segunda-feira, 23 de maio de 2011

A. A. de Assis (Triversos)


1
Passa a teoria
por debaixo do arco-íris.
Vira poesia.

2
Andorinha sobe,
andorinha sobe e desce,
faz um “s” e some.

3
Dizem que a cigarra
nada faz senão cantar.
Ah, é indispensável.

4
Da folha de amora
para o lencinho da amada.
Mágico tear.

5
Estrela cadente.
Vagalumes se alvoroçam
cobiçando a vaga.

6
Se borda é prendada,
bem mais ainda se pinta.
E se pinta e borda?

7
Casal de velhinhos
na janela olhando a Lua.
Tão longe a de mel...

8
E agora, vovô?
– Agora, nas mãos dos netos,
sou que nem ioiô.

9
Assanhadas rosas.
Disputam a preferência
de um raio de sol.

10
No lombo do boi
faz-lhe um cafuné o anu.
E ele gosta: muuu...

11
Ursinha moderna.
Toda noite, após a lida,
na internet hiberna.

12
Xexéu na gaiola
para o peixinho no aquário:
– Como vai, colega?

13
No meio do pasto
um ponto de exclamação.
Último coqueiro.

14
Ante o Pão-de-Açúcar,
dá as costas a Lua ao mar.
A lei do mais doce.

15
Alô... é da Lua?...
Manda uma cheia, com flores,
para a minha amada.

16
Florzinha silvestre
no jardim do shopping-center.
Êxodo rural.

17
Do asfalto se avista
ao longe um carro de boi.
Cheinho de histórias.

18
Serás a sereia
que na lua cheia cantas?
Serei-a, serei-a.

19
Pálidas pernocas
na areia pegando cor.
Ou pescando amor?

20
Mosca na parede.
Avisem à lagartixa
que o jantar chegou.

21
Ao luar, no Éden,
primeiro jantar a dois.
Que deu no que deu.

22
Menino de sete
versus menino de oitenta.
Jogo de botão.

23
Diz o sapo à sapa:
– Coá-coaxá... coará-coaxá...
E ela a ele: – Topo.

24
Um pulo, medalha.
Milhões de cabeças boas
tão longe das loas.

25
Trenzinho da serra.
Pa... Pa-ra-ná... Pa-ra-ná....
pra Paranaguá.

26
Piupiu canta à porta
da gaiola da piupia.
Se arrepia a bela.

27
Na fila de idosos,
troca-troca de sintomas.
Quem não tem inventa.

28
Flagra na cozinha.
Um par de abelhas aos beijos
sobre o meu pudim.

29
Galinha caipira
desposa um pavão real.
Continho de fada.

30
Veja a parasita:
parece gente que a gente
acha até bonita...
---------------------
continua...
--------------------
Fonte:
ASSIS, A. A. de. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010.

Francisca Clotilde (A Enjeitada)


A gentil criancinha viu a luz do dia em uma estreita e úmida mansarda. Filha do amor e do crime nascia quase ao desamparo, e apenas os beijos maternos festejaram-lhe a entrada no mundo.

A mãe seduzida por um homem sem coração necessitava encobrir a falta para continuar a viver entre a familia, e tinha de abandoná-la à caridade publica algumas horas depois de nascida.

Era tão franzina! Precisava tanto de cuidados maternos; porém a sociedade severa e inexorável a triste sorte da enjeitada.

São assim as leis humanas.

A moça inexperiente e sem o escudo de uma boa e sólida educação caíra aos amorosos assaltos de mancebo sedutor, e tornara-se mãe. Era, portanto, indispensável ocultar o fruto de uma culpa que o mundo não perdoa, e entre o amor de mãe e o terror do anátema que lhe cairia na fronte, a pobre moça hesitava.

Abandonar a filha, uma criaturinha frágil, flor mal desabrochada que a primeira carícia de vento pode molestar, deixá-la à porta de algum rico compassivo, privá-la dos seus beijos, não vê-la talvez mais!

Trouxera-a nove meses no seio, nutrindo-a com o seu sangue, com a sua própria vida.

Às ocultas fizera um enxolvazinho para que o seu anjo tivesse uma camisinha de rendas e uma touca enfeitada, ouvira-lhe o primeiro vagido, beijara-a com toda efusão de seu amor, e ia separar-se dela!

O seu coração de mãe revoltava-se.

Havia de conservá-la, embora a família a repelisse.

Trabalharia para sustentá-la, sofreria junto a si. Já lhe queria tanto!

Mas a vergonha e o opróbrio que a esperava?

Tratava-se n’aquele espírito abatido pela dor física numa luta horrível. Ficaria irremediavelmente perdida. A filha mais tarde envergonhar-se -ia de sua origem e talvez a amaldiçoasse.

Aparecia-lhe o mundo com a sua moral severa a estigmatisá-la, a excluí-la do rol das mulheres honestas, a família a expulsá-la.

Podia continuar a ser querida e respeitada. Ninguém descobriria sua falta, frequentaria a sociedade, seria bem recebida em toda parte, encontraria talvez um homem que a desposasse e havia de ser feliz. Mas para conseguir isso devia abandonar a filha aos cuidados estranhos, condená-la a implorar continuamente a caridade alheia. Era horroroso!...

Tinha-a junto do coração, molhava-lhe as facezinhas rosadas com lágrimas de ternura acariciava-lhe a loura cabecinha, extasiava se diante dos seus olhos que se abriam indecisos como para fitá-la e dizer-lhe: não me abandones.

O amor materno ia triunfar, mas ali estava alguém a reclamar-lhe a criança, a anima-la ao sacrifício expondo-lhe as consequências de sua fraqueza, a dizer-lhe que se apressasse, que em casa poderiam desconfiar de sua demora.

Pobre mãe! O miserável que murchou a coroa de tua virgindade não pensa decerto nas angústias porque estás passando.

Ri neste momento, quem sabe?

A sociedade não há de repelir, ele tem o direito de entrar com a fronte erguida nos salões, onde se ostenta a gente melhor e será recebida com atenções e obséquios.

Mas, tu, vitima indefesa, terias arremessada ao charco onde se revolvem as criaturas sem pudor.

Não te vendeste, o amor te perdeu, te entregaste generosamente e sem restrições ao homem que te fez pulsar o coração ainda virgem; porém o mundo não indaga destas cousas. Há de salpicar-te o rosto com a lama da degradação e marcar—há a fronte com o selo da ignomínia e da desonra!

Nem mesmo a maternidade dá o direito de esperar indulgência. Riram de tua dor e zombaram de teus desvelos, e sobre tua filha recairá a tua infâmia.

A jovem mãe sente a vertigem do desespero. Passa-lhe pelos olhos uma nuvem que a deslumbra.

Aperta mais o filhinho, cobre-a de beijos, agasalha-a cuidadosamente contra as intempéries do tempo à pessoa que a espera.

Depois, como impelida por força sobre humana ergue-se do leito dos sofrimentos, deixa a mansarda úmida e estreita e volta para a casa da família.

Vai continuar a frequentar o mundo.

Ninguém lhe verá a palidez das faces e as palpitações nervosas do coração.

Sua honra está salva, porque o mundo contenta-se com exterioridades.

E enquanto ela aparentemente é feliz, e cercam-na de homenagens e afeições, a filhinha aos cuidados de estranhos não passa de uma enjeitada.

Fonte:
F. Clotilde. Revista A Quinzena. Fortaleza, Ceará,15/10/1887. (Colaboração de Anamélia Custódio Mota, biógrafa de Francisca Clotilde - Academia Tauaense de Letras - Tauá - CE)

Francisca Clotilde (1862 -1935)


Francisca Clotilde Barbosa Lima nasceu no Sertão dos Inhamuns, Tauá, CE, aos 19 de outubro de 1862. Filha de João Correia Lima e Ana Maria Castelo Branco. Viveu sua adolescência em Baturité e Fortaleza, nesta última foi aluna do Colégio Imaculada Conceição, onde se fazia notar pelo seu espírito lúcido e suas inclinações poéticas. Aos quatorze anos, teve seu primeiro poema publicado na Imprensa (Horas de Delírio, O Cearense, 1877).

Aos vinte e dois anos, através de Concurso tornou-se a primeira professora do sexo feminino a lecionar na Escola Normal de Fortaleza. Pelo seu convívio passaram as primeiras professoras “formadas” do Estado do Ceará na década de 1880, tais como Emília de Freitas, Serafina Pontes, Alba Valdez, Ana Facó, etc.

Concomitante ao trabalho de professora, Francisca Clotilde participou ativamente do Movimento Abolicionista, inclusive tomando parte da Sociedade das Senhoras Libertadoras, ao lado de Maria Tomázia Figueira Lima, Elvira Pinho, Joana Antonia Bezerra, Serafina Pontes e outras senhoras. Nese tempo, escreveu o poema: A Liberdade, o Soneto: Livre. É dela, as palavras que se seguem, proferidas na comemoração dos vinte anos da libertação dos escravos: “Todas as vezes que sobre o dorso agitado dos mares vejo passar a jangadinha veleira, repassando os episódios da mais bela das campanhas, tenho ufania de ser cearense e sinto desejos de proclamar aos quatro ventos as glórias imorredouras de minha terra”.

Francisca Clotilde teve intensa participação na Imprensa, tendo inclusive tomado parte como membro no Clube Literário; nas Sessões da Agremiação teve seus contos lidos e, posteriormente publicados n’A Quinzena. Tais contos abordam aspectos de vida real e/ou imaginários, através dos quais a autora denuncia as desigualdades sociais da época e convida o leitor a prática do bem e do belo. E é justamente graças a essa capacidade de fazer com que seus tipos e situações sejam sentidos pelos leitores de todas as épocas, que os contos de Francisca Clotilde cativam.

Sobre sua participação jornalística recorro a Otacílio Colares (1993): “Seu nome esteve em evidência, a partir da última década passado, já nas páginas de jornais e revistas, assinando versos, de teor romântico confessional, ou paisagístico, já em prosa, nesta incluída a dramática, a de ficção e também a de um ativo e atrevido jornalismo ideológico e político”.

Provavelmente “esse ativo e atrevido jornalismo” haja sido o motivo principal que ocasionou a sua demissão da Escola Normal (1891). Francisca Clotilde não é a única nem a última professora a ser perseguida em nosso País.

De cabeça erguida Francisca Clotilde funda seu próprio Externato - Externato Santa Clotilde - situado à rua Marquez de Herval nº 06, que segundo Antonio Bezerra de Meneses foi fundado no ano de 1893 contando com 52 alunos, sendo 46 meninas e 6 meninos.
No final do Século volta a morar em Baturité, nessa cidade entre tantos foi seu aluno o beletrista Mário Linhares que se reportando à mestra em sua História Literária do Ceará, diz: “Conheci-a como professora pública em Baturité, em minha meninice, aí por 1904. Minha mãe era muito sua amiga, aproximou-nos. Foi ela quem corrigiu os meus primeiros versos e me ensinou os segredos da metrificação. Sua modéstia e a obscura vida de educadora no interior cearense estiolaram-lhe o vigor da inteligência, que não teve a projeção que a faria um dos nomes mais queridos das nossas letras femininas”.

De Baturité Francisca Clotilde continua a colaborar em vários jornais, dentro e fora do Ceará. Como por exemplo, Almanack do Ceará, Almanach dos Municípios do Estado do Ceará, Almanack das Senhoras alagoanas, A Violeta, do Rio de Janeiro, etc.

Em 1902 vem a público seu único romance A DIVORCIADA. Pioneira no tema “divórcio” na Literatura Brasileira.

Amélia de Freitas Beviláqua, esposa do jurisconsulto Clóvis Beviláqua, redatora de O LYRIO em Recife-PE, assim de reporta: “A conhecida escritora cearense, Francisca Clotilde, teve a gentileza de oferecer-nos o seu romance - A Divorciada, que forma um belo volume de duzentas e trinta e três páginas. A urdidura do romance é simples, mas bem travado com a concepção, corre suavemente, sem sobressalto, sem rebuscamento, despreocupado e natural. Com esses elementos, arquitetou a simpática escritora um romance muito interessante, onde a emoção sem muito se elevar, distribui-se com arte, dando relevo às cenas e prendendo continuamente a atenção do leitor até o desenlace. Agradecemos a oferta, felicitamos a distinta romancista”.

N’A Divorciada – palpita uma das mais singelas criações femininas – A Nazareth. Considerada “a primeira Samaritana da Literatura Brasileira”.

Seus Sonetos cantam o amor, a saudade, a Pátria, a Natureza. Ao ler seus versos a mente devassa mundos desconhecidos, o coração palpita, a alma sonha e os versos estremecem sob as mais doces e agradáveis sensações.

Suas peças para o teatro variam de monólogo, diálogo ou dramas em 2 ou 3 atos. Em – Devaneio – drama, desenrolam-se os as situações vividas e aspirações da mulher.

A poesia, o romance e o teatro enriqueceram-se com as jóias do cofre precioso de sua inteligência e com o poder irresistível da sua imaginação.

Exímia colaboradora de A ESTRELLA, revista fundada em Baturité (28/10/1906), tendo como redatoras Antonieta Clotilde e Carmem Thaumaturgo. Com raras exceções, essa revista sempre trouxe na capa, um soneto inédito de Francisca Clotilde.

A convite de intelectuais da “terra dos bons ares”, Francisca Clotilde muda-se com toda família (Antonieta, Aristóteles e Angelita) para Aracati, onde funda o Externato Santa Clotilde, e de onde A ESTRELLA passa a ser editada até o ano de 1921, tendo como redatora Antonietta Clotilde, contando com colaboradores e correspondentes espalhados por vários estados do Brasil. Segundo o historiador Abelardo Fernando Montenegro, O Aracaty, órgão da imprensa da mesma cidade, citando os intelectuais da terra na edição de 25 de março de 1909, diz que “merecem verdadeiras apoteoses de aplausos, as primorosas quão modestas poetisas as Clotildes, mãe e filha”.

Uma ex-aluna do Externato Santa Clotilde que elevou o nome de Francisca Clotilde foi a aracatiense Stela Barbosa Araújo, a tomando para Patrona na Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno em 1952, seu discurso veio a público no livro MULHERES DO BRASIL (1971 pp.231-251), assim iniciado: “Francisca Clotilde – alma de anjo, coração de jovem num corpo alquebrado pelas lides do ensino, torturado por vagas rugidoras de tantas injustiças – eu a conheci de perto, intimamente, filialmente, porque ela foi minha mestra por alguns anos, ensinando-me, guiando-me aperfeiçoando-me”. E depois de mostrar as várias faces de sua ex-mestra finaliza: “E eu, humilde e pequenina, deixo-lhe aqui o meu tributo de reconhecimento e gratidão, numa corbeile de doloridas saudades e suspiros chorados que traduzirão, embora mui palidamente, o elevado conceito em que nós, os seus alunos, sempre a colocamos com admiração e respeito”.

Filgueiras Lima dando Parecer ao discurso de Stela Barbosa Araújo assim se reporta a Francisca Clotilde: “Tão esquecida das atuais gerações, a suavíssima poetisa Francisca Clotilde encontro afinal uma biógrafa capaz de levantar o seu nome do pó do olvido fazê-lo admirado pelas novas correntes literárias do Ceará. Nós que a conhecemos na nossa adolescência, quando tivemos de residir por algum tempo na amorável cidade Jaguaribana, a que ela dedicou o melhor de sua fina inteligência e do seu imensurável coração, podemos dizer que nestas páginas evocativas encontramos Francisca Clotilde. A mestra infatigável, com acento montessoriano em suas atividades educacionais, a poetisa de alma sempre aberta para a harmonia do cosmos e os ritmos da vida; a mulher superior que, colocada embora acima do meio em que viveu, soube amá-lo com enternecido afeto, a doce e santa velhinha que um povo inteiro ouvia, seguia e amava. Nós a vimos agora e de novo, após tantos anos de distância da época em que tivemos a alegria de conhecê-la”.

Pelas notas recolhidas, vê-se que Francisca Clotilde foi precursora educacional e literária, a águia altaneira cujos vôos se elevaram aos parâmetros da imortalidade, a grande poeta, a inimitável escritora, a gigante da literatura, tem, pois, direito a mais perfeita e esplêndida apoteose.

Sobre o seu túmulo (08 de dezembro de 1935), “caíram as lágrimas de todos que lhe conheciam a grandeza do gênio e a beleza do coração”, afirma Stella Barbosa.

Mediante o exposto, é, portanto, impossível fazer-se uma análise completa de suas preciosidades literárias. Seria o mesmo que tentar contra todas as estrelas ou apanhar todas as pérolas do mar. Uma heroína forte e ao mesmo tempo suave e misteriosa, uma figura iluminada.

(Francisca Clotilde há de fulgurar sempre como Estrela de primeira grandeza no céu das Letras).

Fontes:
Anamélia Custódio Mota. In Jornal de Poesia. Link
Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.

Ialmar Pio Schneider (Homenagens em Soneto III)


SONETO A VICTOR HUGO
Falecimento do escritor soldado em 22 de maio de 1885 com 83 anos – In Memoriam

Victor Hugo, escritor consagrado,
de talento e repercussão mundial,
li “O último dia de um condenado
à morte”, até o desfecho fatal...

“Os Trabalhadores do Mar”, guardado,
espera uma leitura, que afinal,
devo fazer com venturoso agrado,
pois se trata de uma obra genial...

Foi poeta romântico do bem
e “Le Sommeil de l´Enfant” é um tesouro
que traduzi: O Sono da Criança...

Quantas obras produziu, também,
com sua pena majestosa de ouro,
e com temas de amor e de esperança...

SONETO A RICHARD WAGNER
Data de nascimento do compositor em 22.5.1813 – In Memoriam

Foi Richard Wagner um compositor
de músicas pomposas e gigantes !
Dizem biógrafos que teve amantes
e embora feio era um sedutor...

Quem compôs “A Valquíria” no esplendor,
“Lohengrin” e “Tannhauser” fascinantes,
obras harmônicas e deslumbrantes,
demonstra que viveu com tanto ardor !

“O Idílio de Siegfried” e “O Navio
Fantasma”; “Rienzi” – óperas de brio,
fortes e geniais composições...

Valeu no Mundo aqui sua passagem,
pois quem prestou à música homenagem
tanta, merece aplausos e ovações !

SONETO A LUDWIG VAN BEETHOVEN
Nascimento em 16.12.1770 - Soneto In Memoriam

Ouço Beethoven , Quinta Sinfonia
traz-me sossego p´ra alma que medita,
demandando aos Céus, com melancolia,
nesta manhã de sol, clara e bendita...

Deus, abençoe a Humanidade aflita,
nestas horas de tanta nostalgia,
que aqui na Terra humanamente habita,
acreditando na Filosofia !...

Que a Sua Luz derrame sobre as Vidas
de todos nós a Paz; Serenidade
que precisamos p´ra seguir em frente...

E assim vivamos, Almas Escolhidas,
para sempre, por toda a Eternidade,
com Seu abraço, Pai Onipotente !

SONETO A GUSTAV MAHLER
Falecimento do compositor em 18.5.1911 – Soneto In Memoriam

Gustav Maher, músico erudito,
que na “A Canção da Terra” despertou
um grande amor ao solo em que brotou
o Telurismo para o ser aflito...

Um dia o escutei e me encantou
com suas sinfonias, e contrito,
parecia-me que vinha do infinito
aquele som que vívido vibrou...

Pois hoje, sempre que ouço as sinfonias,
e a orquestra e coro com suas canções,
já mais serenos ficam os meus dias...

Eu quero meditar, ouvindo agora,
a Quinta Sinfonia; e de emoções
ninar meu ser que tristemente chora...

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXXIII – O Jabuti e a Onça


Uma vez uma onça ouviu a música da gaitinha do jabuti e aproximou-se.

— Como você toca bem, jabuti! De que é feita essa gaitinha?

— De osso de veado, ih! ih! — respondeu o cascudo.

A onça, que estava querendo apanhar o jabuti; veio com um plano.

— Sou um pouco surda — disse ela. — Toque mais perto da abertura do buraco.

O jabuti apareceu na abertura do buraco e tocou, mas no melhor da festa a onça deu um bote para Justificarpegá-lo. O jabuti afundou a tempo; mesmo assim ficou com uma pata nas unhas da onça.

— Ah, ah, ah! — riu-se ele. — Pensa que agarrou minha pata mas só pegou uma raiz de pau! Fiau!...

A onça soltou as unhas, desapontada. O jabuti deu outra gargalhada.

— Grande boba! Era minha pata mesmo que você havia agarrado. Fiau! Fiau!

A onça jurou que não sairia da beira daquele buraco enquanto não apanhasse o jabuti — e ficou lá até morrer de fome.
=======================
— Aparece aqui aquele mesmo truque do coelho com a onça — notou Emília. — Quer dizer que a onça é tão estúpida que todos os animais a enganam do mesmo modo.

— Só não acho direito — disse Narizinho — que a onça ficasse lá até morrer. Por mais estúpida que seja, isso é coisa que onça não faz. Os índios que inventaram esse caso eram bem bobinhos.


— Eu sei mais histórias do jabuti — disse tia Nastácia.


— Pois então conte.

–––––––––––––
Continua… XXXIII – O Jabuti e a Onça
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 216)


Uma Trova Nacional

Tão certo quanto a laranja
que é toda feita de gomos,
amigo bom sempre arranja
como elevar o que somos!
–AMILTON MACIEL MONTEIRO/SP–

Uma Trova Potiguar

Joguei na fonte a moeda...
Por ser a única que eu tinha,
antes que eu ouvisse a queda,
pedi pra você ser minha!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: ENCANTO - Venc.

As nuvens choraram tanto,
que o sol compensa o escarcéu,
tecendo com doce encanto
mais sete cores no céu!
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

A saudade nos corrói,
nos fere muito e magoa;
e quando ela nasce, dói,
no coração da pessoa!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Buscando novas auroras,
no meu viver sem ninguém,
me embala a dança das horas
pelo amanhã que não vem.
–LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA/RJ–

Simplesmente Poesia

–JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA/BA–
O Tempo e a Historia

O curso da História se faz
com um fio a mais,
um fio a menos.

Contam-se os cabedais
- os grandes e os pequenos
- o zero é que não se conta.

Tanta coisa ruim acontece,
que quando aponta
o que é bom,
cedo envelhece.

A História não espera
a tua prece.
Porém
monta
o teu trabalho,
a tua ação
na engrenagem
da compensação
e firma a tua imagem.
Crê no trabalho,
crê na História.
E põe força
para que se firme
a tua memória.

Estrofe do Dia

O gato fica valente
quando vê um vira lata,
e um escorpião se mata
quando vê fogo na frente,
o grilo trina e não sente
dores nas cordas vocais,
urubu come animais
sem nojo da fedentina;
só a natureza ensina
tudo isso e muito mais.
–RAIMUNDO NONATO/CE–

Soneto do Dia

–SERGIO AUGUSTO SEVERO/RN–
Primeiro Aniversário.

É Sexta Feira 13, faz um ano
Que a Roda da Fortuna se moveu
E que a Senhora Morte, por engano,
marcou comigo e não compareceu.

Na certa Deus, Quem não a quis Consorte
ou mesmo amante deste Marinheiro
e dilatou-me a Vida, Deu-me a Sorte
de completar o meu Ano Primeiro.

Primeiro Ano de uma Nova Vida,
que ainda se conserva apetecida,
nesses meus tempos “Pós o AVC”...

Graças, Senhor, pela Misericórdia,
E nesta Vida Nova, que a Concórdia,
se torne “Minha Cartilha do ABC”!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tanussi Cardoso (Lançamento do Livro Del Aprendizaje Del Aire – Do Aprendizado Do Ar)


OPEN CLUBE DO BRASIL e a EDITORA FIVESTAR

convidam para o lançamento do livro

DEL APRENDIZAJE DEL AIRE
DO APRENDIZADO DO AR

de

TANUSSI CARDOSO

Antologia poética bilíngue
Seleção, tradução para o castelhano e prólogos
LEO LOBOS e ANGÉLICA SANTA OLAYA

Programação:

- Apresentação: CARMEN MORENO

- Leitura de poemas em português: SÉRGIO FONTA

- Leitura de poemas em espanhol: HELENA FERREIRA

-Lançamento do livro

- Coquetel

Dia: 25 de maio, quarta-feira, das 18h às 20h30m

Local: PEN Clube do Brasil

Praia do Flamengo, 172 / 11º andar

Tel: (21) 2556-0461

domingo, 15 de maio de 2011

Dinair Leite (Paranavaí/PR em Trovas)


Fonte:
Dinair Leite. Paranavaí em Trovas

A. A. de Assis (A Eleição da Vênus)

Venus, por Boticcelli
Era, sem dúvida, uma escola de samba muito original, descontraída até no nome: Estraga-Lar, que aliás na época andava em campanha arrecadativa de fundos. Não exatamente com vistas a cobrir os ditos das cujas; muito pelo contrário: o povão tanto mais aplaudia as moças quanto mais ventiladas fossem. Os fundos seriam para reequipar a bateria, comprar novos adornos e outros ziriguiduns.

Os diretores decidiram que para animar a campanha (e aumentar o ganho com a venda de votos) haveria de surtir bom resultado a eleição de algo assim como rainha ou miss, porém que não fosse uma coisa nem outra, títulos por demais chavonizados. “Vamos pedir umas ideias ao professor Polycarpo”, e lá se foram consultar o sábio da cidade.

Machadiano, o velho mestre sintonizou a inspiração nas graças da Grécia antiga, riu por dentro, botou pra fora a solução: “Elejam a Vênus Calipígia. Nenhum título expressará mais abundantemente o essencial nas artes do requebrado...”

“Vênus Calipígia!”, repetiu de boca unânime a diretoria da Estraga. Todos tinham razoável noção do que fosse Vênus. De calipígios, contudo, pareciam pouco entender (será?). Mas o professor falou, tava sancionado. Soava bonito, gordo, macio, solene. Vênus Calipígia ficou sendo o epíteto.

Operava-se a venda dos votos durante os ensaios da escola de samba, assim de gente nas arquibancadas, o animador de voz barroca assanhando as torcidas, as candidatas calipigiando na passarela. “Reparem no calipígio dela!”, provocava inocente o espíquer. Bum-bum... bum-bum, ritmavam os bumbos, como se soubessem traduzir o grego.

Abertas, afinal, ruidosamente, as urnas, a falta de iniciação em cultura clássica fez diferença mínima. A intuição do eleitorado mostrou-se mais uma vez atenta: por polpuda maioria de votos, deu o título a Margaridinha Pureza, sedutor arranjo de rotundas, bem-distribuídas e bronzeadíssimas virtudes.

Ah, sim, quanto ao significado de calipígio, o pessoal da Estraga-Lar só deu pela coisa muito tempo depois, quando um dos diretores, por acidental curiosidade, resolveu conferir no dicionário. A partir daí nenhuma outra Vênus se fez eleger por lá.
======
Obs:
Calipigia, segundo o Dicionário Caudas Aulete é quem tem formosas nádegas.

Fonte:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010.

Carlos Lúcio Gontijo (Antologia Poética)


APASSARADO

Não quero conforto de mar
Ser porto de espera não quero
Nem pacífico nem mar morto
Absorto, voo na paisagem
Sou viagem, corro atrás
Ainda que seja fugaz o sonho
Eu me ponho a procurar …

O SER POETIZADO

Em cada coisa um segredo
Na lousa do horizonte o poema
Na esteira do verso o medo-tema
História verdadeira cheira a berço
Homen realista tem apreço por estrela
A vida se entrega a quem sabe entretê-la
Àquele que se estremece poetizado ao vê-la
Pois para Tê-la torrente nos braços
Basta recebê-la feito água corrente
Em compasso de leito e docemente…

POEMA DO OUTRO

Sobre a linha dos horizontes
O meu poema liberto de palavras
Céu aberto em muitas pontes
Destino a que me doei enjanelado
Para renascer em corpo alado
Sob o ensolarado olhar do outro…

BARRO

Nosso corpo e do espírito o jarro
Para que sintamos o agir do Criador
Basta-nos o florir do amor num esbarro
Mãos amantes purificando o calor do sarro
No banco multicor do carro do coração
Resgatando em nós a canção do barro

SOL ETERNO

Há mais alegria na procura que no encontro
A poesia da vida está na surpresa das esquinas
Em liberdade as diferenças se fazem divinas
Não se toma água limpa em fonte suja
Quem não garimpa dentro de si mesmo
Enferruja com seu toque tudo que amanhece
Não se conhece nem se doa ao próximo
É como canoa que temesse a festa da correnteza
A Natureza acontece na candura da simbiose
Ao horizonte do amor basta a luz da ternura
O sabor da fruta não depende da semente
Vem do calor da mão calejada do plantador
Pôr-do-sol que não se põe no peito da gente!

PEÃO DE LETRAS

Palavras são novilhos
Novelos de rios, lã
Cavalos bravios, puro-sangue
Na escuridão esperando manhã
Mangue de fala nascente
Veneno de língua poente
Pauta sonhando som
Feno bom para a mente animal
Que não sabe ser silente
Nesta campina dou cavaleiro
Poeta visionário social
Guerreiro, desbravo o dicionário
Matagal de mel em favos
Onde enlaço palavras com laço de céu
Feito abraço, prisão que afaga
Esta é minha saga, minha sina
Que se algum dia termina
Quero meu corpo ao lado da mãe
E o conforto da inscrição final:
"Meu irmão, aqui jaz um peão de letras”

MEIA-IDADE

O tempo envelhece no meu rosto
Vai na eterna juventude do vento
Por gosto, passa e não me esquece
Mas bem lá no fundo de mim
O mundo das luzes se enriqueceram
Ainda trago manhãs que não amanheceram
Afago do destino no meu caminhar
Dando-me o direito divino de tropeçar

MARES E SHOPPINGS

Por não saber nadar
O mar eu mal conheço
Nem shopping-center sou de freqüentar
Pois na profundidade das águas
Ou na claridade das vitrinas
A chama do espírito humano
Vive o drama de afogar-se

Fonte:
GONTIJO, Carlos Lúcio. O Ser Poetizado – Poesia e prosa - 1ª ed. - Belo Horizonte 2002

Carlos Lúcio Gontijo (1952)


CARLOS LÚCIO GONTIJO, filho de Betty Rodrigues Gontijo e José Carlos Gontijo, nasceu a 27 de abril de 1952, em Santo Antônio do Monte, município do Centro-Oeste de Minas Gerais. Cursou o primário no Grupo Escolar Waldomiro de Magalhães Pinto. Fez o ginásio e parte do Curso de Contabilidade na Escola Senhora de Fátima (mais conhecida como Colégio da Dona Maria Angélica de Castro).

Acompanha-lhe vida afora o amor por Santo Antônio do Monte, onde diz que veio à luz intelectualmente, pois ali passou a infância e viveu a juventude e a alegria de vestir a camisa do Flamengo, o inefável rubro-negro local, formando um grandioso feixe de aprendizagem emocional, que lhe enraizou no peito o torrão montense, ao qual ele muitas vezes cantou (e canta) em seus artigos jornalísticos e em versos, como é o caso do poema Sangue Montense, que se encontra inserido, com declamação e paisagens do município, na página de abertura de seu espaço virtual na internet.

O autor complementou o último ano de Contabilidade no Colégio Visconde de Cairu, na capital mineira. Em seguida, diplomou-se em Jornalismo pela FAFI-BH, hoje UNI-BH, no ano de 1976, passando então a atuar como jornalista – durante 30 anos –, no “Diário da Tarde”, veículo de comunicação impressa que circulou, ininterruptamente, de 14 de fevereiro de 1931 a junho de 2007.

Foi revisor, supervisor de revisão (no IV turno/”Diário da Tarde”, em horário que invadia madrugada adentro), articulista, secretário de página, subeditor e, depois, editor de Opinião do “Diário da Tarde”.

Trabalhou, também, nos jornais “PrOeste”, do qual foi um dos fundadores e redator-chefe (1976); “Tribuna de Mariana”, onde foi editor; “Diário de Minas”, como revisor e articulista; e “Hoje em Dia”, como revisor.

  • É portador de título de Honra ao Mérito da Prefeitura de Santo Antônio do Monte (1977), por indicação do então vereador José Magela Couto, diploma que lhe foi passado às mãos pelo ex-governador de Minas Gerais e ex-ministro de Estado, José de Magalhães Pinto;
  • do “Troféu Magnum de Cultura”, homenagem do Colégio Magnum Agostiniano, em comemoração aos 100 anos de Belo Horizonte (1997);
  • Destaque Profissional Regional 2003/Conselheiro Lafaiete-MG;
  • membro titular e correspondente da Academia Interamericana de Literatura e Jurisprudência e da Academia de Estudos Literários e Linguísticos (ambas de Anápolis/GO);
  • dá nome à biblioteca comunitária do Bairro Flávio de Oliveira e, também, à biblioteca do Instituto Maria Angélica de Castro (Imac), ambas em Santo Antônio do Monte.
  • É membro da Academia de Letras do Brasil-Mariana (ALB-Mariana), onde ocupa a cadeira nº 15 cujo patrono é o poeta Bueno de Rivera.
  • Possui assento, também, na Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores (Avspe), com sede no Balneário Camboriú/SC;
  • na Academia de Letras de Teófilo Otoni (ALTO) e
  • na Academia Santantoniense de Letras (ACADSAL).
Foi presidente da Associação Mineira de Imprensa – AMI (2002/2005), à qual retornou, como vice-presidente, na diretoria administrativa de 2008/2012.

Em março do ano 2000, expôs alguns de seus poemas, emoldurados e acompanhados das respectivas ilustrações com que foram impressos em livro – trabalho batizado por ele de “telaescrita” –, na galeria do ICBEU, em Belo Horizonte. A mostra, que deveria ficar aberta ao público por 15 dias, acabou sendo estendida por 35 dias, devido à intensa receptividade obtida.
Nos anos de 2005 e 2007, seu romance Cabine 33 foi indicado e adotado no vestibular da Faculdade de Administração de Santo Antônio do Monte – FASAM.

Gontijo morou na cidade de Contagem/MG (de 1985 a dezembro de 2010), onde foi agraciado com o título de cidadão honorário.

O poeta e escritor é contemplado com mais de uma página de referência no site de busca “Google”, conceituado arquivo mundial de informação, bastando digitar o seu nome para encontrá-lo presente em várias páginas virtuais, dentre elas o “cama-redonda/maria beatriz soares” (www2.uol.com.br/camaredonda/center/favoritos/poesias/poesias.htm – 89k -), ao lado de nomes consagrados como Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Mário Quintana, Pablo Neruda, Chico Buarque, Caetano Veloso, Carlos Lyra etc.

O autor participa da coletânea Poetas Del Mundo em Poesias (Volume I), nas páginas 46 e 47, publicada em 2008; e do Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil 2009.

Integra o Movimento Poetas del Mundo; é verbete do Dicionário Biobibliográfico Regional do Brasil, de Mário Ribeiro Martins, via internet, dentro de ENSAIO, no site www.usinadeletras.com.br; e mantém no ar o site Flanelinha da Palavra (www.carlosluciogontijo.jor.br), no qual disponibiliza aos internautas toda a sua obra literária (13 livros), fotos, músicas e alguns artigos jornalísticos etc.

OBRA LITERÁRIA

· Ventre do Mundo (Poesia – 1977).
· Leite e Lua (Poesia – 1977).
· Cio de Vento (Poesia – 1987).
· Aroma de Mãe (Poesia – 1993).
· Pelas Partes Femininas (Poesia e prosa – 1996).
· “Coletânea” (Editada em dois volumes, no ano de 1998, contendo os cinco primeiros do autor).
· O Contador de Formigas (Romance e poesia – 1998/1ª edição; 1999/2ª edição).
· O Ser Poetizado (Poesia e prosa – 2002).
· O Menino dos Olhos Maduros (Novela e poesia – 2002).
· Virgem Santa sem Cabeça (Romance e poesia – 2002).
· Cabine 33 (Romance e poesia – 2004). Foi indicado para o vestibular da Faculdade de Administração de Santo Antônio do Monte (FASAM) nos anos de 2005 e 2007.
· Lógica das Borboletas (Romance e poesia – 2007).
· Duducha e o CD de Mortadela (Livro infantil – 2009).
· Jardim de Corpos (Romance e Poesia – 2009)

Fonte:
Carlos Lúcio Gontijo

Luiz de Miranda (Lançamento de Vozes do Sul do Mundo)

Clique sobre a imagem para ampliar
Fonte:
Convite enviado por Luiz de Miranda

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Omar Khayyäm)


Nascimento do poeta em 15.5.1048

Omar Khayyām, poeta e trovador,
do vinho e das mulheres mais formosas,
símbolo de fenomenal amor,
lembrará sempre as donzelas gostosas !

Nunca se considerou pecador,
todas as horas tem que ser ditosas,
porquanto no prazer espanta a dor,
não enxerga espinhos, apenas rosas...

Faz muito tempo li o Rubaiyat,
tradução fiel de Manuel Bandeira,
vi que obra mais romântica não há !...

E o que me disse o mestre da poesia,
foi que se deve amar a vida inteira,
na realidade e até na fantasia !

Fonte:
Soneto enviado pelo autor.

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXXII – O Jabuti e a Caipora


O jabuti entrou num oco de pau e começou a tocar a sua gaitinha. A caipora, lá longe, ouviu e disse: "Não pode ser outro senão o jabuti. Vou agarrá-lo."

Veio vindo. Parou perto do oco, a escutar.

Li, ri, li, ri...
Lé, ré, lé, ré...

— Olá, jabuti!

— Oi! — respondeu o tocador de gaita.

— Saia do buraco, jabuti, para vermos qual de nós dois tem mais força.

O jabuti saiu, enquanto a caipora cortava um cipó.

— Eu puxo uma ponta e você outra — eu em terra e você n'água.

— Pois vamos a isso, caipora — respondeu o jabuti.

O jabuti entrou na água e amarrou a ponta do cipó no rabo dum pirarucu, que é o peixe de rio maior que há. A caipora, lá em terra, puxou o cipó — mas o pirarucu a arrastou para a beira d'água; e como não tinha mais força, foi puxando-a para dentro do rio. O jabuti, que já estava em terra, bem escondidinho no mato, ria-se, ria-se.

Não podendo mais de tão cansada, a caipora gritou:

— Basta! Você venceu.

O jabuti, sempre a rir-se, entrou n'água e foi desatar o cipó do rabo do pirarucu. Em seguida voltou para terra.

— Está cansado, jabuti? — perguntou a caipora.

— Cansado, eu? Nem um tiquinho! — e a caipora viu mesmo que nem suado estava. Não teve remédio senão confessar que o jabuti era mais valente do que ela — e lá se foi muito desapontada.
================
— Sempre a esperteza vencendo a burrice! — observou Emília. — Mas que bicho caipora é esse?

— A caipora — explicou dona Benta — é um dos monstros inventados pela imaginação da nossa gente do mato. Vocês bem sabem que para o povo existem na natureza muito mais coisas do que os naturalistas conhecem, como lobisomens, sacis, mulas-sem-cabeça que vomitam fogo pelas ventas e também caiporas.

— Mas como é a caipora?

— Dizem que é um bicho peludo que gosta muito de fumar. Cerca os viajantes nas estradas, de noite, para pedir fumo para o cachimbo. Descrever como é a caipora não é fácil, porque as coisas que só existem na imaginação do povo variam de lugar em lugar. Aqui é dum jeito, ali é do outro. Se querem saber como é a caipora, perguntem ao tio Barnabé. Só negro velho entende bem disso.
–––––––––––––
Continua… XXXIII – O Jabuti e a Onça
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.

Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 215)

Francisco José Pessoa (CE) e Ademar Macedo (RN)
Uma Trova Nacional

Os meus amigos são tantos,
de uma bondade sem fim,
que não preciso ter prantos
pois eles choram por mim!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova Potiguar

Demonstra afetividade,
quando é preciso, te acolhe,
um amigo é na verdade...
Um irmão que a gente escolhe.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

2002 - Amparo/SP
Tema: FOME - Venc.

Num mundo de ódio repleto
há tanta fome de amigo
que um pequeno grão de afeto
vale por mil grãos de trigo!
–ANTONIO JURACI SIQUEIRA/PA–

Uma Trova de Ademar

De alma pura, Deus decreta
que assim seja o trovador:
bom amigo e bom poeta,
sem jamais guardar rancor!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Quando a vida se complica
nas horas de solidão,
amigo é aquele que fica
depois que os outros se vão!
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Simplesmente Poesia

–HENRIQUE MARQUES/RJ–
Cantiga de Amigo

Meu amigo é feito uma ave
que meu corpo sobrevoa
e me canta sem cessar.

Meu amigo é feito um tigre
que me rasga, me maltrata,
cala os meus cálidos gritos.

Meu amigo é feito um rio
que, sem margens, corre solto,
e, quando quer, me naufraga.

Estrofe do Dia

Amigo, tens boa imagem,
és um Trovador querido,
bom poeta e bom marido,
um marujo de coragem;
mereces minha homenagem
no céu azul, verde mar,
teus versos vou proclamar,
falo com sinceridade;
eu quero a tua amizade
oh! Meu confrade Ademar.
–SEVERINO CAMPÊLO/RN–

Soneto do Dia

– THAMA TAVARES/SP –
Soneto da Amizade

Eis que a vida me deu grandes riquezas!...
Não me refiro à prata nem ao ouro,
mas a amigos que tive nas tristezas,
que são ainda o meu maior tesouro.

São amigos no incerto e nas certezas,
no efêmero e também no duradouro,
que sabem perdoar minhas fraquezas,
e rir e ser na dor ancoradouro.

Assim, quando eu partir para o outro lado
após pagar, talvez, algum pecado
recobrarei a paz na consciência...

Mas lá, no Céu, serei quem nunca dorme,
só por velar, numa saudade enorme,
os amigos que fiz nesta existência.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

sábado, 14 de maio de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 214)


Uma Trova Nacional
O que fez o Zé sofrer,
não foi ele ter ouvido
alguém na moita gemer,
foi conhecer o gemido!
–CAMPOS SALES/SP–

Uma Trova Potiguar

Sapateiro não “esquenta”,
fabrica até pra exportar;
só faz sapato quarenta
pra calçar parlamentar.
–SEVERINO CAMPÊLO/RN–

Uma Trova Premiada

2002 - Nova Friburgo/RJ

Tema: BOTECO - 1º Lugar.


Ao chegar no beleléu,
mostra, o bebum, seu espanto:
- Não tem boteco no céu"?
E as pingas que eu dei pro santo ?!?
–SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP–

Uma Trova de Ademar


Anote o que eu vou dizer:
Deus já fez tudo... E, de resto,
só falta mesmo fazer
político bom e honesto.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Era uma bruxa sem graça!
Não me dava paz nem trela.
Eu, então, só por pirraça,
me casei com a filha dela.
–CÉLIO GRUNEWALD/MG–

Simplesmente Poesia


MOTE:

Numa receita de Joça.

GLOSA:

Tinha raspa de juá,
raiz de urtiga, cardeiro,
cipó de sapo, pereiro,
ovo, milona e jucá,
jurubeba, manacá,
tinha suco de taboca,
crueira de mandioca,
fedegoso e vassourinha;
era tudo o que continha
numa receita de Joca.
–MOYSÉS SESYOM/RN–

Estrofe do Dia


Só vive numa oficina
deixando seu dono em pânico,
levando Riva a ruína
e enriquecendo o mecânico;
não tô querendo ser chato,
mas jogue o carro no mato
para não perder de tudo;
pois assim disse o seu fã:
carro velho e sutiã
só compra quem é peitudo.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–ÁUREA MIRANDA/BA–

Aparências Sociais


Chegou tarde ao trabalho – então, foi dispensado:
porque os olhos vazios no fundo das olheiras
deviam-se, decerto, a uma das bebedeiras,
às quais (também, decerto...) estava acostumado.

Estômago vazio, bolsos vazios e as beiras
dos chinelos quase um papel mal laminado,
resvalou na sarjeta – e o corpo, ensangüentado,
deixou sobre a calçada as últimas carteiras.

Uma era a de trabalho; a outra, a identidade
– ambas também vazias: já não tinha idade
pra ser trabalhador e nem pra ser alguém...

Mas, antes de o baixarem para a sepultura,
a esposa extraiu-lhe a frouxa dentadura
que há muito não usava: “Era um homem de bem.”

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ialmar Pio Schneider (Soneto Lobo da Estepe)


Por que adotei o nick Lobo da Estepe
para escrever poemas na Internet?
Foi Hermann Hesse com seu livro ingente,
que suscitou a fantasia ardente !

Também andei buscando pela noite
alguém que compreendesse onde me acoite,
para encontrar, enfim, felicidade
e conseguir a minha identidade.

Que mais quero, vivendo na ilusão,
se tudo me parece um mundo louco
e tenho que amargar a solidão?!

São meus sonhos de receber um pouco
de esperança que traga a redenção
para sair, então, desse sufoco !

Fontes:
O Autor
Imagem = http://oslobosdaestepe.blogspot.com

A. A. de Assis (Onidos da Osina)


Mariquitinha Duas Bolas ganhou o apelido por conta daqueles arredondados quadris onde farta saúde formava um par de robustas esferas sacolejantes. Num sábado de fevereiro, anos atrás, cedinho acordou a patroa pedindo recesso de trabalho:

– Vorto na quinta-feira de cinzas. Agora vou passar no Sovaco da Penha, grunir umas biribas e ajeitar a fachada aqui da menina pra sair no OO. Senhora vai me ver num luxo no OO.

– E que coisa é OO?

– Onidos da Osina... Rancho Carnavalesco Onidos da Osina, sabe não?...

Mariquitinha Duas Bolas tinha passado ilustre na crônica do carnaval. Seu currículo incluía itens como pastorinha da Escola de Samba Caçadoras da Floresta, destaque da Recordação das Magnólias, além de canja nos melhores blocos: Deslumbrados da Aurora, Cocada de Coco, Vila Sete dos Passarinhos, Rapadura Quente, Batuqueiros da Lua...

Mas a glória dela era sair no OO. Talvez, quem sabe, pelo fato mesmo de esse OO lembrar-lhe as duas bolas do festejado apelido. O Onidos da Osina, naquele ano, prometia botar pra quebrar. Primeiríssimo lugar, ninguém ousaria opor dúvidas. A patroa que desculpasse, mas em tão distinguido momento não dava para choferar fogão. Era entrar na fantasia e deixar cair.

Mariquitinha Duas Bolas era figura histórica, rainha máxima. Casar jamais pensara: tinha medo de arranjar marido chato. Marido ia incomodar. Ia querer que ela não fosse mais biritar no Sovaco da Penha. Ia ficar com ciúme do seu sucesso no OO. Melhor continuar solteira, mesmo cinquentona quase. Uma rainha não pode ser impedida de reinar. Marido atrapalha. Com a patroa é bem mais fácil conseguir licença.

– Vorto na quinta de cinzas...

– Tá bem, quarta é pouco, divirta-se. Nesses dias a gente manda trazer marmita.

Mariquitinha foi lá dentro, vestiu-se de festa. Se mandou. De noite o Onidos da Osina sairia com seu carro surpresa. A cidade reuniu-se na Rua do Café, esperando o desfile. Passaram as primeiras escolas, os ranchos... nada do OO.

A comissão julgadora nervosa no palanque. O prefeito, o delegado, a mulher do deputado, os importantes do lugar em exposição diante do povo que torcia, gritava, cantava, pulava. O Onidos aguardado como a grande atração da noite. Desfilaria num enorme carro alegórico em forma de navio, obra do velho Domingos Turco. Mas, cadê?...

O prefeito, presidente da comissão, chamou um auxiliar e mandou ver lá no Domingos Turco o que acontecera. Veio rápido o relatório:

– Sabe, doutor? Houve um pequeno engano. Fizeram o navio dentro do armazém do Amaro Alexandre, só que não dá pra passar na porta. Eles se esqueceram de tirar a medida, e agora estão lá discutindo se desmancham o navio ou derrubam a parede...

O prefeito aproveitou para iniciar sua nova campanha política. Pegou o microfone e anunciou: “Autorizo derrubarem o armazém inteiro se preciso for. Depois mando construir de novo, com dinheiro do meu bolso. O que não podemos é ficar sem a presença do OO neste garboso desfile!”

Aplausos, foguetes, vivas. Marreta na parede. E o Onidos da Osina entrou triunfalmente na Rua do Café, Mariquitinha Duas Bolas sacolejando na primeira fila, os tamborins repicando, a tuba pomponando, as frigideiras ritmando o samba, o povo em delírio, gritando...

Vitória retumbante do OO, medalha de honra para Mariquitinha, retrato nos jornais. Na quinta-feira a patroa esperou o retorno da cozinheira famosa. Que entretanto só apareceu no sábado.

– Senhora adescurpe, vou ter que deixar o emprego. Tinha um viúvo holandês vendo o OO na rua, gamou ni mim, vai me levar pras Oropa. Quer casar...

– Ué, você não dizia que marido incomoda?

– Incomodar, incomoda. Mas tem hora que a gente não reseste...

Fontes:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010.
Imagem = Educa Ja

Acionildo Albuquerque Silva (Poesias Avulsas)


DESTE-NÓ

Incertos são os acertos
de certos sentimentos.

COMUNICAMOS QUE ACABARAM DE ESCREVER
um manuscrito
Comunicamos que foi roubado
um manuscrito
Comunicamos que encontraram
um manuscrito
Comunicamos que estão vendendo
um manuscrito

QUEBRA MOLA

Subiu, nunca viu nada.
Sempre foi acostumado
a olhar de cima
passar pelos sonhos
atropelando os nossos desejos.

Queria apenas saber quantos
centímetros são necessários
para deter seu burgo e carruagem.

COM AXIOMA NÃO SE BUSCA EXISTÊNCIA

Como se o fogo não pudesse ser aceso...
e o inusitado não ofuscasse a lógica.
===========
Nasceu em Caruaru, agreste setentrional pernambucano. Reside em Recife desde 1987. Tem os seguintes folhetos poéticos publicados: O apogeu da insignificância e outros poemas; Odemas e instantes.

Fonte:
Antonio Miranda
Imagem do poeta por Jorge Lopes

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXXI – O Jabuti e o Homem


Um jabuti estava em sua toca, tocando gaita. Um homem ouviu e disse: "Vou pegar aquele malandro" — e chamou: "Ó jabuti!"

— Oi! — respondeu o jabuti.

— Vem cá, jabuti.

— Já vou — disse o jabuti — e botou a cabecinha na abertura do buraco. O homem foi e agarrou-o e levou-o para casa, onde o fechou numa caixa. No dia seguinte, de manhã, antes de ir para o serviço, disse aos meninos:

— Não me vão soltar o jabuti, ouviram? — e foi trabalhar.

O jabuti pôs-se a tocar a sua gaitinha lá dentro da caixa. Os meninos aproximaram-se, curiosos. Ele parou.

— Toque mais, jabuti — pediram os meninos.

O jabuti respondeu:

— Vocês estão gostando da minha gaita. Imaginem se me vissem dançar...

Os meninos abriram a caixa para verem o jabuti dançar. O jabuti saiu e dançou pela sala.

Lé, lé, lé, lé...
Lé, ré, lé, ré...

Depois pediu para dar um pulinho ao quintal.

— Vá, jabuti, mas não fuja.

O jabuti foi ao quintal e fugiu para o mato.

— O jabuti fugiu! — gritaram os meninos. — Como será agora?

Um deles teve uma lembrança: botar na caixa uma pedra com a forma do jabuti, para enganar o pai.

Assim fizeram.

À tarde o pai voltou da roça e disse' "Ponham a panela no fogo e preparem-me o jabuti."

Os meninos obedeceram, pondo a pedra na panela. Quando chegou a hora do jantar, o homem sentou-se à mesa, lambendo os beiços. Mas ao botar o jabuti no prato, viu que era pedra.

— Vocês deixaram o jabuti fugir!

Os meninos disseram que não, mas nesse momento soou lá no mato a gaitinha do fugitivo:

Tim, tim, tim...
Olô, olô, olô...

O homem foi lá.

— Ó jabuti!

O jabuti respondeu: "Oi!" Por mais que o homem procurasse, não o achava.

— Vem cá, jabuti!

E o jabuti: "Oi!" Cada vez respondia dum lugar diferente, até que o homem danou e voltou para casa, muito desapontado.
=============
— Só isso? — gritou Emília. — É pouco...

— Não, tem mais coisas — respondeu tia Nastácia. — Há uma porção de histórinhas do jabuti, que é um danado de esperto. Ninguém logra ele.

— É verdade — disse dona Benta. — O jabuti, ou cágado, como o chamamos aqui no sul, é um animalzinho que muito impressiona a imaginação dos homens do mato — os índios; daí todo um ciclo de histórias do jabuti, onde ele aparece com umas espertezinhas muito curiosas.

— E é mesmo uma galanteza — disse Narizinho — sobretudo uns verdes, do tamanho duma bolacha Maria. Já vi dois em casa da mãe do Tônico.

— Mas são mesmo espertos como querem os índios ou é história? — indagou Pedrinho.

— O cágado parece que tem alguma inteligência e que faz mesmo umas coisinhas jeitosas. Além disso possui aquela casca onde esconde a cabeça e as pernas assim que se vê em apuros. Isso deu aos índios a idéia de esperteza.

— Arranje, vovó, arranje um jabuti para nós! — pediu a menina. — Deve ser tão interessante...

— Hei de arranjar, mas agora vamos ouvir outras histórias dele. Continue, Nastácia.

E tia Nastácia continuou.
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Continua… XXXII – O Jabuti e a Caipora
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A. A. de Assis (Silvinha da Silva)


Silvinha da Silva empinou a cabeça, encarou a criançada, falou quente: “Quero fossa não, pessoal. O pai docês se foi pra melhor, mas a mãe tá aqui e garante o rango... Quero choradeira não!”

Tonico, o pai, sofrera desastre, a jamanta despencara na pirambeira, o coitado morrera de susto antes mesmo de remorrer prensado na cabine. Sorte da família que o caminhão dava conserto e o seguro cobria. Então Silvinha derramou sofrimento até a hora do enterro, depois enxugou a mágoa, jurou que de fome ninguém iria padecer na casa dela.

Mulher fêmea na hora do carinho, dera nove filhos ao Tonico. Mulher macha na hora de peitar os desafios da vida, prometeu aprender a guiar a jamanta, enfrentar a estrada, arrancar na marra o sustento da meninada. O mais velho, 16 anos, seria seu ajudante; os mais novos cuidariam uns dos outros na ausência da mãe; os vizinhos dariam lá uma olhada de vez em quando: “Não tem tempo ruim comigo não”, repetia firme Silvinha da Silva, mulher de raça forte e tutano no muque.

No parachoque a frase-grito: “Se segura que lá vai eu!”. Lá ia Silvinha, Silvinha da Silva, fé em Deus e pé na tábua, sobe morro, desce morro, vira curva, os braços parrudos, morenos, domando o baita no asfalto, o rádio ligado tocando as modas da moda. Silvinha era de vencer muito veterano do volante.

Partia de Santa Violeta recomendando juízo aos meninos, deixando o necessário para as despesas, dando adeus até o mês que vinha. Ia longe, até onde a carga a levasse: Belzonte, Salvador, Recife... na volta poderia ir até Porto Alegre... o que viesse ela traçava.

Se meter com Silvinha da Silva era caçar encrenca feia. A fama dela começou logo a correr: derruba cinco valentes numa só pernada... bebe uma garrafa inteira de pinga e nem tonta fica... vence qualquer campeão na queda de braço...

Lenda que eles inventam”, dizia ela, “mas deixa que é bão... assim eles me respeitam mais e não abusam...” Ninguém ousava assaltar Silvinha na estrada. Um, que tentou, levou tamanha canivetada no umbigo que quase desparafusou as vergonhas. Levava tranquila a bolsa cheia de dinheiro, dormia onde dava sono. O caminhão dela, pintado de cor-de-rosa, de longe era reconhecido. A cor, explicava rindo, “era homenagem ao charme da mulher brasileira”, que ela queria continuar mulher, embora boa de briga. Pensava até se casar de novo, só que ia escolher com rigor: homem para ela não podia ser qualquer um; tinha que ser de Tonico para melhor, um cara raçudo e direito, caminhoneiro como o falecido, de preferência bonito, de boniteza lá ao jeito dela. Se aparecesse um nos moldes, topava amarrar com ele os trapos, começar outra penca de garotos.

Conheceu Zé Marimbondo, ex-peão de rodeios, agora cinquentão pacato, criador e negociante de cavalos. Se ele aceitasse virar jamanteiro, se casariam. Boa lábia, Zé Marimbondo convenceu a mulher a mudar de ramo: “Nós vende o caminhão, compra mais terra vizinha da que eu tenho, a gente monta uma criação maior... será que tem vida melhor?...”
Silvinha resmungou, teimou, tomou uns goles, não resistiu. Zé Marimbondo tinha jeito de mexicano, o chapelão sombreando fartos bigodes, violeiro de voz macia, bastou serestear pra ela numa noite de lua e Silvinha se derreteu de vez. “Vou buscar a criançada em Santa Violeta, volto em duas semanas com os trens de sala, quarto e cozinha; aí a gente vai no padre e no cartório. Mas olha que sou mulher ciumenta... abusa não, que tem pancadaria.

Vendido o caminhão, começaram vida nova. Silvinha, inquieta, lá um dia quis aprender a montar. Em pouco tempo ganhava longe do marido; burro chucro que o assustava, ela amansava em dois galopes. Zé Marimbondo avexou, complexou, definhou, deu de beber, morreu. Silvinha da Silva, com mais dois filhos nas costas, chamou de novo a garotada, empinou a cabeça, falou quente: “Tem fossa não, pessoal. A mãe docês garante o rango... A criação tá crescendo, a cavalada aumentando, tem choradeira não!” E um ano depois comprava mais terras vizinhas, partia para a grande pecuária... já tem gente até querendo lançar Silvinha pra prefeita do lugar...

Fonte:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010.

Lilia Momplé (A Voz que Expande a Consciencia Literaria Moçambicana)


Eduardo Quive, do Movimento Literário Kuphaluxa entrevista Lilia Momplé.

Ida dos remotos tempos da dominação colonial portuguesa nas terras moçambicanas e voltada dos horizontes do mundo fora, a escritora moçambicana Lília Momplé, encontrou-se com amantes da literatura para falar de si, da sua obra e do protagonismo em que dedica a sua escrita nos leitores. Lília Momplé fora voz do nacionalismo, mas hoje, aos 76 anos de vida, é a palavra que se exalta na nova consciência e inspira as novas gerações. Mas não abandonou o seu nacionalismo literário. Na conversa promovida pelo Movimento Literário Kuphaluxa, em Maputo, a escritora brincou com as palavras e educou os literatos novatos, afinal de contas Lília, fora também professora.

De nome completo Lília Maria Clara Carriére Momplé, natural da Ilha de Moçambique, esta mulher que escreve o que lhe vai na alma, inspira os jovens e, nas suas obras, revela os mistérios da sua força nacionalista e pela justiça social. Há quem diga que cada escrito da Lília Momplé, é uma denúncia, mas a escritora prefere dizer que é um momento de desabafo, revelação, confidências e só o faz quando não aguenta mais se calar.

Há uma necessitada de se fazer valer a literatura oral. Esta forma literária é riquíssima e corre o risco de se esquecer. Com a literatura, há oportunidade de se criar riqueza. A literatura é a base para o conhecimento e criação, e num país onde há criação, já sabemos que se pode alcançar o desenvolvimento.

Em seguida o teor da sua conversa com jovens em um breve resumo:

Como é que surge a vontade de escrever?

Lília Momplé - Quanto ao ser escritora, sempre sobe que um dia ia escrever, só não sabia quando. O gosto pela literatura herdei da minha avó. Ela era Macua e habitualmente contava-nos estórias lindas da tradição em volta da fogueira. Nesse momento eu dia para mim, «um dia vou escrever estas estórias».

E houve um outro acontecimento que significou muito para mim: aos 13 anos, estudei no Liceu Luís Salazar, uma escola que era apenas para brancos e pessoas com as melhores condições. Eu era a única negra e minha mãe teve que fazer muito sacrifício para que eu estudasse lá. Ela passava noites a costurar para poder pagar a minha escola, foi uma fase muito difícil. Foi mesmo um acto heróico estudar lá.

Tive um professor de que o nome não posso me esquecer: o seu nome é Rodrigues Pinto, era professor de língua portuguesa. Mandou-nos fazer uma redacção sobre o último de dia de férias.

Feita a redação e chegada a hora de entrega dos trabalhos depois de avaliadas, ele foi chamando cada aluno para buscar o seu trabalho e o meu foi último. Confesso que fiquei com medo quando não chamaram-me. Quando terminou a entrega aos outros ele disse chamou-me e disse que o meu trabalho foi magnífico. E dali, ele passou a ler a redação em, toda escola. Fiquei muito orgulhosa. Toda escola apontava no pátio por ter feito o melhor trabalho. Isso marcou-me muito e cada vez mais acreditava que um dia ia escrever.

E porque escreve?

L. M. - Escrevo porque me sinto honrada! Escrevo pelo desejo de contar e de descarregar os meus segredos.

E o primeiro livro… “Ninguém Matou Suhura”, como é que surge?

L. M. - Escrevi o primeiro livro porque tinha uma carga muito grande sobre o colonialismo em Moçambique. Eu tinha raiva do colonialismo. Muita raiva. Tinha a raiva da injustiça. Eu nunca me conformava por tudo que via: massacres sofrimento, opressão isso incomodava-me.

Mesmo quando casei-me, embora com um branco, ele porque também não suportava ver a injustiça disse que tínhamos que sair do país. Foi assim que acabei vivendo no Brasil por muito tempo.

Escrevi o Ninguém Matou Suhura porque eu queria conversar com alguém sobre o que vi e vivi durante aquele tempo. Tinha que me revelar.

As outras obras «Os olhos da Cobra Verde» e um Romance, intitulado «Neighbours» não fogem muito do quem caracterizou a primeira…

L. M. - O segundo livro também se baseou em factos reais. Da morte de uma amiga que era muito boa gente. Ela tinha muita vida, se não mesmo ela era a própria vida. Isso foi muito doloroso e marcou-me. Eu tinha que escrever. O terceiro também foi mais uma revelação.

Vivemos uma sociedade de negócios o “Business Society”, onde o que vale é o medíocre e não desenvolvimento. Tem em vista mais uma obra?

L. M. - Estou a preparar mais um livro, talvez seja o último. Ele vai retratar o que chamo de “Business Society” (sociedade de negócios). O título poderá ser “Fantoches de Aços”.

Nesta obra vai sair muitas verdades. É mais uma revelação de algo que me vai na alma, sobre os dias que vivemos. Onde as pessoas são insensíveis pelos negócios. Tudo eles fazem pelo dinheiro. Pobres que sofrem e só discursos políticos vazios. Só para fazer negócios. É o Business Society a que me refiro. Essa sociedade não é a verdadeira moçambicanidade, isso nos tira a identidade e aconselho-vos a sair dela. São Fantoches porque são; e são de Aço porque não tem piedade. No Business Society o que vale é o medíocre e não o desenvolvimento.

Como é que se define Lília Momplé?

L. M. - Essa é uma pergunta muito difícil. Acho que não sei me definir, mas vou tentar. Penso que sou uma pessoa coerente, que, por exemplo, não se pode adaptar ao Business Society. Porque não suporto injustiça. Sou coerente.

A caminho dos 80 e com percursos brilhantes na sua vida literária, pensa ainda em fazer alguma coisa na literatura, para além do livro que vai lançar em breve?

L. M. - Essa também é muito difícil de responder. Engraçado que nunca pensei nisso. Sinceramente que não. Mas é assim… Não escrevo porque quer fazer alguma coisa na literatura, aliás eu nunca quis fazer nada na literatura. Quando não tenho nada para dizer não escrevo. Então não quero fazer nada na literatura, por isso não falta nada para fazer. Eu escrevo porque tenho que escrever.

Qual é o segredo que quer deixar para uma nova geração de escritores?

L. M. - Que amem a literatura antes de querer ser escritor, porque só assim poderão ser os verdadeiros escritores. Eu não acredito em quem quer ser escritor, pois escrever tem que ser por força de alguma coisa. Uma emoção forte. Você é um enviado especial de algum sentimento. Mas se os jovens amarem a literatura, farão algo por ela e nessa convivência, podem ser escritores e bons escritores. Que sinceramente o nosso Moçambique precisa.

Tem mais alguma coisa a dizer?

L. M. - Quero agradecer a oportunidade que o vosso movimento (Movimento Literário Kuphaluxa) me deu de estar aqui em conversa com os jovens e devo dizer que vos admiro. Realmente vocês são amantes da literatura e esta conversa que aqui tivemos é muito significativa para mim. Já passei por mais de 20 países para falar da literatura de mim e das minhas obras, mas a emoção que estar a falar com os verdadeiros mensageiros da literatura e que são jovens muito novos do meu país, que mostram o verdadeiro interesse pelas artes, isso me deixa muito feliz. Obrigado Kuphaluxa.

E mais… se querem realmente crescer nesta área, leiam. Leiam muito. Assim o podem ser de facto uma nova geração de escritores e eu tenho fé, que daqui a mais quatro anos ou menos. Um de vocês vai aparecer no sucesso e lembrar-se das minhas palavras.

Continuem assim. Convidem mais escritores para estes encontros, que não seja apenas a Lília Momplé, os jovens precisam destes momentos e eu sempre estarei ao vosso dispor, para qualquer momento destes e outros.
* * *

Breve biografia

Lília Maria Clara Carriére Momplé, nascida a 19 de Março de 1935 na Ilha de Moçambique, província de Nampula, a norte de Moçambique, é Assistente Social de profissão, com licenciatura em Serviços Sociais.

Lília Momplé, foi professora de Inglês e Língua Portuguesa na Escola Secundária de Ilha de Moçambique e diretora da mesma escola entre 1970 e 1981.

Trabalhou como assistente social em Lisboa, Lourenço Marques (actual cidade de Maputo) e em São Paulo, Brasil, em 1960 a 1970.

Em outras missões, Lília Momplé foi, de 1992 a 1998, diretora do Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural de Moçambique (FUNDAC) e de 2001 a 2005, membro do Conselho Executivo da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.

No seu percurso literário, dirigiu a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) de 1991 a 2001, como secretária geral, de seguida ficou presidente da Mesa da Assembleia-geral da mesma agremiação.

O seu primeiro livro veio ao público em 1988, editado pela AEMO, com o título «Ninguém Matou Suhura», uma coletânea de Contos; «Neighbours» romance publicado em 1995 e «Os Olhos da Cobra Verde» obra de contos publicada em 1997, também sob a chancela da AEMO.

Ainda na arte, a escritora publicou o «Muhipiti-Alima» um vídeo de drama, editado pela PROMARTE em 1997.

As obras da Lília Momplé, já foram editadas em Inglês, Italiano, Francês e Alemão.

Neste momento, a escritora faz parte do «Internacional Who´s Who of Authores and Writeres» e desde 1997 é membro de «Honorary Fellow in Literature» da universidade IOWA dos Estados Unidos da América (EUA).

Prêmios

Em termos de prêmios, Lília Momplé, conquistou o primeiro prêmio do concurso literário comemorativo da cidade Maputo, intitulado Prêmio 10 de Novembro com o conto «Caniço» em 1987.

Melhor vídeo-drama moçambicano em 1998, com o vídeo «Muhipiti-Alima».
Foi nomeada o Caine Prize for Africaan Writing, edição de 2001. fez parte dos cinco nomeados entre 120 escritores de 28 países.

NOTA: Este foi o resumo da conversa que jovens amantes da literatura tiveram com a escritora Lília Momplé, na galeria do Centro Cultural Brasil – Moçambique em Maputo e não se trata de uma entrevista conduzida por uma pessoa.

Fonte
Colaboração de Amosse Mucavele Movimento Literário Kuphaluxa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 213)


Uma Trova Nacional

Apesar desta certeza
de que somos tão iguais,
alma gêmea, que tristeza,
chegaste tarde demais!...
–ERCY Mª MARQUES DE FARIA/SP–

Uma Trova Potiguar


Sem saber o que fazer,
a prostituta, perdida,
vende prazer p’ra viver,
mesmo sem prazer na vida...!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - UBT-Natal/RN

Tema: TEMPO - M/H.

Chora, entre as pedras, um rio,
seu pranto cheio de mágoas
porque o tempo, em desvario,
foi manchando as suas águas...
–MARINA BRUNA/SP–

...E Suas Trovas Ficaram
O receio que me alcança,
ao ver inverno chegar,
é que, perdida a esperança,
eu já nem possa sonhar!...
–MARIA DOLORES PAIXÃO/MG–

Simplesmente Poesia

MOTE:
“É mais feliz a velhice
Que é por alguém amparada.”

GLOSA:
Distante da meninice,
Nos remansos da saudade,
Havendo fraternidade
É mais feliz a velhice;
Há mais encanto e meiguice
Sobre a fronte esbranquiçada...
Mais branda se torna a estrada
Que é pisada com amor,
Como dói menos a dor
Que é por alguém amparada.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Estrofe do Dia

Eu que sempre fui robusto,
forte que nem um lajedo,
de nada sentia medo,
hoje com tudo me assusto;
até pra dormir eu custo,
achando a noite comprida,
a alma desiludida
e o corpo cheio de dor;
todo dia muda a cor
do quadro da minha vida...
–ZÉ DE CAZUZA/PB–

Soneto do Dia

–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–
Um Olhar sobre Sorocaba

Em pleno ciclo de tantas tropeadas,
quer de mulas, ou quer também de bois,
Sorocaba levanta as mãos armadas...
Mil oitocentos e quarenta e dois.

Passa o século. A poeira das estradas
vai-se apagando e vão florir, depois,
as lindas laranjeiras carregadas…
Mil novecentos e quarenta e dois.

Os ciclos vão-se de outros distanciando...
Do bandeirante ao têxtil se afastando,
a indústria abre, imponente, o seu roteiro.

E hoje, aos ventos do tempo e seus avanços,
Sorocaba levanta os braços mansos
e torna irmãos... filhos do mundo inteiro.

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