domingo, 11 de dezembro de 2022

José Paulo Corrêa de Souza (Jardim de Trovas)


A criação, sabiamente,
fez num mundo desigual,
que olhos de cor diferente
enxerguem de forma igual.
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A criança usa um pincel
e com traços de emoção,
numa folha de papel
pinta os sonhos que virão.
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Ainda que ao despertar
os seus sonhos desapontem
insista sempre em sonhar
e deixe as mágoas pra ontem.
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A inteligência é uma arma,
um fuzil que salva ou mata.
Quando o alvo não se alarma
é caça na mira exata.
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A quem pinta, eu aconselho
o que o pincel me revela;
quem insiste no vermelho
morre de febre amarela.
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A "sofrência", sem desculpa,
nunca larga do meu pé.
Mas, por certo, é toda a culpa
do "radinho" do Seu Zé!
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Ciúme é um erro que encerra
males de efeito voraz.
No amor, jamais faça a guerra,
sem ter bandeiras de paz.
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É muito triste saber
que a mentira repetida
acaba por esconder
a verdade acontecida.
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E no silêncio da gente,
que a mente planta e renova,
ideias como semente
para colher uma trova.
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Levei tanta chinelada
por rebeldia e, hoje, é belo
sentir saudade encantada
do que ensinava o chinelo.
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Liberdade aprisionada,
consciência adormecida!
Acorda! Não deixe nada
ser corda que enforque a vida!
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Meu coração repartido
por entre o ódio e o amor
leva a vida sem sentido
algemado à própria dor.
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Minha sogra faz intriga
e inda diz que só fofoca,
mesmo assim acaba em briga
e a filha dela me soca.
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Nem sob pressão, me calo
vendo o que justo suspenso.
Se me prendem por que falo,
libertam tudo o que penso.
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Nem vacinas dão respostas,
nem há ninguém resistente,
a sentir vento nas costas
e enfrentar sogra de frente.
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Num pomar abandonado,
no solar da solidão,
sempre busco, amargurado,
doce fruto temporão.
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Nunca feche os olhos! Veja!
Enfrente até o que lhe dói,
pois, a omissão sempre enseja
a mentira que destrói.
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O egocêntrico em perigo
finge que é mudo e que é cego,
e sempre protege o umbigo
na escuridão do seu ego.
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Os culpados sempre negam
e a verdade esconder tentam.
Mas, na mentira carregam
um peso que não aguentam.
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Passa o tempo, tudo muda
e deixa nua a saudade.
O tempo só não desnuda
a verdadeira amizade.
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Pintor velho sempre pinta
pintura documentada,
por um carimbo sem tinta
que tenta dar carimbada.
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Quando a gente sonha, sente,
e a razão sempre socorre
a quem crê, sinceramente,
que a esperança nunca morre.
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Quando o idoso se escancara
co’ uma jovem muito boa,
pergunta-se: – Eu sou o cara?
— Se não for cara, é coroa!
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Seria o fim do perfume,
do doce enleio, do amor,
se o beija-flor, por ciúme,
no jardim matasse a flor.
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Tem rico que fala tudo
pra salvar a pátria amada,
de repente, fica mudo
pra não perder a bocada.
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Todo castelo de areia,
que no sonho alguém constrói,
ou some na maré cheia,
ou vem o vento e destrói.

Fonte:
Messias da Rocha (org.). Múltiplas palavras vol. III. Juiz de Fora/MG: Ed. dos Autores, 2022.
Livro enviado por Lucília Trindade Decarli

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