poetas.

66 - Prof. Garcia
Das belezas da vida, as mais completas,
que Deus fez neste mundo de etiquetas,
uma delas, foi nossa inspiração,
outra foi os encantos das ninfetas;
e de todas a mais surpreendente,
foi pintar tantas cores no nascente
e nas asas das lindas borboletas.

67 - Zé Lucas
Quanto é grande a beleza dos planetas
e de todos os corpos siderais!
Ninguém mede a distância das estrelas
nem o brilho existente em seus fanais,
porque a máquina humana é limitada,
porém sabe que tudo é quase nada,
comparado com Deus, que é muito mais.

68 – Ademar
Cada verso de amor que a gente faz
traz no seu nascedouro uma emoção,
fabricada por Deus em nossa mente
e que deixa pra mim uma lição:
Toda estrofe que eu faço e que escrevo
tem palavras de amor, carinho, enlevo
proferidas por nós, numa oração.

69 - Prof. Garcia
Quando eu vejo dos astros, a união,
circulando em perfeita simetria,
eu pergunto a mim mesmo, por que nós,
não vivemos assim, no dia-a-dia,
abraçados à própria natureza,
respeitando de Deus tanta grandeza
e embriagados de paz e de harmonia!

70 - Zé Lucas
Não há falha nas obras que Deus cria:
o relógio do espaço, sem ponteiro,
marca o tempo do giro planetário
sem errar um minuto em seu roteiro,
e a ciência dos homens cambaleia,
porque luta e não faz um grão de areia,
e em seis dias Deus fez o mundo inteiro.

71 – Ademar
Ao poeta que é um vate verdadeiro,
a ele nada na vida o desanima,
pode até lhe faltar inspiração
e fugirem palavras que dão rima;
mas poeta que é bom se intensifica
e montanhas de verso ele fabrica
sem comprar nem faltar matéria prima.

72 - Prof. Garcia
Se no verso, algum dia faltar rima,
faltarão as canções das alvoradas;
nunca mais vão se ouvir os bandolins
nem os vates cantando nas calçadas,
e o murmúrio do choro das cascatas,
calará as antigas serenatas
acalanto das lindas madrugadas.

73 -Zé Lucas
Se perdermos o dengue das toadas,
o sertão com certeza vai chorar,
porque o som das violas já não vai
levar ritmo ao quadrão da beira-mar
e, no meio de tantos dissabores,
se este mundo calar os seus cantores,
há de ter a tristeza em seu lugar.

74 – Ademar
Se algum dia o poeta se calar,
calará para sempre a natureza.
Passarinhos não cantam mais na mata
o sertão perderá sua beleza;
e até Deus em respeito ao menestrel
mandará que uma nuvem lá do céu
chore prantos molhados de tristeza.

75 - Prof. Garcia
Eu não creio, que a santa natureza,
por um gesto de pura rebeldia,
procedesse do jeito que procedem
os tiranos, em sua covardia;
acabando os jardins, matando as flores,
mataria os poetas trovadores
e o reinado da santa poesia!

76 - Zé Lucas
Nesse nosso universo de poesia
poderemos viver bastante calmos,
porque dele os bons ventos não se afastam
nem sequer a distância de dois palmos.
Além disso, a poesia é tão divina,
que na Bíblia Sagrada Deus a ensina
pelos versos dos cânticos e salmos.

77 – Ademar
É preciso entender todos os salmos
e saber na verdade o que nos diz.
A palavra de Deus é muito sábia
mas já vi gente grande, e até juiz
enganando o seu próprio sentimento
e escondendo de si seu sofrimento,
mente ao mundo, fingindo ser feliz.

78 - Prof. Garcia.
Tudo quanto Deus fez, me faz feliz,
e eu aceito a palavra de Jesus,
porque sinto na voz dos mandamentos,
que esta força sagrada é minha luz;
e este fardo pesado que carrego,
pesa menos, nas costas quando eu pego
na mão santa de Deus, que me conduz!

79 - Zé Lucas
Satisfeito, carrego a minha cruz
com a estrela da fé dentro da mente.
Vou lutar pra vencer os atropelos
sem temer o que esteja pela frente.
Sei que a senha da morte não tem prazo,
mas, enquanto não chega o meu ocaso,
sigo olhando pra luz do sol nascente.

80 – Ademar
Agradeço ao Deus Pai Onipotente
pelo dom que me deu, de versejar,
pela Fé que me ampara e me sustenta
pela força que eu tenho de lhe amar;
agradeço por tudo o que me deu,
pois cheguei hoje em vida ao apogeu
que somente os poetas vão chegar.

81 - Prof. Garcia
Foi Deus Pai, que nos fez tanto sonhar,
descobrir no repente a paz divina,
mesmo que nos momentos desiguais
nós sejamos iguais na própria sina;
porque sonho, que é sonho de poeta,
só termina da forma mais completa,
mas a essência do verso não termina.

82 - Zé Lucas
Não podemos trilhar pela rotina
da mesmice formal que nada diz;
é preciso pensar mais colorido,
retratando, dos campos, o matiz,
porque neste labor que às vezes cansa,
manter vivas as chamas da esperança
faz a vida mais bela e mais feliz.

83 – Ademar
Ninguém vive no mundo mais feliz
do que aquele que vive de poesia,
e eu estou inserido neste mundo,
no real e também na fantasia;
pois no verso eu encontro o meu alento,
produzindo o meu próprio sentimento,
eu fabrico emoções a cada dia.

84 - Prof. Garcia
Tudo quanto na vida a gente cria,
tem alguém dando nó nos nossos laços,
se escrevemos por linhas tortuosas
há um mistério que alinha os nossos traços;
se a mensagem sai pura e cristalina,
acredito que seja a mão divina
corrigindo e guiando os nossos passos.

85 - Zé Lucas
Quando nós encontramos embaraços
e a planilha do verso sai malpronta,
porque erramos as peças do poema
com palavras sem nexo e frase tonta,
Deus apruma o martelo em nossa mão,
dá um toque de pura inspiração,
bate o prego do verso e vira a ponta.

86 – Ademar
Todo verso que eu faço é Deus que apronta,
como apronta uma obra o bom pedreiro,
passa a régua, a colher, e bota o prumo,
dá idéia do início ao paradeiro
e não deixa faltar inspiração;
sai escrito por minha própria mão
mas é Ele quem diz todo o roteiro.

87 -Prof. Garcia
Quando eu quis embarcar neste veleiro,
enfrentando do verso o mar bravio,
disse a mim, como quem diz ao destino:
vou em frente e de nada desconfio;
mas agora enfrentando os dois extremos,
fiz da força dos braços meus dois remos
nas tormentas de um grande desafio.

88 - Zé Lucas
Na vertente que anima nosso trio,
já não sei em que mundo desemboque;
tenho medo que falte pontaria
para o tiro certeiro do bodoque,
e por isso me arrisco num palpite:
se a poesia não fosse sem limite,
qualquer dia esgotava o nosso estoque.

89 – Ademar
O Poeta na terra sente o toque
das palavras que Deus do céu transmite.
Já nascemos portando os dons divinos
e não tem por aqui quem nos imite,
acredite poeta, tens razão;
eu também já cheguei a conclusão
que a poesia não tem nenhum limite.

90 - Prof. Garcia
Eu não quero arriscar nenhum palpite
nem dar provas do nosso proceder;
de manhã, nossa vida se renova,
mas à tarde, ela volta a entristecer;
é o momento em que a musa soluçando
se despede do dia e sai cantando
badaladas pra noite adormecer.

Sylvia Ortoff (Se as Coisas fossem Mães)

Se a lua fosse mãe, seria mãe das estrelas, o céu seria sua casa, casa das estrelas belas.Se a sereia fosse mãe, seria mãe dos peixinhos,O mar seria um jardim e os barcos seus caminhos.Se a casa fosse mãe, seria a mãe das janelas,Conversaria com a lua sobre as crianças estrelas,Falaria de receitas, pastéis de vento, quindins,Emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins!Se a terra fosse mãe,seria a mãe das sementes, pois mãe é tudo que abraça, acha graça e ama a gente.

Se uma fada fosse mãe, seria mãe da alegria. Toda mãe é um pouco fada...

Nossa mãe fada seria.

Se uma bruxa fosse mãe, seria mamãe gozada: Seria mãe das vassouras, da família vassourada! Se a chaleira fosse mãe, seria mãe da água fervida,Faria chá e remédio para as doenças da vida. Se a mesa fosse mãe, as filhas sendo cadeiras, sentariam comportadas, teriam "boas maneiras". Cada mãe é diferente: mãe verdadeira, ou postiça, mãe vovó e mãe titia, Maria, Filó, Francisca, Gertrudes, Malvina, Alice, toda mãe é como eu disse. Dona Mamãe ralha e beija, erra, acerta, arruma a mesa, cozinha, escreve, trabalha fora, ri, esquece,
lembra e chora, traz remédio e sobremesa...

Tem até pai que é "tipo mãe"... Esse então é uma beleza!

Fonte:
Se as coisas fossem mães, Sylvia Orthof, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.

Inauguração de Novo Bosque da Leitura, em Pirituba/SP

Neste final de semana será inaugurado o novo Bosque da Leitura Parque Rodrigo de Gásperi, na região de Pirituba. Durante o evento teremos:

Contos e Cantos Africanos
Com Sansakroma

Buscando referências na cultura oral dos africanos, brasileiros e cubanos, o Grupo Sansakroma buscará a integração entre estas culturas e promete um momento de muitas histórias, música e diversão.

15 de julho (dom) – 11h
Endereço: Av. Miguel de Castro nº321 - Vila Zatt - Pirituba
Telefone: 3974-8600

Fonte:
Sistema Municipal de Bibliotecas/SP

BP Hans Christian Andersen/SP (Curso Básico de Formação para Contadores de Histórias)

Curso básico de formação para contadores de histórias na Biblioteca Temática em Contos de Fadas Hans Christian Andersen.

Carga Horária: 60h.

35 vagas. Inscrições de 16 a 21 de julho, pessoalmente na Biblioteca. No ato da inscrição, o interessado deverá preencher uma carta de intenção que será decisiva na seleção dos participantes, caso o número de inscrições ultrapasse o número de vagas.

Aos sábados, das 9h às 13h, de 4 de agosto a 24 de novembro. BP Hans Christian Andersen.

Fonte:
Sistema Municipal de Bibliotecas/SP

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 605)

Uma Trova de Ademar  

A cada um de Vocês, 
aos três que aniversaria;
mando com toda honradez
Meus Parabéns, em Poesia!
Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Thereza, Thalma e Luiz,
três abraços de uma vez;
com esta eu vou ser feliz,
pois fico amigo dos três.
–Olympio Coutinho/MG–

Uma Trova Potiguar


No mundo da poesia,
faço real cada sonho
sem pensar na fantasia
das estrofes que eu componho.
–Tarcísio Fernandes Lopes/RN–

Uma Trova Premiada


2000 - Pouso Alegre/MG
Tema - PASSADO - M/H


Recordações na parede,
cucos de sonhos no chão,
e o passado, numa rede,
embalando a solidão !
–Eduardo A. O. Toledo/MG–

...E Suas Trovas Ficaram


Ouvi, alguém que dizia:
-Lá se vai o poeta morto,
sem perceber a alegria
do sonho chegando ao porto.
–Adelmar Tavares/PE–

Uma Poesia


Vejo a poesia estampada
na manhã que se levanta,
na ternura dolorosa
dos olhos da Virgem Santa
e na grandiosa beleza
da cachoeira que canta!
–José Lucas de Barros/RN–

Soneto do Dia

THALMA TAVARES.
–Delcy Canalles/RS–


Thalma Tavares, como eu gostaria,
neste doze de julho, exatamente,
escrever, para ti, linda poesia,
que te dissesse o quanto estou contente!

Contente porque, este, é o teu dia,
dia de festa... amor... dia envolvente,
em que sorri, pra nós, a alegria,
pelo fato de estarmos frente à frente!

Se não fosse a distância, meu amigo,
eu voaria para estar contigo
e te abraçar, aí em São Simão !

Por isso, eu uso, agora, o imaginário,
para chegar no teu aniversário ,
e te entregar, inteiro, o coração!