terça-feira, 9 de agosto de 2011

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XVIII – No planeta maravilhoso


Depois de muita imaginação resolveram partir para Saturno; mas antes disso consultaram o Burro Falante.

A gravidade daquele burro já vinha de muito tempo impressionando a boneca, de modo que ao ouvi-lo responder tão “sentenciosamente” (falar sentenciosamente quer dizer falar como aquele animal falava), Emília bateu na testa e disse:

— Heureca! Achei um nome para o Burro Falante: Conselheiro! ... Tudo que ele diz parece um conselho de velho — e é sempre um conselho muito bom. Viva o Conselheiro!...

E a partir daquele momento o Burro Falante passou a chamar-se Conselheiro.

Resolvido aquele ponto, Pedrinho distribuiu as pitadas de pirlimpimpim e contou — um... dois... e três! O fiunnn foi tremendo — e os cinco viajantes (inclusive o anjinho) foram despertar bem em cima dos anéis de Saturno.

Que maravilha! Os tais anéis, ou discos, eram uma planície sem fim de luz, como o arco-íris — uma lisura luminosa que rodeava o imenso planeta. Pedrinho explicou que a força de atração de Saturno era em certo ponto neutralizada pela força de atração do disco, de modo que naquela zona os seres perdiam o peso — ficavam parados no ar, flutuando na maior das gostosuras. E eles estavam justamente nessa zona onde não havia peso! Começaram, pois, a flutuar, a flutuar...

— Parece um sonho! — dizia a menina. — Estou boiando como num mar de delícias. Oh, gosto dos gostos! Oh, fenômeno!...

E boiaram, boiaram, viraram-se em todas as posições, como se estivessem sobre um invisível colchão de paina solta. O Conselheiro, coitado, sentia-se atrapalhadíssimo, porque, como boiava como os demais, ora se via com as quatro patas para cima, ora para baixo, ora para os lados. Emília jogava o anjinho no ar e ele ficava boiando sem cair. Estiveram naquela zona um tempo enorme, brincando duma coisa que nenhuma criança da Terra nem sequer imagina — brincando de boiar num fluido luminoso e deliciosíssimo.

— É uma gostosura que até enjoa a gente — disse Pedrinho num momento em que estava de pernas para cima, segurando o Conselheiro pelo rabo. — Tudo sem peso! Só agora compreendo a estupidez que é o tal peso lá na Terra. A gente vai fazer qualquer coisa e cansa, por quê? Por causa do peso...

— Mas ter um pesinho é bom — disse a menina, já com saudades dos seus quarenta quilos. — Estou tão acostumada a ter peso que isto aqui me dá a idéia de que estou aleijada — de que está me faltando um pedaço. O peso é um verdadeiro pedaço da gente...

Pedrinho explicou que se conseguissem sair daquela zona chegariam a outra em que o peso volta.

— Então vamos para lá — propôs a menina.

E lá se foram, arrastando-se como puderam. Deu certo. Na segunda zona começaram a sentir um pouco de peso, e com isso a sensação tornou-se-lhes ainda mais agradável. Podiam andar como na Terra, mas com muito cuidado, porque o esforço exigido para cada passo era mínimo. Pareciam em câmara lenta. Tiveram de aprender a andar ali. No começo faziam força demais e com um passo iam parar longe. Por fim acertaram o jogo.

Súbito, Emília gritou:

— Estou vendo uma coisa que deve ser um saturnino — e apontou em certa direção.

Era verdade. Um ser esquisitíssimo vinha na direção deles, exatinho como Dona Benta dissera — todo gelatino e transparente; mas sem forma definida — ia mudando de forma segundo as necessidades. O mais assombroso, porém, foi que o estranho saturnino parou diante deles e falou do modo mais claro e natural possível. Falou, sabem como? Falou espichando lá de dentro da gelatina o “crocotó que falava” — um crocotó que parecia uma dessas águas-vivas que há no mar.

— Bem-vindos sejam aos nossos domínios — disse ele. — Temos acompanhado a viagem de vocês através dos espaços. Sabemos tudo. Ouvimos tudo que vocês, conversaram com São Jorge lá na Lua.

— Então daqui enxergam até a Lua, que é uma isca de satélite? — perguntou Pedrinho muito admirado.

— Sim, para nós não há distâncias. Temos sentidos que vocês não podem compreender. Acompanhamos a vida de todos os seres em todos os astros dos céus. Aqueles pobres telescópios dos astrônomos da Terra fazem-nos sorrir de piedade. São puras “cegueiras” em comparação dos nossos teleolhos.

— Eu bem disse! — gritou Emília. — Eu bem disse que eles tinham telecrocotós. São os tais teleolhos...

— Sim, são os nossos olhos de ver a qualquer distância por maior que seja. E o nosso principal divertimento é esse: ver, ver tudo quanto se passa no universo. Sabemos de toda a vidinha de vocês lá no sítio. Assistimos à morte do Visconde quando caiu no mar. Vimos o tiro com que o Barão de Munchausen cortou o cabresto do burro. Rimo-nos do susto de Dona Benta ao perceber que estivera sentada no dedo do Pássaro Roca, julgando que fosse raiz de árvore.

— Não viu também aquele murro que dei no olho do barão? — perguntou Pedrinho.

— Perfeitamente — e achamos muita graça na idéia.

O assombro dos meninos não tinha limites. A boneca pediu:

— Diga então o que Dona Benta está fazendo lá no sítio.

O saturnino virou o telecrocotó em certo rumo e respondeu:

— Está sentada na redinha da sala de jantar, chorando...

— Chorando? — repetiu a menina, admirada. — Por quê?

— Porque é uma avó muito boa e não sabe por onde andam os seus netos. Meu conselho é que voltem o quanto antes.

Pedrinho fez cara de choro.

— Voltar, justamente agora que encontramos o planeta dos nossos sonhos? Isso é doloroso...

— Concordo, mas vocês têm de admitir que é um crime deixarem uma tão boa criatura largada sozinha naquele planeta feio e triste. A Terra é um dos planetas mais atrasados e grosseiros do nosso sistema solar. Voltem. Tenham dó da velhinha. Um dia poderão dar novo pulo até aqui e trazê-la. Já sabem o jeito.

Os dois meninos concordaram, depois de um longo suspiro. Sim, tinham de voltar para aquele sem-gracismo da Terra, onde os homens não sabem fazer outra coisa senão matar-se uns aos outros.

— Não há dúvida — fungou Pedrinho. — Volto; depois venho cá de novo me naturalizar saturnino. Mas será possível semelhante coisa? Temos a nossa forma, temos só cinco sentidos e estes braços e estas pernas. Aqui em Saturno todas as coisas são diferentes...

— Isso não quer dizer nada. Nós enxertaremos em vocês todos os nossos crocotós, com licença ali da Senhorita Emília.

Aquela conversa com o saturnino foi o maior dos assombros. O que ele disse, o que contou do universo, o que falou a respeito de Sírio e outras estrelas famosas, tudo era da mais absoluta novidade — e um encanto! Os meninos não cessavam de fazer perguntas, que ele respondia com a maior clareza. Quando Pedrinho indagou do que comiam, a resposta foi:

— Nós nos alimentamos de fluidos aéreos. Lá na Terra vocês vivem indiretamente da luz do Sol. A luz do Sol cria as plantas e vocês não passam de praguinhas das plantas, de animais que vivem das folhas das plantas, das sementes das plantas, das raízes das plantas. E como a planta é uma criação da luz do Sol, vocês vivem da luz do Sol — mas indiretamente. Aqui é o contrário. Vivemos diretamente da luz do Sol. Nosso corpo embebe-se da luz solar e vive — e vive muito mais que vocês lá na Terra. Vivemos trinta vezes mais. Dona Benta, por exemplo, não viverá na Terra mais que oitenta ou noventa anos — anos lá de vocês. Aqui ela viveria trinta vezes isso — ou sejam 2.400 ou 2.700 anos...

— E não ficam doentes?

— Não há doenças em Saturno. Isso de doenças quer dizer “imperfeição adaptativa”. Vocês lá na Terra são seres ainda muito pouco evoluídos, seres bastante rudimentares. Não passam de “experiências biológicas”. Seres que ainda vivem de plantas são seres que ainda estão engatinhando na estrada larga da evolução.

Os meninos piscavam os olhos no esforço de entender o que o saturnino dizia.

— Bom, brinquem mais um pouco e voltem para a Terra. Dona Benta está dando suspiros cada vez maiores...

Disse e afastou-se gelatinosamente.

Assim que se viram sozinhos, os três tiveram uma idéia para a despedida: brincarem de patinar nos anéis de Saturno. Com o pouco peso que sentiam, a coisa seria facílima e deliciosa — e puseram-se a patinar, todos, até o anjinho. Todos, menos o Burro Falante. O pobre animal ficou de lado, vendo a linda brincadeira.

Numa das voltas que Emília estava dando aconteceu passar rentinho dele.

— Venha também! — gritou-lhe a boneca. — Aproveite!

O burro sentiu uma vontade imensa de aceitar o convite. Nunca havia brincado em toda a sua vida e a ocasião era ótima.

Não havia por perto “gente grande” para “reparar”. Mesmo assim se conteve. Ele era o Conselheiro, um personagem austero e grave. Precisava respeitar o título — e continuou imóvel onde estava, com as orelhas ainda mais murchas e o olhar ainda mais triste. Jamais brincara em criança — e também não brincaria naquele momento. Seu destino era passar a vida inteira sem regalar-se com as delícias do brincar. E o Conselheiro deu um suspiro arrancado do fundo do coração.

Os meninos por fim cansaram-se daquilo. Cansaram-se de patinar nos anéis de Saturno e pararam.

— Chega — disse Pedrinho. — Estou com remorso. A coitada da vovó chorando lá na rede. Isso é judiação.

E tratou de voltar à Terra. Antes, porém, tinham de portar na Lua para pegar Tia Nastácia.
____________
Continua … XIX – De novo na Lua
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Afonso Cruz (Os Livros que Devoraram meu Pai)


ESTE LIVRO SEU PAI TEM QUE CONHECER...

“Os livros que devoraram meu pai” uma viagem pelos grandes clássicos da literatura mundial
A Obra De Afonso Cruz, Vencedora Do Prêmio Literário Maria Rosa Colaço, Será Lançada No Brasil Pela Editora Leya

Elias Bonfim é um garoto que acaba de completar 12 anos e receber uma herança misteriosa, uma biblioteca abandonada. Mas este não é um presente comum, Elias também descobriu que seu pai, Vivaldo Bonfim, está preso em um dos livros de seu acervo e sua verdadeira herança é encontrar o pai.

“Os livros que devoraram meu pai”, de Afonso Cruz – lançado pela LeYa Brasil – é um quebra-cabeças do universo literário, em que um jovem vai desvendar os mistérios dos grandes clássicos e conhecer os perigos feitos de letras. O livro foi um dos vencedores do prêmio literário Maria Rosa Colaço, de 2009 em Portugal.

Vivaldo Bonfim era um escriturário entediado, que acabou mergulhando num exemplar de “A Ilha do Dr. Moreau”, de H. G. Wells, e nunca mais voltou ao mundo real, nem mesmo para o nascimento de seu filho Elias. O garoto imaginava que seu pai havia morrido de enfarte, mas completar 12 anos, sua avó lhe deu a chave para descobrir sua verdadeira história familiar.
Será que Elias encontrará seu pai? O que pode ter naquele livro de tão mágico? Como lidar com assassinos, paixões devastadoras, feras e outros perigos dessas páginas amareladas?

Quais serão as pistas que “A Odisséia”, “O Médio e o Mostro” e “A Divina Comédia” darão a ele nesta busca insólita?

Fonte:
Blog do Roberth Fabris

Afonso Cruz (1971)


Afonso Cruz (Figueira da Foz, Portugal, 1971) é um escritor, realizador de filmes de animação, ilustrador e músico português. Estudou na Escola Secundária Artística António Arroio, nas Belas Artes de Lisboa e no Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira.

Trabalhou em cinema de animação, em vários filmes e séries tanto de publicidade como de autor, de entre os quais se destacam um episódio da série Dois Diários e um Azulejo, baseado na obra do poeta português Mário de Sá Carneiro e realizado em conjunto com Luís Alvoeiro e Jorge Margarido em 2002, que ganhou duas menções honrosas (Cinanima e Famafest) e um prêmio do público, e «O Desalmado», um episódio da série Histórias de Molero (2003), uma adaptação de O que diz Molero de Dinis Machado.

Publicou várias ilustrações na imprensa periódica, nomeadamente para a revista Rua Sésamo, em manuais escolares, storyboards e publicidade. Ilustrou cerca de três dezenas de livros para crianças com textos de José Jorge Letria, António Manuel Couto Viana e Alice Vieira, entre outros.

Afonso Cruz publicou, até à data, seis livros de ficção:

A Carne de Deus, em 2008, um thriller satírico e psicodélico;

Enciclopédia da Estória Universal, em 2009, um engenhoso e divertido exercício borgesiano com o qual venceu o Grande Prêmio de Conto Camilo Castelo Branco e

Os Livros que Devoraram o Meu Pai, em 2010, livro infanto-juvenil vencedor do Prêmio Literário Maria Rosa Colaço de 2009.

Em 2010, A Boneca de Kokoschka e A Contradição Humana, vencedor do Prêmio Autores 2011 SPA/RTP, escolhido para a exposição White Ravens 2011 e menção especial do Prêmio Nacional de Ilustração.

Em 2011 publicou o livro O Pintor Debaixo do Lava-Loiças.

Para além disso, colaborou, na edição portuguesa do Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas com o ficcional "Síndroma da Culpa Absoluta"; no livro Prazer da Leitura com o conto O Cavaleiro Ainda Persegue/A Mesma Donzela; e na novela policial O Caso do Cadáver Esquisito.

Faz parte da banda de blues/roots The Soaked Lamb, com a qual gravou os álbuns Homemade Blues, em 2007, e, em 2010, Hats and Chairs, para os quais compôs vários originais, escreveu letras, cantou e tocou guitarra, banjo, harmónica e ukulele.

Obras Publicadas

A Carne de Deus, Bertrand Editora (2008)
Enciclopédia da Estória Universal, Livros Quetzal (2009)
Os Livros que Devoraram o Meu Pai, Editorial Caminho (2010)
A Boneca de Kokoschka, Livros Quetzal (2010)
A Contradição Humana, Editorial Caminho (2010)
O Pintor Debaixo do Lava-Loiças, Editorial Caminho (2011)

Colaborações

 * Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas, Saída de Emergência (2010)

 * Prazer da Leitura, FNAC/Teodolito (2011).

 * O Caso do Cadáver Esquisito, Prado (2011).

Fonte:
Wikipedia

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 292)


Uma Trova Nacional

Condoído, o sol tão doce,
secou a folha da flor...
pensando que o orvalho fosse
uma lágrima de amor...
–MARIA DE LOURDES REIS/SP–

Uma Trova Potiguar

Primavera é a natureza
se revestindo de cores,
multiplicando a beleza
nos sonhos dos trovadores.
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - UBT-Natal/RN
Tema: TEMPO - M/H.

Não me sinto envelhecido
pois trago, em planos risonhos,
o meu tempo repartido
entre as saudades e os sonhos...
–MARINA BRUNA/SP–

Uma Trova de Ademar

Fiz, de vento, uma coluna
com fé e força tamanha,
capaz de mover a duna
até aos pés da montanha.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

A saudade em horas mortas,
sem ver que o tempo passou,
teima em abrir velhas portas
que há muito a vida fechou ...
–WALDIR NEVES/RJ–

Simplesmente Poesia

Só Tu
–PAULO SETÚBAL/SP–

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu que jamais abracei,
Só tu, nest'alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

Estrofe do Dia


Vendo a lua cor de giz
no alto do firmamento,
as nuvens que se desgarram
nas rebanadas do vento,
eu sinto os versos do mundo
entrando em meu pensamento.
–ZÉ CARDOSO/RN–

Soneto do Dia

Soneto
GUILHERME DE ALMEIDA/SP

Fico - deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.

E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
"Que é feito dela?" - indagarão - coitados!
E os amigos dirão: "Que é feito dela?"

Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;

irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://mensagensegifsdateka.blogspot.com/2011/01/lagrimas-gif.html

Agenda Literária 2012 (Publique seus Textos)


Publique poema, miniconto, reflexão filosófica ou outro texto literário breve numa agendinha de bolso que ficará junto a você e ao seu leitor o ano todo

Características da publicação

A publicação terá o mínimo de 160 páginas, formato A6, miolo P&B, capa colorida plastificada ou fosca, acabamento lateral em espiral.

Ficha catalográfica e ISBN.

Tiragem mínima de 3 mil exemplares.

Possibilidades de participação

Você pode enviar poema, miniconto, reflexão filosófica ou outro texto literário breve para ser publicado em meia página ou três quartos de página

=> Meia página – R$ 50,00 – (6 exemplares) (veja o modelo)
=> Poema de até 12 linhas (contando as linhas entre versos) ou um texto em prosa até 600 caracteres.

=> Três quartos de página – R$ 100,00 – (10 exemplares)
=> Poema de até 20 linhas (contando as linhas entre versos) ou um texto em prosa até 950 caracteres.


Inscrições até o dia 20 de agosto (valendo carimbo dos correios ou via internet)

Os autores podem enviar material para quantas páginas desejarem.

Não é concurso, nem haverá seleção, mas textos contendo xenofobobia, preconceito, discriminação ou similares que atentem contra a legislação vigente poderão não ser publicados.

Dados para quitação de cota de participação

a) depósito no Banco do Brasil, ag. 3702-8 conta corrente 17278-2 Titular: Abilio Pacheco de Souza; ou

b) depósito no Banco Itaú Ag 1136 (sem dígito) Cc 40176-5 Titular: Deurilene Sousa; ou

c) através de cheque remetido dentro do envelope.

Outras informações:

- A participação corresponde à cessão de direitos autorais para a presente edição. Entretanto, os direitos permanecerão com os autores para futuras publicações. Os autores são responsáveis por seus respectivos textos e caberá aos mesmos responder por plágio, publicação indevida, difamação, discriminação, preconceito… ou não autoria da obra, isentando o organizador de crime de direito autoral.

- A página-modelo aqui apresenta encontra-se reduzida devido ao tamanho padrão do folder;

- Os autores participantes receberão por email arquivo em pdf com a prova da página para retificação ou liberação;

- Os organizadores farão a revisão ortográfica e gramatical, mas a revisão estilística, bem como a postagem são à parte;

- Email para contato: editoraliteracidade@uol.com.br; telefones para contato: (91) 8263-8344 // 8896-0379.

Caso deseje outras informações, acesse: http://literacidade.com.br/projetos/agenda-literaria/

Se preferir, escreva para:

Editora LiteraCidade
Prefixo na Biblioteca Nacional: 64488
CNPJ: 12.757.748/0001-12

www.literacidade.com.br

Caixa Postal 5098 - Belém - PA - CEP 66645-972
Telefones: (91) 8263-8344 / 8896-0379

Fonte:
Abílio Pacheco

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 291)


Uma Trova Nacional

Ante a luz que já clareia,
a fartura que há de vir,
pecado é ter a mão cheia
e não saber dividir.
–ANALICE FEITOSA DE LIMA/SP–

Uma Trova Potiguar

Noite escura, pirilampos,
piscando no pé da serra,
beleza daqueles campos,
saudades de minha terra...
–JONAS RAMOS/RN–

Uma Trova Premiada


2000 - Barra do Piraí/RJ
Tema: SERESTA - Venc.

Quando cessa a tempestade,
resta a estrofe derradeira
da seresta da saudade
no compasso da goteira.
–ELEN DE NOVAIS FÉLIX/RJ–

Uma Trova de Ademar

Pela fé que se irradia
de sua imagem nos lares,
vejo em Padre João Maria
o santo dos potiguares.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Nós somos mal informados.
Nossas chances são pequenas,
por vivermos mergulhados
sob as ilusões terrenas.
–CHICO MOTA/RN–

Simplesmente Poesia

Ocaso
–MARINA BRUNA/SP–

No mundo, grades
barrando os meus anseios.
No corpo, limites
frustrando as vaidades.
No senso, críticas
cercando os meus prazeres.
No tempo, marcas
secando as esperanças...

Ah!
Quero reacender luzes apagadas,
pintar paredes envelhecidas
antes que muros definitivos
encerrem meu continente de sonhos,
ambições e de loucuras!...

Estrofe do Dia

Onde a flor exarasse mais perfume,
onde a planta o ar puro respirasse,
a disputa infiel não prosperasse,
perdoar fosse o dom do bom costume,
a paixão não murchasse com ciúme,
arrogância perdesse a existência,
onde o pássaro exibisse a inocência
sem das armas temer à pontaria
- Se eu nascesse de novo pediria
pra viver no país da consciência.
–PEDRO ERNESTO/CE–

Soneto do Dia

Vaidade
–ANTONIO JURACI SIQUEIRA/PA–

Esta casa que habito não é minha,
tampouco os versos que te dou, são meus;
são como a chuva, o mar, a erva daninha:
frutos do mundo, dádivas de Deus.

Quando o Sol rasga o céu, de manhãzinha,
iluminando réus, crente e ateus,
eu me sinto menor que uma andorinha
e a minha fé, maior que os Pirineus!

Portanto, meus irmãos, a fama, o orgulho,
a arrogância, a vaidade, a ostentação
que turvam nosso humano entendimento,

não passam de sandices, de ilusão,
essência de tambor, que faz barulho
mas nada tem por dentro além de vento.
Link
Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = Axia

I FLIPAN Festival Literário do Pantanal


De 10 a 15 de outubro-
Corumba MS


Perfomances:
Lançamentos de livros
Exposição
Artesanato
Oficinas
Palestras

Aberto para quem quiser e puder vir ao Pantanal

Em caso de interesse em ficar alojado em escola (grátis) favor comunicar com antecedencia.
Se tiver barraca de camping, favor avisar para solicitarmos quadra coberta de escola

Há bons Hotéis e Pousadas

É um evento alternativo e independente você escritor (a) poderá vir por conta própria ou patrocinado por órgãos de sua cidade

Haverá Passeios no Rio Paraguai por adesão e visita à Bolivia (cerca de vinte minutos de Corumbá)

Há bons Restaurantes.

Não necessidade de transporte, posto que todos os locais de visitação são bem próximos:
Casa do Artesão,
Art Izu,
Museu do Homem Pantaneiro,
Fundação Boticario,
Moinho Cultural,
Porto,
Praças ,
Museu do Pantanal,etc.

Alguns espaços da internet como Sociedad Venezolana, Clube Cauibi de Compositores, ImersÃO Latina, Poetasdopantanal, Negrituidevisivel.bligoo.com.br trazem notas a respeito do evento.

Contatos com Benedito Lima beneditocglima@yahoo.com.br

Fonte:
Benedito Lima

Bruno Camargo (Pó de Estrelas)


A primeira vez em que viajei pelo espaço, tinha nove anos. Foi num sonho, mas foi real. Foi tão real que, na época, me assustei. Já não conseguia jogar meus videogames de batalhas estelares sem pensar que estive lá. Star Fire, Space Invaders, todos estes acabaram no lixo. Os jogos me lembravam de viajar entre as estrelas, cruzar galáxias. Claro que meus pais não poderiam imaginar que aquilo ia muito além de um devaneio infantil. Eu mesmo ignorei aquilo por muito tempo, até que logo os sonhos pararam e eu não conseguia mais viajar entre as estrelas.

Já na faculdade, meio cansado após uma semana de provas, fui a uma festa com bebida de graça e me embebedei, o maior dos porres que já havia tomado. E, por alguma razão, eu me vi voando entre planetas mais uma vez. A luz forte das nebulosas, berços de estrelas, a música dos astros em movimento, o calor de asteróides em colisão. É claro que a dor de cabeça no dia seguinte não valia a pena. Mas a saudade daquela experiência espacial era tão grande, que precisei procurar uma maneira mais segura de realizá-la de volta. Ter o mesmo sonho anos depois precisava significar alguma coisa. E eu sabia que era a mesma experiência, pois era tão boa e única que só poderia ser a mesma.

Flutuar no espaço, dançando sem gravidade e sem preocupação, sentindo a energia do Universo, ouvindo a música dos astros. Coisas que esquecemos quando descemos à Terra. Sentir a poeira estelar que dá origem à vida de novas estrelas e astros e seres que parecem imaginação. E conhecer os nossos vizinhos do espaço.

Quando os vi pela primeira vez, quando tinha meus nove anos, fiquei assustado. Minha mãe nunca havia me dito que havia outro tipo de gente fora do nosso planeta e, mesmo que eles parecessem simpáticos ao se aproximar, fiquei com medo. Só me acalmei quando meu pai me disse que era um sonho e quando lembrei da sensação que tive quando me embrenhei numa nebulosa. Essa era a sensação que eu tanto busquei mais uma vez.

Pesquisei na internet se mais alguém já tinha vivido algo parecido, e como fizeram pra voltar para aquilo. Muitas bobagens depois, comecei a perceber um padrão entre aqueles textos mais convincentes: a meditação era a chave. O completo silêncio de corpo e alma funcionava como uma ligação direta com o “barulho” do universo.

Resolvi que, naquele fim de semana, eu iria meditar. Descobri que atrás da minha rua havia uma dessas lojinhas místicas que vendem cristais e apanhadores dos sonhos. Coisas que a gente só percebe que existem quando precisamos delas. Comprei uns incensos para criar um clima. No sábado, desliguei o celular, sentei no centro da sala sobre um tapete redondo, vermelho com círculos dourados, com as pernas cruzadas, acendi o incenso e fechei os olhos.

Esvaziar a mente, era o que todos diziam. Pense em nada. Pensar em nada é pensar em alguma coisa, não é? Isso seria bem mais difícil do que eu pensava. Talvez devesse ter pensado em nada mesmo.

Apesar da dificuldade, não desisti. Sábado após sábado, eu me sentava no chão da sala com meus aromas e tentava meditar. Não via nada ainda, mas chegava a passar duas horas meditando, pensando em nada. Era relaxante, pelo menos. Depois de uns dois ou três meses, consegui um resultado diferente. Do meio do vazio, luzes começaram a acender, formando constelações. De volta ao Universo.

Minha alegria já era imensa, mas com uma surpresa eu não contava. Aqueles seres que vi, certa vez, estavam ali de novo. Me chamando. Seres compridos, magros, brancos de luz. Pernas e braços alongados, cabeça arredondada. Não consegui ver as formas de seus corpos e rostos. Etéreos. Luminescentes.

Sem conversar, nos comunicamos. Eu olhava para seus corpos, e informações vinham à minha cabeça. Lembranças muito antigas, de um tempo que nem sabia que vivi. Ali, flutuando pelo espaço, conheci minha própria vida, minha essência, meu eu.
Aquela era minha família. Eu era um deles, viajante do Universo, poeira cósmica, filho das estrelas. Há muitos anos, decidi viver na Terra, explorar aquele planeta que ainda precisava de diretrizes para se desenvolver. Meu serviço já havia acabado, contudo. Era hora de voltar.

Ao passo que me dei conta de minha verdadeira existência, minha razão, me recordei dela. Minha alma gêmea. A mulher que deixei no espaço para me dedicar à Terra. Uma saudade que antes mal sabia existir, agora era lancinante. Meus olhos lacrimejavam. Ela surgiu entre os seres e veio em minha direção. A emoção percorria meu corpo como faíscas. Estiquei meu braço para tocá-la.

Foi quando percebi que eu já não era o mesmo. Meu braço era feito de luz, assim como o de meus amigos. Assim como todo o meu corpo se tornara luz como o deles. Ela tocou sua mão na minha, unindo nossos corpos. Uma palpitação percorria por mim, e eu sentia os sentimentos dela. Estávamos nos unindo, tornando-nos um só. A luz que saía de nós era vigorosa, pura.

Nossos corpos se desfaziam em união, tornando-se uma poeira arroxeada, brilhante. Um Universo dentro de um Universo dentro de um Universo. Juntos, nos refazíamos.

Aquela sensação que eu sempre senti, chegava agora no seu clímax. Um berço de estrelas. Nós nos doamos para o nascimento de uma nebulosa. Poeira de estrelas.
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Veja sobre lançamento do livro de contos Passageiros do Espelho, org. Isabel Furini em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/07/isabel-furini-lancamento-de-passageiros.html

Fonte:
Conto extraído do livro de contos “Passageiros do Espelho”, organização e seleção de Isabel Furini. Lançado em 2011.

Roberto Pinheiro Acruche (Barco Fora D’Água)


Viajei, rompi fronteiras,
naveguei durante dias,
noites inteiras e
agora sou somente
um barco fora d’água.
Perdi o meu mundo...
Não tenho remo,
leme, nem direção...
Meu destino é a solidão!
Não vejo mais
o mar salpicado de estrelas
e os reflexos prateados
do luar ascendendo.
A luz do sol já não me alcança,
sinto que estou perecendo
ainda que amarrado
ao verde da esperança.

Fonte:
Roberto Pinheiro Acruche. Trovas e Poemas n. 29 – julho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 290)


Uma Trova Nacional


Uma Trova Potiguar

Seguindo a trilha do tempo,
sem pressa, rumo ou por que,
eu tenho o bom passatempo
de só pensar em você!...
–IEDA LIMA/RN–

Uma Trova Premiada

1983 - São Paulo/SP
Tema: PRESENTE - M/E

Se no presente o sofrer
às vezes dói, refleti:
- Lutando para viver
eu posso dizer: vivi!
–JOSÉ VALDEZ C. MOURA/SP–

Uma Trova de Ademar


Gosto muito de vencer,
ganhar é bom, eu entendo;
mas eu não sinto prazer
em ver os outros perdendo...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ninguém sabe, nesta lida,
onde a surpresa é mais forte:
se nos mistérios da vida
ou nos segredos da morte!
–ALFREDO DE CASTRO/MG–

Simplesmente Poesia

Teu Brilho Em Minha Alma.
–J.B.XAVIER/SP–

Esse ponto brilhante que habita minha alma,
A natureza última do meu ser,
A tradução mais exata do meu entardecer,
A ficção cuja realidade transcende e acalma,
É o que restou do sol esfuziante,
Do instante
Em que tua luz inundou meu mundo...
E brilhará assim, na eternidade,
Nesse brilho pálido onde permeia uma saudade
A iluminar o dia que se faz noite, num céu moribundo...

Estrofe do Dia

Bonita como uma rosa
mãe das mães e dos seus netos
leva uma vida de afetos
uma pessoa amorosa;
sincera , meiga e bondosa
de muita simplicidade,
aquela mulher de idade
superou vários barrancos
e os seus cabelos brancos
eram cinzas de saudade.
–JOMACÍ DANTAS/PB–

Soneto do Dia


O Campo
–JOÃO JUSTINIANO/BA–

Dizem de mim: - "Este sujeito quis
Deixar cidade, asfalto e coisas tantas,
Que a gente busca conseguir, por quantas
Maneiras pode... E volta-se à raiz".

Ninguém calcula, ninguém sente ou diz,
Que eu tenho aqui, nestas paragens santas,
Num mundo meu, sem cobras salamantas,
A vida que meu pai viveu feliz.

Não quero mais que a roça, a rede, a calma,
A paz que o ser me envolve o sangue, a alma,
Neste descuido de viver sem pressa.

Sem hora de chegar ou de sair,
E obrigação de ver, de ir e vir,
A vida mais feliz que achei foi essa.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XVII – Saturno


Por mais agradável que fosse ficarem boiando naquela cauda de cometa, entretidos em conversar com o maravilhoso anjinho, era preciso pensar na viagem.

— A fome está chegando — disse Pedrinho. — Temos de concluir a nossa viagem celeste e voltar para casa à hora da ceia. Podemos ficar por aqui ainda algum tempo — mas não sei para onde ir agora. É tão grande o universo que até enjoa...

— Que tal uma chegadinha ao planeta Vênus? — lembrou a menina. — É o mais simpático de todos.

— Também acho — concordou Pedrinho — mas Vênus é como uma irmã gêmea da Terra. Assemelham-se em quase tudo, no tamanho, nas estações — só que Vênus está muito mais perto do Sol e, portanto, deve ser muito mais quente. Vênus está a 108 milhões de quilômetros do Sol. Está, portanto, 42 milhões de quilômetros mais perto do terrível fogareiro do que a Terra.

— E se formos ao planeta Mercúrio?

— Nem pense nisso, Narizinho! O tal Mercúrio, além de ser o planeta menor de todos, está a apenas 58 milhões de quilômetros do Sol. O calor de Mercúrio deve ser de derreter pedras. Ir a Júpiter, sim, vale a pena. Júpiter é o rei dos planetas — colossal! Gira a 780 milhões de quilômetros do Sol, tem quatro luas formidáveis e um ano igual a onze anos e tanto dos nossos. Júpiter é enorme. Tem 1.390 vezes o volume da Terra!

— E os outros planetas?

— Há o tal Saturno, com dez luas, a 1.400 milhões de quilômetros do Sol e de volume oitocentas vezes o da Terra.

— E que comprimento tem o ano em Saturno?

— Vinte e nove anos dos nossos. O ano de Saturno até desanima a gente. Você lá seria uma criancinha de pouco mais de quatro meses...

— E os outros?

— Há ainda o tal Urano e o tal Netuno. Urano gira longíssimo do Sol a 2.872 milhões de quilômetros, veja que colosso! Tem um ano horrivelmente longo, igual a 84 anos da Terra. Vovó lá estaria apenas com dez meses de idade. E o tal Netuno, então? Esse fica no fim do nosso sistema planetário, quase nas fronteiras. É o antepenúltimo. O último é Plutão.

— A que distância do Sol?

— A 4.500 milhões de quilômetros... E tem um ano que não acaba mais. Imagine que o ano de Netuno corresponde a 165 anos dos nossos lá da Terra...

— Quer dizer que se vovó nascesse em Netuno estaria com cinco meses de idade — mamando ainda, coitadinha... e o tamanho?

— Netuno tem 78 vezes o volume da Terra.

— E os outros planetas, aqueles planetóides de que vovó falou?

— Ah, esses não contam. Existem em número incalculável. São quireras de planetas. São guaruzinhos das águas do céu. Para ser planeta verdadeiro é preciso ter o tamanho de lambari para cima. Guaru não conta.

— E o tal que usa anéis? — quis saber Emília.

— Esse é o planeta Saturno. Está aí uma idéia! Podemos ir a Saturno ver como são os seus anéis...

Todos aprovaram. Uma visita a Saturno era da mais absoluta novidade. Criatura nenhuma da Terra jamais pensara nisso. Se eles dessem um passeio pelo planeta Saturno haviam de ficar imortais — a maçada é que quando lá na Terra contassem a proeza nenhum adulto acreditaria...

Ficou assentado irem para Saturno, mas antes disso Narizinho pediu que o pequeno Flammarion contasse tudo quanto Dona Benta lhe havia dito sobre o maravilhoso planeta dos anéis.

— Esse planeta — disse Pedrinho com a maior importância — está a 1.400 milhões de quilômetros do Sol...

— Espere! — interrompeu Narizinho. — Antes de mais nada eu quero saber uma coisa. Como é que os homens descobriram que tais e tais astros são estrelas, e tais e tais outros são planetas? Numa noite estrelada a gente olha para o céu e vê tudo igual — as estrelas e os planetas. Tudo são pontinhos luminosos e mais nada. Responda a isso, se é capaz.

Pedrinho deu uma risada gostosa.

— Nada mais fácil, menina. A mesma pergunta fiz a vovó e ela respondeu imediatamente. Aquela vovó é uma danada! Não há o que não saiba.

— Então explique.

— O caso é simples. Desde os começos da humanidade os homens viam à noite o céu cheio de estrelas, mas de tanto olhar para o céu foram percebendo uma coisa: que certos astros apareciam sempre no mesmo ponto e outros variavam.

— Como sabiam que eles variavam de lugar?

— Muito simples. Eles viam que em certa noite esses astros estavam perto de certas constelações; na noite seguinte estavam um pouquinho mais adiante, e mais adiante na terceira noite, etc. Viam perfeitamente que esses astros eram móveis, isto é, caminhavam em certas direções. E também observaram que depois de certo tempo eles voltavam. E assim passavam a vida, indo e vindo, indo e vindo — ao passo que as estrelas permaneciam fixas, sempre firmes no mesmo ponto. Depois notaram que esses astros móveis caminhavam numa direção durante um certo número de meses e voltavam em igual tempo. Um ia e vinha em sete meses e meio — era Vênus. Outro ia e vinha em um ano e 332 dias — era Marte. Outro ia e vinha em onze anos e 314 dias — era Júpiter, e assim por diante. Entendeu?

— Entendi — declarou Narizinho — e era verdade, pois havia entendido mesmo. Pedrinho continuou:

— Mas não pense que as estrelas são realmente fixas. Elas também andam girando pelo espaço. Mas como estão longíssimas, parecem fixas.

E voltando a Saturno:

— Quando vovó começa a falar desse planeta até fica que nem a Emília. Diz que é o maior do céu, uma beleza que nem em sonhos podemos imaginar. É um planeta bem grande, oitocentas vezes o volume da Terra e com dez luas.

— Dez? — admirou-se a menina.

— Dez, sim, e três delas mais próximas do que a nossa Lua o é da Terra. E eu tenho aqui em meu caderninho o nome das dez luas saturninas. Saturnino quer dizer de Saturno.

— Não precisava explicar. Quem não adivinha semelhante coisa?

Pedrinho tirou do bolso o caderno de notas e leu o nome das luas de Saturno.

— Mimas, Encelado, Tétis, Dione, Réia, Titã, Têmis, Hiperion, Jápeto e Febo.

— Então Mimas, Encelado e Tétis são as “pertinhas”! — adivinhou Emília, que estava com o anjo adormecido no colo.

— Sim. São as que ficam mais próximas de Saturno do que a Lua o é da Terra — confirmou Pedrinho. — Que beleza não deve ser, hein? Uma lua no céu da noite já é tão bonito, imaginem dez!... Os habitantes de Saturno devem viver enjoados de luas. E como se isso fosse pouco, ainda tem no céu, permanentemente, a maravilha das maravilhas que são os anéis.

— Conte o que vovó disse dos anéis — pediu a menina.

— Ah, vovó explicou tudo muito bem. Como ela sabe! Esses anéis são três, ou um só dividido em três faixas distintas, sempre iluminadíssimas pela luz do Sol. Eu até fico tonto ao imaginar a beleza que devem ser!

— E que tamanho têm os anéis?

— A palavra anel atrapalha a gente — disse Pedrinho.

— O melhor é dizer “disco”, porque aquilo é na realidade um disco de milhões de fragmentos de astros a girarem em redor do planeta. E para você ter idéia do tamanho, é preciso primeiro que saiba duma coisa: que o diâmetro de Saturno tem 120.000 quilômetros. Muito maior que o da Terra. Pois bem: a largura do disco de Saturno tem 64.000 quilômetros...

— E a grossura?

— É de apenas 60 quilômetros.

— Só? — admirou-se a menina. — Então, então, então...

— Eu sei o que você quer dizer, Narizinho. Você quer dizer que o disco é da finura duma folha de papelão para a folha inteira do papelão, não é isso? Pois está muito enganada. Suponha um disco de papelão de 1 metro de diâmetro por 1 milímetro de espessura. Pois nessa proporção, sabe qual seria a espessura do disco de Saturno? Seria de 426 quilômetros — vovó já fez a conta. Mas a espessura do disco de Saturno é só de 60 quilômetros. Logo, o disco é proporcionalmente muito mais fino que o papelão.

— Da finura dum papel de seda para uma folha inteira de papel de seda?

— Exatamente. O diâmetro do disco de Saturno está para a sua espessura como o tamanho duma folha de papel de seda está para a finura do papel de seda. Compreendeu?

— Isso até o anjinho compreenderia — berrou a boneca — se estivesse acordado e soubesse o que é papel de seda — e pôs-se a alisar os lindos cabelos da criaturinha adormecida em seu colo.

O pequeno Flammarion continuou a expor o que sabia de Saturno.

— O mais interessante que vovó me contou — disse ele — foi o que os sábios imaginam da vida em Saturno. Tudo é diferentíssimo de lá da Terra.

— Por quê?

— Porque as condições de Saturno são diferentes. O ano de Saturno é enormíssimo (ano você sabe o que é: o tempo que um planeta gasta para dar uma volta em redor do Sol). O ano de Saturno tem 29 anos dos nossos lá da Terra! E os dias são de apenas dez horas. Dia você sabe o que é...

— Sei. Os planetas giram em redor do Sol e também giram em redor de si mesmos. Quando giram em redor de si mesmos, há sempre uma parte que fica dando para o Sol e outra que fica no escuro. Temos aí o dia e a noite. Certo?

— Exatinho. Você está ficando tão boa quanto eu na ciência da astronomia...

— Gabola!... Mas continue. Como são os habitantes de Saturno?

-— Ninguém sabe ao certo, mas os homens de ciência imaginam. Acham que devem ser umas criaturas tão diferentes de nós que nem podemos compreendê-las. Uns seres gelatinosos, transparentes, adiantadíssimos, com órgãos diferentes. Devem alimentar-se de fluidos e não de coisas líquidas ou sólidas, como nós. E terão muitos mais órgãos dos sentidos do que nós. Nós não passamos de uns coitadinhos. Só temos cinco sentidos. Cinco, imagine que pobreza! Eles lá devem ter dez, vinte, cem... Para saber as coisas, nós precisamos estudar. Eles vibram no ar o “órgão da ciência” e já ficam sabendo.

Emília meteu o bedelho.

— Isso quer dizer que os saturninos ainda têm mais crocotós que os marcianos.

— Não creio — duvidou Pedrinho. — Crocotó dá idéia de coisa dura e eles são gelatinosos.

— Há também crocotó do mole — resolveu Emília.

— Pois então — continuou Pedrinho — o que pode acontecer é o seguinte: quando eles querem “sentir” qualquer coisa, espicham lá de dentro da gelatina um crocotó do mole, e esse órgão “detecta” o que é preciso. Se um saturnino, por exemplo, quer saber que horas são, espicha para fora o “crocotó do tempo” e detecta a hora no ar... E se quer saber se a Terra é habitada, espicha para fora o “crocotó da distância...”

— O telecrocotó! — lembrou Emília.

— ...e vê tudo lá na Terra como se estivesse pertinho.

Emília assustou-se.

— Então já me viram aqui com o anjinho e são capazes de qualquer coisa — e cobriu o anjinho com o avental.

— Será possível que eles espiem tudo quanto fazemos lá no sítio? — imaginou a menina. — Ah, meu Deus! Não existe sossego neste universo. A gente pensa que faz coisas escondidas — e esses diabos de Saturno estão vendo! Imaginem como não se divertem com essas espiações por meio do “crocotó da distância...”

— Os outros astros devem ser o cinema lá deles — sugeriu Pedrinho. — Eu, por mim, já estou cansado da Terra. Queria ser saturnino. Delícia maior não há. O dia inteiro com o cinema do universo diante de nós! O dia inteiro a espiarmos as reinações de todos os seres que existem...
____________
Continua … XVIII – No Planeta Maravilhoso
–––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

domingo, 7 de agosto de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 289)


Uma Trova Nacional

Num egoísmo profundo
penso ao receber teus mimos,
que Deus só fez esse mundo
porque nós dois existimos.
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Uma Trova Potiguar

Teu doce beijo, querida,
que me acalma e tira o tédio,
é meu sol, é minha vida,
é meu sublime remédio!
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Porto Alegre/RJ
Tema: CAIS - Venc.

No barco do amor, um dia,
sonhei navegar...Quem dera...
- O barco era uma utopia
preso ao cais de uma quimera!...
–MARISA VIEIRA OLIVAES/RS–

Uma Trova de Ademar

Esses meus versos doridos,
o amor, a fé, tudo enfim;
são retratos coloridos
que eu mesmo tirei de mim...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Pelos momentos de amor
que na vida eu pude ter,
eu te agradeço, Senhor,
valeu a pena viver!
–ALFREDO DE CASTRO/MG–

Simplesmente Poesia

–Pedro Mello/SP–
FOI MELHOR ASSIM...

Não consigo esquecer, mesmo que eu queira...
Faz tanto tempo... ainda me pergunto
por que a gente, afinal, não ficou junto...
(Será que cometi alguma asneira...?)

Ou... terão sido nossas diferenças...?
Devo admitir que foi melhor assim...
O que nem começou chegou ao fim,
sem mágoas, sem rancor, sem desavenças...

Se essa paixão tivesse dado certo,
seríamos pessoas infelizes...
Tantas seriam nossas cicatrizes,
que nos odiaríamos, decerto...

Mas vou te confessar uma verdade:
- Ainda me permito ter saudade...

Estrofe do Dia

Quando avisto uma grande construção
Sendo erguida por vários operários
Recebendo migalhas de salários
Que mal dá pro sustento do seu pão,
Muitas vezes sofrendo humilhação
De arrogantes, perversos, assassinos,
Homens ricos que exploram pequeninos,
Que de voz e de vez são desprovidos;
Cada prédio em São Paulo construído
Tem o sal do suor dos Nordestinos.
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

–BERNARDO TRANCOSO/SP–
A Timidez

Cede-me o teu olhar, junto à tua tez;
Aceita de uma vez o meu convite;
Se eu tentar te abraçar, beijar, permite;
Impede que te dite a timidez.

Os olhos rebaixados, a mudez,
Prá insensatez de quem dores admite,
Exceto não te ter. Deixa que grite
Tua alma e, nela, acata tal nudez.

Ser tímido é falar, mas não dizer;
Querer, poder e crer, mas não fazer;
Viver de um sentimento tão profundo

Como o amor e guardá-lo - quieto - ao peito,
Sofrendo sem parar, por um defeito,
O pecado mais puro que há no mundo.

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo autor

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poetas de Ontem e de Hoje IV)


Sino da minha sina
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG


Badala o sino sonoro
Tocando no vilarejo.
Em minha prece eu imploro
E rogo num só lampejo
Que a vida traga de volta
O amor que tanto desejo.

Pulsa, sino, em minha sina,
Ensina-me a entender
Por que a saudade bate
Fazendo a gente sofrer.

Sina, sino, sentimento,
Sonoro som a tanger,
Tristeza, dor e lamento...
No meu peito o sino bate
Louquinho por te querer!

Soneto
FAGUNDES VARELA
1841 / 1875

Desponta a estrela d'alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando, corre.

Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias d'aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!

Porém minh'alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!

Quarenta anos
MÁRIO DE ANDRADE

1893/1945

A vida é para mim, está se vendo,
uma felicidade sem repouso:
eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas, sabendo
disso, persisto em me enganar... Eu ouso
dizer que a vida foi o bem precioso
que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo

seria, agora que a velhice avança,
que me sinto completo e além da sorte,
me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
ó sono, vem!... Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.

Colar de Carolina
CECÍLIA MEIRELES

1901/1964

Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral

nas colunas da colina.

O Trabalho
REGINA COELI


Trabalha a terra e dela te alimenta
Ou reconhece aquele que madruga
E em sol bem forte a fronte ao suor enxuga
Regando a vida-mãe que a nós sustenta.

Sova com tuas mãos e em ti fermenta
O pão que traz o cheiro de uma ruga
Sulcada ao tempo que o minuto suga,
Cozida em Paz no forno que acalenta...

Faz da palavra artigo de primeira,
Sempre na moda viva da ternura
De dar Amor sem pátria e sem fronteira...

Trabalha a alma em Fé desperta e pura,
Cumpre na lida a parte verdadeira
Que faz sorrir o choro da amargura!

Todos chorarão
PROF. FRANCISCO GARCIA/RN


Se não houver mais flores nos jardins,
se faltar o perfume dos rosais,
sofrerão nossos anjos querubins
ao romper das auroras matinais!

Se faltarem belezas campesinas,
sabiás e os mais lindos rouxinóis,
que serão das auroras tão divinas
sem os cantos que encantam todos nós?

Sem os perfumes virginais dos campos,
sem a voz maviosa das cascatas,
chorarão os poetas pirilampos,
no silêncio final da voz das matas.

Todos nós choraremos de desgosto,
nunca mais os poetas vão cantar,
rolarão muitos prantos pelo rosto,
"as almas dos poetas vão chorar".

Súplica
MARIA NASCIMENTO S. CARVALHO/RJ


Jurei não lhe falar mais de ternura,
nem dar sinais de angústia nem de dor,
mas sinto as cicatrizes da censura
bem menos doloridas que as do amor...

Assim, movida pela desventura,
vivendo um sentimento embriagador,
tento afogar meu sonho na amargura,
e volto a lhe falar do meu amor.

Deixe que eu ame intensa e livremente,
sem censurar o meu comportamento,
sem ter pena das penas que padeço,

que eu sofro, por você, conscientemente,
e, por maior que seja o meu tormento,
estou sofrendo menos que mereço...

Fonte:
A. M. A. Sardenberg

Rio Grande Trovador (Participe da coletânea)


O organizador da obra, MÍLTON SOUZA, acaba de prorrogar para o dia 30 de agosto de 2011, o prazo para inscrições e remessa de trabalhos

(15 trovas, foto, biografia e cento e vinte reais)

para o 8º Volume da coletânea RIO GRANDE TROVADOR.

A capa do livro estampará, mais uma vez, uma das belas pinturas de MARIA TEREZA BONATTO DE CASTRO, filha de Delcy Canalles.

Cada participante recebe 10 exemplares da obra.

Contate o Milton: miltonsouza@redemeta.com.br

Fonte:
Pedro Ornellas

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 288)


Uma Trova Nacional

Dever do bom Trovador,
que desse dever dá provas,
é fazer Trovas de AMOR
pelo amor que tem às Trovas!
–DELCY CANALLES/RS–

Uma Trova Potiguar

Esta distância tão triste,
entre nós dois, na verdade,
mede a distância que existe
entre o AMOR e a saudade!
–PROF.GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema: IMAGEM - M/H

Quem pratica a temperança
e cultiva o dom do AMOR
tem, na imagem, semelhança
com seu próprio Criador.
–NEI GARCEZ/PR–

Uma Trova de Ademar

Nosso AMOR não se acabou,
e, ouvindo a voz da razão,
simplesmente atravessou
as fronteiras da paixão!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Esta saudade infinita
do AMOR que a gente viveu,
é a mensagem mais bonita,
que o meu passado escreveu!...
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Simplesmente Poesia

Bilhete
–MÁRIO QUINTANA/RS–

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o AMOR mais breve ainda...

Estrofe do Dia

Não pensei chorar tanto desse jeito,
meu açude de lágrimas sangrou;
abri todas comportas do meu peito,
e o velho coração não segurou.
O grande temporal veio depois
quando eu vi que o AMOR entre nós dois
se afogou no mar com os abrolhos;
esta dor foi demais, não suportei,
chorei tanto por ti que já sequei
a cacimba de prantos dos meus olhos.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Nunca Mais
–MARIA NASCIMENTO/RJ–

Não sei de onde é que vem tanta ansiedade
e essa angústia que me comprime o peito,
torturando, porque, na realidade,
nem de pensar em ti, tenho o direito.

E, como todo o ser mais que imperfeito,
que não doma os caprichos da vontade,
eu luto, mas sequer encontro um jeito
de me livrar das garras da saudade...

Bem sei que não entrei na tua vida,
e, mesmo tendo sido preterida,
meu AMOR floresceu, criou raiz...

Mas fui punida com severidade,
porque deixaste em mim tanta saudade
que nunca mais eu pude ser feliz!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XVI – Aparece o burro


Quanto tempo estiveram desmaiadas lá em cima do cometa grande? Ninguém sabe. Só se sabe que em certo momento Narizinho estremeceu e foi lentamente abrindo um olho. Depois abriu o outro. Depois arregalou os dois — e viu pendurado sobre o seu rosto um focinho com duas ventas pretas. Apesar da tonteira em que ainda estava, reconheceu naquilo uma cara de burro. E súbito um clarão lhe iluminou o cérebro. O Burro Falante! Aquelas ventas, aquele focinho, aquelas pontas de orelhas só podiam ser do Burro Falante, porque o Burro Falante é que havia rolado pelo éter e na opinião de Pedrinho devia andar enganchado nalguma cauda de cometa.

O animal permanecia imóvel, de cabeça pendida. Com certeza estava naquela posição já de muito tempo, à espera de que a menina acordasse — e de tanto esperar dormiu também. Sim. O Burro Falante estava dormindo!

— Emília! — gritou Narizinho sacudindo a boneca desmaiada. — Acorde! Parece que estamos salvas e com o Burro Falante aqui às nossas ordens.

A boneca arregalou os olhos e esfregou-os.

— Burro Falante? — murmurou ainda tontinha, e só então seus olhos deram com o animal adormecido. Emília levantou-se e deu a mão a Narizinho já de pé. Ficaram as duas a olhar para o pobre burro de cabeça caída, imerso em sono profundo.

— Vou acordá-lo — disse Emília, e fazendo “Hu!” acordou-o. O aspecto tristonho do burro mudou para um ar de riso — um ar só, porque os burros não sabem rir, não podem nem sorrir, os coitados. O Burro Falante fez um ar de riso e falou na sua voz antiga de bicho do tempo dos animais falantes.

— Bofé! Até que enfim apareceram. Eu já estava cansado de esperar, e de tanto esperar dormi. Onde ficou o dragão? — e ao falar no dragão tremeu sem querer, com medo de que o monstro tivesse vindo atrás delas.

— Não tenha receio de nada, Senhor Burro — respondeu Emília. — O dragão está lá numa cova da Lua, amarrado na corrente.

O tremor do burro cessou.

— E a Senhora Anastácia?

Ele era a única pessoa no mundo que dizia “Senhora Anastácia”, em vez de “Tia Nastácia”, como os outros. Nunca houve burro mais bem-educado nem mais respeitador da gramática. Falava como se escreve, com a maior perfeição, sem um errinho. E falava num português já fora da moda, com expressões que ninguém usa mais, como aquele “Bofé!”

— Tia Nastácia ficou na Lua como cozinheira de São Jorge — respondeu a menina — e a estas horas ou está fritando bolinhos ou está fazendo pelo-sinais e dizendo credos.

— E o Senhor Pedro Encerrabodes?

O burro nunca disse Pedrinho; era sempre Encerrabodes.

— O Senhor Pedro sumiu! — gritou a boneca. — Vinha guiando pelos ares o Potro dos Céus, comigo na garupa, quando se pôs a explicar como é que os gregos tangiam a lira (não lira italiana, mas a tal lira que era a viola deles) e tantos gestos fez no ar que perdeu o equilíbrio e caiu no éter.

O burro empalideceu.

— Oh, isso é muito grave! — murmurou em seguida, franzindo a testa e erguendo as orelhas. — O Senhor Pedro Encerrabodes sempre foi o nosso guia. Sem o seu adjutório (ele não dizia ajutório) não sei como nos avirmos nestas terras desconhecidas. Estou aqui há horas (ou há séculos, não posso saber). Já galopei milhares de toesas por esses luminosos campos infinitos, sem encontrar sequer uma pequena touça de capim.

— E está com fome, Senhor Burro? — perguntou Emília.

— Nada mais natural, Senhora Marquesa.

— Pois se quer servir-se de estrelinhas recém-nascidas, tenho muitas aqui no bolso. É o que há...

O Burro Falante respondeu com toda a gramática:

— Não creio, Senhora Marquesa, que meu estômago aceite de bom grado semelhante iguaria. Antes continuar jejuando do que contrariar as leis da natureza com a ingestão dum alimento que nem eu nem meus antepassados jamais provamos.

— Faz muito bem — disse Narizinho. — Quem vai comendo a torto e a direito tudo o que encontra acaba estourando. Vovó sempre diz que o “animal se faz pela boca”, isto é: nós somos o que comemos. Um burro que se alimentar de estrelas é capaz de virar cometa.

O burro quis saber o que havia acontecido desde o momento em que Pedrinho lhe assoprou o pó de pirlimpimpim nas ventas. A menina sentou-se e foi contando. Enquanto isso a boneca pôs-se a passear por ali em procura de coisinhas pelo chão, como costumava fazer nas praias. Por causa desse hábito vivia encontrando coisas. Emília pôs-se a andar, e foi andando, e afastou-se para longe.

Em dado momento, quando Narizinho, depois de contar a chegada à Via-láctea, ia entrando na história do cometa-potro-xucro, uma voz distante chegou-lhe aos ouvidos: “Corra, Narizinho! Venha ver uma coisa do outro mundo...”

A menina ergueu-se e correu na direção da voz, até que avistou Emília sentada no chão com qualquer coisa ao colo. De longe não pôde distinguir o que era — pareceu-lhe uma criancinha nova. Mas seria absurdo admitir uma criança nova naquelas alturas.

Narizinho foi se aproximando. Chegou bem perto. Arregalou os olhos e esfregou-os, porque lhe custava acreditar no que seus olhos viam.

— Um anjinho, Emília? ... — exclamou afinal no maior dos espantos. — Onde descobriu semelhante maravilha? — e acocorou-se diante do anjinho lindo que a boneca tinha ao colo.

Era um anjinho mesmo! O mais lindo anjinho dos céus, a maior das galantezas. O rosto parecia feito de pétalas de rosa. Os cabelos em cachos pareciam feitos de fios de luz.

— Achei-o caído por aqui —: respondeu a boneca com os olhos irradiantes de gosto. — Deve ser um pobre anjinho que rolou dalguma nuvem e quebrou a asa. Está desmaiado. Olhe que galanteza! Louro que nem macela, de asas alvas como paina...

A menina ajoelhou-se ao lado da boneca e caiu em contemplação da maravilha. Que encanto de criaturinha! Teve vontade de comê-lo, como quem come um doce cristalizado.

Seu encantamento crescia. Ela olhava, olhava e não cessava de olhar. Depois bateu palmas. Ergueu-se e começou a dar pulos de contentamento.

— Corra! — gritou para o Burro Falante. — Venha ver o assombro dos assombros — um anjinho de asa quebrada...

E para a boneca:

— Imagine, Emília, nós lá no sítio com um ente destes pra brincar! Tia Nastácia sabe quanto remédio existe; há de saber também um bom para asa quebrada — e ele sara e vai voar para nós vermos. Vovó, coitada, juro que desta vez derruba o queixo, quando nos vir chegar com esta galanteza...

Passados alguns instantes o anjinho deu o primeiro sinal de vida, enquanto a menina lhe fazia esfregação pelo corpo. Seus olhos foram se abrindo. Eram azuis como o céu azul. Por fim falou na vozinha mais límpida e sonora.

— Onde estou eu? — foram suas primeiras palavras.

— No meu colo! — respondeu Emília cheíssima de si.

O anjinho olhou para ela sem nada compreender. Nunca tinha visto boneca, e não podia fazer a menor idéia de quem Emília fosse.

— E quem é a senhora? — perguntou em débil voz.

— Eu sou a antiga Marquesa de Rabicó — respondeu Emília toda ganjenta — e agora vou ser a sua mãezinha querida. Esta meninota aqui ao lado é a neta de Dona Benta, Narizinho. E aquele senhor de quatro pés é o único burro falante que existe lá na Terra. Nós o salvamos das garras dum leão terrível numa das nossas aventuras do pirlimpimpim, e o levamos para o sítio. Não tenha medo dele, não, bobinho. É muitíssimo bem-educado, incapaz de dar um coice numa mosca. Nossa história é essa. Agora conte-nos a sua.

Depois de olhar muito assustado para a menina e o burro, o anjinho falou. Explicou que andava de passeio pelo éter quando ouviu um tremendo estrondo (o choque dos dois cometas). O seu susto foi enorme, porque jamais tinha ouvido um trovão assim. O estrondo fê-lo perder o equilíbrio do vôo e cair desmaiado. Na queda havia batido em qualquer coisa dura no espaço e estava agora sentindo uma dor na asa esquerda.

— Que engraçado! — exclamou Emília. — O mesmo nos aconteceu, com a diferença que não nos machucamos e não quebramos a asa. Às vezes é bom não ter asas.

Só então o anjinho percebeu que tinha a asa esquerda quebrada. Quis erguê-la, como erguia a direita, e não pôde. Isso fez que ele se pusesse a chorar um chorinho muito sentido.

— Que vai ser de mim? — murmurou soluçando. — Com uma asa só não posso voltar para minha nuvem, lá onde moram meus irmãos celestes...

— Melhor! — disse Emília. — Irá morar conosco lá no sítio de Dona Benta, que é o lugar mais bonito dos mundos. Temos uma porção de árvores no pomar, e um rio cheio de peixes, e a Vaca Mocha, e os bolinhos de Tia Nastácia. E eu tenho uma canastrinha que até dou para você.

O anjinho nunca tinha visto árvore, nem rio, nem vaca, nem bolos, de modo que nada entendeu de tudo aquilo. Começou a fazer perguntas e mais perguntas, que ora Emília respondia, ora Narizinho. O que mais lhe interessou foi a Vaca Mocha, cuja descrição, feita pela boneca, era mesmo de despertar a curiosidade de todos os anjos do céu.

— Mas esse estranho animal não come gente? — perguntou ele muito admirado.

— Só come capim e palha — respondeu Emília. — E também abóbora, batata, milho e outras coisas assim.

— Capim? Que é capim? — indagou a galanteza com uma ruga de interrogação na testa.

Emília olhou para Narizinho e sorriu. Depois respondeu:

— Não vale a pena explicar. Essas coisas lá da Terra são facílimas de ser compreendidas, vendo. Assim de longe, só explicadas e sem amostras, não podem ser entendidas. Lá na Terra mostrarei o que é capim, o que é milho, o que é flor, o que é árvore, o que é tudo. Não tenha pressa.

— E lá nesse sítio a gente pode voar? — perguntou ele. — Eu gosto muito de voar.

— Pode, como não? — respondeu Emília. — Os patos de lá voam, os gaviões, os marrecos e até as galinhas-d’angola. Os passarinhos todos voam. O tempo voa. As borboletas, as abelhas, as içás — tudo voa que é uma beleza!...

— São anjos também, esses patos, gaviões e galinhas-d’angola?

Emília não pôde conter uma gargalhada gostosa — e voltando-se para Narizinho disse na “linguagem do P”, para que o anjo não percebesse: “Épé mapaispis bupurripinhopo dopo quepe opo Primpimcipipepe Espescapamapadopo”. (É mais burrinho do que o Príncipe Escamado.) E depois, para o anjinho:

— Não são anjos, não, meu amor. Os anjos que há lá são só os de procissão, isto é, crianças com asas de pato nas costas. Fingimento. E há também os “anjinhos” defuntos. As crianças que morrem viram “anjinhos” — mas em vez de voar, vão para os cemitérios em caixões cheios de flores. Anjo de verdade, dos “legímacos”, você vai ser o primeiro.

Outra vez o tal “legímaco”!

— E nunca mais poderei voltar para o céu com os meus irmãos? — perguntou o anjinho depois de refletir uns instantes.

— Poderá, sim, mas duvido que volte. É tão interessante a Terra, toda cheia de homens e mulheres e bichos e plantas, que anjo que cai lá nunca mais pensa em sair.

Nisto Emília bateu na testa e disse: “Não é que me ia esquecendo!” — e tirou do bolso do avental o célebre embrulhinho em papel de seda que lá guardara no dia da partida — o misterioso embrulhinho que não quis explicar a ninguém o que era. Enquanto a boneca desfazia o embrulho, a menina espichou o pescoço para ver do que se tratava. Uma bala puxa-puxa!

— Tome este presente que eu trouxe da Terra para você — disse Emília oferecendo a bala ao anjinho. — Desconfiei que ia encontrar por aqui alguém que merecesse uma bala e por prevenção vim com esta no bolso. Tome.

O anjinho tomou a bala com ar de quem nunca tinha visto semelhante coisa. Examinou-a por algum tempo; depois olhou para a boneca e para a menina como que pedindo mais explicações.

— É sua, bobinho! — disse Emília. — Ponha na boca e prove. Não tenha medo.

O anjinho obedeceu. Pôs a bala na boca e sem demora fez cara de estar gostando.

— É bom, sim! — disse ele. — Há muitas coisas gostosas como esta lá no sítio?

— Montes! — respondeu Emília. — Tia Nastácia faz desses doces (isso chama-se “doce”, decore) em quantidade, e de todas as cores e gostos. Há um amarelo, chamado “doce de abóbora”, que é muito bom. Há um roxo chamado “doce de batata”. Há as “cocadas”, que são branquinhas como a neve. Também há cocadas cor-de-rosa, com as quais eu me implico. Gosto só das brancas. Lá em casa você vai ter tudo isto até enjoar e ficar com dor de barriga e lombrigas. Ah, a nossa vida no sítio é uma beleza de suco...

Tão entretidas ficaram as duas na conversa com o anjinho, que se esqueceram de lamentar a sorte do “Senhor Pedro Encerrabodes”, perdido na imensidão do éter. Felizmente Pedrinho não se esquecera delas e, de repente, apontou ao longe.

— Olhem Pedrinho! — berrou Emília que foi a primeira a vê-lo. — Lá está ele, mais serelepe do que nunca...

Que alegria! Nunca a chegada dum personagem foi recebida com tantas demonstrações de contentamento.

— Pedrinho! Pedrinho!... Conte, conte tudo que aconteceu depois do tombo da lira.

— Nada de importante — respondeu o menino. — Também caí neste cometa, como vocês. Caí e perdi os sentidos, ficando desacordado até agora. Afinal voltei a mim. Olhei em redor: só vi este infinito campo luminoso, que logo adivinhei ser a cauda do cometa de Halley.

— Como sabe que é o cometa de Halley? — duvidou a menina, um tanto desconfiada de tanta ciência.

— Pelo jeito — respondeu Pedrinho — e tratou de mudar de assunto. — Logo que voltei a mim olhei para todos os lados. Não vi coisa nenhuma senão esta poeira luminosa. Pus-me a andar, sempre na mesma direção, com esperança de descobrir qualquer coisa. Tive sorte. Vim ter exatamente ao ponto onde vocês estavam. A primeira pessoa que avistei de longe foi o Burro Falante, coitado. Mas... — e Pedrinho interrompeu a narrativa, só então percebendo aquela criança no colo de Emília. — Que é isso? Parece um anjinho...

— E é de fato um anjo — respondeu a menina. — Um anjinho dos legítimos, que Emília achou por aqui. De asa quebrada — tombou lá das nuvens. Na queda bateu em qualquer coisa dura pelo caminho. Vai morar conosco no sítio. Imagine que lindeza...

Em vez de responder, Pedrinho pôs-se a dar pulos de contentamento. Ter um anjo no sítio era coisa que jamais havia passado pela sua imaginação.

— Que beleza, Narizinho! — exclamou ele depois de sossegar. — Até Peter Pan vai roer-se de inveja. Um anjinho de verdade na Terra é coisa que nunca houve desde que a Terra é Terra.

O Burro Falante, com as orelhas caídas e os olhos úmidos, contemplava enternecidamente aquele maravilhoso quadro.
____________
Continua … XVII – Saturno
–––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

sábado, 6 de agosto de 2011

Lúcia Constantino (Quem Te Olhou nos Olhos)


Quem Te olhou nos Olhos,
ouviu a canção das nuvens,
executada nas cordas solares.
E viu os lírios do coração se abrirem.
E naquele momento, sentiu
os justos se perderem de suas angústias
e as astúcias dos pensamentos
se converterem em serenos faróis.

Decifrou ele, em Teu Olhar,
os veios profundos
que no infinito desenham as estrelas,
teto de um mundo
que ainda vale a pena,
quando há no Ser o sonho
de reencontrar o verdadeiro lar.

Quem Te olhou nos Olhos,
sabia que estava diante do manancial solar,
maestro da lua, do mar
e de todos os vales profundos
onde ainda respiram os náufragos
e os insensatos passos dos absurdos.

Ao fitar Teus Olhos,
com certeza alimentou-se dessa aurora
e vestiu-se de gente pela primeira vez,
estreando a vida,
sentindo-se sagrada e ascendida criatura,
seiva da terra remida.

Aquele que Te fitou os Olhos
fez de si mesmo uma candeia eterna,
consciente de que ao olhar o próprio céu,
humanamente auto-gerou luz à sua hora
e enfim, se reconheceu.

Quem Te olhou nos Olhos
recebeu asas para a caminhada
ao longo dos séculos.

Nasceu.

Fontes:
http://asasonoras.blogspot.com/2011/06/quem-te-olhou-nos-olhos.html
Imagem = http://nitidaneblina.blogspot.com/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 287)

Uma Trova Nacional

Uma Trova Potiguar

Pescaria só tem graça,
Se, lá na ponta do anzol,
vem um litro de cachaça,
limão e carne-de-sol.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada


1998 -Sete Lagoas/MG
Tema: TROPEÇO - 1º Lugar.

A defender eu me apresso
o linguajar puro e rico.
Mineiro não diz “tropeço”:
Se for “da gema”, é “trupico”!
–MARISA DA CONCEIÇÃO PEREIRA/MG–

Uma Trova de Ademar

Se nós somos descendentes
de um homem feito de barro,
na certa somos parentes
de um pote velho, ou de um jarro!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Um pesadelo medonho
que o genro nunca esqueceu:
a sogra surgiu-lhe em sonho
dizendo que não morreu...
–EDMILSON FERREIRA MACEDO/MG–

Simplesmente Poesia

MOTE.
A cachaça é lenitivo...
calmante pro coração!

GLOSA.
Aparenta corrosivo
não prejudica ninguém,
pelo sabor que ela tem
a cachaça é lenitivo...
traz em si o incentivo
para qualquer solução,
foi a maior invenção
caiu do céu como oferta
e agora foi descoberta:
calmante pro coração!
–AUGUSTO MACEDO/RN–

Estrofe do Dia

É comum encontrar homem casado
que só vive implorando a viuvez,
quando perde a mulher não passa um mês
sem ficar novamente apaixonado;
antes mesmo do luto ter passado
vai a tudo que é baile namorar,
compra nova mobília e monta o lar
e na igreja faz novo juramento,
todo mundo acha ruim o casamento
mas ninguém quer morrer sem se casar!
–PALMEIRAS GUIMARÃES/PE–

Soneto do Dia

Azar
–RENATA PACCOLA/SP–

Certo dia, acordei de mau humor –
resquício de uma noite mal dormida.
Peguei o carro, e então fundiu o motor,
Segui para o metrô, enfurecida.

Tentei continuar com minha lida,
mas fiquei presa num elevador.
Neste compartimento sem saída,
passei horas de angústia e terror,

e saí sob o som de bate-estaca.
Depois, no meio de um supermercado,
senti a dor de um burro quando empaca.

Foi aí que vi, quase ao meu lado,
irônicos dizeres numa placa:
“Sorria. Você está sendo filmado!”

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Gilbamar de Oliveira Bezerra (Trovas Esparsas)


PENSAMENTOS EM TROVAS

A MORTE
Não tenho medo da morte,
como temer o que é certo?
Ela é sempre nosso Norte,
vezes longe, vezes perto

A TRISTEZA
Apague toda tristeza
guardada no coração,
pois ela, com certeza,
é venenoso escorpião

O DESTINO
Seja seu próprio destino,
quem faz seu futuro é você,
levando a vida sorrindo,
não haverá muito sofrer

O AMOR
Só ama quem é amado
até mesmo o altruísta
porque o amor despojado
é dar uma de artista

TROVAS DESCONTRAÍDAS

Dói ver uma criança
passando necessidade,
é quando perco a esperança
na nossa humanidade
*
Não deveria sofrer
quem trabalha e envelhece,
pois ele fez por merecer
o descanso que enobrece
*
Não gosto de vagabundo
que dá uma de esperto,
jamais quero ter no mundo
um cara desse por perto
*
Um sorriso feminino
é oceano de sedução,
faz de um homem menino
que se afoga na paixão
*
Sou fragmentos de poesia
num jardim espalhados,
sou restos de fantasia
na tristeza desprezados

TROVAS DO CORAÇÃO

Tantos amores se vão
deixando tristeza no ar,
são coisas do coração
que não se cansa de amar

E nessa árdua jornada
sem pensar no seu sofrer
sai em busca da amada
buscando um novo querer

Se perde a grande paixão
nos reveses da vida,
esse pobre coração
sofre nova despedida

Mas nesse diapasão
vai em frente a procurar
essa perfeita união
pois seu destino é amar

Ah, como sofre o coração
que nunca logra desbravar
essa doce ilusão
de seu amor encontrar

Fonte:
http://gilbamar-poesiasecronicas.blogspot.com/search/label/Trova

Ademar Macedo (O Trovadoresco n. 74 - agosto de 2011)

Ademar Macedo