sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Vereda da Poesia = 92 =


Trova do Rio de Janeiro/RJ

LOURDES REGINA F. GUTBROD

No templo da natureza,
que a luz divina irradia,
nos assombra, com certeza,
encontrar tanta harmonia!
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Poema de Belém/PA

ANTONIO JURACI SIQUEIRA

Meu canto

Meu canto aprendi com a água
bulindo na ribanceira
ao som do vento brincando
na copa da seringueira.

Aprendi a rimar com a chuva
no telhado a batucar,
com o urutau que ensaiava
canções à luz do luar.

Meu cantar é como a voz
do mar na areia quebrando
e o canto do rouxinol
quando a aurora vem raiando.

Meu canto escala montanhas,
vence dunas, soa no ar,
transpõe rios e florestas,
dança nas ondas do mar!
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Trova de Nova Friburgo/RJ

DALVA GUEDES DE ATHAYDE

Jovem!... Busca em tua vida
levar, em qualquer passagem,
harmonia na medida
e a esperança... na bagagem!
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Soneto de Mogi-Guaçu/SP

OLIVALDO JÚNIOR

Um rapaz, um homem só…

Nas esquinas do meu quarto,
um rapaz, um homem só,
guarda os versos que reparto
com alguém que vira pó.

Das porções com que me farto,
um rapaz, um homem só,
já não pensa mais no infarto
que faria alguém ter dó.

Sem ninguém que a vida inflame,
dobra esquinas da cidade
como peças de origami.

Já não quer ninguém que o chame
pela alcunha de "saudade",
mas que, ao vê-lo só, o ame.
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Trova Premiada em Barra do Piraí/RJ, 2000

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP

A varanda, hoje
de algazarra das crianças,
se transforma, dia a dia,
num castelo de lembranças!...
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

Desejos

Queria ser 
o seu “tudo” na vida...
o caminho a percorrer,
os perigos a enfrentar,
o amanhã por nascer,
o sorriso 
do seu olhar.

Queria 
ser o seu 
agora;
o seu melhor 
momento 
de felicidade
e encantamento...

Queria, 
ser também,
a sua, 
esperança.
A sua alegria,
a sua ilusão, 
e fantasia.

Queria, 
finalmente,
estar em seu coração...
ser seu momento
de reflexão
na calma tarde 
refletida lá fora.
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Trova Popular

Passarinhos, meus amigos,
eu também sou vosso irmão:
vós tendes penas nas asas,
eu tenho-as no coração.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

CARMEN CINIRA
(1902 – 1933)

Ser mulher

Ser mulher não é ter nas formas de escultura,
no traço do perfil, no corpo fascinante,
a beleza que, um dia, o tempo transfigura
e um olhar deslumbrado atrai a cada instante.

Ser mulher não é só ter a graça empolgante,
o feitiço absorvente, a lascívia e a ternura;
ser mulher não é ter na carne provocante
a volúpia infernal que arrasta e desfigura...

Ser mulher é ter na alma essa imortal beleza
de quem sabe pensar com toda a sutileza
e no próprio ideal rara virtude alcança...

É ter, simples e pura, os sentimentos francos,
E, ainda no fulgor dos seus cabelos brancos,
sonhar como mulher, sentir como criança!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Declamar verso sem pausa
é perder, da roda, o aro,
é tiro que sai da mausa*,
sem que alguém faça o disparo.
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* Mausa = pistola
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Poema de Cachoeira do Sul/RS

JAQUELINE MACHADO

Quero abraçar o mundo

 Sou amiga da paz.
Mas paradoxalmente, sou barulhenta!
Penso demais...
E vou confessar um defeito:
sou um pouco controladora.
Quero abraçar o mundo e seus espaços,
impedir erros e sofrimentos.
Preciso aceitar que, na verdade,
não controlo nem meus sentimentos...
Ficar de bem comigo do jeito que sou, incontrolável...
Igual ao sopro do um vento...
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Na "guerra" pela conquista
de um bom salário, valentes,
a manicure e o dentista
lutam "com unhas e dentes"!
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Soneto Mineiro

CÍCERO ACAIABA
Cambuquira/MG, 1925 – 2009, Varginha/MG

Minha sombra

Depois de te esperar inutilmente
na esquina desta rua abandonada,
eu volto mais sozinho e, lentamente,
marcam meus passos versos na calçada.

O coração, de súbito, se sente
liberto dessa angústia exasperada,
ao ver que minha sombra, obediente,
arrasta-se a meus pés, escravizada.

Ao menos, a que sempre me acompanha,
sombra fiel de tantas confidências,
mártir da mesma dor, do mesmo espinho,

ouve em silêncio minha voz estranha,
e vai beijando as longas reticências
das lágrimas que deixo no caminho.
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Família é laço afetivo,
motivo para viver,
pois viver sem ter motivo
só nos leva ao desprazer.
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Poema de São Francisco de Itabapoana/RJ

ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE

Quando morre um poeta

“Quando morre um Poeta
Uma luz se apaga
Uma rima deixa de ser feita
Um trovador se cala.
-  O belo é menos escrito
Do jeito mais bonito
de externar a inspiração.”
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Liberdade, és valiosa!
quem te perde sabe bem
que por seres preciosa
não se pode viver sem.
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Soneto de de Piracicaba/SP

LINO VITTI
(1920 – 2016)

Veleiro do amor

Coração - débil barco aventureiro -
pelo oceano do amor, toma cautela.
Pode surgir um vendaval traiçoeiro
que te arrebate e te estraçalhe a vela.

Perscruta o rumo. Sobre o mar inteiro
se prepare talvez árdua procela.
Busca horizontes claros, meu veleiro,
onde o sol brilha e o mar não se encapela.

Não te faças ao largo em demasia
que vem a noite horrenda e a treva zás
queira roubar-te a luz que te alumia.

E então sem rumo, sem farol, sem paz
quiçá não possas mais voltar um dia
à imensa praia que deixaste atrás.
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Trova Premiada em Barra do Piraí/RJ, 2000

MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

Sou seresteiro perfeito,
porque até meu coração
se amoldou, dentro do peito,
à forma de um violão!
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Poema de Santo Antonio do Monte/MG

CARLOS LÚCIO GONTIJO

Amora Doce

Ainda cora no céu de minha boca
Aquele gosto de nuvem do teu beijo
Mora em mim toda janela do teu rosto
Amora doce em calda de raios de lua
Ofuscando as ruas de neon da madrugada
Foi bom sentir-me horizonte ensolarado
Mas se quebrado o bandoneón do amor
Sob as sanhas do batom a dor é branda
A lágrima que corre é apenas vida que anda
Num eterno "quiereme, besame mucho"
Sussurrado em terno de linho branco
Manchado pelo vinho santo da paixão!
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Aviva-lhe o orvalho o viço, 
e a rosa acorda se abrindo... 
Aberta, põe-se a serviço 
de um mundo amoroso e lindo! 
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Escada de Trovas de São Paulo/SP

FILEMON MARTINS

Deus

NO TOPO:
"Quando chegam dissabores,
Vejo o céu todo estrelado,
Nos campos eu vejo flores,
E a Deus eu digo; obrigado"!
Carlos Ribeiro Rocha
(Ipupiara/BA, 1923 – 2011, Salvador/BA)

SUBINDO:
"E a Deus eu digo: obrigado"
ao ver a vida na serra,
o mundo fica encantado
com as belezas da Terra.

"Nos campos eu vejo flores"
iguais no mundo não há,
perfumadas são amores
que a Natureza me dá.

"Vejo o céu todo estrelado"
a nutrir os sonhos meus,
e eu fico mais deslumbrado
ante a beleza de Deus.

"Quando chegam dissabores"
que a própria vida me traz,
esqueço das minhas dores
e escrevo versos de paz.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Não prolongues a partida...
Vai... não olhes para atrás,
dói bem mais a despedida,
quão mais longa ela se faz!
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Hino de Rio Negro/PR

Na pequena capela da mata,
Nos caminhos dos Campos Gerais,
Tu nasceste, querida Rio Negro,
Da bravura dos seus ancestrais.
És da Mafra fiel companheira
E seguindo caminhos iguais
És imagem de felicidade
Desde os tempos dos Campos Gerais.

(Refrão)
Oh! Rio Negro, singela e formosa.
És a ternura de um botão de rosa.

Em teu seio, querida Rio Negro,
Vive um povo ordeiro e feliz
Que tem fé e amor ao trabalho
E a Deus agradece e bendiz
Pela glória dos teus fundadores,
Pela honra dos seus ancestrais,
Por teus feitos brilhantes na história
Nos caminhos dos campos gerais.

Na beleza da tua paisagem,
És um hino a fraternidade,
És ternura de um botão de rosa
A florir na fronteira da amizade.
Na pujança do bravo Rio Negro,
Na candura de um riso infantil,
És prelúdio de fé e esperança
No amanhã de um grandioso Brasil.
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Trova de Santos/SP

BRITES Q. FIGUEIREDO

Num cofre-forte, guardado
por bruxas, lá na distância,
está o que me é negado:
- os sonhos de minha infância!
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Poema de Ibirama/SC

APOLÔNIA GASTALDI

Palhaço

Já te desejei
Desesperadamente
Sem imaginar
Que num repente
Irias te afastar

Havia em tuas palavras
Um ar de eternidade
Que me fez
Acreditar.
Depois assim indiferente
Tudo se afogou
Morreu na correnteza
Daquele rio
Que era só beleza

E meus sonhos feneceram
Um por um
No regaço da tristeza
Na aurora que eu vi
Apenas nascer

E tu sumiste
Nem palavras tinhas
Eu fiquei
Na penumbra
No desespero de não ter

Sorrindo segues outro destino
Como um palhaço
Escondido pelas tintas
Que não deixam ver emoções

Escondido na mentira. 
Palhaço !
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Trova de Belo Horizonte/MG

OLYMPIO S. COUTINHO

Nada recebe quem nega
dar amor ou coisa assim:
só colhe flores quem rega
dia e noite o seu jardim.
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A leoa e a ursa

Caiu-lhe o filho na cilada
Que o mendaz caçador lhe veio ao bosque armar;
E pelo bosque andava, irada,
A mãe leoa a urrar — a urrar, a urrar, a urrar...

E a noite toda e todo o dia
Soltou berros cruéis, urros descomunais;
E não só ela não dormia,
Mas nem dormir deixava os outros animais.

Tamanho e tal berreiro a fera
Fazia, que fazia os bichos mais tremer;
Até que veio a ursa (que era
Comadre dela) em prol dos mais interceder.

«Comadre, disse, os inocentes
Que, famulenta e crua, estrangulando vai
A aguda serra de teus dentes,
Não têm eles também, acaso, mãe nem pai?

Têm. Entretanto, estes, pungidos,
Loucos por um desastre ao teu desastre igual,
Não vêm quebrar nossos ouvidos;
Não nos quebres tu, pois, com algazarra tal!

—  Eu, sem meu filho! Ai! que velhice
Sem ele arrastarei, com este fado atroz!»
Disse a leoa. E a ursa disse:
«Do teu fado, porém, que culpa temos nós?!

— É o destino que me odeia!...»
E quem no mesmo caso o mesmo não dirá,
Se dessa frase a boca cheia
De todo o mundo (diz o La Fontaine) está?...

Sammis Reachers (Sísifo e Afrodite)

Na fábula, dez anos após Zeus ter punido Sísifo com a missão de rolar eternamente a enorme rocha montanha acima, apenas para vê-la despencar do alto e ter que recomeçar a movê-la, Afrodite, entre curiosa e apaixonada (e não é a paixão uma curiosidade exacerbada e mórbida?) disfarçou-se de humana e, escondida de seu pai Zeus, veio ter com o herói ou derrotado ladrão dos falsos deuses. 

– Homem de grande força, gostaria de ter alguém para lhe acariciar nesta noite, revigorando sua masculinidade enquanto você rola esta enorme pedra? – perguntou, lânguida, a deusa vestida em tênues trajes.

– ...Não, minha bela jovem. Posso empurrar esta pedra por toda a eternidade, se assim for necessário. Mas confesso que gostaria de ter alguém, alguém que permanecesse para além de uma noite, e se assentasse sob aquele pé de zimbro e dissesse, de quando em vez, com um sorriso terno: "Você está indo bem, e eu estou aqui contigo. Continue."

Conta Homero ou Plutarco ou Borges ou mesmo Bolaño (pois a lenda perdeu-se como a memória dos deuses quedos), que a deusa dúbia, sonsa e fulminante, incapaz de constância, ou de oferecer TÃO POUCO, transmutou-se à sua forma célica e, contrafeita e incendiada, tornou ao Olimpo, o Olimpo dos frios vencedores.

Fonte: https://linktr.ee/sreachers

Recordando Velhas Canções (Prelúdio para ninar gente grande)


(balada, 1962) 

Compositor: Luís Vieira

Quando estou nos braços teus
Sinto o mundo bocejar
Quando estás nos braços meus
Sinto a vida descansar

No calor do teu carinho
Sou menino-passarinho
Com vontade de voar
Sou menino-passarinho
Com vontade de voar
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A Delicadeza do Amor em 'Preludio Pra Ninar Gente Grande (Menino Passarinho)'
A música 'Preludio Pra Ninar Gente Grande (Menino Passarinho)', de Luiz Vieira, é uma canção que exala ternura e intimidade. A letra descreve a sensação de paz e tranquilidade que o eu lírico sente quando está nos braços da pessoa amada. A expressão 'sinto o mundo bocejar' sugere que, nesse momento de aconchego, o mundo parece desacelerar, como se estivesse prestes a adormecer. Essa imagem transmite uma sensação de segurança e conforto, onde o tempo parece parar e a vida se torna mais leve.

Quando o eu lírico diz 'sinto a vida descansar', ele reforça a ideia de que estar com a pessoa amada proporciona um alívio das tensões e preocupações do cotidiano. É um momento de refúgio e serenidade, onde a presença do outro tem o poder de acalmar e renovar as energias. A repetição dessa sensação nos braços do outro cria uma atmosfera de cumplicidade e harmonia, onde ambos encontram um porto seguro.

A metáfora do 'menino-passarinho' é particularmente tocante. Ela evoca a imagem de um ser pequeno e frágil, mas ao mesmo tempo cheio de sonhos e aspirações. O desejo de voar simboliza a liberdade e a vontade de explorar novos horizontes, impulsionado pelo amor e pelo carinho recebido. Essa metáfora sugere que o amor tem o poder de transformar e libertar, permitindo que o eu lírico se sinta leve e capaz de alcançar grandes alturas. A simplicidade e a beleza da letra de Luiz Vieira capturam a essência do amor puro e genuíno, fazendo desta canção uma verdadeira ninar para gente grande.

Tal como “o Menino de Braçanã” outro êxito de Vieira, “Menino Passarinho” é uma canção sentimental, de letra meio pitoresca (“Quando estou nos braços teus / sinto o mundo bocejar”), mas que também sugere um clima místico-romântico acentuado pela interpretação contrita do autor, a melhor entre as várias versões gravadas 

Fontes: A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34.
https://www.letras.mus.br/luis-vieira/715923/

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Varal de Trovas n. 609

 

Flávio Roberto Stefani (Trovas em preto e branco)


 1
Brancos, negros e amarelos,
se a causa é justa e loquaz,
juntam braços, que são elos
forjando as cores da Paz!
2
Com malícia, a lua cheia
vestiu de luz nosso leito
ao te ver desnuda, alheia,
aconchegada em meu peito.
3
Destino cruel se encerra
neste turismo obsoleto:
quando o frango sobe a serra,
não desce - vira galeto!…
4
É mais feliz a criança
que recebe amor profundo,
pondo luzes de esperança
no quarto escuro do mundo.
5
Entre os licores mais puros
que a vida me fez provar,
estão os lábios escuros
que me deixaste beijar.
6
Eu, boêmio sem comando,
nos dias mais enfadonhos,
passo os dias chimarreando
na varanda dos meus sonhos!
7
Gerador de paz e calma,
que dispensa cerimônia,
o livro é o jantar da alma
nas noites claras de insônia.
8
Meu Senhor, quero sentir,
de uma forma singular,
a coragem de sorrir
quando o dia é de chorar.
9
Na pescaria, de fato,
notei teu jeito chinfrim,
mas o olhar era de gato:
um no peixe e outro em mim…
10
Queres falar de bem perto
à mãe da sabedoria?
Procura o balcão aberto
de uma boa livraria.
11
Sendo forte, sendo inquieta,
com requintes de magia,
a trova é o cais do poeta,
onde se amarra a poesia!
12
Sendo mal utilizada,
a liberdade, no fundo,
não dá tiros, não dá nada,
mas fura os olhos do mundo!...
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SOBRE AS TROVAS DE FLÁVIO
por José Feldman

TEMAS PRINCIPAIS

Amor e Intimidade:
Muitas trovas falam sobre a conexão emocional e física entre amantes, destacando momentos de ternura e paixão. A lua, por exemplo, é frequentemente usada como símbolo de romance e contemplação.

Liberdade:
A liberdade é retratada de maneira complexa, mostrando tanto seu potencial transformador quanto suas armadilhas. A trova sobre a liberdade que "fura os olhos do mundo" sugere que, sem responsabilidade, a liberdade pode causar dor ou confusão.

Infância e Esperança:
A valorização da infância como um período de amor e luz é um tema recorrente. A inocência das crianças é contrabalançada com as dificuldades do mundo, sublinhando a importância de proporcionar um ambiente amoroso na formação da criança, que traz luz mesmo em tempos sombrios.

Paz e União:
A busca pela paz e a união entre diferentes culturas e etnias é fundamental. Stefani enfatiza que, quando as pessoas se juntam em torno de uma causa justa, a importância desta  solidariedade para a construção da paz..

Sonhos e Criatividade:
A vida boêmia e a busca pelos sonhos são recorrentes. A ideia de "chimarrear na varanda dos sonhos" sugere um espaço de reflexão e criatividade, onde o trovador pode explorar suas ideias.

Sonhos e Boemia: 
Fala sobre a liberdade criativa e a busca de sonhos em meio à monotonia do cotidiano.

METÁFORAS UTILIZADAS

"Brancos, negros e amarelos":
Metáfora da união: As cores representam a diversidade étnica e a ideia de que, juntos, podemos forjar a paz.

"A lua cheia vestiu de luz nosso leito":
Metáfora da intimidade: A lua é personificada como um elemento que traz luz e beleza a um momento íntimo entre amantes.

"Quando o frango sobe a serra, não desce - vira galeto!":
Metáfora do destino: A transformação do frango em galeto simboliza como as circunstâncias da vida podem mudar nosso rumo.

"O livro é o jantar da alma":
Metáfora da leitura: Sugere que os livros alimentam a alma e proporcionam satisfação espiritual, como uma refeição rica e nutritiva.

"No quarto escuro do mundo":
Metáfora da esperança: O quarto escuro representa as dificuldades da vida, enquanto a luz trazida pela criança simboliza esperança e amor.

CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS

Musicalidade: As trovas possuem um ritmo que as torna agradáveis ao ouvido, favorecendo a recitação.

Imagens Vivas: Stefani usa metáforas e comparações que tornam as experiências mais tangíveis, como a transformação do frango em galeto, que provoca uma reflexão sobre o destino.

Simplicidade e Profundidade: A linguagem é acessível, mas as mensagens são profundas, permitindo que diferentes interpretações surjam a partir de uma leitura.

CONCLUSÃO

As trovas de Flávio Stefani revelam uma sensibilidade poética rica e diversificada. Cada uma delas aborda temas como amor, liberdade, infância e a busca por paz, utilizando metáforas e imagens vívidas. Refletem a riqueza da experiência humana e a habilidade do trovador em capturar emoções em palavras.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Silmar Bohrer (Croniquinha) 119

Quando Guttemberg inventou a imprensa talvez não imaginava a revolução que provocaria nas ideias e na cultura. E não só regional ou europeia, mas o rastilho de conhecimentos não respeitou fronteiras. 

A invenção da máquina de imprensa provocou mudanças substanciais na forma de contato, de leitura e divulgação de revistas, panfletos, livros e jornais. As escolas foram ajudadas com o uso dos livros de alfabetização. 

Surgiram as bibliotecas, os leitores e as comunidades de leitores. Cresceu o número de pensadores, insuflados pela leitura. O conhecimento foi disseminado. 

O livro segue vivo, vívido, vivenciando verdades. 

Fonte: Texto enviado pelo autor