terça-feira, 2 de agosto de 2022

II Concurso de Pantun do CTS e da UBT Caicó-RN (Premiados) Nacional/Internacional


1º LUGAR:
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

PANTUN DOS VÁRIOS “EUS”


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
de um tempo que se perdeu,
brincam juntos de mãos dadas,
os vários “eus”; que fui eu.

De um tempo que se perdeu,
ao longo da travessia,
os vários “eus”; que fui eu
se encontram na nostalgia.

Ao longo da travessia,
os “eus”; que o tempo enrugou
se encontram na nostalgia,
celebrando o que passou.

Os “eus”; que o tempo enrugou
cirandam feito criança,
celebrando o que passou
pelas ruas da lembrança.
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2º LUGAR:
MÁRIO MOURA MARINHO
Sorriso/MT

Pantun da Colorida Infância


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
pirralhos pobres, sem meia,
brincam juntos de mãos dadas,
ao clarão da lua cheia.

Pirralhos pobres, sem meia,
sobre o chão da fantasia,
ao clarão da lua cheia,
pintam sonhos de alegria.

Sobre o chão da fantasia,
inocência e puridade,
pintam sonhos de alegria,
com pincéis de ingenuidade.

Inocência e puridade
dão cor à vida que avança,
com pincéis de ingenuidade,
pelas ruas da lembrança.
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3º LUGAR:
LILIA SOUZA
Curitiba/PR

PANTUN DA SAUDADE


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
momentos de antigamente
brincam juntos de mãos dadas,
nas ruas da minha mente.

Momentos de antigamente,
ao recordar tenho a prova:
nas ruas da minha mente,
a esperança se renova.

Ao recordar, tenho a prova,
neste sonho sem idade:
a esperança se renova,
cantando a mesma saudade.

Neste sonho sem idade,
cada qual é mais criança,
cantando a mesma saudade,
pelas ruas da lembrança.
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4º LUGAR:
MARIA LÚCIA DALOCE
Bandeirantes/PR

Pantun da Magia


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
 
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
sob os risos em cadência,
brincam juntos, de mãos dadas,
o amor, ternura e inocência.

Sob os risos em cadência,
onde o reino é de magia,
o amor, ternura e inocência
fecham portas à utopia...

Onde o reino é de magia
o tempo e a felicidade,
fecham portas à utopia
e abrem portões à saudade.

O tempo e a felicidade
veem na gente a criança
e abrem portões à saudade
pelas ruas da lembrança!
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5º LUGAR:
MIFORI
São José dos Campos/SP

Pantun da Saudade


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
as meninas e os meninos,
brincam juntos de mãos dadas...
São amores genuínos!

As meninas e os meninos,
vão formando seus valores.
São amores genuínos,
os novos descobridores!

Vão formando seus valores,
se educando para a vida,
os novos descobridores,
com coragem sem medida!

Se educando para a vida,
a idade adulta se alcança
com coragem sem medida,
Pelas ruas da lembrança!...
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6º LUGAR:
FERNANDO BELINO
Sete Lagoas/MG


Pantun da memória da infância

Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
em movimento sem fim,
brincam juntos de mãos dadas,
os sonhos dentro de mim.

Em movimento sem fim,
imortais recordações,
os sonhos dentro de mim,
num vendaval de emoções!

Imortais recordações
surgem sem mandar aviso,
num vendaval de emoções,
misto de pranto e de riso.

Surgem, sem mandar aviso,
as memórias de criança;
misto de pranto e de riso,
pelas ruas da lembrança!
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7º LUGAR:
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

PANTUM DAS CIRANDAS


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas
garotos de pés descalços
brincam juntos de mãos dadas
sem angústias ou percalços.

Garotos de pés descalços
vivem mais intensamente,
sem angústias ou percalços
cirandando livremente!

Vivem mais intensamente
os que retornam à infância,
cirandando livremente,
mantendo o medo à distância.

Os que retornam à infância
revivem sua criança,
mantendo o medo à distância
pelas ruas da lembrança.
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8º LUGAR:
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

PANTUN DA LENTIDÃO


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
num filme que invade a mente,
brincam juntos, de mãos dadas,
meu passado e meu presente.

Num filme que invade a mente,
de modo quase abusivo,
meu passado e meu presente
afrontam meu porte altivo.

De modo quase abusivo
meus passos, agora lentos,
afrontam meu porte altivo;
limitam-me os movimentos...

Meus passos, agora lentos,
de um cirandar que hoje cansa,
limitam-me os movimentos
pelas ruas da lembrança.
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9º LUGAR:
CÉLIA M. G. MENDONÇA DE MELO
Juiz de Fora/MG

Pantun da Lembrança


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
nas ruas e nesta praça,
brincam juntos de mãos dadas,
anjinhos cheios de graça.

Nas ruas e nesta praça
brincam fadinhas faceiras,
anjinhos cheios de graça
e também as feiticeiras.

Brincam fadinhas faceiras;
são todas muito animadas
e também as feiticeiras,
neste meu conto de fadas.

São todas muito animadas
e eu, voltando a ser criança,
neste meu conto de fadas,
pelas ruas da lembrança.
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10º LUGAR:
MÁRCIA JABER
Juiz de Fora/MG

Pantun dos Amores sem Fadigas


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
ao som de velhas cantigas,
brincam juntos de mãos dadas,
os amores sem fadigas.

Ao som de velhas cantigas,
rodopiam, se entrelaçam,
os amores sem fadigas
nunca, nunca descompassam.

Rodopiam, se entrelaçam,
entre beijos dadivosos...
Nunca, nunca descompassam
em seus passos amorosos.
 
Entre beijos dadivosos,
bem querer, terna aliança
em seus passos amorosos
pelas ruas da lembrança.
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11º LUGAR:
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

PANTUN DO ABANDONO


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)


Nas cirandas das calçadas,
meus versos, à tua espera,
brincam juntos de mãos dadas
sob a fúria da quimera.

Meus versos, à tua espera,
na madrugada sem fim,
sob a fúria da quimera,
bradejam dentro de mim.

Na madrugada sem fim,
as vozes roucas da ardência
bradejam dentro de mim,
lamentando a tua ausência.

As vozes roucas da ardência
ecoam, sem temperança,
lamentando a tua ausência
pelas ruas da lembrança.
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12º LUGAR:
MARIA EUNICE SILVA DE LACERDA
Toledo/PR

Pantun das Cirandas


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)
 
Nas cirandas das calçadas,
sob um luar que prateia,
brincam juntos de mãos dadas,
os meninos lá da aldeia.
 
Sob um luar que prateia:
pega-pega, amarelinha...
Os meninos lá da aldeia,
 também dançam cirandinha.
 
Pega-pega, amarelinha...
brincadeiras como outrora.
Também dançam cirandinha,
brincam crianças de agora.
 
Brincadeiras como outrora
seguindo em perseverança,
brincam crianças de agora,
pelas ruas da lembrança.
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13º LUGAR:
ADILSON ROBERTO GONÇALVES
Campinas/SP

Pantun da Festa de Desejos


Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
 
(Aloísio Alves da Costa-CE)

Nas cirandas das calçadas,
jovens, velhos e crianças
brincam juntos de mãos dadas
em jogos, festas e danças.

Jovens, velhos e crianças,
não importa qual a idade,
em jogos, festas e danças
buscam a felicidade.

Não importa qual a idade
dos que brincam nos festejos;
buscam a felicidade,
um de seus nobres desejos.

Dos que brincam nos festejos
fica ainda a paz de herança:
um de seus nobres desejos
pelas ruas da lembrança.
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14º LUGAR:
ELIZABETH APARECIDA DE CASTRO MENDONÇA FONTES
Joinville/SC

Pantun da Saudade

Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)

 
Nas cirandas das calçadas,
giram versos, poesia,
brincam juntos de mãos dadas
na mais doce melodia.
 
Giram versos, poesia,
resgatados da memória,
na mais doce melodia
relembrando cada história.
 
Resgatados da memória,
os sonhos, sem contratempo,
relembrando cada história
que foi bordada no tempo.
 
Os sonhos, sem contratempo,
trazem bem-aventurança
que foi bordada no tempo
pelas ruas da lembrança.
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15º LUGAR:
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

PANTUN DA NOSTALGIA

 
Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
(Aloísio Alves da Costa-CE)
 
Nas cirandas das calçadas,
meu passado e meu presente
brincam juntos de mãos dadas,
constroem uma corrente.
 
Meu passado e meu presente
sofrem em cumplicidade,
constroem uma corrente,
em suspiros de saudade.
 
Sofrem em cumplicidade,
padecem dores de outrora.
Em suspiros de saudade,
sentem o tempo ir embora.
 
Padecem dores de outrora,
suportam a triste andança...
Sentem o tempo ir embora
pelas ruas da lembrança.
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continua… Estadual

Fonte:
Resultado enviado pelo Prof. Garcia.

Luís da Câmara Cascudo (O Sonho de Paraguaçu)

Com destino ao mar Pacífico, tomaram o vento do porto de San Lucas de Barrameda, na Andaluzia, em dias de setembro de 1534, duas naus castelhanas tripuladas por 250 marinheiros, soldados e colonos. Destes, não poucos nobres. Dirigia a jornada Dom Simão de Alcaçovas e Soutomaior, fidalgo português a serviço de Carlos V. A expedição tinha por fim explorar e povoar duzentas léguas de costa, desde o povoado de Chincha até o estreito de Magalhães, ao sul do vasto e riquíssimo império que Francisco Pizarro acabava de conquistar para a Espanha, e doadas ao dito Alcaçovas pela Imperatriz Isabel, com o título de Província de Novo Leão.

Tendo navegado em mui curta extensão o estreito, tão trabalhosa e arriscada se lhe prefigurou a travessia, tais dificuldades teve de enfrentar desde logo, que se viu forçado a retroceder, procurando abrigo na ilha dos Lobos, onde sua gente revoltada o assassinou.

Tomou a direção da esquadrilha um Juan de Echearcaguana, que fez degolar os capitães das naves, pondo em seguida a capa sobre o Norte, em busca de São João de Porto Rico, no mar dos Caraíbas. Após haverem navegado em conserva durante dois dias, os baixéis perderam-se de vista.

Viajava aquele em que tremulara a insígnia do desditoso Alcaçovas, sempre amarrado ao litoral e ao atingir a altura de Boipeba, revoltou-se ainda uma vez a tripulação, encalhando-o num recanto da costa da ilha, que até hoje guarda, por isso, o nome de ponta dos Castelhanos. Foi no dia do Apóstolo São Tiago, Ia de maio de 1535. Metendo-se nos botes e numa chalupa, os amotinados abandonaram a embarcação, em busca de terra, onde foram amistosamente recebidos pelos índios tupinambás. Ao fim, porém, de breves dias, pilhando-os desprecatados, chacinaram-nos sem piedade. Poucos dos castelhanos escaparam à sangueira.

A outra nave, denominada "San Pedro", governada pelo piloto Juan de Mori, veio jornadeando igualmente sem perder a costa do horizonte. Fome e enfermidade flagelaram-lhe a tripulação, que de novo se revoltaria se, em tempo, o capitão não metesse nos ferros os mais salientes.

Cinquenta dias eram passados que sobre o mar corria a nau, quando entrou nas águas da baía de Todos os Santos, onde os mareantes toparam Diogo Álvares, Caramuru, em companhia de nove homens brancos, vivendo pacificamente entre os índios das vizinhanças.

Pouco depois chegou ao porto a chalupa do navio soçobrado em Boipeba, com dezessete sobreviventes da traição do gentio, quase todos feridos de flecha, narrando quanto lhes acontecera, dizendo mais que possivelmente outros dos seus companheiros haveriam escapado à mortandade, refugiando-se em qualquer parte da ilha.

Atendendo às súplicas do Mori, dirigiu-se Diogo Álvares ao local sinistro, vinte léguas ao sul de sua aldeia, encontrando ali noventa cadáveres em putrefação e quatro homens milagrosamente poupados da fúria dos selvagens, embora feridos.

Somente a 18 de agosto, a "San Pedro" largou as velas em rumo da Península, tendo alguns tripulantes ou passageiros da malograda expedição ficado na terra com o Caramuru, ao passo que dos companheiros deste alguns quiseram ir-se embora. Em troca de mantimentos que recebera de Diogo Álvares, largou-lhe Juan de Mori a chalupa e duas pipas de vinho.

Um pormenor que define a intensidade do sentimento religioso entre os homens da época, sem, infelizmente, torná-los menos cruéis: antes de partir, o capitão castelhano entendeu ser obra de misericórdia sondar a alma do voluntário exilado minhoto, submetendo-o a uma sabatina de catecismo. Nada havia esquecido, pois, diz um cronista: - "E falou-se-lhe em alguma coisa da Fé, e, ao que mostrou, estava bem nela".

Teve Diogo uma carta de agradecimento do grande Imperador Carlos V - vai por conta de Rocha Pita e do Padre Simão de Vasconcelos – pelo socorro prestado aos náufragos de sangue azul. Que quanto aos plebeus, certamente, pouco importaria ao magnífico senhor de meio universo que levassem eles o capeta.

Eis aí o caso narrado com algumas divergências pelos historiadores. Veja-se agora a seguinte lenda, que se relaciona com o naufrágio do navio castelhano em Boipeba. Na sua aldeia, à entrada da baía de Todos os Santos, residia Diogo Álvares. Em certa manhã de maio de 1536, sua esposa, a celebrada Catarina Paraguaçu, contava-lhe singular sonho por duas vezes tido àquela noite: em extensa praia vira um navio destroçado, homens brancos rotos, encharcados os trapos que mal lhes resguardavam a pele, transidos de frio e inânimes de fome, estando entre eles uma jovem mulher muito alva, de estranha e fascinadora beleza, tendo aos braços não menos bela e alva criancinha.

Mandou Caramuru explorar a costa próxima, desde a entrada da barra até além do rio Vermelho, a ver se nela algum navio fizera naufrágio, pois enxergara no sonho de Catarina celeste aviso para ir em auxilio de cristãos que por aquelas redondezas houvessem sido vítimas
das insídias do mar. Tais pesquisas resultaram negativas.

Nessa noite, Paraguaçu teve outra vez o mesmo sonho. Ordenou Diogo novas buscas, até muito longe estendidas. Passaram-se dias, e vieram os índios trazer-lhe novas de haver-se despedaçado uma embarcação de gente branca na costa da ilha de Boipeba, Boipeba, achando-se em terra os seus tripulantes, a curtir privações. Sem demora, partiu Caramuru em socorro dos náufragos, que eram castelhanos, trazendo-os com ele. Entre os náufragos, porém, não estava mulher alguma. E que não viera a bordo pessoa de outro sexo, asseguraram-lhe. Entretanto, à noite de sua volta, a linda mulher tornou aparecer a Catarina, agora sozinha - dizendo-lhe que a mandasse buscar para a sua aldeia e lhe fizesse uma casa.

Era-lhe a voz tão harmoniosa, que Paraguaçu despertou extasiada, rogando insistentemente ao marido que fosse de novo à ilha, à procura.

Diogo partiu pela segunda vez, e em todas as aldeias vizinhas do lugar do sinistro, deu rigorosa batida, julgando haverem os tupinambás em custódia a moça que se mostrava à esposa adormecida. Finalmente, na palhoça dum indígena, encontrou pequena arca, que dos destroços do navio soçobrado o mar atirara à praia. Abrindo-a, encontrou uma imagem da Virgem Maria, com o Menino Jesus nos braços. Ao ver a imagem, Paraguaçu exultou de alegria, nela reconhecendo os traços fiéis da moça dos sonhos. Diogo fez elevar com presteza, perto da sua habitação, uma ermida de taipa, onde colocou o santo vulto. E porque lhe ignorasse a invocação, deu-lhe a de Nossa Senhora da Graça, pelo que fizera aos náufragos, promovendo-lhes o salvamento, e à Catarina revelando-lhe o seu paradeiro. Mais tarde, Caramuru construiu outra igrejinha, mais bem-cuidada, de pedra e cal, no mesmo sítio de hoje, reedificada em 1770.

Desde o começo do povoamento da terra por cristãos, a Santa Virgem começou também a favorecê-los com muitas graças, sendo frequentes, nos tempos de antanho, as romarias de fiéis que procuravam o seu templo. Aos náufragos, especialmente, e isto logo que foi posta ali, socorreu por multiplicadas vezes. Quando algum navio era sinistrado nas costas próximas, reza a lenda, apareciam umedecidas as vestiduras da santa imagem, testemunhando assim, de maneira irrefragável, a intervenção da Senhora na salvação das vítimas das ondas furiosas e bancos de areia traiçoeiros.

Vindo Dom João de Lencastro governar o Brasil, em 1694, um dos primeiros cuidados que teve ao chegar a esta cidade foi dirigir- se reverentemente à Igreja de Nossa Senhora da Graça, a quem tributava especial devoção, e depor lhe aos pés o bastão de governador, rogando-lhe, com a mais viva fé, que lhe guiasse os passos na administração da república. Ouviu-lhe Maria Santíssima a súplica, pois os seus longos nove anos de gestão do Estado do Brasil resultaram de muito proveito para os povos, quer nas coisas pertinentes ao temporal, quer nas atinentes ao espiritual.

A Capela que Diogo Álvares elevara, bem como o terreno em derredor, doou-os Catarina Paraguaçu, na penúltima década do século de quinhentos, aos padres de São Bento, após haver obtido do Sumo Pontífice - asseveram-no Frei Vicente do Salvador e Padre Simão de Vasconcelos - muitas relíquias e indulgências para os romeiros.

Eis aí, segundo a história e a lenda, a crônica da tradicional Abadia de Nossa Senhora da Graça, onde jazem as cinzas da piedosa esposa de Diogo Álvares, Caramuru.

A imagem que ainda hoje se venera no altar mor é a mesma que foi por aquele encontrada no tejupá do índio de Boipeba, vai por mais de quatro séculos, medindo uns seis palmos de altura. Na sacristia veem-se três antigos óleos em que figura a celebrada princesa brasílica.

Fonte:
Luís da Câmara Cascudo. Lendas brasileiras para jovens. Projeto Livro para Todos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Varal de Trovas n. 565

 

Jessé Nascimento (Amigos para sempre)

Conversavam animadamente, entrecortando o papo com gostosas gargalhadas. Relembravam outra época em que trabalharam juntos. Bons tempos, repetiam de quando em quando. Pareciam não ter pressa. E, vez por outra, o nome de outro colega era citado e os comentários e exclamações eram os mais diversos. Quem os ouvia conversando só poderia concluir, evidentemente, que se tratava de grandes amigos.

Os segundos eternizavam-se. E alguns já manifestavam sua pressa em chegar ao destino. As buzinas ecoavam ensurdecedoras e nenhum dos dois parecia dar-se conta do que estava acontecendo. Deviam estar conversando há uns dois minutos, pelo menos.

Reiniciaram-se as reclamações. Nervosas, as buzinas não se calavam. Imprecações e impropérios feriam os ouvidos mais sensíveis. E os dois - nem te ligo - continuaram conversando por mais um interminável minuto, talvez.

As vozes agitadas já dominavam o ambiente. Eu me divertia com tudo o que estava acontecendo. E não deixei de sorrir, por entre os dentes, com a felicidade daqueles dois amigos tagarelas que pareciam não se encontrar há séculos.

Foi quando os dois motoristas decidiram despedir-se, às gargalhadas, desejando-se sorte. Estavam pouco se  lixando para as imensas filas de veículos que se formavam em ambos os lados da rua. Enquanto conversavam, tinham parado seus ônibus em sentido contrário, detendo o trânsito de ida e vinda.

Ante o murmúrio geral e palavrões de alguns, nosso motorista, alheio e insensível à revolta que provocara, deu partida no ônibus e disse bem alto para o trocador e passageiros:

- Grande amigo, o melhor amigo que já tive.

Sorri no canto do meu banco. Eu talvez fora o único a não irritar-me com aquele encontro.

Fonte:
Recanto das Letras do autor. Crônicas.
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5239907

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XLVI


DEVANEIOS...
 
MOTE:
O devaneio profundo
pelos caminhos da mente,
liberta a gente do mundo
que oprime o mundo da gente!

Aloísio Alves da Costa
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE


GLOSA:
O devaneio profundo
para longe nos transporta,
para um corredor bem fundo
que nos abre sua porta.
 
E divagamos, então,
pelos caminhos da mente,
caminhos do coração,
coração que é indulgente!
 
O pensamento oriundo
desse longo devaneio,
liberta a gente do mundo
liberta, em nós, cada anseio!
 
E essa nova liberdade
nasce da nova semente
e implode, então, a maldade
que oprime o mundo da gente!
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   PERFIL IMAGINÁRIO
 
MOTE:
Em meu quarto, solitário,
sinto a saudade afagando
o perfil imaginário,
que as minhas mãos vão traçando!

Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG


GLOSA:
Em meu quarto, solitário,
abraçado à solidão,
me transformo em visionário
e vivo intensa emoção!
 
Querendo, enfim, ser feliz,
sinto a saudade afagando
você, que é tudo que eu quis
e que eu continuo amando!
 
Meu quarto, quase um santuário,
reflete em tons bem brilhantes,
o perfil imaginário,
de nós dois, grandes amantes!
 
Seu perfil se evidencia...
Sinto meu ego enxergando
esse perfil de utopia,
que as minhas mãos vão traçando!
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   OFENSA ARREPENDIDA
 
MOTE:
Na praça da minha vida,
vi, de joelhos, em vão,
uma ofensa arrependida,
pedindo abraço ao perdão!

José Valdez de Castro Moura
Pindamonhangaba/SP


GLOSA:
Na praça da minha vida,
estavam tristes as flores
pela ausência dolorida
das ilusões e de amores.
 
Retornando ao meu passado
vi, de joelhos, em vão,
o mal que eu fiz, assustado,
gritando em meu coração!
 
Eu vi, pedindo guarida,
com os olhos rasos d’água,
uma ofensa arrependida,
afogando-se na mágoa!
 
Chorando, quase implorava
amor, carinho, afeição,
e de joelhos se atirava
pedindo abraço ao perdão!
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   CHORAR  POR  DENTRO
 
MOTE:
Tantas vezes me concentro,
deitado no meu penar.
É triste chorar por dentro
e por fora gargalhar!

Swami Vivekananda
Nazaré da Mata/PE, 1926 –  2010, Paranaguá/PR


GLOSA:
Tantas vezes me concentro,
pensando mil pensamentos,
dentro de mim mesmo, eu entro,
fico comigo uns momentos.
 
Sofrendo, sozinho, assim,
deitado no meu penar,
chego a ter pena de mim
por não saber mais amar.
 
Quando em meu ego eu adentro,
vejo rolar todo o pranto!
É triste chorar por dentro,
em profundo desencanto.
 
Dói, fingir ter alegria
para aos outros agradar,
no interior tanta agonia...
e por fora gargalhar!
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AMIGO, NÃO DIZ...
 
MOTE:
Amigo não diz "depende"...
"Vou pensar"... "Depois eu dou"...
- Amigo é aquele que atende
que vem sem dizer "Já vou"...

Waldir Neves
Rio de Janeiro/RJ, 1924 – 2007


GLOSA:
Amigo não diz "depende"...
Nunca nos faz esperar,
nosso amigo nos entende
e não nos deixa chorar!
 
Se for amigo, não  diz:
"Vou pensar"... "Depois eu dou"...
O que vale é ser feliz!
Por isso, feliz eu sou!
 
Ele não nos surpreende,
é espontâneo, é alegria!
- Amigo é aquele que atende
e acompanha nosso dia!
 
Amigo é pura emoção!
Presente que Deus criou,
que tem um bom coração,
que vem sem dizer "Já vou"...

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas VII. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Maio 2003.

Guimarães Rosa (Sorôco, sua mãe, sua filha)


Aquele carro parara na linha de resguardo, desde a véspera, tinha vindo com o expresso do Rio, e estava lá, no desvio de dentro na esplanada da estação. Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente reparando, notava as diferenças. Assim repartido em dois, num dos cômodos as janelas sendo de grades, feito as de cadeia, para os presos.

A gente sabia que, com pouco, ele ia rodar de volta, atrelado ao expresso daí de baixo, fazendo parte da composição. Ia servir para levar duas mulheres, para longe, para sempre. O trem do sertão passava às 12h45m. As muitas pessoas já estavam de ajuntamento, em beira do carro, para esperar. As pessoas não queriam poder ficar se entristecendo, conversavam, cada um porfiando no falar com sensatez, como sabendo mais do que os outros a prática do acontecer das coisas. Sempre chegava mais povo - o movimento. Aquilo quase no fim da esplanada, do lado do curral de embarque de bois, antes da guarita do guarda-chaves, perto dos empilhados de lenha. Sorôco ia trazer as duas, conforme. A mãe de Sorôco era de idade, com para mais de uns 70. A filha, ele só tinha aquela. Sorôco era viúvo. Afora essas, não se conhecia dele parente nenhum.

A hora era de muito sol - o povo caçava jeito de ficarem debaixo da sombra das árvores de cedro. O carro lembrava um canoão no seco, navio. A gente olhava: nas reluzências do ar, parecia que ele estava torto, que nas pontas se empinava. O borco bojudo do telhadilho dele alumiava em preto. Parecia coisa de invento de muita distância, sem piedade nenhuma, e que a gente não pudesse imaginar direito nem se acostumar de ver, e não sendo de ninguém. Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe.

Para o pobre, os lugares são mais longe.

O agente da estação apareceu, fardado de amarelo, com o livro de capa preta e as bandeirinhas verde e vermelha debaixo do braço. - "Vai ver se botaram água fresca no carro..." - ele mandou. Depois, o guarda-freios andou mexendo nas mangueiras de engate. Alguém deu aviso: - "Eles vêm! ..." Apontavam, da rua de Baixo, onde morava Sorôco. Ele era um homenzão, brutalhudo de corpo, com a cara grande, uma barba, fiosa, encardida em amarelo, e uns pés, com alpercatas: as crianças tomavam medo dele; mais, da voz, que era quase pouca, grossa, que em seguida se afinava. Vinham vindo, com o trazer de comitiva.

Aí, paravam. A filha - a moça - tinha pegado a cantar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se dizer das palavras - o nenhum. A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspecto de admiração. Assim com panos e papéis, de diversas cores, uma carapuça em cima dos espalhados cabelos, e enfurnada em tantas roupas ainda de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas virundangas: matéria de maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que diferentes, elas se assemelhavam.

Sorôco estava dando o braço a elas, uma de cada lado. Em mentira, parecia entrada em igreja, num casório. Era uma tristeza. Parecia enterro. Todos ficavam de parte, a chusma de gente não querendo afirmar as vistas, por causa daqueles trasmodos e despropósitos, de fazer risos, e por conta de Sorôco - para não parecer pouco caso. Ele hoje estava calçado de botinas, e de paletó, com chapéu grande, botara sua roupa melhor, os maltrapos. E estava reportado e atalhado, humildoso. Todos diziam a ele seus respeitos, de dó. Ele respondia: - "Deus vos pague essa despesa...” O que os outros se diziam: que Sorôco tinha tido muita paciência, Sendo que não ia sentir falta dessas transtornadas pobrezinhas, era até um alivio. Isso não tinha cura, elas não iam voltar, nunca mais. De antes, Sorôco aguentara de repassar tantas desgraças, de morar com as duas, pelejava. Daí, com os anos, elas pioraram, ele não dava mais conta, teve de chamar ajuda, que foi preciso. Tiveram que olhar em socorro dele, determinar de dar as providências, de mercê. Quem pagava tudo era o governo, que tinha mandado o carro. Por forma que, por força disso, agora iam remir com as duas, em hospícios. O se seguir.

De repente, a velha se desapareceu do braço de Sorôco, foi se sentar no degrau da escadinha do carro. -"Ela não faz nada, seo Agente.. ." - a voz de Sorôco estava muito branda: - "Ela não acode, quando a gente chama.. ." A moça, aí, tornou a cantar, virada para, o povo, o ao ar, a cara dela era um repouso estatelado, não queria dar-se em espetáculo, mas representava de outroras grandezas, impossíveis. Mas a gente viu a velha olhar para ela, com um encanto de pressentimento muito antigo - um amor extremoso. E, principiando baixinho, mas depois puxando pela voz, ela pegou a cantar, também, tomando o exemplo, a cantiga mesma da outra, que ninguém não entendia. Agora elas cantavam junto, não paravam de cantar.

Aí que já estava chegando a horinha do trem, tinham de dar fim aos aprestes, fazer as duas entrar para o carro de janelas enxequetadas de grades. Assim, num consumiço, sem despedida nenhuma; que elas nem haviam de poder entender. Nessa diligência, os que iam com elas, por bem fazer, na viagem comprida, eram o Nenego, despachado e animoso, e o José Abençoado, pessoa de muita cautela, estes serviam para ter mão nelas, em toda juntura. E subiam também no carro uns rapazinhos, carregando as trouxas e malas, e as coisas de comer, muitas, que não iam fazer mingua, os embrulhos de pão. Por derradeiro, o Nenego ainda se apareceu na plataforma, para os gestos de que tudo ia em ordem. Elas nao haviam de dar trabalhos.

Agora, mesmo, a gente só escutava era o acorçoo do canto das duas, aquela chirimia, que avocava: que era um constado e enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois.

Sorôco.

Tomara aquilo se acabasse. O trem chegando, a máquina manobrando sozinha para vir pegar o carro. O trem apitou, e passou, se foi, o de sempre.

Sorôco não esperou tudo se sumir. Nem olhou. Só ficou de chapéu na mão, mais de barba quadrada, surdo - o que nele mais espantava. O triste do homem, lá, decretado, embargando-se de poder falar algumas suas palavras. Ao sofrer o assim das coisas, ele, no oco sem beiras, debaixo do peso, sem queixa, exemploso. E lhe falaram:

- "O mundo está dessa forma.. ."

Todos, no arregalado respeito, tinham as vistas neblinadas. De repente, todos gostavam demais de Sorôco.

Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desacontecido, e virou, pra ir s'embora. Estava voltando para casa, como se estivesse indo para longe, fora de conta. Mas, parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia perder o de si, parar de ser. Assim num excesso de espírito, fora de sentido. E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo? Num rompido - ele começou a cantar, alteado, forte, mas sozinho para si - e era a cantiga, mesma, de desatino, que as duas tanto tinham cantado. Cantava continuando.

A gente se esfriou, se afundou - um instantâneo. A gente... E foi sem combinação em ninguém entendia o que se fizesse: todos, de uma vez, de dó do Sorôco, principiaram também a acompanhar aquele canto sem razão. E com as vozes tão altas! Todos caminhando, com ele, Sorôco, e canta que cantando, atrás dele, os mais de detrás quase que corriam, ninguém deixasse de cantar. Foi o de não sair mais da memória. Foi um caso sem comparação.

A gente estava levando agora o Sorôco para a casa dele, de verdade. A gente, com ele, ia até aonde que ia aquela cantiga.

Fonte:
João Guimarães Rosa. Primeiras Histórias. Publicado originalmente em 1962.

domingo, 31 de julho de 2022

Vanice Zimerman (Tela de Versos) 2

 

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 10

As folhas secas rolando,
dão-me a nítida impressão,
de ver fantasmas brincando
de mãos dadas pelo chão!
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Cabeça cor de algodão,
cabelos da cor de neve,
relendo em cada estação
as regras que o tempo escreve!
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Contemplo a tarde morrendo
e, aos poucos, paro e medito,
ao ver a noite bebendo
a luz do Sol no infinito!!
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Depois de crucificado,
ferido e morto na cruz,
aos cegos, pelo pecado,
Deus mostra o perdão da Luz!
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Entre ilusões, sonhos vãos,
e um sonho que não se alcança...
Vão ficando em minhas mãos,
as tuas mãos, por lembrança!
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Faminta, com pés descalços,
roupinha suja, rasgada,
três dos mais tristes percalços
da criança abandonada!
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Hoje, quarenta e três anos
de casamento, completos;
mesma esposa, mesmos planos,
três lindas filhas, dois netos!
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Já venci tão duras penas
nas caminhadas que fiz,
que hoje, até mágoas pequenas
me fazem ser mais feliz!
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Mãos abertas balançando,
no mar, o velho coqueiro,
é um lenço verde acenando
à espera do jangadeiro!
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Mesmo apesar da distância,
em meio a tantas esperas...
A primavera da infância,
é a melhor das primaveras!
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Meu velho amor, vinde e vede,
como a ausência me castiga;
Meu armador, na parede,
mudou o tom da cantiga!
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Não conto como castigos
as rugas aprofundadas;
são velhos trilhos amigos
dos rastros das madrugadas!
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Não me causam queixa alguma,
os que pedradas, me dão;
eu retribuo uma a uma,
com pedradas de perdão!
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Na tapera abandonada,
berço dos primeiros passos...
Vi minha sombra sentada
sorrindo e me abrindo os braços!!!
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Noite adentro, e entre nós,
há um silêncio tão agudo,
que ao longe, se escuta a voz
do silêncio, em quase tudo!
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No poente, o Sol, em seus passos,
antes que a tarde se amoite,
cansado, estende os seus braços
e abraça os braços da noite!
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O mar se agita, se alteia,
e entre fortes vendavais...
O jangadeiro vagueia,
sem saber se volta ao cais!
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Pergunto à tarde serena,
no instante triste do adeus;
Por que de mim não tens pena,
Se há penas nos versos meus?!...
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Quando a seca, alonga o estio,
na aridez do meu sertão...
Há muito leito vazio,
poucos rastros pelo chão!
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Se a solidão apertasse,
dobrava a dor que doía...
Se a mãe, no sonho, sonhasse,
que alguém na porta batia!
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Se em teus braços me agasalho,
nada no mundo me afeta;
sem teu amor, nada valho,
mas, mesmo assim, sou poeta!
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Sem teu amor, que ainda espero,
o mundo perde o esplendor;
se eu disser que não te quero,
perco a essência desse amor!
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Ser poeta é cantar o grito
que há na voz dos oprimidos!...
E sentir Deus no infinito
e até nos sonhos perdidos!
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Sozinha... sempre sozinha...
Cansada e contando os passos,
vai para a igreja a velhinha
puxando a fé pelos braços!
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Tua ausência, ainda caminha,
sem rédeas, no meu presente!...
Minha alma, escrava e sozinha,
finge esconder, que não sente!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

sábado, 30 de julho de 2022

Filemon Martins (Paleta de Trovas) 10

 

Athos Fernandes (Poemas de Amor) 2

SONETO A ADRIANO CÉSAR

Senta-te aqui, meu filho, e ouve o teu velho pai:
esta vida, querido, é duro embate, é luta
em que as regras morais não entram na disputa
e o império da ambição sempre crescendo vai.

E aqui, tal como ali, - Roma, Paris, Xangai, -
é o ouro o ditador das normas de conduta.
E entre as leis do Direito e as leis da força bruta,
quem acaso não sabe onde a razão recai?

É triste esta verdade, ó filho meu! No entanto,
quero que sejas bom e honesto como um santo,
que ames a Pátria, o humilde e protejas o só.

E assim aprenderás esta lição que prezo:
se há muito de Mamon no coração de um Creso,
há muito mais de Deus, no coração de um Jó!
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SONETO À ELISÂNGELA

As Musas convoquei dos montes do Parnaso,
para dar a você, querida, um bom soneto,
que da primeira quadra ao último terceto
fosse pleno de amor de pai, de que me abraso!

Mas eis que o estro me foge e a claudicar me atraso.
E sinto que entro mal no segundo quarteto.
Vou pedir rouxinóis ao velho Capuleto
e rosas ao jardim, crisântemos ao vaso.

Pois só o teu sorriso, ó meiga filha, é tudo!
Se do riso infantil alguém fizesse o estudo
no afã de descobrir tudo quanto traduz,

Por certo saberia este alguém, sem tardança,
que lê diz que este mundo é nada sem criança,
como um verso sem rima e a Igreja sem Jesus!
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BRUNO ROGÉRIO

Bruno Rogério Magalhães Monteiro,
é o nome todo do meu novo filho,
raio final de um sol que perde o brilho
e já se esconde por detrás do outeiro.

Que importa que ele seja o derradeiro?
O que importa é que siga honesto trilho,
que colha a espiga onde plantou seu milho,
que regue a flor nascida em seu canteiro.

Que seja puro e nobre. E ame a Virtude!
E à sua mãe dê tudo o que eu não pude
de bens terrenos dar, porque não os tinha...

Que preste culto a Deus e à Liberdade!
Que seja um bom no ardor da mocidade,
qual tento eu ser nesta velhice minha!
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MATER

Faz muito tempo já! Era no outono...
Folhas soltas levadas pelo vento...
Em nossa casa o luto, o desalento,
o vazio do tédio e do abandono!

Foi quando, ó mãe! Ao derradeiro sono
levou-te a morte, em meio ao sofrimento.
Mas ficaste vivendo em pensamento,
e em nossos corações, como num trono.

Que importa o tempo transcorrido? Importa
é que a mãe viva, mesmo estando morta,
pois vai além da morte o seu dulçor.

Santo nome imortal que nos encanta!...
Quer viva ou morta, a mãe é sempre santa,
- na santificação do seu amor.

TRÊS SONETOS DE AMOR

I


Chegaste em minha vida em hora amarga,
quando o estio se fora ao vir do inverno,
e a minha estrela, peregrina e pura,
por meu mal deixará o céu vazio!

Chegaste à minha vida quando as flores
murchas jaziam pelo chão nevado,
quando os meus lábios, trêmulos, cantavam
o cantochão dos tristes misereres.

Chegaste à minha vida solitária,
quando se fora a última esperança
no adeus final do derradeiro porto.

Chegaste à minha vida e a iluminaste
com teu sorriso de trigal maduro,
com teu olhar de estrela matutina!

II

Chegaste e me disseste: - “eis que te trago
uma esperança nova à tua vida.
Serás o meu Boaz* e eu serei Rute,
farta será de amor nossa colheita!

Venho da Shangri-La dos teus sonhares,
da terra da perpétua juventude.
O sangue quente que me aquece as veias
duplicará os grãos da tua eira.

Serei a tua Agar. E nova estirpe
há de nascer do nosso amor fecundo,
num consórcio de outono e primavera.

Serei tua Vestal, esposa e amante.
Mantendo deste amor acesa a pira,
com nardo e mirra incensarei teus deuses!”

III

Assim disseste e assim ficaste. E agora,
que o estio retornou, passado o inverno,
já estão voltando as musas forasteiras
que me haviam deixado o lar vazio.

Cresce a colheita em grãos centuplicados!
Já preparo o lagar para a vindima.
Os deuses lares já tem mirra e incenso.
Arde a pira no altar. Volta a alegria!

É o milagre do Amor ressuscitado!
É a esperança que chega e toma assento,
que se hospeda comigo, e janta e fica.

Não mais entoarei canções de outono,
que a primavera esplende em teu sorriso,
e há fartura de espigas na seara!...
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* Boaz é um personagem do Antigo Testamento da Bíblia, citado no livro de Rute.
 
Fonte:
Athos Fernandes. Shangri-La Poesias. 1979.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) 14: Rotina

 

A. A. de Assis (Apóstolo honorário)

De repente me deu de pensar no grande apóstolo que teria sido Aristóteles caso ele tivesse convivido com os seguidores de Jesus Cristo. Na minha imaginação, vi-o lá na velha Grécia entrando no túnel do tempo e logo após desembarcando na Galileia, pronto para de imediato matricular-se como discípulo na escola do Mestre dos mestres.

Com o seu admirável currículo, foi recebido de braços abertos. Pediram-lhe apenas que antes aceitasse participar de uma rápida sabatina. Sem problema. O filósofo grego, hábil orador, em breve discurso resumiu suas ideias:

1. O ser humano foi criado para ser feliz. Para tanto, desde o início da história vem passando por um longo processo de aperfeiçoamento. A esse processo dá-se o nome de “educação” (do latim “ex-ducere” = trazer à luz; ou seja: trazer à tona e pôr em ação um conjunto de virtudes potencialmente contidas num ser originalmente rústico).

2. Desenvolve-se a educação mediante o que chamamos de “civilização” (do latim “civilis”), de onde temos também civismo, civilidade, cidade, cidadania.

3. Pode-se, assim, entender educação como evolução do ser humano do estágio de “zoon” para o estágio de “anthropos” – transformação do animal em homem e do homem em cidadão.

4. Simplificando: entende-se educação como o empenho em criar nas pessoas, desde a infância, o hábito de gostar das coisas justas e boas (“ethos” > ética), preparando-as para uma convivência harmônica no que nós gregos chamamos de “pólis” (= cidade) – comunidade de pessoas livres, pacíficas, democráticas, honestas, prestativas, sociáveis, generosas.

5. Desde sua origem até o estado em que atualmente se encontra, o ser humano vem mantendo uma contínua e sofrida luta interior, na qual se confrontam defeitos (egoísmo, ódio, inveja, ira, arrogância etc.) e virtudes (amor, bondade, ternura, alegria, solidariedade etc.).

6. Mediante a educação, busca-se reduzir ao mínimo os defeitos e ampliar ao máximo as virtudes. Quanto maior a predominância das virtudes, mais alto o grau de felicidade.

Pedro bateu o martelo: “Pode parar aí. Já deu para sentir que você é um pensador do bem. Precisa apenas familiarizar-se com a nossa linguagem. Por exemplo: o que você chama de ‘civilização’ nós chamamos de ‘salvação’ (do latim ‘salvare’, que vem de ‘salvus’ > ‘salus’, de onde temos saúde, sadio, salutar, sanidade, santidade, são. Em outras palavras: você associa educação com ‘civilização’ (entendida como fortalecimento da saúde moral); nós associamos educação com ‘salvação’ (entendida como fortalecimento da saúde espiritual)”.

João pediu um aparte: “Vocês falam em excelência do caráter, nós falamos em excelência da alma, porém queremos o mesmo: ver os homens e as mulheres convivendo como irmãos e irmãs, num clima de mútuo respeito e amorosa colaboração. Enfim, queremos todos alcançar a plena felicidade, que costumamos chamar de bem-aventurança – no tempo e na eternidade”.

Pedro encerrou a sessão: “Dê cá um abraço, caríssimo Aristóteles. Você é muito gente boa. Além de avalizar sua matrícula como discípulo, pedirei ao Mestre Jesus que lhe conceda um upgrade, promovendo-o logo de início a Apóstolo Honorário”.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 21-7-2022)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Baú de Trovas LIII


Que tristeza ouvir um santo,
um sábio, um poeta, um rei,
ao peso do desencanto,
dizer ao mundo: – Cansei!
A. A. de Assis
Maringá/PR

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A mais triste solidão
que os seres humanos têm
é abrir o seu coração…
olhar e não ver ninguém!
Ademar Macedo
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN

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No quarto, vazio agora,
nosso velho cobertor
cobre as mentiras que outrora
foram delírios de amor…
Alba Christina Campos Netto  
São Paulo/SP

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Retorno à praça da infância:
é o mesmo antigo jardim!
Só eu mudei, na distância…
Ah! Que saudade de mim!
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ

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Ninguém sabe, nesta lida,
onde a surpresa é mais forte:
se nos mistérios da vida
ou nos segredos da morte!
Alfredo de Castro    
Pouso Alegre/MG, 1922 – 2011    

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Não irá jamais embora
quem deixou tanta amizade;
a despedida de agora
é presença na saudade.
Almir Pinto de Azevedo  
Cambuci/RJ

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Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas.
Aloísio Alves da Costa  
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE

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Qualquer vivente se esbarra
nesta evidência que aterra:
-é no balanço pós-farra
que o bom farrista se ferra!
Antonio Juraci Siqueira
Belém/PA

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Enganar que sou feliz
é coisa inútil, porque
meu sorriso triste diz
quanto eu sofro sem você.
Conceição A. C. de Assis
Pouso Alegre/MG

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A trama que a vida urde,
tal qual a teia de aranha,
é perfeita, mas ilude
por ser cheia de artimanha…
Cyroba Ritzmann  
Curitiba/PR

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Pela Maria da Penha,
lei-justiça conquistada,
quebro pau e queimo lenha
mas, congraço a mulherada!
Dinair Leite  
Paranavaí/PR

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Eu faço das fronhas lenços
nas minhas noites sem sono…
E os lençóis, braços imensos,
abraçam meu abandono…
Divenei Boseli
São José do Rio Preto/SP, 1938 – 2020, São Paulo/SP

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Em minha varanda, a sós,
vendo os ganchos na parede,
eu choro a falta dos nós
que amarravam nossas redes!…
Domitilla B. Beltrame
São Paulo/SP

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Alegre, meiga, estouvada,
em constante movimento,
tão inconsequente e amada,
a brisa é a infância do vento…
Élbea Priscila de S. e Silva  
Caçapava/SP    

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De surpresa, muitas vezes,
vinha o noivo da vizinha…
E, depois de nove meses,
nasceu uma surpresinha…
Flávio R. Stefani
Porto Alegre/RS

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Todo indivíduo que é tolo,
mas que de sábio se arvora,
é tal um pão sem miolo…
só tem a casca por fora!
Francisco José Pessoa de Andrade Reis
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

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Fraternidade exercida,
é um bumerangue veloz:
O bem feito nesta vida,
volta sempre para nós!
Francisco Neves de Macedo  
Natal/RN, 1948 – 2012

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Uns duros feito rochedos;
outros, plumas que esvoaçam…
Os corações têm segredos
que nem os sábios devassam.
Héron Patrício  
Ouro Fino/MG, 1931 – 2018, Pouso Alegre/MG

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Tua ausência, mãe querida,
o bom filho nunca esquece…
És o amor de Deus, és vida:
– Tu és a mais linda prece!
Joamir Medeiros
Natal/RN

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Como é belo ver a planta
que abre flores nos caminhos,
nas horas em que Deus canta
pela voz dos passarinhos.
José Lucas de Barros  
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

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No aeroporto, o adeus, o abraço…
e no olhar… rastros de dor.
– Lá se foi, rasgando o espaço,
uma promessa de amor…
José Messias Braz
Juiz de Fora/MG

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Longe de ti, triste eu passo
(se vivo mesmo, nem sei…).
É cada trova que eu faço
um beijo que não te dei…
Luiz Otávio  
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

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Preso em flagrante arruaça,
diz num sonoro impropério:
– “Prendam também a cachaça,
que é quem me tira do sério!”
Maria Madalena Ferreira  
Magé/RJ

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Às vezes, na despedida,
num simples modo de olhar
se diz o que em toda a vida
ninguém ousa revelar.
Maria Nascimento S. Carvalho  
Rio de Janeiro/RJ    

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Vão ficando tão distantes
os carinhos do passado,
que eu nem sei se o que era antes
foi vivido... ou foi sonhado...
Marina Bruna
Franca/SP, 1935 – 2013, São Paulo/SP

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Nesta vida o tempo ensina:
quem partilhar seu amor
a paz também dissemina,
exterminando o rancor.
Marina Gomes Valente   
Bragança Paulista/SP

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Jamais ficarei passiva
ante a luz do teu olhar;
há muito já sou cativa
deste teu jeito de amar!
Mifori
São José dos Campos/SP

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Ao começar a descida,
desencantado e com medo,
percebo que em tua vida
fui apenas um brinquedo...
Milton Nunes Loureiro  
Campos/RJ, 1923 – 2011, Niterói/RJ    

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A paz, numa sociedade,
entre tantas coisas boas,
só depende, na verdade,
da consciência das pessoas.
Nei Garcez
Curitiba/PR

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Quando, dengosa, tu piscas
os teus olhinhos assim,
não precisas de outras iscas,
esse anzol cuida de mim…
Nélio Bessant  
Pindamonhangaba/SP

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O poeta é um pai fecundo,
que se encontra, e se compraz,
entregando um filho ao mundo
em cada verso que faz.
Newton Meyer  
Pouso Alegre/MG , 1936 – 2006    

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Ficou mais lento o meu passo?
Caminharei, mesmo assim!
Só temeria o cansaço
se me cansasse de mim…
Newton Vieira
Curvelo/MG

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Quem vive a vida por cima,
conversa, versa e, no céu,
nem se preocupa se a rima
é perfeita ou dá troféu.
Nilton Manoel
Ribeirão Preto/SP

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A chuva benze a semente,
que o homem planta no chão;
e Deus permite que a gente
transforme o trigo no pão.
Olga Agulhon  
Maringá/PR

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Um eremita perfeito
eu encontrei certo dia…
Era tão chato o sujeito
que de si mesmo fugia.
Olympio S. Coutinho
Belo Horizonte/MG

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Passa o tempo… e, enquanto corre,
a lembrança vai sumindo…
Mas a saudade não morre:
– Apenas fica dormindo.
Pedro Melo
União da Vitória/PR

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Eu redobrei a procura
e encontrei com tanto gosto
duas fontes de ternura
nas covinhas do teu rosto.
Professor Garcia
Caicó/RN

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Nessa paixão que me assalta,
misto de encanto e de dor,
quanto mais você me falta
mais aumenta o meu amor!…
Rodolpho Abbud  
Nova Friburgo/RJ, 1926 – 2013    

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A saudade que me resta
vai comigo, quando eu vou
à procura de uma festa
que há muito tempo acabou.
Sebas Sundfeld  
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP    

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As dores e os desencantos
não foram tantos assim…
Tua boca e os teus encantos
calaram bem mais… em mim!
Sérgio Ferreira da Silva
São Paulo/SP

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Eu olho a rua e, se o vejo,
a razão já sai de perto.
Fecho a janela… e o desejo
esquece o cadeado aberto!
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP

Fabiane Braga Lima e Samuel da Costa(Mais uma vez Eliza [em recaída])


Verão a pino e o calor estava insuportável e eu decidi pegar a velha bicicleta e sair para tomar um pouco de ar, decidi tomar a tranquila alameda ao fim da alameda. Inconscientemente mudei de rumo e enfrentei a agitada avenida, a três quarteirões além, um pouco mais adiante, estava o prédio onde Bruno, um amor antigo, morava com a família. Parei, e da rua pude vê-lo bem, ainda estava jovem, estava feliz brincando com os filhos pequenos, no parquinho do condomínio fechado. Curiosa que estava eu queria saber mais, e sem que ele notasse, passava sempre ao final da tarde para espiá-lo, ele ainda chamava minha atenção.

Lembrei da época quando estudávamos juntos em um rígido colégio particular. Havia seção para meninos e a seção para meninas, a gente só se encontrava no recreio para brincar juntos, sobre olhares atentos de inspetores. Crescemos separados, mas um pouco mais crescidos em baile ou festa, sempre nos encontrávamos e trocamos olhares e breves palavras. Então na festa de formatura entre sorrisos e abraços, entre as comemorações da realização pessoal e familiar. Onde os olhares rigorosos, deram descansos para todas e todos, em um rompante amávamos noite a fora em um ato de rebeldia!

Mas, a vida dá voltas, nos separamos e cada um seguiu seu próprio caminho. Hoje, vendo-o novamente, meu coração disparou, voltei novamente ao passado remoto. Passado distante em tempo e espaço, no qual nunca foi bom para mim, cheio de mentiras, meias verdades, traições e de tudo que poderia ter sido e não foi, tudo mexeu com nosso lado psicológico.

— Elizabety, sou eu o Bruno, entre vamos beber algo. — De repente escuto a voz dele me chamando para o tempo presente, para a realidade dura e cruel! Ele notou a minha presença por fim.

— Como estás Bruno?! — Eu estava constrangida, pois não sabia quando Bruno tinha sentido a minha presença. Ele se aproximou do portão do prédio, parecia que tinha esquecido por completo a prole atrás dele. E os filhos nem se deram conta que o pai deles estava conversando com uma completa estranha parada no meio da rua.

— Estou bem! Sinto muito a tua falta. — Como senti a tua falta!? Pensei calada, sempre viveu de mentiras, sua vida era uma farsa! — Não, não, e não preciso ir embora. — Corri, nunca mais voltei a passar no prédio de Bruno e nunca mais o encontrei.

Recomecei a minha vida, longe daquele homem fraco, que vivia me enganado com juras falsas de amor eviterno, foi apenas uma recaída e nada mais. Não voltei para olhar para trás!

Para recomeçar é necessário evoluir, é preciso ter amor próprio para dar a largada. Que haja em nossos corações vontade de recomeçar, não apenas vontade, mas também muita coragem! Quanta a Bruno!? Já não sentia mais nada por ele....! Apenas uma certa curiosidade.

Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Versejando 117

 

Lima Barreto (Um fiscal de jogo)

Conheci e conheço Antunes Segadas Bustamante. Quando, porém, o conheci, há anos, era um pronto, mais pronto ainda do que eu. Era cuidadoso com o seu corpo e a sua roupa e tinha meios e modos de sempre andar com ternos novos e bengalas de apuro. Ninguém sabia como ele arranjava aquilo, tanto mais que todos o sabíamos honesto.

Ele viera ao Rio de Janeiro estudar qualquer coisa, mas não se formara em nada. E, como quem não se forma em nada tem a mania de que é poeta e jornalista, dado a frequentar as rodas de poetas e jornalistas. Não tinha jeito para a coisa, aos poucos foi deixando de publicar sonetos nas revistas e crônicas insulsas (insossas) nos jornais de pouca circulação. Não era nem mau, nem bom rapaz, era um simples e tolerável companheiro. Não fumava, não bebia. Sentava-se no café, ouvia o que os mais sábios diziam, guardava-lhes as opiniões e ia repeti-las em outro grupo como sendo dele.

A sua ambição era um emprego e casar bem, e para casar bem, era preciso ter um bom emprego. Uma coisa era função da outra. Por isso, ele desdenhava os empregos de amanuense e escriturário e “cavava” coisa melhor. Era tenaz e nunca cedeu em tal propósito, no que fez bem, como veremos.

Veio a agitação nacionalista e ele logo se alistou num dos muitos clubes que têm esse qualificativo. Com a força que dá falso entusiasmo, Antunes conseguiu sobressair na “causa”. Aproximou-se das altas personagens da República, fez-se conhecido delas, não deixava de cumprimentá-las na rua, frequentava-as e procurava sempre. Enfim, mostrava-se.

Surgiu a regulamentação do jogo, com impostos sobre as respectivas casas, fiscais e todo um aparelho de sociedade, para tornar sério o pano verde e dar dinheiro ao Estado severo e paternal.

Bustamante logo ambicionou um lugar de fiscal, cargo lucrativo e, para obtê-lo, pôs em campo todas as suas relações e toda a sua tenacidade.

Interessou fulano na sua pretensão, rogou a beltrano, falou a sicrano e conseguiu a coisa.

Depois de nomeado, foi há dias que o encontrei e, após os cumprimentos, perguntei-lhe:

— Como te tens dado com o lugar?

— Magnificamente! Ceio lautamente todas as noites, vejo lindas mulheres e bebo champanhe a rodo. Tudo isto de graça. Não é bom?

Fonte:
Lima Barreto. Histórias e sonhos. 2a. edição. Publicado originalmente em 1951.

Fabiano Wanderley (Glosas) – 4

A REDINHA RESPLANDECE,
DO CASTELO D'ALVAS DUNAS.


Quando a aurora se oferece,
num raiar de um novo dia,
diante a tanta magia,
a Redinha resplandece.

O verde mar se engrandece,
formando vastas colunas,
zingando, passam escunas,
mil cores, uma aquarela,
tudo visto da janela
do castelo D'alvas Dunas.

(De propriedade, do poeta amigo, o imortal, Ubiratan Queiroz)
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 CABELO BRANCO É SAUDADE,
DA MOCIDADE VIVIDA.


Eu sinto o peso da idade,
em meus pelos prateados,
pelo tempo desbotados,
cabelo branco é saudade.

Ele é na realidade,
a lembrança de uma vida
da juventude incontida,
no clamor de uma paixão,
das ânsias de um coração,
da mocidade vivida.
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EU NÃO SEI VIVER SOFRENDO,
DEIXA DISSO E VEM ME VER.

Não vês que estou me abatendo
por você, que está distante?
Que definho a todo instante,
eu não sei viver sofrendo.

Passo o dia te querendo,
procurando te entender,
pois, de tanto padecer,
já me sinto o próprio lixo,
para com esse capricho,
deixa disso e vem me ver.
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NÃO TENHO MEDO DA MORTE
POR QUE SEI QUE VOU MORRER.


Não me julgo ser um forte,
mas com fé, sou destemido,
com o Senhor me consolido,
não tenho medo da morte.

Minha vida é meu suporte,
quem me faz enobrecer,
e a razão deste viver
é levar-me ao paraíso,
ao meu dia de juízo,
por que sei que vou morrer.
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NASCE AO DIA DEZESSEIS
DO MÊS CHAMADO SÃO JOÃO.


Nem Deus sabe como o fez,
mas o fato é que o danado,
um viril advogado,
nasce ao dia dezesseis.

E o Doutor Vivi se fez,
fez-se assim o garanhão,
com brutal persuasão,
de montar um cabaré,
esse guapo pangaré,
do mês chamado São João!

(No aniversário do Amigo, Dr. Vinícius Cavalcanti,
o grande causídico do nosso grupo).

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CANUTO, O GRANDE POETA,
COM SEUS VERSOS NOS APRAZ.


Do saber que ele arquiteta,
brotam frases com candores
e as expõem com seus ardores,
Canuto, o grande poeta.

Tem estilo de um esteta,
ao primar pelo que faz,
com seu jeito perspicaz,
com seus dotes, seus talentos,
nos transmite ensinamentos,
com seus versos nos apraz.

(Ao amigo poeta, Walter Canuto).
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NOSSO GRANDE ABRAÇO, AMIGO,
NESTA DATA TÃO FESTIVA.


Por convivermos contigo,
sabemos, sim, quem tu és;
ao Rogério, nota dez,
nosso grande abraço, amigo.

Conservas sempre ao abrigo,
um bem-querer que cativa,
que extrapola, que motiva
toda sua gratidão,
parabéns de coração,
nesta data tão festiva.

(Após, nossas aposentadorias do Banco do Brasil conservamos um pequeno grupo que, ainda hoje, é liderado pelo amigo Rogério Vilar. E, no seu aniversário, a nossa justa homenagem).

Fonte:
Fabiano de Cristo Magalhães Wanderley. Versos Di Versos.
Natal/RN, 2014.
Livro enviado pelo autor.