domingo, 29 de setembro de 2024

Dicas de escrita (Tipos de contos)

Os contos são uma forma literária rica e diversificada, e podem ser classificados em várias categorias.

1. Conto Fantástico
Apresenta elementos sobrenaturais, instigando o leitor a questionar a lógica da narrativa.

Jorge Luís Borges — seus contos frequentemente exploram temas de labirintos e realidades alternativas, como em "A Biblioteca de Babel".

2. Conto de Horror
Foca em provocar medo ou angústia, frequentemente envolvendo o sobrenatural ou o grotesco.

Edgar Allan Poe — conhecido por contos como "O Corvo" e "O Gato Preto", que exploram a psicologia do terror.

3. Conto Realista
Foca na representação fiel da vida cotidiana e das experiências humanas.

Anton Tchekhov — seus contos, como "A Dama do Cachorrinho", retratam a vida comum com profundidade emocional.

4. Conto de Fadas
Inclui elementos mágicos e geralmente possui uma moral ou lição.

Hans Christian Andersen — conhecido por contos como "A Pequena Sereia", aborda temas de amor, sacrifício e transformação.

5. Conto Policial
Narrativas que giram em torno de um crime ou mistério, com a resolução sendo um elemento central.

Agatha Christie — seus contos e romances, como "O Assassinato de Roger Ackroyd", são famosos por suas intrincadas tramas de mistério.

6. Conto de Amor
Foca nas relações amorosas, suas complexidades e nuances, geralmente com um desfecho emocional.

Guy de Maupassant — seus contos, como "Bola de Sebo", exploram a natureza do amor e do desejo.

Carolina Maria de Jesus – "Quarto de Despejo", narra experiências de amor e desamor em um contexto de pobreza.

7. Conto de Humor
Busca provocar riso e divertimento, muitas vezes através de situações absurdas ou personagens caricatos.

Mark Twain — contos como "As Aventuras de Tom Sawyer", combinam humor com crítica social.

8. Conto Social
Aborda questões sociais, políticas ou culturais, muitas vezes com um viés crítico.

Machado de Assis — contos como "A Cartomante" refletem as tensões sociais e morais do Brasil do século XIX.

9. Conto Surrealista
Apresenta imagens e situações que desafiam a lógica e a razão, muitas vezes explorando o inconsciente.

Franz Kafka - contos como "A Metamorfose" exploram realidades absurdas e a alienação humana.

Julio Cortázar — em "A Casa Tomada", utiliza uma narrativa não linear e surrealista.

10. Conto de Aprendizado 
Foca no crescimento e desenvolvimento do protagonista.

J.D. Salinger — "O Apanhador no Campo de Centeio" é um exemplo de crescimento emocional e autodescoberta.

11. Conto de Viagem
Envolve aventuras em locais exóticos, refletindo sobre cultura e experiência.

Jack Kerouac — "On the Road" (embora um romance, tem elementos de conto de viagem) captura o espírito da exploração.

12. Microconto
 Narrativa extremamente curta, onde cada palavra conta.

Augusto Monterroso — "Quando acordei, o dinossauro ainda estava lá." é um exemplo famoso de microconto.

13. Conto histórico
Ambientado em um período histórico específico, explorando eventos, figuras ou contextos do passado.

José Saramago - contos que, embora não sejam sempre históricos, frequentemente refletem em suas narrativas as questões do tempo e da memória.
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Na continuação, explanaremos mais profundamente sobre cada um dos tipos de contos e seus expoentes.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR: IA Open.  Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Vereda da Poesia = 122 =


Trova de
BRANDINA ROCHA LIMA
Recife/PE, 1916 – 1999, Moreno/PE

Foste aurora em minha vida,
meu sol de felicidade…
Hoje, és estrela perdida
no céu de minha saudade…
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Semi-Soneto de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Solidão (1)

Na sombra fria da noite, eu desapareço, 
a solidão é manto que me resta, 
caminho por caminhos que não conheço, 
e a voz do eco é tudo o que se manifesta. 

Os sonhos se desfazem em murmúrios, 
as estrelas parecem tão distantes, 
e em cada passo, parecem ser augúrios, 
reflexos de um ser que sofre os instantes. 

Mas na penumbra, há um brilho escondido, 
um canto suave que embala a dor, 
sussurros do silêncio, eu ouço unido. 

E na tristeza, um traço de amor, 
pois mesmo só, o coração é sentido, 
na solitária dança do desamor.
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Lá na casa da Maria
é muito estranha a porteira...
Não faz barulho de dia,
bate e range a noite inteira…
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Um poeta não é só substantivo

Sempre alguém diz que sou poeta até no nome...
...mas um poeta não é só substantivo...
o que se inventa, normalmente um dia some
e é assim: reinventando, eu sobrevivo.

Sou só mais um igual a tantos que diluem
nas suas dores, os seus sonhos e anseios,
seres que aprendem a criar versos que fluem,
polinizando a flor dos próprios devaneios.

Não modelei esse poeta que há em mim...
nasci assim, com esse dom especial
de abençoar, na solidão do meu jardim,
cada botão de cada flor original.

Não me sentei numa cadeira e copiei
o que pregava um ilustre professor,
mas diluí em cada olhar o que criei,
quando encontrei no meu olhar, meu próprio amor.

Meus mestres são sempre o melhor que alguém me dê,
sem me cobrar... o amor requer fraternidade...
e Deus repassa, a qualquer cristão que Nele que crê,
esse poder que existe dentro da humildade.

Deus misturou, em cada cor que eu desenhei,
o arco-íris da melhor abstração;
autodidata, cada linha que tracei,
foi um pedaço do meu próprio coração.

Sou, sim, poeta sem registro em cartório,
meu repertório não carece de um carimbo;
a inspiração é muito mais que algo simplório;
se alguém me bate, é com meus versos que me vingo.

Poetas choram poesias, quando o riso
que eles têm fazem da página, o caminho,
da sua lágrima melhor, tão sem aviso,
deixando um rastro moldado pelo carinho.

Não sou poeta só no nome, o meu olhar
capta a vida que respira ao meu redor
e é só o amor reaprender o que é sonhar,
que faço o mundo parecer muito melhor.
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Trova  Premiada em Irati/PR, 2023

LEONILDA YVONNETI SPINA 
Londrina / PR

No forró, por bebedeira,
Zé tropeçou num cascalho
e ficou a tarde inteira,
“carta fora do baralho”!
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Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

A Poesia Contida na Pintura
ou a Pintura Vista na Poesia?

Sequelas em cores
invadem, se calam,
apenas ali, revivem.

Traços finos entre si convivem,
ofuscam meu sentir, em aroma
fresco nas manhãs onde vivem.
Em sua nobre singeleza suspiro
beleza em tela, caso subjetivem.
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Trova Popular

Há uma espécie de planta
que vinga sem ter raízes...
Assim são certos sorrisos
nos lábios dos infelizes.
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Soneto de
CLÁUDIA DIMER
Eldorado do Sul/RS

Razão

Formou-se o Universo - o largo Estudo
humano explica que um motivo existe...
O céu, a Terra, a Lua, o Sol e tudo
tem um "porquê" na criação. Ouviste?

Surgiu a vida - um bem no qual me iludo...
Surgiu a morte para eu ser mais triste!
E fez-se o Mar e o vento em som agudo...
Onde há explicação que me conquiste?

Formou-se a chuva para a plantação,
e o amor para quê? Para a ilusão
que torna o meu viver fatal tolice!...

"Para tudo há razão". Quem foi que disse?
Meu existir teria uma razão
se dentro do teu sonho eu existisse!
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Trova de
DÉSPINA ATHANÁSIA PERUSSO
São Jerônimo da Serra/PR

O calor dos teus abraços
e o fulgor do teu olhar
são conquistas que os meus braços
têm vontade de alcançar.
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Poema de
ÁLVARES DE AZEVEDO
São Paulo/SP, 1832 – 1851, Rio de Janeiro/RJ

Meu Sonho

EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Porque brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso....
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas.... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? — que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Prende a sogra na moenda
e aí prepara a cilada...
Faz negócio com a fazenda
mas..."de porteira fechada!"
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Ciúme, ou concorrência

Verdadeiro tapete de begônia,
em cor bem viva e alegre, magistral,
demonstrando nenhuma parcimônia,
invadiu por completo o meu quintal!

Fez do ordeiro recinto, babilônia;
não respeitou sequer meu roseiral,
que eu cuidava com tanta cerimônia,
pelas flores de tom angelical!

Minhas rosas de grande raridade
não aguentaram tanta crueldade
que as begônias fizeram na invasão!

Por ciúme, ou talvez intransigência,
as rosas, em repúdio à concorrência,
morreram sem abrir... mesmo em botão!
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Trova do 
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ (1916 -1977) Santos/SP

Saudade: um eco perdido
de uma cantiga da infância...
Perfume de flor nascido
lá nas brumas da distância…
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Poema de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal (1888 - 1935)

Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.

A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.

Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.
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Trova Funerária Cigana

Eu sou triste como o luto,
que cobre os tenros filhinhos,
que na pobreza perderam
da terna mãe os carinhos.
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Soneto de 
JB XAVIER
São Paulo/SP

O mar e o vento
 
Ouço o bramido deste mar - tormento triste,
Vociferando na alameda da ilusão,
Tecendo espumas desde o dia em que partiste,
Na tentativa de alegrar meu coração!
 
O vento brando vai mentindo que ainda existe
- Em melodia de gentil diapasão –
As alegrias, e soprando ele persiste
Em transformar tua lembrança em emoção.
 
Então me calo ante o bramido do oceano;
Tento reter a espumarada em minhas mãos,
E outra lembrança, então de ti, eu acalento.
 
Mas segurar a espumarada é ledo engano,
É só mais um dos pensamentos, tolos, vãos,
Tal como foi tentar, por ti, parar o vento!
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Trova Hispânica Premiada em Santos/2014
HÉCTOR JOSÉ CORREDOR CUERVO
Boyacá/Colômbia, 1936 – 2020

El amigo verdadero
es leal en sus acciones
y está presente primero
en fatales situaciones.
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Poema de 
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 - 1994) Porto Alegre/RS

Os Degraus

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

De todos ela atraía 
mil sorrisos, mas... que dó: 
casada, sofre hoje em dia 
os maus humores de um só... 
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Soneto de
SÁ DE FREITAS
Avaré/SP

Amo-Te
  
Amo-te tanto…mais que a própria vida,
 E te desejo tanto, na certeza,
 De que me queres quanto és tão querida,
 De que me prendes n’alma o quanto és presa.
 
Amo-te mais que o amor permite amar-se;
 Amo-te além do além que o amor desperta;
 Translúcido te amo sem disfarce;
 Te amo com a loucura de um poeta.
 
Amo-te como deve amar quem ama,
 E cercado por essa imensa chama,
 Do amor que me aprisiona em fortes laços:
 
Quero que o coração, no amor, se farte;
 Quero viver para poder amar-te…
 Quando eu morrer, que eu morra nos teus braços.
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Se eu sinto fugir a calma
e até viver me angustia,
eu abro as janelas da alma
e deixo entrar a Poesia!
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Hino de 
Arauá/ SE

Glória a Deus que nos deu esta terra
Tão formosa, serena e gentil
Arauá doce gleba que encerra
tradições deste amado Brasil.

Campos verdes imensos corridos
Pelas águas do antigo Arauá
Cantam lendas dos tempos já idos
Que, mais belos, alhures não há.

Salve, salve ó terra querida
Lindo berço que a virgem nos dá
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.

O primeiro dos teus habitantes
Foi a mãe de Jesus, foi Maria
Dos heróis de teus feitos dos brilhantes
Esta feita a maior galeria.

Salve, salve ó terra querida
Lindo berço que a virgem nos dá
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.

Camerino nasceu na Palmeira
E morreu pela pátria cantando
E os Correias, de fonte altaneira
Penetraram na História lutando.

Salve, salve ó terra querida
Lindo berço que a virgem nos dá
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.

Já 100 anos nos diz tua história
De trabalho de paz e de fé,
Que prossigas na trilha da glória
Sempre firme, garbosa e de pé

Salve, salve ó terra querida
Lindo berço que a virgem nos dá
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
Ah, possamos passar toda a vida
Em teu seio feliz Arauá.
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Trova Humorística de 
ISTELA MARINA GOTELIPE LIMA
Bandeirantes/PR

Não há truque que dê jeito
e ela fica tiririca...
digo com todo o respeito:
– quando enfeita pior fica!
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Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ (1901 - 1964)

O Sonho do Oceano

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
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Trova premiada em Irati/PR – 2023
MARIA LÚCIA DALOCE 
Bandeirantes / PR

Nas rimas que eu desencalho
esta foi fácil de achar,
mas o achado pra cascalho
dei pra sogra procurar!!!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A perdiz e os galos

Um tinha uma perdiz e tinha uns galos;
Determinou com ela associá-los:
Desgostou a perdiz dos camaradas,
Que com ela saltaram às picadas;
Entendeu que por ser uma estrangeira
A tratavam os mais desta maneira.

Mas um dia que viu dois encrespados
Saltarem de pescoços levantados,
E em mútua guerra às cristas investirem,
E com unhas e bicos se ferirem:
«Não vai mau — diz a triste — se discorde
Esta gente entre si se arranha e morde,
Já não tenho razão para queixar-me;
Devo com suas guerras consolar-me.

Indício de incivil barbaridade
De todo o malcriado, que grosseiro,
Em vindo a seu país um estrangeiro,
O despreza e lhe mostra má vontade.
O preceito da santa caridade
Distingue o natural do forasteiro?
Ser judeu, mouro e herege o viageiro,
Não lhe tira o que tem por irmandade.

E se esse forasteiro se contenta
De ver que os naturais são mal unidos,
Também barbaridade representa:
Todos dum mesmo pai somos nascidos;
Se o sangue nos uniu, que nos alenta,
Não sejamos por ódio divididos.

Jaqueline Machado (“Nascimento e morte da dona de casa”, de Paola Masino)

 
“Nascimento e morte da dona de casa” é um livro do século XX, escrito pela escritora italiana Paola Masino. 

Conta a história de uma menina que não se encaixava em seu ambiente familiar. A menina estava sempre empoeirada. E a mãe fazia chantagem emocional dizendo-lhe que ia morrer de desgosto. E a criança, sentindo-se culpada, procurava encontrar nos jornais, casos de gente, que por ventura, teria morrido de desgosto. Não queria ser a causadora da morte da própria mãe, mas não encontrou nenhum caso parecido.

Deitada num armário que tinha função de cristaleira, cama, mesa e quarto cheio de retalhos, farelos de pão, livros e detritos de funerais, como flores, pregos, véus de viúvas, pó que caía do teto...  Cobria-se com um cobertor mofado, ligava a lâmpada, lia, ou ficava a refletir sobre assuntos de morte.

Ela era diferente, tinha um estilo meio gótico e filosófico de ser. E por este motivo, era negligenciada pela mãe, que não lhe dava carinho. 

Tinha um sonho recorrente, em que teias de aranha ao redor e sobre ela a enredavam como se ela fosse a presa de uma aranha. Depois dormia encolhida e trêmula. Mas gostava de ficar dentro do baú. Ali, a menina podia ser ela mesma.

Com a cozinheira, ia ao supermercado, mas não prestava atenção nas prateleiras. Olhava para o chão, para os saltos das mulheres pisando nas frutas estragadas. E pensava nas antigas dinastias que ainda viviam ali embaixo.             

Observava os ventres dos bois pendurados em ganchos de ferro nas vigas dos açougues, com seus órgãos esvaziados, cravados nos metais que foram arrancados do ventre da terra. Ela via a violência do ser humano até no modo de alimentação.

A garota era uma filósofa nata, e devaneava sobre a natureza e a morte. - O céu e a terra também vivem e morrem. - Pensou na primeira vez que viu o próprio sangue (menstruação). Era um momento vermelho e dolorido. E o comparou ao pôr do sol, que também era vermelho e devia ser sofrido a cada encerramento de dia.

O tempo passou. E ela vendo o incessante desgosto da mãe, resolveu mudar, tomar banho, se vestir melhor, se comportar igual as outras jovens de sua idade, arranjar um noivo e casar. A mãe, feliz, foi em busca de pretendentes. Mas, por ser muito exótica, ninguém queria casar com ela. Até que alguém aceitou. E ela se tornou uma dona de casa. E em seu lar, seguindo todas as normas exigidas pela sociedade, viveu e morreu sem poder ser quem ela de fato era. 
Fonte: Texto enviado pela autora

Recordando Velhas Canções (Asa branca)


(toada, 1947) 

Compositor: Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu: Ai
Por que tamanha judiação?

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por falta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse: Adeus, Rosinha
Guarda contigo meu coração
Entonce eu disse: Adeus, Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus óios
Se espalhá na prantação
Eu te asseguro, não chore não, viu?
Que eu voltarei, viu, meu coração?
Eu te asseguro, não chore não, viu?
Que eu voltarei, viu, meu coração?
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Asa Branca: Um Hino de Esperança e Saudade do Sertão
A música 'Asa Branca', composta por Luiz Gonzaga, o 'Rei do Baião', e seu parceiro Humberto Teixeira, é uma das mais emblemáticas canções da música brasileira, retratando a dura realidade do sertanejo diante da seca no Nordeste. A letra descreve a terra ardente, comparada a uma fogueira de São João, uma festa tradicional nordestina, e questiona a razão de tanto sofrimento. A imagem da terra queimada e a perda do gado e do alazão, por falta de água, são representações poderosas da devastação causada pela seca.

A 'asa branca' mencionada no título é uma referência à ave que migra quando o sertão se torna inóspito, simbolizando o próprio sertanejo que se vê forçado a deixar sua terra natal em busca de melhores condições de vida. A despedida de Rosinha, que pode ser interpretada como uma pessoa amada ou a própria terra, carrega um tom de promessa e esperança de retorno. A solidão do migrante é palpável, e a espera pela chuva é a espera pelo momento de voltar ao lar.

A canção transcende a narrativa de uma pessoa específica e se torna um símbolo da resiliência do povo nordestino. A esperança de dias melhores, quando o verde voltará a cobrir o sertão e os olhos de quem espera não precisarão mais chorar, é um tema universal de perseverança e fé no futuro. 'Asa Branca' é mais do que uma música, é um hino que expressa a saudade de casa e a força de um povo que não desiste diante das adversidades.

Um tema folclórico muito antigo é a origem da toada "Asa Branca" (espécie de pomba brava que foge do sertão ao pressentir sinais de seca). Luiz Gonzaga o conhecia desde a infância, através da sanfona do pai, mas achava-o simples demais para transformá-lo numa canção.

Assim, foi só para atender ao pedido de uma comadre que se dispôs a gravá-lo, levando-o antes para Humberto Teixeira dar-lhe uma "ajeitada" na letra. Então, Teixeira ajeitou-lhe também a melodia, acrescentou-lhe versos inspirados ("Quando o verde dos teus óios se espaiá na prantação") e tornou "Asa Branca" uma obra-prima.

Reconhecida e gravada internacionalmente, a canção inspirou nos anos setenta a retomada da música nordestina, em geral, e o culto a Luiz Gonzaga, em particular, por iniciativa dos baianos Caetano e Gil. Sua construção, possibilitando boas oportunidades de explorações harmônicas, tem-lhe proporcionado o aproveitamento como peça de concerto.

Fontes: 
https://www.letras.mus.br/luiz-gonzaga/47081/
– Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.