quinta-feira, 2 de junho de 2022

Luiz Gonzaga da Silva (Trova e Cidadania) – 24


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SIMPLICIDADE
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A cidadania poderia ser melhor alcançada com a simplicidade. Ao se contentar com o essencial, não estaríamos sujeitos à ambição e à busca alucinada por bens materiais e, portanto, a riqueza poderia ser melhor distribuída.

Quem neste mundo se empenha
em buscar serenidade,
toda a vaidade desdenha
e abraça a simplicidade.
Oscar Baptista Guerra
São João Nepomuceno, 1873 – 1951, Cambuci/RJ

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Numa existência vazia,
quanta gente convencida
despreza a sabedoria
das coisas simples da vida!
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG

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Por nada tenho ambição,
com riqueza não me iludo;
pela só contemplação
eu tenho a posse de tudo.
Bento Rabelo
Natal/RN, 1915 – 1995

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Nunca desejei riqueza,
nem poderio e nem glória,
pois prefiro a singeleza
desta vida transitória.
Adolfo Figueiredo
RN

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Não sigas o mundo louco,
ouve o bom senso que diz:
– Quem se contenta com pouco
nunca se sente infeliz!
Ivo dos Santos Castro
Alberto Torres/RJ, 1917 – ???, Rio de Janeiro/RJ

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Minha camisa velhinha,
lavada à flor de melão,
tira-me o peso da vida,
faz-me leve o coração.
Adelmar Tavares
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

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Pela ambição desmedida
fiz da vida uma procela,
até descobrir que a vida,
quanto mais simples, mais bela!
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ

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Nem sempre muita riqueza
a felicidade traz,
pois é feliz, com certeza,
quem vive um mundo de paz.
Murilo Bartolomeu
PE

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TERCEIRA IDADE
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Os velhos morrem porque já não são amados [Montherlant).

Uma das formas de se apreender se um povo exercita de fato a cidadania, é verificando como este povo trata o velho, que se convencionou chamar de terceira idade. Pensamos que este tema ainda é tratado com ambiguidade. Por um lado, há os que não têm o menor respeito pelo idoso, por outro, há os que exageram, tratando os velhos de uma maneira piegas.

Nosso amor pela pessoa velha não deve ser uma opressão, uma tirania a inventar cuidados chocantes, temores que machucam... Libertemos os velhos de nossa fatigante bondade (Paulo Mendes Campos].


Trate o velho com respeito;
dê-lhe o amor que possa dar.
Mas não lhe roube o direito
de a si mesmo governar!
A. A. de Assis
Maringá/PR

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Para o trovador, a velhice é constantemente associada à saudade:

Sempre que a praça atravesso
curvada ao peso da idade,
por onde passo eu tropeço
num canteiro de saudade...
Ercy Maria Marques
Bauru/SP

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Curvada ao peso da idade,
a vovó, serena e bela,
distrai o tempo e a saudade
entre o novelo e a novela.
A. A. de Assis
Maringá/PR

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Os anos trazem cansaços,
nossa vida é sempre assim,
e a saudade segue os passos
da velhice até o fim.
José Lucas de Barros
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

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Outras vezes, a velhice é também associada à tristeza e morte dos sonhos:

Vai findando a mocidade
e, nos meus dias tristonhos,
em surdina, uma saudade
chora a morte dos meus sonhos...
Izo Goldman
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

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Depois de muitas andanças,
cansado de tanta lida,
hoje vivo de lembranças,
juntando os cacos da vida...
Raimundo Andrade de Paiva
Sobral/CE

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Mas os sonhos não envelhecem, ou não deveriam envelhecer. Por mais que se tornem difíceis de serem realizados, não devemos abandoná-los.

Um sonho de juventude
não morre nunca, eu suspeito,
pois me assusta a inquietude
que ainda carrego ao peito.
Gonzaga da Silva
Natal/RN

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Beirando a terceira idade
me aproximando do fim...
Vejo em grande atividade
a criança que há em mim.
Francisco Macedo
Natal/RN, 1948 – 2012

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Não importa a face externa
do corpo que envelheceu:
juventude é sempre eterna
no sonho que não morreu.
Antônio Bispo dos Santos
Niterói/RJ

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Se a mocidade se afasta,
não julgue a vida tristonha.
– A ação do tempo não gasta
o coração de quem ama!
Aparício Fernandes
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

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Em outros momentos, a velhice é vista com mais naturalidade e até com certo entusiasmo:

Minhas netas, sempre rindo,
são meu alegre evangelho:
- musgo verde revestindo,
de esperança, um muro velho!
Lilinha Fernandes
Rio de Janeiro/RJ, 1891 – 1981

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Nas sociedades em que a preocupação com a produção de bens materiais não é um fim em si mesmo, o velho é visto como um ser que acumulou experiência e sabedoria e, portanto, tratado com mais respeito e dignidade. É o que está expresso nestas sábias trovas:

Quanto mais a idade aumenta
e a ilusão se distancia,
a gente mais se alimenta
do pão da sabedoria.
Ercy Maria Marques
Bauru/SP

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O tempo tira a beleza,
rouba da gente a vaidade,
o tempo dá-nos firmeza,
sabedoria e bondade.
Nair Starling
Santa Luzia/MG, 1909 – 2004


Velhice não é demência
nem é vã filosofia;
é fonte de experiência
que nos traz sabedoria.
Hélio Pedro Souza
Natal/RN


Fonte:
Luiz Gonzaga da Silva (org.). Trova e Cidadania. Natal/RN, abril de 2019.
Livro enviado pelo autor.

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