domingo, 16 de outubro de 2011

Cronica (Origem, definição, tipos)


O que é uma Crônica?
O cotidiano é feito, em sua maior parte, de banalidades, mesquinharias e irritações, esteja você em Paris ou em Barbacena. Observá-las, chamar atenção para elas por meio de linguagem escrita, transformando-as em breves momentos poéticos, é tarefa que requer distanciamento, capacidade de abstração, certa maturidade vivencial — trabalho de cronista, enfim, que resulta, como definem os teóricos, entre o conto e a poesia. (Bernardo Ajzenberg)

1. A origem da crônica

Já nas mais antigas civilizações conhecidas (Egito, Suméria, Assíria) aparece uma curiosa figura: o escriba. Sua função? Escrever, é evidente. Escrever o que e para quem? Estava a serviço do rei, faraó, ou pessoa de grande destaque na hierarquia dirigente. Fazia o registro de operações de compra e venda, uma contabilidade rudimentar, preparava dados biográficos de nobres e aristocratas, mas, principalmente, acompanhava seus chefes nas campanhas guerreiras, fazendo relatos de cada etapa, vitória, derrota ou conquista. Tais registros seriam lidos, ao retorno das andanças bélicas, pelos sacerdotes, para encantamento da população que mandara seus filhos ao sacrifício pela glória do supremo dirigente.

O que se pode deduzir de tais registros é que não passavam de uma espécie de “diário de campanha”, cuja fidelidade aos fatos era bastante duvidosa, já que se destinavam a elogiar e enaltecer o chefe. Essa tendência de muitos escritores se mantém até os dias atuais, refletindo o que diz esta antiga máxima: “Aos reis, como às crianças, é preciso enganá-los, para seu próprio bem”. Sintomaticamente, José de Alencar colocou esse provérbio na introdução de seu livro Crônica dos Tempos Coloniais, debaixo de um subtítulo: Advertência.

Aí está, com todos os seus vícios de origem, a primeira manifestação de um gênero que, depois, derivou para a crônica, ou para o diário e até para a autobiografia.

O que mais se aproxima, hoje, da atividade dos antigos escribas é, certamente, o noticiarista, encarregado de relatar os fatos do dia-a-dia, para jornais, rádios e televisões, sem acrescentar-lhes comentários.

O cronista de si mesmo

Outro tipo de cronista é o que dispensa o escriba e passa a relatar seus próprios feitos gloriosos. Exemplo típico foi Júlio César que, no livro De Beilo Galico (sobre a Guerra nas Gálias), contou sua saga para a posteridade. Foi bastante imitado, tanto assim que relatos desse tipo, assinados por grandes personalidades históricas, como o marechal Montgomery, o general von Rommell e outros, são freqüentes.

Se, por um lado, isso pode levar a distorções quanto à veracidade dos fatos, por outro, o receio de parecer ridículo, exagerado ou. até mentiroso deve ter contido, em muitos desses relatos autobiográficos, os impulsos de auto-exaltação. Pelo menos uma constatação tem sido feita: os historiadores não encontraram muitos fatos a contestar em tais crônicas de campanha.

O cronista a distância

O cronista pode também manter-se a distância dos fatos. É bem antiga essa forma de relatar. Já a encontramos em Homero que, com certeza, não esteve presente nos episódios que relatou. Mas sua forma de dizê-lo, embora em versos, é típica da crônica:

Fomos aí ter a magnífico porto, cercado ele todo de pedras íngremes, que nuas se erguem por ambos os lados.
Dois promontórios, em frente postados um ao outro, se encontram logo na entrada, salientes...

A linguagem é a mesma do cronista “testemunha ocular da História”, mas, evidentemente, muito de imaginação e de visão poética entrou na composição da Odisséia e da Ilíada.

Porém, um fato bem posterior e até recente comprova que, mesmo a distância, Homero procurava a fidelidade histórica. Tanto assim, que foi pela sua obra que se localizou o sítio onde outrora existiu a cidade de Tróia.

Cronista a distância também foi Fernão Lopes, o mais importante dos relatores portugueses da passagem da época medieval para a renascentista, pois ele escreveu e recompôs, com base em documentos pesquisados, a vida e os feitos de diversos reis de Portugal.

O fato de fazerem crônicas a distância aproxima-os muito do historiador, pois o fato histórico e sua análise se mantêm, perpetuando seus protagonistas.

É ainda José de Alencar quem nos conta como concebeu o livro Guerra dos Mascates:

Tornando ao gabinete, depois de uma manhã perdida, deu-me a curiosidade de examinar as antigualhas do embrulho (que lá fora deixado por um sacristão...) antes de mandá-las para o lixo. (...) Era o manuscrito de uma crônica inédita sobre a Guerra dos Mascates.

E assim nasceu o livro de Alencar, a partir de antigos alfarrábios deixados por algum cronista anônimo...

A crônica moderna

Na verdade, a crônica que chamaremos de moderna não é tão moderna e talvez não seja tão crônica...

Por exemplo: a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, relatando a descoberta do Brasil, não é uma carta. E uma crônica, no melhor dos estilos de “testemunha ocular da História”. Respeitou todas as técnicas da cronologia, com datas e até horários, descrevendo passo a passo os acontecimentos. Por outro lado, o autor faz comentários, aconselha, sugere, critica, tudo ao mesmo tempo.

Ora, essa miscelânea, quer de assuntos, quer de posições assumidas pelo cronista, é bem típica de uma vertente da crônica atual. Ela começa com pequenos tópicos, baseados em acontecimentos do dia e analisados ora jocosa, ora hurnoristicamente. Quase sempre mordaz, de vez em quando é poética, intimista, porque vai à intimidade do autor, geralmente personalidade famosa do mundo das letras, sobre quem o leitor quer sempre saber mais alguma coisa, de preferência íntima, particular, secreta. Um exemplo bem marcante é a crônica “Meu filho”, em que Vargas Llosa revela pormenores de sua vida familiar, de roldão com sua atividade mundana como integrante de júris cinematográficos.

Cronistas modernos

No Brasil, tal tipo de miscelânea teve grandes figuras: Viriato Correia, Humberto de Campos e seu Conselheiro XX, Álvaro Moreyra, João do Rio e, bem mais modernamente, Rubem Braga, Fernando Sabino, Rachei de Queiroz, Paulo Francis, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro, Luís Fernando Veríssimo.

Mas há também tipos de crônica que se especializaram: a crônica política, como a que faz Carlos Heitor Cony e Alexandre Garcia; a esportiva, como a que fazia João Saldanha; a humorística, de Luís Fernando Veríssimo; a social, de Jacinto de Thormes; a gastronômica, de Sylvio Lancellotti; a econômica, de Joelmir Betting; e tantas outras.

A crônica, hoje, é abrangente, envolvente: abarca memória e profecia, presente e passado, literatura e polêmica, exaltação e condenação. Está livre dos senhores e mecenas, cada vez mais personalizada, refletindo muito mais o subjetivismo do autor do que o objetivismo dos fatos. E o cronista transforma-se em testemunha ocular de si mesmo.

2. Tipos de crônica

Como classificar uma modalidade tão maleável como a crônica? O que os textos geralmente têm em comum é a brevidade, a abordagem reflexiva e subjetiva do autor. Apenas a crônica narrativa pode não apresentar um posicionamento impressionista do narrador, atendo-se tão-somente aos fatos, à história criada.

Por isso, na classificação que ora apresentamos, as crônicas foram divididas considerando-se o procedimento textual predominante — o comentário, a narração, o lirismo e outros —, o que não elimina a mescla de procedimentos nem a impressão subjetiva exteriorizada pelo autor.

3. Crônica descritiva

Quando uma crônica explora a caracterização de seres animados e inanimados num espaço, viva como uma pintura, precisa como uma fotografia ou dinâmica como um filme, temos uma crônica descritiva. A captação impressionista, particularizada e conotativa dos elementos define a descrição subjetiva; a captação referencial, impessoal e denotativa define a descrição objetiva. O descritivismo é sempre veículo para reflexões numa crônica centrada na descrição.

O mato

Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vagalumes nem grilos.
Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estalava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.
Por um instante, o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as grandes cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos — mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração mineral.
E pouco a pouco ele foi sentindo uma paz naquele começo de escuridão, sentiu vontade de deitar e dormir entre a erva úmida, de se tornar um confuso ser vegetal, num grande sossego, farto de terra e de água; ficaria verde, emitiria raízes e folhas, seu tronco seria um tronco escuro, grosso, seus ramos formariam copa densa, e ele seria, sem angústia nem amo,; sem desejo nem tristeza, fone, quieto, imóvel, feliz.
(Rubem Braga)

Essa crônica descritiva constrói-se através da caracterização de seres e objetos, num cenário que vai da cidade à natureza. O texto apresenta o efeito estético do universo urbano definido sobretudo pela enumeração da cidade, com o recurso de assíndetos e polissíndetos reproduzindo os ritmos da cidade grande e da natureza. A linguagem do autor é impressionista: sua visão subjetiva dos elementos marca-se por inesperadas sinestesias (“telefone impaciente e melancólico”, “vida silenciosa e úmida das árvores”, “pedra escura com seu misterioso coração animal”).

4. Crônica narrativa

Menor que um conto e maior que uma piada, a crônica narrativa conta um episódio cativante cuja trama é leve e digestiva, envolvendo muita ação, poucas personagens e uma conclusão inusitada. O humor anedótico ou a crítica mordaz são os traços mais comuns da crônica narrativa. Geralmente, não há intromissão do narrador (digressões, comentários, apontamentos dissertativos).

Choro, veia e cachaça

Enterro de pobre sempre tem cachaça. É para ajudar a velar pelo falecido. Sabem como é; pobre só tem amigo pobre e, portanto, é preciso haver um incentivo qualquer para a turma subnutrida poder agüentar a noite inteira com o ar compungido que o extinto merece.
Enfim, a cachacinha é inevitável, seja numa favela carioca, seja num bairro pobre da cidade do interior; Foi o que aconteceu agora em Ubá (MG), terra do grande Ari Barroso. Morreu lá um tal de 56 Nicolino, numa indigência que eu vou te contar; Segundo telegrama vindo de Ubá, alguns amigos de 58 Nicolino compraram um caixão e algumas garrafas de cangibrina, levando tudo para o velório. Passaram a noite velando o morto e entornando a cachaça. De manhã, na hora do enterro, fecharam o caixão e foram para o cemitério, num cortejo meio ziguezagueando e num compasso mais de rancho que de féretro. Mas — bem ou mal — lá chegaram, lá abri rata a cova e lá enterraram o caixão.
Depois voltaram até a casa do mono, na esperança de ter sobrado alguma cachacinha no fundo da garrafa. Levaram, então, a maior espinafração da vizinha do pranteado 56 Nicolino. E que os bêbados fecharam o caixão, foram lá enterra,; mas esqueceram o falecido em cima da mesa.
(Stanislaw Ponte Preta)

A crônica de Stanislaw Ponte Preta é narrativa, pois conta uma breve história em tom humorístico, numa linguagem cotidiana, coloquial e intimista, com sabor tipicamente brasileiro.

5. Crônica narrativo-descritiva

Quando um texto alterna momentos narrativos com flagrantes descritivos, temos uma abordagem narrativo- descritiva. Dessa forma, as ações detêm-se para que o leitor visualize, mentalmente, as imagens que a sensibilidade do autor registra com palavras. O que se observa no texto assim qualificado é a predominância da sucessão de ações sobre as inserções descritivas.

Observe essas características na brevidade da crônica abaixo.

Brinquedos

Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar se incendiara. E foi uma espécie de festa fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não se contentavam com portas e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d’água. A eles não interessava nada, peças de pano, cetins, cretones, cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos cavalinhos e bonecas, os trens e os palhaços, fechados, sufocados em suas grandes caixas.
Brinquedos que jamais teriam possuído, sonho apenas da infância, amor platônico.
O incêndio, porém, levou tudo. O bazar ficou sendo um famoso galpão de cinzas.
Felizmente, ninguém tinha morrido — diziam em redor. Como não tinha morrido ninguém? —pensavam as crianças. Tinha morrido um mundo, e, dentro dele, os olhos amorosos das crianças, ali deixados.
E começávamos a pressentir que viriam outros incêndios. Em outras idades. De outros brinquedos. Até que um dia também desaparecêssemos, sem socorro, nós, brinquedos que somos, talvez, de anjos distantes!
(Cecília Meireles)

Nessa crônica de Cecília Meireles, alternam-se a narração — “Ora, uma noite correu a notícia de que o bazar se incendiara” —, a descrição — “O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas (...)“

— e a reflexão — “Até que um dia desaparecêssemos, sem socorro, nós, brinquedos que somos (...)“. O desenvolvimento narrativo-descritivo configura-se, pois, como um veículo para a reflexão. Submetido à linguagem poética, nesse hibridismo textual, o patético torna-se lírico.

Nudez

A filha tentava convencer a mãe a ir à praia e a velha resistia:
estava muito idosa e gorda para vestir maiô.
— Mas, mamãe, eu já vi de maiô, na praia, muitas senhoras mais velhas e mais gordas do que você!
E a velha suavemente:
— Eu também já vi. Por isso é que não vou.
Para mim, o critério dessa velha é o critério certo em matéria de nudez, O que é feio se esconde. Um moço, uma moça, no esplendor da juventude, seus belos corpos podem se mostrar praticamente desnudos, de biquíni, de sunga, de cavado: assim tão enxutos, rijos, tostados, chegam a ser castos. Predomina a impressão de beleza e saúde sobre a sugestão erótica. E, depois, sabe-se que aquela floração é tão transitória! Deixem que os jovens fruam o instante passageiro, que usem e mostrem os corpos na sua hora de flor antes que chegue a hora da semente e do declínio.
Afirmam os nudistas, com perfeita lógica, que, todo o mundo andando nu, a nudez acostuma e deixa de escandalizar: sim, acredito que num campo de nudistas se acabe vivendo com a mesma naturalidade que numa sala de famz7ia. Aliás, quem convive com índios sabe disso: o hábito torna a nudez invisível O que eu tenho contra os nudistas é a exibição obrigatória da feiúra humana, o seu despojamento total, a miséria fisiológica sem um véu que a disfarce. O ridículo, a falta de dignidade de todo o mundo nu.
Certa amiga minha, que, numa praia da Noruega, de repente se viu dentro de um grande bando de gente nua, diz que o seu choque primeiro não foi o da vergonha, foi o do grotesco. As pelancas, os babados, os rins flácidos, os joelhos grossos. A velhota magra com seus ossinhos de frango assado, a quarentona de busto murchinho, o senhor ruivo de barriga redonda, braços e canelas tão finos e peludos que, se tivesse mais duas pernas, seria igual a uma aranha. A matrona obesa e o seu esposo idem e o par de jovens rechonchudos, de mãos dadas como dois porquinhos enamorados. A seca donzela machona de coxas de cavalete, e a falsa Vênus de cintura grossa, com o falso atleta de torso enorme e pernas curtas. Da tribo toda, praticamente só se salvaram os adolescentes e as crianças.
A humanidade nua é feia, não há dúvida. E por isso mesmo a gente se oculta debaixo da roupa. Talvez mais do que para o defender do frio, a roupa se inventou para encobrir o corpo e lhe dar dignidade. O que é bonito se mostra, o que é feio se esconde, é a lei de todas as culturas humanas. Nada mais triste do que a deterioração do que foi belo. Ninguém usa no dedo um anel sem a pedra, ninguém bota na sala um ramo de flores murchas.
(Rachel de Queiroz)

Alternam-se nessa crônica diferentes processos textuais: a narração (com o recurso do discurso direto), a reflexão (através de digressões que formam um comentário sobre o assunto) e- a descrição (uma captação fotográfica da situação exposta). Enquanto a subjetividade opinativa assinala os comentários reflexivos, o humor pleno de sinestesias marca a irreverência descritiva.

6. Crônica lírica

Quando a nostalgia, a saudade e a emoção predominam, tentando traduzir poeticamente a linguagem dos sentimentos, a crônica é lírica.

Apelo
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite pela primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada.
Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? As suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor
(Dalton Trevisan)

No contexto da crônica, a ausente figura feminina presentifica-se por meio do impressionismo do autor. No lirismo nostálgico, está o predomínio das funções poética e emotiva da linguagem. A função conativa (o vocativo “Senhora”) reitera o título “Apelo”, sugere o destinatário, mas não o identifica, O texto ganha expressividade nessa indefinida mulher: o leitor é instado a supor a identidade da senhora ausente com a mesma intensidade com que supõe o motivo da ausência, e, dessa forma, identifica-se com as emoções do narrador.

7. Crônica reflexiva

Se a interioridade do autor projeta-se sobre a realidade que o cerca, interpretando-a e registrando-a através de conjecturas, inferências e associações de idéias, temos a crônica reflexiva.

Vitória nossa
O que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia?
Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos ser tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos, nem aos outros. Não temos nenhuma alegria que tenha sido catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e talvez sem consolo. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro que por amor diga: teu medo. Temos organizado associações de pavor sorridente, onde se serve a bebida com soda. Temos procurado salvar-nos, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de amor e de ódio. Temos mantido em segredo a nossa morte. Temos feito arte por não sabermos como é a outra coisa. Temos disfarçado com amor nossa indiferença, disfarçado nossa indjferença com a angústia, disfarçando com o pequeno medo o grande medo maior. Não temos adorado, por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fiui tolo”, e assim não chorarmos antes de apagar a luz. Temos tido a certeza de que eu também e vocês todos também, e por isso todos sem saber se amam. Temos sorrido em público do que não sorrimos quando ficamos sozinhos. Temas chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso temos considerado a vitória nossa de cada dia...
(Clarice Lispector)

Introspecção, reflexão e subjetividade são as marcas discursivas de dance Lispector. Seu texto é uma revelação dos questionamentos, anseios e comedimentos do homem. Sua linguagem rastreia as regiões abissais do inconsciente, onde estão os arquétipos do comportamento humano, as fobias e desejos, trazidos à tona por uma visão metafórica que traduz estados de alma.

8. Crônica metalingüística

Na crônica metalingüística, o autor volta-se para o ato de escrever, sob a forma de uma reflexão despretensiosa, de uma retrospectiva das primeiras experiências com as letras, de uma análise da palavra.

Crônica tem esta vantagem: não obriga ao paletó-e-gravata de editorialista, forçado a definir uma posição correta diante dos grandes problemas; não exige de quem afaz o nervosismo saltitante do repórter, responsável pela apuração do fato na hora mesma em que ele acontece; dispensa a especialização suada em economia, finanças, política nacional e internacional, esporte, religião e o mais que imaginar se possa. Sei bem que existem o cronista político, o esportivo, o religioso, o econômico etc., mas a crônica de que estou falando é aquela que não precisa entender de nada ao falar de tudo. Não se exige do cronista geral a informação ou o comentário precisos que cobramos dos outros, O que lhe pedimos é uma espécie de loucura mansa, que desenvolva determinado ponto de vista não ortodoxo e não trivial, e desperte em nós a inclinação para o jogo da fantasia, o absurdo e a vadia ção de espírito. Claro que ele deve ser um cara confidvei, ainda na divagação. Não se compreende, ou não compreendo, cronista faccioso, que sirva a interesse pessoal ou de grupo, porque a crônica é território livre da imaginação, empenhada em circular entre os acontecimentos do dia, sem procurar influir neles. Fazer mais do que isto seria pretensão descabida de sua parte. Ele sabe que seu prazo de atuação é limitado: minutos no café da manhã ou à espera do coletivo.
(Car)os Drummond de Andrade)

Nesse texto, identificamos a função metalingüística na interpretação do autor sobre o conceito de crônica e sobre os alcances da imaginação de um cronista ao cercar-se de episódios prosaicos. A fluidez de sua linguagem leva a uma precisa definição de crônica, resultando num texto leve e cativante, típico de uma crônica sem pretensões jornalísticas ou literárias.

9. Crônica-comentário

Cercando-se de impressões críticas, com ironia, sarcasmo ou humor, a crônica-comentário resulta num texto cujo ponto forte são as interpretações do autor sobre um determinado assunto, numa visão quase jornalística.

De como não ler um poema

Há tempos me perguntaram umas menininhas, numa dessas pesquisas, quantos diminutivos eu empregara no meu livro A rua dos Cataventos. Espantadíssimo, disse-lhes que não sabia. Nem tentaria saber, porque poderiam escapar-me alguns na contagem. Que essas estatísticas, aliás, só poderiam ser feitas eficientemente com o auxilio de robôs1. Não sei se as menenininhas sabiam ao certo o que era um robô. Mas a professora delas, que mandara fazer as perguntas, devia ser um deles.
E mal sabia eu, então, que estava dando um testemunho sobre o estruturalismo o qual só depois vim a conhecer pelos seus produtos em jornais e revistas. Mas continuo achando que um poema (um verdadeiro poema, quero dizer), sendo algo dramaticamente emocional não deveria ser entregue à consideração de robôs, que, como todos sabem, são inumanos1. Um robô, quando muito, poderá fazer uma meticulosa autópsia — caso fosse possível autopsiar uma coisa tão viva como é a poesia.
Em todo caso, os estruturalistas não deixam de ter o seu quê de humano.. -
Nas suas pacientes, afanosas, exaustivas furungaçôes, são exatamente como certas crianças que acabam estripando um boneco para ver onde está a musiquinha.
(Mário Quintana)

O sarcasmo e a ironia revestem o texto de Mário Quintana. A opinião sarcástica fica por conta das apreciações irreverentes e irônicas e até pelo uso pejorativo do diminutivo “menininhas”. A visão crítica do poeta estende-se a considerações igualmente ferinas sobre as propostas estruturalistas.

1 lrreverência e ironia.

Fonte:
http://www.coladaweb.com/redacao/cronica

Casimiro de Abreu (As Primaveras) Parte 5


QUANDO TU CHORAS

Quando tu choras, meu amor, teu rosto
Brilha formoso com mais doce encanto,
E as leves sombras de infantil desgosto
Tornam mais belo o cristalino pranto.
Oh! nessa idade da paixão lasciva,
Como o prazer, é o chorar preciso:
Mas breve passa - qual a chuva estiva -
E quase ao pranto se mistura o riso.
É doce o pranto de gentil donzela,
É sempre belo quando a virgem chora:
- Semelha a rosa pudibunda e bela
Toda banhada do orvalhar da aurora.
Da noite o pranto, que tão pouco dura,
Brilha nas folhas como um rir celeste,
E a mesma gota transparente e pura
Treme na relva que a campina veste.
Depois o sol, como sultão brilhante,
De luz inunda o seu gentil serralho,
E às flores todas - tão feliz amante! -
Cioso sorve o matutino orvalho.
Assim, se choras, inda és mais formosa,
Brilha teu rosto com mais doce encanto:
- Serei o sol e tu serás a rosa...
Chora, meu anjo, - beberei teu pranto!
Rio - 1858

CANTO DE AMOR - A M***

Eu vi-a a minha alma antes a vê-la
Sonhara-a linda como agora a vi;
Nos puros olhos e na face bela,
Dos meus sonhos a virgem conheci.
Era a mesma expressão, o mesmo rosto,
Os mesmos olhos só nadando em luz,
Em uns doces longes, como dum desgosto,
Toldando a fronte que de amor seduz!
E seu talhe era o mesmo, esbelto, airoso
Como a palmeira que se ergue ao ar,
Como a tulipa ao por-do-sol ! saudoso,
Mole vergando à variação do mar.
Era a mesma visão que eu dantes via,
Quando a minha alma transbordava em fé;
E nesta eu creio como na outra cria,
Porque é a mesma visão, bem sei que é!
No silencio da noite a virgem minha
Soltas as tranças junto a mim dormir;
E era bela, meu Deus, assim sozinha
No seu sono d’infante inda a sorrir!...
Via-a e não via-a! Foi num só segundo,
Tal como a brisa ao perpassar na flor,
Mas nesse instante resumi um mundo
De sonhos de ouro e de encantado amor.
O seu olhar não me cobriu d’afago,
E minha imagem nem sequer guardou,
Qual se reflete sobre a flor dum lago
A branca nuvem que no céu passou.
A sua vista espairecendo vaga,
Quase indolente, não me viu, ai, não!
Mas eu que sinto tão profunda chaga
Ainda a vejo como a vi então.
Que rosto d’anjo, qual estátua antiga
No altar erguida, já caído o véu!
Que olhar de fogo, que a paixão instiga!
Que níveo colo prometendo um céu!

Vi-a e amei-a, que minha alma ardente
Em longos sonhos a sonhara assim;
O ideal sublime, que eu criei na mente,
Que em vão busca e que encontrei por fim!
P’ra ti, formosa, o meu sonhar de louco
E o dom fatal, que desde o berço é meu;
Mas se os cantos da lira achares pouco,
Pede-me a vida, porque tudo é teu.
Se queres culto - como um crente adoro,
Se preito queres - eu te caio aos pés,
Se rires - rio, se chorares - choro,
E bebo o pranto que banhar-te a tez.
Dá-me em teus lábios, um sorrir fagueiro,
E desses olhos um volver, um só,
E verás que meu estro, hoje rasteiro,
Cantando amores s’erguerá do pó!
Vem reclinar-te, como a flor pendida,
Sobre este peito cuja voz calei:
Pede-me um beijo... e tu terás, querida,
Toda paixão que para ti guardei.
Do morto peito vem turbar a calma,
Virgem, terás o que ninguém te dá;
Em delírios d’amor dou-te minha alma,
Na terra, a vida, a eternidade - lá!
Se tu, oh linda, em chama igual te abrasas,
Oh! não me tardes, não me tardes, - vem!
Da fantasia nas douradas asas
Nós viveremos noutro mundo - além!
De belos sonhos nosso amor povôo,
Vida bebendo nos olhares teus;
E como a garça que levanta o vôo,
Minha alma em hinos falará com Deus!
Juntas, unidas num estreito abraço,
As nossas almas uma só serão;
E a fronte enferma sobre o teu regaço
Criará poemas d’imortal paixão!
Oh ! vem, formosa, meu amor é santo,
É grande e belo como é grande o mar,
É doce e triste como d’harpa um canto
Na corda extrema que já vai quebrar!
Oh! vem depressa, minha vida foge...
Sou como o lírio que já murcho cai!
Ampara o lírio que inda é tempo hoje!
Orvalha o lírio que morrendo vai!...
Rio - 1858

VIOLETA

Sempre teu lábio severo
Me chama de borboleta!
- Se eu deixo as rosas do prado
É só por ti - violeta!
Tu és formosa e modesta,
As outras são tão vaidosas!
Embora vivas na sombra
Amo-te mais do que as rosas.
A borboleta travessa
Vive de sol e de flores...
- Eu quero os sol de teus olhos,
O néctar de teus amores.
Cativo do teu perfume
Não mais serei borboleta;
- Deixa eu dormir no teu seio,
Dá-me teu mel - violeta!
4 de abril

O QUÊ ?

Em que cismas, poeta? Que saudades
Te adormecem na mágica fragância
Das rosas do passado já pendidas?
Nos sonhos d’alma que te lembras?
- A infância!
Que sombra, que fantasma vem banhado
No doce aflúvio dessa quadra linda?
E a mente a folhar os dias idos
Que nome te recorda agora?
- Arinda!
Mas se passa essa quadra, fugitiva,
Qual no horizonte solitária vela,
Por que cismar na vida e no passado?
E de quem são essas saudades?
- Dela!
E se a virgem viesse agora mesmo
Surgindo bela qual visão de amores,
Tu, p’ra saudá-la bem do imo d’alma,
Diz-me, poeta - o que escolhias?
- Flores.
E se ela, farta dos aromas doces
Que tem achado nos jardins divinos,
Tão caprichosa machucasse as rosas...
Diz-me, meu louco, o que mais tinhas?
- Hinos!
E se, teimosa, rejeitando a lira,

a fronte virgem para ti pendida,
Dum beijo a paga te pedisse altiva...
O que lhe davas, meu poeta?
- A vida!
Rio - 1858

SONHOS DE VIRGEM A M.***

Que sonhas, virgem, nos sonhos
Que à mente te vêm risonhos
Na primavera inda em flor?
No celeste devaneio,
No doce bater do seio,
Que sonhas, virgem? - amor?
Que céus, que jardins, que flores,
Que longos cantos de amores
Nos lindos sonhos te vêm?
E quando a mente delira,
E quando o peito suspira - por quem?
Sonhando mesmo acordada,
Pendida a fronte adorada
Num cismar vago e sem fim;
Do olhar o fogo tão vivo,
A voz, o riso lascivo,
O pensamento é - por mim?
Quando tu dormes tranqüila,
Cerrada a negra tulipa
E o lábio doce a sorrir;
Então o sonho dourado
Nas dobras do cortinado
Vem esmaltar o teu dormir!
Oh! sonha! - Feliz idade
Das rosas da virgindade,
Dos sonhos do coração!
- Puro vergel de açucenas
Ou lago d’águas serenas
Que estremece a viração
Feliz! Feliz quem pudera
Colher-te na primavera
De galas rica louçã!
Feliz, oh! flor dos amores,
Quem te beber os odores
Nos orvalhos da manhã!
Rio - 1858

ASSIM! A M.***

Viste o lírio da campina?
Lá s’inclina

E murcho no hastil pendeu!
- Viste o lírio da campina?
Pois, divina,
Como o lírio assim sou eu!
Nunca ouviste a voz da flauta,
A dor do nauta
Suspirando no alto mar?
- Nunca ouviste a voz da flauta?
Como o nauta
É tão triste o meu cantar!
Não viste a rola sem ninho
No caminho
Gemendo, se a noite vêm?
- Não viste a rola sem ninho?
Pois, anjinho
Assim eu gemo, também!
Não viste a barca perdida,
Sacudida
Nas asas dalgum tufão?
Não viste a barca fendida?
Pois, querida,
Assim vai meu coração!
Rio - 1858

QUANDO?!...

Não era belo, Maria,
Aquele tempo de amores,
Quando o mundo nos sorria,
Quando a terra era só flores
Da vida na primavera?
- Era
Não tinha o prado mais rosas,
O sabiá mais gorjeios,
O céu mais nuvens formosas,
E mais puros devaneios
A tua alma inocentinha?
- Tinha!
E como achavas, Maria,
Aqueles doces instantes
De poética harmonia
Em que as brisas doudejantes
Folgavam nos teus cabelos?
- Belos!
Como tremias, ho! Vida,
Se em mim os olhos fitavas!
Como eras linda, querida,
Quando d’amor suspiravas
Naquela encantadora aurora!
- Ora!

E diz-me: não te recordas
- Debaixo do cajueiro -
Lá da lagoa nas bordas
Aquele beijo primeiro?
Ia o dia já findando...
- Quando?!...
Rio - 1858

SEMPRE SONHOS!...

Se eu tivesse, meu Deus, santos amores,
Eu m’erguera cantando essa paixão,
E atirara p’ra longe - sem saudade
Este véu que me cobre a mocidade
De tanta escuridão!
Eu que sou como o cardo do rochedo
Quase morto dos ventos ao rigor,
Encontrara de novo a minha vida,
O sol da primavera e a luz perdida,
Nos braços desse amor!
Minha fronte, que pende sofredora,
Acharia, meu Deus, inspirações.
E o fogo que queimou Gilbert e Dante
Correria mais puro e mais constante
Na lira das canções!
No mundo tão gentil dos devaneios
Minh’alma mais feliz saudara a luz,
E apagara, Senhor, num beijo puro
A dor imensa da perda do futuro
Que a morte me conduz.
Por ela eu deixaria a voz das turbas
E esta ânsia infeliz de glória vã;
Na vida que nos corre tão sombria
Eu seria, meu Deus, seu doce guia,
E ela - minha irmã!
Eu velara, Senhor, pelos seus dias,
Como a mãe vela o filho que dormiu:
Se um dia ela soltasse um só gemido,
Eu iria saber porque ferido
Seu seio assim buliu!
Como à sombra das árvores da pátria
S’embala a doce filha dos tupis,
À sombra da aventura e da esperança
Embalara, meu Deus, essa criança
Nos cantos juvenis!
Como o nauta olha o céu de primavera,
Eu, sentado a seus pés, ébrio de amor,
Espreitara tremendo no seu rosto

A sombra fugitiva dum desgosto,
A nuvem duma dor!
Eu lhe iria mostrar nos hinos d’alma
Outro mundo, outro céu, outros vergéis;
Nossa vida seria um doce afago,
Nós - dois cisnes vogando em manso lago,
- Amor - nossos batéis!
Se eu tivesse, meu Deus, santos amores,
Eu deixaria este amor da glória vã;
Nesse mundo de luz, doce e risonho,
A pudibunda virgem do meu sonho
Seria minha irmã!
1858

Fonte:
ABREU, Casimiro de. As Primaveras. São Paulo: Livraria Editora Martins S/A co-edição Instituto Nacional do Livro, 1972. Texto-base digitalizado por Raquel Sallaberry Brião.

Monteiro Lobato (O Presidente Negro) XVII – A Adesão das Elvinistas


CAPITULO XVII
A Adesão das Elvinistas

Arregalei os olhos de surpresa. Nem por sombras eu havia imaginado aquela hipótese e confessei-o a miss Jane.

— A surpresa não foi unicamente sua, senhor Ayrton. Alguns minutos passados depois do gesto decisivo do formidável Jim Roy, e cinquenta milhões de eleitores negros recebiam a imprevista senha como se rece¬bessem violenta pancada no crânio. A sensação de atordoamento foi geral. Pelo cérebro dos despigmentados passara tudo, menos aquilo. Nem um negro sequer imaginara tal hipótese. Mas a perturbação foi se desfazendo, e á medida que se ia desfazendo iam se iluminando as caras com um sorriso novo no mundo. Um sorriso sem significação, puramente reflexo. O sor¬riso do grilheta que nasceu de algemas ao pulso e de súbito as vê se esvaírem em névoa ao contacto de mágico talismã.

— "Livre, apenas? Não! Também senhor, agora..." O sigilo das comunicações radiadas era perfeito.

Onda que partisse com recado para fulano jamais errava de porta ou se deixava transviar pelo caminho. Mesmo assim miss Astor, cujo maquiavelismo de espírito não extremava a rubra ideologia elvinista dum maravilhoso senso das realidades, conseguira feliz êxito na caçada que armou á onda portadora da senha de Jim Roy. Não corromperia a onda, de si incorruptível, mas cor¬romperia um dos seus destinatários — talvez o único agente infiel de quantos tivesse Jim a seu serviço. Logo que recebeu a senha, esse espião chamou miss Astor ao aparelho das comunicações reservadas.

Estava ela a postos, na sede do partido, rodeada do seu ardente estado maior. Mal soou o chamado, dei¬xou as companheiras e literalmente atirou-se ao fone adivinhando do que se tratava. A viva expressão de curiosidade do Seu rosto, porém, demudou-se em derro¬cada. Seus olhos arregalaram-se e seus lábios, subita¬mente brancos, tremeram.

Vendo o transtorno de feições da chefa suprema, o estado-maior elvinista acudiu inquieto.

— "Que ha? indagou miss Elvin, agarrando-a pelos ombros. Resolveu Jim votar com Kerlog?"

Miss Astor quis responder mas não pôde. Sentiu uma nuvem turvar-lhe a vista, uma zoeira nos ouvidos, um turbilhão no cerebro. E descaiu para trás, des¬maiada.

— Como as de hoje... murmurei contente com aquele desmaio.

Miss Jane prosseguiu.

— O pânico apossou-se incontinenti do estado-maior elvinista e transformou a sala num rodamoinho de lin¬das baratas tontas. As sabinas entraram a correr de um lado para outro trefegamente a agarrar-se entre si, a gritar. Mas a voz aguda de miss Elvin se fez ouvir e as conteve:

— "Se Evelyn desmaiou, é que recebeu uma terrível noticia, e a única noticia terrível que Evelyn poderia receber é a da adesão de Jim a Kerlog. Logo, estamos derrotadas..."

E os olhos da sabina despediram uma terrível faísca de ódio — não político, não sexual apenas, mas especial, sentimento inédito do mundo e de pura criação elvinista. Miss Elvin cerrou o punho e ergueu-o na direção do Capitólio, ao mesmo tempo em que uivava qual loba ferida:

- "Não importa, Kerlog! Recorreremos aos grandes meios — á sabotagem, á boicotagem do gorila!"

- "Bravos! gritaram as elvinistas, recompostas da momentânea desorientação. Viva o boicote!"

Miss Elvin rangia os dentes.

- "Os infames monstros jamais poderão prever o plano infernal de sabotagem que contra eles organizei! Parecem ignorar, esses orgulhosos gorilas, que a natu¬reza os criou de uma carne toda ela calcanhares de Aquiles. Convido as sabinas presentes para uma reunião amanhã em minha casa a fim de estudarmos a apli¬cação imediata do plano diabólico. Ás oito horas lá todas!"

- "Bravos! Bravos! Sabotemos o gorila!"

A grita fez efeito de sais nos nervos da chefa des¬maiada. Miss Astor entreabriu os olhos, passou as mãos pelo rosto como a afastar as ultimas sombras e, reen¬trando na posse dos seus sentidos, ergueu-se de pé. Circunvagou pelo ambiente o olhar ainda trocado e em tom de mistério exclamou por fim, como se estivesse a falar consigo própria:

— "É indispensável um entendimento com Kerlog. Tudo mudou..."

O espanto das elvinistas atingiu o auge. Estarre¬ceram todas, de olhos arregalados e bocas entreabertas. Não compreendiam nada.

Miss Astor prosseguiu:

- "Temos de nos aliar de novo ao homem..."

- "Nunca! rugiu miss Elvin, escarlate de furor. Transigir, nunca!..."

O relógio da sala interrompeu o tumulto com o pingar das onze — a hora eleitoral.

— "Sim, declarou pausadamente miss Astor. Sim, porque já não se trata de um mero choque político entre as duas facções da raça branca. Trata-se da luva que nos vem de lançar ao rosto a raça negra. Jim Roy neste momento já deve estar eleito Presidente da Republica..."

Se uma granada de gás estupefaciente houvera explodido na sala, outro não seria o aspecto daquelas sabinas apalermadas pelo inaudito da surpresa. Trans¬formaram-se em verdadeiras mulheres de Lot, mudas e imóveis, com os olhos cravados na líder feminina.

Miss Astor continuou:

— "Não me enganavam os meus pressentimentos! Eu senti que Jim traíra. Ide ver na fachada do Capitólio o seu nome vitorioso..."

As elvinistas precipitaram-se para a janela e leram no frontão do monumento o nome de Jim Roy! Depois de 87 presidentes brancos surgia o primeiro negro, eleito por 54 milhões de votos. Miss Astor obtivera 50 milhões e meio e Kerlog 50 milhões e pico. Apesar de disporem de um eleitorado quase duplo do contra¬rio, os brancos perdiam a presidência graças á cisão entre os dois sexos provocada pelo elvinismo...

Foi instantânea e radical a mudança que se operou nas mulheres. Apreenderam num relance todas as conseqüências possíveis do golpe negro e tomaram-se de furiosa crise de sentimentalismo amoroso pelo homem branco, ser mau, opressivo, injusto, não havia duvida, mas afinal de contas o marido milenar da mulher. Mal com ele, pior sem ele. Estava tão longe o hipotético sabino...

Miss Astor tomou a palavra e fez-se a interprete do pensamento dominante.

- "Mulheres! Eis as conseqüências da nossa lou¬cura! Divorciamo-nos do nosso velho companheiro sexual e..."

- "Companheiro ilegítimo!" aparteou miss Elvin.

- "Seja, mas nem por isso menos companheiro. Di¬vorciamo-nos dele, declaramos-lhe guerra, difamamo-lo, e a paixão nos cegou a ponto de não vermos o polvo que espiava a brecha a fim de envolver o Capitólio nos seus tentáculos! Ah, Kerlog, que injusta fui contigo
recusando a fusão partidária que me propunhas! E como fui cruel respondendo ás tuas leais palavras com anfigurís em linguagem sabina! Vejo bem claro agora o nosso erro e, embora reconhecendo as queixas que a mulher tem do macho, também reconheço que sem o concurso dele nada valeríamos no mundo. Bastou um momento de divorcio para que a raça branca se visse nesta horrível situação: apeada do domínio e á mercê de uma raça de pitecos que, essa sim, tem contas terríveis a justar conosco..."

Palmas e bravos estrepitaram. Só miss Elvin, irredu¬tível no seu sonho, conservara-se de pé atrás.

— "E as minhas teorias? uivou ela. Que importa um momentâneo incidente eleitoral em face do fulgor das minhas idéias? Voto contra a aproximação com Kerlog e protesto contra o movimento de fraqueza, essa crise amorosa que vejo nas palavras de Evelyn! Propo¬nho o prosseguimento da luta com redobrado ardor.
Submissão de novo, nunca!..."

Mas nem uma só voz se ergueu para apoiá-la. Suas palavras tiveram como resposta um silencio de cemitério. Estava morto o elvinismo e de cinzas varridas todos aqueles cérebros e corações. Diante do silencio da assembléia ainda mais se exaltou miss Elvin, rompendo em apostrofes violentíssimas contra o "gorila pelado" e o "sentimentalismo ovelhum" das suas companheiras.

Dessa vez não foi o silencio de cemitério que aco¬lheu sua arenga. Foi a assuada.

- "Fora! Abaixo o sabino! Viva o Homo! Viva o macho forte que suplantou o macho fraco!..."

- "Sim, perorou miss Astor, viva o homem! Macho natural ou não, neto do gorila ou não, é ele o nosso marido pela milenar consagração dos fatos. Sempre vivemos ao seu lado, ora escravas, ora deusas, mas como irmãs de peregrinação nesta vida. Peludas que eramos ainda, e lá no fundo das idades já o ajudávamos a afiar o machado de sílex com que nos amparou das agressões do Urso speleus. Comemos juntos bifes crus de megatérios. Juntos nos derramamos por todos os recantos do globo e conseguimos a dominação hoje absoluta. Juntos subimos aos tronos e juntos fomos lançados ás feras do circo. De mãos dadas compusemos á sublime epopéia do amor — poema que principiou com a Vida e só com ela terá fim... O sabino, ainda que existisse, seria um fraco. O raptor valia muito mais do que esse hipotético bicho marinho, só existente, talvez, na ima¬ginação exaltada da nossa querida miss Elvin..."

- "Era o peixe-boi, o pesado animalão que os ho¬mens arpoam no Amazonas..." aparteou miss Dorothy Glynor.

- "O homem é o gorila, o gorila, o gorila..." urrava miss Elvin possessa.

- "Pois viva então o gorila! concluiu miss Astor e os aplausos foram delirantes. Fique miss Elvin com o boi do mar que nós ficaremos com o nosso velho e tradicional gorila. Á Casa Branca!..."

E numa verdadeira revoada precipitou-se para a Casa Branca o bando das ondeantes mamíferas com miss Astor á frente. Só ficou no recinto a sabina teimosa, a bater o pé e uivar para as cadeiras vazias:

— "Gorila, gorila, gorila, gorila..."

Nesse ponto miss Jane parou para tomar fôlego, enquanto eu dizia:

- Toma! Como tenho muita honra de ser neto do meu avô gorila, exulto com a derrota dessa renegada. Mas... e Kerlog, miss Jane? Como recebeu ele a no¬ticia da vitoria do negro?

- O presidente Kerlog recebeu o resultado do pleito com um assombro igual ao das mulheres, embora muito diferente na sua exteriorização. Convicto do apoio de Jim Roy a um dos partidos brancos, chegara a admitir por hipótese o triunfo de miss Astor; mas lá no intimo contava com o seu. De modo que quando na fachada do Capitólio surgiu o nome de Jim Roy, a sen¬sação que o empolgou foi de pesadelo. Kerlog apal¬pou-se e beliscou as carnes a ver se dormia. Não era pesadelo, não. Era coisa pior — fato. E como a hipótese da eleição de um negro nem por sombra lhe houvesse passado pela idéia, o seu desnorteamento fez-se absoluto.

Kerlog reclinou-se sobre a secretária e permaneceu durante alguns instantes imóvel, com a cabeça apoiada nas mãos. Dava tempo a que a idéia nova da eleição de um presidente negro penetrasse em seu cerebro, criando lá pelas circunvoluções um quadro inexistente. Custou a aboletar-se essa idéia. Não cabia em quadro nenhum e punha arrepios em todos perto dos quais passava...

Mas o 87.° Presidente possuía uma solida organiza¬ção mental; reagiu contra o golpe e logo reentrou no controle dos seus espíritos. Tomou um gole d'água e dirigiu a palavra aos atônitos ministros presentes.

— "Chegou afinal a crise prevista ha séculos e de maneira surpreendente. A hipótese que acaba de reali¬zar-se creio que jamais passou pelo espírito de nenhum americano, branco ou preto. É obra exclusiva de Jim Roy e explica a paciência com que vem ele automatizando a massa negra. Mas o fato está consumado. É um desafio, uma luva lançada ao rosto da raça branca, á qual nos cumpre dar troco. Não apresento nenhuma idéia porque não a tenho — ainda não houve tempo de se formarem idéias em meu cerebro. Creio que o mes¬mo se dará com todos os presentes..."

Um movimento geral de cabeças apoiou suas pala¬vras. Todos os ministros se achavam na mesma situa¬ção de espírito.

Kerlog prosseguiu. Fez ver a que terrível impasse a loucura das mulheres arrastara o país, situação insolúvel caso elas persistissem em se "desgorilarem" de sua ascendência.

— "E dado o modo de pensar é falar da líder femi¬nina, disse ele, não prejulgo o que esteja agora se pas¬sando pelo cerebro de miss Evelyn Astor. Mas é indispensável a todo o transe um entendimento com ela. É indispensável promovermos a harmonia dos partidos
brancos, porque só a união da raça branca nos salvará."

O ministro da Paz tomou a palavra (as guerras haviam cessado no mundo depois que aos ministros da Guerra se substituíram os ministros da Paz) e disse:

— "Acho inútil qualquer debate neste momento. A situação é obscura e..."

Não pôde acabar. Um tropel reboou nos corredo¬res. Era o bando elvinista que penetrava, com miss Astor á frente.

Kerlog empalideceu. Os extremismos daquela fac¬ção eram tantos que ele previu qualquer coisa seme¬lhante aos assaltos histéricos das antigas sufragistas britânicas. E apertou o botão da campainha de alarma, chamando a postos os guardas.

Miss Astor avançou para ele. Num instintivo gesto de defesa, Kerlog recuou em sua poltrona, vendo claramente definida a agressão iminente. Os ministros lan¬çaram-se das suas cadeiras em socorro do chefe su¬premo.

Era tarde, Miss Astor agarrara o presidente Kerlog pelo pescoço...

Agarrara-o não para estrangulá-lo, mas para beijá-lo entre lagrimas e soluços de comoção.

— "Kerlog, querido Kerlog! Venho em nome de todas as mulheres pedir perdão ao Homo, em ti repre¬sentado, da loucura a que miss Elvin nos arrastou. Diante dos supremos interesses da raça ofendida, cessa o divorcio sexual. Volta a mulher de novo aos braços do seu velho companheiro de peregrinação pelo mun¬do..."

Mal vindo do espanto, tonto ainda, o presidente Kerlog apenas murmurou:

- "A que horas, miss Astor! A que horas vem falar-me língua compreensível!..."

- "Perdoa, Kerlog! Foi uma nuvem que passou."

- "Mas lá estão as terríveis conseqüências impres¬sas na fachada do Capitólio."

- "Que importa? O que a mão do negro escreveu a tua apagará."

- "Fácil de dizer, miss Evelyn. Dentro da criatu¬ra civilizada dorme um troglodita. Receio que a exas¬peração desperte esse monstro."

- "Temos tudo por nós, o numero e a superiorida¬de mental."

- "Mas temos contra nós o momento, o impulso, a cólera, a vingança — as velhas inferioridades adormecidas mas não mortas. Receio que a America se inunde de sangue...

Miss Astor emudeceu por um momento, com os seios ofegantes. Depois disse:

— "E agora? Que vamos fazer?"

Kerlog respondeu com finura:

— "Vamos vencer. O perigo existia enquanto a pa¬lavra vamos só representava metade da raça branca. Se miss Astor me traz o concurso da metade rebelde, tudo muda ..."

A ex-sabina desprendeu-se do pescoço presidencial e gritou, voltada para as suas companheiras:

— "Cerremos fileiras em torno de Kerlog! É ele o nosso líder supremo — líder da raça, e acaba de traçar o incoercível programa branco: "Vencer!" Viva Kerlog!"

Uma burra delirante saudou as suas palavras.

— "Viva Kerlog! Viva o Homo!"

O ministro da Educação Social interveio malicioso:

- "Alia-se de novo então ao "gorila pelado", miss Astor?

- "Sim, respondeu ela, mais formosa do que nunca, tanto a sua fisionomia irradiava de entusiasmo. Aca¬bamos de fazer uma grande descoberta: o sabino de miss Elvin não passa de um estúpido boi de mar. Viva, portanto, o velho gorila!"

- "Viva! Viva!..."

E a onda feminina derramou-se barulhentamente pelos corredores afora, até despejar-se pelas escadarias.. .

Aliviado de um grande peso Kerlog voltou-se para os ministros e repetiu risonho o verso de Shakespeare:

— "She is false as water,..

- "Mas de muita força catalítica, rosnou o minis¬tro da Equidade. Cura pela ação da presença ..."

O ponto e vírgula com torradas veio interromper naquele dia as revelações de miss Jane. Retirei-me mais interessado do que nunca no desfecho da crise americana do século 23.
---------------
continua… XVIII – O Orgulho da Raça

Fonte:
Monteiro Lobato. O Presidente Negro. Editora Brasiliense, 1979.

4a. Expo Literária de Sorocaba (Programação)


A Biblioteca Municipal "Jorge Guilherme Senger" sediará, entre os dias 19 e 22 de outubro, a 4ª edição da Expo Literária. Neste ano, o evento homenageará o escritor Monteiro Lobato e terá suas tendas batizadas com os nomes de diversos personagens do artista.

Muitas atrações, incluindo palestras com os escritores André Vianco, Emílio Braz, o cordelista César Obeid e a dupla Palavra Cantada, serão oferecidas gratuitamente ao público. Além disso, escritores de Sorocaba e região também participarão de atividades e apresentarão suas obras.

Segundo o secretário da Cultura e Lazer, a Expo Literária deste ano será focada no público infanto-juvenil com uma programação que aposta bastante no talento dos escritores sorocabanos e na contação de histórias.

Para isso, também participarão do evento, por exemplo, o ator e contador de histórias Zé Bocca, os escritores Débora Benga, Paulo Ravagnani, Melissa Branco, Oswaldo Biancardi Sobrinho, Gepeto, com seu teatro de bonecos, e a Cia. Tempo de Brincar, com muitas músicas e histórias já bem conhecidas e apreciadas pelo público infantil de Sorocaba.

PROGRAMAÇÃO

Dia 19 de Outubro – Abertura Prêmio Anual de Literatura

19h
Auditório da Biblioteca Municipal
Abertura Oficial
Palestra: Armando Oliveira Lima
“Homenagem a Lobato”
Prêmio Anual Sorocaba de Literatura
Fábio Gouveia “Quarteto Musical”

Dia 20 de Outubro - quinta-feira

9h
AUDITÓRIO
Claudia Bernadete Veiga de Almeida - “Literatura Africana”
Público: jovens e adultos

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Cia. Tempo de Brincar - “Coisas de Saci”
Público: infantil

TENDA O SACI
Laé de Souza - “A Literatura como Prazer”
Público: infanto-juvenil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
Paulo Ravagnani - “A Necessidade da Filosofia no Mundo Atual”
Público: jovens e adultos

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Débora Brenga - “Contação de Histórias”
Público: infantil

10h
TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Osnival José Búfalo - “Mimica: Proibido Mascar Chicletes”
Público: livre

10h15

AUDITÓRIO
Júlio Emilio Braz - “As Interrelações Literárias e Sociais dentro da Moderna Literatura Infanto-Juvenil”
Público: infanto-juvenil

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Maria do Carmo/Marcello Marra/Elisete Martins - “O Mundo Mágico de Monteiro Lobato”
Público: infantil

TENDA O SACI
Laé de Souza “A Literatura como Prazer”
Público: infanto-juvenil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
Zé Bocca - “Os Manducas de Fiuza”
Público: infanto-juvenil

10h30

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Nelson Malheiro - “Saga do Povo Hebreu”
Público: livre

14h

AUDITÓRIO
Júlio Emilio Braz - “As Interrelações Literárias e Sociais dentro da Moderna Literatura Infanto-Juvenil”
Público: infanto-juvenil

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Cia. Tempo de Brincar - “Coisas de Saci”
Público: infantil

TENDA O SACI
Laé de Souza - “A Literatura como Prazer”
Público: infanto-juvenil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
César Obeid - “Contação de História e Bate Papo”
Público: infanto-juvenil

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Ricardo Reis - “Palestra Motivacional”
Público: livre

14h30

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Douglas Santos Junior - “Declaração de Poesias”
Público: livre

15h

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Oswaldo Biancardi Sobrinho - “Apresentação Musical”
Público: livre
15h15

AUDITÓRIO
Teatro de Bonecos do Gepeto - “Pipocando com Pinóquio”
Público: infantil

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Melissa Branco - “Apresentação Musical Semeando Em Cantos”
Público: infantil

TENDA O SACI
Laé de Souza - “A Literatura como Prazer”
Público: infanto-juvenil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
César Obeid - “Contação de História e Bate Papo
Público: infanto-juvenil

19h30

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Palavra Cantada

Dia 21 de Outubro - sexta-feira

9h

AUDITÓRIO
Kiara Terra - “A menina dos pais crianças”
Público: infantil

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Sérgio Vaz - Palestra
Público: infanto-juvenil

TENDA O SACI
Zé Bocca - “Histórias para ouvidos pequenos”
Público: infantil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
Monisa Maciel e Suzana Brunhara - “Nascimento da boneca Emília”
Público: infantil

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Jairo Valio - “Aquecimento Global”
Público: livre

10h

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Hélio Moura Filho - “Poeta de Bar”
Público: livre

10h15

AUDITÓRIO
Marcia Kupstas - “A aventura de ler e a disciplina dos sentimentos”
Público: infanto-juvenil

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Monisa Maciel e Suzana Brunhara - “Histórias Folclóricas”
Público: infantil

TENDA O SACI
Maria do Carmo/Marcello Marra/Elisete Martins - “O Mundo Mágico de Monteiro Lobato”
Público: infantil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
Paula Knoll - “Contos Encantados”
Público: infantil

14h

AUDITÓRIO
Marcia Kupstas - “A aventura de ler e a disciplina dos sentimentos”
Público: infanto-juvenil

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Monisa Maciel e Suzana Brunhara - “Contos Populares”
Público: infantil

TENDA O SACI
Teatro de Bonecos do Gepeto - “Pipocando com Pinóquio”
Público: infantil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
Paula Knoll - “Contos Encantados”
Público: infantil

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Débora Brenga - “Contação de Histórias”
Público: infantil

15h

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Nicanor Filadelfo Pereira - “A arte poética no contexto da vida”
Público: livre

15h15

AUDITÓRIO
Maria do Carmo/Marcello Marra/Elisete Martins - “O Mundo Mágico de Monteiro Lobato”
Público: infantil

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
Zé Bocca - “Histórias para ouvidos pequenos”
Público: infantil

TENDA O SACI
Teatro de Bonecos do Gepeto - “Pipocando com Pinóquio”
Público: infantil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
Melissa Branco - “Apresentação Musical Semeando Em Cantos”
Público: infantil

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Oswaldo Biancardi Sobrinho - “Declamação Poética”
Público: livre

16h

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
João Batista Alvarenga - “Declamação com performance teatralizada”
Público: livre

17h

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Florentina de Lourdes R. Blagitz e Edival de Moraes Blagitz - “Bate-papo com leitor”
Público: livre

19h30

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
André Vianco - “Palestra e bate papo”
Público: jovens e adultos

Dia 22 de Outubro – sábado

13h30

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Nelson Porfirio Rodrigues - “Interpretação Musical”
Público: livre

14h

AUDITÓRIO
Zé Bocca - “Os Manducas de Fiuza - Debate com Escola da Família"
Público: infanto-juvenil

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Nathalia Cristina G. De Rosa - “Interpretação Musical”
Público: livre

14h30

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Beatriz Biancardi - “Interpretação e Musicalização”
Público: livre

15h

TENDA CAÇADAS DE PEDRINHO
SESC - “Conto de Fadas”
Público: infantil

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Alessandra Jovelina Duarte - “Declamação de Poesia”
Público: livre

15h30

TENDA O SACI
SESC - “Cia. Circo de Bonecos”
Público: infantil

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Ana Maria Duarte - “Declamação de Poesia”
Público: livre

16h

AUDITÓRIO
Laé de Souza - “Publiquei meu Livro! E agora?”
Público: infanto-juvenil

TENDA MEMÓRIAS DE EMÍLIA
Melissa Branco - “Apresentação Musical Semeando Em Cantos”
Público: infantil

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Rafael Granado Brossi - “Declaração de Poesia”
Público: livre

16h30

TENDA O SACI
Conservatório Musical Rogério Koury – "Apresentação dos Alunos de Canto"
Público: livre

TENDA REINAÇÕES DE NARIZINHO – AUTORES SOROCABANOS
Francisco Vieira Ribeiro – "Declamação de Poesia”
Público: livre

ESPECIAL

Intervenções com "KIKA", do Mundo Encantado do "Sítio do Pica-Pau Amarelo", durante toda a programação Exposição da 4ª Expo Literária
Exposição “EMÍLIA A BONECA DE LOBATO”
Local: Biblioteca Municipal de Sorocaba “Jorge Guilherme Senger”
Horário: 9 às 20h

25 a 31 de Outubro
“Semana Literária da Academia Sorocabana de Letras”
Local: Casa 52 / Jardim Maylasky – Centro
Horário: 9h às 21h
Gratuito

Fonte:
Jornal Ipanema

sábado, 15 de outubro de 2011

Wagner Marques Lopes (Trova Ecológica 31)

Fonte:
Trova e imagem enviada pelo autor

Paulo Freire (Verdades da Profissão de Professor)


Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.

A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.

Ialmar Pio Schneider (Soneto ao Professor)


15 de outubro - Dia do Professor
Aos professores Helena, Ana Cristina e André Ricardo,

esta Homenagem ao Dia do Professor.

Lembremos a pessoa de valor,
neste dia, com muita seriedade,
que deu à nossa vida qualidade,
nosso ilustre e abnegado professor...

Vivemos já desde a mais tenra idade,
obtendo ensinamentos com amor
de nossos pais e do batalhador
mestre-escola, com rara habilidade.

Depois, ao longo de nossos caminhos,
vamos seguir quase sempre sozinhos,
mas com o que ficou em nossa mente.

Aquelas lições que recebemos,
eu bem sei que jamais esqueceremos,
que o ensino é um legado permanente !

Porto Alegre – RS, 15 de outubro de 2011.

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Lisbeth Lima de Oliveira (Poesias Avulsas)


LIGEIRO

Ainda no pé, depois de madura.
a goiaba, desfalcada de sua carne vermelho-polpuda.
mostra seu lado mais secreto:
as sementes, elegantemente arranjadas umas sobre as outras.

Admiro a disposição dos grãos
e encontro a natureza e sua origem.
Mas, apesar, de me ser permitido
testemunhar tal espetáculo.
Invejo o pássaro que chegou antes de mim.

TORRES GÊMEAS

Da construção gemelar.
pedaços homozigotos de pedra e gente.

MARÉS

Dessa janela vê-se o mar.
Ouve-se o barulho do mar.

Dependendo da maré,
também vou e volto
cá com meus barulhos.

E minha janela escotilha o continente:
dependendo da maré,
lanço-me em viagens
que me lembram o paraíso.

Vez por outra,
fico atracada cm mim.
Cá com meus barulhos.

DILIGENTE

Desliza ágil, qual dedos sobre cetim,
o grafite.
E desenha.
E rabisca.
Mas é quando escreve palavra
que ele se mostra veloz,
quase indomável,
como são as palavras quando querem ser lidas.

INEVITÁVEL

Não olhou para trás: sal, não queria virar.
ar lhe consumia o sangue e
formigas-doceiras, pequenas, rondavam seus sonhos.

A sua vida era pobre em escolhas.
Estava só.

Só, com as formigas-comuns rondando seu corpo,
Que quisera imortal.

ENCONTRO

Trouxe-me a chuva.
E, depois dela,
céu aberto, anil.

Trouxe-me a noite.
E, dentro dela, seu corpo chuviscado,
amanhecido junto ao meu.
Dia claro, céu aberto. abril.

ERVA-DOCE

Guardei tuas cartas
numa antiga caixa de sabonetes:
minúscula alcova, incensada de desejos secretos.
De amor perfumada!

POUSIO

Meu corpo repousa
assim como a terra arada,
desenhada para o plantio.

Entre uma safra e outra,
meu corpo repousa e te espera paciente,
enquanto escolhes as sementes.

Quando vens, é sol.
Mas a terra fica molhada.
E quando tudo parece árido
me encantas outra vez.

E meu corpo se acostuma
com chuvas de verão.
com temperamento sazonal.

INCOMPLETUDE

Quero ter motivos para ter saudades de você quando longe.
E que essa saudade seja barulhenta: de risos, de falas, de quereres.
E, estando perto, uma saudade calada:
de toques, de afagos, de sentidos.

Mas quero que se cumpra, mais uma vez, sua sina:
a de me garantir a doce sensação da incompletude.

INCENDIÁRIO

Debandaram pássaros,
bichos de arribação.
Flores queimadas na estrada
não se deixaram cheirar.
Um amor perdido, negado, devasta,
abre clareiras.
É invasivo o fogo da ausência.

Fonte:
Antonio Miranda

Lisbeth Lima de Oliveira (1963)


Nasceu em João Pessoa – PB, em 27 de agosto de 1963. É formada em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Fez a Especialização em Língua e Literatura Francesa e o Mestrado em Biblioteconomia (hoje Ciência da Informação) na mesma Universidade. Morou quatro anos e meio na França nas cidades de Toulouse e Perpignan respectivamente. Durante esse período fez alguns cursos entre os quais fotografia, uma de suas paixões. Desde 1998 mora em Natal – RN. Em 2000 participou do Concurso de Poesia Zila Mamede e teve o seu poema “Santos” o mais votado pela Internet. Em 2001, ganhou o Prêmio Othoniel Menezes com a obra “Dormência” promovido pela Capitania das Artes.

Publicou seu primeiro livro em abril de 2002 compilando os 40 poemas premiados e mais outros 20 guardando o mesmo título: Dormência. A respeito de Dormência o professor Tarcísio Gurgel diz: “sua estratégia em livro, com esse conjunto de sessenta poemas, já contemplados com um prêmio, o Othoniel Menezes em 2001, surpreende e causa admiração. Porque nos revela uma poetisa que já se apresenta aos seus leitores consciente da dura condição de artesã da palavra. Nisso, aliás, ela se aproxima de uma conterrânea já famosa, que orgulhosamente tornamos potiguar: Zila Mamede. Porém, há que assinalar uma diferença básica. A autora de Rosa de Pedra, extremamente ciosa da sua adesão ao neo-parnasianismo, em sua estréia, prima por uma organização lírica que, por assim dizer é traçada a régua e compasso, Lisbeth, já personagem deste outro século, supera a tradição do moderno e encontra na pós-modernidade o espaço natural para o seu discurso poético”. Em 2004 fez o curso de Especialização em Literatura Brasileira do século XX pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Em setembro de 2004 publicou Felice. Livro temático, Felice apresenta 50 poemas de amor. A respeito dele, o poeta Sérgio de Castro Pinto revela: “em Felice, a paraibana Lisbeth Lima de Oliveira reúne poemas que são cartas de amor. Mas cartas de amor de quem se mostra a um só tempo apaixonada pela linguagem e pelo amado, seja ele real ou fruto do fingimento do eu lírico. No entanto, incidisse a paixão tão somente sobre o amado, a linguagem teria tudo para ser negligenciada e os poemas certamente resultariam em ridículas cartas de amor. Há quem escreva poesia apenas com a emoção à flor da pele. Outros escrevem-na sabendo da distância entre a flor da pele e a folha de papel.Estes vencem a distância investindo na linguagem sem abdicar dos sentimentos.É o caso de Lisbeth Lima de Oliveira no excelente “Felice”, livro que ora vem a público”.Participou como membro de comissão julgadora de diversos concursos em Natal. Em junho de 2006 apresentou-se no Museu Câmara Cascudo fazendo uma leitura dramática em francês, de um trecho do livro Ulisses, de James Joyce. Atualmente está inscrita como aluna especial no doutorado de Letras da UFRN. Além da fotografia e da literatura, Lisbeth Lima adora exercer a maternidade (“sou uma mãe voluntária”) criando seus dois filhos: Gabriel, 11 anos e Miguel, 5 anos. Casada com Paulo, companheiro há muitos anos e primeiro leitor de suas criações.

Fonte:
Antonio Miranda

O Professor em Versos

Organização de Ademar Macedo em homenagem aos professores

AO PROFESSOR
–Conceição Assis/MG–

Mestres – heróis a lutar
na batalha do saber.
Dura missão é ensinar
a quem não quer aprender!

É motivo de alegria
para o mestre (ele não nega),
ver o aluno de outro dia,
ser agora o seu colega.

Sou mestra; neste labor
a minha vida se encerra.
E ensinando com amor
eu deixo a marca na Terra.

****************************

Todo dia ele enfrenta uma labuta,
incansável, resiste e segue em frente,
aprendendo e ensinando a essa gente
a moral, o saber e a conduta.
sem ter tempo pra descansar da luta,
trabalhando ele busca com fervor,
ensinar e mostrar com seu amor
que o saber é o seu maior legado.
eu só quero é que fique registrado
a importância real do professor.
-JOSÉ ACACI/RN-

É nato esse dom divino
que te enaltece o valor.
Dedicas à juventude
cultura, atenção e amor.
Que deus te proteja sempre
na lida de professor.
–VÍTOR COSTA/DF–

Ensinando o b-a-bá a uma criança,
Preparando-a para um mundo diferente.
Vai enchendo o mundo de esperança.
É o Mestre educando muita gente.
–MANOEL RODRIGUES LIMA/SP–

Professor
–CRISTINA OLIVEIRA CHAVEZ/USA–


De Ademar foi iniciativa
Deus abençoe seu labor,
de alentar a comitiva
para honrar ao Professor.

Hoje quisesse agradecer
a todos meus professores,
por ensinar-me a crescer
em outras sendas melhores.

Por sua grande dedicação,
em cada passo na vida
por amar sua profissão
em cada meta vivida.

Com sacrifício e desvelo
seu exemplo foram deixando,
jamais com senhas de duelo
e a seus alunos amando.

Deus lhes de com sua olhada
saúde, amor e abundância,
e muita paz em sua estrada
por sua honradez e constância

Canção das Professorandas
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–


Rasgando o céu em novos horizontes,
nessa visão do amor que busca as fontes
da pura vocação,
temos em nós a força que redime,
pois compreendemos, já, quanto é sublime
cumprir nossa missão.

Não têm força o fuzil, a espada, o sabre;
força existe no bom livro que se abre
nas mãos do professor!
Mais que as armas dos bravos campeões,
têm brilho heróico as mágicas lições
de um velho educador.

Ao ouro frágil, transitório, hodierno,
nós preferimos o tesouro eterno
do amor e do saber.
Vale mais educar uma criança
do que deixar-lhe volumosa herança,
que pode perecer.

Benditas sejam todas as passadas
que em busca desta escola foram dadas
por anos e mais anos!
Grande é dos pobres mestres a riqueza,
configurada na fiel nobreza
de esforços sobre-humanos.

Hoje, no entanto, como passarinhos
que vão deixando acolhedores ninhos,
onde há felicidade,
deste campo escolar nos despedimos,
e nas harpas do peito desferimos
gorjeios de saudade.

Esta nossa canção de despedida
parece a trova pueril, gemida
nas cordas da viola,
e, qual poeta que esgotasse as lavras,
só nos restam, agora, três palavras:
ADEUS, QUERIDA ESCOLA!

O Livro e o Professor
–ELIANA JIMENEZ/SC–


Abrem o livro
de cores intensas
profundas mensagens
na sala de aula.

Desfilam os mestres
em seus pedestais
Drummond e Bilac
em tons magistrais.

Pintores, autores
vão ser retratados
nas folhas macias
tão bem decoradas.

Despertam talvez
a arte escondida
no aluno que vê
na aluna que lê.

E aí professor
Aí está você
em meio aos grandes
é grande também
alcançando o sentido
de fazer o bem.

Meu Professor, Meu Amigo
–ROZA DE OLIVEIRA/PR–


Meu Professor, meu amigo
que bom contar contigo
neste meu viver.
Com devoção e carinho
dedicas tua vida
pra me ver crescer.

Nas tuas aulas eu sinto
que aprendo todo o dia
a questionar.
Venho feliz para a Escola
pois nela eu tenho um espaço
onde eu posso pensar.

Professor
és meu animador.
Tu despertas minha imginação.
Fico mais criativo,
isto me faz feliz
e tudo fica bem mais divertido.

Sou feliz
com o meu Professor
Ele é sempre o meu incentivador.
Sempre me faz crescer
me faz pensar e crer
que a vida é sempre um grande desafio.

Professor
–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–


Todo dia aqui tens a cena permanente:
material, livro-ponto, os outros camaradas,
e o avental que de tanto ir contigo ao batente,
já sobe até sozinho os degraus das escadas.

No intervalo, entre goles de chá ou cafezinho,
teus assuntos são sempre os mesmos de rotina:
“Será que vai sair aquele aumentozinho?
Será que vai subir de novo a gasolina?”

Não podes dar ao próprio filho mais carinho;
constrangido o entregas a outros cuidados,
e vens te dedicar, pelo dia inteirinho,
aos filhos de adoção que te são destinados.

Não tens a vida mansa, nem o que mereces;
pelo muito que fazes, pouco é o que te dão;
mas quando entras na sala, tudo isso esqueces,
e te propões, sereno, a cumprir a missão.

Como um milagre, então, tua força se revela,
e moldas a matéria prima, a teu contento;
és o artista que ao linho virgem de uma tela,
exprime em traços firmes o ardor do seu talento.

Por isso, Professor, no dia a ti votado,
mesmo assim como estás, oprimido e humilhado,
deves saciar a alma de orgulho profundo.

Não te vença essa angústia em que agora estiveres!
Nada tens... mas tens tudo... e podes, se quiseres,
Volver a teu sabor, a face deste mundo!

Professor
–MIFORI/SP–


Que o agora seja também
Mais um privilégio seu.
Questionar sim. Muito bem!
O desafio que apareceu

Mais um privilégio seu
Saber desequilibrar,
O desafio que apareceu
Para problematizar.

Saber desequilibrar,
Levar o aluno a construir
Para problematizar
E toda lição digerir.

Levar o aluno a construir
É missão do educador.
E toda lição digerir,
Ensinando com amor.

É missão do educador,
Sua realidade enfrentar,
Ensinando com amor,
Sabendo o como ensinar.

Sua realidade enfrentar,
Professor, homem de bem!
Sabendo o como ensinar,
Que o agora seja também.

Fonte:
Organização de Ademar Macedo em homenagem aos professores.

O Professor em Trovas

Organização: Ademar Macedo (RN)
Professor nos dá ensino
e nos tira da cegueira,
começa de pequenino
pra servir a vida inteira.
–ROSA SILVA/PT–

A professora, oferenda,
por deuses santificada,
professor, guarda-a na tenda
para não ser imolada.
CIDINHA FRIGERI /PR

A Professora parece
um lavrador a colher
ouro puro em sua messe
no garimpo do Saber!
–SELMA PATTI SPINELLI/SP–

Dentre as muitas profissões,
eu destaco o PROFESSOR
que fez, com suas lições,
alguém ser, hoje, um doutor.
–TARCÍSIO FERNANDES/DF–

Todo dia é da criança,
e também do professor:
ela aprende com confiança,
e ele ensina com amor.
–NEI GARCEZ/PR–

Professor, o grande mestre
Desse nosso conhecer
Pro praciano ou campestre
Ele transmite saber!
–PAULO DE TARSO/CE–

Ido é o tempo da alegria,
do mais respeitoso amor,,,
O PROFESSOR, hoje em dia,
é um grande herói... sofredor!
–HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ–

Foi meu guia e conselheiro,
e hoje eu venho agradecer
àquele mestre – o primeiro -,
que, um dia, ensinou-me a ler...
–DARLY BARROS/SP–

O pó que emana do giz
e um salário sem valor,
torna bem mais infeliz
a vida do Professor!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Põe na voz o coração
e saúde o Professor
que cumpre sua missão
com carinho e muito amor !...
–SÔNIA DITZEL MARTELO/PR–

Mesmo em escolas escuras,
o mestre é fonte de luz,
seguindo as aulas seguras
do grande Mestre Jesus !
–ANTONIO COLAVITE FILHO/SP–

Fonte:
Trovas da imagem e da postagem = Organização de Ademar Macedo
Imagem = montagem da trova sobre imagem obtida em http://www.planetaeducacao.com.br

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 365)


Uma Trova Nacional

Professor... a escola é um templo!
Nele, a criança inocente,
à luz do teu nobre exemplo
vence a treva e faz-se gente!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Uma Trova Potiguar

No seu trabalho fecundo,
um professor exemplar
não pode mudar o mundo
mas nos ensina a mudar!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

1996 - Bandeirante/PR
Tema: RUA - Venc.

O que é um beco? E a Leonora
que de esperteza se cobre,
respondeu à professora:
Um beco, é um motel de pobre!...
–JOSÉ MARIA M. DE ARAUJO/RJ–

Uma Trova de Ademar

Fiquei comigo a pensar
quando eu quis ser Trovador.
Se tem Deus para ensinar...
Não preciso Professor!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Nas pernas, a cola escrita!
e o professor, só olhando,
fica feliz quando a Rita
ergue a saia e vai colando...
–P. DE PETROS/SP–

Simplesmente Poesia

Professor...Apesar de Tudo!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Parabéns a você, que é Professor,
que recebeu de Deus essa missão
de nos dar o saber, numa lição,
no bê-á-bá do carinho e do amor;
na cartilha que teve o seu valor,
a tabuada... Ninguém vai esquecer!
Quem não lembra da carta de ABC,
o primeiro vestibular da vida...
E à professora, mal paga e esquecida,
este poema é também para Você!

Estrofe do Dia

Tal qual a pedra bruta a lapidar,
um dia eu fui levado para a escola.
Senti-me preso ali numa gaiola
e, coitadinho, tinha que estudar
e o bê-á-bá, tentava soletrar.
Estava ali com minh’alma inquieta
ouvindo a professora em sua meta
de ensinar-me o que ainda eu não sabia:
que com letras faria a poesia
no dia em que eu viesse a ser poeta.
–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–

Soneto do Dia

Ser Professor.
–LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA/MG–

Ser professor é ser um lavrador
que comporta a missão alvissareira
de cultivar a mente como flor
e prepará-la para a vida inteira!

É dar ao mundo, com desvelo e amor,
mais uma alma pura e verdadeira,
moldada nos augúrios do valor
pra desejar vencer, ser a primeira!

E que essa alma, no ruflar dos sonhos,
só busque o bem e os trilhos mais risonhos
de um nobre vicejar do pensamento...

Não olvide, porém, dessa lição
e renda ao mestre, com dedicação,
o merecido reconhecimento!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor