sábado, 2 de novembro de 2024

Luciano Dídimo (Lançamento do Livro “A rosa de pérola”)


Olá, tudo bem? Passando para divulgar meu novo livro de sonetos.

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O valor do livro é R$50,00 e a taxa de entrega/correios é cortesia do autor.

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Abçs,
Luciano Dídimo

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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Ademar Macedo (Ramalhete de Trovas) 29

 

José Feldman (O Arranha-Céu nas Nuvens)

Era uma manhã qualquer em Campinas, cidade do interior do estado de São Paulo, e o novo arranha-céu da cidade, o "Céu de Aço", finalmente estava completo. Com seus 300 andares, ele se elevava tão alto que, em um dia nublado, parecia perfurar as nuvens. O arquiteto, Leonardo, estava em êxtase. Ele não apenas havia projetado uma obra-prima, mas também se vangloriava de ter criado o prédio mais alto do mundo.

Após uma manhã cheia de reuniões e comemorações, Leonardo decidiu fazer uma última inspeção no topo do edifício. Ele subiu até o 300º andar, ansioso para ver a vista. Assim que chegou, porém, algo inesperado aconteceu. O céu se iluminou, e, de repente, ele se viu atravessando uma nuvem espessa. Quando a névoa se dissipou, ele ficou pasmo ao ver que havia chegado ao que parecia ser a entrada do céu!

— O que... onde estou? — murmurou, olhando ao redor.

Diante dele, uma porta dourada se abria com um rangido celestial. E, para sua surpresa, São Pedro estava ali, com uma prancheta na mão e uma expressão que misturava curiosidade e ceticismo.

— Olá, amigo! — disse São Pedro, com um sorriso. — O que traz você por aqui?

Leonardo, ainda atordoado, tentou entender a situação.

— Eu... eu sou o arquiteto do "Céu de Aço"! Acabei de completar o edifício mais alto do mundo!

São Pedro ergueu uma sobrancelha.

— Ah, sim, o arranha-céu que fura as nuvens. Muito interessante! Mas, veja bem, você precisa de permissão para estar aqui.

— Permissão? — Leonardo exclamou, ofendido. — Eu sou o arquiteto! Fiz tudo legalmente! Tenho documentos de propriedade!

São Pedro olhou para a prancheta.

— Documentos de propriedade? Aqui no céu? Não sei se isso vai funcionar.

Leonardo se aproximou, gesticulando com as mãos.

— Olha, São Pedro, eu não sei como você faz as coisas aqui, mas na Terra, eu tenho todos os papéis necessários. Licença de construção, planta do edifício, até o alvará da prefeitura!

— E quem te deu a licença para furar nuvens? — São Pedro perguntou, tentando segurar o riso.

— É... isso não estava nos regulamentos! — Leonardo admitiu, um pouco envergonhado.

— Então você me diz que invadiu o espaço aéreo celestial sem autorização? — São Pedro disse, cruzando os braços. — Isso é um problema!

Leonardo, percebendo que estava perdendo a discussão, decidiu apelar para a lógica.

— Mas, veja, se eu estou aqui, isso significa que o arranha-céu é tão impressionante que até as nuvens não conseguiram resistir! Eu trouxe beleza e inovação para a cidade. Você não gostaria de ver isso?

São Pedro coçou a barba, pensativo.

— Bem, é verdade que o céu tem uma nova perspectiva agora. Mas o que temos aqui é uma questão de propriedade. Você realmente tem documentos?

— Eu tenho! — Leonardo gritou, puxando um rolo de papéis do bolso. Ele começou a desenrolar os documentos, mas a brisa celestial os fez voar.

— Não! — Leonardo gritou, enquanto os papéis dançavam no ar.

São Pedro começou a rir.

— Olha, talvez você devesse considerar a possibilidade de que a burocracia no céu é um pouco diferente da sua. Aqui, não temos essa coisa de papéis!

— Como assim? — Leonardo estava perplexo.

— Aqui no céu, nós confiamos uns nos outros. Não precisamos de licenças para apreciar a beleza! — São Pedro respondeu, com um brilho nos olhos.

— Mas e se eu quisesse construir um shopping no céu? Precisaria de permissão para isso! — Leonardo argumentou.

— Ah, um shopping? Isso seria complicado. Você teria que passar pela comissão de anjos do comércio! — São Pedro brincou.

— Olha, eu só quero saber quem é o responsável por essa parte do céu! — Leonardo insistiu, ainda segurando os pedaços de papel que sobreviveram à ventania.

— Eu sou! — São Pedro respondeu, rindo. — Mas pense bem. Em vez de se preocupar com documentos, que tal usar seu talento para criar algo incrível aqui?

Leonardo refletiu por um momento. Ele tinha sempre sonhado em projetar algo grandioso. E se ele pudesse fazer isso no céu?

— Você está dizendo que eu poderia criar uma nova estrutura aqui? — perguntou Leonardo, seus olhos brilhando.

— Exatamente! Um café nas nuvens, uma galeria de arte celestial, quem sabe até um parque onde os anjos possam passear! — São Pedro respondeu, empolgado.

— Isso seria incrível! — Leonardo exclamou. — Mas... e os documentos?

— Ah, isso é só um detalhe. Vamos fazer assim: você me promete que não vai furar mais nuvens sem avisar, e eu deixo você criar o que quiser! — São Pedro disse, piscando um olho.

— Fechado! — Leonardo respondeu, estendendo a mão para um aperto.

E assim, com um acordo feito, Leonardo começou a planejar seu novo projeto celestial, enquanto São Pedro anotava tudo em sua prancheta, agora cheia de ideias criativas.

— E se você fizesse uma escada que levasse ao céu? — sugeriu São Pedro, pensando alto.

— Uma escada? Isso seria revolucionário! — Leonardo respondeu, agora empolgado.

— E que tal um mirante? Para as pessoas apreciarem a vista das nuvens? — continuou São Pedro.

— Adorei a ideia! — estava cada vez mais animado. — E uma área para piqueniques!

— Piqueniques nas nuvens? Agora você está falando! — São Pedro riu, imaginando a cena.

No final das contas, o arquiteto e o guardião do céu se tornaram amigos improváveis, e o "Céu de Aço" ganhou uma nova dimensão. Leonardo voltou para a Terra, não apenas com um projeto incrível em mente, mas também com uma história extraordinária para contar.

E assim, o arranha-céu que furava nuvens se transformou em um verdadeiro símbolo de criatividade e amizade, onde a burocracia se encontrava com a imaginação, e onde as nuvens não eram mais barreiras, mas sim oportunidades.

Fonte: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.

Vereda da Poesia = 146 =


Soneto de
LUIZ POETA
Rio de Janeiro/RJ

Quando chega o tempo

Chega um tempo em que a tristeza só se cura
Com a ternura que ainda habita um coração,
Porque a alma não suporta a amargura
Que perfura a pele dura da razão.

Chega um tempo em que só há uma solução:
Esquecer ou conviver com a dor sentida,
Porque a vida não carece da emoção
De sentir a solidão da própria vida.

Chega o tempo em que qualquer gota de pranto,
Já cansada de traçar o mesmo rumo,
se acomoda em qualquer riso e perde o prumo,

Todavia, basta apenas um encanto,
Que o sonho se esgueira devagar
E alegra a solidão do nosso olhar.
= = = = = = 

Trova de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Não se sinta superior
por suas duras vitórias…
Quem lhe parece inferior
já teve dias de glórias.
= = = = = = 

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Indesejada

Tarde da noite, 
alguém bateu 
à minha porta
com vontade, 
quase a ponto de derrubá-la 

Ao abri-la,
Era a Saudade
do seu adeus... 
E agora – me pergunto:
“como fico eu?!”
= = = = = = 

Trova Premiada em Irati/PR, 2024
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO 
Juiz de Fora/MG

O botão é um fofoqueiro
porque, na casa onde mora,
ele passa o dia inteiro
com a cabeça pra fora.
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Batom de cereja

Aconchegam-se
À xícara branca
Os contornos
Dos nossos lábios -
Sobrepostos,
No gosto do meu batom
Cor e aroma de cereja,
Tonalizando, a saudade
Em mais um inesquecível
Fim de tarde impresso
Na suavidade da porcelana
Mesclada ao toque
Inesquecível do teu beijo...

Quando os relógios derretem
O Amor tem todo o tempo do mundo...
= = = = = = 

Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas da África
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

O Pássaro e a Rainha

Em um reino distante, a rainha tão bela,
tinha um pássaro mágico, de voz singela.
Mas um dia, o pássaro, triste, cantou,
“Estou preso em um feitiço, que me aprisionou.”
A rainha, decidida, partiu na procura,
De um sábio ancião, que a resposta se configura.

Após muitos desafios, encontrou o velho:
“Para libertá-lo, deve quebrar o espelho.”
A rainha, corajosa, enfrentou o temor,
e ao quebrar o espelho, trouxe a liberdade e amor.
O pássaro voou, com alegria e gratidão,
e a rainha sorriu, sentindo a emoção.

A coragem e o amor podem libertar,
os laços do medo, podemos quebrar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Popular

Tu te queixas, eu me queixo...
Qual de nós tem razão?
Tu te queixas do meu zelo;
eu, da tua ingratidão.
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Náufrago

Singrei diversas rotas solitário, errante,
Ao longe, eu percebi um elixir olente.
Imerso na magia desse fausto instante,
No mar dos teus encantos naufraguei, contente.

Tu foste desenhada com sem par requinte,
Sereia dos meus sonhos, da beleza és fonte.
Eu peço que concedas, se não for acinte,
Um beijo carinhoso aqui na minha fronte.

Não quero mais remar... Minh'alma vejo plena,
Carente de motivos... Tenho a ti, menina,
Domaste os furacões, vieste a mim serena,

Dos teus lábios formosos a doçura emana.
Tomara Deus que sejam minha eterna sina,
De todo o meu pensar, amor, és soberana.
= = = = = = 

Trova Humorística de
NEIDE ROCHA PORTUGAL 
Bandeirantes/PR

- A fechadura enguiçou!
Grita o bêbado na rua;
quando um vizinho o alertou:
- Esta casa não é sua!... 
= = = = = = 

Poema de
ARY DOS SANTOS 
Lisboa/Portugal, 1937 – 1984

Na Mesa do Santo Ofício 

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.
Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.
= = = = = = 

Trova de
BENEDITA SILVA DE AZEVEDO
Magé/RJ

Não pense que todo amigo,
pode ser um confidente,
às vezes fala contigo
e te entrega logo à frente.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Irmã do coração

Humilde, sorridente, prestimosa,
alegre, bem disposta, divertida;
no mais, profundamente religiosa,
foi sempre assim a nossa Aparecida.

Gostava de uma estória bem jocosa
e, muito, de anedota comedida;
mas, nunca (criatura respeitosa),
faltou pureza em toda a sua vida!

Deu sempre a todos nós sua existência,
sem interesse algum, por puro amor,
afeto que doava sem medir.

E quando Deus chamou-a, por clemência
deixou-nos por herança e ao meu dispor,
o exemplo da alegria de servir!
= = = = = = 

Trova do
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

Bondade!... Bem pouca gente
quer imitar as raízes,
que luta, secretamente,
fazendo as rosas felizes!
= = = = = = 

Soneto de
FLORBELA ESPANCA 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Mentiras

Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito teu?

Ai, se o sei, meu amor! Eu bem distingo
O bom sonho da feroz realidade…
Não palpita d’amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais,
O gelo do teu peito de granito…

Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Ó minha irmã Felisberta,
se com a nossa mãe falares,
não contes meu sofrimentos,
pra não lhe dar mais pesares.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Reencontro (2)

Inalas cada manhã 
tuas cores, pairas 
em vias, laboratório 

da ilusória poesia. O falatório 
das maritacas colorem o dia.
O sino dobra quase vexatório,
sem euforia. Nas frias tardes,
teu riso doura vento aleatório.
= = = = = = 

Trova de 
ZENAIDE BRAGA MARÇAL
Fortaleza/CE

Trago no peito guardada,
entre as lembranças da vida,
a silhueta gravada
da tua imagem querida!
= = = = = = 

Soneto de 
HEGEL PONTES
Juiz de Fora/MG (1932 – 2012)

Catador de papéis

Bandeirante de um tempo diferente,
Sem legenda, sem lei, sem evangelho,
Pelas selvas da vida vai, descrente,
O velho catador de papel velho.

Nele morreram todas as esperanças
E, tendo o jeito de papai-noel,
Desperta o riso alegre das crianças,
Levando às costas sonhos de papel.

Zombam de sua exótica figura,
Mas ele, indiferente à zombaria,
Faz do papel surrado que procura
O tesouro do pão de cada dia.

Nada o magoa, nada o desalenta
Nem vê que sua sombra na calçada
Vai-se tornando cada vez mais lenta…
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Certos tipos importantes 
parecem Marte – um deserto: 
vistos de longe, brilhantes; 
cascalho apenas, de perto!...
= = = = = = 

Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/SP

O amor II

Como a planta que nasce no quintal,
se bem  cuidada cresce e fica linda.
Também o amor que nasce natural
pode crescer, viver, florir, ainda.

É preciso, porém, que o amor normal
seja cuidado com ternura infinda.
O verdadeiro amor não tem rival,
a beleza do corpo é que se finda.

Quando o amor se revela por inteiro,
o carinho renasce e vem primeiro
ornando a vida e sobrepondo a dor.

E juntos seguem pela vida afora
vivendo intensamente a nova aurora,
iluminados  pela luz do amor.
= = = = = = 

Poetrix de
RENEU BERNI
Goiânia/GO

Ângulos

guri solta pipa
quero-quero cuida o ninho
a rua ruge
= = = = = = 

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Viver por amor

Esquece tua lúgubre procela
E faz tu próprio sempre o teu destino
Pintando na tua vida uma aquarela,
Retrato do teu sonho cristalino...

Restringe o dissabor, mantém o tino
E faz da vida doce passarela;
Afasta, se puderes o agrestino,
Corrige sempre o rumo da tua vela,

E deixa no abandono ou esquecida
A névoa que te fez tão infeliz.
Esforça-te a mostrar o teu valor,

E lembra-te que a vida só é vida
Se tu fores o teu próprio juiz
Vivendo o teu viver por puro amor…
= = = = = = 

Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP

Não sobrou uma peninha!!!
E o galo "machão" despista:
- Saio pelado da rinha
quando é verão... sou nudista.
= = = = = = 

Poema de 
CHARLES BAUDELAIRE
Paris/França, 1821 – 1867

A alma do vinho

A alma do vinho assim cantava nas garrafas:
"Homem, ó deserdado amigo, eu te compus,
Nesta prisão de vidro e lacre em que me abafas,
Um cântico em que há só fraternidade e luz!

Bem sei quanto custa, na colina incendida,
De causticante sol, de suor e de labor,
Para fazer minha alma e engendrar minha vida;
Mas eu não hei de ser ingrato e corruptor,

Porque eu sinto um prazer imenso quando baixo
À goela do homem que já trabalhou demais,
E seu peito abrasante é doce tumba que acho
Mais propícia ao prazer que as adegas glaciais.

Não ouves retinir a domingueira toada
E esperanças chalrar em meu seio, febrís?
Cotovelos na mesa e manga arregaçada,
Tu me hás de bendizer e tu serás feliz:

Hei de acender-te o olhar da esposa embevecida;
A teu filho farei voltar a força e a cor
E serei para tão tenro atleta da vida
Como o óleo que os tendões enrija ao lutador.

Sobre ti tombarei, vegetal ambrosia,
Grão precioso que lança o eterno Semeador,
Para que enfim do nosso amor nasça a poesia
Que até Deus subirá como uma rara flor!"
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Volta o filho… anos incertos!
E a mãe, que apenas sorria,
já tinha os braços abertos,
desde quando ele partiu!
= = = = = = 

Hino de 
Aperibé/RJ

Entre matas, entre serras, entre rios,
Despertando o progresso, a ferrovia,
Num esplêndido esmero desafio,
Denominava-se Chave do Faria.

À esquerda, ás margens do rio Paraíba,
E lindas serras Bolívia e Facões,
Mais próximo, á direita o rio Pomba,
Tranquilo mas rebelde nos verões.

A natureza com tuas riquezas,
O homem com bravura, força e fé,
Construíram com orgulho e pureza
A nossa amada terra Aperibé.

Onde índios viveram no passado,
Aperibé outrora Pito Aceso,
Território rico, fértil, disputado,
Libertado pelo teu povo coeso.

Povo de brio, forte, guerreiro,
Emancipando conquistou a liberdade,
Aperibé te amamos tu és
Sempre nossa adorada cidade.
= = = = = = 

Trova de
CORNÉLIO PIRES 
Tietê/SP, 1884 – 1958, São Paulo/SP

Ante a Lei de Causa e Efeito
que nos libera ou detém,
há muito bem que faz mal,
muito mal produz o bem.
= = = = = = 

Soneto de 
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 –  1920, São Paulo/SP

Os argonautas

Mar fora, ei-los que vão, cheios de ardor insano;
Os astros e o luar — amigas sentinelas —
Lançam bênçãos de cima às largas caravelas
Que rasgam fortemente a vastidão do oceano.

Ei-los que vão buscar noutras paragens belas
Infindos cabedais de algum tesouro arcano...
E o vento austral que passa, em cóleras, ufano,
Faz palpitar o bojo às retesadas velas.

Novos céus querem ver, miríficas belezas,
Querem também possuir tesouros e riquezas
Como essas naus, que têm galhardetes e mastros...

Ateiam-lhes a febre essas minas supostas...
E, olhos fitos no vácuo, imploram, de mãos postas,
A áurea bênção dos céus e a proteção dos astros...
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Nossas almas parecidas,
nossos sonhos se irmanando,
eu e tu, vidas vividas,
tarde demais se encontrando.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções

Castigo 
(samba-canção, 1958) 

A gente briga, 
diz tanta coisa que não quer dizer
Briga pensando que não vai sofrer
Que não faz mal se tudo terminar

Um belo dia 
a gente entende que ficou sozinha
Vem a vontade de chorar baixinho
Vem o desejo triste de voltar

Você se lembra, 
foi isso mesmo que se deu comigo
Eu tive orgulho e tenho por castigo
A vida inteira pra me arrepender

Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria esse ser que chora
Eu não teria perdido você

Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria essa mulher que chora
Eu não teria perdido você
= = = = = = = = = = = = = 

Arthur Thomaz (Medeia, a Bruxa no Brasil)

Um choro chama a atenção dos transeuntes, mas todos passam indiferentes, cada qual com seus problemas.

Sentada à beira da calçada em prantos, vejo uma pessoa que reconheço dos livros de mitologia grega .

Sento-me ao lado dela e quando a chamo pelo nome, Medeia, a bruxa, acalma-se ao se ver reconhecida.

Esboçou um sorriso molhado de lágrimas, mas que a mim pareceu extremamente encantador.

Indaguei o motivo de tão sentido choro e ela, então, sentindo confiança desabafou. Ela tinha um emprego árduo, sem direito a férias, sem insalubridade e sem plano de saúde. Trabalhava oito horas por dia e o descanso aos domingos não era remunerado.

Sujeitava-se a essas condições porque tinha duas irmãs menores que dependiam dela. Juntou algum dinheiro, deixou as duas bruxinhas com uma tia, pediu demissão e veio tentar a sorte no Brasil porque ouvira dizer que, aqui, o povo fazia mágica para se sustentar.

Nesse momento, tentei mostrar a ela que não era o mesmo tipo de magia que ela praticava.

Continuou afirmando que fizera um voo em sua vassoura, quase sem escalas, tremendamente cansativo. Saíra de lá com temperatura muito baixa e aqui encontrara o verão carioca. Após aterrissar, deparou-se com um gari que tomou sua vassoura e saiu sambando. 

A vassoura não se inibiu e ensaiou alguns passos. Tive que correr para pegá-la de volta, pois já estavam indo para o sambódromo.

Depois desse incidente estava passeando a pé, quando uma moça, com uniforme de faxineira, tomou a vassoura dizendo que ela iria ajudar no serviço.

Perguntei se ela não estava reparando que eu era uma bruxa. Ela, com um sorriso malicioso disse que eu era uma gracinha e me convidou para subir ao apartamento porque a patroa só chegaria à noite e poderíamos usar a cama do casal. Consegui retomar minha vassoura e saí voando antes que ela me beijasse. 

Entendi os motivos do choro e tentei explicar a ela que nem tudo por aqui era assim.

Saímos passeando pela orla, quando dois pivetes, em uma moto, anunciaram o assalto.

Não deu certo para eles porque a vassoura irritada deu-lhes uma tremenda surra.

Então eu disse que segundo Eurípides o seu "biógrafo" ela possuía poderes maléficos suficientes para resolver os contratempos que tivera desde sua chegada.

Com sonora gargalhada respondeu que todos os escritores são exagerados e completou dizendo que, se tivesse agido dessa forma e alguém filmasse as cenas, ela jamais conseguiria emprego aqui no Brasil.

Fui obrigado a concordar e passamos a falar desse assunto, pensando em quais seriam as possibilidades de arrumar um serviço aqui .

Ela disse que tinha aptidão para culinária, mas ao me lembrar do que fez nos caldeirões, logo afastei esta opção. Como babá também não seria conveniente devido aos antecedentes.

Nisso passou pelas areias um ambulante vendendo biscoito Globo e mate gelado. 

Nos entreolhamos e, imediatamente, surgiu a solução.

Hoje, Medeia percorre as praias da zona sul, em trajes de bruxa, vendendo pequenas vassouras, bradando que eram para manter nossas praias limpas. Rapidamente, tornou-se um sucesso de vendas.

Trouxe as duas irmãs para ajudá-la e abriu uma empresa, "Medeia Ltda", recolhe impostos regularmente, adquiriu a cidadania brasileira e terá sua aposentadoria pelo INSS garantida.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: mirabolantes. Santos/SP: Bueno ed., 2021. E-book enviado pelo autor