sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Adega de Versos 128: Jerson Brito

 

José Feldman (Contos em versos diversos) O Desconfiado


Em um lar onde o amor reinava,
um homem, de coração aflito,
sentia que a esposa o enganava,
sentindo em si grande conflito.

Os olhos dela, em certos momentos,
eram nuvens que ocultavam o sol,
e os sorrisos em novos sentimentos,
pareciam dançar em um arrebol.

Certa noite, a dúvida o tomou,
decidiu então, segui-la ao luar,
escondido nas sombras ele ficou,
e viu a esposa se deixar levar.

Com um homem bonito, jovem e audaz,
ela se entregou em longo abraço,
o coração do marido em meio à paz,
desabou, sentindo-se ele um bagaço.

Quando ela voltou, ele a esperava,
o olhar ardente, a voz em fúria,
“Traidora!”, bradou, enquanto ela falava,
e a casa virou um palco de penúria.

Acusações voaram como flechas cortantes,
e a vizinhança começou a se aglomerar,
os gritos ecoavam em tons vibrantes,
o homem em chamas não parava de gritar.

Mas, logo à porta, o jovem se apresentou,
com um sorriso que apagava o temor,
“Sou irmão dela, aquele que se afastou,
mais de vinte anos, sem saber de seu amor.”

O marido, atônito, não entendia nada,
a vergonha o envolveu como um véu,
a esposa, com lágrimas, a história contada,
derrubou o peso que pesava no céu.

O homem galante, era apenas um irmão,
sorrindo, enquanto a tensão se desfazia,
o esposo, com vergonha, em confusão,
não sabia onde a sua cara metia.

E assim, a noite se transformou em paz,
com conversas e memórias a ressoar,
o amor, que antes parecia fugaz,
renovou-se, como o sol a brilhar.

O desconfiado, agora em reflexão,
aprendeu que, às vezes, tudo é ilusão,
e que o amor verdadeiro em sua missão,
supera os medos e traz renovação.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Vereda da Poesia = 221


Trova de
PAULO R. O. CARUSO
Niterói/RJ

Dizem que sou mentiroso,
e tal fala bem não cai.
Ouço e fico desgostoso...
Vou voltar já pra "Dubai"!
= = = = = = = = =  

Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

BOLERO DAS ÁGUAS

O passo no compasso dois por quatro
acode meu suplício de afogado
afastando de mim sedento cálice
em submerso bolero de águas tantas.

A sede dança seca na garganta
curtindo signos, fala ressequida
para a língua de couro, lixa tântala,
alisando palavras rebuçadas.

Quanto alfenim no alfanje que se enfeita
para montar as ancas de égua moura.
Lábia flamenca lambe leve as ouças,

é rito muezim ditando a dança:
no dois pra cá me levo em dois pra lá,
nas águas do regaço vou-me e lavo-me.
= = = = = = = = =  

Trova de
MARIA JOSÉ FRAQUEZA
Fuzeta/Algarves/ Portugal

Piedade é sentimento
que trago no meu sentido.
Alivia o sofrimento...
E conforta o deprimido.
= = = = = = 

Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM

A FORÇA DO SEU ABRAÇO

Sinto saudade dos seus braços
Onde dividia meu cansaço
Quando em você me escondia
Desta minha vida tão vazia

Na força do teu abraço
Encontrei descanso e me entreguei
Encontrei paz e fui feliz. Nos seus braços
Descobri o quanto te amei

Sem medo de sofrer, abri meu coração
Sem medo de perder, segurei em suas mãos
Você é meu refúgio, meu abrigo
Meu amor, muito mais que um amigo

No cantinho dos seus braços
Eu me desfaço e me refaço
Encontro amor e carinho
Onde moro e, faço deles meu ninho.
= = = = = = = = =  

Trova de
MARIA DE LOURDES GRAÇA CABRITA
Olhão/ Portugal

Quero viver o Futuro
com amor no coração,
num mundo bem mais seguro
de Vida, Paz e União!
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

VEJO-TE SEMPRE EM HORAS DE SAUDADE
(Fernandes Valente Sobrinho in "Poemas Escolhidos", p. 145)

Vejo-te sempre em horas de saudade
Quando em meu peito dói a tua ausência
Presente como eterna penitência
Que eu pague por te amar sem castidade.

Envolto sempre em rara claridade
Segreda o teu olhar a confidência
Em que naufraga, nua, esta inocência
No abraço que me traz à realidade.

Talhada em minha mente sempre vens
Livre e solta no tempo e te deténs
Trazendo à minha vida a doce paz.

Com enlevos eu te amo e te venero
E em meus dias o que eu anseio e quero
Sempre és tu quem o diz e quem o faz.
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Pancada de chave inglesa 
amontoou o Garcês, 
que para a própria surpresa, 
acordou falando inglês! 
= = = = = = 

Soneto de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP

OS VAGABUNDOS

Perdidos pela estepe enegrecida e rasa,
Nessa planície igual que a distância arredonda,
Que o inverno enregela e que o verão abrasa,
Dos vagabundos passa a maltrapilha ronda.

As miragens do céu são como pétrea onda...
E o vento forasteiro essa visão arrasa,
Quebrando torreões de arquitetura hedionda,
Catedrais de marfim e florestas de brasa!

Eles passam cantando uma canção dolente,
E vão deixando atrás, por sobre a terra ardente,
Dos seus inchados pés os passageiros rastros...

E quando a noite desce aos desertos medonhos,
Deitam-se sobre a terra e sonham lindos sonhos
Na solidão da estepe e na mudez dos astros!
= = = = = = 

Trova do 
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Nosso casebre, é de palha
de pau-a-pique a parede.
O amor que aqui se agasalha,
dorme comigo na rede!
= = = = = = 

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

AMOR CREPUSCULAR

A tarde vai morrendo lentamente
e enquanto o sol se esconde lá na serra,
a brisa vem trazendo mansamente
uma saudade que o meu peito encerra.

E a noite surge alegre e resplendente
com seus mistérios vem saudando a terra,
espalhando, no mundo, o amor ingente
de quem cultiva a paz e evita a guerra.

Quantos amantes passam se beijando
confessando segredos e venturas
que só o amor produz nas almas puras?

Meu coração também está amando
como os casais que passam na avenida
jurando amores para toda a vida.
= = = = = = = = =  

Trova de
TERESA RIO
Olhão/ Portugal

Desejamos às crianças
um Futuro promissor!
Concretizando esperanças
plenas de Paz e Amor!
= = = = = = 

Poetrix de
SILVANA GUIMARÃES
Belo Horizonte/MG

DEU BANDEIRA

febre, dor pelo corpo afora,
a estrela que eu podia ter sido e não fui:
um tango à toa a vida inteira
= = = = = = 

Soneto de
MÁRIO A. J. ZAMATARO
Curitiba/PR

CARRINHEIRO

Lá fora a chuva fina turva a luz
e molha o palco aberto onde se faz
da hora a velha sina que conduz
quem olha a rua incerta e o chão voraz.

Um vulto esconde o rosto em breu capuz
enquanto a chuva insiste em ser tenaz...
Avulta em mim desgosto que traduz
em pranto a chuva triste e pertinaz.

Estia enfim e o vulto se levanta
e leva o seu carrinho em contramão
na via onde um insulto o desencanta

e faz brotar nos olhos a explosão
que torna a raiva insana e a dor maior
na lágrima, na chuva e no suor.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Neste exemplo se presume
um prêmio às almas bondosas:
fica sempre algum perfume
nas mãos que oferecem rosas!
= = = = = = 

Soneto de
HEGEL PONTES
Juiz de Fora/MG (1932 – 2012)

SÃO FIDÉLIS

De São Fidélis guardo a ressonância
 De pássaros cantando nas capoeiras;
 No olhar conservo as flores das primeiras
 Primaveras perdidas na distância…

 Toucou-me um dia a incontrolável ânsia
 De procurar caminho e abrir porteiras,
 Deixando para trás velhas mangueiras
 Que encheram de doçura a minha infância.

 Comércio, indústria, o campo verde, o açude…
 Cidade Poema, te esquecer não pude,
 Porque, mesmo partindo da cidade,

 Como carro-de-boi que geme e chora,
 Eu vou levando pela vida afora
 A colheita indelével da saudade!
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
VICTOR MANUEL CAPELA BATISTA
Barreiro/ Portugal

A seca traz muita fome
enche todos de tristeza,
para gente que mal come
o porvir é uma incerteza.
= = = = = = = = = 

Cantiga Infantil de Roda
LAGARTA PINTADA 

É uma roda de crianças, cada qual pegada na orelha da outra, cantando e dançando:

Lagarta pintada 
Quem foi que te pintou
Foi uma velha 
Que passou por aqui
A saia da velha 
Fazia poeira
Puxa lagarta 
No pé da orelha

Quando as meninas dizem - Puxa lagarta no pé da orelha - puxam realmente com força na orelha das outras

Outra versão:

Lagarta pintada quem foi que te pintou?
foi uma menina que aqui passou
por dentro das areias levanta poeira
pega esta menina pela ponta da orelha.

Lagarta pintada quem foi que te pintou?
Foi a velha cachimbeira por aqui passou.
No tempo da areia fazia poeira, Puxa
Lagarta nessa orelha... Orelha, orelha!
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Que os homens são uns diabos
não há mulher que o negue;
mesmo assim elas procuram
um diabo que as carregue.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

ROTINA DE UMA ÁRVORE

Terra, água
E luz gestam vidas
Num contínuo renascer,
O ciclo da vida impresso
Nas folhas encanta,
E surpreende,
Desabrochando em versos
Em uma manhã azul
De Primavera.
= = = = = = 

Trova de
MARIA AMÉLIA DE CARVALHO E ALMEIDA
Travanca dos Lagos/ Portugal

A beleza mais secreta
só o Poeta a descobre,
e quando morre um Poeta
o mundo fica mais pobre!
= = = = = = = = =

Aparecido Raimundo de Souza (O velho balanço)

ÀS VEZES, na minha saudade cheia de pesadas digressões e insípidos detalhes, recordo a infância distante, perdida, agora, na poeira do tempo. Dentro dessa saudade, afrontando perigos terríveis os mais diversificados, me transporto (como num sonho bom), levado que sou pelas asas coloridas da fantasia dimensional. Nessa viagem minhas prerrogativas se propagam e então, extasiado, alcanço os primórdios daquela quadra risonha e feliz, onde, pés descalços, palmilhando sofregamente a terra batida passava os dias brincando contente, numa adolescência puramente bucólica e envolvente destituída da maldade dos adultos e da perversidade dos homens sem lei.

Claro como a luz incandescente que abrasa meus dias atuais, vai se desenrolando, com a nitidez de uma reconstituição inesperada, uma espécie de visão cadente. Dentro dela, vejo o alpendre com as mesas e as cadeiras em madeira pura, a pinguela sobre o córrego junto aos canaviais, o curral, o paiol de guardar mantimentos (que, de tão antigo, se debruçava no peso de sua própria caducidade) e o monjolo que funcionava incansável, às margens de um riacho de águas límpidas e brilhantes, onde no começo de noite, por volta das dezoito, uma lua bonita vinha refletir a sua resplandescência. A tudo sinto claramente, como se tivesse vivendo aquele momento (tal e qual aconteceu exatamente) sessenta e quatro anos atrás.

Mas esperem! Falta uma peça importante para completar esse jogo de recordações que invade meu “eu” entorpecido. Não consigo encontrar esse elo ausente, esse brinquedo que durante anos a fio representou a minha verdadeira razão de existir. Falo de um balanço. De um velho balanço que vivia escondido, lá bem longe da casa grande (mais para perto dos campos cobertos de primavera), quase a roçar nos trilhos da velha Maria Fumaça, que propriamente do imenso quintal que adornava a galeria em torno da construção principal. Todo cair de tarde, por volta das quatro horas, quando vinha descansar da estafa da escola primária, era naquele balanço de correntes enferrujadas, meu passatempo preferido. 

Vezes sem conta, me punha a balançar em ritmo coordenado e eloquente, esquecido de tudo, da vida, das lições chatas de matemática (de português não, adorava as aulas de redação), da professora de história, da merenda ruim e repetida, dos colegas brigões e dos castigos impertinentes com joelhos ao milho (rosto colado à parede), ou quando, por qualquer besteira, extrapolava além da conta, entrava em cena, a admoestação endossada pela abusada e temida palmatória. Naquele vai e vem mavioso, algo bom e sensível espantava para as colinas verdes e adornadas de esperança, as intempéries e incertezas de meus dias memoráveis.  

Dava a impressão em minha desenvoltura espiritual, meus tesouros de astúcia e fertilidade de imaginação, que no “vai”  alcançava um futuro muito além das minhas possibilidades de menino sem dono. Como se, num repente, topasse com outro mundo paralelo e desconhecido, esmagando taciturnamente meus sonhos desordenados. Na verdade, era mais feliz o “vem,” porque novamente retrogradava, recuava no tempo, passava pela infância querida, batia os pés no meu chão vermelho e tudo, tudo como num passe de mágica, se transformava. 

Nessa conversão, voltava a ser criança outra vez. Dentro de mim, me sentia gente, apesar de morar com vovô João, senhorzinho encurvado pelo peso dos janeiros, seu rosto congelado sob as rugas, como o de um ser sem vida, entretanto, simples de alma e humilde de coração. Retinha dentro de sua fragilidade meu querido avô, uma paciência de Jó. Parecia um personagem saído de uma canção carnavalesca dos tempos do “ronca”. Na pele de um rei, me via poderoso, apesar de não ter mamãe por perto, papai ausente e separado dela, de não existir, tampouco, nenhum irmão da minha idade ou qualquer outra criança que me viesse fazer companhia. Embora prevalecesse essa lacuna, me aquilatava exaltado. De certa forma, fortalecido e solenizado. Como era bom estar de volta ao aconchego familiar! Vovó Martinha, entrincheirada nas suas horríveis dores de coluna, não regateava a atenção para comigo. 

Sinto, por todas essas coisas, uma falta tremenda de seus pães quentinhos, do café feito na hora, de seus doces, da sua comida no fogão à lenha. Por volta das oito horas, logo depois do jantar, tendo por companhia a lareira, vovô João, acomodado em sua espreguiçadeira, fazendo prevalecer a sua imaginação, botava pra fora histórias fantásticas, inventadas, contos classificados no prodigioso fichário que se transformara a sua memória.  Hospedeiro aos extremos, lhano e sociável, agarrado a esses enredos de espantos crescentes, criavam vida e forma, em suas palavras, bruxas e príncipes, fadas encantadas e cinderelas que se viam presas em castelos, por mãos de homens de corações maus, que transportavam criaturas inocentes em carruagens vermelhas, com cavalos de duas cabeças para um planeta desconhecido, cuja entrada ficava numa caverna, em meio da floresta densa e intocável...

Nesse retornar, me sentia envolvido pelo calor daqueles que me cercavam de carícias e afetos. Esses mimos se faziam quase opressivos, contudo, dentro de uma ansiedade que não chegava a ser tirana. Tarde da noite (não poderia me esquecer desse detalhe), meu Deus do céu... os vagalumes do campo vinham enfeitar a sacada, onde me sentava antes de dormir, para espiar longamente o tempo. Tinha a impressão de que o céu caía inteiro do infinito e se postava, vencido, aos meus pés descalços de pobreza. Apesar dessa desproteção, eu era capaz de viver, numa única existência, uma série de outras realidades num percurso que se me abria com infinitas sucessões.  

Como se fosse o apertar de um gatilho de uma arma poderosa, quebrava o marasmo, algo parecido com uma bala zunindo sons estranhos, libertando as vozes eufóricas dos sapos enterrados no brejo, dos grilos perdidos nas folhas das árvores e fazendo voar, num deslocamento pesado, os morcegos irrequietos que durante o dia dormiam negligentes e omissos na hospedagem do monjolo. Esses fatos, em conjunto, provocam uma espécie de explosão momentânea. 

Em mil pedaços me reparto agora, me desdobro, me compartilho. Ao fazê-lo, me vejo correndo feito guri daninho, de um lado para outro do passadiço. A todo custo, pretendo reter a noite, com todos os seus segredos. Guardar tudo numa caixinha de madeira velha, que mantenho escondidinha debaixo de minha cama. Porém, as mãos trêmulas de moleque encapetado não me permitem tal façanha.  Agora, quando passados tantos e tantos janeiros, percebo, com certa tristeza, todas essas coisas se foram, se perderam, sumiram no abismo imensurável e não volta mais. Abobalhado, de queixo caído, me questiono: por Deus, todas essas relíquias para onde foram? Em que parte de mim está escondida aquela quadra risonha que fazia parte do meu dia a dia? Essas indagações giram em minha cabeça no ritmo de um motor sendo acionado numa aceleração sôfrega. 

Talvez seja por isso, que às vezes, na minha saudade, angústia imensa como um mar proceloso de encontro a restos de um naufrágio, recorde a infância distante, perdida, agora, na poeira do tempo…

Como é bom, como faz bem viajar ao passado! Encontrar o chão de terra vermelha (nele o pomar de laranjas e as bananeiras), entremeado entre as duas velhas montanhas rochosas que os dominavam do alto. De roldão, o abacateiro florido onde eu subia e rasgava as calças. Havia também, as galinhas, os patos, marrecos e porcos que vovó Martinha juntava no terreiro, quando saia à porta da cozinha, sem deixar de lado as pedras e bugigangas rejeitadas que colocava nos trilhos dos trens que cortavam a herdade...

Nessa minha agonia imorredoura e atroz, sempre falta o velho balanço, com seu barulho tênue que ficava esquecido nos fundos do quintal. Essa peça enferrujada, que me fazia sentir mais criança que o moleque peralta existente dentro de mim. Cadê o velho balanço? Em que cantinho oculto de minha alma, em que desvio da minha lembrança, em que atalho nesse meu agora ele se quedou adormecido e estático? Indubitavelmente, era nesse velho balanço que viajava para o futuro. 

No mesmo passo, montado nele, andejava desenredado. Roubava, com uma só mão segurando a corrente, o espaço distante, as nuvens que voavam baixinhas, o sol gostoso, o ar mormacento que respirava o vento ameno que tocava nas folhas, e também o calor que aquecia meus cabelos. Confortavelmente sentado nesse brinquedo, acomodado com todas as minhas quimeras e esperanças, a cabeça jogada para trás, roubava com arrojo o azul mavioso do infinito e, de contrapeso, a paz enternecedora dos olhos de Deus para enfeitar os caminhos incertos e desconhecidos da minha louca imaginação.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA, natural de Andirá/PR, 1953. Aos doze anos, deu vida ao livro "O menino de Andirá," onde contava a sua vida desde os primórdios de seu nascimento, o qual nunca chegou a ser publicado. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal "Municípios em Marcha" (hoje "Diário de Osasco"). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista "QUEM" (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal "O Dia, no Rio de Janeiro." Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.

Fontes:
Aparecido Raimundo de Souza. Travessuras de Mindinho e Fura—Bolos (Textos para se ler dentro do ônibus escolar). Enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 22 *

 

Renato Frata (Memórias)

A maioria de meus amigos usava botinas. Marrons, pretas, amarelas, de couro de búfalo. Engraxadas, lustradas, limpas, outras craqueadas, como a cara do freguês. Uma lindeza de calçado que me dava certa inveja, vez que meus pés calçavam, por contingência financeira, o 
par de Conga azul que durava uma eternidade. Machucava os pés, punha neles dose extrema de chulé, imensa quentura e me fazia escravo de sua durabilidade. As unhas dos dedões até que lhe fizeram buracos, mas nem assim o Conga estragou.

Falo da época em que os pais só trocavam os calçados dos filhos quando esses já não lhes cabiam nos pés e quase ninguém possuía dois pares. Usava-se o mesmo de domingo a domingo, até se acabarem, para provar que o verbo acabar, nessa época, era nossa salvação.

Minha mãe me obrigava a lavar os meus semanalmente com escova e sabão de soda, especialmente em época de chuva que, não tendo o sol para secá-los, usava-se a taipa do fogão. No outro dia, estavam ótimos, mas cheirando à fumaça, meios tortos e duros, e isso era o de menos.

De certo que meus amigos também me invejavam, pois não possuindo o Conga de sola de borracha, novidade para a molecada, os sapatões que também aqueciam os pés eram. desconfortáveis e, por igual, de vida longa. Mas ninguém reclamava, aceitando a realidade. Nessa época, pedia-se tudo, mas se o pai podia, ganhava–se o necessário.

Fui trabalhar numa frutaria com a obrigação de abastecê-la de agrião e, para isso, o dono colocou em minhas mãos uma bicicleta com a qual, toda manhã por volta das seis, saía para buscar, numa chácara a uns cinco quilômetros de distância, uma cesta grande de verduras.

Fiz isso com gosto por um bom tempo, e a bicicleta foi um lenitivo que me levava a voar nos meus sonhos e enquanto "voava" com ela pelas ruas buraquentas, poeirentas ou enlameadas, até que chegou o fim do mês e com ele meu primeiro ordenado. Caramba, meu!

Com o maço de notas de trocados nas mãos, um desassossego tomou conta do meu eu; como gastá-las?

Os olhos brilhavam de emoção, e claro, jamais compraria outro par de Conga, por isso pensei nas botinas que me igualariam aos meus amigos. Eu tinha dinheiro, podia tudo e, terminado o expediente, com o dinheiro 'queimando' em meu bolso, corri à loja. Mostrei à moça a quantia e ela sorriu, ao tempo que desceu da prateleira dois pares das botinas que brilhavam; um preto e um marrom e, ao vê-las tão junto de mim, ao lado dos meus pés, minha alma resplandeceu. Eram lindas, macias e ficaram bem nos meus pés. Mas ao olhar a vitrina ali do lado, outro par de sapatos me chamou á atenção. Reluzia num pedestal, um par de sapatos femininos. Olhei-os bem e os imaginei nos pés da minha mãe. Sim, vi-a calçada neles, desfilando pela igreja aonde ia todos os domingos, até que resolvi; deixaria as botinas para o próximo pagamento. Os sapatos para ela, a meu ver, eram mais importantes e necessários.

A vendedora, que a princípio não entendera o motivo da repentina troca, sorriu dizendo: - Ela vai gostar, ora, se vai. Um presente desse não se recebe a todo momento. São os sapatos mais bonitos que temos aqui...

Então, mandei embrulhar, paguei-lhe com o maço de notas sem receber troco, e sai apressado com o pacote. Minhas mãos tremiam de emoção. Por isso, corri pela rua como aloprado. Eu daria ã minha mãe o melhor dos presentes que meu salário podia e não sei, se de emoção ou do calor, ou das duas coisas juntas, meu coração pulava de arrebatamento. Eu daria a ela um presente comprado com o meu primeiro salário.

Pois chispei, abri o portão no peito, invadi o quintal, pulei na cozinha e, com um saboroso sorriso cortando a cara, a encontrei a mexer polenta com a indefectível colher de pau.

Estranhou aquela balbúrdia, mas me recebeu com um abraço.

- Upa! Meu filho! Que bom que você voltou, logo a boia fica pronta.

Olhou-me sem entender, diante do pacote que lhe era estendido, até que o recebeu, abriu-o e corou. Seus lábios tremiam, sua testa aflorou suor e ficou tão vermelha quanto a crista do galo Pimpão, que ciscava por ali. Então, como se tivesse levado baita um susto, de cenho fechado retendo e mastigando o choro, olhou-me com olhos de pleno amargor, virou-se e voltou a embrulhar os calçados, depositando o pacote na mesa e, lentamente, se agachou ã minha altura.

Segurou com ambas as mãos os meus ombros e me disse, olhando seriamente nos meus olhos:

- Meu filho, esse é o dia mais feliz da minha vida. Poderei viver cem anos e ganhar milhões de presentes, mas jamais esquecerei esse seu gesto de amor. Muito obrigada. Mas... é também o dia mais triste para mim, pois não poderei aceitá-lo. Preciso do sapato, é verdade, e ficaria linda com ela nos pés, mas o seu dinheiro... preciso mais. Preciso para o aluguel que está atrasado... e essa dívida está me fazendo perder os cabelos...

Engoliu grosso soltando um gemido de dor e eu não sei onde guardei minha decepção. As lágrimas tomaram meu rosto e subiram comigo ã forquilha do araticunzeiro que floria e ali, e em meio às suas folhagens e à aragem que bolinava os ramos, molhei seus galhos com a tristeza vertida em brasas. Que decepção!

Não conseguia entender o porquê de ela dar mais valor à dívida do maldito aluguel, que ao meu esforço do mês inteiro sob frio e calor em subidas e descidas com uma cesta pesada à garupa da bicicleta que me obrigava a guiá-la com as pernas enfiadas no seu quadro, tão alta que não me permitia sentar no selim.

Ao tempo, ela saiu da cozinha pisando seus velhos chinelos de pano. Levava entre dedos como se segurasse uma bandeja, o pacote de calçados com a fita solta e, na pressa, sem dar conta que a assistia, passava o avental nos olhos...

- Porca miséria! - arrulhou o âmago do seu ser - Porca miséria de vida!
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 
RENATO BENVINDO FRATA, trovador e escritor, nasceu em Bauru/SP, em 1946, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Além de atuar com contador até 1998, laborou como professor da rede pública na cadeira de História, de 1968 a 1970, atuou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranavaí, (hoje Unespar), atualmente aposentado. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da paranaense Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.

Fontes:
Renato Benvindo Frata. Crepúsculos outonais: contos e crônicas.  Editora EGPACK Embalagens, 2024. Enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Baú de Trovas “12”


551
Havia à noite um poema:
as luzinhas em cardumes...
Hoje sequer no cinema
pisca-piscam vaga-lumes.
A. A. DE ASSIS
= = = = = = = = = 
552
Quem seu ciúme proclama,
fazendo questão de expô-lo,
insulta aquela a quem ama,
e ainda faz papel de tolo…
ADALBERTO DUTRA RESENDE 
= = = = = = = = = 
553
Deus - escreve em linhas tortas...
As nossas vidas por certo -
sem jamais, fechar as portas...
Quando o amor está por perto!!!
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
= = = = = = = = = 
554
“Cara-de-pau!” E o grã-fino 
não se abala, não se afoba;
e no rosto, enfim, ladino,
passa um óleo de peroba…
ANTONIO COLAVITE FILHO
= = = = = = = = = 
555
Prato de vidro, vazio,
feito um espelho, em teu fundo
refletes o olhar sombrio
das injustiças do mundo!
ANTÔNIO DE OLIVEIRA
= = = = = = = = = 
556
Perdão no amor que se apruma
sem guardar mágoas, constrói.
É flor que enfeita e perfuma 
as mãos de quem o destrói.
ANTONIO JURACI SIQUEIRA 
= = = = = = = = = 
557
Eu vejo a terra cansada,
a cada passo mais linda,
sofrendo golpes de enxada,
e dando frutos ainda.
ANTONIO SALOMÃO 
= = = = = = = = = 
558
Com um abraço agradeço
as letras do meu saber;
contudo, não desmereço
as que deixei de aprender.
ARI SANTOS DE CAMPOS
= = = = = = = = = 
559
Meu sogro cheio de medo,
tenta a peruca esconder
e o que ele guarda em segredo
"tô" careca de saber!
ARLINDO TADEU HAGEN
= = = = = = = = = 
560
"O cão que ladra não morde".
Permitam que nesta quadra
eu do provérbio discorde:
sim, não morde... enquanto ladra.
BASTOS TIGRE 
= = = = = = = = = 
561
As almas de muita gente
são como o rio profundo:
- A face tão transparente,
e quanto lodo no fundo!…
BELMIRO BRAGA 
= = = = = = = = = 
562
A receita é de colírio
mas o bebum se apavora
e lê, cheio de delírio:
- pinga, só uma vez por hora?
CAMPOS SALES 
= = = = = = = = = 
563
Nós somos duas tipoias
na ajuda às forças escassas
- quando fracasso, me apoias,
te apoio, quando fracassas!...
CAROLINA RAMOS
= = = = = = = = = 
564
É verdade, neste inverno,
vou dar tudo a quem não tem,
porque sei que para o inferno
nunca vai quem faz o bem.
CECIM CALIXTO 
= = = = = = = = = 
565
– “Eu volto um dia” – juraste.
– “Não te espero” – me zanguei…
– “Mentiste: nunca voltaste…
Menti: eu sempre esperei…”
CÍCERO ACAYABA 
= = = = = = = = = 
566
Palhaços de profissão?
Ah, Como é bom, fazem bem.
O triste é ter coração
e ser palhaço de alguém!
CLÁUDIO DE CÁPUA  
= = = = = = = = = 
567
Os passarinhos da praça
não podem nem ver um calvo:
- Na careca de um que passa
praticam... "titica ao alvo"!
CLEBER ROBERTO DE OLIVEIRA
= = = = = = = = = 
568
Na minha "Melhor Idade",
sendo  velho, sou criança.  
Vivendo a felicidade...
No carrossel  "Esperança"!
DÉCIO RODRIGUES LOPES
= = = = = = = = = 
569
Mãe! criatura querida,
santa heroína sois vós;
quando nos destes a vida,
destes o sangue por nós.
DÉCIO VALENTE
= = = = = = = = = 
570
O marido agonizante,
insistindo quer saber:
– Fui traído? – e ela, hesitante:
– E se você não morrer?…
DOMITILLA BORGES BELTRAME
= = = = = = = = = 
571
Que as estrelas com seu brilho,
   e o sol, com seu loiro raio,
        iluminem cada filho 
 do adorável mês de Maio!
DOROTHY JANSSON MORETTI 
= = = = = = = = = 
572
O amor se faz infinito,
longe do bem e do mal,
quando brota do granito
e se transforma em cristal!
EDUARDO A. O. TOLEDO 
= = = = = = = = = 
573
O teu amor me conforta,
teus braços sabem a mel,
mesmo tendo - que me importa?
- frágil corpo de papel.
ELISABETE AGUIAR
= = = = = = = = = 
574
Que bom se a gente pudesse
fazer tudo que não fez…
e a vida, a chance nos desse,
de ser criança outra vez!…
ERCY MARIA M. DE FARIAS 
= = = = = = = = = 
575
A bela flor de papel
que tu me deste, outro dia...
Foi tão perfeita e fiel,
que o cheiro dela eu sentia!
EVA GARCIA
= = = = = = = = = 
576
Um sonho é sonho, mais nada,
mas, às vezes, na emoção,
deixa marcas na calçada
das ruas do coração.
FLÁVIO R. STEFANI 
= = = = = = = = = 
577
Dos artigos que componho
nas minhas noites sozinhas,
fazes parte do meu sonho
abraçada às entrelinhas.
FRANCISCO JOSÉ PESSOA 
= = = = = = = = = 
578
A todos respeito e ensino
a minha definição.
O beijo é o til pequenino
da palavra coração.
GODOFREDO MENDES VIANA  
= = = = = = = = = 
579
A vida o tempo devora;
o próprio tempo não dura.
Colhe a alegria de agora,
para a saudade futura!
HELENA KOLODY 
= = = = = = = = = 
580
Pombas-da-paz prometidas
pelos países mais ricos,
não portam ramas floridas
e sim ogivas nos bicos.
HERIBALDO GERBASI
= = = = = = = = = 
581
Quem come pizza demais,
pode saber, com certeza,
que os efeitos especiais
vão ser sua sobremesa.
IALMAR PIO SCHNEIDER
= = = = = = = = = 
582
Só três?! (o paizão lamenta),
vendo os bebês no bercinho.
Ah, se a rede não rebenta,
"nóis enchia esse quartinho!"
JAIME PINA
= = = = = = = = = 
583
Na clausura da existência,
das prisões que nos impomos,
um devaneio é a essência
do que pensamos que somos!
JB XAVIER 
= = = = = = = = = 
584
Até nas flores se encontra
a diferença da sorte:
umas enfeitam a vida,
outras enfeitam a morte!
JERÔNIMO GUIMARÃES 
= = = = = = = = = 
585
Após vencer vendavais,
meu coração navegante
retorna à brisa do cais
que teu abraço garante. 
JÉRSON LIMA DE BRITO 
= = = = = = = = = 
586
Me esculpindo a cada dia,
vendo no Mestre o padrão,
tento chegar - que utopia! -
mais perto da perfeição.
JESSÉ NASCIMENTO
= = = = = = = = = 
587
Saudade... é igual à tristeza
 de quem,  ao partir num trem,
na estação deixa a incerteza
e, no lenço...o amor de alguém!
JOSÉ FELDMAN
= = = = = = = = = 
588
Estes carecas sofridos,
sem cabelos ... que ironia,
deixam piolhos perdidos
por falta de moradia!
JOSÉ REGINALDO PORTUGAL
= = = = = = = = = 
589
Nosso motel não tem cama,
mas tem rede ... Vão topar?
E o jovem casal exclama:
- Nós não viemos pescar...
JOSÉ TAVARES DE LIMA
= = = = = = = = = 
590
A Mãe, somente, perdoa
o mal que um filho lhe faça,
embora o coração doa
dá-lhe um sorriso e o abraça!...
LACY JOSÉ RAYMUNDI 
= = = = = = = = = 
591
É no afago dos seus braços
que me enlaçam com calor,
que eu me esqueço dos cansaços
quando chego do labor.
LICÍNIO ANTONIO DE ANDRADE 
= = = = = = = = = 
592
As outras brincam de roda…
E a olhar a brincadeira
a menina se acomoda
sobre as rodas da cadeira…
LUNA FERNANDES 
= = = = = = = = = 
593
Tantas corridas levou
dos pais de suas gatonas,
que finalmente virou
corredor de maratonas.
MÁRCIA JABER 
= = = = = = = = = 
594
Ventre Materno… o espaço
da semente em gestação,
onde Deus fez Seu regaço
em amor à Criação!
MARIA DA CONCEIÇÃO FAGUNDES
= = = = = = = = = 
595
Na corrida e sem atrasos
nós levamos os canecos
e a cada cem metros rasos
uma pausa... nos botecos!!
MARIA LÚCIA DALOCE 
= = = = = = = = = 
596
Não teimes, se algum transtorno
teu caminho atravancar!
- Antes, procura um retorno
que te permita voltar!
MARIA MADALENA FERREIRA 
= = = = = = = = = 
597
"Dez filhos do mesmo leito?!"
pergunta o padre e ela fala:
"Acho que não, pois suspeito
que um é da rede da sala..."
MARINA BRUNA 
= = = = = = = = = 
598
É magia que me encanta
e que a Deus mais enaltece:
a raiz sustenta a planta,
mas quase nunca aparece!
MAURO MACEDO COIMBRA
= = = = = = = = = 
599
Quando a vida fica tensa,
na iminência de um perigo,
como faz a diferença 
a presença de um Amigo.
NEI GARCEZ
= = = = = = = = = 
600
Dizem, com propriedade,
que a saudade é inexplicável;
explica-se: na verdade,
o senti-la é indecifrável!
NEMÉSIO PRATA
= = = = = = = = =