segunda-feira, 14 de maio de 2018

Aparecido Raimundo de Souza (Havia Uma Ponte Lá Na Fronteira)

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Aparecido escreveu a Mini Série em 12 capítulos 
exibida na Rede Globo, "Ligações Perigosas"
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De calças curtas e pezinhos no chão, o nariz escorrendo um catarro amarelo e intermitente, o menino tentava voos ambiciosos com seu pequeno aviãozinho de matéria plástica. E conseguia. Em meio a um enorme jardim, se erguia imponente, um típico casarão provincial de paredes largas, com cerâmicas dispostas em simetria irrepreensível. Várias janelas e portas se destacavam pintadas de um amarelo muito vivo. Circundando a enorme construção, um muro alto feito de lajotas sem reboco, parecia absorver o tom mormacento da primavera.

Nesse paraíso, o garoto corria incessantemente de um extremo ao outro, puxando, quase aos trambolhões, o brinquedo preso ao barbante sujo e malcheiroso, desenhando, no ar, proezas cadenciadas como se participasse de uma dança repleta de ritmos alucinantes. Acima dele persistia um abafadiço queimoso e radiante, espalhando e derramando, sobre a cabecinha loira, um brilho majestosamente invulgar, cujo encantamento somente era percebido pela solidão mansa dos olhos sequiosos de Deus.

A alguns metros da porta da cozinha, uma puxada coberta por telhas coloniais acolhia os tanques de roupas, e a garagem, onde os empregados guardavam os carros, os caminhões e os tratores que vieram modernizar o cotidiano da fazenda. Um diminuto córrego ordenadamente cimentado empurrava, para adiante, as lavaduras do almoço, fazendo toda a água utilizada escorrer para um regueiro maior. Frontispício à entrada principal, um abacateiro enorme não ascendia a ímpetos genealógicos, embora suas galheiras, cobertas por pálida claridade, carregassem memórias centenárias de um pedaço de chão incrustado por uma cadeia de montanhas verdes salpicadas por espessas nuvens brancas. O grupo mais barulhento no comportamento do lugar vinha enfileirado por quatro cachorros que dominavam todos os arredores com seus aspectos espavoridos. Os vira-latas, na verdade, pareciam estranhas figuras se debatendo e se consumindo em coceiras, saltitando de um lado para outro, como almas penadas esmagando as folhas secas espalhadas por todo o terreiro. O silêncio também se quebrava em seu enfeitiçamento, quando as locomotivas, resfolegando furiosamente, sobressaiam cruzando, indo ou vindo, da capital, puxando uns cem fins de vagões carregados de minério de ferro.

No mais, predominava a natureza em seu melhor toque de realeza, resvalada por contornos harmoniosos e sutis. A se perder no horizonte, fora dos muros que protegiam o casarão, o cafezal em flor se misturava, num amplexo, às folhas verdes dos canaviais. Em grau paralelo, aformoseando a quinta, laranjais em flor concebiam um quadro à parte, incrivelmente belo e majestoso. 

E o guri, impertinente e fogoso, continuava rodopiando e saltando sem parar. De vez em quando passava o dedo pelo nariz melecado e cheio de sujeira e terra. Parecia não conhecer o cansaço. Em suas mãozinhas frágeis, a miniatura de um BOEING 737 se arrebentava feio em pancadas insistentes aqui e acolá. O barbante que o detinha, incrivelmente não enroscava nos ramos da vegetação espontânea. Parecia protegido por uma fada madrinha e sua varinha de condão encantada. O tempo, em paralelo, prosseguia numa lentidão estonteante. As horas, morosas e melancólicas, arrastavam os ponteiros, obstruindo a chegada da tarde. De repente, vindo lá de dentro, surgia em cena um ancião. Vértice superior e base de tudo, o senhorzinho pintava no umbral da varanda tateando as paredes com pronunciada lentidão. Nessa pachorra, assomava, quase sem fôlego, o alpendre. Dali espichava os olhos compridos e atentos para o noviço.

Esse homem possuía, no físico, a rudeza dos valentes, a força de mil leões e a coragem de um exército. No entanto, agora, só uma casquinha leve mesclava a aparência de superioridade bailando no rosto carcomido. Andar cansado, os cabelos brancos e os ombros curvados, essa criatura se tornou inconfundível e única pela raridade dos predicados que acumulou durante toda a existência. Contudo, hoje, não passava de um ser desprotegido e débil, pego pela insensatez dos anos vividos. João Tomé, proprietário de tudo, gritava o neto. Sempre que chegava naquela parte da varanda, gritava o neto. Seu grito, porém, saia débil e fraco, quase inaudível. Parecia, entretanto, acontecer um milagre. O pequeno captava a voz arrastada do avô. Ao fazê-lo, estancava atônito. A aeronave abortava a rota e aterrissava, de barriga. As asas soltavam turbinas e flapes, enquanto outras partes minúsculas da fuselagem desmantelavam assentos e janelas. Bonecos imitando passageiros e tripulação, a um só tempo, viravam uma confusão única, perdidos entre bananeiras e jaqueiras.

Derramando em choro convulso, o infante corria ligeiro, as mãos estendidas, para o aconchego dos braços que se punham em sua direção. Acariciando o moleque, com movimentos vagarosos, o velhinho sussurrava palavras carinhosas em seu ouvido. Prometia solenemente “amanhã bem cedinho” logo ao acordar, consertar o aviãozinho e “arranjar” um jeito de colar as asas e as rodinhas que afrouxaram. 

Nessa hora, o astro rei, mais baixo, começava a se recolher para um descanso merecido. Com a ponta dos dedos, seu João sinalizava à Maria Preta que aprontasse a bacia de água quente e as roupas de dormir. E o mais importante: que servisse o jantar. Enquanto esperava, conduzia o neto até outro extremo da sacada, onde duas redes armadas convidavam a um repouso merecido.

— Hoje uma surpresa lhe espera.

— Qual, vovô?

— Não posso dizer.

A criança colocava o polegar na boca e assumia uma expressão travessa na carinha redonda:

— Eu sei vovô, eu sei. Papai vai chegar de carrão com a mamãe lá daquela cidade bem longe que o senhor me falou...

— Você passou longe.

— Me dá uma chance!

— Não teria graça se abrisse o bico.

O coração do sapeca exultava de contentamento.

— O Senhor vai me levar pra ver o “trem bonito?”.

                                     ***
Quando o piá se referia ao “trem bonito” aludia ao noturno de luxo que conduzia passageiros para o interior de São Paulo. Esse comboio geralmente cruzava muito tarde, normalmente quando todos dormiam a sono solto. Entretanto, uns pares de vezes, seu João Tomé aguentava o rojão pacientemente lutando contra o relógio e o esgotamento da lavoura a enfrentar dia seguinte. Ao ouvir o apito, ainda distante, acorria com o neto para a beira da via. O mocinho adorava essas aventuras. Explodia a alma em emoções descomedidas, vendo a luz forte surgindo longínqua, se aproximando velozmente e clareando os trilhos compridos sobre os dormentes justapostos em fileira constante. À noite como que se rasgava em quase dia por mágicos minutos. A composição passava ruidosa e veloz, com a maior parte das janelas acesas, até que perdia o brilho da pompa numa curva que desfigurava completamente a visão. Todo o desvario da emoção murchava, dava um retrocesso infeliz. Sem saída, o menino sufocava os soluços pungentes na garganta, para que o pranto não rolasse e aparecesse a tristeza indiscreta lhe deformando a forma primitiva da sensação de regozijo. Um tédio estático caia pesadamente sobre o lugar e distendia uma solidão enfadonha que vagava quilômetros.
                                           ***

Algum tempo depois, de banho tomado e encadernado no pijama novo, Maria Preta servia o jantar. Lá fora, a escuridão insistia. Esparramava sua presença pesada, fria, densa e pegajosa. No infinito, estrelas sacudidas do manto do Criador brilhavam e resplandeciam como um bando de vaga-lumes irrequietos. Em volta da sede, os cachorros faziam a roda e se acomodavam enleados. De vez em quando ladravam com estridência colossal. Sapos coaxavam num brejo próximo ao paiol de milho. Morcegos voavam. O tempo, inexorável, se deixava ser consumido e, com eles, as horas construindo um abismo gigantesco em torno do nada.

De barriguinha cheia, o pequerrucho acomodava a estafa do dia no colo do avô.

Maria Preta, sentada na cadeira de balanço diante da televisão, roncava atrapalhando o sossego. De boca aberta, babava sonhos irrealizáveis. Os braços caídos, pendidos para o vácuo, pareciam sem vida, à mercê de um vazio de proporções entediosas.

— Então se não é o trem bonito, qual a surpresa?

— Se você ficar quietinho...

—... Meus olhinhos estão cansados! — murmurava a uma vozinha fraca — Conta uma historinha?

— Qual você quer? — dizia o avô, acorrendo com a sua solicitude.

— Aquela do menino que ia atravessar uma... Uma... Uma ponte... E...

— Era uma vez...!!!

Fonte:
SOUZA, Aparecido Raimundo de. Havia uma ponte lá na fronteira. 
São Paulo: Ed. Sucesso, 2012.

sábado, 12 de maio de 2018

André Kondo (Pequenas Poesias do Dia a Dia)


1
uma folha
brinca sozinha
dando cambalhotas
de outono

2
um semáforo quebrado
piscando amarelo
no cruzamento dos erros
atenção

3
um livro fechado
e nunca lido
na escuridão guarda
iluminados segredos

4
na fotografia da sala
a infância dorme
eterna
e terna

5
um bilhete
na porta da geladeira
aquece a relação:
fiz pudim

6
brancas nuvens
se libertam da paineira
chovendo
úmidas lembranças

7
uma gaiola
vazia
guarda voos

8
uma geladeira aberta
pausa para pensar
geladeira cheia
esvazia a mente

9
uma garrafa vazia
com uma ébria mensagem
jogada ao mar 
em ressaca

10
um menino 
brinca de guerra
enquanto outro de verdade
morre em outro ponto da Terra

Fonte:
André Kondo. Cem pequenas poesias do dia a dia. 
Jundiaí/SP: Telucazu Ed., 2016.

Contos e Lendas do Mundo (Palestina: O Caçador)

Era uma vez um homem quem era caçador, e seu nome era Caçador, também. Um dia, ele estava caçando quando encontrou um cervo. Quando mirou no animal, o cervo desapareceu. Ele mirou novamente e de repente o cervo se transformou num homem. 

Caçador ficou apavorado. O homem chegou perto dele e disse: 

– "Por que você sempre caça cervos e pássaros? Você não sabe que eles têm um dono?" 

– "Eu tenho que alimentar minha família, e esta é sua única forma", replicou Caçador.

– "Qual o tamanho de sua família?" perguntou o homem. 

– "Dois meninos, uma menina, minha mulher e eu", respondeu Caçador, "e isso é o que nos mantêm vivos".

– "Bem", disse o homem, "se eu lhe der dinheiro, você para com isso?" 

– "É claro", disse Caçador, "assim que eu tiver dinheiro, nunca mais caçarei". 

Neste momento, o homem pegou cinquenta dinares e deu-os a Caçador. 

– "Antes que você vá, qual é seu nome?" o homem perguntou. 

– "Sou Caçador, e você?" disse Caçador.

– "Chamo-me Abdala", respondeu o homem, "e eu tenho uma família, como você".

Caçador chegou em casa, limpou sua arma e encostou-a na parede. Ele disse a sua mulher que nunca mais iria caçar e que Deus lhe tinha dado uma fonte de dinheiro. Porém, não muito depois, o dinheiro acabou, e Caçador pegou novamente sua arma e saiu para caçar. Quando ele chegou na mata, encontrou o cervo no mesmo lugar e na mesma hora. Ele mirou, e imediatamente o animal transformou-se em Abdala. 

– "Não tínhamos um acordo?" perguntou Abdala. 

– "Mas o dinheiro acabou", disse Caçador, "e nós quase morremos de fome". 

– "Você vê aquela rocha?" disse Abdala, "Sempre que você precisar de mim, apenas vá até ela e diga 'Ei irmão Abdala', e virei imediatamente." 

Então ele deu ao caçador outros cinquenta dinares.

Caçador voltou feliz para casa. Quando ele deu o dinheiro a sua esposa, ela exigiu saber onde ele o tinha conseguido. Ele disse que tinha encontrado um amigo que lhe prometera ajuda todas as vezes que necessitasse; Caçador somente tinha que ir à  rocha e chamá-lo. 

"Você é um homem pão-duro!" disse a esposa de Caçador, "Você deveria convidá-lo a vir a nossa casa, nós poderíamos comer juntos e reforçar essa amizade." 

Então Caçador voltou à rocha e chamou Abdala. Após se desculpar por não convidá-lo, Abdala insistiu para que primeiro a família de Caçador fosse a sua casa. Após combinarem para às oito da manhã, Caçador voltou para casa para contar à esposa as novidades.

Caçador e sua família compraram um presente e se dirigiram à rocha com as crianças. Quando eles lá chegaram, encontraram Abdala e sua família esperando.
Cada um da família Abdala deu boas-vindas a um membro da família Caçador e eles sacudiram as mãos. Num piscar de olhos, eles estavam num mundo diferente.

A família Abdala preparou um banquete e convidou todos os vizinhos que trouxeram presentes e dinheiro para Caçador e sua família. Após ficarem algum tempo, Caçador e sua família juntaram os presentes e o dinheiro e foram para casa. Eles tinham dinheiro suficiente para construir uma boa casa. Poucos meses depois, num feriado, Caçador foi visitar seu amigo. Quando Abdala apareceu, ele segurou a mão de Caçador e num piscar de olhos, eles estavam um lugar diferente.

Abdala deu mil dinares a Caçador. Caçador pegou o dinheiro e foi para casa. Sua esposa disse que eles tinham o suficiente para casar seu filho mais velho. Eles encontraram uma boa garota para ele e marcaram a data do casamento. É claro que Caçador convidou Abdala e sua família. Abdala disse a Caçador que preparasse uma sala separado para ele e outras vinte pessoas e não deixar ninguém se aproximar deles. 

No dia do casamento, todos da cidade foram convidados e Caçador fez o que Abdala pediu. As pessoas podiam ver Caçador entrar na sala separada com bandejas cheias e sair com elas vazias, sem no entanto poderem ver o que estava lá dentro.

Após todos irem embora, Abdala perguntou a Caçador se eles poderiam dar o presente da noiva, e cada um deu um linda joia. Antes de Abdala ir, ele disse a Caçador que todos estavam convidados para sua casa a semana toda.

Uma dupla de ladrões da cidade sabiam onde a noiva tinha colocado sua caixa de joias, então entraram na casa e levaram. Quando Caçador e sua família voltaram para casa, descobriram o roubo. O Caçador pediu ajuda a Abdala, que o confortou e lhe disse que abrisse novamente a caixa das joias. Ele encontrou o dobro de joias que havia inicialmente. 

Abdala virou-se para Caçador e disse: "Na próxima vez, meu irmão, quando você for nos visitar, nós protegeremos sua casa".

Fonte:

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Stanislaw Ponte Preta (O Grande Mistério)

Há dias já que buscavam uma explicação para os odores esquisitos que vinham da sala de visitas. Primeiro houve um erro de interpretação: o quase imperceptível cheiro foi tomado como sendo de camarão. No dia em que as pessoas da casa notaram que a sala fedia, havia um soufflé de camarão para o jantar. Daí...

Mas comeu-se o camarão, que inclusive foi elogiado pelas visitas, jogaram as sobras na lata do lixo e — coisa estranha — no dia seguinte a sala cheirava pior.

Talvez alguém não gostasse de camarão e, por cerimônia, embora isso não se use, jogasse a sua porção debaixo da mesa. Ventilada a hipótese, os empregados espiaram e encontraram apenas um pedaço de pão e uma boneca de perna quebrada, que Giselinha esquecera ali. E como ambos os achados eram inodoros, o mistério persistiu.

Os patrões chamaram a arrumadeira às falas. Que era um absurdo, que não podia continuar, que isso, que aquilo. Tachada de desleixada, a arrumadeira caprichou na limpeza. Varreu tudo, espanou, esfregou e... nada. Vinte e quatro horas depois, a coisa continuava. Se modificação houvera, fora para um cheiro mais ativo.

À noite, quando o dono da casa chegou, passou uma espinafração geral e, vitima da leitura dos jornais, que folheara no lotação, chegou até a citar a Constituição na defesa de seus interesses.

— Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e ama-secar, tenho o direito de exigir alguma coisa. Não pretendo que a sala de visitas seja um jasmineiro, mas feder também não. Ou sai o cheiro ou saem os empregados.

Reunida na cozinha, a criadagem confabulava. Os debates eram apaixonados, mas num ponto todos concordavam: ninguém tinha culpa. A sala estava um brinco; dava até gosto ver. Mas ver, somente, porque o cheiro era de morte.

Então alguém propôs encerar. Quem sabe uma passada de cera no assoalho não iria melhorar a situação?

- Isso mesmo — aprovou a maioria, satisfeita por ter encontrado uma fórmula capaz de combater o mal que ameaçava seu salário.

Pela manhã, ainda ninguém se levantara, e já a copeira e o chofer enceravam sofregamente, a quatro mãos. Quando os patrões desceram para o café, o assoalho brilhava. O cheiro da cera predominava, mas o misterioso odor, que há dias intrigava a todos, persistia, a uma respirada mais forte.

Apenas uma questão de tempo. Com o passar das horas, o cheiro da cera — como era normal — diminuía, enquanto o outro, o misterioso — estranhamente, aumentava. Pouco a pouco reinaria novamente, para desespero geral de empregados e empregadores.

A patroa, enfim, contrariando os seus hábitos, tomou uma atitude: desceu do alto do seu grã-finismo com as armas de que dispunha, e com tal espírito de sacrifício que resolveu gastar os seus perfumes. Quando ela anunciou que derramaria perfume francês no tapete, a arrumadeira comentou com a copeira:

— Madame apelou para a ignorância.

E salpicada que foi, a sala recendeu. A sorte estava lançada. Madame esbanjou suas essências com uma altivez digna de uma rainha a caminho do cadafalso. Seria o prestigio e a experiência de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet e outros menores, contra a ignóbil catinga.

Na hora do jantar a alegria era geral. Mas restavam dúvidas de que o cheiro enjoativo daquele coquetel de perfumes era impróprio para uma sala de visitas, mas ninguém poderia deixar de concordar que aquele era preferível ao outro, finalmente vencido.

 Mas eis que o patrão, a horas mortas, acordou com sede. Levantou-se cauteloso, para não acordar ninguém, e desceu as escadas, rumo à geladeira. Ia ainda a meio caminho quando sentiu que o exército de perfumistas franceses fora derrotado. O barulho que fez daria para acordar um quarteirão,quanto mais os da casa, os pobres moradores daquela casa, despertados violentamente , e que não precisavam perguntar nada para perceberem o que se passava. Bastou respirar.

Hoje pela manhã, finalmente, após buscas desesperadas, uma das empregadas localizou o cheiro. Estava dentro de uma jarra, uma bela jarra, orgulho da família, pois tratava-se de peça raríssima, da dinastia Ming.

Apertada pelo interrogatório paterno Giselinha confessou-se culpada e, na inocência dos seus 3 anos, prometeu não fazer mais.

 Não fazer mais na jarra, é lógico.

Fonte: 
Stanislaw Ponte Preta. “Primo Altamirando e Elas”, 
Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1961

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Arnaldo Forte ((Livro D'Ouro da Poesia Portuguesa vol. 2) II

ENVOLTA NO "MANTON" DAS ROSAS VERMELHAS...

Hás de ser minha, eu quero, é quanto basta!
Um dia, quando for, não o procuro.
E é o desejo ardente que me arrasta,
Aquel' que há de fazer vibrar-te, eu juro!

Um dia, quando for... hei de deixar
Nos seios que tu tens, beijos aos molhos!
Nodoas de lírios roxos a sangrar...
E olheiras cor da noite nos teus olhos!

Não tenhas ilusões! Nunca a tua Raça
Me vencerá a mim por mais que faça!
Quero-te. Eu sinto a ânsia de beijar!

Queimada pelo fogo dos meus beijos
Heide sentir-te louca de desejos...
Um dia, quando for... sem eu te amar!

NA PRAIA-MAR DO SONHO

Decerto tu já viste ao sol-poente,
O mar beijar a areia de mansinho.
Parado, a olha-la docemente,
Num grande sonho, louco, de carinho.

Depois é densa a treva. O mar é louco.
E briga com a areia, encapelado.
Embravecido cansa, e pouco a pouco,
Soluça a grande dor dum revoltado!

Assim, houve luar e noite escura,
Naquela doce noite de amargura,
Mistério indefinido que profundo!

Assim, é a tu'alma p'ra minh'alma,
--Ó minha maré-viva e maré-calma,
Do grande mar, da Dor em que me afundo!

A MÁSCARA LOIRA

Ó minha viciosa, estérica e perversa,
De linhas sensuais; teu corpo eterizado,
Tem frases de requinte, em lubrica conversa!
Tem lume de cigarro, loiro e opiado!

Teus olhos a boiar, são taças d'absinto.
E a tua silhuete loira e desgrenhada,
Tem risos de cristais partidos, que eu bem sinto,
Em noites de volúpia, á luz da madrugada!

Á noite, as tuas mãos, são gumes de punhal,
Depois de terem morto - alguém sem fazer mal...
Tua voz é o Fado... eu ouço-o quando passa!

No Mundo és o Drama, a Farsa, és a Comedia!
Ás vezes também és - palhaço - na Tragédia!
És a figura loira e linda da Desgraça!

ABANDONO

Decerto tu sentiste o abandono,
Que vai acompanhando o sol-poente,
Nas tardes tristes, lividas, do outono,
E quando chora o coração da gente!

Tardes pedindo ao sol a Extrema-Unção,
Numa ancia doentia de mais luz!
Decerto tu sentiste a sensação,
De ajoelhar-se em frente d'uma cruz!

Tu entraste á tarde na Igreja,
Á hora de rezar's - bendita seja,
A cor tão doentia do Outono!-

Tudo sentiste... e os olhos rasos d'água!
Que pena não sentir's a minha mágoa!
A vaga incompreensão d'este abandono!

13 LÍRIOS

Atei-os com os fios d'oiro daquela taça de
crystal «bohème» que partiste...

Encheste a minha vida d'amargura.
Encheste a minha vida de martírios.
Enchi a tua vida de ternura,
E vou encher o teu coval de lírios.

São 13 os lírios roxos que levei.
- Meus versos de saudade são p'ra ti.
Amor, num dia 13 te encontrei!
Num dia 13, Amor, eu te perdi.

Meu doce Amor perdido... hei de te ver,
Na luz que tem o céu amanhecer,
Na cor do sol-poente em que reparo!

E o nome que tiveste, ó loira e linda,
Que certa rosa branca fala ainda...
Será p'la vida fora o meu amparo!

Fonte:
Arnaldo Forte. 13 Sonetos. Lisboa: Edição do Autor, 1921

Malba Tahan (A Noiva do Xeique)

No dia em que meu pai deliberou casar-me com o xeique Ornar Bahil, assaltou-me um desespero sem limites. Triste destino o de tornar-me esposa do homem mais odiento da cidade!

A velha Zenuja, vendedora de perfumes, tintas e colares, que vinha diariamente ao nosso harém (1), vendo-me aflita e chorosa, perguntou-me, penalizada, qual a causa daquela angústia que pesava sobre mim.

Ao saber da triste verdade exclamou, exaltada:

— Não é possível, Jamile querida! Por Maomé! Não poderás te casar com esse velho Bahil, feio e perverso! Seria um crime!

— Nada poderás fazer em meu favor, Zenuja! — respondi, desolada. — Meu pai é teimoso e, além do mais, conta desde já com o valioso dote que o cheique prometeu.

Zenuja, depois de meditar um momento, perguntou-me muito séria:

— Dize-me uma coisa, ó Jamile. O xeique já viu alguma vez o teu rosto mimoso?

— Nunca, ó Zenuja! Nunca! Meu pai foi o único homem que até hoje me viu de rosto descoberto.

A velha fitando-me severa insistiu:

— Só teu pai, menina? Só teu pai?

Afligindo-me o remorso e o receio de ocultar a verdade balbuciei envergonhada:

— Meu pai e... aquele jovem mercador que viste há três dias acenar para mim à entrada do cemitério!

— Está bem Jamile! Pelas barbas do Profeta! Se assim é poderei salvar-te do xeique. Exijo apenas uma condição: Ficarei encarregada de preparar-te para a noite de teu casamento. Tranquiliza o teu namorado para que ele não faça alguma loucura e deixa o resto por minha conta. — E, sorrindo, cheia de orgulho, acrescentou:

— Estou certa de que o xeique irá desfazer o compromisso de casamento!

Confiei cegamente na velha amiga e a ela entreguei a minha sorte. Preocupava-me, entretanto, de modo impressionante, o meu próximo casamento. Que artifício iria empregar a astuciosa Zenuja para afugentar de mim o noivo detestável?

Informei, nessa mesma tarde, o meu namorado de tudo que se passava no harém e aguardei serenamente o dia indesejável de minhas núpcias.

Nesse dia a nossa casa encheu-se de parentes e convidados. Do meu quarto ouvi as risadas dos amigos de meu pai que comentavam futilidades e relembravam as pequeninas intrigas da cidade.

Dezenas de amigas vieram admirar as peças mais ricas de meu enxoval, as rendas, as toalhas e os véus. As vizinhas, sempre indiscretas, bisbilhotavam tudo.

A velha Zenuja, duas horas antes da cerimônia, apareceu no seu papel de “encarregada da noiva”. Vestiu-me uma camisa branca com pequeninas flores bordadas e uma graciosa melahfa (2) de cor clara, que se prendia aos ombros por fitinhas cor-de-rosa. Zenuja teve, ainda, ao pentear-me, cuidados especiais, e em meus cabelos que, na véspera, tingira de castanho-escuro, colocou uma meherma (3) de seda vermelha com barras brancas. O meu vestido azul-claro, com fios de ouro nas mangas e nas pontas da cambusa (4) era, na verdade, encantador.

A habilidosa Zenuja modificou, com uma tinta muito forte, a cor das minhas sobrancelhas; transformou os meus lábios em dois rubis únicos e tentadores; e, com um creme muito fino e perfumado, chegou a fazer-me morena como Fátima e muito mais belo do que eu era realmente.

Ao ver-me, tão formosa, ao espelho, exclamei:

— Pela glória do Profeta, ó Zenuja! Este alindamento que a tua arte incomparável me empresta ao rosto vai ser a causa de minha desgraça! O cheique ao ver-me assim ficará apaixonado e jamais quererá deixar-me!

— Cala-te, menina! O teu nome é Jamile e “Jamile” significa beleza! Tens que parecer bela ao teu esposo, pois só assim poderás ficar livre dele.

Essa velha está louca, pensei, horrorizada. Julga afugentar um noivo enchendo de encantos a noiva desejada. Pobre de mim! Para que fui eu confiar nessa criatura sem senso nem critério?

A minha escrava predileta cantava, numa cadência triste:

— Allah é grande! A menina vai casar...

O henné (5) é raro na casa da noiva...

A mãe saudosa deixa-se estar no tamená.

E reza ao Profeta...

— Para com essa cantoria! — gritou Zenuja, irritada.

 E com a ponta escura de um pequenino bastão fez um sinal negro bem no meio de minha face direita. Era o último retoque à maquilagem.

Com o rosto coberto por um espesso véu fui levada à presença do cádi (6) e das testemunhas.

Realizado o casamento e proferidas as preces do ritual, o meu noivo conduziu-me aos aposentos que já estavam reservados.

Notei que o cheique parecia dominado por uma ansiedade infinita, incalculável. E era natural. Qual é o marido que não deseja ver o rosto encantador daquela que vai ser sua esposa?

Ao erguer o véu o cheique ficou trêmulo, tomado de indizível espanto. O meu semblante, que a velha Zenuja tanto aformoseara, parecia causar-lhe uma impressão terrível e dolorosa.

— Por Allah! — vociferou cheio de incontida cólera. — Teu pai garantiu-me que não eras trigueira e que os teus cabelos eram castanhos-claros! É horrível! Vejo que és muito diferente daquela que eu imaginava!

E, arrebatado por um rancor inexplicável, exclamou como louco:

— Oh! Jamile! Nosso casamento é impossível! Eu te repudio três vezes! (7)

Com essa terrível declaração o meu tresloucado marido desfazia, para sempre, o nosso casamento e tornava-me livre, não podendo mais exigir a restituição do dote que já havia pago a meu pai.

A velha Zenuja não pôde receber de mim os agradecimentos do que se fizera merecedora, pois, apareceu morta, no dia seguinte, sob as tamareiras do oásis de Asbor.

Três meses depois, passada a impressão causada pelo escândalo do meu divórcio, casei-me com o jovem mercador que o meu coração elegera para meu esposo.

Um dia meu pai perguntou-me:

— Que ideia foi aquela, minha filha, de fazeres-te, na noite de teu casamento, parecida com Zobeida, a primeira esposa do cheique? Não sabias, então, que ele, preso por um juramento, estava impedido de casar-se com mulher que se parecesse com Zobeida?

Essa pergunta veio esclarecer, para mim, o misterioso episódio do meu divórcio. A velha Zenuja conhecia o segredo do cheique e valeu-se disso para salvar-me.

E ainda hoje, nas preces que faço, rogo ao Altíssimo que tenha em sua eterna paz a bondosa e fiel Zenuja, minha amiga e salvadora.

Uassalã!
____________________________ 
Notas:
1 Harém — Parte da habitação destinada exclusivamente às mulheres.

2 Melahfa, peça do vestuário feminino de uso corrente em Marrocos. É uma espécie de corpinho. 

3 Meherma, véu muito fino que as Jovens adotam para prender o cabelo. 

4 Cambusa, espécie de saiote que fica sob o vestido com a barra aparecendo.

5 Henné — substancia empregada para pintar as pálpebras e as sobrancelhas; tamená, varanda da casa.

6 Cádi — Juiz entre os muçulmanos. Julga, em geral, todas as causas de direito civil, criminal e religioso.

7 Repudiar 3 Vezes – Segundo as instituições muçulmanas, quando um marido repudia a esposa uma ou duas vezes, pode recuperá-la, sem mais formalidades, ao fim de três meses e dez dias; quando, porém, o repúdio é feito pela terceira vez, ou mediante a fórmula: — “Eu te repudio três vezes” — o casamento está definitivamente rompido e o ex-marido não pode contrair novo casamento com a mesma mulher, senão depois de se ter ela casado com outro homem e pelo novo marido ter sido, igualmente, repudiada.

Fonte:
Malba Tahan. Minha Vida Querida.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Vivaldo Terres (Poemas Escolhidos) III


ETERNAMENTE APAIXONADO

Só tu que me fazes esquecer,
Aquele amor de outrora.
Faz tanto tempo, 
Que isso passou.
Desde os tempos de escola.
Ela era linda apesar de adolescente,
Vivia alegre e sorria a toa. 
Com seus olhos belos...
E sua tez bem clara.
Igual a ela, 
Não conheci outra pessoa 

Adolescentes iguais a mim. 
Vivíamos encantados,
Todos nos queríamos. 
Que ela nos desse um sorriso,
Um beijo ou qualquer... 
Outro agrado.

Mas ela sempre,
Não nos dava esperanças.
Mesmo assim apesar de tudo,
Um dia que foi maravilhoso.
Ela não sorriu
Perguntou-me: 
- Queres ser
meu namorado? 
Desde aquele dia... 
Eu me tornei eternamente apaixonado 

SAI SEM PENSAR EM NADA

Sai de casa sem pensar em nada.
Mais o impossível aconteceu!
Ao passar na esquina,
Por acaso encontrei a mulher;
Que me esqueceu.

Sorriu para mim com um sorriso triste...
Daqueles que não escondem a dor;

Extraída de um coração partido.
Demonstrando mágoas.
E cicatrizes...
Causadas por um novo amor.

E ao me reconhecer.
Chamou meu nome;
E em minutos contou sua vida.
De seus olhos azuis lágrimas rolaram;
Demonstrando sinal de arrependida.

E pedindo perdão disse-me assim:
- Depois que te deixei foi que compreendi!
Que sempre te amei.
E daquele dia em diante, só vegetei...
E não mais vivi.

NOITE DE INVERNO 

Era noite de inverno o vento rugia, 
A noite era longa e o frio também. 
Minh’alma coitada de tanto sofrer... 
Chorava e gemia com saudade de alguém. 

Esse alguém que no passado... 
Estava ao meu lado e sorria feliz, 
E dizia me amar, foi embora sem deixar um adeus... 
Desapareceu para nunca mais voltar. 

E o tempo passou rápido e veloz, 
Meus cabelos escarneceram. 
E as rugas em meu rosto mostram isto também. 
Que envelheci por dentro e por fora, 
Mais o que mais me devora... 
È a saudade daquela que eu sempre amei.

PALAVRAS INDEVIDAS

No dia em que ela me disse adeus, 
E foi embora senti...
Meu ser morrer de tanta dor.
Até porque ela esquecera,
Que tinha sido eu o seu primeiro amor.

Quantos beijos trocados em delírios,
Quantas palavras de amor foram sentidas.
Quantas felicidades...
Nesses momentos maravilhosos,
E por uma só palavra foram destruídas.

Hoje sinto que era ela aquela que nasceu,
Com o objetivo para me fazer feliz.
Mas por uma simples atitude...
E uma palavra indevida por mim proferida,
Destruiu meu sonho... 
E toda minha vida.

ALENTO

Procuro nesta vida complicada e dura,
Um certo alento, para ser feliz.
Sempre a procura de um alguém!
Que me ajude a amá-la,
Com seu carinho e afeto,
Tenho certeza que serei menos infeliz.

Sonho com ela um sonho de menino,
Puro divino como o lírio em flor.
O importante para mim e encontrá-la,

Porque assim encontrarei...
O meu primeiro e único amor.

OUÇO ISSO COM TRISTEZA

Porque ainda temas em dizer me, que me amas,
E que o teu amor é o mais puro do mundo!
E que a minha fisionomia está sempre diante de ti,
E por isso não podes esquecer-me nem por um segundo.

Ouço isso com tristeza prima da hipocrisia,
Pois quando estávamos juntos, fingias amar-me!
Usando uma formula que na verdade!
Eu já conhecia.

Acredito teres algum curso de teatro!
Ou quem sabe vês muita novela...
No momento vejo-te como uma atriz,
Representando o papel duma delas.

A INFORMÁTICA

Como é importante a informática,
Uma invenção de real valor,
Na era moderna como seria difícil,
Sem esse gênio o computador.

O homem moderno fica atrapalhado,
Quando esse gênio envelhece e por isso fica ás vezes parado,
Necessitando é claro de uma revisão,
Quando isso acontece,
O nosso gênio precisa de algumas peças de reposição.

Homem moderno fica sem saber o que fazer,
Quando o sistema fica sem funcionar,
Fica varias horas se lamentando, até o mesmo voltar.

Ele fica louco e se estressa,
Quando acontece algum dissabor, ele grita, esbraveja...
Quando encontra algum vírus no computador.

Mas tudo fica bem e maravilhoso
Quando o nosso gênio com saúde está...
Então o homem cheio de alegria,
Aciona o amigo para trabalhar.

Fonte: O Poeta

Contos e Lendas do Mundo (Índia: Modo correto)

Um Monge de grande devoção e instruído, atravessava uma vez um rio em um barco quando ao passar ao lado de uma pequena ilhota, ouviu uma voz de um homem que muito torpemente tentava elevar suas preces. No interior do monge não pode mais que entristecer-se.

- Como era possível que alguém fora capaz de entoar tão mal aqueles mantras? Talvez aquele homem ignorava que os mantras deviam ser recitados com entonação adequada, com ritmo e musicalidade precisas, com pronuncia perfeita.

Decidiu então ser generoso e desviando-se de seu rumo aproximou-se a ilhota para instruir aquele homem sobre a importância da correta execução dos mantras. Não era em vão que se considerava um grande especialista e aqueles mantras não tinham para ele qualquer segredo.

Quando desembarcou na ilhota, pode ver um pobre homem de aspecto sossegado cantando alguns mantras um pouco sem acerto. O monge, com serena paciência, dedicou algumas horas a instruir minuciosamente a aquele indivíduo que a cada momento mostrava efusivas mostras de agradecimento a seu instrutor. Quando entendeu que por fim aquele sujeito poderia recitar os mantras com certa capacidade despediu-se dele, advertindo-lhe:

- E lembre-se meu bom amigo, é tal a potência de estes mantras que sua correta pronuncia permite que um homem seja capaz de caminhar sobre as águas.

Mas apenas havia percorrido alguns metros com seu barco, ouviu a voz daquele homem a recitar os mantras ainda pior que antes.

- Que horror. Há pessoas que são incapazes de aprender nada de nada, assim pensou o monge.

- Ei, monge - escutou atrás de si uma voz muito perto.

Ao voltar-se viu ao pobre homem que, caminhando sobre a as águas, aproximava-se de seu barco e perguntava:

- Nobre monge, já esqueci-me tua instruções sobre o modo correto de recitar os mantras. Serias, tão amável de repeti-lo novamente?

Fonte:

Observação: Este conto, adaptado ao cristianismo, foi escrito por Leon Tolstói, não recordo bem o título, creio ser "Os Três Eremitas" ou "Os Três Monges". O enredo é o mesmo, só que eram três monges que entoavam o Padre Nosso erroneamente (JF)