terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Maria Helena Calazans Machado Duarte (Caderno de Trovas)



1
A educação é candeia,
faz da treva o amanhecer,
nas campinas que semeia
vê-se o futuro nascer.
2
A sogra morre aos noventa,
deixa ao genro uma bolada.
Trancafiado ele comenta:
– “Só grana falsificada”.
3
A tenista, uma vedete,
deu no parto um trabalhão;
foi um sufoco a raquete
que o nenê tinha na mão!
4
– Babá é gente também?
- Claro, meu filho, por quê?
- É que o papai diz: “Meu bem,
de que planeta é você??!!”
5
Comete um atroz pecado
o tempo, em seu transcorrer,
roubando o instante sonhado
que acabamos de viver.
6
Com imprevistos sem conta,
 segue-se a estrada escolhida.
 Certeza é um lápis sem ponta
 que tenta escrever a vida.
 7
Consegue a paz verdadeira
 quem, ao levar sua cruz,
 transforma os nós da madeira
 em claros fachos de luz.
8
De Deus o céu nós roubamos
e é de Deus a nossa voz,
quando, em silêncio, deixamos
que o amor discurse por nós.
9
Diz a boca à dentadura:
“Fique firme, ande na linha,
não me faça a diabrura
de dar uma escapadinha!”
10
“Do peitoril da sacada
ele pulou, coitadinho,”
diz a viúva transtornada,
“só dei um empurrãozinho!!”
11
Em trambiques pela rua
não consegue mais lembrar
se a mulher é mesmo sua
ou se acabou de trocar.
12
Esperança é um passarinho
que, mesmo em desigualdade,
mantém o calor do ninho
na fúria da tempestade.
 13
“Fiz três bolos, tirei um,
quanto sobra, garotada?
Os guris: - nenhum, nenhum,
bolo aqui não sobra nada!
14
Fogo em casa, que sujeira,
e o dono, um bêbado, enérgico:
– “Bombeiro, largue a mangueira.
Água não, que eu sou alérgico!”
15
Funcionário em treinamento
contra incêndio, ao zelador:
– “Pus fogo num pavimento.
Só me esqueci do extintor!”
16
Ganha o pobre num transplante
o cérebro de um barão.
Voltando a si, já garante:
“Pago à vista ou no cartão.”
17
Gota de sonho e magia,
sopro de um anjo... tão leve...
orvalho, suave poesia,
que a noite, inspirada, escreve.
18
"Mas que preguiça'' e, no escuro,
o pau-d'água, chave à mão,
espera, encostado ao muro,
que ali passe o seu portão!
19
- Mas, “seu” guarda, por favor,
ao apito obedeci.
Culpado é o muro, senhor,
que não deu ré... e eu bati!!!
20
Mostra bem mais que coragem
 quem, na fonte do poder,
 não sorve a doce vantagem,
 prefere o amargo dever.
21
Na vida, a grande virtude
não é correr na jornada,
mas, sem pressa e em plenitude,
completar a caminhada.
22
O outono chegou de manso
e em teu rosto, bem fininhos,
pôs traços que não me canso
de apagar com meus carinhos.
23
Passado... viva candeia,
embora há muito afastado;
um livro que se folheia,
que não se guarda fechado.
24
Põe luz em tua jornada,
pois o que importa na vida
não é o tamanho da estrada,
mas como foi percorrida.
 25
Quando o dia, enfim, se acalma
e uma ausência faz sofrer,
abro os braços de minha alma
para a saudade acolher.
26
Se dramas a chuva escreve,
sem piedade, todo dia,
a garoa, renda leve,
veste a terra de poesia.
27
Sem brinquedo, a sós na rua,
pede a criança, baixinho:
– "Senhor Deus, me empresta a lua
para brincar um pouquinho".
28
Se o fracasso te magoa,
guarda a coragem e avança,
que o brilho vem da pessoa,
não das honras que se alcança.
29
Se um adeus é dor tamanha,
estilhaça o coração,
regresso é um imã que apanha
cada pedaço no chão...
30
Sob a teia da garoa,
fiandeira sem igual,
teu amor, vagando à toa,
fez um ninho em meu beiral.
31
Só na cultura repousa
o progresso da nação:
– ela é o giz, e o povo, a lousa
que recebe a informação.
32
Sou garota e quero espaço,
meu sonho é um nonagenário
com safena e marcapasso
e um belo saldo bancário!!!
33
Vencedor é quem no mundo
ao falso brilho diz “não”
e após um labor fecundo,
ergue um brinde à retidão.
34
Vendo o assalto começar
lembra o genro, gentilmente,
com vontade de ajudar: 
– “Leve a sogra de presente!”

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