Amor para a vida inteira
alterna amuo e carinho.
É como qualquer roseira
que só dá flor junto a espinho.
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A pedra estava limosa:
escorregou, não caiu,
porque amparei a orgulhosa
que nem sequer me sorriu.
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A quem diz que a vida é um sonho
cheio de amor e alegrias,
que vá lá em casa, eu proponho,
conviver com minhas tias.
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Assim como o mar se agita
ao chegar a tempestade,
minh’alma sofre e palpita
quando sopra esta saudade.
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Bastou-lhe sorrir apenas,
e ela pôs-me enfeitiçado.
Noites, outrora serenas,
desde então passo acordado.
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Como é duro escrever trova,
os rigores são perversos!
Só aparece ideia nova
que não cabe em quatro versos.
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De tanto ficar parada
espionando o tal vizinho,
a saíra, equivocada,
na cabeça fez-lhe ninho.
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Disse, toda enfurecida,
ver-me a cara não querer.
Basta a lâmpada, querida,
do abajur não acender.
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Ela tem-me procurado
com fala doce e macia.
Mas sou qual gato escaldado
que tem pavor de água fria.
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Fiz o que o doutor mandou,
mas inda me dói o peito.
É porque ela não voltou:
são saudades, não tem jeito.
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Foi ver no teto a barata,
encolheu-se na poltrona.
Ao marido gritou: “Mata!”
Só com ele é valentona.
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Garantiu que preferia,
a tanta briga e aflição,
viver só. Passou-se um dia,
retornou, pediu perdão.
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Gosto muito de um soneto,
mesmo lhe pondo estrambote,
mas com trovas não me meto:
são moinhos e eu, Quixote.
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Lá no alto, nuvens escuras,
propelidas pelos ventos,
desfilam, feito amarguras,
cá embaixo, em meus sentimentos.
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O amor por mim que ela sente
ninguém compreende ou explica.
Ela é santa, eu, impudente,
sou pobretão e ela é rica.
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Não durmo mais desde quando
ela partiu. Pouco importa,
sonho assim mesmo: ela entrando
pelo umbral da minha porta.
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No pomar, a tarde inteira
ficamos, mas foi-se embora,
deixando, toda faceira,
meus lábios roxos de amora.
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Paredes de pau a pique,
sapé trançado no teto,
mesmo assim, peço que fique,
o que importa é nosso afeto.
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Persuasiva, fervorosa
jura de amor e carinho
pode ser bem enganosa
feito a flor que oculta o espinho.
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Pise aqui, bem de mansinho,
colada assim junto a mim,
que a pomba arisca fez ninho
entre as rosas do jardim.
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Pode mesmo haver consolo
quando se perde um amor,
eu sei, não sou nenhum tolo,
mas teimo em ser sofredor.
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Porque aceito conformado
que dure pouco a alegria,
quero viver a seu lado
nem que for só por um dia.
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Prolongados, no verão,
ou mesmo curtos, no inverno:
pouco importa a duração
dos dias, se o amor é eterno.
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Quando eu era bem novinho,
logo aprendi a assobiar
imitando passarinho.
Quisera mesmo é voar!
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Quem sonha a vida passar
sem apreensão ou tormento,
é o mesmo que acreditar
que há tempestade sem vento.
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Quer espojar-se na vala,
em erro após erro incide-se,
não vou do inferno tirá-la
como Orfeu fez por Eurídice.
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Salgou demais a comida,
exagerou na pitada.
Ou é muito distraída,
ou está mesmo apaixonada.
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Sua face, clara, ora brilha,
ora retrai-se e recua,
oculta atrás da mantilha:
são fases dela e da lua.
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Tem barriga o sapo-boi,
grande barriga tem Buda.
A dela plana já foi,
agora é um deus nos acuda!
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Trai-me até com meu amigo,
um fuxiqueiro me diz.
Pode até ser, eu nem ligo:
nem todo corno é infeliz.
Fonte:
Trovas enviadas por João Líbero
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