sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

História em Quadrinhos

QUADRINHOS

É a arte de narrar uma história através de seqüências de imagens, desenhos ou figuras impressos. Os diálogos entre os personagens, seus pensamentos e a própria narração aparecem sob a forma de legendas ou dentro de espaços irregulares delimitados, chamados de balões.
São conhecidos como histórias aos quadradinhos em Portugal, comics nos Estados Unidos, bandes dessinées na França, fumetti na Itália, tebeos na Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba, mangás no Japão. No Brasil são chamados também de histórias em quadrinhos (HQs).

Origem
Remonta à pintura rupestre da Pré-história. Desenhos que mostram aventuras de caça são encontrados nas grutas de Lascaux, na França, e Altamira, na Espanha. Hieróglifos e desenhos contando a vida dos faraós aparecem em baixos-relevos egípcios. Narrativas figuradas são comuns à via-sacra, aos estandartes chineses, às tapeçarias medievais, aos vitrais góticos e aos livros ilustrados de diversas épocas. Os filactérios, faixas com palavras escritas junto à boca dos personagens, usadas em ilustrações européias desde o século XIV, são considerados a gênese dos balões. A partir do século XIX, o texto acompanha sistematicamente o desenho.

Era de ouro
O abandono da sátira e do lirismo, a partir de 1930, e a criação de heróis caracteriza a era de ouro. Outros gêneros também ganham espaço. A malícia feminina aparece no vestido colante e na cinta-liga de Betty Boop, de Max Fleischer, e na pouca roupa de Jane, de Norman Pett. Al Capp revoluciona com Li'l Abner (Ferdinando, 1934), protagonista da série mais controvertida dos EUA, por satirizar violentamente os mitos do american way of life. Henry (Pinduca, 1932), o menino careca e sem boca de Carl Anderson, é um precursor de crianças travessas como Dennis, o pimentinha.
Al Capp (1909-1979), pseudônimo de Alfred Gerald Caplin, cartunista americano. Na infância é atropelado por um bonde e perde uma perna. Durante a 2a Guerra Mundial faz shows em hospitais para mutilados. Em 1934 cria Li’l Abner (Ferdinando), uma sátira às family strips: a mãe é matriarca e briguenta, o pai frouxo, e o cachorro é substituído por uma porquinha. O uso que Al Capp faz da língua é tão revolucionário que o escritor John Steinbeck o indica para o prêmio Nobel de literatu. A história vira musical da Broadway (1957) e ganha versão cinematográfica. Durante o macarthismo lança Shmoo, personagem-símbolo do socialismo.

Dirty comics - Deboche e sexo explícito atravessam a década de 30 nas dirty comics: revistas clandestinas escritas por autores anônimos. A sátira e o senso de humor influenciam a revista Mad, na década de 50, e os underground comics, nos anos 60.

Primeiros heróis- Dick Calkins retrata o século XXV com o primeiro herói de ficção científica: Buck Rogers. Baseado nos romances de Edgar Rice Burroughs, Hal Foster desenha Tarzan. Mas é a partir de 1936 que o traço pormenorizado de Burne Hogarth dá o visual definitivo ao homem-macaco. O Chicago Tribune, constatando que suspense e ação agradam aos leitores, encomenda as histórias do detetive Dick Tracy (1931) a Chester Gould, cujo traço influenciará cineastas como Alain Resnais e Jean-Luc Godard. Para concorrer com Buck Rogers, a King Features lança Flash Gordon (1933), de Alex Raymond.

A utilização de jogos de luz e sombra e enquadramentos insólitos, influência o cinema expressionista alemão, faz de Raymond e seus colegas Milton Caniff (Terry e os piratas, 1934) também influenciado por Hitchcock e John Ford e Hal Foster (O príncipe valente, 1937) mestres do gênero. Outro destaque é o escritor Lee Falk, parceiro de Phil Davis, no mágico Mandrake (1934), e de Ray Moore, no misterioso Fantasma (1936).
Alex Raymond (1909-1956), pseudônimo de Alexander Gillespie Raymond, desenhista americano. Com a quebra da Bolsa de Nova York perde o emprego de office-boy e resolve investir no talento para o desenho.
Torna-se desenhista assistente na King Features Syndicate, desenhando histórias assinadas por outros. Ganha um concurso interno e, em 1934, produz simultaneamente Jim das Selvas, Flash Gordon e Agente secreto X-9. Jim das Selvas não suplanta Tarzan na preferência do público, mas o Agente secreto X-9, escrito por Dashiell Hammett, bate Dick Tracy, e o visual de Flash Gordon é tão visionário que a NASA o usa como referência para resolver problemas de aerodinâmica, suplantando Buck Rogers.

Hal Foster (1892-1982), ilustrador canadense, trabalha como guia florestal, garimpeiro e lutador de boxe. Em 1921 viaja mil milhas de bicicleta até Chicago, onde trabalha como ilustrador publicitário. Atravessa a crise de 1929 ilustrando Tarzan. Em 1937 cria sua própria história, O príncipe Valente, obra-prima de desenho e texto que utiliza legendas e não balõezinhos. Editada pela King Features Syndicate é publicada em mais de 180 jornais americanos e traduzido para outros países. É o primeiro quadrinho a virar superprodução hollywoodiana.

Os super-heróis - Em meio à inflação de heróis surgidos no início da década de 30, aparecem outros com superpoderes para tentar resgatar a atenção do público.

Os comic books (revistas em quadr), surgidos em 1934, consolidam-se com a série do Super-homem (1938), de Joe Shuster e Jerry Siegel: o personagem, que esconde seus superpoderes atrás do tímido jornalista Clark Kent, torna-se um mito. Bob Kane serve-se também da dupla identidade para elaborar Batman (1939). Em sua luta contra o crime em Gotham City, o homem-morcego é auxiliado, a partir de 1940, pelo garoto prodígio Robin. Em contrapartida, surge The Spirit (1940), herói sem superpoderes, criado por Will Eisner, que realiza uma das maiores revoluções plásticas e literárias nos quadrinhos.
Durante a 2a Guerra Mundial, os super-heróis fazem propaganda da ideologia aliada. Escrito por Joe Simon (depois por Stan Lee) e desenhado por Jack Kirby, o Capitão América (1941) veste a bandeira norte-americana para combater o nazismo.

Joe Shuster (1914-1992) nasce em Toronto, Canadá. Quando sua família muda-se para Ohio, torna-se amigo de Jerry Siegel, também apaixonado por quadrinhos e histórias de ficção. Em 1933 criam o Super-homem, recusado a princípio por ser fantástico demais. Cinco anos depois, a primeira aventura do Super-homem sai na revista Action comics, e logo se torna um dos principais personagens da National, mais tarde conhecida como DC Comics. Apesar do sucesso mundial, os dois lucram pouco e durante anos brigam com a National pela posse dos direitos do Super-homem.

Pioneiros
Os primeiros nomes dos quadrinhos são Rudolf Töpffer artista e escritor suíço considerado um dos mais importantes ilustradores do mundo, com O sr. Vieux-Bois (1827); Henrique Fleiuss, com Dr. Semana (1861); Wilhelm Busch, com os garotos travessos Max e Moritz (1865) Juca e Chico na tradução de Olavo Bilac e Christophe (pseudônimo de Georges Colomb), com A família Fenouillard (1895). Esses artistas aliam qualidades literárias ao desenho e, freqüentemente, mostram situações cômicas. As primeiras histórias apresentam desenhos divididos em quadros acompanhados de legendas, que dão continuidade às ações.

Nascimento da linguagem
Os primeiros comics americanos fazem rir explorando cenas da vida cotidiana.
Em 1895, Richard Fenton Outcault desenha, pela primeira vez para um jornal, as histórias bem-humoradas de Yellow Kid (1895), o menino que vive nos becos e ruas da cidade.
O personagem de camisolão amarelo cor escolhida por oferecer menos problemas de secagem torna-se uma vedete lucrativa. Da cor também nasce o termo "jornalismo amarelo", para designar a imprensa sensacionalista. Outcault introduz os balõezinhos contendo as falas dos personagens e a ação fragmentada e seqüenciada, iniciando nova forma de expressão.

Onomatopéias e novos sinais gráficos aparecem nas aventuras de Os sobrinhos do capitão (1897), de Rudolph Dirks, que já utiliza quadrinhos pretos em volta da ação.

Richard Fenton Outcault (1863-1928), artista americano, nasce em Ohio. Seu talento para as artes é incentivado pelos pais. Começa como ilustrador e passa a publicar nas revistas satíricas Life e Judge. Em 1894, no jornal New York World, com Yellow Kid, cria o primeiro personagem fixo semanal, que faz grande sucesso. Troca o World pelo New York Journal, do magnata Hearst. Ataques de grupos conservadores, que não aceitam o menino de rua, fazem Outcault desistir de sua criação. Em 1902 faz grande sucesso com Buster Brown (Chiquinho).

Crise
Com o final da 2a Guerra, os quadrinhos passam por uma fase difícil, tanto na Europa quanto nos EUA. Alguns países europeus, apesar de enfrentarem racionamento de papel e tinta, cancelam a importação de revistas dos EUA para barrar a influência americana e valorizar a produção nacional. A censura, a transferência de alguns autores para agências de publicidade e as diretrizes políticas dificultam a produção.

EUROPA
A crise se agrava com o crescimento das críticas de entidades políticas e religiosas. Uma delas apresenta projeto de lei para impedir a entrada de HQs na França. A resistência surge na Bélgica, com Lucky Luke (1946), de Maurice de Bevère e René Goscinny, sátira a todas as histórias de cowboy. Goscinny, juntamente com o desenhista Albert Uderzo, cria Asterix (1959), cujas histórias se passam na Gália durante a conquista romana. As tiras são publicadas na revista Pilote que, juntamente com a francesa Vaillant e as belgas Tintin e Spirou, é responsável pelo renascimento dos quadrinhos europeus.

René Goscinny (1926-1977), roteirista, desenhista, editor e diretor de imagens, nasce em Paris. Aos 2 anos, muda-se com a família para a Argentina. Em 1945 transfere-se para os Estados Unidos e colabora na revista Mad. Na década de 50, lança Lucky Luke, o índio Umpá-Pá e a série Le petit Nicolas. Em 1959, junto com o desenhista Albert Uderzo, cria Asterix, o divertido gaulês sempre em luta contra os romanos, traduzido em mais de 40 idiomas. Com a morte de Goscinny, em 1977, Uderzo acumula as funções de roteirista e desenhista. Uma briga com a editora Dargaud por direitos autorais leva Uderzo a ameaçar, em 1994, que pode se aposentar.

ESTADOS UNIDOS
A rigorosa censura do período macarthista (1950-1954) paralisa a indústria dos comics. Intelectuais culpam os quadrinhos pela crescente delinqüência juvenil. Assustados, os editores submetem os artistas ao Código de Ética, que proíbe violência, terror e sexo. A reação à censura acontece nas revistas Pogo (1949), de Walter Kelly, em que os animais contestam os seres humanos e Mad, violentamente satírica. Na mesma época, Charles Schulz, chamado de "o Freud dos comics", se consagra com Peanuts (Minduim, 1950).

Charles Schulz (1922- ), um dos desenhistas de quadrinhos mais bem pagos do mundo, nasce em Minneapolis, EUA. Filho de um barbeiro, estuda desenho por correspondência. Suas primeiras tentativas de vender Li’l Folks não dão certo. Em 1950, a United Features Syndicate lança a tira, mudando o nome para Peanuts. Baseado em suas falhas e lapsos de menino, o fracassado Charlie Brown e sua turma aparecem em centenas de jornais e revistas do mundo inteiro, viram série de TV, longa-metragem e musical da Broadway.

Revista Mad
No fim do governo de Dwight Eisenhower (1953-1960), as 15 editoras que sobreviveram ao período de caça às bruxas, dentre as 50 que existiam, publicam apenas historinhas insossas, satirizadas por Harvey Kurtzmann que, desafiando o Código de Ética, cria a revista Mad (1952), onde arrasa o estilo de vida americano.

Evolução dos heróis
Ao lançar, em 1961, o Quarteto fantástico, pela editora Marvel Comics, Stan Lee renova o conceito de super-herói. Ao contrário das personagens anteriores, as suas apresentam fraquezas humanas que as aproximam do leitor. Surgem heroínas femininas emancipadas que se contrapõem às frágeis namoradas dos heróis, como Jane (Tarzan) e Olívia Palito (Popeye).

Revistas underground
Nos EUA, os Zap Comix (1968) misturam sexo, drogas e política e fazem coro à contracultura movimento que utiliza valores diferentes dos da sociedade tradicional. Robert Crumb desenha "anti-histórias em quadr", como Fritz the cat, e lidera o movimento das revistas underground (subterrâneo, em inglês) ao lado de Gilbert Shelton, criador dos Freak brothers.

Anti-heróis
Fraquezas humanas aparecem no Homem-aranha (1962), adolescente tímido que tem de aprender a conviver com seus poderes, e no grupo de heróis X-Men (1963). Seguem-se, entre outros, personagens como Hulk (1962), mais monstro do que herói, o Demolidor (1964), que é cego, e o melancólico e filosófico Surfista Prateado (1966). A editora DC Comics, principal concorrente da Marvel, reformula seus super-heróis e inaugura a "Era de Prata" da HQ. Entre os mais importantes ilustradores da época estão Jack Kirby, Jim Steranko, Neal Adams, Berni Wrightson, Gil Kane e Barry Windsor Smith.

Personagens femininas
Os europeus antecipam a liberação feminina e criam os quadrinhos eróticos com Barbarella (1962), de Jean-Claude Forest. A compilação de suas aventuras é o começo das graphic novels, álbuns de grande apuro gráfico, e abre um filão adulto no mercado. No mesmo ano, Quino cria a intelectual Mafalda. Os cortes cinematográficos e clima onírico de Guido Crepax, seguidor de Godard, se revela com a fotógrafa Valentina Rosselli (1965), em desenhos bem elaborados e linguagem revolucionária. Nessa linha surgem Jodelle (1966), de Guy Pellaert, e Paulette (1970), de Georges Wolinski e Georges Pichard.

Quino (1932- ), pseudônimo de Joaquin Salvador Lavado. Filho de espanhóis, nasce em Mendoza, na Argentina. Após freqüentar a Academia de Belas Artes, começa a trabalhar com publicidade. Em 1954 muda-se para Buenos Aires. Em 1962 cria Mafalda a pedido de uma agência publicitária. O desenho é rejeitado e fica engavetado por dois anos, até que a revista Primera Plana solicita uma colaboração regular. A filósofa baixinha, de cabeça grande e enorme laço, que odeia sopa, se transforma num fenômeno internacional. Em 1973 desenha as últimas tiras de Mafalda e passa a dedicar-se aos cartuns e histórias curtas.

Entressafra dos quadrinhos
A crise econômica que tem início em 1973 provoca queda nos títulos. Algumas criações isoladas se destacam. Garry Trudeau recebe o prêmio Pulitzer pela sátira política Doonesbury. Os leitores de jornais se divertem com Hagar, o horrível, o viking de Dick Browne, e se apaixonam por Garfield, de Jim Davis (1978). Em 1974 Richard Corben tira os comic books do marasmo com trabalhos publicados em Heavy Metal. A clássica saga Lanterna Verde-Arqueiro Verde, de Denny O'Neil e Neal Adams, discute temas sociais e mostra super-heróis viciados em drogas. Wally Wood escandaliza ao fazer um pôster das personagens de Disney numa bacanal.
Em 1970 Hugo Pratt inaugura, com o marinheiro Corto Maltese, o romance em quadr. Seu desenho influencia Milo Manara em suas histórias eróticas. Temas fantásticos e poéticos definem o estilo de um dos desenhistas mais premiados do mundo: Moebius, pseudônimo de Jean Giraud, criador, entre outros, do Tenente Blueberry (1963).

Jim Davis nasce em Indiana, nos Estados Unidos e passa a infância numa fazenda, na companhia de 25 gatos. Desde criança gosta de desenhar. Forma-se pela Ball State University e trabalha em publicidade. Em 1969 cria sua primeira tira, o inseto Gnorm Gnat, publicado em um jornal local. Garfield, o gato gordo, preguiçoso e egoísta, surge em 1978, e logo se torna um fenômeno. A tira é publicada em mais de 2.400 jornais do mundo todo.

Quadrinhos contemporâneos
Na década de 80 os quadrinhos atingem cada vez mais o público adulto. As edições são mais luxuosas e as histórias, mais violentas. Os autores japoneses se tornam mais conhecidos no mercado ocidental.

ESTADOS UNIDOS
Em 1982 o judeu-sueco Art Spiegelman ganha, com Maus, os prêmios Yellow Kid, do Salone dei Fumetti, de Lucca, na Itália, o Editorial Playboy, nos EUA, e o Pulitzer de Literatura. Em 1985 surge O cavaleiro das trevas, de Frank Miller, que mostra um Batman violento e psicótico. Lançado em 1986, Watchmen, dos ingleses Alan Moore e Dave Gibbons, disseca o conceito de super-herói de uma forma visual e literária complexa. Moore é também o autor de Miracleman (1982), V de vingança (1988) e Batman: a piada mortal (1989). Artistas ingleses começam a publicar nos EUA: Dave McKean (Orquídea negra), Grant Morrison (Asilo Arkham), Peter Milligan (Skreemer) e Jamie Delano (John Constantine). Neal Gaiman é o autor de Violent cases (1988), Sandman (1989), sofisticada história de horror, além de Livros de magia (1991) e S ignal to noise (1992). Os álbuns de luxo tornam-se mais elaborados com o uso de técnicas como a aquarela e a colagem. Seus mestres são Dave McKean, Bill Sienkiewicz, Brian Bolland, George Pratt, Kent Williams, Jon Mutt e Duncan Fegredo. Leitores de todas as idades rendem-se às reflexões de Calvin e seu tigre Haroldo, de Bill Watterson.
Art Spiegelman (1948- ), um dos mais célebres cartunistas da vanguarda americana, nasce na Suécia e emigra com os pais para os Estados Unidos. Publica vários cartuns no New York Times e Playboy. Torna-se co-editor e colaborador da revista underground Raw. Sua obra-prima, Maus, em que os nazistas são gatos e os judeus ratos é inspirada na história de seu pai, um sobrevivente judeu dos campos de concentração.

Frank Miller (1957- ), desenhista e argumentista americano, é um dos maiores inovadores dos quadr. Sua carreira começa em 1979, quando trabalha em O Demolidor, criação dos anos 40 de Jack Cole. Fã dos mangás japoneses, Miller dá novo formato à série e introduz a personagem Elektra, que depois ganharia aventuras próprias. Em 1983 cria Ronin, um samurai do futuro que se torna um clássico internacional.

Bill Watterson nasce nos EUA. Em 1984 as tiras de Calvin, o garotinho que tem no tigre de pelúcia seu maior amigo, começam a ser distribuídas. Elas transformam-se num êxito internacional e são publicadas em cerca de 1.800 jornais. Bill Watterson detesta dar entrevistas e pouco se sabe sobre sua vida. O contato com os editores é feito por sua mulher, Melissa.

Jogos de marketing
No momento em que os super-heróis tornam-se novamente uma febre mundial, ocorre uma revolução no mercado americano: o sistema de venda direta. As editoras produzem tiragens exatas, com público assegurado pelo distribuidor. Em 1989 o americano Todd McFarlane vende 3 milhões de exemplares de seu Homem-Aranha, recorde apenas superado pelos 7 milhões de exemplares dos X-Men que o coreano Jim Lee comercializa em 1992, ambos pela Marvel. A DC Comics reage: mata o Super-homem, em 1992, e vende 3,5 milhões de exemplares. Em 1993 o ressuscita em novas aventuras. Da mesma forma aleija o Batman (1993), procurando atrair mais consumidores.

Nova editora
Atento ao mercado, McFarlane funda, em 1992, com Lee e outros desenhistas contemporâneos, a Image. Amparada por bons desenhistas, chama roteiristas famosos como Moore, Gaiman e Miller.

EUROPA
Na Itália, França e Espanha, aumenta a produção de álbuns luxuosos. Gaetano Liberatore lança o lascivo Ranxerox e Vittorio Giardino parodia Little Nemo nos sonhos eróticos da jovem Little Ego. O inglês Pat Mills faz, desde 1977, crítica social em Judge Dredd. A violência cínica de Torpedo, de Jordi Bernet, destaca-se em meio às histórias espanholas. Barcelona e Bruxelas firmam-se como os atuais grandes centros dos quadrinhistas europeus. Nos anos 90, o cineasta Federico Fellini, que tinha sido autor de HQ, publica, com Milo Manara, Viagem a Tulum. Sérgio Bonelli amplia sua influência com o faroeste Tex (sucesso desde 1948) e as histórias de terror de Dylan Dog. Na nova safra, destacam-se o iugoslavo Enki Bilal e o francês François Bourgeon, autores de HQs de fantasia e ficção cientí fica. Atualmente, França e Itália enfrentam uma crise de mercado.

AMÉRICA LATINA
A produção mais intensa está na Argentina, país onde o autor nacional tem grande reconhecimento do público. O mais importante roteirista é Hector Germán Oesterheld (Sargento Kirk, com desenhos de Hugo Pratt). José Muñóz e Carlos Sampayo, com o detetive Alack Sinner, e Carlos Trillo, com Alvar Mayor, um fidalgo espanhol que vive entre os índios, fazem sucesso na Europa. Uruguaio radicado em Buenos Aires, Alberto Breccia é internacionalmente admirado por Mort Cinder (1962) e suas personagens que viajam no tempo.

JAPÃO
Ao lado dos EUA, o Japão é um dos maiores produtores e consumidores de HQs. Os mangás atingem todas as idades com inigualável multiplicidade de gêneros. Kazuo Koike, Katsushiro Otomo, Kazuya Kudo, Ryoichi Ikegami e Sho Fumimura são alguns dos desenhistas mais bem pagos do mundo. Akira (1982), de Otomo, e o Lobo solitário (1980), de Koike, sucessos de vendas, influenciam Batman, de Frank Miller, nos EUA. Para penetrar na Europa, as editoras japonesas tentam contratar desenhistas europeus. Ikegami combina tradição e modernidade em Mai, a garota sensitiva, Crying freeman e Sanctuary.

HISTÓRIA EM QUADRINHOS NO BRASIL
A publicação de histórias em quadrinhos no Brasil começou no início do século XX. No país o estilo comics dos super-heróis americanos é o predominante, mas vem perdendo espaço para uma expansão muito rápida dos quadrinhos japoneses (conhecidos como Mangá). Artistas brasileiros têm trabalhado com ambos os estilos. No caso dos comics alguns já conquistaram fama internacional (como Roger Cruz que desenhou X-Men e Mike Deodato que desenhou Thor, Mulher Maravilha e outros).
A única vertente dos quadrinhos da qual se pode dizer que desenvolveu-se um conjunto de características profundamente nacional é a tira. Apesar de não ser originária do Brasil, no país ela desenvolveu características diferenciadas. Sob a influência da rebeldia contra a ditadura durante os anos 60 e mais tarde de grandes nomes dos quadrinhos underground nos 80 (muitos dos quais ainda em atividade), a tira brasileira ganhou uma personalidade muito mais "ácida" e menos comportada do que a americana.
Índice

1960 à atualidade

Em 1960 começou a ser publicado a revista O Pererê com texto e ilustrações de Ziraldo (mesmo autor de O Menino Maluquinho). O personagem principal era um saci e não raro suas aventuras tinham um fundo ecológico ou educacional.

Também na década de 60 o cartunista Henfil deu início a tradição do formato "tira" com seus personagens Graúna e Os Fradinhos.


Foi nesse formato de tira que estrearam os personagens de Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica ainda no fim de 1959.
Só mais tarde suas histórias passaram a ser publicadas em revistas, primeiro pela Editora Abril e depois pela Editora Globo.
Nos anos 60 o golpe militar e seu moralismo bateram de frente com os quadrinhos, em compensação inspirou publicações cheias de charges como O Pasquim que, embora perseguido pela censura, criticavam a ditadura incansavelmente.
A revista Balão, fundado pelo Laerte e pelo Luiz Gê e publicada por alunos da USP e com a curta duração de dez números, revelou autores consagrados até hoje, como os irmãos Paulo e Chico Caruso, entre outros. Angeli, Glauco e Laerte vieram ajudar a estabelecer os quadrinhos underground no Brasil durante os anos 80, desenhando para a Editora Circo em revistas como Circo e Chiclete com Banana. Juntos produziam as histórias de Los Três Amigos (sátira western com temáticas brasileiras) e separados renderam personagens como Rê Bordosa, Geraldão e Overman. Mais tarde juntou-se a "Los Três Amigos" o quadrinista gaúcho Adão Iturrusgarai. Estes quatro publicam até hoje na Folha de São Paulo e lançam álbuns por diversas editoras (mas principalmente pela Devir Livraria). A Folha também publica tiras de Caco Galhardo (Pescoçudos) e Fernando Gonsales (Níquel Náusea). Nesse período, muitas publicações independentes (fanzines) começaram a circular, aproveitando o boom das HQs em meados dos anos 80. Uma dessas publicações de grande sucesso foi o fanzine SAGA, que inovou na época, ao trazer impressão em profissional e capas coloridas, coisa totalmente anormal, para um fanzine, que por regra era feito em copiadoras comuns. Seus membros continuam ativos, como Alexandre Jurkevicius e seu personagem Peralta, A. Librandi atua na área de promoção e Walter Junior continua ilustrando.
Apesar de existirem diversas revistas voltadas estritamente para a HQ nacional, como "Bundas" (já extinta), "Outra Coisa" (com informações sobre arte independente) e "Caô", pode-se considerar que o gênero ainda não conseguiu se firmar no Brasil.
Na década de 90, a História em Quadrinhos no Brasil ganhou impulso com a realização da 1.a e 2.a Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro em 1991 e 1993, e a 3.a em 1997 em Belo Horizonte. Estes eventos, realizado em grande número dos centros culturais da cidade, em cada versão contou com público de algumas dezenas de milhares de pessoas, com a presença de inúmeros quadrinistas internacionais e praticamente todos os grandes nomes nacionais, exposições cenografadas, debates, filmes, cursos, RPG e todos os tipos de atividades.
No fim da década de 1990 e começo do século XXI, surgiram na internet diversas histórias em quadrinhos brasileiras, ganhando destaque os Combo Rangers, criados por Fábio Yabu que tiveram três fases na internet (Combo Rangers, Combo Rangers Zero e Combo Rangers Revolution, que ficou incompleta), uma mini-série impressa e vendida nas bancas (Combo Rangers Revolution, Editora JBC, 2000, 3 edições), ganhando, posteriormente, uma revista mensal pela mesma JBC (12 edições, Agosto de 2001 a Julho de 2002) e, posteriormente, pela Panini Comics (10 edições, Janeiro de 2003 a Fevereiro de 2004).
Os Guerreiros da Tempestade formam um grupo de super-heróis legitimamente brasileiros criados por Anísio Serrazul e começaram a ser publicados pela ND Comics no início de 2005, que está sediada em Goiânia. Tendo como diretor comercial o também roteirista Fábio Azevedo, o título segue a linha estética dos comics americanos. As suas aventuras são as primeiras a estar presentes em todas as bancas do país. Os personagens são legitimamente brasileiros, tendo como arquinimigos seres do futuro que desejam roubar as riquezas naturais da Terra para reconstruí-la.
Hoje em dia, do ponto de vista das grandes tiragens ha predominância das histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, que fazem sucesso em outros lugares do planeta, mas conta-se com uma nova geração de quadrinistas, muitos que se projetam no cenário internacional.

Outcault, o pai dos quadrinhos
Richard Felton Outcault nasceu em 14 de Janeiro de 1863, em Lancaster, Ohio. Diplomou-se em Artes pela McMicken University e, logo depois de seu casamento com Mary Jane Martin – realizado em 25 de Dezembro de 1890 – mudou-se para Nova Iorque com o objetivo de desenvolver sua carreira de ilustrador.
Em Nova Iorque, Outcault fez ilustrações e charges para as revistas The Electrical World, Judge e, entre outras, Life (1883-1936). Entretanto, só foi ter sua grande oportunidade quando se tornou ilustrador do New Yourk World e criou Down Hogan’s Alley.
De gênero humorístico e realizada na forma de painéis semanais – às vezes esses painéis enchiam páginas inteiras do jornal -, Down Hogan’s Alley não contava uma história. Apenas mostrava os acontecimentos e os habitantes de um bairro pobre novaiorquino.
Todavia, ainda que nunca tenha contado uma história, Down Hogan’s Alley é de grande importância para a história em quadrinhos, pois deu origem àquela que muitos historiadores e pesquisadores dos quadrinhos consideram a primeira história em quadrinhos do mundo: O menino amarelo (The Yellow Kid, no original).

Pulitzer é um precursor das HQs
Aos 17 anos de idade, o húngaro Joseph Pulitzer (1847-1911) deixou sua terra natal e percorreu diversos países da Europa, à procura de um exército que o recrutasse. Como não conseguiu seu objetivo, foi para os EUA, onde se alistou no Exército da União. Depois de dar baixa, teve várias ocupações sem importância, até que, em 1868, se tornou repórter do Westliche Post, o principal diário em língua alemã de St. Louis, Missouri. Mas não ficou muito tempo nesse emprego, uma vez que, em 1869, elegeu-se deputado estadual. Depois, em 1883, quando já morava em Nova Iorque, comprou o New York World, um jornal que desde sua fundação lutava pela sobrevivência.
Logo após ter sido comprado por Pulitzer, o New York World passou por uma transformação completa – suas páginas foram tomadas por manchetes enormes, artigos sensacionalistas, seções esportivas e numerosas ilustrações –, a fim de atrair novos leitores.
Também com a finalidade de aumentar as vendas do New York World, Pulitzer concentrou seus esforços no suplemento dominical do jornal que, a partir de 1894, teve entre seus principais ilustradores Richard Outcault, criador de Down Hogan’s Alley, uma precursora das histórias em quadrinhos.

Duas versões para a mesma HQ
Do mesmo modo que ocorrera com The Yellow Kid, The Katzenjammer Kids originou uma disputa judicial. Em 1913, após fazer uma viagem pela Europa, Rudolph Dirks trocou o New York Journal, de William Randolph Hearst, pelo New York World de Joseph Pulitzer. Hearst não gostou nem um pouco dessa atitude e resolveu disputar judicialmente com Dirks a propriedade de Katzenjammer Kids.
Depois de uma longa batalha judicial, os tribunais decidiram que Dirks podia desenhar seus personagens para o World – ele deveria apenas trocar o título da história – e Hearst podia publicar no Journal a história com seu título original e seus personagens costumeiros. Assim, em novembro de 1914, surgiram duas versões para a mesma história em quadrinhos: uma publicada no World e realizada por Dirks, a outra publicada no Journal e produzida por Harold H. Knerr, que, entre 1903 e 1914, realizou para o jornal Philadelphia lnquirer as páginas dominicais de Die Fineheimer Twins, uma história em quadrinhos inspirada em The Katzenjammer Kids.

Little Nemo in Slumberland
Em 15 de outubro de 1905, mais ou menos um ano após o aparecimento de Sonhos de Um Comilão, Little Nemo In Slumberland (no Brasil essa história em quadrinhos foi publicada com os seguintes títulos: Little Nemo ln Slumberland, O Sonho de Carlinhos e Nemo Floresta no Pais da Sonolândia), a série quadrinística mais conhecida de Winsor McCay, surgiu nas páginas do jornal NewYork Herald, cujo proprietário era James Gordon Bennett.
Apresentadas sempre em páginas dominicais coloridas, as histórias de Little Nemo in Slumberland obedeciam a um esquema fixo: constantemente rodeado de pessoas, coisas e cenários singulares, Nemo, um menino de cerca de 7 anos de idade, vivia as mais exóticas e inesperadas aventuras. Depois, no último quadrinho da página, ele era mostrado despertando abruptamente (às vezes, era mostrado caído da cama; outras vezes, sendo chamado pela mãe ou pelo pai). Os leitores descobriam, então, que as peripécias vividas por Nemo não passavam de sonhos. E, nesses sonhos, ocorridos em Slumberland (numa tradução literal, Terra do Sono), os mágicos domínios do rei Morpheus e de sua filha, a Princesa, cujo nome nunca foi revelado, Nemo tinha como companheiros mais ou menos constantes: Flip, um anão de rostos verde; lmpy, um canibal arrependido; e o charlatanesco Dr. Pill.

Will Eisner (criador de The Spirit)
"Esta antiga forma artística, ou método de expressão, desenvolveu-se até resultar nas tiras e revistas de quadrinhos, amplamente lidas, que conquistaram uma posição inegável na cultura popular deste século. É interessante notar que apenas recentemente a Arte Sequencial emergiu como disciplina discernível ao lado da criação cinematográfica, da qual é verdadeiramente uma precursora. Arte Sequencial tem sido geralmente ignorada como forma digna de discussão acadêmica. Embora cada um dos seus elementos mais importantes, tais como o design, o desenho, o cartum e a criação escrita, tenham merecido consideração acadêmica isoladamente, esta &uacutenica combinação tem recebido um espaço bem pequeno (se é que tem recebido algum) no currículo literário e artístico."

Alex Raymond (1909-1956, criador de Flash Gordon, Jim of the Jungle e Nick Holmes)
"Estou sinceramente convencido de que a arte dos quadrinhos é uma forma de arte autônoma. Reflete sua época e a vida em geral com maior realismo e, graças a sua natureza essencialmente criativa, é artisticamente mais válida do que a mera ilustração. O ilustrador trabalha com máquina fotográfica e modelos; o artista dos quadrinhos começa com uma folha de papel em branco e inventa sozinho uma história inteira - é escritor, diretor de cinema, editor e desenhista ao mesmo tempo"

Picasso
"A grande mágoa da minha vida é nunca ter feito quadrinhos"

Scott McCloud (autor de Zot e Desvendando os Quadrinhos)
"Compreender os quadrinhos é um negócio sério. Hoje eles são uma das poucas formas de comunicação de massa na qual vozes individuais ainda têm chance de ser ouvidas. Hoje, as possibilidades do quadrinhos são, como sempre foram, ilimitadas. Os quadrinhos oferecem recursos tremendos para todos os roteiristas e desenhistas: constância, controle, uma chance de ser ouvido em toda parte, sem medo de compromisso... Oferece uma gama de versatilidade com toda a fantasia potencial do cinema e da pintura, além da intimidade da palavra escrita. É só necessário o desejo de ser ouvido, a vontade de aprender, e a habilidade de ver."
Dave Sim (criador de Cerebus)
"Quadrinhos são o único meio onde é possível produzir algo realmente idiossincrático e tê-lo largamente difundido a um custo muito baixo."

Richard Corben (criador de Den)
"A história em quadrinhos é, primordialmente, um meio visual. São os desenhos, o plano das páginas, a harmonia gráfica das imagens, cenas e personagens, o que atraem o leitor em primeiro lugar. Logo, o desenho deve estar também disposto de modo convencional para que forme uma narração. Certos desenhistas colocam mais ênfase na primeira tarefa, atração visual, enquanto outros trabalham mais minuciosamente os elementos descritivos e narrativos. Creio pertencer à segunda categoria, assim como a maioria dos desenhistas que admiro."

Frederico Fellini
"Histórias em quadrinhos são a fantasmagórica fascinação daquelas pessoas de papel, paralisadas no tempo, marionetes sem cordões, imóveis, incapazes de serem transpostas para os filmes, cujo encanto está no ritmo e dinamismo. É um meio radicalmente diferente de agradar aos olhos, um modo único de expressão. O mundo dos quadrinhos pode, em sua generosidade, emprestar roteiros, personagens e histórias para o cinema, mas não seu inexprimível poder secreto de sugestão que reside na permanência e imobilidade de uma borboleta num alfinete."


Fontes:
http://www.historiaemquadrinhos.hpg.ig.com.br/
http://pt.wikipedia.org/

Neusa Padovani Martins


Psicóloga, Pedagoga e Especializada em Educação . Durante mais de 25 anos dedicou-se ao trabalho nesta área. Proprietária do Centro de Desenvolvimento Infantil “ Potinho de Mel” onde fez um espaço de implantação de tantas idéias inovadoras e diferenciadas que tinha para época e que se fundamentavam nos pressupostos de Paulo Freire e Carl Rogers. Os aluninhos não tinham um uniforme para usar e muito menos tarefas rigidamente planejadas para realizarem, no entanto, tinham uma assistência ampla e irrestrita na deliciosa arte do brincar. Também nesta escola realizou o sonho da inclusão sócio-educacional, fazendo com que as várias formas de ser pudessem se mesclar.

Fechou a escola e depois desta muitas outras vieram, cada uma com uma necessidade única e especial. Em algumas implantou os mais diferentes trabalhos, desde os de inclusão até os de alimentação.

Neste tempo ministrou várias palestras para pais e professores, e alguns cursos também, sempre tendo como foco a criança, seu desenvolvimento e sua aprendizagem.

Para algumas escolas criou e apostilou materiais didáticos especiais, haja visto que naquele tempo ainda não era comum o apostilamento dos cursos educacionais.

Paralelo ao trabalho educacional sempre teve seu consultório para atendimento clínico, realizando um trabalho diferenciado que tirava de dentro da sala determinados clientes, auxiliando-os a transportar as barreiras da socialização, usando a rua como forma de inclusão.

Para cuidar e formar seus filhos quando eles chegaram em sua vida e insistindo em ser para eles aquilo que o curso de Psicologia tanto ensinara, decidiu diminuir seu ritmo encontrando na Consultoria Escolar uma ótima alternativa de trabalho.

Paralelo a isso tudo trabalhou com vários alunos na organização de monografias e trabalhos de pesquisas.

Há alguns anos, acompanha a filha pelos caminhos do mundo da Moda, atuando com ela na organização de eventos e na área da Psicologia da Moda. Há algum tempo criou dentro do site de seus filhos, o www.sorocult.com o ”Espaço Literário” com o objetivo de divulgar os trabalhos na área da literatura em Sorocaba e Região.

Decidiu colocar em um livro alguns de seus textos escritos após sua participação na 1ª Semana do Escritor de Sorocaba. Conforme suas palavras, seu marido e filhos a intimaram a abrir a gaveta e mostrar através de situações do cotidiano ora com nostalgia, ora com humor, que para ser feliz é preciso dançar conforme a vida. Sem medos e vergonhas, amando e deixando-se amar, respeitando e impondo respeito, Neusa escreve de forma fluida e agradável de ler.

Reuniu ainda alguns dos seus inúmeros textos num primeiro livro que lançou em julho de 2006, chamado “Dançando Conforme a Vida”, também co-autora do livro de coletâneas Roda Mundo 2006. Pertence ainda ao selecionado time de colunistas dos sites www.jornalecos.net e www.vaniadiniz.pro.br. É co-autora na 1ª Coletânea Literária do site www.sorocult.com

Em artigo para o Jornal'Ecos da Literatura Lusófona. Douglas Lara salienta:

Livros novos de autores sorocabanos como “Das Gavetas” ou “Dançando Conforme a Vida”, de Neusa Padovani Martins, lançados durante a 2ª Semana do Escritor Sorocabano, oferecem aos leitores uma visão diferenciada e muita criatividade da nossa realidade, principalmente o “Dançando”, que são textos que a autora escreveu no decorrer de sua existência.

Por isso, alguns deles fazem menção a um fato ou episódio particularmente especial em sua vida. Longe de ser um livro autobiográfico, é antes uma obra que fala das coisas simples e marcantes na vida de qualquer um de nós.

Para isso, a autora usou de uma linguagem que vem cheia de rimas suaves que dão leveza e fluidez ao texto. Mãe, pai, sobrinhos ou situações kafkianas, todo mundo tem na vida, porém, a forma de se retratar cada um deles é que acaba por fazer toda a diferença.

Quando Neusa conta a situação que viveu ao ficar presa no quintal de sua própria casa e ser salva por bombeiros, o leitor pode pensar no quanto corajosa foi a autora em expor o ridículo pelo qual passou. É exatamente neste ponto que a autora demonstra que as pessoas precisam aprender a rir de si próprias, procurando o encantamento do viver e ser feliz, dentro de sua própria vida, e não fora delas.

Este livro vem também quebrar um paradigma antigo que diz que um livro deve ter um único lado para começar. O “Dançando” tem dois começos com um tema específico para cada um deles. É um livro para ser lido, virado ao contrário e lido novamente, algo inovador dentro do universo das edições.

Assim, caro leitor, permita-me voltar a falar do poeta e professor Paulo Tortello, que foi homenageado pelo professor e um dos autores do livro “Das Gavetas”, o poeta e revisor de livros João Alvarenga, também antigo colaborador do “Fanletras”. A homenagem vem em boa hora, pois Paulo Tortello foi o criador do projeto “Poesia em Debate” que existe há mais de uma década, sendo uma bandeira de resistência da poesia em nossa cidade.

O “Das Gavetas” é inspirado no fanzine “FanLetras”, editado pelos autores nos anos 90, que tinha a função de veicular a produção de textos literários que não despertavam o interesse das grandes editoras.

Assim, leitor, pense e tire suas conclusões. Se esse grupo de jovens autores não tivesse a coragem de partir para a produção independente de tal livro, será que a cidade saberia que eles são cronistas e que têm textos que vão do irônico ao melancólico? Assim, iniciativas como essas associadas às antologias são soluções criativas para divulgar os nossos talentos e tirar a literatura da mesmice.

Logo, procure e, sempre que possível, ler autores novos. Eles são muitos e ainda não estão contaminados pela fórmula do sucesso fácil, divulgam o que escreve com dificuldade, tentando quebrar paradigmas da arte pronta, pois estão na fase inicial de sua produção e não sabemos se, depois do sucesso alcançado, poderão ter a liberdade deste momento ou se terão que escrever como mandam os editores que vislumbram apenas mais um novo sucesso de vendas.

Fontes:
http://www.sorocult.com/

Douglas Lara. in
http://recantodasletras.uol.com.br/

Douglas Lara. Jornal'Ecos da Literatura Lusófona. 10 de Outubro de 2006 - Edição N°50. in
http://www.jornalecos.net/

Neusa Padovani Martins (Aprendendo a gostar de ler)

Quem gosta muito de filmes sente um prazer imenso em freqüentar as salas de cinema, as vídeo locadoras e os inúmeros canais da TV por assinatura dedicados exclusivamente aos filmes dos mais variados gêneros. Um amante de Cinema ao entrar em uma vídeo locadora para escolher filmes para serem locados poderia ser comparado, a grosso modo , a um amante de pizza que entra numa pizzaria para escolher uma pizza num longo cardápio. Por isso é que se costuma dizer que um bom filme deveria ser degustado. A sensação que se tem ao escolher filmes para serem locados é uma experiência única onde a imaginação envolve-se com a emoção ante o simples ato de ler a sinopse do filme.

O mesmo acontece com quem é amante dos livros. Este ao avistar uma livraria com suas vitrinas forradas deles, sente um impulso imediato de tocá-los folheando suas páginas para vagarosa apreciação e avaliação. Há quem diga que o cheiro de uma livraria é algo de raro prazer e por isso mesmo ao escolher um livro, seja numa livraria ou numa biblioteca, o amante dos livros muitas vezes demora-se nesta tarefa de forma proposital. Através de um livro a pessoa viaja para outras culturas, conversa com personagens imaginários, forma opiniões, debate com suas próprias dúvidas, aprendendo a explorar novos conhecimentos, adquirindo outras visões de sua realidade.

Existem pessoas que não conseguem viver sem ler. Elas lêem com avidez tudo o que podem das mais diversas formas e nos mais diversos locais. Porém nem todos são assim e muito pouco apreciam a leitura. Quando isso ocorre deveria-se ter o cuidado para não se forçar ninguém a ler porque não é esta a forma correta de se formar um leitor de verdade. Basta que se veja a quantas anda a literatura dentro das escolas frente aos alunos.

O que se deve fazer é dar à pessoa condições de ter acesso aos livros de forma que ela possa escolher o livro certo para ser lido naquele momento de sua vida. Este livro certo não deve significar o último lançamento ou aquele que todos estão lendo e comentando. Mas sim aquele que possa ir de encontro às suas necessidades pessoais seja lá relacionadas ao que for.

Assim como os filmes, os livros são classificados por seus gêneros e assuntos centrais havendo quem aprecie mais um do que outro. Por isso pode soar de forma indelicada fazer uma indicação de leitura para alguém dizendo que um livro é melhor para ela do que um outro. Também não é correto dizer que certos livros são melhores que outros, porque desde que bem escritos, todos os livros podem ser bons, sendo que o que diferencia um do outro é o conteúdo que cada um tem.

Infelizmente hoje em dia vemos que além daquela pessoa que não teve chance de aprender a ler e escrever existe aquela que apesar de letrada e muitas vezes bem graduada, e que por pura preguiça e inércia mental, insiste em cultivar uma ignorância deliberada não dando importância aos assuntos relacionados à cultura e educação, correndo atrás de outros prazeres pessoais mais imediatos que aliviem sua ansiedade e angústia frente à vida que tem.
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De qualquer forma quando alguém não gosta muito de ler, mas quer fazer uso de uma boa leitura, seria aconselhável que se buscasse aqueles livros que estão mais voltados às áreas de seu maior interesse, como por exemplo, se alguém gosta de música deve procurar livros cujo tema central esteja voltado para a música e assim por diante, até que a pessoa comece a sentir prazer em ler. Não é tarefa das mais fáceis, tampouco missão impossível de ser atingida, pois uitos se transformaram em bons leitores percorrendo este caminho.
Então, o que você está esperando para tentar? Comece hoje mesmo e “boa leitura”.

Fonte:
http://www.sorocult.com/

Neusa Padovani Martins (Visitando Dorothy e Mimi)

Há momentos na vida que determinam se uma nova amizade vai ou não dar certo. Comigo e com Dorothy foi assim. Não sei se por obra do próprio destino ou se realmente fizemos as duas com que tudo acontecesse como aconteceu, a verdade é que ficamos amigas por obra do destino sim e também porque escolhemos nos conhecermos mais naquela nublada e abafada manhã de domingo.

Mal a porta se abriu revi minha amiga que até aquele momento era mais um projeto de amiga do que outra coisa qualquer.Com seus olhos de um ofuscante azul celestial ela me recebeu com um abraço e em troca lhe dei outro também. Havíamos nos visto uma única vez no lançamento de um livro em forma de coletânea do qual ambas participamos e depois no lançamento do meu próprio também. Como sempre acontece neste tipo de evento, todos se conhecem e prometem se visitarem mesmo que morem em estados diferentes. Na verdade o desejo de travar conhecimento maior é sempre grande, mas como todo bom adulto vivido, sabe-se muito bem que o tempo e a distância são impedimentos muitas vezes para tantas situações assim.

Sinto-me estranha às vezes porque me diferencio da maioria em muitas situações, e esta foi certamente uma delas. Por isso também procurei Dorothy. Para tê-la perto de mim como coadjuvante literária, eu não precisaria visitá-la e passar pelos momentos divinos que passei. O primeiro deles foi sem dúvidas neste domingo em que a visitei. Fomos minha filha e eu até a casa dela depois da visita acertada via telefone.

Depois dos cumprimentos cerimoniosos de costume, passei pela porta de sua casa indo alojar-me, junto de minha filha, no sofá da sala de visitas. Também de forma cerimoniosa coloquei minha bolsa ao lado e as mãos sob as pernas à espera que a dona da casa se acomodasse também. Foi neste exato momento que a moradora mais ilustre da casa, a gata Mimi apareceu com ares de quem queria saber, afinal, quem eram as inoportunas visitas naquela morna manhã de domingo. – “Não teriam aquelas duas mais o que fazer? Um encontro religioso, uma feira, uma caminhada pelo bairro, um relax enfrente à televisão?”. Pelo jeito não, já que nos encontrávamos ali.

Depois das apresentações costumeiras entre visitantes e animal de estimação da casa, tratei de ser gentil com a tal gata Mimi. Tentei fazer-lhe um carinho do tipo que os gatos costumam tanto apreciar e ela até que pareceu aceitar bem. Enquanto Dorothy falava sobre as façanhas “gatais” da sua Mimi, a felina a olhava tal qual fazem os filhos quando as mães falam sobre eles para alguém. Neste exato momento entendi que para Dorothy a Mimi era mais que uma simples gata, e era mesmo uma amiga. E vice-versa. Só que pude perceber também que Mimi era o tipo de companheira enciumada da atenção que lhe é roubada em favor da visita presente.

Conhecedora que fui dos gatos por volta de minha infância e adolescência, tratei de dar à bichana atenção maior que à sua dona, motivo verdadeiro da minha visita.Mas não me preocupei em pensar que Dorothy não iria gostar de tamanha demonstração de estima pela gata e por ela não, porque amante dos animais como sou, gosto muito quando os que me visitam se deslumbram com meus filhos-cachorro, verdadeiros filhos do coração. Evidentemente, adoro que minhas visitas se debulhem sobre meus filhos-gente e isso é indiscutível, mas os animais sempre me fascinaram realmente. E era sobre isso que falávamos ali enfrente a uma Mimi séria e compenetrada.

Quando finalmente Dorothy acomodou-se na sua poltrona ao lado do gracioso sofá em que minha filha e eu havíamos nos sentado, percebi que Mimi também tratou de se acomodar à nossa frente olhando agora candidamente para sua amada dona. A roda de conversa estava fechada com três mulheres e uma gata cujos olhos azuis insistiam em combinar com os olhos da dona. Começamos, enfim, a conversar sobre tantos assuntos que pareciam à espera de tanto tempo para serem debatidos. Era como se fôssemos amigas há muitos anos e após um distanciamento forçado e longo tivéssemos nos reencontrado finalmente.

A cada palavra que dizíamos nossa intimidade e familiaridade só se faziam aumentar e sem que eu percebesse, enquanto falava, ainda continuava a afagar carinhosamente a cabeça de Mimi, sentada à minha frente de forma tão elegante e clássica como conseguem apenas os gatos.Enquanto meus dedos a alisavam, ela, parecendo cansada daquele meu lengalenga, começou a virar a cabeça tentando retirar minha mão dali, e a cada leve abocanhada tentava me dizer que não estava a fim daquele nhem-nhem meu.

Dorothy já se mostrando incomodada com os maus jeitos da filha-amiga-gata passou a chamar-lhe a atenção. Mas a danadinha da felina parecia não ligar, fazendo-me crer que aquele lindo animalzinho sequer poderia imaginar que não era gente e sim um bichinho de estimação. Então, entendi num lampejo, que parecia que Mimi me perguntava a cada abocanhada, por quê só a ela eu fazia carinhos passando a mão na sua cabeça? Por que não dispensava o mesmo gesto carinhoso a Dorothy e minha filha? Por que só a ela, então?

Desta forma sem titubear um só segundo, retirei a mão de sua cabeça cuidando de dar a ela a mesma e respeitável atenção que dava à sua dona e à minha filha, entendendo que, quisesse eu, ou não, aquela gata à minha frente estava ali sentada fechando a roda de conversação, participando com maestria de todos os assuntos ali tratados, como a pessoa que ela pensava ser.

Fonte:
http://www.sorocult.com/

Dorothy Jansson Moretti


Nasceu em Santa Catarina e aos 2 anos de idade passou a morar em Itararé quando seu pai Klas Gustaf Jansson instalou a foto Jansson na cidade.

Desde menina gosta de poesia e literatura, mas foi aos 16 anos que iniciou-se na poesia fazendo acrósticos em ábuns de recordações de pessoas amigas.

Professora de Inglês aposentada no Instituo Mackenzie.

Foi secretária da Casa do Poeta “ Lampião de Gás” de São Paulo.

Pertence à : Associação Paulista de Imprensa, Academia Sorocabana de Letras, União Brasileira de Trovadores, Casa do Poeta da Capital de São Paulo e sócia correspondente de várias academias de letras do país.

Escreve sonetos, trovas e crônicas para jornais e revistas do interior e para o “ Fanal”, órgão poético da Casa do Poeta “ Lampião de Gás” de São Paulo.

Faz parte de várias antologias poéticas e participa de muitos concursos literários, os quais lhe tem proporcionado vários troféus.

É autora da letra do hino do Colégio Estadual “ Amadeu Amaral”, da capital paulista e da letra do Hino à Itararé , da cidade do mesmo nome.

Publicou um livreto com suas trovas premiadas, intitulado “ Frasco Vazio” , quando residia na cidade de Curitiba, Estado do Paraná.

Atualmente vive já muitos anos em Sorocaba, Estado de São Paulo, onde publicou um livro de soneto “ Folhas Esparsas”, e um livrinho intitulado “ Trovas ao Vento” .

É autora dos seguintes livros:
Folhas Esparsas (Sonetos)
Trovas ao vento
Chá da Tarde (Trovas)
1a. Coletânea do Espaço Literário do site www.sorocult.com (Co-autora)

Antologia Roda Mundo 2006 (co-autora)

Fonte:
http://www.sorocult.com/

Douglas Maria Lara (1938)

Douglas Lara é coordenador da coletânea Roda Mundo; idealizador da Semana do Escritor de Sorocaba. Douglas Lara, nascido em 24 de janeiro em Sorocaba/SP/Brasil. Formado bacharel em ciências contábeis. Organizador da coletânea Roda Mundo 2006 e anteriores; idealizador da Semana do Escritor de Sorocaba.

A carreira profissional de Douglas Lara pode ser dividida em duas fases, completamente distintas. A primeira, que se estende por 35 anos, é a do alto funcionário de grandes corporações como a Price Waterhouse, DuPont e Toddy do Brasil, na área de contabilidade e auditoria. Já a segunda começa em 1995, quando Douglas Lara deixa a atividade empresarial e passa a trabalhar por conta, ministrando aulas de Inglês para executivos, realizando divulgação de escritores e iniciando, lentamente, a preparação para alçar vôo em um novo ramo: a edição de livros.

O currículo de editor começa em 2003, com a publicação da antologia "Onze Autores da Web". O projeto chamou a atenção da mídia pelo ineditismo, uma vez que carreou para o livro impresso escritores que desenvolveram suas carreiras em parte ou totalmente na internet. Com "Onze Autores da Web", Douglas Lara colocou em prática um sistema de produção cooperativado que se mostrou extremamente bem-sucedido. A cooperativa permite, de um lado, a divisão dos custos entre os autores, e, de outro, a somatória de esforços para a divulgação do livro.

Seguem-se outros projetos de antologias igualmente bem-sucedidos: "Roda Mundo, Roda Gigante - Antologia Internacional 2004" e "Antologia Internacional VMD" (com autores do portal Vânia Moreira Diniz), ambos lançados em 2004 e disponíveis no site da Livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br) . "Roda Mundo, Roda Gigante..." firmou a reputação de Douglas Lara como um "movedor de montanhas": pacientemente, utilizando a internet, o editor conseguiu arregimentar nada menos que quarenta autores, residentes em doze países e quatro continentes, assinando textos em Português e Espanhol.

Com lançamento em julho e setembro de 2005, respectivamente, estão duas outras antologias: "Roda Mundo, Roda Gigante - Antologia Internacional 2005" e "Antologia de Textos Jurídicos" (título provisório). A primeira, promete repetir o sucesso da versão 2004, com a presença de escritores de diversos países, representando diferentes culturas e modos de ver o mundo. Já a segunda reflete uma primeira incursão temática, voltada exclusivamente para o universo das leis.

Atualmente, ao lado das atividades de editor, Douglas Lara desenvolve um trabalho de divulgação de escritores para jornais, revistas e sites especializados em Literatura. Em Sorocaba (SP), cidade onde nasceu em 1938, divide seu tempo entre projetos de livros, produção de contos e artigos e reuniões do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, do qual é membro efetivo. Sua presença na internet faz dele uma personalidade internacional. Recentemente, recebeu o Lancaster House Award da Rickmarc Publishing (Londres).

Formou-se Mestre em Contabilidade (USP/PUC), Mestre em Gestão de Processos Comunicacionais (ECA/USP), bacharel em Ciências Contábeis (Universidade São Judas Tadeu).

Douglas Lara é sócio da The American Chamber of Commerce (Câmara Americana de Comércio) - São Paulo, desde outubro de 1960; sócio fundador do Institubo Brasileiro de Executivos Financeiros (IBEF); sócio fundador da Associaçao Brasileira de Aluminio (ABAL); sócio permanente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS) e da Sociedade Amigos da Marinha (Soamar). Representando o IBEF, participou de congressos internacionais no Mèxico e na Itália.

Fontes:

Entrevista com Douglas Maria Lara

Jornal Ecos entrevista o divulgador e editor Douglas Lara

Jornal'Ecos: Douglas: Você nasceu em Sorocaba, uma grande cidade paulista, a origem de sua família é de Sorocaba mesmo?
Douglas: Vânia, que bom conversar contigo. Sim, nasci em Sorocaba em 24 de janeiro de 1938 que aproximadamente 70 anos atrás era uma cidade média do interior do estado de São Paulo, ficando a 90 quilômetros da capital.
Penso que não existia melhor lugar para nascer. A vida em Sorocaba era de pessoas ordeiras e do bem, amigas e nasci do casamento de minha mãe Victoria (com seis irmãos) e Ramon Lara Rodrigues (que também tinha seis irmãos). Meus pais foram morar com meus avós maternos Elias Salum e Henriqueta Dias Salum numa casa enorme com muita gente no centro de Sorocaba). Todos trabalhavam e vivíamos alegras e muito felizes.
Conheci e convivi durante muitos anos com minha avó Henriqueta que quando casei-me e tive meu primeiro filho, o Douglas Junior foi morar conosco em São Paulo, cidade que mudei-me em 1958 para fazer vestibular na faculdade de economia na USP.
Meus avós paternos foram imigrantes espanhóis que trouxeram 6 filhos primeiro para a Argentina onde nasceu em Buenos Aires e posteriormente decidiram imigrar para o Brasil na época com 7 filhos.
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Jornal'Ecos: Como transcorreu sua infância? Tem alguma recordação de algum fato que o marcou com ênfase?
Douglas: Minha infância foi muito alegre e divertida no meio de muitos tios e primos.
Meu único irmão, o Dorival nasceu quando eu já tinha 7 anos de idade o que fez com que meus pais tivessem dois filhos únicos, dos mesmos pais.
Morava com minha vó e bisavó.
Como era comum na época, aos treze anos fui trabalhar com meus tios que tinham uma pequena manufatura de sapatos ... meu primeiro salário foi um dicionário de português.
Ai você pode ver que meus tios tinham sensibilidade e perceberam que teria que estudar muito a língua pátria.
Quando criança tudo era permitido, exceto não estudar.
E Sorocaba, chamada terra das escolas e das indústrias oferecia para todos seus moradores trabalho e estudo.
Vânia, agora irei contar um pouco de minhas peraltices.
Na minha infância, saia muito com meus tios que tinham 14 anos ou mais portanto moleques.
Uma das coisas que mais gostávamos de fazer era nadar no rio Sorocaba, que ficava bem próximo de onde morávamos.
Quem conhece Sorocaba sabe que o rio passa no centro da cidade ...
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Jornal'Ecos: Douglas, explique um pouco mais isso e como seus pais controlavam estas peraltices de menino?
Douglas: Vânia, meu pai tinha um método infalível que era o de verificar minhas orelhas ao chegar do trabalho ... muito simples amiga ... as orelhas de quem vai nadar ficam brilhantes. Só que tinha como advogados de defesa, minha mãe, avó e bisavó, tios e tias que moravam sob o mesmo teto para defender o pequeno sobrinho, filho, neto e bisneto.
Recordo bem e agora conto para meu neto que eu era uma menino traquino que costumava perturbar os jogadores e torcedores nos jogos de várzea.
Recordo-me como se fosse hoje uma passagem no qual um jogador saiu do campo e veio para meu lado para me bater ... e iria bater se não fossem meus tios que pediram para ele deixar o 'moleque' em paz, ele é apenas uma criança ... rindo
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Jornal'Ecos: Que faziam seus pais?
Douglas: Meu pai, Ramon Lara Rodrigues, era carpinteiro da Estrada de Ferro Sorocabana e minha mãe, Victória Salum Lara era tecelã na fabrica de tecidos Votorantim onde permaneceu durante uns quinze anos quando passou apenas a fazer os deveres domésticos e posteriormente cuidar de uma loja de calçados que eles tinham no centro de Sorocaba na rua Barão do Rio Branco.
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Jornal'Ecos: Parece-me que você exerceu cargos em que liderava as ciências exatas, já naquela época se interessava pela literatura?
Douglas: Cursei contabilidade após terminar o ginásio, na OSE - Organização Sorocabana de Ensino vindo a concluir em 1957 e a literatura que conhecia estava relacionada com os estudos que era forçado para passar de ano.
Em 1957, um pouco depois da instalação da faculdade de medicina em Sorocaba decidi com apoio de meus pais preparar-me para o vestibular na USP. Ai tive a oportunidade de conhecer a literatura suficiente para o exame, tendo conhecido a escrita de Erico Veríssimo, Jorge Amado, Graciliano Ramos e outros autores que eram presença constante nas re;ações de livros que tínhamos que estudar para o exame de português.
Ao entrar na faculdade tive que ir trabalhar pois meus pais não tinham condições de manter um filho adulto, dentro dos padrões brasileiros apenas estudando.
E meu trabalho foi direcionado para trabalhos onde a contabilidade a a matemática financeira eram mais importante.
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Jornal'Ecos: Gostava de ler e tem algum autor que leu com mais persistência?
Douglas: Tomei gosto pela leitura e principalmente pelos autores citados e outros importados que faziam sucesso na época, como Dale Carnegie ... do como vencer na vida e como fazer amigos que hoje são chamados de auto ajuda.
Comecei a ser influenciado pelas mocinhas colegas de escola e aprendi um pouco de poesia e literatura mais para não 'fazer feio' no meio dos jovens da época.
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Jornal'Ecos: Quando começou a navegar já escrevia alguns textos e os divulgava?
Douglas: Colocava apensa alguns pensamentos e citações, mesmo sem base arriscava.
Durante muitos anos usei um 'lema', toda decisão é uma solução intermediária.
Isto tem muita verdade hoje no episódio da disputa do gás com a Bolívia, os dirigentes dos vários paises envolvidos não sustentam em pé o que falaram quando estavam sentados, desculpe Vânia ocupar seu espaço para um pequeno desabafo.
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Jornal'Ecos: Qual foi a primeira antologia organizada por você e de que forma aconteceu?
Douglas: Onze Autores da Web, atendendo solicitação de uma amiga de Jacareí na base de vamos escrever um livro juntos.
Deveria serem dez, porém a idéia foi um sucesso entre os internautas que terminamos em onze.
Dos onze apenas o Adhemar Molon permaneceu em todas antologias que organizei e sempre falo em tom jocoso que ele escreve mais rápido que podemos ler. E, ele não deixou de comparecer em nenhum dos lançamentos. É o que chamamos de 'amigãó de todas as horas'.
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Jornal'Ecos: Como realmente você faz para conciliar as notícias o trabalho de divulgação e a organização das antologias?
Douglas: Tenho muito tempo, tenho todos os dias e apenas uma ou duas antologias por ano.
A antologia fixa é sempre lançada na ultima quinta feira de julho de cada ano.
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Jornal'Ecos: Poderia falar algo sobre os anseios dos escritores que se reúnem nas coletâneas?
Douglas: As antologias são as tribunas onde cada um escreve o que quer sem censura de tema ou de assunto. É como uma conversa entre amigos onde cada um perpetua no papel o que pensa e como escreve e expõe suas idéias e ideais.
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Jornal'Ecos: E esse interessante trabalho tem realizado suas expectativas?
Douglas: Acredito ter conseguido atender as expectativas dos autores e poetas que participam da coletâneas o que é nosso objetivo e para isso conto com o suporte e respaldo seu e do Mylton Ottoni.
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Jornal'Ecos: Atualmente qual o trabalho no qual está se empenhando?
Douglas: No Roda Mundo 2006, na segunda edição da semana do escritor e na antologia dos escritores do Jornalecos todos já com data marcada de lançamento.
Diariamente edito um jornal eletrônico 'Acontece em Sorocaba, no qual tento trazer noticias de interesse para amigos internautas.
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Jornal'Ecos: Algum sonho a realizar?
Douglas: Nada em particular, apenas saúde para continuar ajudando quem me procura e desejo de ser procurado bastante para ser útil dentro de minhas possibilidades.
Estou realizando um sonho em poder ser entrevistado por escritora experiente e podendo contar algumas coisas que parecem causos misturado com a verdade.
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Jornal'Ecos: Douglas agradeço ter aceito meu convite e o espaço é todo seu. Quer deixar algum recado aos seus leitores e àqueles que lhe procuram para a divulgação de seus textos literários? Parabéns pelo seu brilhante e belo trabalho.
Douglas: Sou uma pessoa feliz e realizada e considero estar nesta vida para ajudar.
Obrigado e votos de felicidades a todos escritores e editores do Jornalecos e principalmente você, Vânia querida que me acompanha durante alguns anos.

Fonte:
Vania Moreira Diniz. Jornal'Ecos da Literatura Lusófona - 10 de Maio de 2006 - Edição N°40
http://www.jornalecos.net/entrevistalara.htm

Douglas Maria Lara (Crônica: Leitura de Fim de Semana)

MACHADÃO CONTA

Capitulo de hoje - Leitura de fim de semana

Tudo indica que Machadão está saindo da fase melancólica e de louca paixão ...
Vilella já está no seu canto na redação fazendo palavras cruzadas.
Carlos Armário já está a postos verificando a inexistência de maridos ou Lindinhas carentes e dispostas a armar barraco.
Uma redação de jornal eletrônico deve estar sempre silenciosa como nos jornais impressos. Pouca conversa e muita produção e atividade.
João Alves chega perguntando qual o babado para hoje.
Machadão chega sorridente com montes de jornais impressos lidos antes de sair de casa.
Por que este sorriso? Terminou a declaração do imposto de renda? A Lindinha voltou da casa da dona Linda?
O terno para o baile de sábado no Clube da Amizade continua servindo ou os 3 quilos que engordou não permitem mais continuar usando o velho azul marinho, terno de entrevista de emprego e bailes?
Machadão cerra a testa e diz, se fizerem uma pergunta por vez respondo só que das trocentas perguntas que fizeram esqueceram o mais importante.
Aproveito e respondo: A Ciganinha está ótima e já escreveu varias poesias.
Uma delas foi traduzida para o castelhano de nome ´El vivir´ e foi por engano parar na redação de importante revista semanal. Estou torcendo para que publiquem. A que foi enviada ´sem querer mais querendo´ para a referida redação foi em HTML com foto desta incrível lindura de poeta.
Agora entendem porque estou feliz.
Continuemos então, desta vez precisamos um cobertura bem diferente da mídia para o assunto. Vamos fazer o assunto pagar imposto de renda como interessante, que faz bem prá pele e para os cabelos, e é bom para todo brasileiro. Vamos lançar uma campanha para o aumento de impostos para o bem do Brasil. Lembram do orgulho dos brasileiros que deram ouro para o bem do Brasil. Meu pai deu sua aliança de ouro e queria que minha mãe também o fizesse. Minha mãe quase mata o velho Machadão uns 25 anos antes só de ouvir falar. Aquilo sim foi um estelionato de proporções. Agora as coisas mudaram e os mais jovens se queixam de um período maravilhoso para todos.
A declaração de IR em outros paises é motivo de alegria, tanto é que é chamado de ´devolução de imposto de renda´ ou income tax return.
Tenho que tomar cuidado nas traduções para evitar uma que divulgamos hoje que dizia que um certo laboratório britânico iria produzir vinte porcento dos medicamento para colesterol ou vinte mil milhões de dólares (o problema é que não existem billions em inglês) Dai que o tradutor que não é bi-cultural ... enfim entenderam?
Entendi responde João Alves o jardineiro de madames, bi-cultural é a pessoa que planta num mesmo terreno mandioca e pepino, në?
Vilella para de olhar para a revista de palavras cruzadas e pergunta: afinal vamos bater papo inútil ou falar de pauta?
João Alves apresenta-se como voluntário para fazer a matéria do imposto renda dizendo: posso fazer um ótimo texto.
Machadão pergunta: você é jornalista formado em faculdade com estágio e todo mais?
Não, sou jardineiro responde João Alves. Jardineiro de madama!
Sei, continua Machadão ... então vamos precisar contratar um advogado para nos tirar da cadeia pois isto é crime de ... não sei o nome porem sei que jardineiro de madame não pode trabalhar como jornalista.
Vilella propõe: vamos parar e atacar as matérias do dia para poder atender nossa assinante poeta e escritora de Niterói a Bel. Ela quer o jornal Acontece em Sorocaba as 9 da manhã em ponto.
Carlos Armário entra na conversa e pergunta: Mais uma leitora?
Machadão pergunta o que o segurança da redação tem a ver com isso?
Carlos Armário que mais parece o rinoceronte que atacou o carro com ímpetos sexuais ...
Vamos parar e tocar os assuntos sem muito planejamento pois senão o Acontece em Sorocaba não sai ... Vamos tocando então.
João Alves pede licença para uma ultima pergunta: Qual a orquestra que irá tocar no baile
´perfume de rosas´ do primeiro de maio a noite?
Ninguém responde o que significa que a reunião de pauta acabou
===
Enquanto isso ... em Severina !!!
Lindinha, ao ler a aprovação do salário mínimo...fica toda alvoroçada. Claro que já não agüenta a vida em Severina...pacata demais para quem é tão exuberante quanto ela...
Dona Linda bem que percebe as sutis mudanças na filha...sua agitação, o brilho nos olhos negros, o constante vai e vem...Hum... isso não é nada bom... Já sabe que a menina é um tanto afeita a rompantes...Por isso não se espanta quando a vê arrumar as malas e comunicar que voltava pra Sorocaba.
Além da saudade louca, não ia deixar Machadão gastar sozinho o substancial aumento em seu salário...Ah mais não ia mesmo!!
Havia um sorriso, quase perverso em seus lábios...e a mente dava mais voltas que seus requebrados, imaginando o que tanto ganharia de prendas agora que Machadão tinha todo o aumento para lhe oferecer...
Assim, enquanto viajava ia maquinando suas artimanhas de sedução... sabia bem como encantar Machadão...e contava ainda com a saudade de ambos...Hum...Sorocaba que se preparasse...Ela estava voltando!!!
Enquanto isso em Sorocaba, Machadão se via as voltas com elucubrações mais sérias...Hum...A tristeza da ausência de filas para entregar o Imposto de Renda era algo que o abatia! Era o único abatimento que podia fazer com seu salário tão mínimo ...
Como a modernidade podia exterminar algo tão aprazível! Não gostava de admitir que era saudosista, mas francamente!...Acabar com a enorme fila em postos de entrega do I.R? Isso era demais! Tudo tinha limites e já estavam passando da conta...
Já pensou? Logo até os bancos acabariam com as filas e que seria de nosso povo então??!! Nem pensar algo assim...Era preciso agir com rapidez em defesa destes imbróglios saudáveis e extremamente sociais...Hum...Aliás, é a palavra de ordem não???? Tudo pelo social!!!!

Douglas Lara e Associadas

Fonte:
http://www.usinadeletras.com.br/

Artur da Tavola (O Galo e Suas Contradições)

Paro perto do galinheiro e fico tempos a observar o galo. Dou-me conta de que nunca prestara atenção devida em um galo. Ora, um galo! Bicho silencioso, antipático, autoritário, galhardo, com aquele seu ar de proxeneta, que nada faz a não ser galar as galinhas e ficar por ali, depois, inútil, mas triunfante com seu andar de delegado de filme de mocinho. Espanta-me saber que é símbolo da França por sua altivez. E no Japão, pela coragem. Ele é uma contradição só..

Mas no fim do dia e, depois na madrugada, ouço-o chamar o amanhecer e como naquela noite voejaram angústias sessentãs, inevitáveis nessa fase da vida, o galo me repôs na esperança de que sempre haverá um amanhecer e as sombras da noite, inevitavelmente passam. Ponho-me solidário com ele e penso que Deus lhe deu essa boa vida de cafetão das galinhas para executar de modo mais descontraído a tarefa de chamar a manhã e a esperança. Já não o considero tão inútil e começo também a compreender porque grande parte das igrejas do passado, tinha a figura de um galo no alto de suas torres. Galo é augúrio, símbolo do milagre diário da renovação da vida e isso é tradição simbólica que vem de Lucrécio, 90 anos antes de Cristo. No Islã ele representa a presença do anjo.

Câmara Cascudo. Com a capacidade genial de síntese que foi a sua marca, diz : “O vitorioso Chantecler, cantado em mil páginas, possui larga folha de serviços estranhos” . Ele tem razão: “larga folha de serviços estranhos” pois tanto é símbolo que o Cristianismo adotou como o precursor da aurora, logo da esperança e da luz, como o bicho também serve para lutas diabólicas em rinhas, com ferocidade de tigre, para gáudio de uns boçais que impotentes de coragem própria , compensam-se com a do galo.

Muitas lendas tornam assustador e ameaçador o canto do galo fora de hora. Dizem ser de mau presságio: alguns dizem ser sinal de moça que foge, outros, como lá no Minho, em Portugal, é agouro, informa Câmara Cascudo e acrescenta este dito popular: “Galo que fora de hora canta, cutelo na garganta.”.

Mas fora do Câmara Cascudo me lembro de frases que o povo consagrou, todas contraditórias. Umas lhe atribuem sabedoria quando dizem de algum bocó que “ouviu o galo cantar, mas não sabe onde”. Vai longe a simbologia paradoxal do galo: ”fulano é um galinho de briga”. Zico, um rei das canchas também era galo, o "galinho de Quintino" O machão brigador é aquele que “canta de galo”. Ao mesmo tempo o nosso populário conta que enquanto o galo passeia a sua arrogância pelo terreiro, o papagaio vai lá e "crau" nas galinhas..... “Salgar o galo” em linguagem de pinguço é dar o primeiro gole de álcool do dia. “Ser galo” é ter ejaculação precoce..., sabiam? Já “cantar de galo” é impor a vontade ou valentia; e “cozinhar o galo” é ficar embromando, sem nada de útil fazer.

Voltei ao galinheiro com mais simpatia pelo galo admirando as suas contradições e a dificuldade para ser compreendido, coitado. Mas ele estava todo pimpão, de lá para cá, as galinhas com o ar de que “soltaram a franga”.... Fiquei sem saber se era por causa do desempenho sexual dele.... ou o do papagaio da casa, que estava com um jeito muito sonso.

Fonte:
Publicado em 22-09-2007, in
http://www.vaniadiniz.pro.br/

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Franz Kafka (Resumo: O Processo)

O Processo é um romance de Franz Kafka (1883 - 1924), que conta a história de um bancário que é processado sem saber o motivo, este é Josef K.

O perfil de K. era de um funcionário exemplar, sendo que trabalhava num famoso banco e tinha um cargo de grande responsabilidade. Desempenhava sua função com muita dedicação, razão que o levou, em pouco tempo, a crescer na empresa.

Porém na manhã em que completara 30 anos, Josef K. foi detido em seu próprio quarto por dois guardas, que tomaram o café que devia ter sido dele, e depois, sugeriram estarem sendo subornados. Neste momento inicia o pesadelo de Josef K., que foi detido sem ter feito mal algum. De principio, imaginava ser uma brincadeira de seus colegas de banco, pois não podia acreditar no que estava acontecendo.

Josef K. acreditava que todo o mal entendido seria esclarecido e ao ser convocado para um interrogatório viu a oportunidade de isto acontecer. Estava errado. Deparou-se com um inspetor rude e agressivo que o ameaçava e fazia chantagens. Contudo K. exigia esclarecimentos, porém inutilmente, já que nem o inspetor e nem os guardas sabiam sobre o motivo de sua detenção.

E toda narrativa segue sem que se conheça quem teria denunciado Josef K. às autoridades e o motivo de estar sendo preso. Apesar disso, o personagem central luta o tempo todo para descobrir do que estava sendo acusado, quem o acusava e com embasamento em que lei. Contratou um advogado na esperança de ter alguma saída e também para obter informações sobre o seu caso, mas logo ele foi dispensado, pois não estava dando muita atenção ao processo dele.

Tentou entrar em contato com o judiciário, mas teve pouco sucesso, o que encontrou foram muitos processos, sendo o dele apenas mais um que ficaria esperando por muito tempo. Todo o desenrolar do processo não lhe parecia verdadeiro, os acusadores e as testemunhas tinham atitudes duvidosas e absurdas, até crianças eram chamados a prestar depoimentos.

No final, Josef K. se encontrava sem ânimo para prosseguir lutando contra um processo que ele nada conhecia, estava apático e indiferente. Pode-se interpretar que no capítulo X: O fim, Josef K. combinou para que dois senhores o matassem, e assim foi feito.

“(...) as mãos de um dos senhores seguraram a garganta de K. enquanto o outro lhe enterrava profundamente no coração a faca e depois a revolvia ali duas vezes.” (KAFKA, 2004, p. 254).

Este é o fim de Josef K.


A obra é uma crítica direta do sistema judiciário, mas ficar somente nesta interpretação limita a toda uma extensão de pontos de vista que pode ser analisado.

Como uma crítica ao sistema judiciário, podemos nos atentar a este aspecto, pois esta é a primeira interpretação que se observa. Na época e no local onde viveu Franz Kafka imperava um Estado autoritário (primeiramente Tchecoslováquia e logo o Império Austro-húngaro) e havia constantes lutas pelo poder e o ambiente da Primeira Guerra Mundial proporcionava ações arbitrárias pelas autoridades. Assim observamos que é compreensível esta obra ser apresentada de tal forma, como uma crítica ao sistema judiciário.

Contudo esta obra é não somente um retrato fiel do sistema judiciário despótico, e como a burocracia e a justiça são falhas, mas também fazendo um paralelo entre a vida de Josef K. e as nossas, seres humanos na prisão que é o mundo, apesar de não parecer. Sofrendo de alienação, e sendo controlados o tempo todo, sem achar respostas e explicações para nada, frente à um sistema doutrinador que estamos inseridos, e que a todo o momento lançam informações que nós temos de engolir sem ao menos revisar e saber o porquê.

Fonte:
http://www.coladaweb.com/

Carlos Carvalho Cavalheiro (1972)


Filho de Milton Dias Cavalheiro e de Neyde Carvalho Cavalheiro nasceu em São Paulo / SP aos 09 de maio de 1972, no Bairro da Liberdade (Maternidade São Lucas). Aos dois anos de idade mudou-se com a família para Sorocaba / SP, onde reside há desde então.

Formado em História pela UNISO, estudou nas escolas 'Baltazar Fernandes' e 'Genésio Machado', tendo cursado o segundo grau na Escola Técnica Estadual 'Rubens de Faria e Souza', onde se formou técnico em Eletrotécnica. Nessa escola participou ativamente do movimento estudantil, sendo um dos fundadores do Grêmio Estudantil em 1990, época em que foi redator do Jornal do Grêmio, espaço em que publicou vários textos.

Estreou na imprensa sorocabana em janeiro de 1993 publicando um artigo sobre o livro 'Sacy-Pererê - resultado de um inquérito', no Jornal Cruzeiro do Sul. No mesmo ano publicou o conto 'O violinista da beira da estrada', no Diário de Sorocaba. Teve publicado ainda vários artigos, contos, poesias e crônicas nos jornais Patubuiu (Fortaleza / CE), Jornal de Piracicaba, Jornal ECA (Sorocaba), Jornal A Nova Democracia (Rio de Janeiro), La Insígnia (Diário Ibero-americano), Jornal Cultural Pedaços entre outros.

Participou de várias exposições de poesias, entre elas: 'Mural do Museu Histórico Sorocabano' (1996), Mural da Biblioteca Municipal de Sorocaba (1997), Casa da Cultura de Piedade (1998), Oficina Cultural Grande Otelo (1998) e Arte-Mix (1999).

Em 1993 criou o jornal cultural mimeografado 'Movido à álcool' e em 1994 auxiliou na fundação do 'Sepé-Tiaraju' (cujo nome foi por ele assim batizado), jornal cultural que marcou época em Sorocaba.

Em 1998 publicou o folheto 'A greve de 1917 e as eleições municipais de 1947 em Sorocaba'. Publicou ainda os livros: 'Folclore em Sorocaba' (1999), 'Salvadora!' (2001) e 'Descobrindo o Folclore' (2002).

Em 1999 representou Sorocaba no Mapa Cultural Paulista com a poesia 'Inseto Voador', publicada em livro pela Secretaria de Estado da Cultura.

Produziu em 2000 o CD 'Cantadores - o folclore de Sorocaba e região', reunindo grupos folclóricos de Sorocaba e cidades circunvizinhas.

Em outubro de 2000 foi eleito sócio-efetivo da Comissão Paulista de Folclore (IBECC/UNESCO), sendo o primeiro coordenador do Núcleo Caipira de Sorocaba até abril de 2002.

Teve ainda poesias inseridas no livro 'Poesia em Debate fazendo história - 1995/2001' (2001) e 'Depoesia II' (2003).

Em novembro de 2003 idealizou a construção da Enciclopédia de Sorocaba.

Fonte:
http://www.sorocaba.com.br/enciclopedia/ler.shtml?1085360927

Carlos Carvalho Cavalheiro (Conto: O Violinista da Beira da Estrada)

Já faz cinco anos, mas ainda me lembro perfeitamente do caso do violinista da beira da estrada e que eu vou lhes narrar agora.

Eu estava numa feira de muares em Sorocaba, a primeira compra já havia sido feita há alguns minutos, os compradores desse gado se preparavam para partir. Mais ou menos uma hora depois partiam pelas ruas de Sorocaba e rumavam a caminho da ponte para São Paulo, seguidos dos gritos: “Rompeu a feira! Rompeu a feira!”. Mas não tinha essa compra se realizado em pouco tempo. Demorou e muito! Dia após dia, comprador e vendedor tentando fechar negócio.

E o comércio de animais continuou. O frio do inverno era compensado pelos divertimentos da feira, os jogos de cartas, os violeiros, as peças teatrais...

O que me deixava irritado era um violinista que pedia esmola, sentado no degrau de escada da porta do bar. Ele me dizia exatamente assim:

- Toco uma música que aos seus ouvidos vai agradar, sua viagem tornar-se-á mais agradável lembrando-se dessa melodia que por alguns cobres vou executar...

- Sinto muito, mas não tenho trocados.- respondi.

- Sou cego e outro modo de ganhar a vida não tenho!

- Já disse que não tenho trocados! – irritei-me.

- Por favor, senhor...

- Vosmecê é surdo?!

- Não, eu sou cego e...

Não o deixei terminar, dei um pontapé no seu violino, cuspi em seu rosto e ameacei-o de morte se não sumisse da minha frente.

Com o semblante triste e magoado ele apenas respondeu:

- O senhor quebrou o violino do meu pai. Deus ajude para que a assombração dele não o acompanhe em qualquer viagem solitária que vosmecê faça durante toda a sua vida! Deus o ajude.

Não dei importância para aquela praga que me rogava o pobre e cego homem. Ah, se eu soubesse...

Um mês depois parti. Solitário, como em todas as minhas viagens. Solitário não. Com a companhia de Deus e do meu cavalo malhado, bom de trote e forte como duas mulas.

A estrada por onde eu ia era pequena e poeirenta, cheia de curvas e com uma vegetação verdíssima em seu entorno. Acendi um cigarro de palha e fiquei pensando nas alegrias que tive na feira e planejando uma nova viagem para o próximo ano.

Ia chegando perto de uma curva quando o meu cavalo estacou sem que eu soubesse porque. Talvez tivesse se assustado com alguma cobra ou qualquer outro bicho matreiro. Passei a mão pelo seu pescoço, encorajando-o a continuar, ao mesmo tempo em que segurava a minha garrucha. Quem sabe o que tem atrás de uma curva de estrada? Podiam ser ladrões que procuravam viajantes desprevenidos.

A cada trote do meu cavalo, um arrepio surgia em minha pele. Meu coração começou a bater descompassadamente. “Meu Deus, que sorte me aguardava atrás daquela curva?”- pensei. De repente, surgiu uma ventarola e formou um redemoinho num capão de mato próximo.

Senti um frio que até hoje eu não sei se foi pela ventania ou se por medo.

A curva cada vez mais perto. Quando faltavam uns trinta metros para alcançá-la, adivinha o que eu fiz? Não, eu não fugi. Eu fui em frente, respirei fundo, armei a garrucha e disse para mim mesmo: “Tenha o que tiver naquela curva eu não vou me acovardar! Afinal de contas eu sou um homem e tou armado”.

Comecei a ouvir uma melodia que não modificou em nada a minha decisão. Segui em frente. Talvez essa melodia nem existisse, fosse fruto da minha imaginação, ou, se existisse, eu iria descobrir de onde provinha.

Medo?... eu não tenho medo de nada. Uma simples curva não pode intimidar um homem assim, só porque intimidou o seu cavalo!

A melodia cada vez mais nítida. Não era minha imaginação. Havia algo atrás daquela curva e eu iria, ou melhor, eu teria que descobrir o que era.

Finalmente a curva chegou e com ela a resposta para a minha pergunta. Era um violinista. Um velho e maltrapilho violinista. Acenei-lhe, dizendo:

- Que Nosso Senhor Jesus Cristo ilumine seus caminhos!

Não obtive resposta. O violinista parecia indiferente a tudo, como se não pertencesse a este mundo. Passei por ele. Não sei porque, mas não resisti à tentação de dar uma olhada com o canto dos olhos para trás. Inacreditavelmente o violinista sumira. Voltei o meu pescoço para olhar melhor. Ele realmente sumira. Procurei-o, voltei à curva e nada. Lembrei-me da praga do violinista cego da feira de muares de Sorocaba.

Coloquei a mão no saquinho de couro em que eu guardava as minhas moedas. Tinha ainda alguns cobres. Segurei firme a rédea do cavalo e num trote rápido voltei para Sorocaba. Encontrei o cego no mesmo degrau de escada do bar. Sem dizer nada, joguei-lhe o saco com as moedas. Era o suficiente para ele comprar outro violino e ainda sobrava algum para esmola. Ele em resposta deu-me um sorriso, como se dissesse: “Encontrou o meu pai?”.

Parti com a consciência limpa. Fui pela mesma estrada e o medo perdi ao chegar próximo àquela curva. Encontrei novamente, para o meu espanto, o mesmo violinista que havia sumido naquela beira de estrada. Passei por ele sem nada dizer. Quando estava de costas para ele, a música parou e uma voz disse:

- Que Nosso Senhor ilumine também os seus caminhos.

Não tive coragem de olhar para ver se ele ainda estava lá. Fui embora e no caminho, depois de muito pensar, resolvi fazer uma promessa: “Nem que for para salvar a minha vida, para Sorocaba eu não volto nunca mais”. E até hoje eu não voltei.

Fonte:
http://eptv.globo.com/caipira/int_causos.asp?id=1285

Carlos Carvalho Cavalheiro (Poesias: Poesia Engajada; Beatnick)

Poesia Engajada

A minha poesia não alcança
Os ouvidos dos oprimidos
Nem sequer é degustada
Pelo paladar dos famintos
E nem por sonho ou fantasia
É sentida pelos excluídos
A minha poesia, então, morreu
E esqueceram de enterrá-la.

Beatnick

Ouço uma música
É um jazz, blues ou samba?
Não sei.
A música não tem língua
Mas tem cor: é negra
E traz nas frases mudas
O lamento da história
Na esquina, sob a luz néon
Está Kerouac, sentado.
Além, pela calçada caminha
displicente Ginsberg
Ao meu lado, Noel Rosa.
Peço carona?
Estou preso na cela de carne
Há quem se admire de sua cela
A advertência de Eclesiastes:
Tudo é vaidade.
Se houvesse escolha
Teria nascido álcool
Evaporaria, antes de morrer
Sensação de liberdade
(ou embriaguês?)
Por estar disperso em milhares
De partículas por todo o ar.
Ubiqüidade.

Fonte:
http://www.crearte.com.br/carlos_poesias.htm

Carlos Drummond de Andrade (José)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você coçasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Fonte:
http://virtualbooks.terra.com.br/

Francisco Adolfo de Varnhagen (1816 - 1878)


Francisco Adolfo de Varnhagen. Nasceu em São João do Ipanema, à época pertencente à Sorocaba, atualmente município de Iperó (S. Paulo) em 17 de fevereiro de 1816 de pai alemão, criou-se e educou-se em Portugal, onde passou a infância e juventude.

Seu pai Frederico Luis Guilherme de Varnhagen, engenheiro alemão, veio ao Brasil com o propósito de restaurar e ampliar a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema. Varnhagen não passa muitos anos no Brasil, pois, em outubro de 1823, retorna para Portugal, juntamente com a mãe, portuguesa de nascimento. Realiza os primeiros estudos no Real Colégio da Luz e, a seguir, inicia sua formação militar, obtendo o título de engenheiro. Apesar dessa formação mais voltada para as ciências exatas, também realiza estudos em áreas relacionadas com sua posterior atividade como historiador, tais como diplomacia, paleografia e economia política.

Seu primeiro trabalho na área de história está relacionado às pesquisas sobre o colono e cronista quinhentista Gabriel Soares de Sousa, o qual cabe a Varnhagen o mérito de ter tirado da obscuridade. A boa acolhida junto à Academia de Ciências de Lisboa, certamente serve como incentivo para suas futuras realizações como historiador.

Um aspecto interessante e fundamental que marca a obra do famoso historiador é sua opção pela nacionalidade brasileira, algo que começa a cogitar em 1840. Para Nilo Odália, a escolha de Varnhagen pela nacionalidade brasileira está muito relacionada com o clima mental da época, marcada profundamente pelo romantismo. Época em que aflora com toda a força a questão do nacionalismo e de pertencimento a um povo. Ora, “para um jovem da época, pertencer a uma dessas nações, percorrer e participar de sua formação e de seu destino, deveria surgir aos seus olhos deslumbrados como a possibilidade única de concretizar o desejo de pertencer à história e ao seu tempo.”

Em 1840 viaja ao Brasil e conhece o Imperador-menino, apenas com 14 anos de idade, marcando o início de uma longa amizade. Obtém, finalmente, a nacionalidade brasileira, por decreto real, em 24 de setembro de 1841. A partir de então em suas obras e pronunciamentos o historiador se autodenominaria como “paulista de Sorocaba”. João Francisco Lisboa, outro grande historiador brasileiro do século XIX, daria um segundo cognome a Varnhagen, que igualmente se tornaria célebre, o de “pai da nossa história.”

Após o reconhecimento da nacionalidade brasileira, entra para o corpo diplomático brasileiro, função que ocupa até a morte. O trabalho como diplomata facilita suas pesquisas históricas.

Conquanto houvesse percorrido uma grande extensão do litoral e ainda do sertão brasileiro, em viagens de observação e estudo, nunca propriamente habitou o Brasil, quero dizer, nunca nele se demorou com ânimo de se domiciliar.

O fato de sua origem germânica e formação portuguesa e européia, da sua constante ausência e pouca convivência do seu país natal e mais tarde de ter constituído família fora dele, dão a Varnhagen uma fisionomia particular, um todo nada exótico. Da estirpe germânica tirava seu instinto de veneração e respeito dos magnates, dos poderosos, das instituições consagradas e das cousas estabelecidas.

É talvez o único brasileiro sem falha neste particular, justamente porque é em suma pouco brasileiro de temperamento, de índole e ainda de sentimento. Levou-o à pia batismal o próprio capitão general da província em que nasceu, o Conde de Palma. Desde aí é com tais próceres que anda. Como historiador, raro acha a censurar nos que têm o mando, ao contrário esforça-se por lhes encontrar sempre razões e desculpas. Do mesmo modo justifica sempre todas as instituições, descobre-lhes ou inventa-lhes virtudes e benefícios. Mal pode esconder o júbilo e a vaidade pela troca feita pelo imperador, seu amigo e protetor, do seu nome já glorioso de Varnhagen pelo de visconde de Porto Seguro.

Consagrou toda a sua laboriosa existência a estudar a história do Brasil, e a servi-lo com dedicação e zelo em cargos e missões diplomáticas. Sente-se-lhe, entretanto, não sei que ausência de simpatia, no rigor etimológico da palavra, pelo país que melhor que ninguém estudou e conhecia, e era o do seu nascimento. Não é patriotismo, entenda-se, que lhe desconhecemos, esse o tinha ele, como qualquer outro e do melhor. Faltava-lhe, porém, não lho sentimos ao menos, aquele não sei que íntimo e ingênuo, mais instintivo que raciocinado, sentimento da terra e da gente.

Ele não tem as idiossincrasias do país. Por isso Varnhagen não é de fato romântico, senão pela época literária em que viveu e colaborou; de todos os brasileiros seus contemporâneos no período inicial do Romantismo, é talvez o único que além de não ser indianista, isto é, de não ter nenhuma simpatia pelo índio como fator da nossa gente, ao contrário o menospreza, o deprime e até lhe aplaude a destruição. É também o único que altamente estima o português, lhe proclama a superioridade, oculta ou disfarça os defeitos do regime colonial e, propositadamente, lhe adota o pensamento e a língua. Só ele dos seus companheiros a escreveria vernaculamente, sem sequer o incoercível brasileirismo da posição dos pronomes, todos neles indefectivelmente postos à portuguesa. Mas a escreve apenas corretamente, de estudo e propósito, com esforço manifesto, sem espontaneidade, fluência ou elegância, nem os idiotismos por que o verdadeiro escritor revela a sua nacionalidade. Por tudo isto se não achou Varnhagen em simpatia com os seus confrades de geração, nem estes com ele. Enquanto por espírito de camaradagem e muito também de solidariedade na obra que juntos amorosamente faziam, eles se não regateavam mútuos encômios e acoroçoamentos freqüentemente desmerecidos e indiscretos, olvidavam a Varnhagen ou o tratavam como colaborador somenos.

Raramente se lhe acha o nome, e ainda assim parcamente elogiado, nos muitos escritos com que reciprocamente se sustentavam e à sua causa. Será porque não compreendessem a importância para esta da obra de erudição que ele fazia? Será porque a esses poetas, que todos sobretudo o eram, essa obra parecesse de pouco alcance literário e pouco gloriosa? No entanto quase todos eles faziam também história, mesmo literária. É verdade que a faziam de palpite, como poetas, sem investigação própria, sem acurado estudo, retórica e declamatoriamente, com a sua imaginação ou repetição do já feito pelos portugueses. Apenas Norberto, mas somente em parte da sua obra, escapa a este reproche.

O primeiro escrito considerável de Varnhagen, já da sólida erudição de que ele seria um dos raros exemplos nas nossas letras, foram as suas Reflexões críticas sobre a obra de Gabriel Soares, publicadas no tomo V da "Coleção de notícias para a história e geografia das nações ultramarinas" pela Academia Real das Ciências de Lisboa (1836). Começando a sua fecunda iniciativa da rebusca e publicação de monumentos interessantes para a nossa história geral, dá, em 1839, à luz, também em Lisboa, o Diário da navegação, de Pêro Lopes.

Em 1840 escreve no Panorama, o célebre órgão da renovação literária portuguesa, uma Crônica do descobrimento do Brasil, que seria o primeiro romance brasileiro se não fosse apenas uma dessaborida crônica romanceada sobre a carta de Caminha, cujo descobridor na Torre do Tombo foi Varnhagen. Sem falar em outros seus escritos de maior interesse português que brasileiro, dos anos imediatamente subseqüentes, enceta em 1845, com os Épicos brasileiros, nova edição prefaciada e anotada dos poemas de Santa Rita Durão e Basílio da Gama, as suas publicações diretamente relativas à nossa história literária, pouco depois prosseguidas com a do Florilégio da poesia brasileira ou coleção das mais notáveis composições dos poetas brasileiros falecidos, contendo as biografias de muitos deles, tudo precedido de um "Ensaio Histórico sobre as Letras do Brasil".

Pelo rigoroso e acurado da sua investigação e estudo e dos seus resultados, pela novidade das suas notícias, pelo inédito e seguro da sua informação, pelo número e justeza de algumas de suas idéias gerais, pela largueza de sua vista, esta obra de Varnhagen lançava os fundamentos, e o futuro provou que definitivos, da história da nossa literatura. Não valem contra este conceito a precedência meramente cronológica de alguns tímidos e deficientíssimos ensaios de Cunha Barbosa, de Pereira da Silva, de Norberto, de Magalhães e outros, que apenas repetiram as conhecidas notícias dos bibliógrafos e memorialistas portugueses, sem lhe acrescentar nada de novo, e ainda errando o que já andava sabido. Neste investigar dos nossos primórdios literários, continuado na sua História geral do Brasil, onde em vários passos se ocupa da nossa evolução literária, e em papéis e memórias diversas publicadas em periódicos e revistas, descobriu, noticiou, editou e fez editar Varnhagem alguns preciosos escritos. Tais foram os Diálogos das grandezas do Brasil, de Gabriel Soares, a Narrativa epistolar, de Cardim, a Prosopopéia, de Bento Teixeira, a História do Brasil, de Fr. Vicente do Salvador, sem contar quantidade de espécies novas para a vida e obra de outros escritores do período colonial.

A obra capital de Varnhagen é, porém, a sua História do Brasil, que ele chamou de Geral por abranger nela todas as manifestações da nossa vida e atividade, ainda a literária e a artística. Publicada primeiro em 1857 e reeditada em 1872, é um livro de primeira ordem, se não pela sua estrutura, ainda assim não de todo defeituosa, pelo bem apurado dos fatos, riqueza e variedade das informações, harmonia do conjunto e exposição geralmente bem feita. Sem imaginação, sem qualidades estéticas de escritor, sem relevo ou elegância de estilo, Varnhagen escreve, todavia, decorosamente. Merece igual apreciação outra considerável obra sua, a História das lutas com os holandeses, publicada já fora do período romântico. Na nossa literatura histórica, as obras de Varnhagen são certamente o que temos de mais notável.

Tentou ele, como vimos, pela sua Crônica romanceada do Descobrimento do Brasil, as obras de imaginação ou de ficção. Carecendo de qualidades de imaginação e fantasia e de estilo, não lhe podia suceder bem. O seu Amador Bueno, "drama épico-histórico-americano" (Lisboa, 1847, Madri, 1858), com o seu Sumé, "lenda mito-religiosa-americana", e o seu Caramuru, romance histórico brasileiro, em redondilhas de seis sílabas, saído primeiro no Florilégio e depois em separado, apenas lhe documentam a incapacidade para essa espécie de literatura. É pela sua obra de historiador e de erudito que Varnhagen merece, e tem, um distinto lugar na história da nossa literatura, da qual foi o criador e permanece o alicerce ainda inabalado.

Varnhagen veio a falecer longe do Brasil, como sempre tinha vivido, em Viena d’Áustria, a 20 de junho de 1878. Sua esposa, chilena, leva o corpo para o Chile; no entanto, o desejo de Varnhagen era ser enterrado em sua pátria de “nascimento e opção”, mais especificamente em Sorocaba. Assim, por ocasião do centenário de sua morte, em 1978, a Fundação Ubaldino do Amaral – jornal Cruzeiro do Sul, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e Prefeitura Municipal realizam uma série de esforços para transladar os restos mortais do historiador para Sorocaba, cumprindo, dessa forma, a sua vontade final. Tal empreitada é coroada de êxito, como se pode ler no jornal Cruzeiro do Sul de 30 de junho de 1978: “Dentro das solenidades que Sorocaba vem realizando para marcar a passagem do Centenário da morte de Varnhagen, realizou-se ontem [29 de junho], às 9 horas, no Gabinete de Leitura Sorocabano, o lançamento de um carimbo filatélico alusivo à data. Em seguida, um carro do Corpo de Bombeiros, acompanhado de autoridades, transportou os restos mortais do historiador, que desde sua chegada do Chile encontravam-se expostos no Museu Histórico, para a nova Praça Francisco Adolfo de Varnhagen [em frente a UNISO, campus Trujillo], onde foram solenemente depositados num pedestal de granito, sobre o qual foi assentado o busto do historiador.”

Filosofia

A filosofia da História de Varnhagen é a comum filosofia espiritualista cristã do seu tempo, com o pensamento moral e político da sua educação portuguesa. É em história um providencialista, em política um homem de razão de Estado, da ordem, da autoridade e do fato consumado. Depois de narrar as depredações do corsário inglês Cavendish nas costas do Brasil, diz que veio a "falecer no mar, dentro de pouco tempo, provavelmente ralado pelos remorsos" (Hist. geral, I, 391). Os remorsos matarem um corsário do século XVI! Duguay-Trouin, regressando do seu assalto feliz ao Rio de Janeiro, "sofreu temporais que lhe derrotaram a esquadra, como se a Providência quisesse castigar os que os nossos haviam deixado impunes" (ibid. II, 816). Malogrou-se a revolução pernambucana de 1817. "Ainda assim desta vez (e não foi a última) o braço da Providência, afirma seriamente Varnhagen, bem que à custa de lamentáveis vítimas e sacrifícios, amparou o Brasil, provendo em favor da sua integridade" (ibid. 1150, II). Esta filosofia tem ao menos a vantagem de não ser presunçosa e de dispensar qualquer outra. Era aliás a do tempo, e dela se serviram aqui todos os historiadores sem exceção de João Lisboa, o mais alumiado de todos. Varnhagen, porém, com abuso, piorando o seu caso com o carrancismo da sua educação portuguesa se não de seu próprio temperamento literário.

Fontes:
VERISSIMO, José. História da Literatura Brasileira. in http://virtualbooks.terra.com.br/

ODÁLIA, Nilo. (Org.). Varnhagen. São Paulo: Ática, 1979. (Coleção Grandes Cientistas Sociais, vol. 9); e FLEURY, Renato Sêneca. Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1978. in www.sorocaba.com.br/enciclopedia/

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Rodrigues de Abreu (1897 - 1927)

« 27 de setembro de 1897 - Capivari SP - † 24 de novembro de 1927 - Bauru - SP

Benedito Luis Rodrigues de Abreu nasceu na fazenda "Picadão".

Aos 7 anos passou a morar em Piracicaba, onde começou os estudos em "escola de sítio".

Aos 12 anos, foi para S. Paulo com a família, e morou no Brás, depois na Vila Buarque. Neste bairro passou a trabalhar em uma farmácia com entregas a domicílio, até ser internado no "Liceu Coração de Jesus", para aprender uma profissão.

Em 1918 voltou com a família para Capivari onde trabalhou na Caixa de Crédito Agrícola. O contato com a poesia aconteceu no colégio.

Abreu aprendeu métrica lendo Simões Dias e sua 1° composição, de acordo com amigos foi: "O Famélico". Para esta obra se inspirou no "Pedro Ivo" de Castro Alves.

As obras mais antigas do poeta capivariano foram descobertas pelo prof. Carlos Lopes de Mattos. Elas eram intituladas: "O Caminho do Exílio" e "A Virgem Maria", ambas publicadas na revista "Ave Maria", em 1916.

Em Capivari os poemas dele eram publicados nos jornais locais "Gazeta de Capivari" e "O Município".

O seu livro de estréia deveria ter sido "Folhas", que foi submetido à apreciação de Amadeu Amaral, que se referiu assim à obra: "Depois de Olavo Bilac e Martins Fontes, é o melhor livro de estréia que tenho visto". Contudo, devido a dificuldades de publicá-lo e levado pelo interesse de seu primeiro editor (Amadeu Castanho, redator da "Gazeta de Piracicaba") de publicar o que o jovem escritor desejasse, antes de "Folhas" surgiu "Noturnos", de junho de 1919, mas que tudo indica seja de junho de 1921.

Trabalhou com Amadeu Amaral em "A Cigarra", em S. Paulo, em 1921 onde participou da Semana de Arte Moderna de 1922.

Em 1922 foi para Bauru.

Dois anos depois foi internado em Campos do Jordão (tuberculose). É nessa época que lança "A Sala dos Passos Perdidos" e passa a assinar "Rodrigues de Abreu" por sugestão de Amaral.

Em 1925 mudou-se para S. J. dos Campos, viveu até 1927. Surge então, "Casa destelhada". Em maio foi para Atibaia e retornou a Bauru onde feleceu, devido à doença. Alguns atribuem o agravamento da tuberculose ao rompimento do noivado.

CURIOSIDADE

Além de poeta, Abreu era orador talentoso, grande ator e desportista. Foi centro-avante do "Capivariano F.C.", para o qual compôs o hino oficial. Ele fundou o "Grêmio Literário e Recreativo de Capivari", grupo que encenou "Capivari em Camisola" (versos de Rodrigues de Abreu). Doente desde 1924, Abreu já confessara o desejo de "ser tuberculoso". Segundo ele, esse era o mal que geralmente acometia os grandes poetas do passado.

MOVIMENTO LITERÁRIO
Romantismo (terceira geração)/Modernismo (primeira geração)

Fonte:
http://www.artemery.net/Poesia_Biografias_RodriguesDeAbreu.htm

Rodrigues de Abreu (Poesia: Aos Poetas)

In Memoriam

Mentimos a nós mesmos, embuçados
nessas mágoas irreais em que vivemos.
Mas, somos, a fingir esses extremos,
os maiores dos homens torturados.

Carregamos as dores e os pecados
dos homens; e por eles nós ardemos
em esperanças e êxtases supremos,
com todos os sentidos exaltados.

Tristes de nós que vamos, nos caminhos,
chorando as almas das torturas presas,
pondo as alheias dores em canções...

Mas, sangrando a nossa alma nos espinhos,
fazendo nossas todas as tristezas,
alegramos os tristes corações.

Fonte:
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p00/p000801.htm

Rodrigues de Abreu (Poesia: Mar Desconhecido)

A Batista Pereira

Se eu tivesse tido saúde, rapazes,
não estaria aqui fazendo versos.
Já teria percorrido todo o mundo.
A estas horas, talvez os meus pés estivessem quebrando
o último bloco de gelo
da última ilha conhecida de um dos pólos.
Descobriria um mundo desconhecido,
para onde fossem os japoneses
que teimam em vir para o Brasil...
Porque em minha alma se concentrou
toda a ânsia aventureira
que semeou nos cinco oceanos deste mundo
buques de Espanha e naus de Portugal!
Rapazes, eu sou um marinheiro!

Por isso em dia vindouro, nevoento,
porque há de ser sempre de névoa esse dia supremo,
eu partirei numa galera frágil
pelo Mar Desconhecido.
Como em redor dos meus antepassados
que partiram de Sagres e de Palos,
o choro estalará em derredor de mim.

Será agudo e longo como um uivo,
o choro de minha tia e minha irmã.
Meu irmão chorará, castigando, entre as mãos, o pobre
rosto apavorado.
E até meu pai, esse homem triste e estranho,
que eu jamais compreendi, estará soluçando,
numa angústia quase igual à que lhe veio,
quando mamãe se foi numa tarde comprida...

Mas nos meus olhos brilhará uma chama inquieta.
Não pensem que será a febre.
Será o Sant Elmo que brilhou nos mastros altos
das naves tontas que se foram à Aventura.

Saltarei na galera apodrecida,
que me espera no meu porto de Sagres,
no mais áspero cais da vida.
Saltarei um pouco feliz, um pouco contente,
porque não ouvirei o choro de minha mãe.
O choro das mães é lento e cansado.
E é o único choro capaz de chumbar à terra firme
o mais ousado mareante.

Com um golpe rijo cortarei as amarras.
Entrarei, um sorriso nos lábios pálidos,
pelo imenso Mar Desconhecido.
Mas, rapazes, não gritarei JAMAIS!
não gritarei NUNCA! não gritarei ATÉ A OUTRA VIDA!
Porque eu posso muito bem voltar do Mar Desconhecido,
para contar a vocês as maravilhas de um país estranho.
Quero que vocês, à moda antiga, me bradem BOA VIAGEM!,
e tenham a certeza de que serei mais feliz.
Eu gritarei ATÉ BREVE!, e me sumirei na névoa espessa,
fazendo um gesto carinhoso de despedida.

Fonte:
http://www.revista.agulha.nom.br/roa01.html