quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Antonio Brás Constante (Estrangeirismos (os estrangeiros somos nós...)

Em uma antiga tirinha de jornal do personagem “Capitão Douglas”, criado pelo cartunista Laerte, um sargento chegava gritando: “Capitão! Capitão! Descobrimos quem são os inimigos”, “quem são?” O Capitão perguntava, e o sargento lhe respondia: “Os inimigos somos nós”.

Quando eu vejo uma lei como esta sobre a proibição de termos estrangeiros lembro da tirinha, e falo para mim mesmo (eu converso muito comigo mesmo) enquanto tomamos café (eu e eu, ou seja, nós), afinal seriam os estrangeirismos tão pérfidos a ponto de ser necessário criarmos leis para proibi-los? Vamos proibir apenas o uso dos termos em inglês? Mas, o que exatamente pode ser considerado como algo nacionalmente puro?

 Talvez devêssemos levar essa proibição ao extremo, elevando-a também para música, literatura, gastronomia, etc. Ou seja, nada de feijoada, que apesar de dizerem que é tipicamente brasileira tem a maioria de seus ingredientes (senão todos) vindos de fora, os porcos, por exemplo, de acordo com as lendas e com a Wikipédia, só chegaram ao Brasil em 1532. Nada de pão francês (ou qualquer outro tipo de pão), nada de macarrão, ou de lasanha, vamos comer apenas comidas oriundas do Brasil, em um cardápio basicamente constituído de alguns tipos de peixes, frutas, raízes e insetos. Provavelmente teremos que trocar a carne de gado pela de capivara, mas vai ser um sacrifício pelo bem maior da nação.

Nada de futebol ou outros esportes importados. Adotaríamos a peteca como esporte nacional (e talvez o jogo de taco), promovendo até campeonatos mundiais de peteca. O futsal seria rechaçado pela sua similaridade com o futebol de campo que foi introduzido no Brasil através dos ingleses. Até as religiões em sua totalidade seriam proibidas.

As músicas que contivessem qualquer termo de origem estrangeira seriam proibidas, e para provar que a lei estaria sendo severamente cumprida, seriam incluídas inclusive as expressões que viessem do latim, grego ou qualquer outra língua que não fosse nativa. Provavelmente acabariam criando e gastando milhões em um referendo para confirmar com a população se o próprio português seria autorizado, ou se teríamos que reaprender os antigos dialetos indígenas. Todas essas regras valeriam também para literatura.

O vestuário seria outra peça a sofrer reprimendas, e salvo a tanguinha feita de folhas e alguns tipos de peles, todo resto do vestuário seria sumariamente proibido. Passaríamos então a andar tão pelados quanto as nossas contas bancárias. Acho que seria interessante proibir também qualquer tipo de ferramenta, equipamento ou medicamente que não fosse genuinamente nacional. Inclusive pesquisas, descobertas, obras de arte e demais colaborações feitas por pessoas de outras etnias que vivessem aqui seriam vetadas por não serem de brasileiros legítimos (aliás, após exames de DNA descobririam que nenhum brasileiro é biologicamente legitimo, por temos nosso sangue mesclado ao de vários outros povos do mundo).

Utilizar veículos como carros e motos? Nem pensar. Aliás, nem sequer carroças puxadas por cavalos poderiam ser permitidas, já que não existiam cavalos por aqui antes do descobrimento, e o uso desses animais estrangeiros não seria aceito.

Enfim, com tanta coisa importante para se preocupar e gastar o seu tempo onerosamente caro, poderiam parar de desperdiçar energia com besteiras. Aliás, perder tempo com leis esdrúxulas é que deveria ser sumariamente proibido.

Vereda da Poesia = 83 =


Trova de Santos/SP

ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA

Deus - escreve em linhas tortas...
As nossas vidas por certo -
sem jamais, fechar as portas...
Quando o amor está por perto!!!
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Poema da Suiça

ROBERT WALSER
Bienna (1879 – 1956) Herisau

Estrela D'Alva

Abro a janela,
uma luz opaca matinal perdura.
Já parou de nevar,
a grande estrela está no seu lugar.

A estrela, a estrela
como é maravilhosa!
O horizonte está branco de neve,
brancos de neve estão todos os cumes.

Fresca e sagrada
a quietude matinal no mundo.
Cada voz ressoa clara,
os telhados brilham como carteiras de escola.

Tão silencioso e branco:
um deserto enorme e magnífico,
cuja fria quietude torna inútil
qualquer pensamento. Dentro de mim tudo arde.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

JERÔNIMO GUIMARÃES 
(???? – 1897)

Até nas flores se encontra
a diferença da sorte:
umas enfeitam a vida,
outras enfeitam a morte!
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Soneto de Nova Friburgo/RJ

ELISABETH SOUZA CRUZ

Amor de Extremos
 
O nosso Amor é um mar cheio de extremos…
Mar perigoso de navegação…
Às vezes… temo e abandonar os remos
parece a diretriz… a solução.
 
Eu me amedronto, mas, ante o que temos,
dou meia volta… vejo a salvação
nos tempos de prazer… tantos… supremos,
e eu sigo em frente, atrás dessa emoção…
 
O nosso Amor é uma cumplicidade…
é todo feito de diversidade….
é guerra… é fogo… é paz… é rebeldia…
 
É plantação… estio com fartura,
é sensatez vestida de loucura…
É breu… é noite… é Sol de meia dia!!!
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Trova Premiada em Brumadinho/MG, 2004

WANDA DE PAULA MOURTHÉ 
Belo Horizonte/MG

Teu amor, sonho distante,
porque és pedra lapidada,
mais brilhante que o brilhante
e eu, pedra bruta... mais nada!...
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Poema de Recife/PE

MARIA LAURA ANDRADE LIMEIRA

Inquietude

Passeio nas ruas, atravesso avenidas
Dobro esquinas, caminho nas calçadas
O tempo claro tornou-se escuro
E a chuva miúda vai espalhando
Um cheiro agradável de terra molhada...

O tempo nublado e a melancolia
Faz-me sentir triste, vazia...
Na rua, o barulho é tremendo!
Caminho apressada, com medo de tudo
Tomo um café na esquina
Arrumo o casaco, e sigo em frente...

Entro na loja e te busco entre aromas
Colônias, sabonetes, loções...
Volto para casa, escrevo um poema
Escuto aquela nossa música
Você está tão longe...

Escuto o telefone, quem dera fosse você...
Abro a caixa dos correios e não há nada lá
Tomo um banho, coloco o nosso perfume
Entro no quarto e deito-me à relaxar
Mas tua foto sorri na cabeceira da cama
Deixando-me nervosa a me desequilibrar...

A noite adentrou na madrugada
E a cidade lá fora continua nublada
Há muito a saudade só atormenta
Roubando-me a paz, deixando-me insone
Fazendo-me zanzar para lá e para cá
Deixando-me inquieta pelos cantos da casa
Nos recantos que há...
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Trova Popular

Quem me dera ser a seda,
depois da seda o cetim,
para andar de mão em mão,
as moças pegando em mim!
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Soneto de Belo Horizonte/MG

SÍLVIA ARAÚJO MOTTA

Saudades do amigo violão seresteiro

O violão me chama todo dia!
É meu AMIGO, quer meu forte abraço;
dou-lhe meu colo e a boca, quem diria:
para deitar, primeiro dou meu braço.

Passo-lhe as mãos no corpo...Que alegria!
Para agradar-lhe quase tudo faço...
Testar tarraxa, bem baixo, é mania!
Em cada corda tiro o tom, compasso...

Bem baixinho, pra nós dois são cantados
boleros, fados, valsas,  rock, canções!
Apaixonados pelos sons mostrados...

Olhos nos olhos, frente à frente vemos
composições famosas, que em lições
nos dão prazer que a vida toda temos.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Alguns irmãos trovadores,
que se dizem tão... irmãos,
possuem tantos rancores,
que nem sequer dão as mãos.
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Poema de Santo Antonio do Monte/MG

CARLOS LÚCIO GONTIJO

Reza

Abre-me os espaços, Senhor
No compasso das estrelas
Ilumina-me passos e janelas
Com velas e facho de sol
Mergulha-me em riacho limpo
Traze-me do "olimpo" caravelas cheias
Espanta-me as sentinelas da fome
Que consome o olhar da minha gente!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Se põe pijama listrado,
de "zebra" a mulher o chama...
E alguém explica ao coitado:
"Zebra...é um burro de pijama"!
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Soneto do Rio de Janeiro

VINÍCIUS DE MORAES
(Marcus Vinicius da Cruz de Melo Moraes)
(1913 – 1980)

Soneto de Devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Enveredar por atalhos
sem metas para chegar
divide a vida em retalhos
difíceis de se emendar…
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Spina de Contagem/MG

ZEZÉ DE DEUS

Fez-se de surdo

Crédito não lhe
davam, era tido
como um sonhador.

Jamais deu ouvidos a falas
contrárias; sempre firme nos seus
ideais, seguiu com bastante fervor.
Ao final comemorou, conquistou a
coroa, sorriu; venceu todo torpor.
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Este teu jeito de olhar...
intenso e tão penetrante,
quando começa a brilhar,
ofusca até diamante!
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Soneto de Santos/SP

VICENTE DE CARVALHO 
(Vicente Augusto de Carvalho)
(1866 – 1924)

Soneto da Defensiva

Enganei-me supondo que, de altiva,
Desdenhosa, tu vias sem receio
Desabrochar de um simples galanteio
A agreste flor desta paixão tão viva.

Era segredo teu? Adivinhei-o;
Hoje sei tudo: alerta, em defensiva,
O coração que eu tento e se me esquiva
Treme, treme de susto no teu seio.

Errou quem disse que as paixões são cegas;
Veem... Deixam-se ver... Debalde insistes;
Que mais defendes, se tu' alma entregas?

Bem vejo (vejo-o nos teus olhos tristes)
Que tu, negando o amor que em vão me negas,
Mais a ti mesma do que a mim resistes.
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Trova Premiada em Blumenau/SC, 2016

CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP

A vida enigma estupendo,
com amor, comédia e drama,
com cuidados vai tecendo
uma fantástica trama.
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Poema de Barbacena/MG

ANUAR FARES

Canto Festivo ao Amor Novo 

Nasceram palavras novas para o amor novo.
Nasceram ternuras novas para o amor novo.
Outros gestos surgiram
E morreram todas as saudades.
Nada houve antes dele e nada haverá depois.
Meus nervos hoje despertaram
E não mais irão adormecer.
Quando houver dias tristes e eu não os verei.
Quando houver dias alegres eu os sentirei melhor.
Todas as noites serão propícias.

Aleluia, porque chegou o grande dia do meu amor novo!
Serei panteísta.
Saberei cantar cousas festivas.
Serei simples e bom como S. Francisco.
Então os pássaros me entenderão.
Os meninos se acercarão de mim:
- A benção, poeta.
- Deus vos abençoe, crianças lindas.

Aleluia!
Hoje é o dia do meu amor novo.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Cuidemos, irmãos, da imagem; 
sem exagero, contudo. 
– Muito mais do que a embalagem, 
o que conta é o conteúdo.
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Sextilha de São Simão/SP

THALMA TAVARES

Vou vivendo feliz e bem contente
porque Deus me deu mais do que mereço;
deu-me a lira e a pena do poeta
que é um prêmio dos céus e de alto preço,
pois com ele eu transformo cada dia
num feliz e profícuo recomeço.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Mesmo descendo a montanha,
não temo abismos do mundo;
- quando a Fé nos acompanha,
pode haver flores no fundo!
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Hino de Araucária/PR

Araucária, Araucária
És a terra mais linda que há
Araucária, Araucária
Cidade símbolo do Paraná

Vem de longe o teu nome pioneiro
Teu passado remoto e feliz
Tens a fama do altivo pinheiro
Fostes chão dos briosos tinguis

Araucária, Araucária
És a terra mais linda que há
Araucária, Araucária
Cidade símbolo do Paraná

Vem de longe romântica era
A tua história tão plácida enfim
És aquela gentil Tindiquera
Para nós que te amamos jardim

Araucária, Araucária
És a terra mais linda que há
Araucária, Araucária
Cidade símbolo do Paraná

Ainda ontem num sonho fecundo
Pura e simples quanto hoje ainda és
Mais desperta pras lutas do mundo
Sobre a argila que dorme aos teus pés

Araucária, Araucária
És a terra mais linda que há
Araucária, Araucária
Cidade símbolo do Paraná

Sim despertas de um plácido sonho
Tuas culturas tem viço e frescor
Sob o braço do altivo colono
Hoje cantas um hino ao labor

Araucária, Araucária
És a terra mais linda que há
Araucária, Araucária
Cidade símbolo do Paraná

Sim despertas valente operária
Sempre moça e mais linda só tu
Que o progresso te chame Araucária
Nos murmúrios do manso Iguaçu

Araucária, Araucária
És a terra mais linda que há
Araucária, Araucária
Cidade símbolo do Paraná
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Trova Hispânica Premiada

RAFAEL RAMOS NÁPOLES
Cortada del Guayabo/ Venezuela

Es siempre el mejor amigo
el can que duerme a mi lado,
y pongo a Dios por testigo*
porque nunca me ha dejado.
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*testigo = testemunha
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Poema de São José do Rio Campestre/RN

GRAÇA GRAÚNA
(Maria das Graças Ferreira)

Escritura ferida
(à Florbela Espanca)

Atiram mil pedras
na charneca em flor.

Ossos do ofício:
no mais fundo do poço
retirar o poema
encharcado de mágoas.
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Trova de Pindamonhangaba/SP
 
JOSÉ VALDEZ CASTRO MOURA

Hoje, mágoas deploradas,
que me fizeram sofrer,
são páginas descartadas
do livro do meu viver…
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A lebre e as rãs

Muito alapada, cismando,
Deixou-se a lebre ficar.
Quem vive só numa toca
Por força que há de cismar.

Ralava-a susto e tristeza,
Por isso entre si dizia:
«Quem veio ao mundo com medo
Não tem hora de alegria.

Nada me luz nem me sabe,
Meus passos vagam incertos,
E sou tal que, até dormindo,
Durmo com os olhos abertos!

É ter emenda! — convenho;
Mas quem é que a pode dar?
Neste ponto há de haver homens
Que me estejam muito ao par.»

Assim ponderava a lebre,
De olho vivo e orelha fita.
Se uma sombra ondula, treme,
Qualquer murmurinho a agita.

Eis que ouvindo um rumor leve,
Ao covil corre açodada.
No caminho havia um brejo
Onde as rãs tinham morada.

Estas mergulham de chofre,
Nas lapas buscando abrigo.
«Pois também eu causo medo,
Trazendo-o sempre comigo?

Pus o campo em debandada,
Em volta paira o terror!...
Não há poltrão neste mundo
Que não ache outro maior!»

O texto literário em Preto e Branco (“O homem do saco”, de Renato Frata)

Texto publicado neste blog, em 03 de agosto de 2024, no link

"O Homem do Saco", de Renato Frata, é uma narrativa que explora o medo infantil e as lições que a vida nos ensina.

TEMAS PRINCIPAIS
Medo e Inocência Infantil:
A figura do "homem do saco" simboliza os medos irracionais da infância, amplificados pelas histórias contadas pelos pais.

O pavor do protagonista é palpável e se reflete nas suas reações físicas, como o tremor e a vontade de se esconder.

Proteção Materna:
A mãe é uma figura central, que tenta proteger o filho do medo. Sua atitude, ao alimentar o homem, mostra uma complexidade na relação entre amor e proteção.

A dualidade entre o medo e o carinho maternal é um ponto crucial; a mãe ensina através da experiência, mesmo que essa experiência envolva dor.

Aprendizado e Crescimento:
A frase final destaca a lição aprendida: a dor pode ser um professor quando o amor não é suficiente.

O protagonista, ao final, reconhece a importância de entender e enfrentar seus medos.

Estrutura Narrativa
Introdução: A história começa com a descrição do "homem do saco", estabelecendo o clima de tensão e medo logo de início.

Desenvolvimento: O encontro com o homem intensifica o medo, levando a reações emocionais e físicas do protagonista. A narrativa é rica em detalhes sensoriais, que tornam o medo quase palpável.

Clímax: O momento em que o homem entra na casa e interage com o protagonista é o ponto alto, onde o medo se transforma em uma experiência real.

Conclusão: A lição final é uma reflexão sobre a maneira como o medo pode ensinar, criando um fechamento que ressoa com a experiência da infância.

ABORDAGENS
A interação com o homem pode afetar como o protagonista se relaciona com outros personagens, como amigos e familiares, e como ele lida com seus próprios medos no futuro.

A jornada do protagonista pode incluir pequenos momentos de bravura, onde ele tenta enfrentar seus medos, mesmo que de forma tímida.

O medo pode ser tanto um protetor quanto um limitador. Enquanto protege a criança de perigos, também a impede de explorar o mundo.

A figura da mãe representa a autoridade, mas também a vulnerabilidade. Isso pode levar a uma reflexão sobre como as crianças percebem as regras e as consequências.

O dilema entre obedecer e explorar pode ser um tema central, refletindo a tensão entre liberdade e segurança.

REFLEXÕES FINAIS

"O Homem do Saco" não é apenas uma história sobre medo; é uma reflexão profunda sobre crescimento, aprendizado e a complexidade das relações humanas. A narrativa de Renato Frata é uma rica exploração dos medos da infância e das lições que eles nos ensinam. Através de uma linguagem vívida e emocional, a história capta a essência do crescimento humano, mostrando que, muitas vezes, é preciso enfrentar nossos medos para aprender e crescer.

Fonte: Análise por José Feldman. Open IA .

Recordando Velhas Canções (Fica comigo esta noite)


Compositor: Adelino Moreira / Nelson Gonçalves

Fica comigo esta noite
E não te arrependerás.
Lá fora o frio é um açoite;
Calor aqui tu terás.

Terás meus beijos de amor,
Minhas carícias terás;
Fica comigo esta noite
E não te arrependerás.

Quero em teus braços, querida,
Adormecer e sonhar;
Esquecer que nos deixamos
Sem nos querermos deixar...

Tu ouvirás o que eu digo;
Eu ouvirei o que dizes.
Fica comigo esta noite
E então seremos felizes.
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A Súplica Romântica de Nelson Gonçalves
A música "Fica Comigo Esta Noite", interpretada pelo icônico Nelson Gonçalves, é uma verdadeira ode ao amor e ao desejo de companhia. A letra é um convite apaixonado, uma súplica para que a amada permaneça ao lado do eu lírico durante a noite, prometendo calor e afeto em contraste com o frio que assola o exterior. A canção é marcada por uma atmosfera de intimidade e cumplicidade, sugerindo que a presença da amada é o único remédio para uma noite que seria, de outra forma, solitária e fria.

O refrão, repetido ao longo da música, reforça a promessa de que a amada não se arrependerá se aceitar o convite. O calor humano, as carícias e os beijos de amor são apresentados como garantias de uma noite de felicidade e conforto emocional. A música também toca na ideia de um amor que, apesar das circunstâncias que levaram ao afastamento do casal, permanece vivo e ardente, revelando o desejo de esquecer as mágoas e se entregar ao momento de paixão.

Nelson Gonçalves, conhecido por sua voz marcante e interpretações cheias de emoção, consegue transmitir a intensidade do sentimento do eu lírico. A música se torna um clássico do gênero romântico, refletindo a época em que foi lançada, quando as canções eram carregadas de sentimentos e melodias que falavam diretamente ao coração. "Fica Comigo Esta Noite" é um convite à reconciliação e ao reencontro, onde a música serve como ponte para a expressão dos sentimentos mais profundos.

Além de intérprete principal de Adelino Moreira, Nelson Gonçalves (foto) é seu parceiro em mais de vinte composições, entre as quais se destacam especialmente “Êxtase” e “Fica Comigo Esta Noite”: “Fica comigo esta noite / que não te arrependerás / lá fora o frio é um açoite / calor aqui tu terás...”.

Bem adequada ao estilo do cantor, com as frases iniciais explorando os graves de seu vozeirão, este samba-canção bisou em 61 o mega-sucesso de “Negue”, do inesgotável Adelino, no ano anterior.

Tema musical e título de um filme erótico, “Fica Comigo Esta Noite” é geralmente cantado como bolero, adaptando-se até melhor a esse ritmo.
Fontes:

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Varal de Trovas n. 608

 

Sílvio Romero (O irmão caçula)


(Folclore do Pernambuco)

Havia um homem que tinha três filhos: João o mais velho, o outro Manoel e o caçula José. 

Todos eles se revoltaram contra o pai. Fugiram João e Manoel e ficou José. 

O pai o botou à procura dos irmãos. José ganhou o mundo e foi ter à casa de uma velha, que lhe disse: “Meu netinho, você o que anda fazendo por estas alturas?” 

— “Minha avó”, respondeu ele, “venho buscar meus irmãos que fugiram de casa de meu pai e ele quer que eu os descubra.” 

— “Pois dorme, meu netinho, que eu os farei te acompanhar.” 

No outro dia a velha, depois de lhe dar de comer, disse que ele fosse ao Reino das Três Pombas, onde encontraria os dois irmãos, porque havia ali uma grande festa para se tirar por sorte quem devia desencantar as três pombas, que estão dentro do mar. “Leva”, disse a velha, “esta vara e esta esponja com muito cuidado para que ninguém veja, porque teus irmãos te hão de caluniar ao rei, dizendo que tu te gabaste de ir ao fundo do mar quebrar a pedra e desencantar as três princesas. O rei te há de chamar, e tu deves sustentar que sim. Vai então à praia do mar e atira nele a esponja, a esponja há de boiar e a seguir, tu deves acompanhá-la; vai com a varinha e toca na pedra, que se partirá pelo meio, há de te aparecer uma serpente, toca com a varinha nela e ela há de adormecer; entra pela pedra adentro e tira de lá uma caixa, toca com a vara na caixa que há de se abrir, tira de dentro um ovo, este ovo tem três gemas, quando o quebrares dá a clara à serpente.” 

José foi e fez tudo quanto a velha lhe ensinou. Chegando ao reino viu lá a grande festa: por estar mal pronto os irmãos fingiram que o não conheciam, e trataram de intrigá-lo, dizendo ao rei que ele se atrevia a desencantar as princesas. O rei o mandou chamar e lhe perguntou. 

“Saberá, rei, meu senhor, que eu não disse tal, mas se o rei, meu senhor, assim o ordena, eu estou pronto.” 

Todos ficaram admirados e duvidavam. No outro dia apresentou-se ele para seguir, e o rei mandou pôr navios à sua disposição. Ele disse que não os precisava, porque iria a nado. Todos acharam impossível ir nadando até à pedra. Mas o José largou no mar a esponja e seguiu com ela até a pedra. Bateu nela com a varinha e ela se abriu, apareceu a serpente, bateu também nela e ela adormeceu. Bateu na caixa e ela se abriu, tirou o ovo e partiu, botou a clara na boca da serpente e as três gemas no chapéu e largou-se para trás. Chegando na praia bateu com a varinha nas três gemas, que se transformaram nas três moças mais bonitas do mundo. 

Chegando a palácio todos se admiraram da sua coragem. Ainda lhe levantaram os irmãos nova cal[unia, dizendo que o José tinha dito que era capaz de ir buscar no mar a própria serpente. Ele foi, fez o mesmo com a esponja e a varinha e trouxe a serpente. Como ainda quisessem mangar com ele, tocou com a vara em todos a começar pelo próprio rei, e os fez adormecer.

Mandou então agarrar os irmãos e levá-los a seu pai. 

O rei, quando voltou a si, mandou casar o José com a mais bonita das princesas. Ele tocou com a vara em todos os presentes e os fez adormecer. Mandou buscar o pai e os irmãos, casou estes com as outras duas princesas, e ficaram todos vivendo juntos.

Fonte: Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Publicado originalmente em 1885. Disponível em Domínio Público.