quinta-feira, 20 de março de 2008

Isaac Asimov (1920 - 1992)



Isaac Asimov, (Petrovichi, 2 de Janeiro de 1920 — Nova Iorque, 6 de abril de 1992) foi um escritor e bioquímico famoso como popularizador da ciência e como autor de ficção científica, sendo suas séries mais populares Fundação e Robôs. Nesta última criou as famosas Três Leis da Robótica.

Asimov é autor de livros de divulgação sobre praticamente todos os campos do conhecimento e foi um dos homens mais cultos do século XX. Seu QI foi estimado em cerca de 175. Sabe-se que obteve um escore 135 no teste Eisenck, mas resolveu o teste inteiro na metade do tempo. Foi presidente honorário da Mensa, uma associação para pessoas superdotadas que conta com membros de 100 países.

Sua obra de ficção destaca-se por introduzir ao leitor leigo conhecimentos científicos e a idéia do método científico.

Biografia

Asimov nasceu entre 4 de Outubro de 1919 e 2 de Janeiro de 1920 em Petrovichi shtetl ou Óblast de Smolensk, RSFSR (agora Província de Mahilyow, Bielorrússia). A mãe foi Anna Rachel Berman Asimov e o pai Judah Asimov, um moleiro de uma família de Judeus. A sua data de nascimento não pode ser precisada por causa das diferenças entre o Calendário Gregoriano e o Calendário hebraico e por causa da falta de registros. Asimov celebrou sempre o seu aniversário a 2 de Janeiro. A família deriva o nome de ?????? (ozimiye), uma palavra da língua Russa que significa um cereal de inverno em que o seu bisavô negociava, ao qual o sufixo paterno foi adicionado. A sua família emigrou para os EUA quando ele tinha só 3 anos de idade. Como os seus pais falavam sempre hebraico e Inglês com ele, ele nunca aprendeu russo. Enquanto crescia em Brooklyn, New York, Asimov aprendeu por si próprio a ler quando tinha cinco anos, e permaneceu fluente em ídiche assim como em Inglês. Os seus pais tinham uma loja de doces, e toda a gente da família tinha de lá trabalhar. Revistas baratas de banda desenhada sobre ficção científica eram vendidas em lojas, e ele começou a lê-las. Por volta dos onze anos ele começou a escrever histórias próprias, e por volta dos dezenove anos, tendo-se tornado fã de ficção científica, ele começou a vender a vender as suas histórias a revistas. John W. Campbell, o editor de Astounding Science Fiction, foi uma forte influência formativa e tornou-se um amigo.

Asimov foi aluno das New York City Public Schools, inclusive a Boys' High School, em Brooklyn, New York. A partir daí ele foi para a Universidade de Columbia, da onde se graduou em 1939, depois tirando um Ph. D. em bioquímica em 1948. Entretanto, passou três anos durante a Segunda Guerra Mundial a trabalhar como civil na Naval Air Experimental Station do porto da Marinha em Philadelphia. Quando a guerra acabou, ele foi destacado para o U.S. Army, tendo só servido nove meses antes de ser honrosamente retirado. Durante a sua breve carreira militar, ele ascendeu ao posto de cabo baseado na sua habilidade para escrever à máquina, e escapou por pouco de participar nos testes da bomba atômica em 1946 no atol de Bikini.

Depois de completar o seu doutoramento, Asimov entrou na faculdade de Medicina da universidade de Boston, com que permaneceu associado a partir daí. Depois de 1958, isto foi sem ensinar, já que se virou para a escrita full-time (as suas receitas da escrita já excediam as do salário acadêmico). Pertencer ao quadro permanente significou que ele manteve o título de professor associado, e em 1979 a universidade honrou a sua escrita promovendo-o a professor catedrático de bioquímica. Os arquivos pessoais de Asimov a partir de 1965 estão arquivados na Mugar Memorial Library da universidade, à qual ele os doou a pedido do curador Howard Gottlieb. A coleção preenche 464 caixas em setenta e um metros de prateleira.

Asimov casou com Gertrude Blugerman (1917, Canadá–1990, Boston) em 26 de Julho de 1942. Tiveram duas crianças, David (n. 1951) e Robyn Joan (n. 1955). Depois da separação em 1970, ele e Gertrude divorciaram-se em 1973, e Asimov casou com Janet O. Jeppson mais tarde no mesmo ano.

Asimov era um claustrofilo; ele gostava de espaços pequenos fechados. No primeiro volume da sua autobiografia, ele conta um desejo infantil de possuir uma banca de jornal numa estação de metro no New York City Subway, dentro da qual ele se fecharia e escutaria o ruído das carruagens enquanto lia.

Asimov tinha aviophobia, só o tendo feito duas vezes na vida inteira (uma vez durante o seu trabalho na Naval Air Experimental Station, e uma vez na volta para casa da base militar em Oahu in 1946). Ele raramente viajava grandes distâncias, em parte por causa da sua aversão a voar adicionada as dificuldades logísticas de viajar longas distâncias. Esta fobia influenciou varias das suas obras de ficção, como as historias misteriosas de Wendell Urth e as novelas sobre Robôs em que entrava Elijah Baley. Nos seus últimos anos, ele gostava de viajar em navios de cruzeiro, e em varias ocasiões ele fez parte do "entretenimento" no cruzeiro, dando palestras baseadas em ciência em navios como os RMS Queen Elizabeth 2. Asimov era sabia entreter muitíssimo bem, prolífico, e procurado como discursador. O seu sentido de tempo era fantástico; ele nunca olhou para um relógio, mas falava invariavelmente precisamente o tempo acordado.

Asimov era um participador habitual em convenções de ficção cientifica, onde ficava amável e disponível para a conversa. Ele respondia pacientemente a dezenas de milhares de perguntas e outro tipo de correio com postais, e gostava de dar autógrafos. Embora ele gostasse de mostrar o seu talento, ele raramente parecia levar-se a si próprio demasiado serio.

Ele era de altura mediana, forte, com bigode e um obvio sotaque Brooklyn-Hebreu. A sua motricidade física era bastante limitada. Ele nunca aprendeu a nadar ou andar de bicicleta; no entanto, ele aprendeu a conduzir um carro depois de se mudar para Boston. No seu livro de humor Asimov Laughs Again, ele descreve a condução em Boston como "anarquia sobre rodas". Ele demonstrou o seu amor por conduzir na sua short story de ficção cientifica, 'Sally', sobre carros robô. Um leitor atento reparara que ele faz uma descrição detalhada de um dos carros a que chama 'Giuseppe', de Milan - o que significa que Giuseppe era um Alfa Romeo. Asimov não especificou nenhum outro tipo de veiculo em nenhuma das suas historias, o que levou muitos fãs a considerara que ele foi empregue por aquela marca de automóvel.

Os interesses variados de Asimov incluíram, nos seus anos tardios, a sua participação em organizações devotadas à opereta de Gilbert and Sullivan e em The Wolfe Pack, um grupo de seguidores dos mistérios de Nero Wolfe escritos por Rex Stout. Ele era um membro proeminente da Baker Street Irregulars, a mais importante sociedade a volta de Sherlock Holmes. De 1985 ate a sua morte em 1992, ele foi presidente da American Humanist Association; o seu sucessor foi o amigo e congênere escritor Kurt Vonnegut. Ele também era um amigo próximo do criador de Star Trek, Gene Roddenberry, e foram-lhe dados créditos em Star Trek: The Motion Picture pelos conselhos que deu durante a produção (dando a Paramount Pictures a impressão que as idéias de Roddenberry eram legitima especulação de ficção cientifica).

Asimov morreu em 6 de Abril de 1992. Ele deixou a sua segunda mulher, Janet, e as crianças do primeiro casamento. Dez anos depois da sua morte, a edição da autobiografia de Asimov, It's Been a Good Life, revelou que a sua morte foi causada por SIDA; ele contraiu o vírus HIV através de uma transfusão de sangue recebida durante a operação de bypass em Dezembro de 1983. [1] A causa especifica de morte foi falha cardíaca e renal como complicações da infecção com o vírus da SIDA. Janet Asimov escreveu no epílogo de It's Been a Good Life que Asimov o teria querido fazer publico, mas os seus médicos convenceram-no a permanecer em silencio, avisando que o preconceito anti-SIDA, se estenderia aos seus familiares. A família de Asimov considerou divulgar a sua doença antes de ele morrer, mas a controvérsia que ocorreu quando Arthur Ashe divulgou que ele tinha SIDA convenceu-os do contrario. Dez anos mais tarde, depois da morte dos médicos de Asimov, Janet e Robyn concordaram que a situação em relação à SIDA podia ser levada a publico.

No livro Escolha a Catástrofe, Asimov disserta sobre os futuros problemas que poderiam levar a humanidade à extinção e como a tecnologia poderia salvá-la. Em certa parte do livro, ele fala sobre a educação e como ela poderia funcionar no futuro.

"Haverá uma tendência para centralizar informações, de modo que uma requisição de determinados itens pode usufruir dos recursos de todas as bibliotecas de uma região, ou de uma nação e, quem sabe, do mundo. Finalmente, haverá o equivalente de uma Biblioteca Computada Global, na qual todo o conhecimento da humanidade será armazenado e de onde qualquer item desse total poderá ser retirado por requisição."

"...Certamente cada vez mais pessoas seguiriam esse caminho fácil e natural de satisfazer suas curiosidades e necessidades de saber. E cada pessoa, à medida que fosse educada segundo seus próprios interesses, poderia então começar a fazer suas contribuições. Aquele que tivesse um novo pensamento ou observação de qualquer tipo sobre qualquer campo, poderia apresentá-lo, e se ele ainda não constasse na biblioteca, seria mantido à espera de confirmação e, possivelmente, acabaria sendo incorporado. Cada pessoa seria simultaneamente um professor e um aprendiz."
Isaac Asimov - 1979

Asimov pretendia escrever 500 livros e, por pouco, não atingiu essa marca; escreveu 463 obras. Mas somando todos os livros, desenhos e coleções editadas totalizam-se 509 itens em sua bibliografia completa. Asimov pode ter escrito Opus 400, que seria uma comemoração de 400 publicações; contudo a lista de comemorativos da bibliografia vai apenas até o Opus 300.

Memórias de Asimov

"À Gertrude, com a qual estive casado, muito satisfatoriamente, durante oito anos, um mês, duas semanas, um dia, duas horas, 45 minutos e alguns segundos".

A dedicatória que abre uma de suas obras parece mais a afirmação do divórcio de Isaac Asimov. Asimov deu fim a sua vida matrimonial com Gertrude em suas Memórias, atrevendo-se por fim a expressar algumas opiniões não tão positivas e triunfantes como tinha por costume. Para Janet, sua segunda esposa, a quem dedica um livro, tem em troca, umas belas palavras: "minha companheira de vida e pensamento". Confessou que lhe foi infiel e de seus dois filhos tidos com ela, Robyn era sua preferida. Adorava-a e sentia-se muito mal porque ele morreria e Robyn sofreria com isso. De seu outro filho, David, apenas umas linhas. De forma estranha confessa que seu matrimônio com Gertrude durou doze anos porque tinha dois filhos. É interessante somar-se à sua vida familiar a sinceridade com que Isaac trata este assunto e porque está muito longe da imagem de triunfador nato e otimista da que tanto lhe gostava se ostentar.

Asimov havia escrito outros dois livros de memórias. Terminou em 1990 e Janet teve que se encarregar de sua edição, que ocorreu dois anos depois, mesmo que Isaac nunca o tenha visto publicado. Seu último livro, escrito em 1991, foi “Asimov sorri de novo”, e depois apenas teve forças para realizar algum outro artículo periódico. Desde agosto de 1991, até a sua morte, em 6 de abril de 1992, sofreu um grande declive físico e teve constantes hospitalizações. De acordo com o que relata Janet, pelo menos, morreu em paz, em companhia de Robyn e dela mesma.

Alguns dos aspectos mais insuspeitos de Isaac Asimov se somam em suas memórias. Acostumado com seu excelente humor, sua megalomania simpática e sua hiperatividade contagiosa, neste último texto, o escritor reconhece que algumas matérias como a economia eram-lhe indigeríveis - Pág.54: "Não seria de nada escutar o professor nem estudar o tema. Pela primeira vez em minha vida tropecei com uma barreira mental, algo que não podia fazer entrar na minha cabeça" - e que seus estudos de licenciatura foram um fracasso: escolheu a química para doutorar-se por simples eliminação. Pág.83: "Eliminada a zoologia tive que escolher entre química ou física. Eliminei a física porque era muito matemática. Depois de muitos anos resolvendo a matemática facilmente, cheguei finalmente ao cálculo integral e me choquei contra uma barreira. Dei-me conta de que havia chegado o mais longe possível, e até hoje nunca pude ir mais além".

Entre outros aspectos, tinha vertigem, odiava viajar, era um adicto ao trabalho e eludia qualquer situação incômoda (quando Janet esteve internada para ser operada de um câncer de mama, ele estava viajando!). Tudo isso foi compensado, como qualquer admirador sabe, com uma fé em si mesmo inquebrável e um conhecimento claro de quais eram seus talismãs. Pág. 84: "Começava a dar-me conta de que eu não era um especialista, de que em qualquer campo do conhecimento haveriam muitos que saberiam muito mais do que eu e que, talvez, poderiam ganhar vida e alcançar a fama nesse campo, enquanto eu não. Eu era um generalista, tinha conhecimentos consideráveis sobre quase tudo. Haviam muitos especialistas de cem ou de mil classes diferentes, mas, eu disse a mim mesmo, só haveria um Isaac Asimov". E assim foi. É o escritor mais popular de ficção científica e de divulgação científica, até o ponto de seu nome ser garantia de vendas para qualquer livro do gênero. As editoras sabem e exploram isso. O escritor se perpetua assim, interminavelmente.

O grande orador que gostava de falar em público, era um amigo fiel e grato, que nunca deixou desamparados seus amigos.

Asimov estava apaixonado por si mesmo e encerrou estas Memórias com uma das frases mais tristes que só um homem que sabe que vai morrer pode confessar: "Não espero viver para sempre, não me aflijo por isso, mas sou fraco e gostaria de ser recordado eternamente".


OBRAS

Série Fundação
Os romances dessas três séries foram publicados como histórias independentes. Mais tarde, Asimov sintetizou-os em uma simples e coerente 'história' que apareceu na extensão da série fundação.

Série Robô:
Caça aos Robôs (1954) (primeiro romance de ficção científica com Elijah Baley)
Os Robôs (1957) (segundo romance de ficção científica com Elijah Baley)
Os Robôs do Amanhecer (1983) (terceiro romance de ficção científica com Elijah Baley)
Os Robôs e o Império (1985) (seqüência da trilogia Elijah Baley)
O Homem Positrônico (1993) (com Robert Silverberg, um romance baseado no antigo conto de Asimov "The Bicentennial Man")

Série Império Galáctico:
827 Era Galática (1950)
Poeira de Estrelas (1951)
As Correntes do Espaço (1952)

Trilogia Fundação:
Fundação (1951)
Fundação e Império (1952)
Segunda Fundação (1953)

Extensão da série Fundação:
Fundação II (em Portugal "No Limiar da Fundação") (1982)
Fundação e a Terra (1986)
Prelúdio à Fundação (1988)
Crônicas da Fundação (em Portugal "Notas Para um Império Futuro") (1993)

Romances que não fazem parte de séries
Fim da Eternidade (1955)
Viagem Fantástica (1966) (uma novelização do filme apresentando uma equipe de cientistas viajando dentro do corpo humano)
Despertar dos Deuses (1972)
Viagem Fantástica: Rumo ao cérebro (1987) (não é uma seqüência do primeiro Fantastic Voyage, mas sim uma história independente).
Nemesis (1989)
O Cair da Noite (1990) (com Robert Silverberg, um romance baseado em um conto mais antigo).
The Ugly Little Boy (1992) (com Robert Silverberg, um romance baseado em um conto mais antigo).
(Ainda que essencialmente independentes, alguns desses romances têm relações mínimas com a série "Fundação".)

Coletâneas de pequenas histórias
Lista de pequenas histórias de Isaac Asimov
I, Robot - Eu, Robô (1950)
The Martian Way and Other Stories (1955)
Earth Is Room Enough (1957)
Nine Tomorrows (1959)
The Rest of the Robots (1964)
Nightfall and Other Stories (1969)
The Early Asimov (1972)
The Best of Isaac Asimov (1973)
Buy Jupiter and Other Stories (1975)
The Bicentennial Man and Other Stories (1976)
The Complete Robot (1982)
The Winds of Change and Other Stories (1983)
Robot Dreams (1986)
Azazel (1988)
Gold (1990)
Robot Visions (1990)
Magic (1995)

Mistérios
Romances
The Death Dealers (1958) (republicado mais tarde como A Whiff of Death)
Murder at the ABA (1976) (republicado mais tarde como Authorized Murder)

Coletâneas de pequenas histórias
Black Widowers and others
Asimov's Mysteries (1968)
Tales of the Black Widowers (1974)
More Tales of the Black Widowers (1976)
Casebook of the Black Widowers (1980)
Banquets of the Black Widowers (1984)
The Best Mysteries of Isaac Asimov (1986)
Puzzles of the Black Widowers (1990)
Return of the Black Widowers (2003) contains stories uncollected at the time of Asimov's death, in addition to contributions by Charles Ardai and Harlan Ellison

Não-ficção
Ciência popular
Adding a Dimension (1964)
Asimov on Numbers (1959)
Asimov's Chronology of Science and Discovery (1989, second edition extends to 1993)
Asimov's Chronology of the World (1991)
The Chemicals of Life (1954)
Choice of Catastrophes (1979)
The Clock We Live On (1959)
The Collapsing Universe (1977) ISBN 0-671-81738-8
The Earth (2004, revised by Richard Hantula)
Exploring the Earth and the Cosmos (1982)
The Human Brain (1964)
Inside the Atom (1956)
Isaac Asimov's Guide to Earth and Space (1991)
The Intelligent Man's Guide to Science (1965)
Jupiter (2004, revised by Richard Hantula)
Life and Energy (1962)
The Neutrino (1966)
Our World in Space (1974)
Quasar, Quasar, Burning Bright (1977)
Science, Numbers and I (1968)
The Secret of The Universe (1990)
The Solar System and Back (1970)
The Sun (2003, revised by Richard Hantula)
The Sun Shines Bright (1981)
The Universe: From Flat Earth to Quasar (1966)
Venus (2004, revised by Richard Hantula)
Views of the Universe (1981)
Words of Science and the History Behind Them (1959)
The World of Carbon (1958)
The World of Nitrogen (1958)

Guias
Asimov's Guide to the Bible, vols I and II (1981)
Asimov's Guide to Shakespeare
Outros
Opus 100 (1969)
The Sensuous Dirty Old Man (1971)
Asimov's Biographical Encyclopedia of Science and Technology (1972)
Opus 200 (1979)
Isaac Asimov's Book of Facts (1979)
The Roving Mind (1983) (collection of essays). Nova edição publicada por Prometheus Books(1997)

Conferência de Isaac Asimov na Universidade do Estado de Michigan (MSU) em 1974

“Quando eu publiquei meu primeiro livro, me fizeram muitas perguntas, como: ‘Bem, é bom? ’ - e eu realmente não sabia o que dizer. ‘O que dizem os corretores? ’ - e haviam muito mais perguntas.
E muito rápido me dei conta, que só havia uma maneira de solucionar aquilo. Eu rapidamente me sentei, e escrevi mais de 145 livros, e agora ninguém pergunta os nomes, ninguém pergunta se são bons, ninguém me pergunta... ninguém me pergunta nada!

Eles só dizem: '146 livros, uau! ’. Porque... porque você sabe, se você se detém pensando nisso. ‘Que diferença há se são bons ou ruins? Você já tentou escrever 146 livros ruins? ’.
Então a pergunta: ‘Bem, como você faz... como você faz para escrever tanto? ’.
Eu constantemente me pergunto. ‘Como faço para escrever todos esses livros? ’.
E a resposta é muito simples. Eu jogo fora os pensamentos, as dúvidas.
Você diz que você não acredita em mim, verdade? Mas é a verdade.
Você compreende quantos livros não são escritos por pensar-se?
Isto é, você escreve a primeira frase: ‘Era uma noite escura e chuvosa? ’.
E isso está bem! E você deveria seguir em frente, mas você não o faz.
Você comete o erro fatal de pensar e diz: ‘Não é suficientemente dramático’.

E você escreve... corrige, e volta a escrever de novo: ‘Uma noite escura e chuvosa, isso é o que era’.
E então você pensa: ‘Não, é muito dramático’.
Talvez você queira abrir um ar de incerteza: ‘Era uma noite escura e chuvosa? ’

E então você pensa um pouco mais, e você diz: ‘Não, não, eu... eu estou estropiando-o, isto é o anticlímax’. E você diz: ‘Era uma noite chuvosa e escura! ’. Bem, isto continua assim sempre, e você nunca escreve o livro?

Agora, bem, eu não faço isto. Eu começo com a promessa de que a maneira que eu escrevo na primeira vez é a certa. Como resultado, eu odeio os críticos literários. Eles podem observar, estudar e analisar, mas eles não podem fazê-lo.”

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Asimov

Isaac Asimov (A Sensação de Poder)

"Em meu conto "A Sensação de Poder", publicado em 1957, lancei
mão de computadores de bolso, cerca de dez anos antes de tais
computadores se tornarem realidade. Cheguei mesmo a
considerar a possibilidade de eles contribuírem para
que as pessoas acabassem perdendo a capacidade
de fazer operações aritméticas à maneira antiga."
(Introdução - Isaac Asimov)

Jehan Shuman estava acostumado a lidar com os homens responsáveis pelas tropas espalhadas pela Terra. Era apenas um civil, mas tinha criado os programas que possibilitaram o surgimento dos mais avançados computadores automáticos de guerra. Consequentemente, os generais ouviam sua opinião. Os líderes das comissões parlamentares também.

Havia um militar e um político no salão especial do Novo Pentágono. O general Weider tinha um rosto bronzeado pelos raios de muitos sóis, e sua pequena boca, cheia de rugas, quase não aparecia. O deputado Brant tinha um rosto suave e olhos claros. Ele fumava um charuto denebiano com a segurança de alguém cujo patriotismo era tão notório que podia se permitir certas liberdades.

Shuman, alto, distinto, um típico programador de elite, encarou-os destemidamente.

- Cavalheiros - disse ele -, esse é Myron Aub.
- É aquele que tem um talento incomum, que você descobriu por acaso - disse Brant, sereno. - Ah. - Ele estudou o pequeno homem de cabeça oval e careca com uma curiosidade cordial.

Em resposta, o homenzinho torceu os dedos de suas mãos ansiosamente. Nunca tinha visto homens tão importantes em sua vida. Era um técnico envelhecido e sem importância, que há muito tempo tinha fracassado em todos os testes destinados a selecionar as pessoas talentosas da humanidade e se acomodara numa rotina de trabalhos não especializados. Tinha apenas um passatempo que, de pois de descoberto pelo grande programador, acarretara todo esse estardalhaço.

- Acho infantil esse clima de mistério - disse o general Weider.

- Vai deixar de achar em um minuto - disse Shuman. - Esse é o tipo de coisa que não pode vazar para qualquer um... Aub! Havia um pouco de autoritarismo na sua maneira de pronunciar esse nome monossilábico, mas, nesse caso, era o grande programador falando para um simples técnico. - Aub! Quanto é nove vezes sete?

Aub hesitou um pouco. Seus olhos pálidos brilharam, ligeiramente ansiosos.

- Sessenta e três - disse ele.

O deputado Brant levantou as sobrancelhas.

- Ele acertou?

- Veja você mesmo, deputado.

O deputado tirou seu computador de bolso, apertou as teclas duas vezes, olhou para a superfície na palma de sua mão e guardou-o.

- É esse o talento que você trouxe para nos mostrar? Um ilusionista?

- Mais que isso, senhor. Aub decorou algumas operações e com elas faz cálculos num papel.

- Um computador de papel? - disse o general. Ele parecia aflito.

- Não senhor - disse Shuman pacientemente. - Não é um computador de papel. É um simples pedaço de papel. General, o senhor faria a gentileza de sugerir um número?

- Dezessete - disse o general..

-E o senhor, deputado?.

- Vinte e três.

- Ótimo. Aub, multiplique esses números e, por favor, mostre a esses cavalheiros como você faz isso..

- Sim, programador - disse Aub, fazendo uma reverência com a cabeça. Tirou um bloco de um dos bolsos da camisa e do outro uma caneta de bico fino. Sua testa se enrugava enquanto desenhava meticulosamente no papel..

O general Weider interrompeu-o bruscamente..

- Deixe-me ver isso.

Aub entregou-lhe o papel..

- Bem, isso parece com o número dezessete - disse Weider..

O deputado Brant balançou a cabeça..

- Parece sim, mas eu acho que qualquer um pode copiar as figuras de um computador. Talvez até eu possa fazer um dezessete razoável, mesmo sem prática..

- Se vocês deixarem Aub continuar, cavalheiros - disse Shuman, sem se perturbar..

Aub continuou com as mãos um pouco trêmulas. Depois de algum tempo, disse em voz baixa:.

- A resposta é trezentos e noventa e um..

O deputado Brant checou de novo o computador. - Por Deus, é isso mesmo. Como ele adivinhou?

- Ele não adivinhou, deputado - disse Shuman. - Ele calculou o resultado nesse pedaço de papel..

- Conversa furada - disse o general, impaciente. - O computador é uma coisa, desenhos no papel são outra..

- Explique, Aub - pediu Shuman..

- Pois não, programador. Bem, eu escrevo dezessete, embaixo dele, escrevo vinte e três. Depois, digo comigo mesmo: sete vezes três.…

- Só que o problema é dezessete vezes vinte e três interrompeu-o o deputado, cortês..

- Sim, eu sei - disse o pequeno técnico, num tom sério. Mas eu começo por sete vezes três, porque é assim que funciona. Agora, sete vezes três são vinte e um..

- Como é que você sabe isso? - perguntou o deputado..

- É uma questão de memória. É sempre vinte e um no computador. Já conferi um monte de vezes..

- Isso não quer dizer que vai ser assim para sempre, não? disse o deputado..

- Talvez não - gaguejou Aub. - Não sou matemático. Mas as minhas respostas sempre estão certas..

- Continue..

- Sete vezes três é vinte e um, então eu escrevo vinte e um. Depois, um vezes três é três e, então, escrevo o três embaixo do dois de vinte e um.

- Por que embaixo do dois? - perguntou de pronto o deputado..

- Porque... - Aub olhou desesperado para o seu superior, como se estivesse pedindo ajuda. - É difícil de explicar..

- Se vocês aceitarem o seu trabalho por um momento, podemos deixar os detalhes para os matemáticos..

Brant se acalmou..

- Três mais dois é igual a cinco - disse Aub. - Então o vinte e um vira cinqüenta e um. Você deixa isso de lado um pouquinho e começa de novo. Você multiplica sete por dois, que é catorze e um por dois, que dá dois. Se você colocá-los assim, isso vai dar trinta e quatro. Agora coloque o trinta e quatro embaixo do cinqüenta e um dessa forma e faça a soma, então terá a resposta final, que é trezentos e noventa e um..

Houve um momento de silêncio..

- Não acredito nisso - disse o general Weider. - Ele vem com essa conversa furada e desenha os números, multiplica e soma dessa maneira, mas não acredito. Isso é muito complicado. Não passa de um truque..

- Não, senhor - disse Aub, ansioso. - Só parece complicado porque o senhor não está acostumado. Na verdade, as regras são muito simples e funcionam com qualquer número..

- Qualquer número, hein? - disse o general. - Então, vamos ver. - Pegou o seu computador (um modelo GI de estilo austero)e apertou-o ao acaso. - Escreva cinco sete três oito no papel. Isto é cinco mil, setecentos e trinta e oito..

- Sim, senhor - disse Aub, pegando uma folha em branco..

- Agora - mais toques no seu computador - sete dois três nove. Sete mil, duzentos e trinta e nove..

- Sim, senhor..

- Agora, multiplique esses dois números..

- Isso vai demorar um pouco - disse Aub, com uma voz trêmula..

- Fique à vontade - disse o general..

- Vá em frente, Aub - disse Shuman, incisivo..

Aub pôs-se a trabalhar, inclinando-se para baixo. Virou outra página e mais outra. O general pegou o relógio e viu as horas..

- Você já terminou o seu número de magia, técnico?.

- Estou terminando, senhor. Aqui está, senhor. Quarenta e um milhões, novecentos e trinta e sete mil, trezentos e oitenta e dois. Ele mostrou o resultado rabiscado no papel..

O general Weider sorriu amargamente. Ele pressionou o botão de multiplicação do seu computador e deixou os números rodopiarem até parar. Então ele olhou o resultado e gritou surpreso. - Grande Galáxia, esse cara está certo..

O Presidente da Federação Terrestre tinha adquirido uma expressão macilenta devido à longa permanência nos escritórios; nas audiências, ele permitia que uma expressão vagamente melancólica tomasse conta de suas feições. A guerra denebiana, depois de um breve começo de grande agitação e muita popularidade, tinha se restringido a uma sórdida questão de manobras e contramanobras, com o descontentamento crescendo continuamente na Terra. Provavelmente também estava crescendo em Deneb..

E agora, o deputado Brant, líder do importante Comitê de Apropriações Militares, estava alegre e entusiasmadamente desperdiçando a sua audiência falando barbaridades..

- Calcular sem um computador - disse o presidente, impaciente - é absolutamente impossível..

- Calcular - disse o deputado - é apenas um sistema de manipulação de dados. Uma máquina pode fazer isso, da mesma forma que a mente humana. Deixe-me dar-lhe um exemplo. E, usando as novas habilidades que tinha aprendido, desenvolveu somas e produtos até que o presidente, a despeito de sua desconfiança, se mostrou interessado. - Isso sempre funciona?.

- Sempre, Sr. Presidente. É infalível..

- É difícil de aprender?.

- Passei uma semana até pegar o macete. Acho que o senhor precisaria de menos tempo..

- Isso é um joguinho interessante - disse o presidente, depois de pensar um pouco. - Mas qual a sua utilidade?.

- Qual a utilidade de um bebê recém-nascido, Sr. Presidente? Por enquanto, não tem nenhuma utilidade, mas o senhor não vê, isso aponta o caminho que libertará a máquina. Pense bem Sr. Presidente. - O deputado se levantou e sua voz profunda automaticamente assumiu algumas das entonações que usava nos debates. - A guerra denebiana é uma guerra de computador contra computador. Os computadores deles produzem um escudo impenetrável de contramísseis contra os nossos mísseis, assim como os nossos fazem contra os deles. Quando modernizamos nossos computadores, eles também modernizam os deles, e há cinco anos existe um equilíbrio precário e inútil..

Agora temos em nossas mãos um método para ir além do computador, pular por sobre ele, ultrapassá-lo. Combinaremos a mecânica do computador com o pensamento humano; teremos o equivalente aos computadores inteligentes; bilhões deles. Não posso prever detalhadamente quais serão as conseqüências, mas elas serão incalculáveis. E, caso os denebianos se antecipem a nós nesse aspecto... o resultado pode ser uma catástrofe..

- O que podemos fazer? - disse o presidente, preocupado..

- Colocar o poder da administração em favor de um projeto secreto de computação humana. Chame-o de Projeto Número, se quiser. Posso me responsabilizar pelo meu comitê, mas vou precisar do apoio da administração..

- Mas até onde a computação humana pode ir?.

- Não há limites. De acordo com o programador Shuman, que me apresentou essa descoberta.…

- Já ouvi falar de Shuman, é claro..

- Sim. Bom, o Dr. Shuman me disse que, teoricamente, não há nada que um computador faça que não possa ser feito pela mente humana. O computador apenas processa um número finito de dados e opera um número finito de operações a partir deles. A mente humana pode reproduzir esse processo..

O presidente pensou um pouco..

- Se Shuman diz isso, estou inclinado a acreditar nele... em teoria. Mas, na prática, como alguém pode saber como um computador funciona?

Brant sorriu cordialmente..

- Sr. Presidente, eu fiz a mesma pergunta. Ao que parece, houve uma época em que os computadores eram projetados diretamente pelos seres humanos. Eram computadores simples; antecederam a época em que o uso racional dos computadores fez com que eles projetassem computadores mais avançados.

- Sim, sim. Continue.

- Aparentemente, o técnico Aub conseguiu, por puro lazer, reconstituir alguns desses velhos esquemas, estudou os detalhes do seu funcionamento e descobriu que podia copiá-lo. A multiplicação que acabei de fazer para o senhor é uma imitação do funcionamento de um computador.

- Surpreendente!

O deputado tossiu educadamente.

- Se posso fazer mais uma observação, Sr. Presidente... quanto mais pudermos desenvolver essa coisa, mais poderemos desviar nosso esforço federal da produção de computadores e de sua manutenção. Assim que o cérebro humano assumir o poder, nossas melhores energias poderão ser canalizadas para procurar a paz, e a influência da guerra nos homens comuns será menor. Isso será mais vantajoso para o partido no poder, é claro.

- Ah - disse o presidente. - Entendo o que você quer dizer. Bem, sente-se, deputado, sente-se. Preciso de algum tempo para pensar. Enquanto isso mostre-me esse truque da multiplicação de novo. Deixe ver se eu consigo pegar o macete. O programador Shuman não tentou apressar o assunto. Loesser era conservador, muito conservador, e gostava de lidar com os computadores da mesma forma como seu pai e seu avo. Mesmo assim, ele controlava o monopólio de computadores do oeste europeu; se conseguisse entusiasmá-lo com o Projeto Número, um passo muito grande seria dado.

Mas Loesser continuava com um pé atrás

- Não sei se gosto da idéia de afrouxarmos as nossas rédeas sobre os computadores. A mente humana é uma coisa caprichosa. O computador sempre nos dará a mesma resposta para o mesmo problema. Qual a garantia que temos de que com a mente humana será assim?

- A mente humana, Loesser, apenas manipula os fatos. Não importa se a mente humana ou a máquina faz isso. Elas são apenas instrumentos.

- Sim, sim. Acompanhei sua engenhosa demonstração de que a mente humana pode imitar o computador, mas isso me parece um pouco vago. Aceito a teoria, mas que razão n6s temos para achar que a teoria será confirmada na prática?

- Acho que temos uma razão, senhor. Afinal de contas, os computadores não existiram sempre. O homem das cavernas, com suas trirremes, machados de pedra e estradas de ferro, não tinha computadores .

- E provavelmente não sabia calcular.

- Você sabe muito bem que sim. Até a construção de uma estrada de ferro ou de um zigurate requeria algum tipo de cálculo, e, como nós sabemos, isso foi feito sem computadores.

- Você está sugerindo que eles calculavam da mesma maneira que você me mostrou?

- Provavelmente não. Afinal de contas, esse método, que, a propósito, chamamos de "grafítico", da velha palavra européia graphos, que quer dizer "escrita"... esse método foi desenvolvido a partir dos próprios computadores, portanto não pode ter sido usado pelos primitivos. Ainda assim, o homem das cavernas deve ter tido algum método, não?

- Artes perdidas! Se você está falando de artes perdidas…

- Não, não é isso. Não sou um entusiasta das artes perdidas, embora não afirme que não exista nenhuma. Afinal, o homem comia cereais antes de aprender a fazer culturas hidropônicas, e se os primitivos comiam cereais, eles deviam cultivá-los no solo. De que outra forma poderiam ter conseguido?

- Não sei, mas só acreditarei em terra cultivada quando vir algum grão crescer no chão. Também só acreditarei que se faz fogo esfregando uma pedra na outra no dia em que me mostrarem que isso é possível.

Shuman tentou ser conciliador.

- Bem, vamos nos ater aos graníticos. Isto tudo faz parte do processo de eterificação. O transporte por meio de pesados equipamentos está sendo substituído por transferência direta de massa. Os instrumentos de comunicação se tornam cada vez mais leves e mais eficientes. Por causa disso, compare seu computador de bolso com aquelas engenhocas pesadas de mil anos atrás. Então, por que não dar também o Ultimo e definitivo passo, e abolir os computadores? Vamos, senhor, o Projeto Número é inevitável; ele está progredindo rapidamente. Mas queremos sua ajuda. Se o patriotismo não for suficiente para engajá-lo, pense na aventura intelectual que está em jogo.

- Que progresso? - disse Loesser com ceticismo. - O que você pode fazer além de multiplicar? Pode integrar uma operação transcendental?

- Dentro em breve, senhor, Dentro em breve. No mês passado, aprendi a dividir. Posso determinar, e corretamente, quocientes inteiros e quocientes decimais.

- Quocientes decimais? De quantas casas?

O programador Shuman tentou manter um tom natural.

- Qualquer número!

Loesser ficou de queixo caído.

- Sem um computador?

- Faça um problema.

- Divida vinte e sete por treze. Em seis casas.

Cinco minutos depois, Shuman disse:

- Dois, vírgula, zero sete meia nove dois três.

Loesser conferiu.

- Isso é realmente fantástico. A multiplicação não me impressionou muito porque, afinal, isso envolvia números inteiros e acho que uma hábil manipulação pode conseguir isso. Mas decimais...

- E isso não é tudo. Há uma nova pesquisa em curso que até agora é ultra-secreta e que, falando sinceramente, não posso revelar. Mesmo assim... estamos perto de aprender a fazer uma raiz quadrada.

- Raiz quadrada?

- Ainda tem algumas coisas pendentes e não conseguimos acertar na mosca, mas o técnico Aub, o homem que inventou essa ciência e que tem uma incrível sensibilidade para a coisa, assegura que está prestes a resolver o problema. E ele é apenas um técnico. Um homem como o senhor, um matemático talentoso e tarimbado, não encontraria tanta dificuldade.

- Raiz quadrada - resmungou Loesser, encantado.

- Raiz cúbica também. E então? Está conosco?

Loesser levantou a mão rapidamente.

- Pode contar comigo.

O general Weider marchava de um lado para o outro da sala e se dirigia aos ouvintes à sua frente como se fosse um professor ranzinza diante de uma turma de estudantes indóceis. Pouco lhe importava se eram os cientistas civis que coordenavam o Projeto Número. O general era um líder em todos os lugares e assim se comportava em todos os momentos de sua vida.

- Nenhum problema com as raízes quadradas, então - disse ele. - Eu mesmo não sei como fazê-las, mas já estão concluídas. Mesmo assim, não vamos interromper o projeto só porque já solucionamos os problemas que alguns de vocês consideram essenciais. Vocês podem fazer o que quiserem com os grafíticos depois que a guerra acabar, mas, nesse exato momento, temos problemas específicos que precisam ser solucionados.

Num canto distante, o técnico Aub ouvia aflito. É claro que há muito tempo deixara de ser um técnico, tendo sido dispensado de suas tarefas e convocado a participar do projeto, com um título pomposo e um ótimo salário. Mas é claro que as diferenças sociais permaneciam e os líderes científicos, altamente classificados, jamais o aceitariam em seu meio ou o tratariam em pé de igualdade.

E Aub tampouco desejava isso. Sentia-se tão incomodado entre eles como eles se sentiam incomodados na sua presença.

- Nós só temos uma meta, cavalheiros - estava dizendo o general. - Substituir os computadores. Uma nave que possa viajar pelo espaço sem um computador a bordo pode ser construída em um quinto de tempo e por um décimo dos custos de uma nave computadorizada. Poderíamos ter frotas especiais cinco ou dez vezes maiores do que as de Deneb se eliminássemos os computadores. E até vejo mais além disso. Talvez agora pareça loucura ou um simples sonho. Mas no futuro eu posso ver mísseis tripulados .

Houve um instantâneo murmúrio por parte da platéia.

O general prosseguiu:

- No momento, nosso problema principal é que a inteligência dos mísseis é limitada. O computador que os controla não pode alterar o rumo programado e, por essa razão, eles sempre acabam sendo detidos por antimísseis. Poucos mísseis, se é que algum consegue chegar a seu objetivo, e a guerra de mísseis está prestes a acabar; felizmente, tanto para o inimigo, como para nós.
Por outro lado, um míssil com um ou dois homens dentro, controlando o vôo com graníticos, seria mais leve, mais ágil e mais inteligente. Isso nos daria uma vantagem que pode significar a vitória. Além disso, cavalheiros, as necessidades da guerra nos obrigam a lembrar de uma coisa. Um homem é mais descartável do que um computador. Mísseis tripulados podem ser lançados em maior número e sob circunstâncias que nenhum general empreenderia se usasse mísseis computadorizados.

Ele discorreu sobre muito mais coisas, mas o técnico Aub não esperou. O técnico Aub, na intimidade dos seus aposentos, elaborou cuidadosamente sua carta de despedida. Ela dizia o que se segue: "Quando comecei a estudar o que agora chamam de graníticos, isso não passava de um passatempo. Nada mais do que um agradável passatempo, um exercício para a cabeça.

Quando o Projeto Número começou, achava que as pessoas fossem mais esclarecidas do que eu e que os graníticos poderiam ser usados para ajudar a humanidade, apoiando a modernização dos instrumentos necessários à transferência de massas. Mas agora vejo que ele só será usado para a morte e a destruição.

Não posso suportar a responsabilidade de ter inventado os grafíticos.

Depois, virou contra si o foco do despolarizador de proteínas e morreu instantaneamente.
Eles se reuniram em torno do túmulo do pequeno técnico para prestar-lhe honra por sua notável descoberta.

O programador Shuman fez uma reverência com a cabeça, junto com os outros, mas continuou imóvel. O técnico tinha dado sua contribuição e não era mais necessário. Ele podia ter começado os graníticos, mas agora que o projeto já estava em andamento, iria se desenvolver automaticamente até triunfar, tornando os mísseis tripulados uma realidade, juntamente com tantas outras coisas.

Nove vezes sete, pensou Shuman com orgulho, sessenta e três. Não precisava mais que um computador lhe dissesse isso. Sua própria cabeça era um computador. E isso lhe dava uma fantástica sensação de poder.

Fonte:
ASIMOV, Isaac. Sonhos de Robô. Rio de Janeiro, Ed. Record, 1991. p. 320/330
http://sobral.tripod.com/poder/poder.html

Isaac Asimov (As Leis da Robótica)

As Leis da Robótica foram criadas por Isaac Asimov, e primeiramente existiam apenas 3Leis, mas depois elas foram ampliadas para 4. As Leis da Robótica são:

Lei Zero (criada posteriormente, por um robô que a intuiu no romance "Os Robôs e o Império"): Um robô não pode causar mal a humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal, nem permitir que ela própria o faça.

Primeira Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.

Segunda Lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos que em tais ordens contrariem a Primeira Lei.

Terceira Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Lei.

Curiosidades

A expressão robô não é de Asimov. Apareceu em 1920, na obra de teatro de Karel Capek R.U.R. Robôs Universais de Rossum, ainda que a palavra em si se deve ao seu irmão Joseph, já que “robô é trabalhador”. Apesar de tudo que se acreditava, na obra de teatro não é um robô, e sim um andróide. Em troca, inventou-se a expressão robótica, ou seja, a ciência que estuda os robôs.

Apesar de ser um autor de muito êxito, Isaac Asimov também teve fracassos; talvez o maior deles fosse a revista Asimov’s SF Adventure Magazine, que iniciou sua publicação no ano de 1978, e terminou-a no mês seguinte, ou seja, publicou só um número.

Asimov sempre demonstrou preocupação com o dinheiro. A obra pela qual recebeu menos foi “O sentido secreto”, pela qual lhe pagaram pouco, mas também foi a qual pagaram mais por palavra: 2,50 $, já que o editor afirmava que só havia comprado-a pelo seu nome: Isaac Asimov.

Outra de suas manias era não desperdiçar nada. Se um relato era desprezado por um editor, Asimov o apresentava a outro. Em uma edição do ano de 1955, “O Plano dos 1000 anos” foi renomeado para “Fundação”.

Apesar da crença de algumas pessoas, Asimov não foi o escritor mais produtivo da história. Quem tem o recorde é Josef Ignacy Kraszewski, um escritor do século XIX, que escreveu mais de 600 livros.

Entre outros cargos, Asimov foi vice-presidente do Club Mensa, uma associação cujos sócios tem que superar certas provas de inteligência para serem admitidos.

Asimov sofria de acrofobia, medo de altura. Só voou em dois aviões em toda a sua vida, e as viagens de barco também não eram seu forte, ele enjoava com muita facilidade. Nesta acrofobia muitos viram certo paralelismo com a agorofobia, que faz sofrer os habitantes da Terra nas novelas iniciais do Ciclo de Trantor.

Asimov odiava ver seu nome escrito errado. Esse foi um dos seus motivos para escrever, em 1957, o relato: “Meu nome se escreve com S”. Os erros mais notáveis foram produzidos nas etapas da revista Galáxia, de Novembro de 1952; e no Prêmio Nebula, outorgado por O homem bicentenário, em 1976.

Mesmo tendo nascido no seio de uma família judia, e conhecendo bem a Bíblia, Asimov escreveu “Guia de Asimov sobre a Bíblia”, e “A história de Ruth”. Asimov era ateu; se considerava um humanista, ou seja, acreditava que os avanços da Humanidade eram responsabilidade dos humanos, e não de seres sobrenaturais.

A idéia da novela Viagem Fantástica não é original de Asimov. Foi escrita baseada em um guia cinematográfico escrito por Otto Klement e Jay L. Biby, e Asimov escreveu tão rápido que o livro apareceu seis meses antes da estréia do filme. Asimov nunca esteve contente com este trabalho. Na dedicatória do livro, ele colocou: “a Mark e Márcia, que me ‘obrigaram’ a escrever este livro”. Asimov tentou corrigir algumas falhas do guia original, mas apesar da oportunidade de escrever sobre anatomia e fisiologia, motivo que no começo o atraiu, ele nunca considerou essa obra um trabalho próprio.

A Companhia de Robôs e Homens Mecânicos dos Estados Unidos, mais conhecida como U.S. Robôs implanta a todos os robôs positrônicos as Três Leis da Robótica, que regem seu comportamento.”

Quando Asimov desenhou os robôs positrônicos criou três leis para proteger o homem, e permitir sua aceitação, salvando-os do chamado Complexo de Frankenstein. Diversos especialistas opinam que se algum dia chegarem a criar seres metálicos desta complexidade, sem dúvida eles levarão implícitas essas normas ou algumas regras de comportamento equivalentes, a fim de superar o medo que podem gerar os robôs. A intuição de Asimov sobre o futuro pode ir desde buscar água no espaço até a cirurgia microcelular.

Os Robôs

Os robôs têm estrutura cerebral positrônica, formada por circuitos semicondutores, que transmitem as informações processadas na placa mãe, feita de silício, aos equipamentos responsáveis pelas funções do robô. Sua estrutura é atômica, de ferro, e não molecular como as estruturas orgânicas. Os robôs não morrem, simplesmente podem ser destruídos por um ser humano sem relutarem. A maioria dos robôs são feitos para uma função específica, mas existe uma minoria que é composta de um cérebro positrônico mais bem elaborado, podendo desenvolver várias atividades, inclusive apresentando criatividade nessas atividades.

O papel social dos Robôs

O robô foi desenvolvido para servir e proteger o homem. Todo robô é por natureza escravo. Se o robô for versátil, apresentando uma logística menos automática, ele tem condições de se tornar livre. Porém, mesmo livre, o robô está sujeito a obedecer aos 3 mandamentos da robótica, tendo sido essa a sua condição inicial de existência e a primeira informação armazenada em sua memória. Se o robô não cumpre com competência os deveres para os quais foi designado, ele deve ser substituído.

Vantagens dos robôs
– O robô apresenta uma inteligência superior a de qualquer ser humano.
– O robô pode executar qualquer tarefa que lhe for dada, e dependendo de sua placa positrônica, pode executar apenas uma tarefa com perfeição incontestável.
– O robô não morre naturalmente, somente nas mãos do homem.
– Um robô de cérebro positrônico complexo e em boas condições pode mudar de corpo mecânico, quando o seu estiver em mau estado.
– O robô, além de extremamente inteligente também é muito forte, podendo essa força durar intacta até 25 anos em uma mesma estrutura mecânica.

Desvantagens dos robôs
– Os robôs são eternos escravos do homem.
– Mesmo os robôs mais complexos têm de cumprir os 3 mandamentos, pois foram programados para isso.
– A vida do robô está na mão do ser humano, de preferência o seu proprietário.
– Os robôs não têm sentimentos e a maioria não apresenta pensamento criativo.
– Os robôs são discriminados em razão do medo que a raça humana tem deles.
– Um robô pode ser facilmente reconhecido e vítima de preconceito em razão da sua estrutura de ferro.
– Mesmo quando é livre, e seu corpo apresenta estrutura biológica, o robô não pode ser considerado um homem, e sim um andróide, por causa de seu cérebro positrônico.
– Se o robô modificar a estrutura do seu cérebro positrônico para a estrutura de um cérebro biológico, ele fica vulnerável e morre facilmente.

Utilidades dos robôs
– Tarefas domésticas simples.
– Indústrias.
– Pesquisas científicas.
– Exploração espacial.
– Testes nucleares.

Tipos de robôs

Comuns – são aqueles que realizam uma tarefa específica com perfeição.
Versáteis – são aqueles que têm uma estrutura cerebral positrônica complexa, podendo fazer diversas tarefas com perfeição, chegando até a apresentar alguma criatividade.
Andróides – são os robôs versáteis em uma estrutura biológica comum.

Isaac Asimov é conhecido por suas histórias de robôs, seres dotados com cérebros positrônicos, que os conduzem a situações inesperadas e surpreendentes.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Asimov
Império de Isaac Asimov. Disponível em
http://anglopor8a09.vilabol.uol. com.br/index.htm

Isaac Asimov (Alguns de Seus Livros)

Eu, Robô – O Livro e o Filme

O Livro foi lançado em 1950.
O Filme estreou em 2004.

Em um cenário futurista surge o detetive Del Spooner (Will Smith) e logo percebemos que algo o incomoda no ambiente que o envolve: robôs dividem espaços com seres humanos nas ruas daquela cidade, se encarregando das chamadas tarefas mais pesadas do dia a dia social - são lixeiros, entregadores, trabalhadores domésticos.

Spooner é um policial atormentado por um trauma recente que amplifica sua desconfiança em relação aos robôs. Para ele, a qualquer momento uma dessas máquinas irá comprovar sua tese de que não se pode confiar em robôs. Para todas as outras pessoas, essa é uma tese paranóica, já que todos os humanóides (robôs com forma similar à humana) saem das linhas de produção da poderosa companhia U.S. Robots programados com as três leis da robótica:

Este é o código criado pelo cientista Alfred Lanning (James Cromwell) que, segundo a garantia da U.S. Robots e a crença geral da população, determina total proteção contra a famosa "síndrome de Frankenstein", pela qual a criatura tende a voltar-se contra seu criador.

É nesse ambiente que se passa Eu, Robô, superprodução dos estúdios da Fox norte-americana inspirada em um livro de contos homônimo do escritor russo-americano Isaac Asimov (1920-1992, criador original das chamadas leis da robótica) que chega às telas brasileiras nesta quinta-feira, 5 de agosto. O filme explora as possíveis contradições que podem subverter a razão das leis da robótica e que permitam que os robôs venham a se transformar em uma ameaça à humanidade.

Eu, Robô - dirigido por Alex Proyas (de Cidade das Sombras e O Corvo) - trabalha seu roteiro passando da discussão filosófica sobre a possibilidade de o ser humano criar uma máquina que possa desenvolver inteligência suficiente para tornar-se completamente autônoma para a ação policial tão cara à produções cinematográficas de Hollywood.

A trama (desde sua origem, nos contos de Asimov, e também no próprio roteiro do filme, de Jeff Vintar e Akiva Goldsman) traz elementos que são referências de histórias que alimentam o universo da cultura ocidental como: Frankenstein (a criatura que se volta contra o criador) e Pinóquio (a criatura que quer ser gente) na literatura; Blade Runner (a luta pela sobrevivência dos andróides e a procura por seu criador), 2001 - Uma Odisséia no Espaço (a máquina que assume o controle em lugar do homem) e Inteligência Artificial (a humanização de um andróide), no cinema; e outras até mais prosaicas, como a série de TV Ciborg (que retrata o implante de próteses biônicas em um ser humano) e o desenho animado Os Jetsons (quem não se recorda da arrumadeira da família, com seu corpo de metal vestindo avental e touca de doméstica?).

Evidente que como toda boa superprodução dos Estados Unidos, um herói (Spooner) - que em um primeiro momento é considerado um outsider - vai se defrontar com dramas provocados pelo inesperado (não para ele), onde o desenvolvimento da inteligência artificial foge ao controle do criador, a ponto de essa "consciência eletrônica" poder reinterpretar da forma que lhe parece mais adequada as regras estabelecidas nas leis da robótica.

Os efeitos especiais são um capítulo à parte. Mas como a excelência nesta área vem estabelecendo novos parâmetros a cada produção desde o primeiro episódio da série Matrix, esses efeitos acabam sendo diluídos na trama de forma a serem praticamente acessórios. É claro que sem o uso desses efeitos, a trama pareceria muito menos verossímil. Vale lembrar ainda que o robô que se torna centro da trama, Sonny, é representado pelo ator Alan Tudyk, sobre cuja atuação é montada uma "maquiagem eletrônica" para que o exemplar se encaixe no desenho padrão dos modelos NS-5 (Assistente Doméstico Automático) produzidos pela U.S. Robots.

Durante a trama, é interessante observar a evolução de Sonny, um robô "único", desenhado e criado pelo doutor Alfred Lanning - principal pesquisador e um dos fundadores da U.S. Robots - para ser especial. Ele demonstra emoções, sentimentos e tem a capacidade especial de sonhar (capacidade que vai até se transformar em um dom premonitório, como se verá ao final do filme).

ROBBIE
Destaques para Robbie, publicado originalmente com o título "Strange Playfellow", a primeira história sobre robôs escrita por Asimov, na qual as Três Leis da Robótica são explicitamente apresentadas pela primeira vez.

– George, eu disse! Quer largar esse jornal e olhar para mim?
O jornal caiu ao chão e Weston virou o rosto cansado para fitar a mulher.
– O que é, querida?
– Você sabe o que é, George. Trata-se de Glória e daquela máquina terrível.
– Que máquina terrível?
– Ora, não finja que não sabe de que estou falando. É aquele robô que Glória chama de Robbie. Ele não a deixa por um só instante.
– Bem, por que haveria de deixar? Não deve deixá-la. E, certamente, não é uma máquina terrível. É o melhor robô que se pode comprar e pode ter absoluta certeza de que me custou meio ano de ordenado. Valeu a pena, porém; ele é muito mais inteligente do que a metade de meus empregados do escritório.
Fez menção de pegar novamente o jornal, mas sua esposa foi mais rápida, apanhando-o primeiro. – Escute, George. Não admito que minha filha seja entregue a uma máquina... e não me interessa o quanto ela seja inteligente. Não tem alma. Ninguém sabe o que pode estar pensando. Uma criança não foi feita para ser guardada por um objeto de metal.
Weston franziu a testa.
– Desde quando você decidiu isso? Há dois anos que ele está com Glória e só agora você se preocupa.
– No início, era diferente. Uma novidade; tirava-me uma carga dos ombros e... era uma coisa elegante. Mas agora, não sei... Os vizinhos...
– Ora, o que têm os vizinhos a ver com o assunto? Ouça: pode-se ter infinitamente mais confiança em um robô do que em uma ama-seca humana. Na realidade Robbie foi construído exclusivamente com uma finalidade: fazer companhia a uma criança pequena. Toda a sua “mentalidade” foi criada com esse único objetivo. Ele não pode deixar de ser fiel, carinhoso e bom. É uma máquina – feita assim. O que é bem mais do que pode dizer a respeito dos seres humanos.
– Mas poderia acontecer algo errado. Algum... algum... – a Sra. Weston era um tanto ignorante a respeito dos órgãos internos de um robô – ... alguma pecinha poderá soltar-se e aquela coisa horrível ficar maluca e... e...
Interrompeu-se, não conseguindo dizer em voz alta um pensamento tão óbvio.
– Tolice – negou Weston, com um involuntário estremecimento nervoso. –Isso é completamente ridículo. Na época em que compramos Robbie, tivemos uma longa conversa sobre a Primeira Lei da Robótica. Você sabe que é impossível a um robô fazer mal a um ser humano; que muito antes de acontecer o bastante para alterar a Primeira Lei, o robô se tornaria completamente inoperante. Trata-se de uma impossibilidade matemática. Além disso, eu chamo um engenheiro da U.S. Robôs duas vezes por ano e ele faz uma revisão completa no pobre aparelho. Ora, não há maior possibilidade de acontecer algo errado com Robbie do que eu ou você ficarmos birutas de uma hora para outra. Na verdade, as probabilidades são consideravelmente menores, e além disso, como é que você vai tirá-lo de Glória?
Fez um novo gesto inútil para apoderar-se do jornal, mas a mulher atirou raivosamente o Times para a outra sala.
– É justamente isso, George! Ela não brinca com mais ninguém. Há dúzias de meninos e meninas com quem poderia fazer amizade, mas ela se recusa. Nem mesmo chega perto deles, a menos que eu a obrigue. Uma menina não deve crescer assim. Você quer que ela seja normal, não quer? Quer que ela seja capaz de representar o seu papel na sociedade.
– Você está com medo de fantasma, Grace. Finja que Robbie é um cachorro. Já vi centenas de crianças que gostam mais de um cachorro do que do próprio pai.
– Um cachorro é diferente, George. Precisamos livrar-nos daquela coisa horrível! Você pode vendê-lo de volta à companhia. Já indaguei a respeito e sei que pode.
– Indagou? Ora, escute aqui, Grace, não vamos bancar idiotas. Ficaremos com o robô até Glória crescer um pouco mais, e não quero que se volte a tocar no assunto.
E saiu da sala, amuado.
O Homem Bicentenário
Lançamento 1976

Isaac Asimov considera esta novela a melhor história de robô que ele escreveu até hoje e "comparável aos meus maiores êxitos em qualquer outro gênero literário". Os críticos também concordam com esta opinião. Destinada a figurar em uma antologia que publicou em 1976 para festejar o segundo século da independência dos Estados Unidos, Asimov partiu do título para, aos poucos, criar os pormenores da trama. Estava combinado para 7.500 palavras, mas o autor se deixou empolgar e acabou tendo o dobro. O homem bicentenário, de forma premonitória, toca em problemas que certamente já se colocam nos altos escalões da pesquisa científica. Aqui, Andrew, o robô perfeito, extremamente inteligente, angustiantemente persegue as fragilidades humanas e se torna personagem desta que é uma obra-prima da ficção científica.

Despertar dos Deuses
Lançamento 1972

Que peripécias viverá a humanidade no futuro? Num mundo que sobreviveu a tremenda crise ecológica e que tem fome de energia? Quais os problemas que enfrentará? Do contato da Terra com um desconhecido Universo paralelo surgem terríveis enigmas imprevistos. Como evitar a catástrofe, que virá com a subversão das leis da natureza, se, contra a estupidez humana, os próprios deuses disputam em vão?

Da Terra, à beira da tragédia, somos levados por Isaac Asimov ao estranho e misterioso Universo paralelo, onde seres dotados de inteligência se conduzem de acordo com um padrão de vida completamente estranho ao nosso. E dali somos transferidos ao mundo Selenita, com a sua colônia humana já estabelecida e já desenvolvendo novas formas de convivência social. A essas situações fascinantes se acrescenta a emoção das paixões conflitantes de personagens inesquecíveis desenhados com invulgar maestria literária. Protagonistas de episódios cuja sucessão alucinante não esconde uma meditação profunda, em verdade projetada no futuro a partir da experiência crucial de nossa era.

Fim da Eternidade
Lançamento 1955

Qual seria a nossa atitude se descobríssemos que nossa individualidade como seres humanos poderia ser totalmente anulada por um sistema social maior, dominado pela máquina? E qual seria a atitude sensata e válida a ser tomada se tivéssemos que escolher entre a nossa existência, tal como a desejamos, e a continuidade do mundo de que dependemos, mas que é contrário às nossas aspirações?

Eternidade é uma organização dedicada a cuidar da humanidade, que se move em um tempo paralelo, medindo o tempo em séculos, pulando de um século a outro, entrando e saindo de nosso tempo real, para efetuar microtrocas (TMN: Troca Mínima Necessária, que provoca o RMD: Resultado Máximo Desejado) que suavizem o curso dos acontecimentos e criem o bem total. O processamento de pequenas mudanças no Tempo era a forma ideal de se recuperar o equilíbrio perdido.

Para isso escolhe-se uma das infinitas realidades possíveis, e faz-se os ajustes para que esta produza, mas a escolha do consenso sempre é uma escolha que elimina o extraordinário, que cria proteção e segurança à espécie humana, etc..., e por sua vez elimina as genialidades que provocam saltos na ciência humana.

Eternidade se estende pelos séculos dos séculos de forma infinita, e há uma série de séculos, que vão do ano 70.000 ao 150.000.

Esta é uma das melhores novelas de Asimov. O protagonista é Andrew Harlan, um executor encarregado de realizar as trocas que modificarão a realidade.

Asimov nos descreve uma sociedade estruturada, encarregada de dirigir os destinos da humanidade, e uma força em desacordo com o sistema instaurado que pretende mudar definitivamente essa organização, eliminando a Eternidade.
Viagem Fantástica
Lançamento 1966

O Doutor Benes, científico especialista em miniaturização, vai ao lado ocidental. Resolve o Princípio da Incerteza, pelo que diz: “quanto mais se reduz um objeto, menos tempo se permanece”. Eles – é assim como chamam os Soviéticos –, atentam contra sua vida. Um carro lançado choca contra o carro de Benes; quando o transportam à base, provoca-lhe um coágulo no cérebro, e a única forma de eliminá-lo é desde dentro do cérebro. As Forças Dissuasórias de Miniaturização Combinada (FDMC) bolam um plano para salvá-lo. Miniaturizarão um submarino com cinco tripulantes, o introduzirão em sua corrente sangüínea através da artéria carótida, subirão ao cérebro, eliminarão o coágulo e serão extraídos depois – aparentemente muito simples.

A crítica internacional é unânime em considerar Viagem Fantástica uma das melhores novelas de ficção científica jamais escritas. A densidade da ação mantém um clima de suspense constante e, pela primeira vez, alguém concebeu uma viagem onde o ambiente é o corpo humano.

As possibilidades infinitas da ciência moderna e o clima de otimismo que cercam as constantes descobertas parecem ultrapassar todas as barreiras do possível.

Tripulação
Pete Lawrence Duval - neurocirurgião.
Cora Peterson - ajudante do Doutor Duval.
Max Michels - especialista em circulação sanguínea e cartógrafo da nave.
Capitão Wiliam Owens - piloto do submarino.
Charlie Grant - agente do serviço secreto, herói e chefe da expedição.

Enigmas dos Viúvos Negros
Lançamento 1990

Enigmas dos Viúvos Negros é uma coletânea de doze histórias de mistério, escrita por Isaac Asimov, sobre as aventuras pelos caminhos do raciocínio de sete intelectuais, que formam o Clube dos Viúvos Negros. Uma vez por mês esses aventureiros cerebrais se encontram para jantar, conversar e solucionar enigmas, tudo isso regado a bons vinhos, no Restaurante Milano, onde são sempre servidos por Henry, cuja habilidade vai bem além da de um mero garçom.

Os Viúvos Negros recebem um convidado em cada um desses jantares que, depois da refeição, é submetido a uma bateria de perguntas sobre o modo como justifica sua existência. Mas o convidado quase sempre está enfrentando algum tipo de dificuldade, ou tem um problema que não consegue resolver, ou ainda está envolvido num mistério.

Em Enigmas dos Viúvos Negros, traições, desaparecimentos e mistérios são o prato principal de cada novo jantar.
Nêmesis
Lançamento 1989

Nêmesis não faz parte do Ciclo de Trantor. É um livro que também trata da conquista do Universo, mas não tem nada à ver nem com o Império, nem com os Robôs.

O ano é 2236. A Terra e suas cem colônias espaciais estão superpovoadas, decadentes, ultrapassadas. À dois anos-luz de distância, escondida por uma nuvem de poeira, está Nêmesis, a estrela mais próxima do Sol, em torno da qual gira o planeta Megas, com o satélite natural Eritro e o artificial Rotor.
Quando Nêmesis foi descoberta, os rotorianos a consideraram como a última esperança da raça humana, ponto de partida para uma nova civilização. E foi sob a liderança do comissário Janus Pitt, homem de forte personalidade, que eles viajaram secretamente para o sistema nemético com o objetivo de fundar uma sociedade mais forte, mais pura e mais organizada que aquela que haviam deixado para trás.

Mas Marlene, uma jovem rotoriana dotada de uma incomum habilidade de interpretar, pelos indícios do corpo, as mais bem guardadas emoções humanas, descobre que a promissora estrela é, na verdade, uma terrível ameaça para a Terra. Pitt está a par de todo o segredo, mas se recusa a prevenir os terráqueos; e Marlene sabe que se não agir rápido, o desastre será inevitável.

O cair da noite
Lançamento 1969

No planeta Kalgash sempre é de dia. Seus seis sóis – Onos, Trey, Petru, Dovim, Tano e Shita – fazem com que o céu esteja sempre azul. Essa falta de escuridão provoca aos habitantes de Kalgash a Síndrome da Escuridão, pânico de não ter luz.

Os protagonistas da história são Siferra 89, uma arqueóloga da Universidade de Saro, que descobre debaixo das ruínas do que se supõe ser um assentamento antigo, restos de cidades; Beenay 25, astrônomo que descobre um erro na Teoria da Gravitação Universal de Athor 77, seu mestre, já que os sóis não seguem as órbitas previstas. Talvez por haver um sétimo Sol?

Mondior 71, sumo sacerdote e Folum 66, sua voz, líderes dos Apóstolos da Chama, predizem que depois de um Ano de Graça, 2049 anos de Kalgash, os deuses comprovarão a bondade da humanidade, e se não passarem na prova, destruirão a Terra, enviando Chamas Celestiais. Segundo o Livro das Revelações, isso acontecerá logo; concretamente em 19 de theptar. Thermon 762 é um periodista do diário Crônica que investigará a notícia do Fim do Mundo. Mas, o que aconteceria se a Escuridão chegasse a Kalgash?
Fundação
Lançamento 1975

A trilogia Fundação mostra a evolução de uma crise histórica num imenso Império Galáctico humano. O homem povoa os planetas da Galáxia, a capital localizada em Trantor, centro de todas as intrigas, símbolo da decadência imperial. Graças à psicohistória, uma ciência que estuda os fatos históricos à luz da matemática, Hari Seldon prevê o desaparecimento do Império e o retorno à barbárie. Tem então a idéia de criar duas Fundações situadas em cada extremo da Galáxia, para reduzir o tempo de barbárie a um milênio.

Seldon acaba sendo detido e julgado como traidor, entretanto consegue convencer seus juízes de que deseja apenas preservar o saber do Império através de uma fundação enciclopédica. A partir de então começa a trama real da história que se entrelaça de tal forma que prende o leitor até suas últimas páginas.

Fundação, talvez um dos livros mais conhecidos da ficção científica, está formado realmente por cinco histórias, que narram o início da andadura do planeta Terminus, onde se inicia o projeto da Fundação para acordar o período de barbárie, que continuará com a queda do Primeiro Império Galáctico.

1º : Os psicohistoriadores

A chegada de Gaal Dornick a Trantor, matemático convidado por Hari Seldon para colaborar no projeto da psicohistória, permite explicar a Asimov o projeto da Fundação, como o estabelecimento de uma Fundação em um planeta distante permitirá reduzir o período de anarquia entre a queda inevitável do Primeiro Império e a chegada do Segundo Império.

2º: Os enciclopedistas

Estabelecidos já em Terminus, e transcorridos 50 anos, os membros do projeto Fundação chegam à primeira crise de Seldon. As crises poderiam definir-se como momentos de tensão, por motivos internos ou externos, que habitualmente exigem uma mudança ou uma ação. Além disso, toda crise tem um prego para sustentá-la e levar a Fundação na direção adequada. Aparece a figura de Salvor Hardin, um dos primeiros alcaides de Terminus, que encontra a solução para a crise.

3º: Os alcaides

Terminus estendeu sua influência mediante uma combinação de religião amparada baixo a superioridade científica. Anacreonte, um dos planetas mais próximos, tenta dominar Terminus, ou seja, é uma crise exterior resolvida pelo alcaide Salvor Hardin.

4º: Os comerciantes

A Fundação continua estendendo-se pela Galáxia, com uma combinação de comércio e religião, mas começam a surgir as dificuldades. Assim requere-se uma nova mudança, que como todas as mudanças produz resistência.

5º: Os príncipes comerciantes

A influência de Terminus foi aumentando. Começa a abandonar-se a religião, e o comércio é o meio de conseguir o poder e dominar o resto do Universo.

Segunda Fundação

Formada por dois relatos. Com personagens diferentes, ambas se centralizam no mesmo: a busca da Segunda Fundação para sua eliminação.

O Mulo inicia a busca

O Mulo convertido no Primeiro Cidadão da União de Mundos não abandonou sua intenção inicial de localizar a Segunda Fundação; estendeu rapidamente seu domínio pela Galáxia, mas continua temendo a única força que realmente pode vencê-lo: a Segunda Fundação. Aqui nos relatam o encontro entre essas duas forças.

A busca da Fundação

O Mulo envelheceu e morreu. Voltaram ao poder os governantes da Primeira Fundação, encontrando-se com um Império maior, mas a Primeira Fundação não abandonou seu plano de localizar e destruir a Segunda Fundação. Por outro lado, a subida ao poder do Mulo demonstrou que a Fundação não é invencível e Kalgan declara-lhes guerra.

Fundação II
Lançamento 1982

A Primeira Fundação conservou e depois propagou as ciências físicas; a outra, a Segunda Fundação, oculta aos olhos de todos – secreta mesmo –, controlava cada vez mais o desenvolvimento psicohistórico da Galáxia, rumo ao Segundo Império, com o auxílio do domínio da mente – a ciência mental. Mas a psicohistória é uma ciência estatística – e a margem de erro acabou aparecendo.

Um mutante, o Mulo, surgiu do nada, com poderes mentais numa Galáxia que não os tinha, exceto pela clandestina Segunda Fundação. Os exércitos desistiam de combatê-lo e se tornavam submissos.

A Primeira Fundação, que aos poucos ia substituindo e reconstruindo o Império, foi desbaratada. O Plano de Seldon voltou a ser apenas um sonho teórico. Por uma mulher, Bayta Darell e pela Segunda Fundação, o Mulo foi detido. Mas, com este movimento, a Primeira Fundação descobriu a existência da Segunda, e seus membros, fortemente independentes, imperialistas e individualistas, não querem uma Galáxia controlada por marioneteiros telepáticos; destruíram tudo que puderam descobrir da Segunda Fundação. Passados quase 500 anos depois do estabelecimento da Primeira Fundação, parece que nada a impedirá de fundar o Segundo Império Galáctico... Nada?
A Fundação e a Terra
Lançamento 1986

Golan Trevize, Conselheiro da Primeira Fundação, vê-se diante de uma tarefa assustadora: decidir qual será o futuro da Galáxia. Rejeitando a possibilidade de um Império Galáctico baseado na tecnologia da Primeira Fundação e também a de um Império baseado nos poderes mentais da Segunda Fundação, Trevize escolhe Gaia. O planeta Gaia é um super organismo, um aglomerado de seres que encontra sua força na unidade mental. Se toda a Humanidade se fundir com Gaia, o resultado será um supra-superorganismo dedicado ao bem comum, uma entidade que Trevize chama de Galáxia Viva.

Qual, porém, a razão pela qual Trevize foi levado a optar por Gaia em vez de uma das Fundações? Estará relacionada de alguma forma à história do planeta de origem da raça humana, que os antigos chamavam de Terra? Trevize não descansará enquanto não conhecer a resposta. Descobrindo que todas as informações a respeito da Terra desapareceram misteriosamente da Biblioteca Galáctica de Trantor, parte de Gaia em busca do planeta "perdido". Enquanto ele e seus companheiros, o historiador Janov Pelorat e a linda mulher de Gaia, chamada Bliss, viajam de planeta em planeta, enfrentam uma odisséia da qual depende o destino do Império... e da própria Humanidade.

Prelúdio da Fundação
Lançamento 1988

O ano é 12.020 da Era Galáctica e Cleon I ocupa o instável trono imperial em Trantor, capital do Império Galáctico. Quarenta bilhões de pessoas compõem uma civilização de imensa complexidade tecnológica e cultural, formando uma malha de relações tão intricadamente tecida que a retirada de um único fio pode desfazer toda essa estrutura complexa. O imperador está inquieto, pois sabe que há muitas pessoas interessadas em sua queda e que a única saída para continuar detendo o controle do Império está nas mãos de um jovem matemático...

Ao desembarcar em Trantor, o heliconiano Hari Seldon, protagonista da história, não tem a menor consciência das conspirações políticas em curso. Mas, ao apresentar na Convenção Decenal uma monografia sobre a psicohistória, sua notável teoria da previsão, ele sela seu destino e determina o futuro da humanidade. Tendo em mãos o poder profético tão ambicionado pelo imperador, o matemático se transforma de uma hora para a outra, no homem mais procurado do Império.

Seldon vê-se obrigado a fugir, e a lutar desesperadamente para evitar que sua teoria caia em mãos erradas, enquanto forja sua poderosa arma para o futuro: uma força que se tornará conhecida

Crônicas da Fundação
Lançamento 1993

Aos 21 anos, Isaac Asimov começou a escrever sua série da Fundação, sem ter ainda consciência de que aquela obra viria a ser considerada uma pedra angular da Ficção Científica. Quase cinco décadas se passaram até que ele viesse a concluir o brilhante épico. Crônicas da Fundação, escrito pouco antes de sua morte, é o último e inesquecível presente do mestre à sua legião de admiradores.

Em uma narrativa fascinante de perigo, intriga e suspense, Asimov relata a segunda metade da vida do herói Hari Seldon em sua luta para aperfeiçoar a revolucionária teoria da psicohistória e firmar o meio através do qual estaria assegurada a sobrevivência da humanidade: a Fundação. Afinal, ele e seu fiel bando de seguidores sabem que o poderoso Império Galáctico está se desmoronando e sua inevitável destruição irá devastar toda a Galáxia...

A Fundação e o Império
Este livro está formado por dois relatos; o primeiro nos apresenta as últimas coletâneas do Império, que, mesmo em decadência, mantém um poder formidável contra uma Fundação que começa a se estender pela Galáxia.

O General

Um general forte e inteligente tenta dominar os planetas que se separaram do Império, pondo Terminus contra eles. Por sorte contavam com "a mão morta de Seldon", que lhes ajuda a resolver a crise.
O mulo
Aqui o protagonista é um mutante com poderes mentais que permitem-lhe dominar mentes alheias. Ele consegue tomar o poder, um fato que não está previsto na psicohistória, que só pode prever mudanças sociais produzidas por massas humanas, e não atuações individuais. A crise prevista era de relação entre o centro e a periferia da Fundação.

O Mulo toma o poder em Terminus e, detectando um segundo poder mental, dedica-se a buscar a Segunda Fundação, que encarrega-se de velar pelo bom funcionamento do plano. Com um científico da Primeira Fundação – Ebiling Mis –, este descobre a situação da Segunda Fundação.

Poeira de Estrelas
Lançamento 1951

A narrativa inicia-se numa Terra ainda radioativa e insalubre. A época refere-se a um período primitivo da expansão do Império Galáctico, quando apenas 50 mundos constituem a sua unidade.
Em Poeira de Estrelas, Isaac Asimov se lança no fascinante e misterioso espaço cósmico, confundindo ficção e realidade futura, numa antecipação do que a era em que vivemos já denuncia para os cientistas e tecnólogos de hoje.

As correntes do Espaço
Lançamento 1952

A humanidade disseminou-se em alguns milhares de mundos habitáveis, formando-se pequenos reinados que lutam entre si. O planeta Florina, baixo o domínio de Sark, é um desses mundos, mas também tem um problema: seu Sol vai explodir e o único homem que sabe disso perdeu a memória.

Alguns habitantes de Florina trabalham para Sark recolhendo o Kirt, um “algodão” extremamente duro e resistente, usado para fins industriais ou para artículos de luxo. Isso converte Florina numa peça desejada também por Trantor, que evoluiu da República Trantoriana à Confederação Trantoriana e agora é o Império Trantoriano, e está próximo de formar o Império Galáctico.

Florina vem a ser o único lugar onde se obtém o Kirt, pois não se consegue duplicar sua qualidade em nenhum outro planeta, por isso suportam-se certos abusos por parte de Sark, a fim de garantir o comércio.

Os robôs
Lançamento 1957

O planeta Solaria poderia eliminar a Terra e transformá-la em duas partes iguais, e provavelmente o faria. Solaria era poderosa e ávida de poder.

Mais de duzentos anos se passaram para que desenvolvesse a arma derradeira - um maciço exército de robôs que poderia destruir a Terra e governar o Universo em questão de dias. Mas, em vista dos fatos, isto teria que esperar.

Um dos mais eminentes cientistas de Solaria foi encontrado brutalmente assassinado e só um Terrestre, Elijah Baley, poderia desvendar o desconcertante e sombrio mistério. E assim, mesmo contrariados, os Solarianos pediram o auxílio de um Terrestre.

Os Robôs do Amanhecer
Lançamento 1983

O protagonista é Elijah Baley. No planeta do amanhecer, robôs e seres humanos coexistem pacificamente até que o robô Jander é “assassinado”, ou melhor, desativado, em Aurora. Jander era um andróide, um robô de formas humanas - uma das mais sofisticadas e avançadas manifestações de inteligência artificial jamais concebidas.

Só um homem no planeta teria os meios, o motivo e a oportunidade de cometer o crime: Hans Fastolfe.

Hans contrata Elijah Baley para provar que ele não é o criminoso, o que faz Elijah ir ao Planeta Aurora.
A importância dessa inocência, é que o professor Fastolfe defende a liberdade de todos os humanos, para estender-se pela Galáxia, frente à oposição do doutor Kelden Amadiro, que quer que só os Espaciais possam conquistar o Universo e impedir que os terrestres saiam da Terra.

Armado unicamente de seu instinto, sua às vezes estranha lógica e as três imutáveis Leis da Robótica, Baley dispõe-se a revelar o mistério...
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Fontes:
Império de Isaac Asimov. Disponível em
http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=4682

Império de Isaac Asimov. Disponível em http://anglopor8a09.vilabol.uol.%20com.br/index.htm

Isaac Asimov (Seus Personagens - Curiosidades)

Hari Seldon
Hari Seldon nasceu em Helicon, setor de Arturo, em 11988 do Império Galáctico - o mesmo ano que o imperador Cleon I - ou se preferirem em 79 antes da E.F. (Era Fundacional). Seu pai era um cultivador de tabaco em plantas hidropônicas; licenciou-se em Matemática, e em Helicon começa a desenhar a teoria da psicohistória. Podemos definir a psicohistória como o ramo da Matemática que se ocupa das reações de conglomerações humanas ante determinados estímulos sociais e econômicos.

No ano de 12020 chega a Trantor, onde expõe suas idéias no Congresso de Matemáticos, o que faz com que certas forças se fixem nele, e ele tem que fugir por Trantor, o que lhe ajuda a compreender a diversidade humana e que voltará com uma esposa, Dors Venabili; um filho, Raych; e um amigo, Yugo Amaryl, graças aos esforços do qual, se fixaram nas bases da psicohistória.

Tornou-se professor do Departamento de Matemática da Universidade de Streling, aonde chegou a diretor, e no ano 12028 foi nomeado Primeiro Ministro do Império, cargo que ocupou até o assassinato de Cleon I, em 12038, devido à uma conspiração.

Voltou à Universidade, onde pôde dedicar-se à psicohistória e à família, especialmente à sua neta Wanda, que demonstrou algumas qualidades excepcionais que permitiram a aceleração do projeto da Fundação, com o fim de que o período de barbárie, que transcorria entre a queda inevitável do Primeiro Império e a chegada do Segundo Império, diminuísse de 30.000 anos à somente 1.000 anos.

Nos últimos anos de sua vida percebeu claramente a decadência do Primeiro Império Galáctico, o que se fez eco, e ele acabou ficando conhecido como “corvo” Seldon.

Faleceu no ano 12069 em Trantor; sozinho, mas com a tranqüilidade de saber que tanto a Primeira Fundação, em Terminus, como a Segunda, no oposto extremo da galáxia, seguiriam seu caminho e facilitariam a chegada do Segundo Império.

U.S. Robôs

A U.S. Robôs é a companhia proprietária das patentes do cérebro positrônico, que permite a criação dos robôs positrônicos, o que, na prática, lhe dá um total monopólio na criação de robôs.

Se falarmos da U.S. Robôs temos que falar de Susan Calvin. Nascida nos Estados Unidos, não se casou nem teve filhos. Há quem diz que seus filhos eram seus robôs, especialmente Lenny. Durante toda a sua vida foi robopsicológa; começou muito jovem, sua primeira tese foi “Aspectos práticos da robótica”. Seu trabalho consistia em cuidar da parte psicológica dos cérebros positrônicos, e do funcionamento correto das Três Leis da Robótica. Dada a sua experiência, ocupou-se da maioria dos problemas que surgiam na operatividade dos robôs.

Defensora dos robôs, nos que via reflexadas todas as virtudes, era a teórica da U.S, assim como Mike Powell e George Donovan eram os comprovadores de campo, e os primeiros em viajar pelo espaço sideral. Conhecida por seu caráter frio, muitos achavam que amava mais os robôs do que os seus congêneres humanos.

Apesar de toda a sua apartação à ciência e a necessidade de robôs para a conquista espacial, a companhia criada por Robertson sempre teve o problema do desprezo pelos seres mecânicos.

Andrew Martin

A história de Andrew Martin é excepcional em muitos aspectos. Durante toda a sua vida ele procurou ser reconhecido como alguém comum. Começou sendo mordomo, depois artista, comprou sua liberdade e se dedicou à história dos robôs, sendo depois especialista neles.

Pleiteou durante décadas com o governo a fim de obter este reconhecimento, que obteve próximo a sua morte. Quando faleceu, mesmo que muitos dissessem que ele havia se suicidado, ele conseguiu morrer como um ser livre.

R. Daneel Olivaw

O Robô Daneel Olivaw teve uma longa existência. Criado pelo doutor Hans Fastolfe, no início da conquista espacial, trabalhou junto ao detetive de polícia Elijah Baley na solução de diversos casos, foi um ator determinante na emigração da humanidade ao espaço, e influenciou decisivamente em Baley para promover a segunda emigração ao espaço, até o ponto de um planeta ter o seu nome.

Graças a sua intuição e as capacidades mentais que o robô Giskard Reventlov transmitiu-lhe, pôde estabelecer a Lei Zero nas Três Leis da Robótica, o que permitiu-lhe interferir de forma ativa no curso da humanidade sem estar preso às Três Leis.

Chegou à Primeiro Ministro do Império, na época de Cleon I, conhecendo Hari Seldon, a quem ajudou e influenciou, para que desenvolvesse a psicohistória com uma finalidade prática, a fim de diminuir o tempo do caos da passagem do Primeiro ao Segundo Império.

Criou alternativas à caminho da Fundação, e foi para a Lua, a fim de influenciar o menos possível os acontecimentos, já que continuava afetado pelas Três Leis da Robótica. Os últimos dados de que se dispõe indicam que tinha mais de 20.000 anos.

OBRAS LEVADAS AO CINEMA E À TELEVISÃO

O homem bicentenário foi estreado em Dezembro de 1999. Baseado na novela O homem bicentenário, nos relata a vida de Andrew Martin, o robô que quer ser humano.

Em 1995 rodou-se na TV "The android affaire", baseado em uma história de Asimov e dirigido por Richard Kleter.

"O cair da noite" foi levado ao cinema em 1988 e dirigido por Paul Mayersberg, e o personagem de Aton está interpretado por David Birney. O cair da noite é uma das melhores novelas de Asimov, que transcorre em um planeta em que nunca se põe o Sol, a verdade é que ele tem cinco sóis. Baseado na novela "Bodas de aço", e titulada "Robôs", foi dirigida em 1988 por Doug Smith e Kim Takal, com Elijah Baley interpretado por Stephen Rowe e Brent Barrett no papel de R. Daneel.

"O pequeno menino feio", filho do tempo, titulado originalmente "O menino feio" foi produzido para a televisão em 1979.

"Mentiroso", um relato da série "Eu, robô", com o título "O robô mentiroso", foi produzido na Espanha em 1966, e dirigido por Antonio de Lara.

"As cavernas de Aço" foi dirigido para a TV em 1964, seguindo a novela "Bodas de Aço" com um bom elenco de atores.

"Eu, robô", foi levado ao cinema em 2004, tendo Will Smith ( como o Detetive Spooner) e Alan Tudyk (o robô Sonny).

Colaborações e atuações

Isaac Asimov também colaborou em outros filmes como assessor e roteirista. Em "Anos Luz" ocupou-se da revisão da tradução inglesa.

Uma de suas colaborações mais conhecidas foi em "Star Trek: O filme", com qualidade de consultor especial científico. Dirigida em 1979 por Robert Wise, e com William Shatner como Almirante e Capitão James T. Kirk e Leonard Nimoy no clássico papel de Comandante Spock.

Atuou em "O Magnífico Major" - de 1977 -, série de televisão dirigida por Nick de Noia, como artista convidado. Estreou o filme "Lance Preto", que tem certa inspiração na novela "O cair da noite".
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Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Asimov
Império de Isaac Asimov. Disponível em
http://anglopor8a09.vilabol.uol. com.br/index.htm

terça-feira, 18 de março de 2008

Semana do Escritor

Não resta dúvida de que a internet pode auxiliar a literatura, principalmente com relação à divulgação dos trabalhos de autores, lançamentos, dicas de leitura, discussões a respeito de obras...

Ela também te ajuda a encontrar aquele poema do qual você só se lembra um verso: basta uma pesquisa Google e você o terá inteiro. Contos, crônicas, todas as formas curtas encontram impulso na rede, além dos blogs de criações literárias. A Internet é ágil, não possui as tradicionais limitações de espaço ou de horário, e é ainda poderosa ferramenta de pesquisa cruzada. A internet também oferece obras.

Mas livros longos são difíceis de ler, mesmo com o e-reading e o e-book (espécie de programa de leitura e livro eletrônico portátil), então, a modalidade impressa ainda se faz mais eficaz. Livros eletrônico não têm cheiro, nem textura; não amarelecem com o tempo. Os livros são de papel: folheiam-se, dobram-se nos cantos, oferecem-se aos amigos com uma dedicatória manuscrita - afirmação do próprio Bill Gates, fundador da Microsoft, maior rede de software do mundo, em defesa de que o computador nunca irá substituir o livro. Assim, convém evitar algumas falsas questões, a começar pela idéia de que a impressão em papel é uma tecnologia condenada à obsolescência.

Como um dia se acreditou que o livro traria a libertação do ser humano e a possibilidade do conhecimento pleno, é importante não se render às promessas semi-religiosas da rede mundial para a comunhão dos povos e a distribuição do saber. A crença nos poderes virtuais, às vezes, parece ter gerado uma nova ideologia, um novo ismo, que se poderia batizar de virtualismo, tão nocivo quanto qualquer utopia.

Entretanto, acho que o maior aspecto negativo da internet em relação ao livro comum, é que a rede é uma teia dispersiva. Com tanta informação, creio ser missão impossível parar e ficar horas degustando uma história. Principalmente porque quando estamos em frente a um computador, mesmo que seja por lazer, o estado de espírito é outro: a curiosidade nos faz buscar outras coisas, diferente do momento de descontração em que você se deita em baixo de uma árvore, ou em sua cama antes de dormir, para deixar que o livro te leve a uma viagem de imaginação. Assim, essa pressa, agitação que temos em frente ao computador, atinge diretamente o prazer de ler, que é complexo e duradouro.

Quando perguntam às pessoas por que lêem tão poucos livros, elas dizem que é por falta de tempo. Mas todas têm algumas horas diárias, em média, para ficar entre o computador e a TV. Assim, a internet não é inimiga dos livros, mas adversária do tempo para os livros. Mas você ainda pode argumentar: pela internet você também pode acessar livrarias, sebos e receber seus exemplares em casa...e aí eu te digo, está aí um prazer que lhe é roubado: o de buscar as prateleiras, procurar uma obra e encontrar outra, de tocar, folhear, como que as mulheres quando estão em sua loja preferida, frente a enormes promoções e levam diversas peças consigo ao provador.
Assim, leia, aventure-se no mundo da imaginação e arrisque-se também a escrever. Por que não?

Todos temos experiências de vida, muitas estórias para contar. Sentimos o mundo cada um através de uma experiência sensorial diferente: divida a sua com os outros. A escrita pode também ser um exercício de auto-conhecimento, no qual você passa a se perceber melhor e a refletir sobre sua vivência.

Ótima oportunidade de se iniciar neste processo, é através da Semana do Escritor. O contato com escritores permite a troca de experiências, de dicas sobre o mundo literário, sobre o prazer de se ler e de também oferecer sua contribuição ao mundo, escrevendo...

A 4a. semana do escritor de Sorocaba ocorrerá de 22 a 27 de julho de 2008 na Fundec.

Fonte
Colaboração de DOUGLAS LARA

(Publicado na edição de 18/03/2008 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A)
http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=47&id=72040

segunda-feira, 17 de março de 2008

Nicodema Alves (1900 - 1967)

"A poetisa NICODEMA ALVES vem de estrear nas letras nacionais com seu livro de versos: OCASO. Não se há negar que a beletrista caetiteense, sujo talento honra a Bahia, revela, através da sua poesia, um lirismo espontâneo, terno e evocativo, plasticidade de idéias, um desencatado pessimismo em face da vida, não isento de ironia e ceticismo, que não desapontam, contudo, os leitores, pois tudo que escreve e descreve é emoldurado na brilhante e colorida paisagem de nossa natureza tropical."
João Guimarães Filho

Biografia e Obra

Nicodema (Anísia de Souza) Alves nasceu em 15 de setembro de 1900 na cidade de Caetité, filha de Vicente Custodio de Souza e de Maria Anísia de Souza. Em Caetité passou toda a sua infância e adolescência no sítio da família.

Com a morte de sua mãe, ainda muito jovem ficou responsável pela educação de seus dois irmãos mais novos. Mais tarde, aos 21 anos casou-se com Avelino Domingues Alves, comerciante conceituado da região, com quem teve sete filhos.

Até então, suas viagens para Salvador se davam pela necessidade de tratamento médico, pois a escritora sofria de uma séria bronquite asmática, seqüela adquirida na juventude quando esteve refugiada por vários dias com os moradores locais em um acampamento improvisado, enquanto o cangaceiro Lampião e seu grupo ocupavam e saqueavam a região. Mais tarde a doença se agravou, e na idade madura transformou-se em enfisema pulmonar.

Desde jovem teve diversas atuações na sua cidade, foi professora primária da escola da Paróquia, atuou politicamente a favor de seu município, tornando-se líder política do Partido Liberal e intervindo junto às autoridades locais para melhorias, bem como, também, foi responsável pela formação da Filarmônica que tomou o nome de "Iracema". Dessa maneira, Nicodema Alves foi uma pessoa muito conhecida e admirada em Caiteté.

Preocupada com a instrução dos filhos mudou-se, definitivamente, para a cidade de Salvador, onde realizou um curso de alta costura em um ateliê de estilo francês, dirigido por Madame Lamartine, vindo mais tarde a montar o seu próprio ateliê.

A escritora sempre se dedicou à leitura, atividade que realizava, quando pequena, às escondidas. A sua vasta leitura foi iniciada a partir do contato com a sua professora primária, Jovina Trindade, que a influenciou bastante na leitura de diversos autores ao abrir sua biblioteca particular à jovem.

Ainda adolescente, Nicodema Alves iniciou escrevendo versos e experimentou outros gêneros. Segundo depoimento de sua família, tem-se notícia que a poetisa colaborou em alguns jornais de Caetité, material que ainda se encontra disperso ou perdido, por falta de exemplares nos acervos das bibliotecas.

Nicodema Alves só veio a publicar um livro de versos, intitulado Ocaso (1966), já no fim da vida, porém, não teve a alegria de ver o seu lançamento que ocorreu um ano após a sua morte que se deu em 1967. Neste livro de poemas, ela reúne composições selecionadas por ela e por seus amigos poetas.

Além de Ocaso, a escritora, conforme depoimento de sua filha, Avany Alves, deixou uma grande quantidade de poemas e textos de outros gêneros que ainda se encontram inéditos

Nicodema Alves faleceu em Salvador em 26 de maio de 1967.

Lançado em 1966, em Salvador, pela Fundação Gonçalo Muniz, "OCASO" reúne os poemas da escritora caetiteense. Transcrevemos aqui alguns dos comentários prefaciadores desta obra, dentre os quais o do saudoso professor da Faculdade de Direito da UFBA, Sylvio Santos Faria:

"Poente no Céu... Ocaso na vida...
Na quadra em que nos abeiramos das realidades que a visão anterior nos empolgou em tempos idos, em quadras pretéritas, foi que a poetisa NICODEMA ALVES veio dar-nos à visão deslumbrada, rendida à inteligência, o seu livro de versos - OCASO.

Ela veio comprovar que o talento não envelhece, que o veio, a catra do cérebro traz, ao de sempre, aos garimpeiros do ideal, riquezas fabulosas que abateia do sonho recolhe dos garimpos fecundos.

Bem haja quem, já nessa quadra da vida, faz vibrar as centelhas da inteligência, para a revelação dos sonhos já sonhados que amealhou e, somente agora, os exibe em páginas reveladoras de emotividade e beleza
."

""Ocaso", livro de versos, da autoria da poetiza Nicodema Alves, a bem dizer, não é um livro de estréia. De há muito a sua poesia conheceu o calor e a luz do sol através do privilégio dos que integram o seu vasto círculo de relações e podem se deliciar com a leitura de seus versos. Nessa condição, sem qualquer outra autoridade, venho testemunhar, a par da excelência da forma e do conteúdo, a madureza dos motivos.

Embora variando de temas, uns de inspiração naturalística, outros de profunda abstração, em todos os versos encontra-se presente a projeção de uma sensibilidade artística, que o sofrimento somente fez exasperar.

A Autora, por entre a moldura de seu quarto, divisa, por força essa sensibilidade fora do comum, uma paisagem humana, que passa despercebida a quase todos nós. A tônica da poesia, que analisamos, é o sofrimento, mesmo quando ele se manifesta pelo contraste entre o esplendor naturalístico do ambiente, que inspira o verso, e a condição humana da sua criadora.

Há em "Ocaso" um conteúdo lírico, que toca profundamente as almas bem formadas, provocando a emoção nos que dedicam à Autora sincera amizade
."
Salvador, agosto de 1966 - Sylvio Santos Faria

Fontes:
Nicodema Alves por Margarete de Carvalho (graduada em Letras pela UFBA) e Ívia Alves
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html

Nicodema Alves (Poesias: Ser Bom - Caetité)

SER BOM

Alguns anos presa ao leito do sofrimento.

Como pode ser bom quem chora na prisão,
Quem mendiga um carinho, um pouco de afeição?
Como pode um cativo exercer a caridade?
Não pode demonstrar, mesmo o intente, a bondade!

Mesmo que fosse um Justo, um paladino, um santo,
Como a chaga curar? Como secar o pranto?
Como sorrir à infância, ao cego dar a mão,
Dar pão para o mendigo, amparo ao ancião?

Sim, é fácil ser bom, mas não no cativeiro!
Preso à cela a chorar, sorrir ao carcereiro?
Dizer palavras que se envolvam de ternura?
Oh! Como falas bem! Não vês essa amargura...

Como o amor demonstrar, a bondade expandir,
Espalhando o sorriso, a vida colorir,
Quem vive ao desamparo, a definhar, sozinho?
Impossível ser flor, só pode ser espinho!

CAETITÉ

Já se finda a madrugada!
Pela insônia torturada,
"Vou cantar a minha terra
E as riquezas que ela encerra!"
Caetité tradicional,
És tu meu berço natal!
Tens passado glorioso,
Que fez teu nome famoso,
Foste princesa adorada,
pela fama bafejada,
Porém, cidade querida,
Vives tão longe, escondida...
Tu guardas nos teus rincões
O ouro todo dos sertões!
Daria pra libertar
Todo o Brasil secular!
Nas areias dos teus rios,
Como a lançar desafios
A quem o queira ir buscar,
Na bateia o peneirar!
Na raiz das tuas gramas
Quais fios de filigranas,
Se o sertanejo as capina,
Ele descobre uma mina!
E os veios grossos que encerras
No seio das tuas serrras?
Minérios em profusão,
Tens debaixo do teu chão!
Tu vives, princesa amada,
Entre as serras debruçada,
Ouvindo o vento cantar,
Entre as palmas estalar,
Na profusão dos coqueiros
Que se contam aos milheiros!
Minha cidade bonita,
Mesmo antiga, és tão catita!
No pensamento a rever,
A saudade faz doer!
Recordo as manhãs brumosas,
Onde neves vaporosas
Levantam de tuas fontes,
Cobrem o cimo dos montes!
Tu foste o berço natal
De César Zama imortal!
Plínio de Lima e João Gumes
Foram chispas dos teus lumes!
Aquele grande poeta
Teve lirismo de esteta!
Anísio, Rodrigues Lima
Nomes que a fama sublima,
E muitos nomes famosos
De filhos teus, valorosos!
No teu seio, sepultados
Estão meus pais muito amados,
Meus irmãos muito queridos,
Jamais serão esquecidos!
Adeus, cidade bonita,
Ó terra minha, bendita!
Com teu passado de glória,
Estás na minha memória
Embora eu viva distante,
Jamais te esqueço um instante,
Tudo o que é teu rememoro,
Ó mater que eu tanto adoro!

Fontes:
Nicodema Alves por Margarete de Carvalho (graduada em Letras pela UFBA) e Ívia Alves
http://br.geocities.com/acadcaetiteenseletras/index2.html