quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Varal de Trovas n. 188


Isabel Furini (Proteção)

Fonte: Facebook

Olivaldo Júnior (Pequeno Conto do Amor que Nunca Chega) (ou "Não sei dançar")


Se você quiser, eu posso tentar, mas
Eu não sei dançar
Tão devagar, pra te acompanhar
Trecho da letra de Não sei dançar, de Alvin L.,
gravada em 1991 por Marina Lima


Era um homem que tinha passado pouco mais de três décadas de sua vida. Sabia que a vida é vivida aos poucos e que não adianta querer dar o passo maior que a perna. A passada deve soar como um acorde de resposta a outro acorde, que lhe pergunta. Porém, a resposta a tantas noites vazias custava a chegar àquele homem que esperava o "célebre" amor que nunca chega. "Chega!", disse o pobre para si mesmo numa triste manhã de sábado. Estava exausto.

O homem da nossa história comportava-se como se a vida já tivesse dado o que tinha que dar. Não sabia até então que a vida era um contínuo estalar de dedos, uma pista de dança em que uns valsam, outros sambam e ainda outros simplesmente balançam a cabeça para cima e para baixo, num sinal de que acompanham o ritmo frenético do "bate-estaca" numa "rave". Estava cansado de não ter nenhum par com que dançar e, assim, dividir a pista com seu ser.

Sabia que teria que aprender a dançar se quisesse mesmo um par para a próxima dança. Assim, começou a pensar na hipótese de entrar para uma academia de dança e finalmente aprender a tão famosa dança de salão. Nem tinha sapatos próprios para isso, pensava, mas nada que uma ida a uma loja do Shopping não lhe pudesse sanar. Seria um pé-de-valsa em meio a tantos pés quebrados, sem força, nem ânimo para a dança. Animava-se.

Passaram-se alguns dias após a nova iluminação, sua ideia de aprender enfim a dançar. A preguiça dos dias, o serviço num trabalho que não lhe exigia o quanto ele sabia ser capaz de render, a falta de motivação que quase sempre lhe sobrevinha, e foi deixando de lado a luminosa ideia de dar seus giros de rostinho colado ao do amor. O que lhe acende a alma para o dia a dia e lhe abaixa a luz quando a lua sobe. O amor que nunca chega. Nem sabe dançar.

Fonte:
Colaboração do autor

Silmar Böhrer ( Divagações Poéticas) 6


Têm tido estado distantes
os meus brejeiros versinhos,
andam por outros caminhos
os mensageiros errantes ?
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a vida é muito simples
para ser complicada
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Será uma ave graciosa
volitando pelos ares,
ou é nuvem majestosa
em constantes avatares ?
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corruíra e sino-dos-ventos
mágicos momentos
mui musicais
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nesta vida
temos
de tudo um pouco
e tantas vezes
o tudo
é pouco
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viver vida leve
viver sem preconceitos
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Quando nos versos me empenho
eu indago sem discernimento,
trovas - engenhos do meu invento
ou inventos do meu engenho ?
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Muito específicos,
precisamos ser variedade.
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Chegando ao final do ano
com a minha garimpagem,
ilusão e desengano
também trago na bagagem.

Fonte:
Colaboração do autor.

Carlos Drummond de Andrade (Juiz de Paz)


O juiz de paz chegou cedo ao cartório. Era dia de muito casamento — o santo da folhinha ajudava. Aquele cartório! Feio, desarrumado como todos os cartórios. E por que se casam tantas pessoas no Brasil? Por que estão fazendo sempre a mesma besteira? Não aprendem?

O oficial-maior apareceu vinte minutos depois, para desagrado do juiz de paz. Quando o magistrado chega — mesmo sendo juiz de paz, a majestade é uma só — o cartório deve estar preparado como um templo, os acólitos em seus lugares. Mas o oficial-maior é mulher, e mulher não tem jeito não.

— Quantos, hoje?

— Dezessete.

Barbaridade. Trinta e quatro noivos, suas famílias e testemunhas espremendo-se na salinha e nos corredores, fazendo barulho de motor. O juiz de paz não pensou na renda, pensou na amolação.

— Silêncio!

A energia da voz e da campainha fez estremecer os nubentes. Moças nervosas ficaram com medo — de quê? É tudo tão inseguro hoje em dia, nunca se sabe se haverá mesmo casamento ou se, à última hora…

Chamado o primeiro par, rapaz e moça aproximam-se um tanto estúpidos, como acontece nessas ocasiões, e sentam-se. O oficial-maior anota nomes e endereços das testemunhas. O juiz manda que todos se levantem e é obedecido, menos pelo oficial-maior.

— A senhora não vai se levantar?

— Não.

— Como juiz, ordeno ao sr. oficial-maior que se levante e proceda à leitura do termo.

— Vou ler sentada.

— Não ouviu minha ordem?

— Não recebo ordens do senhor.

— De quem recebe, então?

— Do doutor corregedor da justiça.

— Pois então não há casamento.

Os noivos entreolham-se, estupefatos. A noiva, lacrimejante:

— Não faz assim com a gente, seu juiz!

— Sinto muito, mas todos os casamentos estão suspensos.

Um rumor de onda batendo na praia acolhe a declaração. O oficial-maior continua sentado(a). Interessados apelam.

— Por que a senhora não se levanta? Que que custa!

— Já fiquei sentada muitas vezes, hoje é que ele implicou. Não pode fazer isso.

— Não impliquei nada. É da lei.

— Implicou. Vive implicando comigo. Sou uma pobre moça solteira, mas não admito ser humilhada.

O corregedor, procurado pelo telefone, não foi encontrado. O juiz de direito da vara de família atendeu depois de muito número discado, e respondeu que só resolvia consulta por escrito.

O juiz de paz estava sem cabeça para redigir. O oficial-maior, passado o instante de bravura, chorava baixinho. Três partidos se haviam formado. Não se humilha uma mulher. A um juiz não se desacata. Ela devia ceder. Ele é que devia. Que é que a gente tem com isso?

— Se quiser, eu mesma redijo para o senhor.

Era o oficial-maior, oferecendo colaboração ao juiz de paz.

Ele pensou que fosse ironia, mas o tom era sincero. Começaram a elaborar a consulta. Ela achava as palavras por ele. E foi escrevendo por conta própria: a serventuária rebelde tinha vinte anos de serviço, estava cansada, reumática.

Enquanto podia levantar-se, não deixou de fazê-lo. Agora, era um sacrifício. Ele olhava-a escrever e tinha uma ruga na testa.

— Pode parar. Não vou fazer consulta nenhuma.

Ela encarou-o.

— Reconheço que tenho andado nervoso, essa dor de cabeça constante. Vou ao médico. Tenho sido um juiz de paz ranheta. Me perdoe. Também essa vida que eu levo, tão sozinho…

O oficial-maior retirou o papel da máquina. Os dois voltaram a seus postos, e os noivos foram chegando e casando. Só um havia desistido — Deus sabe por quê. Durante o quinto casamento, o oficial-maior fez menção de levantar-se,como quem diz: agora, chega; mas o juiz, com um gesto, aconselhou-lhe ficar como estava.

Três meses depois, o juiz de paz estava casado com o oficial-maior.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. 70 historinhas.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Varal de Trovas n. 187


Lucília Trindade Decarli (Jardim de Trovas)


Ah, cruel felicidade,
não te deixaste encontrar...
Quanto mais avança a idade,
menos posso te alcançar!
*
A noite é das mais bonitas
e ouço os teus passos na rua...
No espaço em que tu transitas,
fazemos ronda, eu e a lua!
*
Audácia e muito trabalho,
quando quiseres vencer
e o grande segredo, espalho:
— nunca deixes de aprender!...
*
Comparo, aqui, consternada
ao ver teu olhar, tão frio:
— é como apalpar o nada
ou ir de encontro ao vazio...
*
Creio que é feliz na Terra,
quem realiza o sonho belo
de morar no alto da serra:
— seja em choupana ou castelo!
*
Da face do mundo inteiro
tirei um saber profundo...
É o trabalho, e não dinheiro,
a força que move o mundo!
*
Da sedução ao cinismo
o encanto agrada e maltrata;
pode lançar para o abismo,
depois que ao céu arrebata!
*
Detectado no planeta
o aquecimento global,
talvez não mais se cometa
o infame crime ambiental!...
*
Em caminhos separados
por conta de um dissabor,
fomos dois equivocados,
mas... vencidos pelo amor!
*
Em ti quis analisar
tudo o que encanta e seduz,
mas não pude decifrar,
do teu sorriso, esta luz!
*
Entre lágrimas e risos
caminhamos nesta vida,
muitas vezes indecisos
na chegada e na partida...
*
É troca de amor fecundo
a toda mãe, concedida:
ela põe vida no mundo,
nela o mundo põe mais vida!
*
Fico a rondar madrugadas,
quando em mim grita a saudade
das noites afortunadas
ao luar... na "'flor da idade"!
*
Forte o fogo a crepitar,
desolação da queimada:
— faz a fauna dispersar
e a flora em cinzas... mais nada!
*
Meus versos exprimem mais,
grande inspiração mantenho,
se ouço acordes passionais
de um belo tango portenho!
*
Na cadência que seduz
e eleva o ardor da paixão,
dançar tango, à meia-luz,
faz transbordar a emoção!
*
Não quero, aqui, dirimir
nem citar os mais cantados,
mas para um tango ''sentir",
só mesmo os apaixonados!...
*
Não são as joias mais caras
que mais encantam a mim,
mas, sim, as belezas raras
das "flores" do meu jardim!
*
Nos alvos lençóis da cama,
pela insônia se antevê
a dimensão do meu drama
pela falta de você...
*
Nunca se dê por perdido
nos labirintos da vida;
a entrada perde o sentido,
se não se busca a saída!...
*
Os santos Anjos de Deus
aos quais Deus nos quis confiar,
os caminhos meus e os teus
hoje e sempre irão guardar!
*
Para o poeta, a partida
não é o maior dos reversos…
O tempo lhe ceifa a vida,
mas deixa vivos seus versos!
*
Parecendo até miragem
é todo encanto o luar,
que transcende na paisagem,
ao incidir sobre o mar!
*
Passei a ser um brinquedo
do teu encanto sem par,
porque o perdão te concedo,
sempre que queres voltar!
*
Pela vereda florida
contemplo a casa deserta;
lembro a infância, ali vivida...
— Quanta saudade desperta!
*
Pequenina, mas grandiosa!
E, aqui, tento descrevê-la:
quatro versos, "rubra rosa",
com o brilho de uma estrela!
*
Quem dera que, neste mundo,
a paz não fosse quimera,
mas o saber mais fecundo
praticado em qualquer era!
*
Rejeitando os meus fracassos,
num desvario sem fim,
sonho que estou nos teus braços
e amas loucamente a mim.
*
Saudade; dor que não passa
e até provoca arrepio...
É como dormir na praça
sem coberta e exposta ao frio...
*
Segue a vida sempre cheia
de encantos e desencantos,
na alegria, que permeia
a tristeza... e um mar de prantos!
*
Seja aqui, seja acolá,
minha alma sossega e pensa,
que comigo sempre está
o Pai — Eterna Presença!...
*
Sendo a vida grande empreita,
precisamos nos lembrar,
que nunca chega à colheita
quem se esquece de plantar!
*
Sendo esse amor desmedido,
segue isento de protesto:
ama a mãe, filho bandido,
tanto quanto o filho honesto!
*
Sendo lua em céu escuro
e sol sempre a iluminar,
o grande amor que eu procuro,
talvez não possa encontrar...
*
Ser nau ou pequeno barco,
a sorte as cartas vai dar,
mas o horizonte, eu demarco,
e o que vale é navegar!...
*
Seu amor, maior que o mundo,
deu a todos por igual...
Nesse intuito um dom fecundo:
que haja a paz universal!
*
Soberana a natureza,
com destreza singular,
multiplica-se em beleza
na tarde crepuscular!
*
Sozinho em seu camarim,
o idoso ator, envergado,
sente ter chegado ao fim
toda a glória do passado…
*
Tendo agora os teus carinhos,
sei porque sobrevivi
aos mais íngremes caminhos
que pisei longe de ti...
*
Ter sempre o filho aninhado
nas asas de seu querer,
da mãe é o mundo encantado...
Mas o impede de crescer!
*
Transgrides a natureza,
crente que a podes burlar?...
Ouve e acolhe esta certeza:
— o excesso ela irá cobrar!

Fonte:
Lucilia Alzira Trindade Decarli. Inquietude. Bandeirantes: Sthampa, 2008.

Arthur de Azevedo (Na Horta)


Morava o barão da Cerveira num belo palacete que, a pedido da baronesa, mandara edificar no centro de uma grande chácara do Andaraí Grande.

A baronesa, as meninas e os meninos, seus filhos, desfrutavam a beleza e o conforto da encantadora vivenda, ele não, porque, apesar de enriquecido e quarentão, conservava o costume, adquirido desde os primeiros tempos da sua vida comercial, de sair de casa pela manhã e só voltar à noite, para dormir.

Os domingos e dias santificados, em vez de gozar as delícias do descanso, passava-os o barão a examinar e pôr em ordem contas e outros papéis de umas tantas associações, que eram, como dizia ele, a sua cachaça.

- És um esquisitão! observava continuamente a baronesa. Não valia a pena comprarmos esta chácara!

- Gozando-a vocês, gozo-a eu!

Entretanto, num belo domingo de sol, sentiu o barão desejos de percorrer os seus domínios, e o fez, com espanto da família e do chacareiro, o José, que estava acocorado diante de um grande canteiro de repolhos, e se levantou, surpreso e respeitoso, quando viu aproximar-se o patrão.
* * *

Antes do baronato, o barão chamava-se modestamente Manuel Barroso.

Nascera em Portugal, numa aldeola do Minho, que não figura nos compêndios de geografia. Veio aos dez anos para o Brasil, num navio de vela, entregue aos cuidados de um homem de bordo, e consignado a uma casa comercial do Rio de Janeiro.

Não conhecera os carinhos maternos: contava apenas três anos quando perdeu a mãe. O pai, que ficara viúvo e com dois filhos, confiou-o e mais o irmão a uma família, que pouco se preocupou com a educação dos dois rapazes.

- O mais velho irá para o Brasil, sentenciava o pai; o mais novo há de ser padre, se Deus nos der vida e saúde!
* * *

Veio o Manuel para o Brasil e teve a felicidade de encontrar excelentes amos, que o obrigaram a aprender a ler por cima e fazer as quatro operações.

Mal aprendera a escrever, o pequeno pegou na pena e fez uma carta ao pai, pedindo que lhe mandasse novas suas e do mano, mas tanto essa como outras ficaram sem resposta.

Com aqueles simples conhecimentos - ler, escrever e contar - entrou na vida, e não foram necessários outros para que lhe sorrisse a fortuna. A sua inteligência, realmente notável, supria tudo. Não havia na praça farejador de bons negócios que lhe levasse as lampas; mas o que contribuía, principalmente, para fazer dele um dos negociantes mais estimados do Rio de Janeiro, era o escrúpulo honrado com que sempre se havia em todas as suas relações comerciais. Ao contrário do que geralmente se observa, Manuel Barroso não se satisfazia apenas com ganhar dinheiro; tinha muito prazer em dá-lo a ganhar aos outros.

O grande caso é que o nosso aldeão aos vinte anos estava perfeitamente encarreirado, como se costuma dizer - e aos trinta era rico - e aos quarenta riquíssimo, tendo percorrido já toda a escala do medalhão comercial: diretor de bancos e companhias, provedor de irmandades, ministro de ordens terceiras, comendador, conselheiro e barão. Não lhe faltava nada, nem mesmo o retrato a óleo.
* * *

Aos trinta anos casou-se com uma moça, pobre - uma excelente senhora brasileira, que não poderia encontrar melhor esposo, e, logo depois de casado, resolveu dar, em companhia de sua mulher, um passeio à pátria, e visitar o lugarejo onde nascera, e do qual saíra havia já vinte anos.

Não achou lá ninguém. O pai falecera pouco depois da sua vinda para o Brasil, e o irmão abandonara o lugar, ignorando todos o rumo que tomara. A própria família, que o acolhera depois da morte da mãe, tinha desaparecido. Finalmente, o Manuel encontrou na povoação apenas dois ou três companheiros de infância, que o supunham morto. A sua viagem foi desoladora.

Entretanto, o "brasileiro" não saiu da aldeia sem deixar nas mãos do pároco a soma precisa para a reconstrução da capela em que fora batizado, e outra soma, ainda maior, para ser distribuída pelos pobres.

Voltando ao Brasil, o venturoso casal começou a ter filhos que foi um louvar a Deus; não se passaram dez anos sem oito batizados; mas o destino, mostrando-se a Manuel Barroso, mais que aos outros homens, desejoso de equilibrar e harmonizar entre si as circunstâncias, aumentava-lhe os haveres ao mesmo tempo que os filhos, de sorte que a verdadeira prosperidade do nosso homem começou com a sua prolificação.
* * *

A manifestação mais flagrante e ostensiva da sua fortuna era aquela magnífica propriedade do Andaraí Grande, em cuja chácara o deixamos percorrendo pela primeira vez os canteiros de uma horta opulenta.

Dissemos que o hortelão se levantara surpreso e respeitoso ao avistar o patrão.

O pobre homem descobriu-se humildemente e ficou um tanto curvado, a rolar o chapéu entre as mãos.

O barão deu-lhe um bom-dia afável dizendo-lhe:

- Cubra-se, homem! Olhe que está sol!

E ia passando; mas na fisionomia simpática d0 hortelão brotou um sorriso que o fez parar.

- Então? Trabalha-se?

- Alguma coisa, s'or barão, alguma coisa.

- Mas hoje é domingo.

- Isso não quer dizer nada.

- Há quanto tempo está você cá em casa?

- Saberá vossoria que haverá oito meses pelo São João.

- Está satisfeito?

- Se estou satisfeito! Não, não devo estar?! A s'ora baronesa e os meninos são tão bons para mim.

- Você é de Portugal ou das Ilhas?

- Sou do Minho.

- Também eu. De Braga ou de Viana?

- De Viana.

- Também eu.

- Nasci ali perto da Vila Nova de Cerveira, num lugarzinho chamado de São Miguel das Almas.

- Em São Miguel? Como se chama você?

- José Barroso.

- Oh, diabo! Você é filho de João Barroso?

- Sim, s'or barão.

- Sua mãe chamava-se Maria José?

- Sim, s'or barão; mas não a conheci. Meu pai queria que eu fosse padre, mas, coitado, morreu logo... deixou-me ao deus dará. Estive na África... não arranjei nada... vai então resolvi embarcar para o Brasil. Pelo Santo Inácio, vai fazer um ano que cá estou.

- Você não tem um irmão?

- Não sei se o tenho ou se o tinha. Saiu da aldeia ainda o nosso pai era vivo. Disseram que tinha vindo para o Brasil. Nunca mais tive noticias dele.

E o hortelão agachou-se de novo diante de seu canteiro.

- Homem! Deixa lá esses repolhos, exclamou o barão, e dá cá um abraço! Teu irmão sou eu!...

Imaginem a cena que se passou.
* * *

Quando a baronesa viu entrar em casa o marido de mãos dadas ao chacareiro, ficou muito admirada e perguntou:

- Que foi isto? Encontraste alguma coisa que te desagradasse?

- Pelo contrário: encontrei um irmão! Teresa, abraça teu cunhado; meninos, meninas, tomem a bênção a seu tio!...

Fonte:
Arthur de Azevedo. Contos Vários.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Varal de Trovas n. 186


Nilto Maciel (A Lenda de Um Reizinho - Capítulo Exótico)


Fui o primeiro deles. Assim, posso falar a respeito de nós, inclusive dos mortos. Eu me sabia superior aos homens em todos os sentidos. Depois de mim veio aquela onda de dar aos bebês humanos o meu nome. Talvez assim esses futuros cidadãos se parecessem comigo. Além disso, o controle da natalidade deixou de interessar aos casais. Todo mundo queria procriar. Para ter filhos como eu. Logicamente que o fenômeno não se deu da noite para o dia. Antes de um ano de idade, meus cinco primeiros homônimos moravam no mesmo prédio onde eu vivia. Fora daí ninguém mais sabia de mim. Porque meu pai fez chantagem com os pais desses pobres meninos. Se revelassem o segredo de minha excelência genética, ai deles. Doenças terríveis, demência, venditas extraterrenas.

Esses cinco homens abençoados tiveram a graça de nos visitar por acaso. Souberam do nascimento de uma criança num dos apartamentos do prédio e acharam aquilo digno de curiosidade ou zelo. A mãe seria uma garota de uns dez anos de idade. No mesmo dia nasci. Moravam meus pais vizinhos à infeliz menina. Bateram os cinco curiosos à nossa porta, sob ameaças. Falaram de crime, barbaridade, desrespeito às crianças e coisas assim. Arrombariam a porta, se não lhes dessem passagem pacífica. Eu mesmo a abri, com a ajuda de uma cadeira. E conversamos até mesmo sobre a hediondez praticada na mãe de dez aninhos.

Difícil é falar do espanto dos visitantes. Nenhuma palavra humana será disso capaz. Um me chamou de boneco, outro de bruxo, um terceiro de diabo. Meu pai me socorreu a tempo. Explicou tudo pacientemente, apesar da ira, do medo, do desespero, da impotência daqueles cinco zeladores. Negavam tudo, minha presença, minha palavra, meu gesto, minha existência, minha possibilidade, e arregalavam os olhos, gritavam, se esmurravam – quase loucos. Até que ouviram a primeira versão da chantagem. E, de repente, fecharam os olhos, calaram-se, aquietaram-se – mansos e crentes de tudo.

Esses meus homônimos entram na nossa crônica de forma esdrúxula, porque nada os assemelhava a mim e a meus semelhantes. Nunca passaram de meninos comuns. De qualquer forma, tiveram sua importância um dia, quando foi decretada a eliminação de todas as crianças de nome igual ao meu.

Coitados desses meninos humanos! Numa só noite milhares deles desapareceram. Dos nossos, porém, apenas quatro ou cinco não escaparam ao ferro. Os salvos, também quatro ou cinco, refugiaram-se debaixo d’água.

Para os assassinos sua tarefa se cumpriu integralmente, enquanto nasciam outros semelhantes meus.

Sempre fomos minoria, apesar de em determinado tempo existirem vários milhares de homônimos meus, muito depois da chacina oficial.

Nasce-se como eu ou o comum dos homens. E isso não conseguiram entender nem os pais de crianças normais nem os assassinos.

Passada a época da repressão, virei professor. Ora, apesar de ser uma questão de nascença o ser como eu, aprender é preciso. Aprendi muito com os homens, inteligentes e idiotas, pobres e ricos, orientais e ocidentais, selvagens e civilizados. Assim, resolvi passar aos meus semelhantes os meus conhecimentos. Nada de meninos comuns. Esses não me compreendem. Fiz disso minha profissão durante alguns anos, até formar meus substitutos. Aposentei-me. E veio a decadência.

Alguns de meus alunos foram de imediato comprados a peso de ouro ou alugados aos nobres europeus e orientais, gângsteres americanos e tiranos da América e África.

Antes disso, porém, já compravam, a baixo preço, de pais pobres que não podiam enviá-los à escola e criá-los à nossa maneira. De meus oitocentos alunos nem todos estudavam às custas dos pais, mas de seus compradores ou alugadores.

Depois da escola, dediquei-me simplesmente a pesquisas. O tempo passava e já existiam milhares de semelhantes meus, umas centenas maduros e alguns poucos quase velhos. Os compradores preferiam os adolescentes, de quem faziam preceptores de seus filhos. Com isso, queriam fazer destes excelentes homens, para mais tarde vendê-los.

Os velhos também tinham boa cotação, em razão da experiência e dos conhecimentos adquiridos. Geralmente, porém, já viviam a serviço de filhos de nobres, burgueses e estadistas. Alugá-los, no entanto, era mais rendoso, porque o envelhecimento ou a morte repentina representavam prejuízos enormes. A menos que estivessem com saúde.

Durou algum tempo esse tipo de comércio. Depois as coisas mudaram de figura: só se comprava um semelhante meu para revendê-lo e não mais para criá-lo e fazer dele preceptor. A vez dos especuladores, intermediários.

As notícias de lucros fáceis, ao chegarem aos meus ouvidos, tocaram fundo minha fome de poder. Decidi comerciar também. E saí pelo mundo com o intuito de comprar meus melhores ex-discípulos. Estive no Oriente Médio. Os árabes não cediam suas mercadorias nem por mil barris de petróleo. Na Índia, não as cediam nem por toneladas de filosofia. Na China, não as trocavam nem por duas Formosas. Na URSS, os burocratas não as trocavam por nenhuma regalia.

Numa Feira Internacional encontrei um eslavo velho, quase de minha idade. Seu preço, um absurdo. Noutro stand deparei um africano negro, na casa dos quarenta anos. Ser jovem compensava sua má qualidade ou origem. Um argentino, de meio século de vida e peronista, revelou então minha identidade, e adeus sossego. Apareceram os comerciantes, e eu acabei comprado. No leilão, fui vendedor de mim mesmo. Vendi-me a um reizinho de uma ilha dos confins do mundo.

Fonte:
Nilto Maciel. Punhalzinho Cravado de Ódio, contos. Secretaria da Cultura do Ceará, 1986.

Argentina de Mello e Silva (Jardim de Trovas) 2


A Noite — irmã da Saudade,
dela um dia alguém já disse:
Tão curta na mocidade,
como é longa na velhice...!
*
As alegrias e as dores
seguem os mesmos caminhos:
são iguais àquelas flores
que a gente colhe entre espinhos.
*
As maiores despedidas
são mudas. A gente sabe
que o que coube em duas vidas
numa palavra não cabe.
*
A trova para ser bela
não pode ser complicada.
Ela deve ser singela,
dizer tudo, em quase nada.
*
Com amor tu me dizias:
''tudo podes, tudo eu posso".
Ai de nós, tu te esquecias
que este mundo não é nosso!
*
Entre mim e ti havia
o tempo nos separando:
tu eras meu dia-a-dia,
eu era teu quando-em-quando.
*
Eu creio que Deus existe
nas profundezas do Amor,
quando num pântano triste
vejo nascer uma flor.
*
Há mãos que colhem as rosas...
há mãos cruéis que magoam.
Benditas as mãos rugosas,
trêmulas mãos que abençoam!
*
"Homem não chora'' e com isto
muita gente se enganou.
O maior homem foi Cristo,
e quantas vezes chorou...
*
Jamais o mal será eterno
para quem, em doce espera,
semeia no seu inverno
as rosas da primavera.
*
Já te quis, glória fugaz...
Já te amei, mundo inclemente...
Hoje quero e peço: Paz!
Como o tempo muda a gente.
*
Mocidade! Sonho, enredo,
tempo fugaz de uma flor.
Cada sorriso é um segredo,
cada segredo é um amor.
*
Muita gente há que não sabe
se uma trova tem valor.
Mas ela inteirinha cabe
na alma do trovador.
*
Não sei de vitórias plenas
em batalhas que não vi.
Mas sei de glórias serenas
nas lutas que já venci,
*
Na voz de um sino que tange
no dobre final da hora,
há sempre a ceifa do alfange
e um anjo que canta e chora.
*
No cair das tardes calmas
há tanta melancolia!
Parece que as próprias almas
soluçam no fim do dia!
*
No outono da vida a gente
não conta o tempo em auroras;
vai contando, tristemente,
na breve fuga das horas.
*
O amor é um raio profundo
de luz numa solidão.
Se não vale inteiro um mundo
vale, ao menos, a ilusão,
*
Por longos anos viveu.
Seu destino foi tão lindo!
Minha Mãe nunca sofreu
porque as mães choram sorrindo...
*
Quando Deus me pôs na alma
a humildade da alegria,
deu-me a bênção, deu-me a palma
deu-me o dom da poesia.
*
Quando vislumbro a procela
nas nuvens, em céu tristonho,
eu me debruço à janela
e abro a cortina do sonho.
*
Saudade! Tu és somente
a visita inesperada
que bate á porta da gente
depois da festa acabada.
*
Se a Esperança é uma quimera
mas pode alegrias dar,
é feliz sempre o que espera
porque viver é esperar!
*
Sempre em busca de uma flor
onde minha mão alcança,
se perco a rosa do Amor
colho o Lírio da esperança!
*
Senhor! Em prece conclamo:
(eu sei que tudo tem fim)
poupa-me ver os que amo
morrerem antes de mim.
*
Seu olhar curioso brilha,
quer ser moça a pequenina.
Se soubesses, minha filha,
como é linda ser menina!
*
Sorria na mocidade!
De risos faça um buquê.
breve virá a saudade
para chorar com você.
*
Vejo Deus na pura lida,
na humildade do caminho;
nas coisas simples da vida,
na Mãe que embala o filhinho!
*
Velhice ! Final de festa,
quando um triste violão
tange em surdina a seresta
nas cordas da solidão!

Fonte:
Argentina de Mello e Silva. Trovas dispersas. Curitiba/PR: Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1984.

Contos e Lendas do Mundo (Dinamarca: O Príncipe-Veado)

Era uma vez um viúvo e uma viúva que casaram um com o outro. Cada um deles tinha uma filha — a do marido era formosa e elegante e a da mulher muito feia. A viúva tinha inveja da enteada, por ser muito mais bonita que a sua filha, pelo que passava o tempo a pensar como a podia prejudicar, e tratava-a pessimamente. O marido permanecia quase todos os dias fora de casa, de manhã à noite, razão pela qual não se achava muito informado sobre a situação da jovem.

Uma noite, quando já estavam todos deitados, bateram à porta, e a mulher disse à filha que fosse ver quem era. Como esta não se mostrasse muito entusiasmada em obedecer, a enteada ofereceu-se para o fazer, mas não lhe permitiram, pois a mulher desejava que fosse a filha. Por conseguinte, a jovem retirou o ferrolho, abriu a porta e viu um veado ou algo parecido. Sem perda de um segundo, pegou numa vassoura e fez menção de o agredir, conseguindo assim pô-lo em fuga. Depois, fechou de novo a porta e foi contar o sucedido à mãe.

Na noite seguinte, quando se preparavam para aferrolhar a porta, voltaram a bater, mas desta vez a filha da mulher não se atreveu a ir abrir, e ninguém se opôs a que o fizesse a enteada, à qual se deparou com o mesmo veado.

— Coitadinho — murmurou ela. — De onde vens?

— Sobe para o meu dorso, menina! – indicou o veado.

Mas ela disse que não estava disposta a fazê-lo, pois já tinha dificuldades suficientes ao carregar consigo próprio. O veado explicou que era a única maneira de o poder acompanhar, perante o que ela subiu em seu dorso — pois não queria continuar em casa — e partiram.

Pelo caminho, chegaram a uma planície, e ele perguntou:

— Que dirias se, um dia, nos pudéssemos divertir aqui?

No entanto, a jovem não conseguia conceber como ambos poderiam se divertir naquele prado. Finalmente, chegaram a um enorme palácio. O veado introduziu a companheira e disse-lhe que, dai em diante, teria de viver lá completamente só, mas teria todos os desejos realizados, e que tentasse passar o tempo o melhor que pudesse. Garantiu-lhe que, um dia, viria visitá-la e pediu que não entrasse num lugar em que havia três portas — uma de madeira, outra de cobre e a terceira de ferro. Não as devia abrir sob pretexto algum.

Entretanto, estava intimamente convencido de que seria a primeira coisa que faria.

Ela passou o resto do dia totalmente só. Chegou a noite e, na manhã seguinte, decidiu percorrer todo o palácio. Invadiu-a então uma vontade tão forte de abrir a porta de ferro, que não lhe pôde resistir. Fez-o e viu lá dentro dois homens que remexiam com as mãos e os braços uma caldeira de alcatrão, aos quais perguntou porque procediam assim sem usarem qualquer proteção. Eles responderam que estavam condenados a fazê-lo até que uma alma cristã lhes fornecesse algo para remexer o alcatrão. Sem hesitar, ela pegou numa acha, improvisou com ela uma espécie de colher plana e entregou-a aos homens.

O dia foi-se escoando e anoiteceu. Na manhã seguinte, ela ouviu muito barulho na corte e viu vários homens que davam de beber aos cavalos e numerosos serviçais a limpar as pratas. Todos estavam muito ocupados e moviam-se de um lado para o outro. A jovem teve então vontade de abrir a segunda porta. Era a de cobre, e viu duas raparigas que atiçavam uma chama com as mãos. Perguntou-lhes porque o faziam e responderam que tinham sido condenadas a proceder assim até que uma alma cristã lhes fornecesse alguma coisa para substituir as mãos. Sem hesitar, ela foi buscar uma barra de ferro, que lhe agradeceram com gratidão.

Na manhã seguinte, todo o palácio estava cheio de moças, que varriam, lavavam e punham tudo em ordem. Deixou o dia decorrer sem fazer nada, mas, a certa altura, não se pôde conter mais — tinha de abrir também a porta de madeira. Quando o fez, encontrou-se perante o veado num leito de palha e perguntou-lhe, naturalmente, porque estava ali deitado. Ele explicou que tinha de se conservar assim até que um alma cristã lhe limpasse a sujeira. Sem hesitar, a jovem pegou num molho de palha e começou a limpá-lo. A medida que o fazia, o veado transformava-se no príncipe mais atraente que ela jamais vira.

Depois, contou-lhe que todo o palácio tinha sido encantado, porém ela agora conseguira quebrar o feitiço, pelo que queria desposá-la, e foi uma boda extraordinária que se prolongou por vários dias.

Passado algum tempo, ele perguntou à esposa se queria convidar a madrasta e a filha e ela respondeu que sim, que gostaria muito de as voltar a ver. O marido disse então que não poderia estar presente, quando chegassem, e recomendou-lhe que, ao servir vinho ou qualquer outra coisa, deixasse cair uma gota no sapato. Ele apareceria então e a limparia. Além disso, advertiu-a de que não desse à madrasta nada que fosse uma, duas ou três coisas — tinham de ser mais de três, como cereais ou algo do gênero.

Quando a madrasta e a filha chegaram, a princesa — pois agora era princesa — mostrou-se muito atenciosa. Ofereceu-lhes vinho e deixou derramar uma gota no seu sapato dourado. No mesmo instante, surgiu o príncipe, que limpou a nódoa com o lenço. Se as outras ainda não estavam abismadas com o que as rodeava, ficaram-no sem dúvida quando o viram aparecer. Mais tarde, saíram ao jardim, e a madrasta empenhou-se em que a princesa lhe colhesse uma maçã, mas ela não quis. A mulher insistiu que queria maçãs que não fossem mais de três. No entanto, a princesa manteve a sua posição e disse-lhe que teria todas as que desejasse, quando estivessem maduras.

A outra ficou então furiosa. De regresso a casa com a filha, corroía-a a inveja de não ter sido esta a alcançar semelhante felicidade. Estava tão indignada, que não se conteve de a acusar culpada de tudo. A filha insurgiu-se e, palavra puxa palavra, acabaram por se puxar os cabelos, até que se desfizeram e converteram num monte de seixos rolados.

É este o motivo por que há tantos seixos rolados no mundo.

Fonte:
Ulf Diederichs, Palácio dos Contos. Lisboa/Portugal: Círculo de Leitores, 1999.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Varal de Trovas n. 185


Elisa Alderani (Sonho de Valsa)




Como é fácil deixar-se transportar em um tempo cronologicamente longínquo, escutando uma música; neste caso uma valsa. Tempo que, está vivo no agora, neste preciso instante. Um CD toca uma valsa...

Vejo-me menina, magra, de trancinhas apertadas, vestidinho simples, sempre de manguinha comprida com saia pregueada.

Lá estou eu, naquela pequena casa, sem luxo, frente a um magnífico jardim. Um pequeno aparelho de rádio tocando. Foi um presente de meu irmão mais velho que já trabalhava na fábrica da cidade. Comprado a prestação, fazia a alegria de minha mãe.

Ela amava ouvir programas musicais, consertos sinfônicos e música clássica, especialmente as valsas de Viena.

- Agora, agora, vem aqui "Lisute". Com este apelido ela me chamava, pegava-me pelas mãos e ensinava-me a dançar a valsa…

Assim, olha: "Um, dois, três, e um, dois, três"... O vestidinho rodado abria, eu fechava os olhos e sonhava estar em um lindo salão de baile, dançando com um príncipe. O vestido era de seda e o sapatinho de cristal... Igual a história de Cinderela.

A música acabava e tudo ficava como antes. Eu voltava contente ao brinquedo posto de lado e minha mãe retomava o trabalho deixado, voltava ao fogão, Ela sabia cozinhar muito bem, até os ingredientes mais simples se transformavam em pratos deliciosos; especialmente os doces e os bolos faziam a alegria na hora da merenda.

Acredito piamente que também ela, por um momento, a duração da valsa, viveu meu mesmo encanto, deixando-se transportar pelo lindo sonho de valsa...

A realidade de Cinderela iria reconduzi-la com um sorriso à nossa casinha pobre, mas cheia de paz e serenidade.

Fonte:
Elisa Alderani. Flores do meu jardim – Fiori del mio giardino. Edição bilingue. Ribeirão Preto/SP: Legis Summa, 2008.

Professor Garcia (Trovas que Sonhei Cantar) 6


A cruz que a pobre criança,
carrega sem perceber...
Tem os braços da esperança
e a luz do eterno viver!
*
Ama mais!... Sê mais feliz!...
Que esse amor, nas horas calmas,
será qualquer cicatriz
que dói no fundo das almas!
*
Aos ritos do amor se entrega
um casal apaixonado,
que até nos olhos carrega
o silêncio do pecado!
*
As borboletas formosas
imitando o beija-flor,
deixam nos lábios das rosas
eternos beijos de amor!
*
A tapera, no abandono,
afirma que em seu tormento,
sempre escuta a voz do dono
quando sopra a voz do vento!
*
À tarde, é que se descobre,
o quanto o sol nos afaga;
se apaga essa luz tão nobre
só a saudade não se apaga!
*
Desde minha juventude
que eu faço versos feliz...
Já fiz todos quanto pude,
mas o que eu quero, não fiz!
*
Essas roseiras viçosas
que a mão de Deus recupera,
nos dão de presente as rosas
que eclodem na primavera!
*
Faz ó Deus, que eu seja forte.
que em mim, brilhe a eterna Luz!
Que até meu fim, que eu suporte
os braços de minha cruz!
*
Fostes primavera em flor,
ó, mãos, na infância da idade!…
E hoje, no outono do amor,
sois estações de saudade!
*
Graças a Deus!... Minha aurora,
me reflete a mesma luz
daquela Estrela, que outrora,
brilhou nos braços da cruz!
*
Meu sertão não tem floresta,
é pobre o pó deste chão...
Mas esta paz que me empresta
me faz amar meu sertão!
*
Muito além, das nuvens densas,
do azul, desse mundo assim...
Reside o Pastor das crenças
desse Infinito sem fim!
*
Nas nuvens, da cor de neve,
com tinta rubra e dourada...
Deus mostra a paz que descreve
os arrebóis da alvorada!
*
Na tapera abandonada,
toda noite, a vela acesa...
Mostra a saudade sentada
repartindo o pão na mesa.
*
Na velha praça, à distância,
escuto um grito de dor,
da sombra de minha Infância
juntando cacos de amor!
*
Nossa vida se assemelha
à flacidez de uma vela,
que o tempo, a cada centelha,
enruga a beleza dela!
*
Ouvindo a voz do acalanto
dos fados sentimentais,
tentando acalmar meu pranto
dobrei a dor dos meus ais!
*
Quando a aurora adormecida,
rasga o ventre da alvorada...
Ouve-se o choro da vida
nos braços da madrugada!
*
Quando a noite me conduz,
minha inspiração vagueia
sob a neblina de luz
dos raios da lua cheia!
*
Quando nasce uma criança,
Deus vem do céu, para vê-la.
É uma estrela de esperança
enchendo a vida de estrela!
*
Quem és tu? fala destino,
aonde vais, de onde vens?
Sou teu viver peregrino,
dono de tudo que tens!
*
Se alguém me ferir, não ligo;
só perdoar me convém!...
Perdão - resposta e castigo
a quem coração não tem!
*
Se as rimas são maltrapilhas,
assumo os versos que faço...
No passo das redondilhas,
eu tento acertar meu passo!
*
Sem mágoa e sem dissabor,
onde eu pisar neste chão…
Que brote a rosa do amor,
nunca a flor da solidão!
*
Se na fé, tu te assemelhas,
ao justo Mártir da cruz...
Serás luz, entre as centelhas,
de outras centelhas de luz!
*
Sozinho!... E, no velho outono
da vida, na noite fria!...
A nostalgia, sem sono,
me esquenta a noite vazia!
*
Teu adeus trouxe os tormentos,
e com tanta fugacidade...
Que até nos uivos dos ventos
escuto a voz da saudade!
*
Uma aranha tão singela,
nada faz, que a nada ofenda;
é uma tecelã tão bela
que dorme em rede de renda!
*
Usando as tintas mais belas,
curto os sonhos de menino.,.
Pintando vergéis nas telas
dos arrebóis do destino!
*
Vai com fé, que a vida é bela,
se crês filho, a paz te alcança;
que a fé brilha, e o brilho dela,
mantém acesa a esperança!

Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.

Rachel de Queiroz (A Casa e a Máquina)

    
Dentro das nossas casas de cimento e vidro escutamos os protestos do Ministro de Minas e Energia Shigeaki Ueki e sentimos o consolo da sua ilustre solidariedade.

Mas creio que já vem tarde. Por esta fase da civilização, pelo menos, teremos que nos conformar em viver dentro das condições que nos são impostas pela moda arquitetônica  e ambiental. Novos ricos em lua-de-mel com a técnica, os homens de agora não acreditam mais em vida natural, o seu ideal de conforto e status é o que as máquinas lhes dão, sem se importarem com o que as máquinas lhes tomam.

     Maquinolatria. É esta a nova fé.

     O Ministro Ueki reclama e muito bem contra a arquitetura que domina o Brasil, agora; arquitetura que tem horror aos elementos naturais do ambiente e faz questão de manter os usuários dos seus prédios em condições rigorosamente artificiais, como se eles não ocupassem o seu habitat nativo, onde proliferam homens e bichos há uma dezena de milhões de anos, usando e adorando o Sol, eterna fonte de luz e vida. Os novos buracos de morar inventam-se não para homens sadios e criados no planeta Terra, mas para inquilinos de uma cápsula espacial ou uma colônia na Lua.

Aí está Brasília para quem quiser ver. Linda, claro, mas em alguns casos tão insensata que a gente até duvida.

Edifícios que crescem tanto debaixo do chão quanto por cima dele — e por que debaixo do chão? E tudo tão fechado em cima quanto embaixo. Tudo lacrado no vidro e no alumínio, para que um sopro de ar de fora não penetre.

E, como diz o ministro, tudo revestido de cortinas porque há que tapar a transparência do vidro que deixa ver a luz do Sol e a paisagem exterior. A ideia, parece, é criar condições artificiais tão perfeitas, que o mesmo edifício possa ser construído na Groenlândia ou na África Equatorial, no Canadá e no Amazonas. sem nenhuma alteração importante.

O ar se aquece ou se esfria, conforme a necessidade, e tudo se faz por intermédio de máquinas, climatizadores, focos de luz, elevadores. Parece que esses arquitetos sofrem de horror e repugnância ao natural, e a concepção que têm de paraíso seria o universo de um robô.

Não entendem que a máquina deve ser apenas corretiva ou supletiva das falhas do ambiente natural, que o homem é um bicho da terra e não uma criatura de laboratório. A arte e a indústria podem lhe aliviar os desconfortos excessivos, mas não condicioná-lo à existência de um micróbio de proveta. Desde a hora em que nasce numa sala de partos esterilizada até que morre noutra sala igual, a de Tratamento Intensivo, o homem moderno é maquinizado. E vocês já pensaram que, com o tempo, isso pode começar a gerar monstros, numa etapa mutante robotizada, do velho homo sapiens criado do barro?

E depois como é caro. Em vez de uns milheiros de tijolos e alguma madeira que isolavam a morada contra o sol e a chuva, o calor e o frio, em vez do sábio jogo de janelas criando correntes cruzadas de ventilação, em vez do vidro usado apenas como pequena vidraça para admitir a luz dia — sim, em vez de em casas, nós praticamente vivemos em máquinas sofisticadas, dependendo em tudo da corrente elétrica a caríssima corrente elétrica. Além do custo da construção, pois, acrescente-se o custo da manutenção. E se a corrente elétrica dá o prego, então o mundo se acaba, é o caos, é o pânico, como aconteceu anos atrás em Nova lorque, no seu já histórico black-out.

E como é estúpido. Fortaleza, minha terra natal, lavada dos ventos da praia, tapa as janelas e liga o condicionador de ar! E tapa aquele sol radiante, acende o globo de luz. Nos navios, trancafia-se tudo, como num submarino, como se o miraculoso ar marinho, lá fora, fosse um gás letal. O bom é o ar de dentro, cheirando a tinta e a enjoo, viciado, depois de passar por todos os pulmões e todas as gripes de bordo.

Porém o exemplo mais gritante da Maquinolatria a gente vê é nos campos de futebol. Eles pagam ingresso caro, enfrentam as dificuldades do trânsito, a fim de assistirem ao jogo com os seus próprios olhos. E ficam o jogo todo com o rádio de pilha colado ao ouvido, para que o locutor lhes diga que é que eles estão vendo!
(30/12/1974)

Fonte:
Rachel de Queiroz. As Menininhas e outras crônicas. RJ: J. Olympio, 1976.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Varal de Trovas n. 184


Monteiro Lobato (O Avô do Crispim)


— Somos todos aqui uns pulhas, uns seixos rolados — dizia-me Crispim Paradeda. — Sabe o que é seixo rolado? Essas pedras de fundo de rio que de tanto baterem umas nas outras acabam sem arestas. A civilização nos iguala, nos arredonda, nos tira a coragem da originalidade. Ah, o meu avô Paradeda...

Impossível uma conversa com o Crispim sem que esse avô aparecesse. Dias antes contara-me como o homem viera de Portugal, fugido à polícia, sob o melhor disfarce da época: uma batina de jesuíta. Ao pôr pé na terra nova achou de bom conselho experimentar a vida de padre clandestino pelos sertões, e levou bom tempo assim. Fez comércio de relíquias; vendeu muito osso de santo e sobretudo “tabuinhas aplainadas por são José” — sem que ninguém lhe objetasse não haver plainas naquele tempo e serem de bacurubu aquelas tabuinhas, madeira inexistente na Terra Santa.

Quando as autoridades eclesiásticas lhe deram em cima, o homem já estava cheio de dobrões. Lançou então às urtigas a batina salvadora e, mudando de zona, apareceu no mundo como o major Crispim Paradeda, o mesmo nome do meu amigo.

Dias antes tinha-me o Crispim contado essa história — e ia contar outra.

Crispim nunca citava o avô sem “vir com uma”.

— Esta manhã fiz um péssimo negócio — disse ele —, unicamente porque não passo de um seixo rolado. Imagine que emprestei quinhentos mil-réis a um sujeito que além de não pagar dívidas se diverte em difamar os credores. Ah, se eu fosse como o meu avô!...

Um novo caso vinha vindo. Preparei-me para ouvi-lo.

— Meu avô, depois daquela patifaria da batina, que você conhece, enriqueceu com o capital juntado.

— Comércio de madeira, as tabuinhas, sei...

— Sim. Reduziu a tabuinhas todo um velho bacurubu do seu quintal e salvou-se. Em seguida mudou de negócio. Comprou tropas e depois terras. Afazendou-se. Aos sessenta anos era dono de muitos escravos, da excelente fazenda do Pinhal e de regular soma de ouro e prata em moeda, que escondia num cofre de cabiúna de grandes ferragens nos cantos. A arca! Começou a fazer empréstimos, mas os primeiros calotes induziram-no a arrepiar caminho.

“— Chega — disse consigo. — De hoje em diante ninguém me leva uma só pataca.

“Ora, aconteceu que justamente no dia seguinte lhe aparece pela fazenda um novo candidato ao seu dinheiro. O homem apeia, entra, explica-se. Meu avô recebe-o risonhamente, com cara de porta aberta.

“— Só cem patacas? — pergunta.

“Tais palavras, que nenhum dador de dinheiro jamais teve, estarreceu o pretendente, o qual, já em estado de levitação, elevou o montante a cento e cinquenta — ‘já que o major...’.

“— É indiferente, meu caro. Cem, cento e cinquenta ou duzentas. Por que não leva logo duzentas?

“Ficou assentado que o empréstimo seria de duzentas e vinte patacas, e depois de combinados os termos da transação, prazo e juros — prazo longo e juros baixíssimos —, entram os dois para o escritório a fim de porem o preto no branco. Enquanto meu avô abre a arca e religiosamente vai tirando as moedas, contando-as e empilhando-as sobre a mesa em montinhos de dez, o pretendente, radiante, totalmente levitado, traça a obrigação com as palavras sacramentais: ‘Devo que pagarei etc.’.

“Naquele tempo as coisas eram mais simples do que hoje. Bastava uma folha de papel — um papel levemente azulado, lembro-me ainda, sem selos. Papel manilha, creio...”

— Sei. Adiante.

— Pois é. O pretendente traça com ótima letra o “Devo que pagarei...”, assina e mostra-o a meu avô. O endiabrado velho põe os óculos, lê tudo demoradamente, reclama contra uma falha qualquer de redação e obriga o homem a repetir o escrito. Por fim concorda. Acha que o documento está perfeito.

“— Muito bem — diz então, esparramando-se na cadeira de braços, com uma das mãos sobre o documento. — Agora quero que o amiguinho (tinha a mania de tratar toda gente assim) repita as palavras que vou dizer: ‘O major é um ladrão!’.

“O radiante pretendente perde metade da radiância. Fica atônito. Não entende. Olha para meu avô com olhos arregalados e boca entreaberta.

“— Sim, amiguinho — continua o velho. — Repita o que eu disse: ‘O major é um ladrão!’.

“O assombro do ex-radiante pretendente sobe de ponto. Continua a não entender coisa nenhuma de coisa nenhuma. Gagueja. Sua na asa do nariz.

“— Vamos, repita o que eu disse — teima o velho —, pois do contrário não apanha os cobres. Levante-se. Fique ali no meio da sala e diga”: ‘O major é um ladrão!’.

“A cena prolonga-se por alguns instantes, até que a insistência de um supera a resistência do outro. E o pobre homem, muito desconchavado, repete desconvencidamente a frase da encomenda.

“— Assim não serve — reclama o meu avô. — Quero que diga isso com calor, com indignação, a cara bem vermelha, batendo o punho na mesa, assim: ‘O MAJOR É UM LADRÃO!’. Berrado, amiguinho. Bem berrado! Vamos! Ah, não quer? Pois nesse caso o negócio está desfeito — e faz menção de varrer para dentro da gaveta os deliciosos montinhos de patacas.

“A tal ponto o gesto assusta o arrasado pretendente que ele repete a frase ofensiva ainda com mais veemência do que a encomendada.

“O meu diabólico avô incha-se de gozo. Sorri inteirinho. Esfrega as mãos.

“— Ótimo! Exatamente como eu queria. Agora vai o amiguinho dizer mais alguma coisa. Vai dizer, com o mesmo calor, com outro soco na mesa, mais isto: ‘O major tira a camisa dos pobres!’.

“— Mas, major, eu... — protesta o homem, cada vez mais atrapalhado. — Não posso estar a dizer o que não penso. Conheço o major, sou seu amigo, sei da sua generosidade e, portanto...

“— Nada de desvios, amiguinho! Ou repete o que mando ou não fazemos o negócio — e pela segunda vez leva as mãos às patacas no gesto de varrê-las para o gavetão.

“A ameaça valeu. O triste pretendente declama, com a voz mais indignada que pode, aquele horror: ‘O MAJOR TIRA A CAMISA DOS POBRES!’. Bem berrado!...

“— Isso! — aprova o velho. — Está perfeito. Está exatamente no tom que o amiguinho vai adotar quando a obrigação vencer-se e eu mandar cobrá-lo. E o irá dizer pelas esquinas, nas vendas, nos chás do Chico Mendes — por toda parte onde encontrar desafetos meus ou ouvidos vadios. Resultado: fico sem minhas patacas e perco um excelente amigo. Ora, se vai ser assim, por que não podarmos o mal pela raiz? O meio é simples. Retenho as minhas patacas — e ao dizer isto varre-as para a gaveta — e o amiguinho fica lá com a sua obrigação. Tome-a...

“Maquinalmente o náufrago pegou o papel azul, enquanto ia ouvindo o doloroso som das moedas a caírem no gavetão.

“— Perder o meu dinheiro — concluiu o meu avô Paradeda — não me parece o pior, porque, graças a Deus, tenho-o de sobra. Mas perder um amigo? Isso nunca! Como tenho menos amigos do que patacas, zelo mais pela conservação deles do que delas.

“E, cinicamente, mudando de assunto:

“— Escute cá, amiguinho. Será verdade o que andam dizendo por aí do filho da Nhana Lisa com a enteada do coronel Xandó? Francamente, esse negócio não me cheira bem. Você, que acha?”

Fonte:
Monteiro Lobato. Cidades Mortas.

Nilsa Alves de Melo (Trovas Temáticas) 2

  • CACHORRO
Não pense jamais que é um chiste,
ou que à loucura concorro,
quando eu lhe disser que existe
a doce alma de um cachorro.

Ao vires o olhar tão triste
de um cachorro abandonado,
poderás dizer que viste
um bom anjo disfarçado.
  • CAMINHO
Não veja apenas o fado
das agruras do caminho;
um coração bem formado
vê valor em meio ao espinho.

Se, a caminho do desejo,
causar a alguém um sofrer,
desista, pois outro ensejo,
mais nobre, há de aparecer.

O caminho dos seus pais
não foi fácil como o seu;
não queira dizer jamais,
que deles você esqueceu.

O meu caminho, esta trilha,
fui eu mesmo quem tracei;
se nem tudo é maravilha,
perdi menos que ganhei.

Vamos seguir o caminho,
caminho do bem-querer,
bem-querer, tirando o espinho,
o espinho que faz sofrer.
  • CÉU
Se almeja um céu que há de vir,
poderá o sentir bem perto,
se da vida usufruir
de alma livre e peito aberto!

É bem profícuo exercício,
em um caos, reconhecer
pedaços de um céu propício
para amar e conviver.

Quando parte uma alma boa,
sua partida é chorada,
mas lá no céu um anjo entoa:
– Bem-vinda, recém-chegada!
  • CIDADE
A cidade dos meus sonhos
não precisa ser tão grande;
deve ter rostos risonhos
e gente que o amor expande.

Cidade compartilhada
por todos, nem um a menos,
é a grande graça almejada
pelos grandes e pequenos.

Por que chorar vida afora,
a cidade que deixou?
É esta em que vive agora
que a vida lhe reservou.
  • CIGANO
Era um cigano andarilho,
já sabias de antemão;
não andaria no trilho
nem preso ao teu coração.
  • CORRUPÇÃO
O corrupto se associa
ao corruptor, seu igual,
e, corrompido, inicia
a corrupção — grande mal!

Corrupto! Da corrupção
que drena o sangue dos teus,
prestarás conta, atenção:
- Aos brasileiros e a Deus.

A corrupção, grande crime,
assola o Brasil inteiro;
de qualquer culpa se exime
o corrupto traiçoeiro.
  • CRIANÇA
Conservar em si aquela
singeleza da criança
demonstra sua mais bela
e mais valiosa herança.

Não exija da criança
ter do adulto uma postura;
no tempo certo ela alcança
voar em maior altura.

Do pássaro não corte a asa
que lhe dá o dom de voar.
Não corte a graça que embasa
da criança o doce olhar.

Fonte:
Nilsa Alves de Melo. Temas, versos e trovas. Maringá/PR: Massoni, 2018.

Carlos Drummond de Andrade (Como Comecei a Escrever)


Aí por volta de 1910 não havia rádio nem televisão, e o cinema chegava ao interior do Brasil uma vez por semana, aos domingos. As notícias do mundo vinham pelo jornal, três dias depois de publicadas no Rio de Janeiro. Se chovia a potes, a mala do correio aparecia  ensopada, uns sete dias mais tarde. Não dava para ler o papel transformado em mingau.

Papai era assinante da Gazeta de Notícias, e antes de aprender a ler eu me sentia fascinado pelas gravuras coloridas do suplemento de domingo. Tentava decifrar o  mistério das letras em redor das figuras, e mamãe me ajudava nisso. Quando fui para a escola pública, já tinha a noção vaga de um universo de palavras que era preciso conquistar.

Durante o curso, minhas professoras costumavam passar exercícios de redação. Cada um de nós tinha de escrever uma carta, narrar um passeio, coisas assim. Criei gosto por esse  dever, que me permitia aplicar para determinado fim o conhecimento que ia adquirindo  do poder de expressão contido nos sinais reunidos em palavras.

Daí por diante as experiências foram-se acumulando, sem  que  eu percebesse que  estava  descobrindo a literatura. Alguns elogios da professora me animavam a continuar. Ninguém falava em conto ou poesia, mas a semente dessas coisas estava germinando. Meu irmão, estudante na Capital, mandava-me revistas e livros, e me habituei a viver entre eles.

Depois, já rapaz, tive a sorte de conhecer outros rapazes que também gostavam de ler e escrever.

Então, começou uma fase muito boa de troca de experiências e impressões. Na mesa do café, sentado (pois tomava-se café sentado nos bares, e podia-se conversar horas e horas  sem incomodar nem ser incomodado) eu tirava do bolso o que escrevera durante o dia, e  meus colegas criticavam. Eles também sacavam seus escritos, e eu tomava parte nos comentários. Tudo com naturalidade e franqueza. Aprendi muito com os amigos, e tenho pena dos jovens de hoje que não desfrutam desse tipo  de amizade crítica.

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 4.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Varal de Trovas n. 183


Monteiro Lobato (A Menina do Leite)


Laurinha, no seu vestido novo de pintas vermelhas, chinelos de bezerro, treque, treque, treque, lá ia para o mercado com uma lata de leite à cabeça – o primeiro leite da sua vaquinha mocha. Ia contente da vida, rindo-se e falando sozinha.

– Vendo o leite – dizia – e compro uma dúzia de ovos. Choco os ovos e antes de um mês já tenho uma dúzia de pintos. Morrem... dois, que seja, e crescem dez – cinco frangas e cinco frangos. Vendo os frangos e crio as frangas, que crescem, viram ótimas chocadeiras de duzentos ovos por ano cada uma. Cinco mil ovos! Choco tudo e lá me vêm quinhentos galos e mais outro tanto de galinhas. Vendo os galos. A 2 cruzeiros cada um – 2 vezes 5, 10... 1.000 cruzeiros!... Posso então comprar doze porcas de cria e mais uma cabrita. As porcas dão-me, cada uma, seis leitões. Seis vezes 12...

Estava a menina neste ponto quando tropeçou, perdeu o equilíbrio e, com lata e tudo, caiu um grande tombo no chão.

Pobre Laurinha!

Ergueu-se chorosa, com um ardor do joelho esfolado; e enquanto sacudia as roupas sujas de pó viu sumir-se, embebido pela terra seca, o primeiro leite da sua vaquinha mocha e com ele os doze ovos, as cinco chocadeiras, os quinhentos galos, as doze porcas de cria, a cabritinha – todos os belos sonhos da sua ardente imaginação...
_________________________________

Emília bateu palmas.

– Viva! Viva a Laurinha!... No nosso passeio ao País das Fábulas tivemos ocasião de ver essa história formar-se – mas o fim foi diferente. Laurinha estava esperta e não derrubou o pote de leite, porque não carregava o leite em pote nenhum, e sim numa lata de metal bem fechada. Lembra-se, Narizinho?

A menina lembrava-se.

– Sim – disse ela. – Lembro-me muito bem. A Laurinha não derramou o leite e deixou a fábula errada. O certo é como vovó acaba de contar.

– Está claro, minha filha – concordou Dona Benta. – É preciso que Laurinha derrame o leite para que possamos extrair uma moralidade da história.

– Que é moralidade, vovó?

– É a lição moral da história. Nesta fábula da menina do leite a moralidade é que não devemos contar com uma coisa antes de a termos conseguido.

Fonte:
Monteiro Lobato. Fábulas.

Lóla Prata (Acróstico)


As letras iniciais dos versos formam nome de pessoa ou coisa. A partir desse nome que se pretende comentar, compõem-se os versos. As rimas e a observância da métrica são opcionais.

Acrósticos (e congêneres) podem ser em seu contexto: biográficos, históricos, comemorativos, filosóficos, didáticos, de boas-vindas, em forma de prece, etc. Poesia visual.


ORIGEM DOS ACRÓSTICOS - de Silvia Araújo Motta

O acróstico é uma poética composição
Rimada, na qual. livremente ou não,
Impõe um conjunto de letras iniciais
Garantidas mediais, cruzadas ou finais,
Em que a leitura vertical ou diagonal
Muitas vezes forma uma palavra ou frase.

Desde os Séculos V e VI, nos oráculos,
O grego Epicarmo já fazia acrósticos.
Surgia também nos epigramas funerais.

A frase "Jesus Cristo, filho de Deus e Salvador"
Contém o mais célebre acróstico “ICHTHUS"
Realmente escrito no século IV: "PEIXE"
O maior símbolo místico do Cristianismo;
Sua autoria foi atribuída a Lactâncio e Eusébio.
Tantos por Ênio em Roma. Comodiano de Gaza,
Idade Média, e os feitos na poesia métrica latina.
Com Hinos na poesia inglesa de John Davies
Os adeptos portugueses; Camões, Garcia Rezende...
Sinal Acadêmico do Padre Antônio de Oliveira, Edgar Poe.

Houve acrósticos em prosa, com as letras do começo de cada parágrafo. e se chegou à verdadeira mania de acrósticos nos tempos do barroco,

O cantor e compositor Roberto Carlos contribuiu para o enriquecimento e popularização dos acrósticos. Compôs a música cuja letra diz:


Mais que a minha própria vida
Além do que eu sonhei pra mim
Raio de luz
Inspiração
Amor, você é assim

Rima dos versos que eu canto
Imenso amor que eu falo tanto
Tudo pra mim
Amo você assim
 
Meu coração
Eternamente
Um dia eu te entreguei

Amo você
Mais do que tudo eu sei
O sol
Raiou pra mim quando eu te encontrei
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Acróstico = letras iniciais

Mesóstico = letras mediais

Teléstico = letras finais

Diacróstico = letras iniciais e mediais

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ACRÓSTICO ALFABÉTICO

O Salmo 119 (118), AT da Bíblia, grande meditação sapiental sobre a Lei de Deus, segue na composição literária, o artifício do acróstico alfabético.

Levando essa técnica à sua máxima expressão: são 22 estrofes com 8 versos cada uma, e cada verso começa com a mesma letra do alfabeto hebraico.

Exemplificando: Em nosso idioma, todos os versos da la. estrofe se iniciariam com a letra A. Segunda estrofe, todos os versos com B. Terceira, com C, etc.

Além disso, cada estrofe contém vários sinônimos de Lei: palavra, promessa, normas, vontade, estatutos, preceitos, testemunhos, mandamentos, verdade.

A palavra "salmo" quer dizer oração cantada e acompanhada com instrumentos musicais. É poesia em versos que expressa os sentimentos diante da realidade da vida.

Coleção dos salmos = saltério.

Davi foi mestre de canto da corte do rei Saul, a quem sucedeu no trono de Israel. Quando Saul recebia "um espírito mau" (insatisfação pessoal...), restaurava-se ao som da harpa e dos poemas de Davi, autor da maioria dos salmos.

Época dos Reis israelitas: 971 a 561 a. C., dado histórico que contraria a tese de que a modalidade acróstico teria surgido no século V.

É bem mais antigo…


Fonte:
Lóla Prata. E eu sei fazer versos? Bragança Paulista/SP: ABR, 2011.

Livro (Origens e Produção)


Livro é um volume transportável, composto por páginas, sem contar as capas, encadernadas, contendo texto manuscrito ou impresso e/ou imagens e que forma uma publicação unitária (ou foi concebido como tal) ou a parte principal de um trabalho literário, científico ou outro.

Em ciência da informação o livro é chamado monografia, para distingui-lo de outros tipos de publicação como revistas, periódicos, teses, tesauros, etc.

O livro é um produto intelectual e, como tal, encerra conhecimento e expressões individuais ou coletivas. Mas também é nos dias de hoje um produto de consumo, um bem e sendo assim a parte final de sua produção é realizada por meios industriais (impressão e distribuição). A tarefa de criar um conteúdo passível de ser transformado em livro é tarefa do autor. Já a produção dos livros, no que concerne a transformar os originais em um produto comercializável, é tarefa do editor, em geral contratado por uma editora. Uma terceira função associada ao livro é a coleta e organização e indexação de coleções de livros, típica do bibliotecário.

HISTÓRIA DO LIVRO

A história do livro é uma história de inovações técnicas que permitiram a melhora da conservação dos livros e do acesso à informação, da facilidade em manuseá-lo e produzi-lo. Esta história é intimamente ligada às contingências políticas e econômicas e à história de ideias e religiões.

Antiguidade

Na Antiguidade surge a escrita, anteriormente ao texto e ao livro. A escrita consiste de código capaz de transmitir e conservar noções abstratas ou valores concretos, em resumo: palavras. É importante destacar aqui que o meio condiciona o signo, ou seja, a escrita foi em certo sentido orientada por esse tipo de suporte; não se esculpe em papel ou se escreve no mármore.

Os primeiros suportes utilizados para a escrita foram tabuletas de argila ou de pedra. A seguir veio o khartés (volumen para os romanos, forma pela qual ficou mais conhecido), que consistia em um cilindro de papiro, facilmente transportado. O "volumen" era desenrolado conforme ia sendo lido, e o texto era escrito em colunas na maioria das vezes (e não no sentido do eixo cilíndrico, como se acredita). Algumas vezes um mesmo cilindro continha várias obras, sendo chamado então de tomo. O comprimento total de um "volumen" era de c. 6 ou 7 metros, e quando enrolado seu diâmetro chegava a 6 centímetros.

O papiro consiste em uma parte da planta, que era liberada, livrada (latim libere, livre) do restante da planta - daí surge a palavra liber libri, em latim, e posteriormente livro em português. Os fragmentos de papiros mais "recentes" são datados do século II a.C.

Aos poucos o papiro é substituído pelo pergaminho, excerto de couro bovino ou de outros animais. A vantagem do pergaminho é que ele se conserva mais ao longo do tempo. O nome pergaminho deriva de Pérgamo, cidade da Ásia menor onde teria sido inventado e onde era muito usado. O "volumen" também foi substituído pelo códex, que era uma compilação de páginas, não mais um rolo. O códex surgiu entre os gregos como forma de codificar as leis, mas foi aperfeiçoado pelos romanos nos primeiros anos da Era Cristã. O uso do formato códice e do pergaminho era complementar, pois era muito mais fácil costurar códices de pergaminho do que de papiro.

Uma consequência fundamental do códice é que ele faz com que se comece a pensar no livro como objeto, identificando definitivamente a obra com o livro. A consolidação do códex acontece em Roma, como já citado. Em Roma a leitura ocorria tanto em público (para a plebe), evento chamado recitatio, como em particular, para os ricos. Além disso, é muito provável que em Roma tenha surgido pela primeira vez a leitura por lazer (voluptas), desvinculada do senso prático que a caracterizara até então. Os livros eram adquiridos em livrarias. Assim aparece também a figura do editor, com Atticus, homem de grande senso mercantil. Algumas obras eram encomendadas pelos governantes, como a Eneida, encomendada a Virgílio por Augusto.

Acredita-se que o sucesso da religião cristã se deve em grande parte ao surgimento do códice, pois a partir de então tornou-se mais fácil distribuir informações em forma escrita.

Idade Média

Na Idade Média o livro sofre um pouco, na Europa, as consequências do excessivo fervor religioso, e passa a ser considerado em si como um objeto de salvação. A característica mais marcante da Idade Média é o surgimento do monges copistas, homens dedicados em período integral a reproduzir as obras, herdeiros dos escribas egípcios ou dos libraii romanos. Nos mosteiros era conservada a cultura da Antiguidade. Apareceram nessa época os textos didáticos, destinados à formação dos religiosos.

O livro continua sua evolução com o aparecimento de margens e páginas em branco. Também surge a pontuação no texto, bem como o uso de letras maiúsculas. Também aparecem índices, sumários e resumos, e na categoria de gêneros, além do didático, aparecem os florilégios (coletâneas de vários autores), os textos auxiliares e os textos eróticos. Progressivamente aparecem livros em língua vernacular, rompendo com o monopólio do latim na literatura. O papel passa a substituir o pergaminho. Mas a invenção mais importante, já no limite da Idade Média, foi a impressão, no século XIV. Consistia originalmente da gravação em blocos de madeira do conteúdo de cada página do livro; os blocos eram mergulhados em tinta, e o conteúdo transferido para o papel, produzindo várias cópias.

Foi em 1405 surgia na China, por meio de Pi Sheng, a máquina impressora de tipos móveis, mas a tecnologia que provocaria uma revolução cultural moderna foi desenvolvida por Johannes Gutenberg.

Idade Moderna


No Ocidente, em 1455, Johannes Gutenberg inventa a imprensa com tipos móveis reutilizáveis, o primeiro livro impresso nessa técnica foi a Bíblia em latim. Houve certa resistência por parte dos copistas, pois a impressora punha em causa a sua ocupação. Mas com a impressora de tipos móveis, o livro popularizou-se definitivamente, tornando-se mais acessível pela redução enorme dos custos da produção em série.

Com o surgimento da imprensa desenvolveu-se a técnica da tipografia, da qual dependia a confiabilidade do texto e a capacidade do mesmo para atingir um grande público. As necessidades do tipo móvel exigiram um novo desenho de letras; caligrafias antigas, como a Carolíngea, estavam destinadas ao ostracismo, pois seu excesso de detalhes e fios delgados era impraticável, tecnicamente.

Uma das figuras mais importantes do início da tipografia é o italiano Aldus Manutius. Ele foi importante no processo de maturidade do projeto tipográfico, o que hoje chamaríamos de design gráfico ou editorial. A maturidade desta nova técnica levou, entretanto, cerca de um século.

Idade Comteporânea


Cada vez mais aparece a informação não-linear, seja por meio dos jornais, seja da enciclopédia. Novas mídias acabam influenciando e relacionando-se com a indústria editoral: os registros sonoros, a fotografia e o cinema.

O acabamento dos livros sofre grandes avanços, surgindo aquilo que conhecemos como edições de luxo.

Livro Eletrônico

De acordo com a definição dada no início, o livro deve ser composto de um grupo de páginas encadernadas e ser portável. Entretanto, mesmo não obedecendo a essas características, surgiu em fins do século XX o livro eletrônico, ou seja, o livro num suporte eletrônico, o computador. Ainda é cedo para dizer se o livro eletrônico é um continuador do livro típico ou uma variante, mas como mídia ele vem ganhando espaço, o que de certo modo amedronta os amantes do livro típico - os bibliófilos.

Existem livros eletrônicos disponíveis tanto para computadores de mesa quanto para computadores de mão, os palmtops. Uma dificuldade que o livro eletrônico encontra é que a leitura num suporte de papel é cerca de 1,2 vez mais rápida do que em um suporte eletrônico, mas pesquisas vêm sendo feitas no sentido de melhorar a visualização dos livros eletrônicos.

Produção do Livro

A criação do conteúdo de um livro pode ser realizada tanto por um autor sozinho quanto por uma equipe de colaboradores, pesquisadores, co-autores e ilustradores. Tendo o manuscrito terminado, inicia a busca de uma editora que se interesse pela publicação da obra (caso não tenha sido encomendada). O autor oferece ao editor os direitos de reprodução industrial do manuscrito, cabendo a ele a publicação do manuscrito em livro. As suas funções do editor são intelectuais e econômicas: deve selecionar um conteúdo de valor e que seja vendável em quantidade passível de gerar lucros ou mais-valias para a empresa.

Modernamente o desinteresse de editores comerciais por obras de valor mas sem garantias de lucros tem sido compensado pela atuação de editoras universitárias (pelo menos no que tange a trabalhos científicos e artísticos).

Cabe ao editor sugerir alterações ao autor, com vista a ajustar o livro ao mercado. Essas alterações podem passar pela editoração do texto, ou pelo acréscimo de elementos que possam beneficiar a utilização/comercialização do mesmo pelo leitor. Uma editora é composta pelo Departamento editorial, de produção, comercial, de Marketing, assim como vários outros serviços necessários ao funcionamento de uma empresa, podendo variar consoante as funções e serviços exercidos pela empresa. Na mesma trabalham os editores, revisores, gráficos e designers, capistas, etc. Uma editora não é necessariamente o produtor do livro, sendo que quase sempre essa função de reprodução mecânica de um original editado é feita por oficinas gráficas em regime de prestação de serviço. Dessa forma, o trabalho industrial principal de uma editora é confeccionar o modelo de livro-objeto, trabalho que se dá através dos processos de edição e composição gráfica/digital.

A fase de produção do livro é composta pela impressão (posterior à imposição e montagem em cadernos - hoje em dia digital), o alceamento e o encapamento. Podendo ainda existir várias outras funções adicionais de acréscimo de valor ao produto, nomeadamente à capa, com a plastificação, relevos, pigmentação, e outros acabamentos.

Terminada a edição do livro, ele é embalado e distribuído, sendo encaminhado para os diferentes canais de venda, como os livreiros, para daí chegar ao público final.

Pelo exposto acima, talvez devêssemos considerar que a categoria livro seja a concepção de uma coleção de registros em algum suporte capaz de transmitir e conservar noções abstratas ou valores concretos. No início de 2007, foi noticiada a invenção e fabricação, na Alemanha, de um papel eletrônico, no qual são escritos livros.

Classificação dos Livros


Os livros atualmente podem ser classificados de acordo com seu conteúdo em duas grandes categorias: livros de leitura sequencial e obras de referência (anuário, bibliografia, dicionário, manual, enciclopédia, guia turístico, livro didático, relatório, vademecum e poesias).

Curiosidades

A Bíblia é o livro mais vendido do mundo.
O Guiness World Book of Records é o segundo livro mais vendido no mundo.
Harry Potter, da inglesa J. K. Rowling, é atualmente o livro que vendeu mais cópias em menos tempo.

Referências
Dados da Unesco.
FEBVRE, Lucien. O aparecimento do livro. São Paulo : Unesp, 1992.
KATZENSTEIN, Ursula. A origem do livro. Sao Paulo : Hucitec, 1986.
SCORTECCI, João. Guia do Profissional do Livro. São Paulo: Scortecci, 2007.

Fonte:
Secretaria de Educação do Estado do Paraná.