domingo, 19 de junho de 2011

J. B. Xavier (Caderno de Trovas)


Agradece todo dia
O problema que te aflige,
Pois dele vem a magia
Que teus defeitos corrige.

Ao conforto acorrentado,
quem se prende corta acesso,
ao caminho acidentado
que levaria ao sucesso!

As verdadeiras lições
que a mim meu pai ensinava,
não vinham dos seus sermões,
mas de quando ele calava.

Meu pai nada me falava
quando me via nervoso.
Aprovava ou reprovava
num olhar doce e bondoso.

Meu pai me ensinou:"Reflita"
Nunca esqueci a lição:
"a velhice não se evita.
maturidade é opção!"

A beleza da poesia
- Eu vou contar p'rá você -
não vem da mente que a cria,
e sim, d'alma de quem lê!

Não dou conselhos na luta
que cada um realiza,
pois o tolo não escuta
E o sábio não precisa.

Não importa a circunstância,
Cuidado ao dar o teu passo.
É muito curta a distância
Entre sucesso e fracasso!

Heresia é não amar,
É deixar, no coração,
Lentamente, se apagar,
O fogo d’uma paixão!¨

Na clausura da existência,
das prisões que nos impomos,
um devaneio é a essência
do que pensamos que somos!
(Trova vencedora dos Jogos Florais de Bandeirantes, Paraná, 2009)

Não olhes no exterior:
Armani, Chanel ou Boss.
Elegância vem do amor
que nasce dentro de nós!

Arrefece esse teu passo,
Alegra tua sozinhez,
e caminha no compasso
de um passo de cada vez...

A falsa humildade é feia,
raramente é uma façanha;
geralmente é um grão de areia
se dizendo uma montanha.

Fonte:
http://www.jbxavier.com.br

J. B. Xavier (O Homem que Desaprendeu a Sorrir)

azulejos de Osmar Venâncio
(Uma história real)

Ouvir o inaudível e ver o invisível são habilidades raríssimas. No entanto as mensagens mais importantes que nos chegam vêm, via de regra, por essas vias subjacentes. Digo isto, porque elas costumam chegar da maneira mais inusitada possível, não importa o quanto pensemos estar preparados para recebê-las.

Ontem à tarde, eu precisei ir ao centro da cidade, e demorei até decidir se iria de metrô ou de carro. Tivesse eu ido de metrô e esta história teria outro desfecho. Quem pode saber quando as engrenagens do destino começam a se mover?

Deixei o carro num estacionamento no Largo Santa Ifigênia, e fui caminhando através do viaduto do mesmo nome, ao fim do qual está o Mosteiro de São Bento (foto), fundado em 1598, famoso por seu relógio pontualíssimo que lembra o Big Ben londrino e também por ter sido a morada do Papa quando de sua última visita ao Brasil.

O mosteiro, imponente e austero, é, ele próprio, um monumento, num ponto dos mais antigos da cidade. O Largo São Bento é a confluência do viaduto vindo do Largo Santa Ifigênia, das tradicionalíssimas ruas São Bento, Florêncio de Abreu e Boa Vista. Há poucos quarteirões dali está o Pátio do Colégio, local onde teve início a Cidade de São Paulo.

Tendo superado um problema bastante grave há alguns dias, caminhava eu, abstraído pela beleza histórica daquele ponto da cidade, quando resolvi entrar na igreja do Mosteiro, e sob seu silêncio e benévola quietude, agradecer ao Ser Supremo pela resolução deste problema, que, diga-se de passagem, mereceria uma crônica, tal o inusitado da sua solução.

Enquanto me aproximava do mosteiro, eu pensava sobre a corrente – visível e invisível – da qual fazemos parte e sobre as poderosas engrenagens que são postas em movimento em planos muito além de nosso conhecimento e percepção, quando o desejo é sincero, e a esperança, profunda.

O mosteiro é protegido por uma cerca de ferro baixa, e quando deixei o viaduto, já praticamente ao lado do grande edifício, vi sentado contra a cerca, no chão, a uns trinta metros da porta do templo, um homem pintando qualquer coisa.

Aproximei-me e percebi que ele, distraído, pintava azulejos. À sua frente, uma tampa de caixa de sapatos continha as tintas em difusas misturas cujas nuanças somente ele conseguia distinguir.

Ele untava os dedos com as tintas e, em rápidos toques, as espalhava sobre a alvura de um azulejo. A magia que acontecia então era algo poderoso demais para não ser admirado: o azulejo branco ia rapidamente adquirindo vida, profundidade, perspectiva, cores, alegria e encantamento, ao ponto de ser emocionante ver tal metamorfose.

Sem tirar os olhos do que fazia, o artista murmurou: É fácil de fazer... quer dizer, a técnica, porque a inspiração vem de Deus...”

No alto da torre, o relógio do mosteiro soou uma vez. 15h15min. Olhei para o alto da torre e pensei: “O que você está tentando me mostrar?”

Baixei os olhos e permaneci de pé diante do homem pintando, cada vez mais encantado com a magia que aquele “João Ninguém” produzia.

Depois me agachei, decidido a absorver pelo menos parte de sua incrível técnica, cujo reducionismo e efeitos chegava às raias do absurdo, pelos resultados que apresentava.

Ainda agachado ao seu lado, continuei a acompanhar o artista, sentado no chão empoeirado, em sua criação de extrema beleza.

À medida que pintava, o artista ia me explicando como inventara ele mesmo os “instrumentos” com os quais trabalhava: Um cotonete, feito com palito de churrasco e um simples palito de dentes. Isso era tudo de que dispunha, além dos dedos mágicos.

“Eu uso tinta a óleo” – disse ele – “mas sem óleo, porque custa muito caro.”

Pensei então na quantidade e qualidade de tintas de que disponho para pintar meus quadros, além de um lugar sossegado, silêncio, recolhimento, inúmeros pincéis, etc, etc...

Esquecido do resto do mundo fiquei a observá-lo em silêncio, e ele, observando a atenção com que eu o acompanhava, me perguntou: “O senhor também pinta?”E eu, tentando fazer graça, respondi: “Até ver você trabalhando eu achava que pintava.” O artista permaneceu sério e eu percebi que não estava agradando. Insisti e perguntei quanto ele cobrava para pintar cada azulejo. “Dez reais” - disse ele.

“Ridículo!” – pensei, sem ter noção do que dez reais significavam para aquele homem.

Então eu o observei com mais atenção. Era um sujeito moreno, tez queimada pelo sol, talvez bem mais jovem que os aparentes 40 anos, porque se percebia que a rua judiara bastante dele. Mas, em suas rugas, havia a história de uma vida, onde se podia facilmente ler uma angústia latente. Entretanto foi seu semblante sério que chamou mais minha atenção. Eu não havia visto um resquício de sorriso naquele rosto austero, justamente num homem que estava diante de mim pintando a alegria!

Peguei vinte reais e coloquei sobre suas pernas. “Vou ter que ir adiante resolver alguns assuntos. Volto em cerca de uma hora. Pinte dois azulejos para mim, por favor.”Ele imediatamente me respondeu: “Leve seu dinheiro e pague quando voltar.” Mas eu já havia me levantado e, num aceno, me despedi.

Esse encontro acabou por me atrasar para a tarefa que me trouxera ao centro da cidade, de maneira que resolvi visitar o templo somente em meu retorno ao local.

Cerca de uma hora mais tarde eu estava de volta, e, antes de ir ao artista,entrei no templo do mosteiro disposto muito mais a agradecer do que a pedir.

Embora nascido na fé católica, não sou partidário de religiões. Entro em qualquer templo onde haja paz e honestidade, até porque Deus nunca teve religião. As religiões é que pensam ter Deus. Há muito me norteio pela trova do grande trovador Alfredo de Castro:

Eu creio em Deus com profundo
sentido de lucidez,
mas no Deus que fez o mundo,
não no Deus que o mundo fez!

Assim, agradeci no mais íntimo do meu coração a solução do problema que me afligia, acreditando que essa solução era a palavra final das instâncias superiores. Ingênuo engano. Esqueci que se Deus não tem religião, também não tem templos. Os templos é que pensam ter Deus. Assim, para nos encontrarmos com Ele, não precisamos entrar num templo, basta que estejamos abertos ao encontro. Mas são raros os que, nos dia de hoje, permanecem abertos a isso!

Saí do templo ciente de que havia cumprido minha dívida de gratidão, sem saber que a solução que eu obtivera há alguns dias não veio d’Ele, mas por Seu intermédio, e, principalmente, sem saber que eu não havia aprendido o mais importante: o que motivara a solução. Sem esse conhecimento eu continuaria agradecendo sempre de maneira equivocada.

Ao fim da cerca de ferro voltei a encontrar o artista, que, ao me ver, me recebeu com muita alegria, mas sem um único sorriso, enquanto se punha de pé – “Eu estava esperando pelo senhor. Acabaram-se meus azulejos. Preciso ir embora, mas pintei quatro deles para o senhor.”

Pensei: Pronto! A velha espertalhice de novo! Depois falei, tentando ser educado:“Eu lhe paguei por dois, e são apenas dois que eu quero.” A resposta do homem fez com que me sentisse envergonhado: ”Os outros dois são presente meu ao senhor...”

Vacilei por instantes, tentando descobrir qual era a intenção por trás do ato, mas ele pareceu adivinhar meus pensamentos. “Aceite, por favor. É minha forma de agradecer.”

Neste momento aproximou-se uma senhora, e após informar-se do preço, lhe pediu três pinturas. Ele respondeu: “Desculpe, meus azulejos em branco acabaram, Agora só amanhã...” A mulher insistiu:“E esses quatro aí, no chão, pintados?”Sob meu olhar incrédulo ele falou, apontando para mim:

“São deste senhor”A mulher afastou-se decepcionada.

Um soco no estômago não teria efeito maior sobre mim. “Amigo, você deixou de ganhar vinte reais! Por que fez isso?

Seus olhos negros me olharam intensamente e ele perguntou: “Se eu sorrir, o senhor não vai rir de mim?” “Como assim, rir de você?” “É que meus dentes não são nada bonitos.” “Quem ri é o coração, amigo, não os dentes!” – respondi. “Pensei até que você não sabia sorrir”

Então ele sorriu! Não havia dentes, apenas tocos escurecidos, enegrecidos de uma maneira que eu nunca havia visto. Não eram cáries. Era outra coisa qualquer que não pude identificar. Pensei que talvez fosse uma doença degenerativa da gengiva.

Ele abreviou o sorriso e, novamente sério, respondeu à pergunta que eu, silenciosamente fizera.“O Crack fez isso, e graças a ele,desaprendi a rir.”

Outro soco no estômago. “Você é viciado?”

“Fui, mas há oito anos estou limpo! Não consigo mais nem sentir o cheiro, mas ele vai sempre estar comigo quando eu rir...Aceite, por favor” – insistiu ele, enquanto me entregava os quatro azulejos maravilhosamente pintados, com a tinta ainda fresca, acondicionados num pequeno estojo de plástico azul. “Amigo, eu não posso aceitar. Isto é o seu ganha-pão! Eu lhe pago pelos quatro então.”Ele ficou ainda mais sério.

“Vender por vender eu poderia ter vendido para aquela senhora. Aceite por favor.”

Relutantemente eu aceitei as quatro pinturas, enquanto lhe perguntava. “O que eu fiz para merecer este presente, com tanto sacrifício de sua parte?”

Seus olhos negros, endurecidos pela vida das ruas, marejaram.

“O senhor agacho-se e ficou ao meu lado me vendo pintar. AGACHOU-SE!” – frisou ele -“e ficou à minha altura, ao meu nível, curtindo meus traços, interessado de verdade no meu trabalho! Isso não tem preço! Eu queria ser um artista famoso para lhe dar uma pintura famosa, por ter me tratado como gente. Mas meus quadros valem só dez reais. Não é muito, mas é tudo o que posso oferecer”

Seus olhos faiscavam

“O senhor não tem idéia do que é sentir-se um animal, um enjeitado. E foi um homem já bem velhinho, um presidiário com quem dividi cela, que me mostrou esta técnica de pintura. Ele morreu logo depois. Nunca mais o vi, mas o que ele me ensinou me tirou do crack.”

Um nó na garganta quase me impediu de falar:“É muito difícil sair do crack. Como você conseguiu?”

Ele respondeu: “Não foi exatamente a pintura, mas o fato de ela ter feito com que as pessoas prestassem atenção em mim, e me tratassem como gente. O que me tirou do crack foi aquela palavrinha mágica chamada ‘atenção’. A mesma atenção que o senhor me deu ao se agachar ao meu lado, na rua, em pleno centro da cidade, e dividir comigo esse dom, que nem sei se mereço.”

Retirei do bolso um cartão de visitas e lhe dei, pedindo-lhe que me procurasse, pois que eu iria me empenhar em divulgar sua arte.

Despedimo-nos com um forte aperto de mão, após o qual o artista juntou suas tralhas e desapareceu na multidão que inundava a Rua São Bento.

Os sinos das torres do Mosteiro soaram cinco badaladas. Olhei de novo para o alto da torre e consegui apenas murmurar.

“Obrigado”.

Fonte:
http://www.jbxavier.com.br/visualizar.php?idt=3020522

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 243)

Olhar no Horizonte (desenho a lapis e carvão por J. B. Xavier)

Uma Trova Nacional

A vida é cheia de ardiz,
toda esperança é frustrada;
e a busca de ser feliz
é busca apenas... mas nada.
–CONCEIÇÃO ASSIS/MG–

Uma Trova Potiguar

Minha trova preferida
faz-me feliz e risonho,
resumindo o amor e a vida
no microfilme do sonho.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

1989 - Fortaleza/CE
Tema: DUNA(s) - 5º Lugar.

Deixando tristes lacunas
na vida, curta e fugaz,
os nossos sonhos são dunas
que o vento sopra e desfaz...
–PEDRO ORNELLAS /SP–

Uma Trova de Ademar

Por seu próprio desatino
o homem até se maldiz,
pondo a culpa no destino
por não ter sido feliz!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Se a ti próprio dominares,
- pensa nisso bem a fundo,
serás feliz, porque assim
já venceste meio Mundo! ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

GLOSA:
Eu quero colher na vida...
o que na vida plantei.

MOTE:
A colheita prometida,
eu aceito com prazer,
o que eu fiz por merecer,
Eu quero colher na vida...
Eu não tenho outra saída,
me curvo à suprema lei,
ante, Deus me prostrarei,
no fim dessa estrada estreita,
pois, vou ter como colheita,
o que na vida plantei.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Estrofe do Dia

Ao romper da madrugada
um vento manso desliza,
mais tarde ao sopro da brisa
sai voando a passarada,
uma tocha avermelhada
aparece lentamente
na janela do nascente
saudando o romper da aurora;
no sertão que a gente mora,
mora o coração da gente.
–OTACÍLIO BATISTA/PE–

Soneto do Dia

–DIVENEI BOSELI/SP–
F u g a

Fugindo à solidão, a largos passos,
nos braços da ilusão fui por aí,
fingindo a exatidão com que senti
a túrgida emoção de outros abraços.

Burlando a perdição, feito um saci,
ergui nova paixão sem embaraços,
forjando a frouxidão dos nervos laços
depois da ebulição que consegui.

E gozo em cada corpo, em cada cama,
o autêntico prazer que só quem ama
conhece, e só acontece isso, porque

em cada boca estranha eu bebo um pouco
do fel com que matei, num gesto louco
o louco amor que eu tive por você.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Gildo de Freitas)


– In Memoriam –
Nascimento do trovador repentista gaúcho em 19.6.1919

Dezenove de junho foi o dia
em que nasceu o Rei dos Trovadores
repentistas gaúchos, que sabia
também ser um dos grandes cantadores...

Houve uma trova em que cantou louvores...
Padre Rubens Pilar o desafia
e cantam demonstrando seus pendores
na inteligente e nobre cantoria.

Gildo de Freitas tinha vocação
pra cantar de improviso muitos versos
que fazia com naturalidade...

Onde houver à gaúcha tradição,
recuerdos a lembrar feitos diversos,
seu nome vai viver barbaridade !

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Gildo de Freitas (Livro de Poesias)


FÁBRICA DE SEMENTES DE CEBOLA DE UGO DE FREITAS
(para seu primo Ugo de Freitas)

Meu amigo agricultor
Do clima frio e quente
Pra ti que planta cebola
Te indico esta semente
Porque ele já têm dado
Resultado prea muita gente
Comprem de Ugo de Freitas
Gaúcho honesto e decente

Garanto que o vendedor
Deixa o comprador contente
Foi lá no Herval do Sul
Que nasceu este vivente
Plantador e fazendeiro
É um grosso inteligente
Até garanto por ele
Porque é Freitas e meu parente

Quando plantares de novo
Pois nem esquente a cabeça
E nem aceite a semente
Que um outro lhe ofereça
É melhor ficar rezando
Que Ugo de Freitas apareça
Porque aquela é ó plantar
E depois esperar que cresça

SAUDADE DOS PAGOS

Eu quando vim lá da minha terra
Eu deixei por lá muita recordação
O meu cavalo, por nome Esperança
Que era toda minha estimação
Deixei também um apero completo
Que dava inveja no próprio patrão
Um par de rédeas de couro de pardo
Mala de ponche e dois pelegão

Deixei até uma lavoura plantada
Já tinha dado a primeira capina
Eu deixei tudo, e não quis mais nada
Porque criei raiva de uma china
Eu deixei tudo, mas porém não ligo
Sei que não volto mais pro meu rincão
Tando distante não tem perigo
Que a china abrande o meu coração

Eu trouxe um laço de couro de pardo
Foi que restou da minha profissão
Num entrevero de china bonita
Eu quero dar uma demonstração
Eu qualquer dia eu tomo umas canha
Garro meu laço e caio na farra
Marco a china que tenha picanha
E dou-lhe um pealo velho de cucharra

Eu sou gaúcho, que acompanhei
Todas as voltas que o mundo requer
Meus interesses eu abandonei
E deixei meus pago por causa e mulher
Eu quero dar mai um tiros de laço
Pra ver as volta que meu laço faz
Depois então, eu descanso meu braço
E me assossego, e não pealo mais

MEU CONSELHO

Menina escute estes versos
Neste momento preciso
Da maneira que tu pensas
Terás grandes prejuízo
Tu és muito voluntária
E leviana de juízo
Pode as tristezas do mundo
Acabar com teu sorriso

Nóis os dois batemo um papo
Mais ou menos meia hora
E depois me despedi
De você e fui embora
E tu andas te gavando
Que o Gildo te namora
Passando um fio lá pra casa
Xingando a minha senhora
-Tà loquinha viu, taí o compromisso

Você não faça bobagem
Escuta o que o Gildo diz
Procura um menino novo
Para te fazer feliz
Para minha mulher no mundo
Esta que eu tanto quis
Tu és muito pouca cousa
Pra destruir a matriz
-E aí não dá é querer derrubar uma muralha a sôco

Eu confesso que já tive
Certas camangas por fora
Quando era um homem mais novo
Não com a velhice de agora
E a minha companheira
Me estima e me adora
Não é por causa de ti
Que eu vou mandar ela embora
-Perde essa esperança, não te enche mulher velha

LEVANTE OS OLHOS MENINA

Menina quando eu te vi eu compreendi a tua vida
E notei no teu olhar que tu vive aborrecida
Tu deste algum passo errado hoje vive constrangida
Porém agora é preciso você sentar o juízo
Não viver desiludida

Eu vou te dar um conselho como é que a gente faz
Não vá atrás de promessas de conversas de rapaz
Tu precisa um casamento pra dar prazer pra os teus pais
Menina tu te domina levante os olhos menina
E não procure errar mais

Tu procuras compreender tudo o que o meus verso diz
Ti confessa lá contido de fato este erro eu fiz
Deus te ouve a confissão porque é nosso juiz
Toma isto como prece tu vai ver como aparece
Quem te faça ser feliz

Porém agora é preciso você não fazer loucura
Porque a tristeza só leva a gente pra sepultura
Levante os olhos menina tenha consciência pura
Se livre da vida baixa porque na vida se acha
Aquilo que se procura

INFÂNCIA POBRE

-Eu fui um menino pobre, vivi jogado ao relento
Nos dias de inverno forte foi grande meu sofrimento
Maloca de papelão era ali a nossa fazenda
Esse trecho eu não esqueço por ser um triste começo
De um grande padecimento. E por princípio tiveram uma decaída
Por ciúme de amores caíram na bebida
E até nossa casinha, que por desgraça foi vendida
Botaram fora o dinheiro e ficamos no desespero
Sem a casa e sem comida

E foi assim minha gente que eu neste mundo nasci
Redobrou meu sofrimento depois que meus pais perdi
Se não fosse o meu padrinho que eu mais tarde descobri
Era certo que eu morria porque eu não resistia
Mais do que eu resisti

Eu hoje fui pra conversa de quem conhece a matéria
Minha mãe casou direito era uma senhora séria
O papai trabalhador que não gozava uma féria
Depois de um triste abandono, que nem cachorro sem dono
Morreram os dois na miséria

Eu hoje, graças a Deus, sou a mim que me governo
Só não desfrutei carinho nem paterno, nem materno
Se eu fosse enfraquecido que nem o moço moderno
Dominado pelo fumo eu jamais achava o rumo
Nem saía do inferno

Pra criança sem morada sempre existe um forrinho
Se dá uma roupa usada, uma calça, um sapatinho
Eu falo porque já fui um menino pobrezinho
Filho de um pobre casal sem apoio, sem moral
Sem fortuna e sem carinho

TRISTE PASSADO

Quem tu eras e hoje quem és
Quem te viu conforme eu te vi
Cercadinha de bons coronéis
Que brigavam por causa de ti
No salão aonde tu dançava
Sempre foste a mais preferida
E aquele que tu desprezava
Ele muito sofreu por ti nesta vida

Ah! O orgulho te estraga
Neste mundo se faz
E aqui mesmo se paga.

Muitos deles deixaram a família
Arrodiados de teus falsos carinhos
Hoje vivem assim que nem tu
Tristonho no mundo e sofrendo sozinho
E aquele das horas tristozas
Casou por contrato e desfruta do carinho
E vive nadando em vasos de rosas
Enquanto tu cruzas na estrada de espinho

Ah! O orgulho te estraga
Neste mundo se faz
E aqui mesmo se paga.

Cadê a beleza que tinhas no rosto
E o sorriso que tinhas na bocaLink
Trocou tudo por tanto desgosto
E vive na rua assim como louca
Trocaste a alegria por tanta tristeza
E ele a tristeza por tanta alegria
E não lhe fez falta a tua beleza
Ele é muito feliz sem a tua companhia

Ah! O orgulho te estraga
Neste mundo se faz
E aqui mesmo se paga

Gildo de Freitas (1919 - 1982)


Gildo de Freitas (Porto Alegre, 19 de junho de 1919 — Porto Alegre, 4 de dezembro de 1982), nome artístico do cantor e compositor brasileiro Leovegildo José de Freitas.

Possuia um estilo muito próximo ao do também tradicionalista Teixeirinha, com quem, apesar de algumas divergências, por vezes fez parcerias e rivalizava em popularidade.

1919 - Nasce em Porto Alegre, no bairro Passo D'Areia.
1931 - Gildo foge de casa pela primeira vez, aos 12 anos.
1937 - É tido como desertor, por não ter se apresentado à convocação militar. Envolve-se na primeira briga séria, onde morre um jovem amigo. Primeira prisão. Cria ódio da polícia.
1941 - Casamento com dona Carminha. Passa a ter morada fixa no bairro de Niterói, em Canoas, grande Porto Alegre. Continuam os contratempos com a polícia.
1944 - Nasce o primeiro filho depois de dois perdidos. Gildo começa a viajar bastante e a ser reconhecido como trovador. A polícia mantém-se em cima.
1949 - Trovador com fama ascendente em todo o Rio Grande do Sul, desaparece de casa e reaparece na fronteira gaúcha. Em longa temporada passada no Alegrete, mal consegue caminhar, com problema de paralisia nas pernas.
1950/51 - Em São Borja, conhece Getúlio Vargas e entra em sua campanha política. Param as perseguições policiais. Primeira viagem ao Rio de Janeiro.
1953/54 - Faz fama como trovador nos programas de rádio ao vivo em Porto Alegre. Volta à viver no bairro Passo d'Areia com a família.
1955 - Encontro e identificação como Teixeirinha. Muitas viagens. Mudança para o bairro Passo do Feijó e abertura do primeiro bolicho.
1956/60 - Torna-se a maior atração do programa Grande Rodeio Coringa, nos domingos à noite. Mais viagens com Teixeirinha.
1961/62 - Declínio dos programas de rádio ao vivo, televisão começando. Gildo resolve largar de mão a "cantoria" e inventa de criar porcos.
1963 - Viagem a São Paulo para gravar o primeiro disco.
1964 - É lançado o primeiro LP. Em meados do ano é "convidado" a prestar depoimento sobre suas ligações com o trabalhismo.
1965 - Início da célebre disputa com Teixeirinha através dos discos. Jango o convida para viver no Uruguai e ele não aceita.
1970/77 - Várias internações em hospitais, sucesso popular das gravações, muitas viagens. A "briga" com Teixeirinha chega ao auge. Mudança para Viamão.
1978 - Inaugura em Viamão a Churrascaria Gildo de Freitas e dá início aos bailões.
1982 - Grava o último disco, para a mesma gravadora dos outros todos, a Continental.
1982 - Última internação em hospital, últimas aparições públicas em programas de televisão. Morte em 4 de dezembro.

4 de Dezembro foi instituído como Dia Estadual do Poeta Repentista Gaúcho no Rio Grande do Sul, pela Lei Estadual RS 8.819/89.

Fonte:
Fonseca, Juarez. Gildo de Freitas. Porto Alegre, RS: Editora Tchê, 1985. in Coleção Esses Gaúchos.

II Prêmio Clube de Autores de Literatura Contemporânea! (Finalistas da Fase I)


Sai a lista de finalistas da fase 1 do II Prêmio Clube de Autores de Literatura Contemporânea!

Após 1 mês de competição, com 622 obras inscritas – 50% a mais do que na primeira edição – e 5.147 votos confirmados, chega ao fim a primeira fase do II Prêmio Clube de Autores de Literatura Contemporânea!

Nesta fase, totalmente baseada em voto popular, 10 livros foram selecionados como finalistas e passarão agora para avaliação de um corpo de jurados do Clube de Autores, que deliberará sobre aspectos como capacidade de prender atenção, facilidade de entendimento, encadeamento de ideias e frases e originalidade.

Os finalistas são (em ordem alfabética):


- A Força das Tradições e Outras Histórias, de Sergílio da Uspecéia
Livro premiado- menção honrosa - no 16° Programa Nascente - USP em 2007. "A força das tradições e outras histórias reúne contos dispostos sob a ótica do humor. Diálogos ao telefone, os não-heróis da periferia, o bate-boca entre um escritor e seu texto, a visita de Deus a uma agência da previdência social, compõem o cardápio oferecido ao leitor... Em alguns momentos, o título desproporcional amplifica o sentido do conto diminuto. O autor já publicou poesia e contos em coletâneas e livretos de concursos literários É também blogueiro (http://trovasecia.blogspot.com) e trovador premiado em vários concursos nacionais.

Sergílio da Uspecéia
Sérgio Ferreira da Silva Bacharel em Direito - Graduando em Letras na USP.

Prêmios mais importantes:
Revelação em 1997 UBT/SP
- 1° lugar no Confr. de Trovadores Paulistas 2000 UBT-Santos/SP
– Magnífico Trovador (Título Honorífico) nas categorias Lír./Filos. e Humor 2002 Nova Friburgo/RJ
- 1° Lugar Concurso Intersedes (Trovas) R. de Janeiro/RJ 2003
- 1º lugar Conc. Nac. de Contos do SESC Santo Amaro/SP Adulto Jovem em 2003
- 1° lugar Concurso Ribeirão das Letras Rib. Preto/SP Trova (2004)

– PUBLICAÇÕES:
Coletânea
“RIO GRANDE TROVADOR” (Trovador convidado) em 2003 - Ame Nova Friburgo –
CELEBRIDADES – com Sérgio Madureira e Girlan Guilland (Convidado) Edições 2005 a 2008 –
Evangelho de Trovas 2, Segundo Trovadores da UBT em 2005 Coletânea (20 Trovadores do Brasil) –
Livretos de trovas publicados em todo o Brasil, desde 1997 –
Revista "Originais Reprovados" USP em 2006 –
Revista Áporo nºs. 1, 2 e 3 (2007 a 2009) Poema, Hist. em Quadrinhos e Conto –
Livro da Tribo Edições 2008/2009 e 2009/2010 (Trovas e Texto) –
Menção Honrosa no 16º Programa Nascente USP 2007 com "A força das tradições e Outras Histórias" –
Pão e Poesia 2009/2010 Minas Gerais (Trova e Soneto)


- Cabra Cega, de Sheila Ribeiro Mendonça
Clara e Gustavo se conhecem, em um Clube de Curitiba, quando ela estava pensando em viajar, antes de começar a fazer faculdade, e então se apaixonam e casam, assim, a vida de Clara muda rapidamente. E literalmente a mudança é radical, pois Gustavo se revela um homem agressivo, ciumento, possessivo, violento, ardiloso e perspicaz, com isso transformando a vida dela numa constante surpresa e esconde-esconde. Não somente de comportamentos como também de cidades. Com o intuito de não criar laços com ninguém e, principalmente, de não deixar que a família de Clara saiba onde ela está, você vai acompanhar Cabra Cega sem ter a certeza de até quando aquela cidade fará parte dos planos de Gustavo. Em Cabra Cega acompanhamos os escondidos.

Sheila Ribeiro Mendonça

Sou jornalista e escolhi esta profissão por conta da minha enorme paixão pela escrita. Tudo, desde pequena, me inspira, claro que com o passar dos anos fui evoluindo com as palavras e sensações.

E foi assim que no início da idade adulta escrevi o meu primeiro romance.

Cabra Cega é pura ficção, embora, algumas pessoas possam se ver na história, mas a intenção da obra é somente fictícia.

A escrita, definitivamente, é o ar que eu respiro. Algo que me move, e muitas vezes é até maior do que eu mesma, assim fazendo com que, em qualquer lugar e situação que eu me encontre, pegue um papel e caneta, e deixe a inspiração que chega fluir em palavras, e sem a pretensão de transformar num texto perfeito, apenas escrevo e sinto um enorme prazer com isso.

Escrevo simplesmente com o coração, e com a inspiração que Deus me dá, e é assim que escrevi este romance na certeza de que sigo no caminho da arte de escrever.

Cabra Cega ficou guardado na gaveta por muitos anos, mas será o primeiro de muitos outros que virão.


- Catholica Poetica, de Jessica Bittencourt

Presente para a humanidade

Seus olhos acinzentados
Com expressões variadas e fora do vulgar
Por ti ficamos encantados
Jesus, como é bom te amar
Cabelos cor de avelã, rosto rosado.
E alegre na seriedade
Tu és belo e iluminado
Presente de Deus para a humanidade
Toda honra e toda glória
É para ti Jesus
Contigo sempre alcançamos a vitória
Salvou-nos do mal para descobrirmos a luz
Queria te abraçar
Quando o coração doer
E quiser chorar
Sei que as lágrimas não iriam mais escorrer
Jesus, presente para a humanidade.
Possui grande sabedoria insubstituível amor
Pois através de ti Deus mostra a verdade
O remédio de toda dor

Jessica Bittencourt nasceu no dia 27 de setembro de 1991. Desde de pequena ama o teatro, mas começou em 2008 numa peça chamada Rei Ubu de Alfredy Jerry. Com 16 anos descobriu o amor pela poesia e com 18 anos terminou seu primeiro romance: Romance sob Poesias. Já participou de duas antologias: Antologia Páginas Vázias e Declaração de amor á poesia.

Acredita que para escrever é necessário aproveitar todos os sentimentos, fases e momentos, mas sua inspiração maior é nos moemntos de angústias e tristezas. "É necessário deixar as lágrimas caírem no papel como um desabafo poético".


- Contoscionismo, de Osvaldo Magalhães
O livro, Contoscionismo: Contos, Crônicas e Poesias é uma coletânea de textos que vão de contos sobre um policial enfrentando traficantes na fronteira entre Brasil e Bolívia, passando por crônicas sobre um velório e poesias cômicas. A leitura é fácil e gostosa, sendo uma ótima opção para quem gosta de textos diversificados.

Osvaldo Magalhães nasceu e mora no Gama (DF) e é autor de contos, crônicas e poesias, com temas históricos e contemporâneos, sarcásticos, críticos e cômicos.



- Fogo Vermelho, de Drica Bitarello
Normandia, 1190

Um anjo do Senhor estendera a mão a al-Ahmar, o Demônio Vermelho. Curara suas feridas e agora, ameaçava roubar de vez seu coração.

Voltar para casa nem sempre é um bom negócio...

Radegund amaldiçoou o dia em que se deixou ser convencida por Mark a voltar para sua terra natal. Principalmente no momento em que teve uma flecha cravada em suas costas. Mas, ao acordar numa abadia e dar de cara com um anjo de olhos azuis da cor do céu, ela começou a pensar que realmente estivesse ficando louca. Afinal, mesmo que já tivesse uma extensa lista de pecados pesando sobre suas costas, se juntasse a eles a sedução de um monge cisterciense, nem mesmo o inferno a aceitaria.

É sempre difícil deixar o passado para trás...

Quando uma estranha dupla passou pelos portões da abadia, em busca de socorro, todas as convicções de frei Luc foram lançadas por terra. Seu olhar se perdeu nos olhos mais tristes que ele já vira, e seu coração foi definitivamente roubado pelo Demônio Vermelho.

Lar era algo perdido para sempre...

Para Mark, a vida fora mais do que generosa ao lhe dar a amizade de Radegund. E agora, por causa dela, a mesma vida lhe dava a chance de desvendar seu passado. Mas, para isso, ele teria que abrir mão de algo que jamais tivera. Amor.

Drica Bitarello
Escritora compulsiva, leitora voraz, geek, antenada, descolada, viciada em café extra-forte-extra-quente-extra-grande. Tem um fraco por Absolut Vanilla, é groupie do Marco Hietala, padece de uma estranha compulsão por sapatos (que provavelmente se deve a algum tipo de transmigração temporária de personalidade entre ela e Imelda Marcos) e sofre de crises de abstinência quando passa muito tempo sem entrar numa livraria. Seu maior desejo é de que a cirurgia que emagrece continuamente o Faustão um dia o faça sumir de vez.


- Memórias do Inferno Brasileiro, de Valdeck Almeida de Jesus
“Na casa de Dona Dete e seu Chico a gente morria de rir. A dona da casa e o marido, toda vez que viam os atores Tony Ramos e Elisabete Savala ficavam falando: “André Cajarana e Carina estão tão diferentes...”, se reportando aos personagens vividos na novela Pai Herói por aqueles atores. Dona Dete e Seu Chico não conseguiam separar a realidade da ficção e faziam a maior confusão entre a vida dos atores e os vários personagens vividos por eles durante as novelas”.
(Trecho do livro)

Biografia em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/valdeck-almeida-de-jesus-1966.html


- O Pastor, de Fernando de Abreu
O bem e o mal habitando o mesmo corpo. O pecador e o santo, a mesma pessoa. O líder espiritual de uma grande organização religiosa se vê envolvido em um escândalo sexual que pode afastá-lo do controle da sua congregação, precisamente no momento em que descobre uma gigantesca fraude nas contas da Igreja. Buscando manter-se no controle da situação acaba suspeito de uma série de assassinatos que vai eliminando, um a um, todos os envolvidos no desfalque milionário. Um policial obstinado, no entanto, resolve investigar a fundo não apenas aquelas mortes violentas e misteriosas, mas todo o passado daqueles homens santos e pecadores, descobrindo mais do que deveria, numa trama surpreendente. Quem tiver pecado leia a primeira página!

Fernando de Abreu Barreto

Advogado e escritor, nascido no Rio de Janeiro em 1976. Divide seu tempo entre os Tribunais e as páginas dos livros em que derrama suas expectativas e frustrações com o mundo do Direito, criando um universo particular de leis, crimes, investigações e Justiça onde tudo funciona mais ou menos da forma como não deveria ser. Publicou pelo Clube de Autores dois romances policiais.

Possui dois blogs: um para divulgação do seu primeiro romance, outro com dicas e críticas literárias.


- Princesa de Gelo, de Thayane Gaspar Jorge
Eu não tenho coração. Acredite, é verdade. Até mesmo em momentos em que a adrenalina prevaleceu em meu sangue fazendo com que ele trabalhasse mais rápido. Eu deveria ouvi-lo bater ou ao menos senti-lo, mas é como se ele não fizesse mais nada além de pulsar. Não pulsar vida, mas apenas sangue para que o meu corpo , ligado a minha alma sempre mórbida, continue respirando. Feitiço. Magia.Encanto. Poções. Bruxaria. Não, apenas meu coração e sua simplória e podre maldição.






- Rastreabilidade Aspectual, de Ivan Claus Magalhães Weudes de Lima
Esse livro aborda várias questões que se apresentam para a realização da rastreabilidade dos requisitos de software. É detalhado um modelo de rastreabilidade de requisitos de software que incorpora elementos de rastreabilidade aspectuais baseado na técnica de casos de uso. São apresentados o modelo e a estratégia de rastreamento dos requisitos de software em ambientes de desenvolvimento orientado a aspectos. Ainda são discutidas as transformações necessárias para a elaboração de um modelo de rastreabilidade aspectual, além da concepção de um modelo conceitual preliminar de um repositório dos elementos de rastreabilidade. Apresenta-se, também, como ilustração, um exemplo de uso do modelo proposto.


- Versos ao Vento, de Jessica Bittencourt
Uma coletânea de poesias, divididas em dois capítulos: Amor e sentimentos e Cotidiano com sentimentos, na qual retrata o cotidiano, pessoas, seus sentimentos, sociedade, exemplo disso é a poesia Compulsão Maligna envolvendo o assunto da bulimia:

(...) O organismo com o tempo é desgastado
Órgãos internos parando de funcionar
O que é consumido não é aproveitado
O corpo já não consegue se alimentar (...)

Sociedade opressora também diz sobre a situação do homem na sociedade moderna:

(...) Ainda há lágrimas escorrendo
Lágrimas de sangue e medo do mal
Da carne que está se desfazendo
Substituindo por parafusos e metal (...)

Sobre a questão dos transgênicos, na época em que algumas pessoas foram contra e outros não. O título Amizade é referente á participação de sua amiga Juliana Suguimoto com algumas poesias.
======================
Todos as obras da lista acima permanecerão no site com um selo nos seus livros, apontando-os como finalistas do Prêmio, mesmo após o seu término.

Gostaríamos de dar os mais sinceros parabéns tanto às 10 obras selecionadas quanto a todos os participantes – afinal, estar presente em prêmios literários como esse é um passo fundamental na carreira de todos os escritores independentes.

Quem quiser saber a sua colocação exata, basta entrar em contato com atendimento@clubedeautores.com.br

Agora, é esperar o resultado no dia 24 de junho!

Fontes:
Pedro Ornellas
http://clubedeautores.com.br/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 242)


Uma Trova Nacional

Sabendo o que sei agora,
pudesse voltar atrás,
voltaria sem demora
aos meus tempos de rapaz.
–ZÉ REINALDO/AL–

Uma Trova Potiguar

Já ando quase às escoras,
cansado e muito nervoso,
pois foi na dança das horas
que o tempo me fez idoso.
–ZÉ DE SOUZA/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: ENCANTO - M/H

Saudosismo, este legado,
que o tempo deixou-me a esmo,
guarda o encanto do passado,
em saudades de mim mesmo.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

Tudo o que me fez contente
e o tempo ingrato desfez;
busco as lembranças na mente
e vivo tudo outra vez...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Tão linda a estrela cadente
quando risca o firmamento!
Mas lembra a vida da gente
que se apaga num momento.
–JOÃO PEREIRA DA SILVA/MG–

Simplesmente Poesia

MOTE:
Quem tanto cantou saudade,
deixou saudade na gente.

GLOSA:
Tristeza em toda cidade,
choram nobres e plebeus
pois se foi sem dar adeus
quem tanto cantou saudade.
Em busca da eternidade
resolveu partir na frente,
foi seu último repente,
sua única derrota,
Grande Mestre Chico Mota
deixou saudade na gente.
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Estrofe do Dia

Pra retratar o sertão
em sete versos apenas,
mergulho na natureza
busco inspirações serenas
e qual um grande pintor
para a obra ter mais valor,
crio minhas próprias cenas!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–SERGIO AUGUSTO SEVERO/RN–
Soneto

Vou lhes dizer num Soneto,
o que falei num Cordel:
-Em Natal, estou no Céu,
pois Natal é meu "coreto"!

"Sou um cabra "Zona-Norte",
não me acostumo com o luxo,
Tomo Cana, como bucho,
e sei "andar de transporte".

Cresci na Cidade-Alta,
mas nunca fui da Ribalta,
sou do capim, sou da grama...

sou do Alecrim, do Areal,
sou das Dunas de Natal...
EU SOU DO BECO-DA-LAMA!!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (Caçadas de Pedrinho) III - Os habitantes da mata se assustam


As cenas da caçada da onça haviam sido presenciadas por muitos animaizinhos selvagens, entre eles um intrometidíssimo sagüi. Ficou tão admirado da proeza dos meninos que levou longo tempo a piscar muito depressa — sinal de que estava pensando alguma idéia de sagüi. Por fim resolveu-se e, pulando de galho em galho, foi em busca duma capivara que morava perto, na beira do rio.

— Sabe, Dona Capivara, o que aconteceu à onça da Toca Fria? Morreu... — disse ele, fazendo uma carinha muito assustada.

— Morreu de quê, sagüi? — indagou a capivara. — De morte morrida ou de morte matada?

— De morte matadíssima. Os meninos do sítio de Dona Benta mataram-na a tiros e facadas e espetadas, e depois a arrastaram com cipós até lá, ao terreiro.

E contou por miúdo toda a cena a que havia assistido. A capivara abriu a boca. Aquela onça era o terror de todos os bichos da redondeza, graças à sua força e ferocidade. Por várias vezes os caçadores das terras vizinhas haviam organizado batidas a fim de dar cabo dela, sem nenhum resultado. A onça escapava sempre. Como, então, fora vítima dos netos de Dona Benta, simples crianças? Era espantoso, não havia dúvida. E se essas crianças haviam matado a onça dominadora da mata, com muito maior facilidade matariam a qualquer outro filho das selvas, fosse veado, paca, tatu ou mesmo capivara.

— A situação é bastante grave — disse, por fim, o animalão, depois de muito pensar e repensar. — Vejo que esses meninos constituem um grande perigo para nós aqui. Vou reunir uma assembléia de todos os bichos, para discutirmos o caso e tomarmos as medidas necessárias à nossa segurança.

Ia passando pelo céu azul um gavião perseguindo dois bem-te-vis. A capivara chamou-os.

— Parem com essa eterna briga e venham ouvir o que tenho a dizer. A situação de todos os viventes da floresta é muito séria.

Quando a vida dos animais selvagens se vê ameaçada de perigo geral, as velhas rivalidades cessam. A jaguatirica deixa de perseguir as lebres. A lontra esquece a fome e pode até conversar amavelmente com os peixes de que se alimenta. O cachorro-do-mato passa perto do porco-espinho sem que este erice as agulhas. Assim, ao ouvirem as palavras da capivara, tanto o gavião como os bem-te-vis esqueceram a briga e vieram sentar-se diante dela, um ao lado do outro, como se nada tivesse havido entre eles.

— Os meninos de Dona Benta mataram a onça da Toca Fria — começou a capivara. — Ora, se mataram a onça, que era a rainha da floresta, o mesmo farão, com a maior facilidade, a qualquer outro bicho menos forte do que a onça. Estamos pois com as nossas vidas ameaçadas de grande perigo e temos de tomar providências. Por isso quero convocar uma reunião de todos os animais. Vocês, que voam, sejam meus mensageiros.
Voem sobre a mata e avisem a todos para que estejam aqui reunidos, amanhã à noitinha, debaixo da Figueira-Brava.

O gavião e os bem-te-vis obedeceram. Voaram de árvore em árvore, dando uns pios que significavam reunião geral na Figueira-Brava no dia seguinte.

Essa figueira parecia ter mil anos de idade. Era a maior árvore da zona. Em seu tronco o tempo abrira um enorme oco, no qual dez homens poderiam abrigar-se perfeitamente. Erva nenhuma crescia debaixo dela, porque as ervas não crescem onde não bate sol e ali havia séculos que não batia um raio de sol.

No dia seguinte, à tarde, os animais foram chegando. Vieram as pacas, tão medrosinhas; vieram os veados ariscos; as antas pesadonas; os quatis sempre alegres e brincalhões; os cachorros-do-mato e as irarás de olhar duro; as jaguatiricas de movimentos macios. Vieram os tatus encapotados em suas cascas rijas; as lontras embrulhadas em suas capas de pele macia como o veludo; as preás assustadinhas. Também vieram cobras — as jibóias enormes que engolem um bezerro taludo; as cascavéis de guizos na ponta da cauda; as lindas corais-vermelhas; as muçuranas que se alimentam de cobras venenosas sem que nada lhes aconteça. E sapos — desde o sapo-ferreiro, cujo coaxo lembra marteladas em bigorna, até a pequenina perereca, que vive pererecando pelo mundo. E aves, desde o negro urubu fedorento, até essa jóia de asas que se chama beija-flor. E ainda insetos — borboletas de todos os desenhos e cores, besouros de todas as cascas, serra-paus de todas as serras. E joaninhas e louva-a-deus e carrapatos...

Os macacos empoleiraram-se nos galhos da figueira e no rebordo inferior do oco. Enquanto esperavam, divertiam-se fazendo cabriolas das mais complicadas, e caretas.

Logo que os viu reunidos, a capivara tomou a palavra e expôs a situação perigosa em que se achavam todos.

— Quem faz um cesto faz um cento — disse ela. — O fato de terem matado a onça vai encher de coragem esses meninos e fazê-los repetir suas entradas nesta floresta a fim de nos caçar a todos. O caso é bastante sério.

— Peço a palavra! — gritou o bugio, que estava de cabeça para baixo, seguro pelo rabo no seu galho. — Acho que o melhor meio de vocês escaparem à fúria desses meninos é fazerem como nós fazemos: morar em árvores. Quem mora em árvores está livre de todos os perigos do chão.

— Imbecil! — resmungou a capivara, furiosa de tamanha asneira. — Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens. Esta reunião foi convocada para discutir-se a sério, visto que o caso é muito sério. Quem tiver uma idéia mais decente que a deste idiota pendurado, que tome a palavra e fale.

Um jabuti adiantou-se e disse:

— O meio que vejo é mudar-nos para outras terras

— Que terras? — replicou a capivara. — Não há mais terras habitáveis neste país. Os homens andam a destruir todas as matas, a queimá-las, a reduzi-las a pastagens para bois e vacas. No meu tempo de menina podíamos caminhar cem dias e cem noites sem ver o fim da floresta. Agora, quem caminha dois dias para qualquer lado que seja dá com o fim da mata. Os homens estragaram este país. A idéia do jabuti não vale grande coisa. Impossível mudar-nos, porque não temos para onde ir.

— Amor com amor se paga — disse uma jaguatirica. Matando a nossa rainha esses meninos nos declararam guerra. Paguemos na mesma moeda. Declaremos guerra a eles. Reunamos todos os animais de dentes agudos e garras afiadas para um assalto ao sítio de Dona Benta.

A capivara ficou pensativa. Isso de assaltar um sítio era realmente coisa que só onças e jaguatiricas podiam fazer, porque são animais guerreiros.

— Sim — disse a capivara —:, a idéia não me parece de todo má, mas semelhante guerra só poderá ser feita por vocês, onças, ajudadas pelos cachorros-do-mato e irarás. Eu, por exemplo, e também as pacas e veados e lontras e borboletas e serra-paus e carrapatos, não entendemos nada de guerra.

— Pois que fique a luta a nosso cargo — disse a jaguatirica. — Encarregar-me-ei de reunir todas as onças e jaguatiricas e cachorros-do-mato e irarás da floresta para um ataque ao sítio de Dona Benta. Havemos de vencer aqueles meninos e comer a todos da casa — inclusive as duas velhas.

A assembléia aprovou a lembrança. “Muito bem!”, pensaram os animais. As onças fariam a guerra. Se vencessem, a bicharia inteira das selvas estaria salva de novas incursões dos meninos. Se não vencessem, a vingança deles iria recair sobre as onças, não sobre os outros. Ótimo!

— Está aprovada a idéia — disse a capivara. — A Senhora Jaguatirica encarregar-se-á de falar com as suas companheiras, com as onças grandes, as irarás e cachorros-do-mato, combinando do melhor modo os planos estratégicos. E nós, animais pacíficos, comedores de ervas, ficaremos de lado, ajudando os guerreiros com as nossas “torcidas”.

A assembléia dissolveu-se. Cada qual foi para sua casa, enquanto a jaguatirica disparava em procura das companheiras a fim de combinar os meios de conduzir a guerra.
----------------------
continua ... IV – Os espiões da Emília
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho/Hans Staden. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. III. Digitalização e Revisão: Arlindo_San

sábado, 18 de junho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 241)


Uma Trova Nacional

Saudoso, namoro a Lua
e sinto, por seu feitiço,
que o nosso amor continua,
embora nem saibas disso!
–João Freire Filho/RJ–

Uma Trova Potiguar

Dois bem-te-vis namoravam
num fio da Telemar,
“indoutos” – mas praticavam
sem erros o verbo amar.
–SEVERINO CAMPÊLO/RN–

Uma Trova Premiada

1985 - Tambaú/SP
Tema: SEGREDO - M/H.

As juras dos namorados,
querendo a noite retê-las,
fez dos segredos guardados
todo o seu manto de estrelas.
–CIDOCA DA SILVA VELHO/SP–

Uma Trova de Ademar

No dia dos namorados,
quero, num desejo nosso,
correr os dois abraçados,
mas de muletas... Não posso!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

O beijo de namorado,
mesmo escondido, é sublime:
- Um pequenino pecado
que mil pecados redime...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

– CARMEN OTTAIANO/SP –
Dia dos Namorados

Nossa mesa arrumada, a te esperar,
Era um brinde de amor e de beleza
À luz do teu olhar, lanterna acesa
Na minha longa noite de pesar.

A lua na janela, a me espreitar
Nesta espera vestida de incerteza,
Procura me dizer, com sutileza,
Que fantasmas não vêm para o jantar...

Talvez na estrela onde ele foi morar,
Por mais que desejasse, com certeza,
Não teve permissão para voltar.

Eu retorno ao convívio da tristeza,
O sol já vem nascendo devagar,
E, lentamente, vou tirando a mesa...

Estrofe do Dia

Eu peço a Deus neste dia
que me mande inspiração
pra eu fazer uma poesia
que fale ao seu coração.
Falo baixinho aos ouvidos
daqueles velhos maridos
eternos apaixonados...
tenha a idade que tiver...
dê um beijo na mulher
no dia dos namorados!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–GUILHERME DE ALMEIDA/SP–
Amor, Felicidade...

Infeliz de quem passa pelo mundo,
procurando no amor felicidade;
a mais linda ilusão dura um segundo,
e dura a vida inteira uma saudade.

Taça repleta, o amor, no mais profundo
íntimo, esconde as jóias da verdade:
só depois de vazia mostra o fundo,
só depois de embriagar a mocidade...

Ah! quanto namorado descontente,
escutando a palavra confidente
que o coração murmura e a voz não diz,

percebe que, afinal, por seu pecado,
tanto lhe falta para ser amado,
quanto lhe basta para ser feliz!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

José Faria Nunes (O Carneirinho do Presépio)


O menino observa as pessoas que saem e volta-se para o presépio. Examina-o com interesse. Na missa ouviu que o reino dos céus é das crianças. Tempestade mental. Se é das crianças o céu e viver no céu é ser feliz então a felicidade é das crianças.

Olha o presépio. O boi. O carneirinho. Os astrônomos que foram chamados reis - os reis magos. A estrela. Tudo bonito. Tudo. Enamora-se. Bem que queria um desses. O carneirinho. Só o carneirinho. O Menino Jesus, esse não. Tem que ficar no presépio. Presépio sem Menino Jesus não é presépio de mesmo. O carneirinho, esse sim. Há outros no presépio.Não tivera natal em casa. Nunca. Não conhece Papai Noel. Será que Papai Noel me conhece? Sabe de minha existência? Em sua frente o carneirinho cresce, apequena, atrai. Por que o padre falou que o céu é das crianças?

Não ganhou brinquedo e quer o carneirinho. Será pecado? O que é pecado? Para que pecado? Se é verdade que Deus ama a gente por que ele deixou a cobra dar a maçã para Eva, e Eva para Adão, para depois todo mundo ter pecado?

Ele quer o carneirinho.

Todos já se foram. Ninguém vê. O Cristo, crucificado, parece dormir de cansaço e de dor na cruz, na parede, lá atrás do altar. Parece não importar com nada ali na igreja. Coitadinho de Cristo. Sofreu muito. Mas por que, se ele é Deus? Ou ele é apenas o Filho de Deus? Se é filho não é pai e se Deus é pai não é filho?! Coitadinho de Cristo! O padre falou que Cristo sofreu para o perdão dos pecados. Não sei não. Acho que Cristo não sofreu por mim não. Papai Noel não me conhece. Será que Cristo me conhece?!

Esfrega as mãos, nervoso. A decisão. Ergue o braço mas o gesto fica suspenso no ar com a chegada do vigário que vem fechar a igreja. Para disfarçar a intenção limpa com o dedinho o espelho que forma o lago nas proximidades da gruta de Belém. Por que presépio em forma de gruta? Cristo nasceu não foi num ranchinho, na estrebaria, casa de animais?

— O Sinhore vai fechá a igreja? — Pergunta ao padre que fecha a primeira porta.

— Estou fechando. — Responde o padre, em seu sotaque de estrangeiro, não com aquele carinho com que falou na missa da meia-noite.

— O presepe tá bunito, né? - Insiste o menino tentando coragem para pedir o carneirinho.

— Você acha? - O padre fala indiferente e o menino entende que o vigário não está interessado naquele diálogo, quase monólogo.

— Acho. —Termina o menino, desconcertado, infeliz. Percebe que de nada adiantará insistir. Não vai ganhar o presente.

Absorto nos sonhos fica a olhar o presépio sem nada ver. “Como eu queria um carneirinho desse!” E o vigário o acorda para a realidade:

— Vamos embora, dormir?

— Vamo. — Volta-se e ainda dirige um último olhar para o carneirinho do presépio, um ente querido que talvez jamais voltará a ver. O padre fecha a última porta e se vai.

O menino, agora com medo, corre debaixo da madrugada em direção ao aconchego que o espera debaixo da ponte, onde se juntará aos pais e aos cinco irmãos menores. Dormem. Não vêem a fome, não sente nenhum desejo. Enquanto dormem os sentidos nada reclamam. Ele sonha com o presente de natal que não ganhou: o carneirinho do presépio.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Conto publicado na Antologia de Contos de Autores Contemporâneos - vol.7

José Tavares de Lima (Vozes do Coração) Parte III


Água é donzela carente,
tanto que até faz desvio
para mais rapidamente
cair nos braços de rio!

Ao ver na rua um menino
sem rumo, sem lar, sem pão,
não lamento o seu destino...
lamento a nossa omissão!

Beleza em meu pressuposto
é mais um detalhe vão,
quando é presença no rosto
e ausência no coração! ...

Entre outras mãos eu bendigo
aquela que, humildemente,
cava a terra e planta o trigo
que mata a fome da gente!

Faze do bem exercício...
Pois, penosa aos olhos teus,
a renúncia é sacrifício
que nos põe perto de Deus !...

Ficou como exemplo ao mundo
que o amor vence os desatinos,
o perdão de um moribundo
para os próprios assassinos!...

Lembrando os tempos risonhos,
vejo com desgosto infindo,
que os meus coloridos sonhos
estão se descolorindo!

Manhã tristonha. Chovia.
Ias partir.. Desencanto...
E o pranto da chuva fria
se misturava ao meu pranto!...

Mar, nas tuas águas mansas
que embravecem de repente,
eu descubro semelhanças
com o destino da gente! ...

Mostrando que no teu peito
pulsa um nobre coração,
paga o mal que te foi feito
com moedas de perdão...

Na serenata dos sós
o meu canto é tão sentido,
que quem ouve a minha voz
supõe ouvir um gemido!...

Natal!... Que o toque dos sinos
traga alegrias também
para aqueles pequeninos
que são filhos de ninguém !...

Na vida não queiras ter
só momentos de alegria;
repara que o amanhecer
não é igual todo dia.

No Natal vejo meninos
com boa roupa e bom teto
ganhando presentes finos...
e tão carentes de afeto!...

No peito, por ser sincero,
sinto a aflição de um castigo,
quando digo que te quero
e tu não crês no que eu digo!

Nossas mãos quando as unimos,
embora não tenham voz,
do grande amor que sentimos
falam melhor do que nós!

Para o meu viver tristonho
um motivo mais ressalta:
na trova feliz que eu sonho
és a rima que me falta...

Pela vida, à semelhança
de um colono, sigo eu
plantando nova esperança
onde a esperança morreu!...

Planta, a cada frustração
outro sonho em tua estrada...
Antes crer numa ilusão
do que não crer mais em nada!...

Procure dar mais valor,
nesta vida tão fugaz,
à beleza inferior
que nem o tempo desfaz !

Quando chora a pobre gente
por na mesa não ter nada,
a terra chora a semente
que nela não foi plantada!...

Quando me abraça e murmura:
"serei tua a vida inteira"
nunca vi tanta ternura
em frase tão corriqueira

Quando os pés na terra ponho,
descubro, frustrado e triste,
que o mundo feliz que eu sonho
somente em meu sonho existe.

Quando ris, tenho certeza
que Deus, tão sábio e preciso,
exagerou na beleza
quando fez o teu sorriso!

Quem recebe e não revida
um gesto de ingratidão,
em meio às trevas da vida
semeia a luz do perdão!...

Se tens muito, ao mais carente
procura um pouco ajudar,
que um pingo d'água somente
não faz diferença ao mar..

Sozinho, vivo à procura
de quem seja o mar perfeito
para o rio de ternura
que tenho dentro do peito!

Tenho bem pouco... Migalhas...
mas não me dói ser plebeu:
foi num presépio, entre palhas,
que um Deus-menino nasceu!

Teus olhos, quando me fitas,
parecem, para o meu gosto,
duas rimas bem bonitas
no poema do teu rosto!

Um dia te fiz sofrer...
E agora sofro a aflição
de o meu remorso não ter
como encontrar teu perdão!...

Viva a vida; mas, cuidado!
Precavido, não se esqueça
de construir seu telhado
antes que a chuva aconteça!...

Fonte:
Colaboração de Darlene A. A. Silva
LIMA, José Tavares de. Vozes do Coração.

Ialmar Pio Schneider (O Idoso Apaixonado)


Quem se dispõe a passar algumas horas sentado num banco da praça da Alfândega em frente aos cines Guarany e Imperial, de repente pode assistir a um instantâneo, no mínimo burlesco, qual se descreve abaixo. Faz parte das cenas urbanas que não deixam de ser até certo ponto apreciadas, não obstante, às vezes jocosas e risíveis. Isto não aconteceu ao nosso herói, mas ele as presenciou em diversas oportunidades, conservando-se, no entanto, timidamente, na solidão recôndita, apenas curtindo o sentimento de foro íntimo que o acompanha qual a própria sombra.

Contudo, agora sentira na carne o que representava uma paixão tardia, ainda mais alimentada por certos conselhos ou insinuações de colegas que o faziam para instigar-lhe o interesse por alguém mais jovem. Ainda não queria se considerar coroa, apesar de já estar na terceira idade. Sempre ouvira dizer que vale o espírito mais que a matéria.

Sua vontade era esquecer aquela moçoila que vira num certo dia, atravessando a rua em frente à praça, seguindo rumo ao shopping da Rua da Praia. No auge dos seus sessenta anos, Rodrigues achava ridículo apaixonar-se por alguém de vinte, que poderia ser-lhe neta; e sentado num banco, junto com outros companheiros aposentados, ficava imaginando no que lhe dissera o Torres, num entardecer de outubro: - “Cavalo velho, pasto novo !” De fato, a idade chegara, quase sem que se desse conta, mas ele nunca deixou de apreciar a estética feminina, e aquela moça parecia uma estátua de Fídias, uma Amazona. Sentia-se, entretanto, retraído, pois já presenciara, ali mesmo, certos velhos que mexiam com as meninas serem escorraçados com as seguintes expressões: “Vai conhecer o teu lugar, coroa !” “Te fraga, velho caduco !” “Não te conhece ?” - e outras mais.

Entretanto, desta vez, não iria desistir. Estudava uma maneira de aproximar-se do fruto do seu bem-querer, ainda, que para tanto, fosse necessário sacrifício e dedicação. Nesta quadra da vida, a pessoa se torna mais afável quanto ao estímulo do amor, embora haja quem diga que o velho seja ranzinza. Isto depende de cada sujeito. Todos têm o seu temperamento e Rodrigues é um romântico-melancólico. Chega em seu quarto de pensão e liga o rádio. Casualmente, na Rádio Liberdade, escuta o Sérgio Reis cantando - “panela velha é que faz comida boa” de Moraesinho e fica satisfeito. Existe alguém que o compreende.

Fontes:
Texto enviado pelo autor
Imagem = Fabricia Lima Sales

XV Juegos Florales de Santos (Classificación Final)


Concurso Paralelo – hispánico
Tema: Paz

VENCEDORES


Desde mi amor más profundo
pido a Dios en mi oración
colme de paz este mundo
junto con su bendición.
ÂNGELA DESIRÉ PALACIOS BRAVO – Venezuela

La paz que aspira mi anhelo
la encontraré, sin ocaso
quando disfrute del cielo
que me brinde tu regazo.
CARLOS EDUARDO R. SÁNCHEZ – Venezuela

A los pies de Dios orando
con fervor la Paz pidió.
Diós le contestó llorando
por ella mi hijo murió...
CRISTINA OLIVEIRA CHÁVEZ – Estados Unidos

El primer Nobel del mundo,
jamás há sido entregado,
fue el de Paz y amor profundo
Ganador? Jesús amado!
CRISTINA OLIVEIRA CHÁVEZ – Estados Unidos

Que la paz cruce fronteras
y enlace nuestros caminos,
uniendo una y mil banderas
que eleven nuestros destinos.
LIZ CASTRO RIVERA – México

La paz es pueblo despierto,
es trabajo, es pan y empeño,
uva en la vid, verde el huerto
y en invierno es rojo leño.
SUSANA STEFANIA CERUTTI – Argentina

MENCIONES HONROSAS

En paz yo quiero tenerte...
abrazarmos en la espuma
de aquella nostalgia inerte
que se escapó de la bruma.
ALÍCIA BORGOGNO – Argentina

Yo soy la paz dijo Cristo
Y en su palabra confio.
De caridad yo me visto.
Este es hoy mi desafio!
LÍBIA BEATRIZ CARCIOFETTI – Argentina

La guerra no es solución
para resolver conflictos
si tenemos la intensión
de lograr la paz invictos.
HECTÓR JOSÉ CORREDOR CUERVO – Colômbia

El poeta siempre clama
por la Paz y hay en su voz
el credo que reza y ama
porque en su verbo está Dios.
MANUEL SALVADOR LEYVA MARTINEZ – México

Te propongo como hermanos
un poema por la paz,
unir com fuerza las manos
nuestro espírito tenaz.
RAMÓN ROJAS MOREL – México

MENCIONES ESPECIALES

Paz me dan tus verdes ojos
por eso te quiero tanto
porque cumples mis antojos
y en mis trovas yo te canto...
ÂNGELA DESIRÉE PALACIOS BRAVO – Venezuela

Vamos poetas hermanos!
Logremos paz en el mundo,
elevando muy ufanos,
cânticos de amor profundo.
ELIZABETH LEYVA RIVERA – México

Amigos de todo el mundo
busquemos siempre la paz,
sintiendo un amor profundo
sin que haya guerra jamás.
GLORIA RIVERA ANDREU – México

Logra paz en tu interior
y derrâmala en la tierra,
es hermana del amor,
antitesis de la guerra.
MARIA CRISTINA FERVIER – Argentina

Quiero con risa y cantos
envolver al mundo entero,
que en los niños no haya llantos
solo paz y amor primero.
RENÉ B. ARRIAGA DEL CASTILHO – México

DESTAQUES

Las vidas de compañeros
en la paz idolatrada,
tienen perfumes señeros
como reina enamorada.
ADY YOGUR – Israel

Quiero borrar de la tierra
desde el fondo de su faz.
Ese câncer que es la guerra,
con antidoto de paz.
CLÁUDIO GARIBALDY M. SEGURA – República Dominicana

La paz ha costado mucho,
en vidas y en sufrimientos,
y por su existencia lucho
con mi trova y sentimientos.
ELENA GUEDE ALONSO – Perú

LA PAZ es palavra santa,
es del niño idolatria,
escúchenlo cuando canta
el amor, sin felonia.
GÉRMAN ECHEVERRIA AROS - Chile

Es la Paz Blanca paloma,
vuela errante por la tierra,
sigue el rastro del aroma
que la aleja de la guerra.
GISELA CUETO LACOMBA – Cuba

Todos ansiamos la paz
para vivir en la gloria
en esemundo solaz
que prosiga nuestra historia.
HILDEBRANDO RODRIGUEZ – Venezuela

Paz es el canto que vibra
en el timón de una barca,
y el el motor que nos libra
de no temer a la parca
MARTHA ALICIA QUI AGUIRRE – México

Pisoteada, ultrajada
reventada en su simiente,
pero la PAZ es amada
en su corazón consciente.
MIGUEL ANGEL MUÑOZ CORTÉS – Espanha

Paz es bendición del Cielo!....
Paz es amor y es bonanza!
Porque ella transforma el hielo,
en manantial de esperanza!
MIGUEL ANGELE ALMADA – Argentina

No mas guerra, nunca más.
No mas odios ni rencor.
Solo quiero un son de paz
Solo quiero, Dios, tu Amor.
MODESTO MAURÍCIO SAUAN – Argentina

La paz descansa en tus ojos
si me miras sin reparo,
mi corazón en hinojos
se enciende como cual faro.
OLGA MARICELA TREVIÃO – México

El mundo será capaz
de vivir en armonia
si el líder pregona paz,
con la paz de su alegria.
RICARDO DUCOING - Argentina

Fonte:
Caderno dos Florais de Santos. Digitado por José Feldman.

Monteiro Lobato (Caçadas de Pedrinho) II - A volta para casa


Foi um delírio de contentamento. Os caçadores rodearam a onça morta, discutindo as peripécias da formidável aventura. Emília reclamou logo todas as honras para si.

— Se não fosse a minha espetada com o espeto de assar frango, queria ver...

— O que decidiu tudo foram as facadas que eu dei — alegou Narizinho.

— Qual nada! Juro que foi o meu tiro de canhão — disse Rabicó.

— Pexote! — berrou Pedrinho. — A bala de canhão nem arranhou a pele da onça, não está vendo?

Como daquela disputa pudesse sair briga, o Visconde ponderou gravemente:

— Todos ajudaram a matar a onça e todos merecem louvores. Mas se não fosse a pólvora de Pedrinho, estaríamos perdidos; de maneira que a Pedrinho cabe a melhor parte da vitória. Depois de cegar a onça, tudo ficou mais fácil e cada qual fez o que pôde. Basta de discussões. Em vez disso, tratemos mas é de levá-la para casa.

Os heróis concordaram com o sensatíssimo Visconde e Pedrinho afundou no mato para tirar cipós, visto não terem trazido corda. Logo depois reapareceu com um rolo de cipó ao ombro.

— Segure aqui! Puxe lá! Força! Vamos!...

Pedrinho conduziu o trabalho da amarração da onça ajudado por todos, menos Emília, que se afastara dali e estava numa grande prosa com dois besouros que tinham vindo assistir à cena. Bem amarrada que foi a onça, era preciso conduzi-la até a casa. Foi o que mais custou. Em certo ponto do caminho, Rabicó, que suava em bicas, parou para tomar fôlego.

— Francamente — disse ele — prefiro matar dez onças a puxar uma só! Estou que não posso mais...

Pararam todos para um bem merecido descanso e sentaram-se em cima do pêlo macio da fera morta. Vendo que o sol já ia alto, Narizinho disse:

— Pobre vovó! Passa bem maus momentos por nossa causa. A estas horas deve estar aflitíssima a procurar-nos por toda parte...

— Mas vai consolar-se vendo a bichona que matamos — disse Pedrinho.

“Que matamos, uma ova!”, pensou, lá consigo, Rabicó. “Que eu matei com o meu tiro de canhão, isso sim.”

Pensou apenas. Não teve coragem de o dizer em voz alta, de medo do pontapé que Pedrinho fatalmente lhe pregaria.

Descansados que foram, prosseguiram na caminhada. Duas horas depois avistavam a casa, e viram Dona Benta e Tia Nastácia, muito aflitas, procurando-os pelo pomar. Pedrinho pôs na boca dois dedos e desferiu um célebre assobio que só ele sabia dar. As velhas voltaram-se na direção do som e Tia Nastácia, que tinha melhor vista, enxergou-os logo.

— Lá vêm vindo eles, sinhá! e vêm puxando uma coisa esquisita... Quer ver que caçaram alguma paca?

Aproximaram-se os heróis. Penetraram no terreiro. Narizinho, de longe, gritou:

— Adivinhe, vovó, o que matamos!

Dona Benta respondeu:

— Uns danadinhos como vocês são bem capazes de terem matado alguma paca...

A menina deu uma risada gostosa.

— Qual paca, nem pêra paca, vovó! Suba!

— Então, algum veado — lembrou a velha, começando a arregalar os olhos.

— Suba, vovó!

— Porco-do-mato, será possível?

— Suba, suba!

Dona Benta principiou a abrir a boca.

— Então foi capivara...

— Vá subindo, vovó!

A boa senhora não sabia como subir além duma capivara, que era o maior animal existente por ali. Narizinho, então, chegou-se para ela e disse, fazendo uma careta de apavorar:

— Uma onça, vovó!

O susto de Dona Benta foi o maior da sua vida — tão grande que caiu sentada, com sufocação, exclamando:

— Nossa Senhora da Aparecida! Esta criançada ainda me deixa louca...

Mais corajosa, a negra aproximou-se, viu que era mesmo onça e:

— O mundo está perdido, sinhá — murmurou, de mãos postas. — É onça mesmo...
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continua ... III – Os habitantes da mata se assustam
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho/Hans Staden. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. III. Digitalização e Revisão: Arlindo_San

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 240)


Uma Trova Nacional

Alô, quem fala? – é o Germano.
– Diga-me, o hospício é aí?
– Não senhora, houve um engano.
Nem tem telefone aqui!
–CÉLIA GUIMARÃES SANTANA/MG–

Uma Trova Potiguar

Um locutor, empolgado,
no rádio, com a audiência,
deixa no ar, um som borrado,
por sonora flatulência...
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

1990 - Fortaleza/CE
Tema: ARAPUCA - M/E.

Quando o diabo me cutuca,
dizendo que ela entendeu,
eu preparo uma arapuca,
mas quem cai nela sou eu...
–FLÁVIO ROBERTO STEFANI/RS–

Uma Trova de Ademar

Com sua língua de trapo,
disse, ao ser mandado embora:
– É moleza engolir sapo;
o duro é botar pra fora!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Maria, com seu patrão,
faz magia a dois por três:
- numa noite de serão
ganha o salário de um mês!
–VASQUES FILHO/PI–

Simplesmente Poesia

MOTE:
Carro velho e sutiã,
só compra quem é peitudo.

GLOSA:
Se existe coisa vã.
tão falsa como aparente,
é, sem dúvida, minha gente,
carro velho e sutiã.
Digo hoje, digo amanhã,
direi também, e não mudo,
usar o bom senso é tudo;
e, lógico é o que eu digo:
essas duas coisas, amigo,
só compra quem é peitudo.
–JOSÉ LEIROS/RN–

Estrofe do Dia

Viver liso e morar atrás da grade,
jantar leite de saco com biscoito,
trocar uma gatona de dezoito
numa velha de oitenta e seis de idade,
montar grande comércio na cidade
e mandar um ladrão gerenciar,
perguntar se o motel é pra rezar
e se a farmácia tem tripa pra vender;
do que a vida me impõe para eu fazer
são as coisas que eu faço sem gostar!
–LOURO BRANCO/CE–

Soneto do Dia

- ALMA WELT/RS -
Anti-Soneto

Hoje decidi não escrever.
Sinto muito, não haverá soneto.
Não se trata de inspiração não ter,
Mas me faltou este quarteto.

O segundo me parece duvidoso:
É este que só quer aparecer.
Sem ter realmente o que dizer
Poderá criar um círculo vicioso.

Então me reduzi a um terceto:
O próximo, se este me resvale
E seja só um prólogo ou moteto.

Mas pensando bem, é melhor não:
Esta montanha é apenas o seu vale,
Ou uma torre que é só o rés do chão...

Fonte:
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