segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Vereda da Poesia = 180


Trova de
LEONILDA YVONETTI SPINA
Londrina/ PR

Quem em todos os momentos
age com sinceridade,
revela bons sentimentos
e preza o bem e a verdade.
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Soneto de
MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA 
Ponta Grossa/ PR

Uma aurora chamada saudade

Telhado tosco, chaminé de barro
e um céu de aurora em tons de carmesim...
Esse é o cenário em que, tristonho, esbarro
quando a saudade vem tanger em mim!

Sobre a mesinha um maltratado jarro
guardava aromas vindos do jardim.
Ao pé do rancho, bois em frente ao carro
cujo destino era seguir sem fim...

E nessa aurora, no fervor da prece,
um nobre vulto agradecia a messe,
certo que Deus estava em cada grão...

Ah... Quem me dera ver mais uma vez,
de mãos calosas e morena tez,
meu velho pai... curvado em oração!
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Trova Humorística de
VERA MARIA DE LIMA BASTOS
Juiz de Fora/ MG 1934 – 2006

Preguiça tem o guri
que é vendedor de pipoca.
Quando o trem apita PI,
aproveita e grita: - POCA!...
= = = = = = 

Soneto de
PLÁCIDO FERREIRA DO AMARAL JÚNIOR 
Caicó/ RN

Seu nome

Sua chegada foi na minha vida
A luz da aurora no nascer do dia,
Iluminando o lar, e ao ser um guia,
Sanar de vez, a minha dor sofrida.

Pôs no meu ser a sua fé contida
E do seu nome fez também poesia
Ao me dizer o mesmo com magia,
Fazendo eu crer em ter a paz florida.

É minha sorte tê-la aqui comigo
Em todo instante em que pra mim, se vem,
E ao confirmar seu nome em toda hora.

Pois no seu nome eu tenho o meu abrigo
E nele vejo a cor que a mim convém
Por ter alguém que tem o nome. Aurora...
= = = = = = 

Trova de
OLIVALDO JÚNIOR
Mogi-Guaçú/ SP

Coração de agricultor 
tem mil ramas de beleza: 
cada uma tem valor 
porque preza a natureza.
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Soneto de
EDY SOARES 
Vila Velha/ ES

Alvorada

As maritacas abrem cantoria
nos manacás e pés de tangerina,
até que em rebeldia a sururina
avisa que o arrebol já se anuncia.

O monte... O pico envolto na neblina,
a aurora ganha um tom de nostalgia...
De pronto surge em meio à névoa fria,
o sol, como quem rasga uma cortina.

Raios de luz nas frestas da paineira,
chegam lambendo as folhas da roseira
e, aos poucos, seca o orvalho dos canteiros.

O céu abraça o sol que vem surgindo
e ao fim desse espetáculo tão lindo
o dia chega em passos sorrateiros.
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

A terra inteira secou!…
E, a dor me fez sofrer tanto,
que quando a chuva voltou,
tinha secado o meu pranto!
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Soneto de
MARIA MADALENA FERREIRA 
Magé / RJ

A acendedora da luz

O sol se foi:... A lua vem chegando:
Cada qual volta à sua moradia
- enquanto um sino - ao longe - vai lembrando
que é hora de rezar a "Ave-Maria":

As luzes vão - aos poucos - se apagando,
e um sono repousante se inicia
- o que nos faz sonhar - de vez em quando... -
que a vida é toda feita de harmonia:

E mal a impaciente passarada
anuncia o final da madrugada,
em sua costumeira algaravia,

um leve tom rodado - no horizonte -
vem revelar - antes que o sol desponte -
que... a AURORA anda a acender a luz do dia!!!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

A lua, de vez em quando
fica um pouco sem brilhar,
para ficar “espiando”
dois pombinhos namorar!
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Soneto de 
FRANCISCO GABRIEL
Natal/ RN

Altar do amanhecer

Quando a noite abandona o firmamento,
nossa Lua da luz se divorcia;
é que a vida precisa de alimento
para fecundação de um novo dia.

No horizonte respira novo vento,
é que a Terra, entonando maestria,
engravida de Deus por um momento,
procriando uma nova poesia.

Surge a aurora pintando mil cantares,
irmanando universo, terra e mares,
na cantata de luz sobre o nascer.

Quando o Sol brilha em todos os lugares,
os cenários da Terra são altares,
aplaudindo outro novo amanhecer.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP

A grandeza imaginária
que todo vaidoso tem,
é uma estrela solitária
brilhando sobre... ninguém... 
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Hino de
SARAPUÍ/ SP

Sarapuí, Cidade da Paz;
da virtude e do labor,
tens a vida emoldurada na ordem;
no respeito e no humano calor.
Acesa tens a chama da fé,
definindo o teu perfil.
Ao cumprir o teu destino de glória,
avivas o ideal do Brasil.

Assim és Sarapuí,
cortejada pelos tropeiros.
Tornaste povo fecundo e operoso.
Sempre cordial e hospitaleiro.

Tens na flor do algodão,
bela e rica altiva estás.
Verdes prados ondulantes refletem;
seu vasto sentimento de paz.
A interpridez seu filho marcou,
na conquista de um lar feliz,
sua gente exalta e crê na família,
sonhando com o bem do país.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Sem ter fortuna aparente,
sob a luz de um lampião
fui bem mais rica e mais gente
naquela casa de chão.
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Soneto de
MESSIAS DA ROCHA 
Juiz de Fora/ MG

Gênesis

Eu sei, amor, que, às vezes, me conduzes
em trevas densas por detrás dos muros,
onde as sombras se vestem com capuzes
e onde os frutos jamais ficam maduros.

Nas tuas mãos percebo, sempre, luzes
mas os dias se tornam mais escuros
e no calvário, em meio a tantas cruzes,
agonizam meus sonhos mais impuros.

Então, concebo um novo firmamento
e, na cruel solidão do pensamento,
forjo auroras nas noites tão vazias

e, por querer da escuridão o inverso,
lanço sonhos nas sombras do universo
e consigo dar vida a novos dias.
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Trova de
SANTIAGO VASQUES FILHO
Teresina/ PI, 1921 – 1992, Fortaleza/ CE

A jangada, quando alcança
dos mares a imensidade,
leva no bojo a esperança,
deixa na praia a saudade.
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Glosa de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/ PR

MOTE:
Da vida não quero a glória
que tanto engana e seduz.
Prefiro não ter história
a renunciar minha cruz.
Filemon Martins
São Paulo/SP

GLOSA:
Da vida não quero a glória,
prefiro a paz do meu ser,
que brilha em singela história,
sem necessidade de ter.

Que tanto engana e seduz,
mas deixa um vazio imenso,
no brilho que a alma reluz,
encontrando um novo senso.

Prefiro não ter história,
se a verdade não é pura,
um caminho em sua trajetória,
que traz firmeza e ternura.

A renunciar minha cruz,
aceito o peso da vida,
pois nela, mesmo em sua luz,
encontro a força querida.

Humberto de Campos* (A Pérola)


(APÓLOGO PERSA)
Em que se demonstra que a fraqueza humilde é mais proveitosa do que a grandeza arrogante.

Rugiam, lá em cima, os ventos tempestuosos do inverno, quando a gota d'água, trêmula e pura, se sentiu, de repente, sozinha no espaço, desgarrada, por um sopro mais forte, da nuvem em que se formara. Medrosa, humilde, pequenina, voava a mísera arrebatada pelas doidas ondas aéreas, quando viu, de súbito, precipitando-se na mesma direção, mugindo, rolando, redemoinhando, uma enorme tromba marinha, que abalava o céu com a fúria da sua carreira. Ao perceber a límpida gota assustada, a tromba monstruosa, - equóreo (relativo ao mar alto) traço de união colocado entre o mar e as nuvens, - parou, de repente, rodando, sobre si mesma, e indagou, irônica:

- Aonde vais tu, miserável poeira da chuva? Que fazes por estes caminhos perigosos do espaço, arrastada, como entidade invisível, pelo mínimo sopro dos ventos?

Trêmula, encolhida, assaltada por diferentes ondas de ventania, a gota límpida não pôde, sequer, responder, e a tromba continuou, zombeteira:

- Já pensaste, acaso, no destino que te espera? O vento que nos conduz a ambas, arrasta-nos, furioso, para o oceano largo, que reboa, lá em baixo, clamando por nós. Ouves?

A gota d'água prestou atenção, e percebeu. Para além da neblina que cobria a terra, embaixo reboavam, apavorantes, os grandes soluços do mar. Como um bando de tigres enfurecidos, as ondas uivavam, despedaçando-se umas de encontro às outras, ao mesmo tempo que a água, revolvida pelos braços da tempestade, chorava, gemia, guaiava (sofria lamentos), num tumulto de vozes desesperadas.

Percebendo o susto da gota humilde, a tromba insistiu:

- Lá em baixo, estão o meu túmulo e o teu. A mim, porém, me espera um destino que é, por si mesmo, a minha glória. Tombando no oceano, eu constituirei uma parte dele mesmo, tendo, como ele, as minhas ondas, os meus vagalhões, as minhas espumas. Serão necessários dias talvez uma semana, para que as minhas águas sejam absorvidas pelo mar. E tu, que te aguarda? Mal tombes em um cabeço (cume) de vaga, em um simples floco de espuma, desaparecerás, anônima, para sempre, sem que fique, na terra ou no céu, a sombra do teu vulto ou da tua memória!

- Meu Deus!... gemeu a gota d'água. apavorada, pálida, trêmula, no horror daquele extermínio próximo.

Nesse instante, um trovão contínuo, forte, soturno, anunciou a vizinhança do oceano. Rajadas formidáveis abraçaram a tromba d'água, arrebatando-a, abalando-a, desconjuntando-a. Outras rajadas, precipitando-se em sentido contrário, tomaram com o seu hálito a gota humilde, a mísera poeira de chuva, e, horas depois, serenada a tempestade, aparecia de novo, ao sol, a face tranquila do mar.

Dias passaram-se, porém. E uma tarde, quando da tromba marinha já não existia, sequer, na memória do oceano, um pescador do mar Índico encontrou na praia, dentro de uma concha, uma gota petrificada e brilhante. Era a gota d'água do céu, que Deus, ouvindo a prece da humildade, salvara das águas…
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* Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba (hoje, Humberto de Campos), no Maranhão, em 1886. Ficou órfão de pai com sete anos de idade. Mudou-se com a família para São Luís, onde se empregou no comércio. Com 17 anos passou a residir no Pará, onde conseguiu um lugar de colaborador e redator na Folha do Norte e depois na Província do Pará. Em 1910 publicou seu primeiro livro, uma coletânea de versos, intitulado “Poeira”. Em 1912 mudou-se para o Rio de Janeiro empregou-se no jornal “O Imparcial”, e começou a se destacar no meio literário. Em 1919 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Deputado federal pelo Maranhão, inspetor de ensino e Diretor interino da Fundação Casa de Rui Barbosa. Em 1933, com a saúde já abalada, publicou o livro que se tornou o mais importante de sua carreira, “Memórias”, no qual reúne suas lembranças dos tempos da infância e juventude. Escreveu poesias, contos, ensaios, crônicas e anedotas. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1934.

Fontes: Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  
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Célio Simões* (O nosso português de cada dia) “Em banho-maria”


Na culinária, o BANHO-MARIA é um método onde a comida não entra em contato direto com o fogo, experimentando um cozimento mais lento. Seja salgado ou doce, o alimento fica em um recipiente, que é colocado dentro de outro maior, onde já existe água fervendo ou prestes a ferver. Trata-se, portanto, de um preparo realizado pelo calor de forma indireta, de modo lento, progressivo e uniforme. 

Nos laboratórios químicos e na indústria de transformação, o Banho Maria ganha status de método científico, utilizado para o aquecimento gradual de qualquer substância líquida ou sólida, sempre com o uso de dois recipientes. 

E qual a razão do tal banho ter o nome de Maria e não o de outra mulher, entre as centenas de belos nomes femininos que existem? Seria uma homenagem especial àquela que os católicos e a própria Igreja reverenciam como a Abençoada Virgem Maria, aquela que é considerada a “Rainha do Céu e da Terra”, a venerada “Nossa Senhora – a Mãe de Deus”, assim chamada desde o período medieval e como tal reconhecida desde o Concílio de Éfeso, no remoto ano de 431? Desta vez não. 

Reza a lenda que se trata de uma alusão à alquimista Maria conhecida como Maria Hebraica, Maria Judia ou Maria Profetisa, que seria inclusive irmã de Moisés. Foi ela quem inventou o processo de cozinhar lentamente, mergulhando um recipiente na água fervente contida em outro maior. Concebeu também várias bases teóricas para a alquimia, que mais tarde evoluiu triunfalmente para a química. 

Em Portugal, “em Banho Maria” é igualmente uma expressão popular e se refere às toalhas de praia que nossos patrícios utilizam, tendo como significado esperar numa boa, ficar flutuando no tempo, de vez que atualmente, as idas ao mar fazem parte indissociável do verão dos portugueses. Trata-se de um singelo ritual do bom tempo, aonde alguém vai à praia, estende uma toalha, dá um mergulho e volta para se enxugar. Uma rotina que é praticada com frequência e que permite “ficar em Banho Maria”, derreado na toalha de praia, até que o corpo ganhe um perfeito bronzeado de verão. 

Por outro lado, devido ao Banho Maria ser um processo lento, a expressão “deixar em Banho Maria” ou “levar em Banho Maria” com o tempo também passou a ser usada para indicar que alguém está enrolando, procrastinando, engazopando ou embromando outra pessoa ou em uma situação em que ela vai permitindo indevidamente que algo aconteça, vai incorrendo em erro, vai sendo enganado, iludido ou logrado em sua boa-fé, sem qualquer reação. 

Costuma ser usada nos relacionamentos amorosos, quando um pretendente não quer nada de sério com uma mulher, mas não a dispensa, deixando-a como opção, à qual pode recorrer sempre que quiser. É muito comum, na linguagem coloquial, ouvir que “alguém ainda não decidiu se vai levar adiante aquele projeto ou vai deixá-lo cozinhando em Banho Maria”. Ou, ainda, no escrutínio dos bisbilhoteiros: “…todo mundo vê que fulano está levando sicrana em Banho Maria, pois até agora, nada de casamento…”. 

A música e a literatura não deixaram de se valer dessa curiosa expressão, incluindo-a em textos e canções, como fez Joyce Moreno na música intitulada “Banho Maria”, cuja letra é significativa: “só sei, quando a gente se abraça // a paixão se ameaça // fica sempre a ferida // eu sei que o seu medo da morte // não é assim tão forte // como o medo da vida // se é cedo o café bem quente // o abraço morno, banho de água fria // se é tarde, a amarga dose, a canção // o prato em Banho Maria”. 

O escritor Ildefonso Guimarães, que na juventude morou em Portugal e abrilhantou a Cadeira n.º 5 da Academia Paraense de Letras, um dos maiores ficcionistas que o Pará já teve, em seu excelente romance “Os Dias Recurvos”, narra a impaciência do delegado de polícia obidense Tenente Fontelles, no ingente esforço de convencer o telegrafista Zé Cosme, ambos maçons convictos, a passar uma mensagem urgente ao interventor Magalhães Barata, avisando-lhe que os sargentos do 4.º Grupo de Artilharia de Costa do Exército, sob a liderança de um certo Coronel Pompa, haviam se sublevado, aprisionado toda a oficialidade e incondicionalmente aderido à Revolução Constitucionalista de 1932 de São Paulo. 

Eis o diálogo, na página 112 da magnífica obra: – “Não se trata disso, seu Cosme; não ponha a Ordem nessa questão, porque acima de tudo está o seu dever de cidadão brasileiro e esse é também um princípio maçônico: o dever para com a Pátria” (o tempo voa, este sacana está querendo me cozinhar em Banho Maria). O senhor vai passar já e já esta mensagem, ou eu não me chamo Fontelles”. 

Na política, é trivial candidatos eleitos ficarem “cozinhando o galo”, “empurrando com a barriga”, embromando, retardando providências, demorando a fazer algo que poderiam ter feito e simplesmente não fazem, sendo acusados de estarem levando a administração em “Banho Maria”. 

Finalmente, existe o “Banho Maria Invertido”, utilizado para o resfriamento rápido de alimentos, trocando-se a água fervente por água com gelo ou muito gelada. O apreciado “molho holandês”, que consiste em uma mistura de manteiga e gema de ovos com um toque cítrico, de textura leve e muito saboroso, é conseguido com esse método.
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(*) Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

Fonte: Uruá Tapera. 04 junho 2024
https://uruatapera.com/em-banho-maria/
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domingo, 15 de dezembro de 2024

Luiz Poeta (Nuvens de Sonhos) 04

 

José Feldman* (Pafúncio e o Festival de Música)


Em uma cidade onde a música ecoava em cada esquina, o jornalista Pafúncio, conhecido por suas habilidades em transformar qualquer evento em um caos, estava a caminho do Festival de Música “Sons e Sorrisos”, um evento que prometia ser o maior do ano e que reuniria artistas de todos os gêneros, desde pop até pagode.

Ao chegar ao festival, Pafúncio se deparou com uma multidão vibrante, repleta de fãs de todas as idades. Ele estava vestido de maneira peculiar: uma camiseta de uma banda de rock dos anos 80, calças largas e um chapéu colorido que parecia ter saído de um desfile de carnaval. Com seu bloco de notas em mãos e uma caneta que parecia mais uma espada, ele estava pronto para capturar as melhores histórias.

O festival começou com uma apresentação de uma banda de rock local chamada “Os Gritadores”. 

Pafúncio, que nunca tinha entendido o apelo do rock pesado, decidiu que era a oportunidade perfeita para fazer uma pergunta inusitada. Após o show, ele se aproximou do vocalista e disparou: “Se a sua música fosse um lanche, qual seria e por quê?” 

O vocalista, pego de surpresa, pensou por um momento e respondeu: “Um hambúrguer gigante, porque é cheio de camadas e é saboroso!”

Pafúncio, com um sorriso no rosto, anotou a resposta e a transformou em uma manchete: “Os Gritadores Revelam: Música é como Hambúrguer – Saborosa e Indigesta!” O jornalista seguiu seu caminho, rindo da sua própria criatividade.

A próxima atração era um famoso DJ chamado “DJ Tico-Tico”, conhecido por suas mixes eletrônicas e por fazer as pessoas dançarem até o amanhecer. 

Pafúncio, sempre em busca de uma boa história, decidiu que precisava saber o que havia por trás de suas batidas contagiantes.

“DJ Tico-Tico, se você tivesse que escolher entre tocar em um festival ou fazer um show para um grupo de gansos, o que você escolheria?” 

O DJ, sem perder o ritmo, respondeu: “Gansos! Eles têm um ótimo senso de tempo!”

A cada apresentação, Pafúncio se tornava mais ousado. Ele decidiu que iria entrevistar os fãs, perguntando: “Qual é a música que faz você dançar como se ninguém estivesse olhando?” 

Uma jovem respondeu: “Aquela que toca no rádio, mas que eu nunca sei o nome!” 

Pafúncio, sem perder tempo, escreveu: “Fã Confessa: Música que não se lembra é a melhor para dançar!”

Enquanto o dia avançava, Pafúncio encontrou um estande de comida que vendia os mais variados petiscos, desde hambúrgueres até churros. Ele, sempre com fome, decidiu experimentar um churro gigante com recheio de nutella. Enquanto mordia o churro, um pedaço escorregou e acertou o nariz de um famoso cantor que estava passando por ali. 

O artista, surpreso, olhou para Pafúncio e disse: “Isso é uma nova forma de me fazer sentir doce?”

Pafúncio, em sua típica falta de jeito, respondeu: “Claro! Aqui no festival, a comida e a música estão sempre se misturando!” 

A plateia, que já estava atenta, caiu na risada, e Pafúncio, sentindo-se o centro das atenções, decidiu que sua próxima missão seria entrevistar o cantor.

Após algumas tentativas hilárias, Pafúncio finalmente conseguiu se aproximar do cantor. Ele fez a pergunta que estava martelando em sua cabeça: “Se você pudesse criar uma nova dança para a sua música, como ela se chamaria?” 

O cantor, com um sorriso maroto, respondeu: “A dança do churro! Porque quem não ama um petisco enquanto se diverte?”

No final do festival, Pafúncio tinha tantas histórias que poderia escrever um livro. Ele voltou para a redação com um sorriso no rosto e uma barriga cheia de churros, pronto para transformar suas experiências em uma matéria que deixaria todos rindo. 

E assim, o jornalista continuou sua jornada, sempre em busca da próxima fofoca e da próxima risada.
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* José Feldman nasceu na capital de São Paulo. Foi professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos, sendo enxadrista de 1a. Categoria; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Paulo Leminski, Ademar Macedo, Hermoclydes S. Franco, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, fundador da Confraria Brasileira de Letras, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente pertence a Campo Mourão/PR. Publicou mais de 500 e-books. Em literatura, organizador de concursos de trovas, gestor cultural, poeta, escritor e trovador. Diversas premiações em trovas e poesias.

Fontes 
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
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Lígia Messina* (Almas errantes)

Aldo, pai de Georgina, gostava de contar histórias fantásticas. Nos serões, depois do jantar, ele se empolgava em narrar fatos intrigantes de amor e almas do outro mundo. Uma dessas histórias ela jamais esqueceu: de Ana Helena e o mestiço José Maria.

Vivia em São Luiz Gonzaga um rico fazendeiro que tinha uma filha em idade de casar. Ana Helena era uma guria bonita de cabelos vermelhos como o céu no entardecer, olhos esmeralda como a campina, pele branca quase translúcida e faces rosadas. José Maria (era assim chamado pelos padres, pois não sabiam quem eram seus pais, então era filho de José e de Maria), meio índio meio branco, forte como o corcel negro que cavalgava em pelo e livre como o vento do Rio Grande.

O pai de Ana resolve que ela vai se casar com o filho mais velho de seu amigo de infância, que vive lá em São Miguel. Naqueles tempos, tudo se arranjava, principalmente casamentos. Na época aprazada, Ana Helena e sua mãe seguem para São Miguel acompanhadas por muita bagagem e duas mucamas.

Luiz, o noivo, espera ansioso para comprovar a beleza da futura esposa, tão decantada por seu pai. José Maria, atrás do patrão, aguarda para carregar as malas.

Ao descer da carroça, os olhos de Ana são atraídos para o belo mestiço, e ambos mergulham no verde olhar da moça e nos olhos negros do rapaz. Apaixonam-se. Amor à primeira vista.

Não demorou muito para conseguirem escapulir e se encontrar na velha Igreja dos Jesuítas. Trocam juras de amor eterno, pensam em fuga, querem ir para bem longe. Mas são descobertos.

Luiz manda o capataz amarrar o mestiço pelos pés no seu próprio corcel, que dizem ter vindo lá das arábias (Há... vai saber). Começam a açoitar o cavalo, José Maria então brada angustiado:

- Vai, meu velho, corre! Foge do açoite!

O cavalo obedece ao comando do dono, deixando cair grossas lágrimas de pavor de seus olhos negros e redondos. O corpo do rapaz foi jogado no Rio Jacuí e suas águas o envolveram em carinhoso abraço. O cavalo nunca mais foi visto.

Ana Helena, enlouquecida, sobe na mais alta torre da Igreja e se joga para a morte. Este foi o fim trágico dos dois amantes.

No entanto, conta a lenda que, quando o sol se põe e o vento assovia nas ruínas da igreja, veem uma moça vestida de branco, tendo sob o vestido saias multicoloridas. Dá a impressão de que desliza sobre o arco-íris. E um rapaz de pele trigueira desmonta do corcel negro, a encontra, e juntos, de mãos dadas, chegam ao pé do altar. Ali realizam na morte o sonho que não concretizaram em vida.
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* Lígia Messina nasceu em 1946, em Porto Alegre/RS. Formou-se professora normalista em julho de 1968. Casou-se com um médico militar pernambucano em janeiro de 1972, que havia conhecido por correspondência. Após o casamento, foi morar em Recife. Depois foi para o Rio de Janeiro, pela necessidade de trabalho do marido. Foi morar em Belém/PA, onde ficou por quase 20 anos. Formou-se em Pedagogia, com duas habilitações (supervisão e administração escolar) em 1982. Pedagoga com mais de dez publicações em poesia e prosa.

Fontes: Alda Paulina Borges et al. Contos contemporâneos. (Oficina de Criação Literária Alcy Cheuiche). Porto Alegre/RS: AGE, 2016.
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Vereda da Poesia = 179


Trova de
CYRO ARMANDO CATTA PRETA
Orlândia/SP

Todo livro, quando aberto,
é pólen, é flor, é fruto…
fechado: é sombra, é deserto,
é silêncio, é campa, é luto.
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Soneto de
ANTERO DE QUENTAL
Ponta Delgada/Portugal, 1842 – 1891

Uma Amiga

Aqueles que eu amei, não sei que vento
Os dispersou no mundo, que os não vejo...
Estendo os braços e nas trevas beijo
Visões que a noite evoca o sentimento...

Outros me causam mais cruel tormento
Que a saudade dos mortos... que eu invejo...
Passam por mim... mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!

Daquela primavera venturosa
Não resta uma flor só, uma só rosa...
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!

Tu só foste fiel - tu, como dantes,
Inda volves teus olhos radiantes...
Para ver o meu mal... e escarnece-o!
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Trova de
NEIDE ROCHA PORTUGAL
Bandeirantes/PR

Tua cantiga de amor
adormece em tempos idos,
mas o vento, a meu favor,
vem soprá-la em meus ouvidos!
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Poema de
MYRTHES MAZZA MASIERO
São José dos Campos/SP

Duelo íntimo

Esta noite
Fora do meu costume,
Eu me nego a me deitar nessa cama vazia
Enrolada nos restos de tua ausência
Prolongada
E sempre impune...

Esta noite
Prefiro dormir sozinha e encurralada
Neste abandono
Sob a coberta pesada
De minhas emoções extenuadas,
No chão frio do meu sono...

Prefiro qualquer coisa
Que ficar nesta noite sem fim,
A esperar que tua ausência
Tão presente e contínua,
Estenda sobre mim,
Neste corpo sem dono,
Os restos mortais de um amor
Desgastado, esfarrapado
E em ruína!
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Trova de
NARCISO DA SILVA NERY
Santa Inês/BA

Em minha porta bem larga
nunca passou a ventura,
e passa a tristeza amarga
no friso da fechadura...
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Soneto de
EUCLIDES DA CUNHA
Cantagalo/RJ, 1866 – 1909, Rio de Janeiro/RJ

Dedicatória

Se acaso uma alma se fotografasse
de sorte que, nos mesmos negativos,
A mesma luz pusesse em traços vivos
O nosso coração e a nossa face;

E os nossos ideais, e os mais cativos
De nossos sonhos... Se a emoção que nasce
Em nós, também nas chapas se gravasse
Mesmo em ligeiros traços fugitivos;

Amigo! tu terias com certeza
A mais completa e insólita surpresa
Notando - deste grupo bem no meio -

Que o mais belo, o mais forte, o mais ardente
Destes sujeitos é precisamente
O mais triste, o mais pálido, o mais feio.
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

A poesia se engalana,
mas só se torna completa,
quando se faz soberana
na voz do próprio poeta!
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Herança

Eu vim de infinitos caminhos,
e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão.

Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,
essa vida, que era tão viva, tão fecunda,
porque vinha de um coração?

E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos,
do pranto que caiu dos meus olhos passados,
que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão?
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Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Alegrias coleciono
neste meu tardio amor.
É na colheita do outono
que os frutos têm mais sabor.
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Poema de 
GUILHERME DE ALMEIDA 
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP

Nós, I

O pequenino livro, em que me atrevo
a mudar numa trêmula cantiga
todo o nosso romance, ó minha amiga,
será, mais tarde, nosso eterno enlevo.

Tudo o que fui, tudo o que foste eu devo
dizer-te: e tu consentirás que o diga,
que te relembre a nossa vida antiga,
nos dolorosos versos que te escrevo.

Quando, velhos e tristes, na memória
rebuscarmos a triste e velha história
dos nossos pobres corações defuntos,

que estes versos, nas horas de saudade,
prolonguem numa doce eternidade
os poucos meses que vivemos juntos.
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Das estações, a mais triste,
a que mais me causa dor,
é a primavera que existe
num coração já sem flor!
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Hino de
TUPÃSSI/ PR

Na planície verdejante e ondulada
Na paisagem mais linda que há
Tu nasceste Tupãssi adorada
Filha altiva do gigante Paraná
Na clareira da floresta então aberta
Na marcha rumo à civilização
Implantaram esta cívica oferta
Que será eterna em nosso coração.

Quanto amor na ideal trajetória
Da lavoura eclodindo no chão
A mostrar que o labor traz a vitória
Dos que lutam com fé e união
Terra da mãe de Deus, Tupãssi.
Minha vida e meu bem querer
Outra igual juro que nunca vi
Sou teu filho e por ti vou viver.

Os verdes campos de riquezas colossais
Nos garantem um futuro alvissareiro
Com ajuda de braços leais,
Nós seremos um grande celeiro
Um amanhã radiante este é o tema
Desta terra de paz e esplendor
Pois unidos venceremos, eis o lema.
De um povo capaz e lutador.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Tiro a máscara e ouço aflita,
de um mar de farsas sem fim,
meu outro eu que ainda grita
por vida dentro de mim.
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Poema de
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

O que se Escuta numa Velha Caixa de Música

Nunca roubei um beijo. O beijo dá-se,
ou permuta-se, mas naturalmente.
Em seu sabor seria diferente
se, em vez de ser trocado, se furtasse.

Todo beijo de amor, longo ou fugace,
deve ser u prazer que a ambos contente.
Quando, encantado, o coração consente,
beija-se a boca, não se beija a face.

Não toquemos na flor maravilhosa,
seja qual for a sedução do ensejo,
vendo-a ofertar-se, fácil e formosa.

Como os árabes, loucos de desejo,
amemos a roseira, olhando a rosa,
roubemos a mulher e não o beijo.
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Trova de
ADOLFO MACEDO
Magé/RJ

Condeno toda arbitragem
que muda as regras da história...
- Vencer no grito é vantagem,
mas sem gosto de vitória.
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José Luiz Boromelo* (Cafezinho)


O dia prometia. Sol de verão derretendo o asfalto, o trânsito a passo de tartaruga, as vagas engolidas pela imensidão de para-brisas, a cabeça latejando pela noite mal dormida, a preocupação com as contas vencidas. Mas ele precisava dar um jeito. O dinheiro já havia acabado e o mês ainda estava pela metade. Pensava na viagem prometida à esposa e nos livros caros dos filhos. O bolso estufado de boletos indicava que os compromissos assumidos esperavam por uma resolução. Para ontem, aliás. Depois de algumas voltas pelo quarteirão conseguiu, com muito custo, enfiar o veículo num espaço apertado. Saiu rapidamente sem colocar o cartão do estacionamento, que naquele momento pouco importava. Caminhou apressado, pensando numa maneira de convencer o gerente da agência bancária a lhe conceder um empréstimo de emergência, mesmo com o saldo da conta corrente no vermelho há muito.

 Acompanhou pacientemente o ponteiro do relógio em sua volta completa para finalmente ser atendido. Fez cara de tristeza, exibiu uma aparência preocupada, prometeu restringir o uso do cartão de crédito, aceitou prontamente o seguro de vida “oferecido” pelo banco para finalmente ouvir a boa notícia: seu pedido fora autorizado. Nem quis saber das taxas de juros estratosféricas ou da longevidade das parcelas. O que ele queria mesmo era pagar as contas atrasadas.

Agora o homem já se sentia mais aliviado, momentaneamente sem o peso da angústia nos ombros. O estômago vazio roncava pedindo atenção, pois fora colocado obrigatoriamente em segundo plano. A preocupação voltou-se para o carro deixado na rua. De longe avistou um policial de trânsito com seu bloco de multa nas mãos. Pensou em passar ao largo, dar um tempo e ignorar a situação, mas tinha outros compromissos. Disfarçou o quanto pôde fingindo falar ao celular enquanto se aproximava do veículo. Tremeu ao ouvir uma voz questionando a propriedade do automóvel, apontado com o dedo em riste. Hesitou por alguns instantes, tempo necessário para tentar alguma saída honrosa.

 Sentiu um aroma agradável de café fresco que vinha da panificadora em frente e logo colocou em prática sua desenvoltura argumentativa, sem deixar de repetir a cena representada ao gerente do banco. Cabisbaixo, desfiou uma por uma suas dificuldades, acrescentando exageradamente detalhes com o intuito de comover a autoridade ali presente. Certo de que seu teatro fora convincente o suficiente, cometeu o último erro quando inadvertidamente convidou o policial a tomar um cafezinho. Quase acabou preso, o carro levou uma multa por estacionamento irregular e ouviu poucas e boas por sua petulância. Irritou-se com o controle remoto do alarme que não funcionava mais. Nem poderia, pois estacionara seu veículo do outro lado da avenida. Resolveu então experimentar o bendito cafezinho sem pressa, devidamente acompanhado por um merecido sanduíche natural. Dinheiro na conta, carro sem multa e barriga cheia. Sorriu ao lembrar que apesar de tudo, o dia não havia sido tão ruim assim.
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* José Luiz Boromelo, é de Marialva/PR, policial rodoviário aposentado, escritor, cronista e agricultor, colaborador da Orquestra Municipal Raiz Sertaneja.

Imagem criada por JFeldman com Microsoft Bing

Estante de Livros (Resumos de 10 contos de O. Henry*)


1. O presente de Natal
Um conto comovente que narra a história de Jim e Della, um jovem casal pobre que deseja dar presentes especiais um ao outro no Natal. Della decide vender seus longos cabelos para comprar uma corrente de relógio para o relógio de Jim. Enquanto isso, Jim vende seu relógio para comprar um conjunto de pentes para os cabelos de Della. Quando se encontram para trocar os presentes, percebem a ironia de suas ações, revelando o amor sacrificado que têm um pelo outro.

2. A história do homem que não tinha nada
Este conto foca em um homem chamado John, que vive uma vida humilde e sem posses. Em sua jornada, ele se depara com diversas situações que o testam. Através de seus encontros, John descobre que a verdadeira riqueza não está nas posses materiais, mas nas experiências e nas relações humanas. O final surpreendente revela que, apesar de sua pobreza, ele possui um tesouro emocional que o torna mais rico do que muitos.

3. A última folha
No enredo, duas jovens artistas, Sue e Johnsy, vivem juntas em Greenwich Village. Johnsy contrai pneumonia e perde a vontade de viver, acreditando que vai morrer quando a última folha de uma parreira do lado de fora de sua janela cair. Um velho pintor, Behrman, decide ajudá-la. Ele pinta uma folha falsa na parreira, que a faz acreditar que ainda há esperança. No entanto, ele acaba pegando pneumonia e morre, revelando o sacrifício que fez para dar à jovem a vontade de viver.

4. A rosa da Pérsia
Neste conto, um jovem chamado Ali, que se disfarça de príncipe persa, visita uma loja de flores em Nova York. Ele se apaixona por uma bela florista chamada Rose. Para impressioná-la, ele inventa uma história sobre sua riqueza e posição social. No entanto, quando a verdade vem à tona, Rose revela que não se importa com o status e também nutre sentimentos por Ali. O conto explora a ideia de que o amor verdadeiro transcende as aparências e as posses.

5. Um amor de estudante
Este conto narra a história de um jovem estudante que se apaixona perdidamente por uma colega de classe. Ele descobre que ela é uma talentosa pianista, mas que vive em dificuldades financeiras. O estudante decide fazer sacrifícios para ajudá-la, mesmo que isso signifique comprometer seus próprios sonhos. O conto enfatiza a beleza do amor altruísta e os desafios que os jovens enfrentam em busca de seus objetivos, mostrando como o amor pode inspirar grandes gestos de generosidade.

6. A loteria da Babilônia
Neste conto, O. Henry apresenta uma visão fantástica de uma cidade onde tudo é regido por uma loteria. Os cidadãos são constantemente surpreendidos por sorteios que determinam eventos em suas vidas, desde o que comer até quando morrer. A história explora a ideia de destino e sorte, refletindo sobre a aleatoriedade da vida. O final, inesperado e irônico, revela que a verdadeira sorte pode ser uma questão de perspectiva.

7. A casa do juiz
O conto gira em torno de um juiz aposentado que vive em uma casa cheia de recordações de sua carreira. Um jovem advogado visita o juiz para pedir conselhos sobre um caso. Durante a conversa, o juiz compartilha histórias de seus anos no tribunal, revelando as nuances da justiça e da moralidade. Através de suas memórias, o contador de histórias reflete sobre as falhas do sistema legal e a complexidade do caráter humano, levando o leitor a questionar o que realmente define a justiça.

8. As aventuras de um fotógrafo
Neste conto, um fotógrafo de rua se vê em situações inusitadas enquanto tenta capturar a essência da vida urbana. Ele encontra personagens excêntricos e momentos engraçados, sempre com sua câmera em mãos. Através de suas interações, o fotógrafo descobre que cada pessoa tem uma história única e que a beleza da vida está nas pequenas coisas. O final do conto destaca a importância de valorizar as experiências cotidianas e as conexões humanas.

9. O advogado do diabo
Um advogado ambicioso se vê em um dilema moral quando é chamado para defender um homem acusado de um crime hediondo. À medida que investiga o caso, ele descobre que seu cliente é, na verdade, um homem bom que cometeu o crime em um momento de desespero. O advogado deve decidir entre sua carreira e sua consciência. O conto explora a ética na profissão e as complexidades da natureza humana, culminando em uma reviravolta que desafia as expectativas do leitor.

10. O homem que sabia demais
Neste conto, um homem comum se vê no meio de uma conspiração internacional. Ele descobre informações confidenciais que podem ter sérias consequências. À medida que tenta desvendar a trama, ele se depara com perigos e dilemas morais. O conto examina a ideia de conhecimento e responsabilidade, mostrando como a vida pode mudar drasticamente quando se tem informações que podem afetar outros. O final surpreendente deixa o leitor refletindo sobre as implicações do que sabemos e do que escolhemos ignorar.

Esses resumos oferecem uma visão geral das histórias, seus temas e personagens, destacando a genialidade de O. Henry em capturar a complexidade da vida humana com humor e ironia.
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**O. Henry, pseudônimo de William Sydney Porter, nasceu em 11 de setembro de 1862, em Greensboro, Carolina do Norte/EUA. Ele teve uma infância marcada por várias mudanças, já que seu pai era um médico e sua mãe morreu quando ele era jovem. Em sua juventude, trabalhou em diversas funções, incluindo como balconista e farmacêutico. Em 1896, após ser acusado de desvio de fundos em seu trabalho como caixa em um banco, ele se mudou para a América do Sul, onde começou a escrever. Ao retornar aos Estados Unidos, ele adotou o pseudônimo O. Henry e começou a publicar contos em revistas, ganhando fama por suas narrativas envolventes e reviravoltas surpreendentes. O. Henry teve uma vida pessoal tumultuada, marcada por problemas financeiros e saúde. Ele faleceu em 5 de junho de 1910, em Nova York, mas deixou um legado duradouro na literatura com suas histórias que capturam a essência da vida urbana e a natureza humana.
Obras Relevantes: Heart of the West, 1907; The Caballero's Way, 1907; The Gift of the Magi, 1905; Four Million, 1906; The Last Leaf, 1907.
O. Henry é lembrado por seu estilo ágil e por suas histórias que frequentemente apresentam finais inesperados, tornando-o um dos mestres do conto curto na literatura americana.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.