segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 155 =


Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

Ao reler os teus escritos
grafados com teu carinho,
superei dias aflitos,
jamais estive sozinho.
= = = = = =

Folclore Português em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Adamastor

Nos mares bravios, um gigante a clamar,
Adamastor, sombra de um passado a surgir,
com voz de tempestade e olhar de luar,
aos navegantes, seu destino a cingir.

Guardião das ondas, das rotas a zelar,
em cada naufrágio, um lamento soando,
seu corpo é a tempestade, seu ser é o azar,
e em cada história, um aviso deixando.

Mas sob a fúria, há dor que se oculta,
um amor perdido, uma vida em tumulto,
e na imensidão, sua tristeza a fluir.

Adamastor, lenda que nunca se exulta,
um eco profundo que procura indulto,
nas brumas do mar eternamente a existir.
= = = = = = 

Trova de
MYRTHES MASIERO
São José dos Campos/SP

Eu vivo na corda bamba
tentando me equilibrar,
mas sem ter você, caramba:
nem consigo me encontrar.
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

Silêncio

Quando eu pensei que tudo estava certo...
eis que você, na calma de serpente,
virou meu mundo assim tão de repente
numa miragem plena de um deserto.

Meu pensamento sóbrio, tão presente,
não alertou-me como estava perto
um coração fechado... e bem aberto
à pequenez de um sopro tão latente!

Me refazendo aos poucos, fui olhando
nas passarelas de um mundo nefando
desfiles frágeis, quem olha e não vê.

Hoje agradeço sua insensatez
silenciando o vazio de vez
feliz por mim e triste por você!
= = = = = = 

Trova Premiada no Rio de Janeiro de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Não temas portas fechadas,
nem mesmo fracassos temas,
há sempre forças guardadas
para as conquistas supremas.
= = = = = = 

Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

A meu irmão Guilherme de Castro Alves

Na Cordilheira altíssima dos Andes
Os Chimborazos solitários, grandes
Ardem naquelas hibernais regiões.
Ruge embalde e fumega a solfatera...
É dos lábios sangrentos da cratera
Que a avalanche vacila aos furacões.
A escória rubra com os geleiros brancos
Misturados resvalam pelo francos
Dos ombros friorentos do vulcão...

Assim, Poeta, é tua vida imensa,
Cerca-te o gelo, a morte, a indiferença...
E são larvas lá dentro o coração.
= = = = = = 

Quadra Popular

Menina de olhos de fada,
me dê água pra beber;
não é sede, não é nada,
é vontade de te ver.
= = = = = = 

Soneto de
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ

Verdes mares

    Clama uma voz amiga: — "Aí tem o Ceará."
    E eu, que nas ondas punha a vista deslumbrada,
    Olho a cidade. Ao sol chispa a areia doirada.
    A bordo a faina avulta e toda a gente já

    Desce. Uma moça ri, quebrando o panamá.
    "— Perdi a mala!" um diz de cara acabrunhada
    Sobre as águas, arfando, uma breve jangada
    Passa. Tão frágil! Deus a leve, onde ela vá.

    Esmalta ao fundo a costa a verdura de um parque.
    E enquanto a grita aumenta em berros e assobios
    Rudes, na confusão brutal do desembarque:

    Fitando a vastidão magnífica do mar,
    Que ressalta e reluz: — "Verdes mares bravios..."
    Cita um sujeito que jamais leu Alencar.
= = = = = = 

Trova de
CESÍDIO AMBROGGI
Natividade da Serra/SP (1893 — 1974) Taubaté/SP

Há nos velhos corações
uma fonte -  a da saudade,
que reaviva as emoções
vividas na mocidade.
= = = = = = 

Poema de
HANS MAGNUS ENZENSBERGER 
Alemanha (1929 – 2022)

Para um Livro de Leituras Escolares

Não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exatos. Desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
O dia vem vindo em que hão de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo no peito os que digam
não. Aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu:
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara.
Treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga cotidiana, úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos, a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por
aqueles que aprenderam muito
e são meticulosos por ti.

(Tradução: Jorge de Sena)
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Trova de
LÚCIA LOBO FADIGAS
Rio de Janeiro/RJ

Ouço harmonias nas águas;
ouço acordes no tufão;
mas na avalanche das mágoas
nem ouço o meu coração!...
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Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

Canção navegante

Compus uma canção, lancei ao mar!
Pedi-lhe humildemente que a levasse!
E em caso de procela a amparasse,
Para nenhuma estrofe se afundar!

Às estrelas pedi para a guiar,
Ao luar que o seu rumo iluminasse.
A Netuno roguei, que não deixasse,
De a um porto seguro a acompanhar!

Eu sei que alguém espera esta canção.
Terá seu peito arfando de emoção,
Pra ouvir a melodia, e seu cantar!

Meus versos, um a um recolherá!
Seu peito generoso se abrirá,
Para nele a canção se aboletar!
= = = = = = 

Trova de
PROF. GARCIA
Caicó/RN

A liberdade do poeta,
está num verso... Num grito...
No equilíbrio se completa,
vencendo o próprio infinito!
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Soneto de 
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Irreversão

Da terra brota a flor cada estação,
haurindo a seiva fértil do existir,
Nutrindo-se de vida, o coração
da planta vibra, em cores a expandir.

Um dia... o ar sombrio, a acridão
da quadra estéril, triste, que há de vir,
desnuda o solo, onde, em contradição,
terá lugar a ausência do florir.

A estação das flores retornando,
cor de esperança a terra se enfeitando,
a haste ostentará de novo a flor.

Murcha no peito a rosa da ilusão,
a seiva não renova, e o coração
passa, infecundo, à estação da dor.
= = = = = = 

Trova de
ELISABETE AGUIAR
Mangualde/ Portugal

Por sobre as águas do mar,
ou sobre as terras da Terra,
um avião vem lançar
bombas de Amor contra a guerra.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Primavera 

Invernos chuvosos saem
levando apenas saudade, 
deixando ilusões serenas.

São brisas amenas que valsam
no jardim intenso da primavera,
um beijo nas pétalas pequenas.
Os vestígios carmins das rosas
serão versos das futuras cenas.
= = = = = = 

Trova de 
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE

O rostinho amarelado
encostado ao mostruário
cobiçava o tão sonhado
presente. Triste cenário!
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Por quê?

Não sei por que é que Deus me fez assim
completamente tolo e apaixonado,
que só para ficar sempre ao seu lado,
acabo me esquecendo até de mim!

Pois desde que você me deu seu sim
e eu confiei que foi um sim pensado,
não permiti jamais que houvesse um fim
em nosso amor tão meigo e desejado!

Você é meu sonho todo santo dia!
E o dia todo desde o amanhecer...
E logo após também, quando adormeço!

E nestes sonhos cheios de alegria
e de utopias, só tenho prazer...
Tanto prazer que eu sei que não mereço!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ah, como é útil a avó, 
com seus cuidados e afetos! 
Já o avô, serve tão-só 
pra ensinar besteira aos netos... 
= = = = = = 

Poema de
ANTÓNIO GEDEÃO 
Lisboa/Portugal, 1906 – 1997

Dez reis de esperança

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingênuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aquarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras seletas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
= = = = = = 

Triverso de
ÁLVARO POSSELT
Curitiba/PR

Aqui tudo pode.
Até a cabra
fica de bode.
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Soneto de
ALFREDO GUISADO
Lisboa/Portugal, 1891 – 1975

Ela, em meu sonho

Ela vivia num palácio mouro…
Nas harpas, os seus dedos a espreitarem
como pajens curiosos, a afastarem
os cortinados todos fios de ouro.
 
As suas mãos, tão leves como as aves,
ora fugiam volitando, frias,
ora pousando, trêmulas, frias,
nas cordas, a sonharem melodias…

E os sons que ela tangia, aos seus ouvidos
chegavam, receosos de senti-la,
voltavam a não ser nunca tangidos.
 
É que ela, as suas mãos, as harpas de ouro,
não eram mais do que um supor ouvi-la
e o meu julgá-la num palácio mouro.
= = = = = = 

Trova de
THARCÍLIO GOMES DE MACEDO
Taubaté/SP

A montanha neblinada,
quando foge à nossa vista,
é a natureza enciumada
que esconde o quadro do artista.
= = = = = = 

Poema de 
LORENZO OLIVAN
Cantábria/ Espanha

O Guardião de si mesmo

Escondido em algum dos ângulos
do pensamento, oculto no seu matagal,
fico de vigia durante a noite.
Quero julgar com nitidez a linha
indefinida que separa sempre
a vigília do sono.
Quero saber que porta
a minha mente tem de atravessar,
que sombra aos poucos cai ou sobe
do alto de do profundo,
de que porção de mim terei que desprender-me
e que porção saberá
atravessar o leve umbral comigo.

Hoje o sono não vai poder vir de luvas brancas,
não vai roubar a minha casa impunemente,
vou aprender as suas artes,
vou vê-lo penetrar silencioso
pela porta de trás da consciência.

Assim fico de vigia
e guardo, com olhos bem fechados,
a minha interior escuridão
debaixo da noite escura.

Nada se move, só o pensamento,
cansado dos círculos que tem de
descrever durante o dia. De que parte
do negro infinito virá o sono?
Onde, onde essa linha?

O sol da manhã dá no teu rosto.
Náufrago de ti mesmo,
levanta-te Ulisses.
Que recordas da viagem?
Irónica, a luz atira sobre ti
uma sonora gargalhada.

(Tradução: Joaquim Manuel Guimarães)
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Carreteiro em disparada,
transporto a carga suicida;
se atrás é mais longa a estrada,
na frente é mais curta a vida!
= = = = = = 

Hino de 
ÓBIDOS/ PA

Sentinela que guarda riqueza
deste vale imenso sem par;
podes bem ser chamada princesa,
das belezas do grande Rio-Mar.
Os teus filhos são bem brasileiros,
são valentes e sabem lutar.
E trabalham ao sol altaneiros,
sempre avante, não sabem parar!

Óbidos, és minha terra,
Óbidos, és meu torrão,
Óbidos, estás inteira,
dentro do meu coração.

Já tens glória passada que a história,
podes bem com justiça assentar;
não são gestos falazes que a vitória,
que soubeste tão bem conquistar.
És a filha do Rio Amazonas
e conheces o seu murmurar:
onde estás é a única zona,
por onde ele tem que passar !

Óbidos, és minha terra,
Óbidos, és meu torrão,
Óbidos, estás inteira,
dentro do meu coração.

Tuas noites são bem estreladas,
e o teu céu é mais puro azul.
E são claras as tuas madrugadas,
quando sopra o vento taful.
És rincão da terra brasileira,
na Amazônia és forte e viril,
vives sob a mesma bandeira,
que tremula em todo o Brasil!
= = = = = = 

Trova de
AGOSTINHO RODRIGUES
Campos dos Goytacazes/RJ

Estendam as mãos, amigos,
mantendo o mundo seguro.
Dos jovens e dos antigos
depende o nosso futuro!
= = = = = = 

Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP

Feridas

Abri a gaveta das lembranças
Tirei tudo o que dentro estava.
Fechei todas as portas e janelas,
Não queria que elas saíssem por ai,
Para espalhar minha história.
O mundo está cheio
De palavras inúteis.
Que não servem para nada.
Não enobrecem a vida.
Preciso agora descobrir
Os segredos da alma:
Curar, ungir, suturar feridas…
Sutis, apodrecidas.
Dobras doentes
Procurando refrigério,
Procurando alento,
Na simples carícia
Do toque do vento…
Depois, com carinho, guardo-as novamente,
Na última gaveta da minha mente.
= = = = = =

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Quando deixei minha terra,
jurei e cumpri a jura,
que venceria esta guerra
entre o sertão e a cultura!
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
EU SEI QUE VOU TE AMAR 
(samba-canção, 1959) 

 Eu    sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente eu sei que vou te amar

E cada verso meu será      
pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida

Eu sei que vou chorar
A  cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida.

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida.
= = = = = = = = = = = = = 

Vânia Figueiredo (Uma aurora)

Aquela foi uma noite de pavor, no pequeno barco em pleno rio Xingu. O céu estava limpo, estrelado, mas sobre a superfície da água começava a soprar uma ventania feroz, era tipo inusitado de tempestade que não vinha dos céus... Ondas furiosas se levantavam e sacudiam o barco que estralejava como à beira de partir-se. "E o banzeiro", - explicou o barqueiro, sem parecer preocupado e ainda acrescentou: "Acontece por aqui, mas vai passar... nóis chega lá." Para ele, natural do povo xinguara, aquilo era apenas algo conhecido. Para mim, sulista e urbana, era a Morte chegando.

"Lá" era meu destino, a cidade de Altamira, no Pará, onde meu trabalho na colonização do INCRA me aguardava. Agarrada ao fundo do barco, eu duvidava que realmente pudéssemos chegar lá, amaldiçoando a tolice de ter querido visitar uma distante vila ribeirinha a título de aventura.

Foi então que as águas começaram a se acalmar, o vento foi perdendo a força, a angústia timidamente se transformando em expectativa. Quando ousei erguer-me para ver o que acontecia, uma flecha de luz dourada atingiu meus olhos. A aurora vinha surgindo, majestosa e solene como uma rainha, vestida de ouro e púrpura, dominando o rio que se aquietava sob sua luz. Pássaros saíam da mata próxima e revoavam saudando a aurora, um e outro boto dançou em sua homenagem.

Eu me senti pequena sob a magia daquela festa da Natureza, diante do sol que surgia pontuando a vida, sabendo que jamais veria uma aurora como aquela.
= = = = = =  = 
A autora é de Campinas/SP

(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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domingo, 10 de novembro de 2024

Varal de Trovas n. 617

 

José Feldman (Zé Capim se aventura na cidade)


Todo mundo conhece Seu Zé Capim, o fazendeiro caipira que, com seu chapéu de palha e sorriso largo, é a alma da roça. Mas um belo dia, Seu Zé decidiu que era hora de um passeio diferente. Ele olhou para o horizonte, respirou fundo e declarou: "Hoje eu vou à cidade!" A ideia, que parecia inusitada, foi recebida com entusiasmo por seus amigos da fazenda.

Na manhã seguinte, Seu Zé acordou cedo, caprichou no banho e vestiu sua melhor roupa — uma camisa de flanela e calças que pareciam ter visto melhores dias, mas que ele achava que eram um verdadeiro charme. "Vou impressionar o povo da cidade!", pensou. Com uma sacola de frutas frescas da fazenda para comer durante a viagem, ele partiu em direção à cidade.

A viagem de ônibus foi uma aventura à parte. Seu Zé, sentado ao lado de um grupo de jovens que mal conseguiam parar de olhar para as telas dos celulares, começou a se sentir um pouco deslocado. 

"Que coisa estranha é essa de ficar olhando para a tela? Na minha época, a gente olhava nos olhos das pessoas", murmurou, enquanto observava as pessoas na rodovia. Assim que chegou ao terminal rodoviário, a realidade da cidade o atingiu como um balde de água fria.

Logo, ele se viu cercado por carros, buzinas e um movimento frenético que o deixou atordoado. 

"Uai, mas onde estão as vacas?", pensou, enquanto tentava atravessar a rua sem se tornar uma estatística de trânsito.

Seu Zé decidiu começar sua jornada pelo centro da cidade. A primeira parada foi uma cafeteria, onde ele viu um cardápio escrito em uma língua que mais parecia um enigma. 

"Um 'cappuccino'? Isso é café ou remédio?", questionou, enquanto olhava para a barista com uma expressão de confusão. Afinal, pediu um simples café preto, mas não sem antes receber um olhar curioso da atendente, que provavelmente nunca havia visto um cliente tão despretensioso.

Depois de se reabastecer, decidiu explorar as lojas. Entrou em uma boutique cheia de roupas que pareciam mais uma pintura abstrata do que vestuário. 

"O que é isso? Um vestido ou uma bandeira de sinalização?", ele pensou, tentando entender como aquilo poderia ser considerado moda. 

A vendedora, tentando ajudar, ofereceu um vestido com estampa de flores. "Esse aqui, senhor, é super na moda!" 

Seu Zé olhou para o vestido e, com um sorriso, respondeu: "Na minha fazenda, só as vacas usam flores!"

Após algumas horas de exploração, Seu Zé decidiu que era hora de ver o que mais a cidade tinha a oferecer. Ele se aventurou em um shopping, onde as lojas pareciam labirintos e as pessoas andavam com uma pressa que o deixava tonto. 

"Uai, será que tem um concurso de quem chega primeiro na loja?", ele se perguntou, enquanto observava um grupo de jovens correndo em direção a uma promoção.

Ao passar por um corredor, viu uma máquina de refrigerante. Curioso, decidiu experimentar. "Um 'refri de limão'?", ele leu. Com a inocência genuína de quem nunca havia visto uma máquina dessas, decidiu apertar os botões. O resultado? Uma explosão de soda que o deixou encharcado e com uma expressão de espanto. 

"Pelo amor de Deus! Isso é um ataque de limão!", gritou, enquanto os jovens ao redor riam da cena.

Mas a verdadeira aventura estava apenas começando. Ao sair do shopping, Seu Zé decidiu que queria conhecer um pouco mais da cultura local. Assim, seguiu a música que saía de um parque próximo. 

Ao chegar, viu um grupo de pessoas dançando e fazendo uma espécie de "flash mob". Ele, que nunca tinha ouvido falar disso, decidiu que era sua vez de brilhar. Com um passo de dança bem caipira, começou a rodopiar, chamando a atenção de todos.

A cena era hilária: um fazendeiro dançando ao som de uma batida eletrônica, enquanto os jovens ao redor tentavam imitar seus passos. 

"Isso é como um forró, mas com mais luzes e menos sanfona!", pensou, rindo da situação. 

Em poucos minutos, Seu Zé virou a estrela do parque. As pessoas começaram a gravar e compartilhar, e ele se sentiu como um verdadeiro artista.

Ao final do dia, cansado mas feliz, Seu Zé decidiu que já era hora de voltar para casa. 

No ônibus de volta, ele refletiu sobre a aventura. "A cidade é cheia de coisas estranhas, mas também tem seu charme", pensou, enquanto olhava pela janela e via as luzes piscando. "Mas, no fundo, ainda prefiro meu campo, minhas vacas e o cheiro de terra molhada."

E assim, Seu Zé voltou para a fazenda, não apenas como um fazendeiro, mas como um verdadeiro "caipira urbano". A cidade havia lhe ensinado que, às vezes, é preciso sair da zona de conforto e se deixar levar pela vida, mesmo que isso signifique dançar com um grupo de desconhecidos e se encharcar de refrigerante. 

Afinal, a vida é feita de experiências, e cada uma delas, por mais estranha que seja, traz um sorriso e uma boa história para contar.

Quando Seu Zé finalmente chegou à fazenda, o sol já começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e roxo. As vacas, que sempre esperavam ansiosas pelo retorno do fazendeiro, se aproximaram, como se também quisessem saber das novidades. Mas Seu Zé tinha algo muito mais emocionante para compartilhar com sua turma.

Ele se sentou na varanda, cercado por seus amigos, que já estavam prontos para ouvir as histórias da cidade. Com um sorriso no rosto e um brilho nos olhos, começou a narrar suas aventuras urbanas. A conversa continuou com histórias de outrora, risadas e lembranças. O crepúsculo já havia se instalado, e a fazenda, com seu charme rústico, parecia mais acolhedora do que nunca.

"Então, Seu Zé, quando você vai voltar à cidade?", perguntou um dos amigos, ainda rindo da dança.

"Ah, quem sabe no próximo verão, mas da próxima vez vou levar vocês comigo! Imaginem a cena: nós todos, com nossos chapéus de palha, tentando entender o que é um 'cappuccino' e dançando um forró no meio da cidade. Vai ser uma verdadeira farra!", respondeu Seu Zé, piscando.

E assim, entre risadas e histórias, a noite na fazenda seguia tranquila, com cada um refletindo sobre suas próprias aventuras, ou a falta delas. Afinal, a vida é feita de experiências, e, com um pouco de humor e a boa companhia de amigos, qualquer dia pode se tornar uma grande história para contar.

Fontes: 
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Vereda da Poesia = 154 =


Trova de
DELCY CANALES
Porto Alegre/RS

Cem vezes tu repetiste
que me amavas loucamente…
Cem vezes tu me mentiste
e cem vezes eu fui crente!
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Poema de
CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE 
Paris/França (1821 - 1867)

Uma Gravura Fantástica 

Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrível de esqueleto
Um diadema de lata, - único enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping' lim*, monta um pobre cavalo,
Um espectro também, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dias lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.

O Cavaleiro brande um gládio chamejante
Por sobre as multidões que pisa rocinante.
E como um grã-senhor, que seus reinos visite,
Percorre o cemitério enorme, sem limite,
Onde jazem, no alvor d'uma luz branca e terna,
Os povos da História antiga e da moderna.

(Tradução de Delfim Guimarães)
========
Ping'lim ou Pingalim = espécie de chicote.
= = = = = = = = = = =  

Trova de
ADELINO MOREIRA
Araçatuba/SP (1922 – 2007)
 
Esta vida, a que me exponho,
é agiota de verdade:
se empresta um pouco de sonho,
que juros cobra em saudade!…
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

O pedestal do horizonte

Quando me vejo aqui, no pedestal
onde a lida acalenta e se faz luz,
a vitória cintila no portal
e desintegra a treva que seduz.

Conseguir algo mais, travar o mal,
vislumbrar no crepúsculo, conduz
sentimento de força sem igual
na vereda luzida por Jesus.

Volver à luz que brilha no horizonte
mostrando o caminhar em forte ponte
é a mesma luz que brilha a todos nós...

bastando simplesmente a coerência
na busca da lavoura em consistência.
Seremos então livres, jamais sós!!
= = = = = = 

Trova Premiada de
J. B. XAVIER
São Paulo/SP

Quando na página eu vi
minha vida em agonias,
foi que afinal percebi:
ambas estavam vazias…
= = = = = = 

Poema de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA

A Volta da Primavera

AI! Não maldigas minha fronte pálida,
E o peito gasto ao referver de amores.
Vegetam louros — na caveira esquálida
E a sepultura se reveste em flores.

Bem sei que um dia o vendaval da sorte
Do mar lançou-me na gelada areia.
Serei... que importa? o D. Juan da morte
Dá-me o teu seio — e tu serás Haidéia!

Pousa esta mão — nos meus cabelos úmidos!...
Ensina à brisa ondulações suaves!
Dá-me um abrigo nos teus seios túmidos!
Fala!... que eu ouço o pipilar das aves!

Já viste às vezes, quando o sol de maio
Inunda o vale, o matagal e a veiga?
Murmura a relva: "Que suave raio!"
Responde o ramo: "Como a luz é meiga!"

E, ao doce influxo do clarão do dia,
O junco exausto, que cedera à enchente,
Levanta a fronte da lagoa fria...
Mergulha a fronte na lagoa ardente ...

Se a natureza apaixonada acorda
Ao quente afago do celeste amante,
Diz!... Quando em fogo o teu olhar transborda,
Não vês minh'alma reviver ovante?

É que teu riso me penetra n'alma —
Como a harmonia de uma orquestra santa —
É que teu riso tanta dor acalma...
Tanta descrença!... Tanta angústia!... Tanta!

Que eu digo ao ver tua celeste fronte,
"O céu consola toda dor que existe.
Deus fez a neve — para o negro monte!
Deus fez a virgem — para o bardo triste!”
= = = = = = 

Quadra Popular

Você diz que vai, que vai,
e não leva eu também.
Esta é sua ingratidão,
não é de quem quer bem.
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Desprezado

Teu desprezo maltrata, é pungente.
Dói demais ver minguar nossa flama,
Confessando a saudade que sente,
Coração lacerado te chama.

Feneceu meu olhar rutilante,
Por negrume é cingido o poema,
Essa angústia é demais sufocante.
Esperar, esquecer... Oh, dilema!

Tua boca tão doce, macia,
Os momentos de amor, fantasia,
São lembranças em mim tatuadas.

Sofro tanto sem norte, à deriva,
Torturante, o pensar traz a diva,
Companheira de intensas jornadas.
= = = = = = 

Trova de
EUGÊNIA MARIA RODRIGUES
Rio Novo/MG

Sinto que chegas... me abraças...
porém tu finges... sem dó...
e a Saudade brinda as taças
do vinho que eu bebo só...
= = = = = = 

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

A Mula Sem Cabeça

No campo sombrio, um lamento se faz angustiante,
Mula sem cabeça, um destino a vagar,
na floresta escura, no silêncio, errante,
ecos de um amor que não pode voltar.

Noite de sofrimento, de fogo a brilhar,
na escuridão, sua forma a percorrer,
em cada relâmpago, um grito a ecoar,
lembranças de vida que não podem ceder.

Mas quem a avista, deve ter temor,
pois a sombra da noite traz consigo a dor,
em busca de paz, sua alma a clamar,

e entre os mistérios, a história a contar,
que amor e desatino podem levar à dor,
e na lenda da mula, um eterno clamor.
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Trova de
EMILIA PEÑALBA ESTEVES
Porto/Portugal

No meu reino de ilusão
tu és o rei, és o dono!...
E eu sou, em teu coração,
uma rainha... sem um trono!
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Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

A meia laranja

Senti meu coração alvoroçado,
Bater desordenado no meu peito.
Impávido fiquei! Fiquei sem jeito!
Que raio o pôs assim em tal estado?

Olhei em meu redor, desconfiado.
Senti-me desolado, contrafeito!
Por não compreender, a causa efeito,
Que o pusera a bater descontrolado!

Tive depois, a estranha sensação.
Que me tinham aberto o coração,
E dentro dele, alguém se aboletava!

Aos poucos o meu ser se aquietou.
Pois percebeu, que o ser, que se alojou…
Era a meia laranja que faltava!
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Trova de
ERNESTO LOPES NUNES
Coimbra/Portugal

O reino que o mundo almeja
terá sempre este defeito:
- a um só trono que se veja,
reclamam mil o direito!
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Soneto de 
RENATO SUTTANA
Barroso/MG


 Que gastes lá teu ouro, teu minuto,
teu grama de progresso, teu punhado
de futuro – antevisto, calculado,
todo pejado de valor e fruto;

 que lá queiras chegar, de olho impoluto,
como quem leva a urgência de um recado,
insone, mas cumprindo algum mandado,
por força do insondável, do absoluto;

 que lá passes um dia, um mês, um ano
(quem sabe a vida inteira), convencido
de que encontraste a pista, o portulano,

 e de que lá não entras por abuso
e não és, sem estirpe e sem partido,
mais que um indesejável, um intruso.
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Trova de
GISELDA MEDEIROS
Fortaleza/CE

É carnaval… e em meu peito
qual um sagaz folião,
brinca o meu sonho desfeito
nas alas da solidão…
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Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Aos Primeiros Raios Solares...

Páginas em branco
rumam em silêncio 
abrindo as janelas, 

descortinando o novo dia azul.
Repleta de paz sou esperança,
em linhas retas, sou paralelas. 
Sem pensar no amanhã, verso
risos ou prantos, sem mazelas.
= = = = = = 

Trova de 
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

Nos desfiles dessa vida
com humildade me toco:
Quanto mais larga a avenida
mais estreito fica o bloco.
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Mudança por amor

Mandei tirar sem dó toda a argamassa
Que recobria o chão do meu quintal
E em seu lugar, tal qual fosse uma praça,
Formei maravilhoso roseiral.

E para a minha casa ter mais graça
Forrei de primavera o seu beiral
E, junto aos muros, onde o mato grassa,
Eu pus planta de fruta e ornamental:

Ameixeira, pitanga e goiabeira,
Que ali mantêm as aves e os seus ninhos
Em explosões de cantos de alegria!

E quero ver se assim dessa maneira
Agrado a minha amada e os passarinhos,
E faço bem ainda à ecologia!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A bênção, queridos pais, 
que às vezes sois mães também. 
Em nome de Deus cuidais 
dos filhos que d’Ele vêm!
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Poema de
IVAN LAUCIK 
Liptov/Eslováquia (1944 – 2004)

Anotação de Fim de Tarde

 Nada importa, dizem-te pela manhã:
E tu (vês-te obrigado) duvidas destas palavras todo o dia.

Resiste, entretém os peixes,
canta-lhes em voz alta sobre a ponte...
Os momentos de alegria quase te envergonham:
As distâncias convenientes, relações de altura e profundidade,
os invernos curtos, vento em conta para os moínhos -
e um tempo longo coberto
de ornamentos de ferro!
(Os livros de Lógica estão gastos
pelas mãos e pelo suor!)

Alguém que ouve mal embriaga-se de palavras:
o futuro pertence apenas aos helicópteros silenciosos,
capazes de aterrar na palma da mão.
(Haverá palma da mão?) E continua em sonhos
a separar-se o comestível do que não presta.

Sim, chegam-nos plantas cheias de entusiasmo.
Mas não é por isso que a folha artificial é menos verde.

Assim os incrédulos valorizam a fé.
Os infalíveis esperam ser salvos pelos nossos erros.
Os vivos sabem
que tudo importa
desde manhã.
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Triverso de
DOMINGOS PELLEGRINI
Londrina/PR

Montanha que brilha
a louça lavada
empilhada na pia.
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Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS

Carnaval

Eis que de novo chega o Carnaval
para trazer, talvez, muita alegria,
às multidões que sofrem de algum mal
e podem ingressar na fantasia...

Vivem momentos só de alegoria,
num transe enfático, sensacional,
e buscando, num passe de magia,
aliviar o desejo sensual...

Cantam e dançam, plenos de calor,
demonstrando a maior felicidade,
neste evento de cálida paixão...

Por toda a parte a Festa do Esplendor
penetra os corações, e na igualdade,
congregando os cultores da Ilusão !
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Trova de
SEBAS SUNDFELD
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP

Não necessita de sorte
toda existência de bem:
-uma planta ergue o seu porte
sobre as raízes que tem.
= = = = = = 

Poema de 
MARIA LÚCIA SIQUEIRA
Curitiba/PR

Saudade

Irmã da terra,
dos ventos,
das tempestades,
por onde pisam agora
teus pés de saudade?

Deixou rosas,
espinhos
e tantos trigais.
E foi ninar num travesseiro de jasmins
à sombra dos pinheirais.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

O espelho não me enganou,
sem disfarce, esse sou eu:
um jovem que não sonhou,
um velho que não viveu!
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Hino de 
TIJUCAS DO SUL/ PR

Foi Ambrósios teu nome primeiro.
Deslumbrante beleza: ó Saltinho!
Do Estado és grande celeiro;
Guardas lago, floresta e ninho.

ESTRIBILHO
Salve! Salve! Tijucas do Sul!
Tabatinga, florestas e flores.
Protegida pelo manto azul,
De Nossa Senhora das Dores!

É chamado depois Aruatã.
Erva-mate e madeira de lei
São riquezas e teu talismã.
Os sinais de valor nessa grei.

És Tijucas do Sul - Paraná
Tens história na Revolução!
Na memória do povo ainda está
Grande glória pra toda nação.

Tijuquense, és povo leal!
Teu esforço e trabalho é sucesso.
E a resposta do teu ideal
É um futuro de pleno progresso!
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Trova de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Quando, amor, estás ausente,
quem ameniza a ansiedade
é a carta que chega e, ardente,
abraça minha saudade.
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Poema de
FLÁVIO GIMENEZ
São Paulo/SP

Ilha

Para me perder em teus olhos
Nos caminhos de tua íris, num arco
De mil cores de sonho
Penso, olho em tua pele:
Pálida na manhã enquanto noite.

Para me perder da escura forma
Sigo os indícios do que vem adiante
Em teu franco riso, claro e tanto
Nos cantos de tua pura alma errante

Para me perder em teu mar, sigo
Na marcha do meu ofício que trilha,
No siso branco de tua linda fonte
De todos os prantos do que agora brilha

Para me perder de vez em tua sina
Nos caminhos de tua íris, nem penso
Visto tua alva pele que, pálida
Tece de dia a escuridão das estrelas.
= = = = = =
Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Por medo meu coração
fechou-se e ainda pôs trave,
mas agora outra paixão
bate à porta e quer a chave.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
DEUSA DO ASFALTO 
(samba-canção, 1959) 

Um dia sonhei um porvir risonho
E coloquei o meu sonho
Num pedestal bem alto
Não devia e por isso me condeno
Sendo do morro e moreno
Amar a deusa do asfalto.

Um dia ela casou com alguém
Lá do asfalto também
E dizem que bem me quer
E eu triste boêmio da rua
Casei-me também com a lua
Que ainda é a minha mulher

É cantando  que carrego a minha cruz
Abraçado ao amigo violão
E a noite de luar já não tem luz
Quem me abraça é a negra solidão

É, é, é, eeé cantando que afasto do coração
Esta mágoa que ficou daquele amor
Se não fosse o amigo violão
Eu morria de saudade e de  dor.
= = = = = = = = = = = = = 

Ítalo Moura (O fardo)


O dia se arrastou calmo e sereno, era chegada a hora de se recolher, afagar os filhos, comer alguma coisinha e dormir.

Bentinho, já fadado do sol quente, mal conseguiu se manter de pé, na mesa de jantar, Carlota, sua esposa, lhe servira um prato de sopa quente com um pedacinho de pão caseiro, feito ali mesmo, por suas próprias mãos. Bentinho só conseguia pensar nos afazeres do dia seguinte, tirar leite, arar a terra, colocar comida para os bichos e, por fim, se deitar novamente.

Não pôde deixar de notar que tudo isso lhe prendia muito e quanto tempo se passou sem que ele pudesse colocar os pés na cidade, desprender-se do campo por, pelo menos, um minuto, era um filme que nunca passou por sua cabeça, o fardo de cuidar daquelas terras lhe era grande o bastante para lhe prender.

A sua face murchou, não conseguia mais comer.

Bentinho acabou se esquecendo dos prazeres da vida, a vida no campo não tinha nenhuma regalia, mas oferecia tudo, o pão de cada dia, e foi assim que ele sempre viveu por ela, nunca pôde se ausentar. Mas, no fundo de sua consciência, prometeu que ao romper da aurora, junto com a Carlota, a cidade aos seus filhos ia mostrar, quem sabe um descanso, de alegria e não de pranto, haveriam de passar.

A noite se arrastou lentamente, caiu um sereno fino e singelo por sobre a terra, o orvalho se formava nas folhas da velha roseira vermelha, os sapos faziam uma orquestra estridente, o cenário pastoril contribuía para o clima de despedida.

A noite se fez dia, Bentinho cuidou dos seus últimos afazeres, ateou a carroça no seu velho pangaré, era chegada a hora.

A velha charrete de madeira se arrastou lentamente na estrada, a poeira formava nuvens singelas, os olhos dos meninos lacrimejavam, fitavam o velho casebre de madeira que sumia no horizonte, era a primeira vez que zarpava.
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O autor é de Porto Velho/RO

(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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