sábado, 21 de abril de 2012

Paulo Vinheiro (Flóridas)


Avenca, folha mínima, pequenina, sutil
Girassol mancha o jardim de amarelo
Roseira rubra delicada espinha meus olhos
Pêssego macio brota lá no pomar

Que bom saber de coisas certas que acontecem
Daquelas que existem há tantos tempos
Em todas as eras que se repetem iguais
Folhas, flores e frutos que sabem seus lugares

As naturezas de cada uma das coisas se sabem
Aplicam as suas manifestações seus odores
Repetem suas cores e cada sabor em sabores
Ual! Quem lhes ensina e regula nesta rotina?

O bom de ser humano é que não há regras
Ou há, mas nossa rotina é a sua quebra, não?
Para mal certeiro ou para esperança do bem
Como para quem ignora ou para quem sabe

A poesia é sim a arte da interpretação do vão
Daquilo que está entre coisas e despercebido
Não basta escrevê-la se não há o decifrador
Não pode ser sempre ingênua e nem só realista

Entre avencas, folhas, rosas, vermelhos, pomar
Em jardins de amarelos, de eras, de homens
Na natureza das coisas humanas, das cores
No sabor da poesia que não pode ser sempre

Ufa! Disso o que sobra? O que tenho pra levar?

Fonte:
O autor

Fernando Sabino (Negócio de Ocasião)


Quando mandou colocar mármore no chão de seu apartamento, o vizinho de baixo veio reclamar: às oito horas da manhã os operários começavam a quebrar mármore mesmo em cima de sua cabeça. Durma-se com um barulho desses!

- Está bem, está bem- concordou ele, acalmando o vizinho:- Vou mandar começar mais tarde.

Mandou que os operários só começassem a trabalhar a partir das nove horas. Dois dias depois tornava o vizinho:

- Assim não é possível. Já reclamei, o senhor prometeu, e o barulho continua!

- Mas é só por uns dias- argumentou ele:- O senhor vai ter paciência...

E mandou que os trabalhos só se iniciassem a partir de dez horas. Com isso pensava haver contentado o vizinho. Para surpresa sua, todavia, o homem voltou ainda para protestar e desta vez furibundo, armado de revólver:

- Ou o senhor pára com esse barulho ou eu faço um estrago louco.

Olhou espantado para a arma e, cordato, convidou-o a entrar:

- Não precisa se exaltar, que diabo. Vamos resolver a coisa como gente civilizada. Eu disse que era só por uns dias... Se o senhor quiser que eu pare, eu paro. Cuidado com esse negócio, costuma disparar. Qual é o calibre?

- Trinta e dois.

- Prefiro trinta e oito. Mas esse parece ser muito bom... Que marca?

- Smith-Wesson.

- Ah! Então deve ser muito bom. Cabo de madrepérola.. . Quanto o senhor pagou por ele?

- Cinqüenta.

- Não foi caro. Sempre tive vontade de ter um revólver desses. Quem sabe o senhor me venderia?

- Não vim aqui para vender revólver- explodiu o outro - mas para lhe avisar que esse barulho...

- Não haverá mais barulho, esteja tranqüilo. Agora, quanto ao revólver... Quer vender?

- O senhor está brincando...

- Não estou não: pela vida de minha mãezinha. Quer saber de uma coisa? Dou cem por ele. Sempre tive vontade. . . Vamos, aceite! Cem, ali na bucha, pago na hora.

O homem começou a titubear. Olhou o revólver, pensativo: cem era um bom preço. Já pensara mesmo em vendê-lo... Olhou o dono da casa, tornou a olhar o revólver:

- Toma: é seu- decidiu-se.

Antes de entrar na posse da arma, o comprador foi lá dentro buscar o dinheiro e estendeu-o ao vizinho. Depois empunhou o revólver e chegou-lhe aos peitos:

- Bem, agora ponha-se daqui para fora. E fique sabendo que eu faço o barulho que quiser e quando quiser, entendeu? Venha aqui outra vez reclamar e vai ver quem é que acaba fazendo um estrago louco.

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 3. SP: Ed. Ática, 1978.

J. G. de Araujo Jorge (A Geladeira)


Os capitalistas, os donos do mundo
não conhecerão esta pura alegria.

Esperar a geladeira nova
e a geladeira nova chegar.

O caminhão que para, o vulto branco que desce,
o cuidado do homem rude que nunca a possuirá,
uma faísca de sol nos metais de fecho de abrir,
os meninos que param em roda do caminhão, assistindo,
e eu, de camarote, da sacada do apartamento
assistindo.

Os capitalistas não conhecerão esta pura alegria:
esperar a geladeira
a geladeira de sete pés, branca e iluminada
que afinal chegou.

Agora haverá coca-cola, crush, e água gelada pra visita
e pavê de chocolate, e quanta coisa gostosa
que o frio preservará com seu sopro imortal.

O dial da geladeira não faz jorrar música
mas fala inglês: "defrost, fast, freese, box";

Gosto de abrir a geladeira, ela se acende toda quando eu a toco,
fica festiva, bela e alegre, na sua brancura imaculada
e nos seus metais rebrilhando.

Sinto o hálito frio que me envolve o rosto
me apanha as mãos,
e uma emoção primária de conforto me dissolve
quando ela se abre para mim, feliz e sortida
nas suas entranhas burguesas.

Esta pura alegria, esta higiênica alegria
não sentirão os capitalistas,
é privilégio dos que vem de baixo, escalando a vida como alpinistas,
para encontrar a neve e o frio das alturas
na sua geladeira branca e cheia de sol!

Fonte:
JG de Araujo Jorge. A Outra Face. 1949.

22º Concurso de Contos Paulo Leminski – 2011-2012 (Resultado Final)


Parceria entre UNIOESTE/CAMPUS DE TOLEDO e PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE TOLEDO através da SECRETARIA DA EDUCAÇÃO – BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL

1º Lugar:
ELISABETE CARVALHO PEIRUQUE - Porto Alegre/RS
Conto: O Nome do Pai
Pseudônimo: Clara

2º Lugar:
JULIANA LA SALVIA BUENO - Bragança Paulista/SP
Conto: Trem de Ferro
Pseudônimo: Angel Braga

3º Lugar:
GIOVANNA ARTIGIANI – Florianópolis/SC
Conto: Carolina e o Rouxinol
Pseudônimo: Marina Millefiori

Melhor Conto Toledano

AMANDA SEMARIAH DE SOUZA SALVADOR
Conto: O quid pro quo de Analícia
Pseudônimo: Rondon de Sachola

MENÇÃO HONROSA

GUSTAVO FECHUS MONTEIRO – Pouso Alegre/MG
Conto: A história de J. Pinto Fernandes
Pseudônimo: 14 Bis

JOSÉ RIBAMAR EWERTON NETO – São Luís/MA
Conto: Pequeno dicionário de paixões cruzadas
Pseudônimo: Sarávio Barco

JOSÉ HUMBERTO DA SILVA HENRIQUES – Uberaba/MG
Conto: Os três lados do quadrado
Pseudônimo: Querosen

BEN-HUR DEMENECK – Blumenau/SC
Conto: Manual de instruções da chave
Pseudônimo: Áureo Pagítico

OSWALDO PULLEN PARENTE – Brasília/DF
Conto: A Noite das Cabaças
Pseudônimo: Metrominondas Paquetel

OSWALDO DE VASCONCELOS VILELLA – Rio de Janeiro/RJ
Conto: Centenário da grande obra
Pseudônimo: Bentinho

RODRIGO PEREIRA RICARDO – Niterói/RJ
Conto: A bicicleta
Pseudônimo: Luís Vinícius Barreto

PAULO CESAR PASCHOALINI – Piracicaba/SP
Conto: Escultores de sombras
Pseudônimo: Peregrino

MARCIA DE OLIVEIRA GOMES – Rio de Janeiro/RJ
Conto: Os olhos do touro
Pseudônimo: Salustiana

MENÇÃO HONROSA DE TOLEDO/PR

VALDINEI JOSÉ ARBOLEYA
Conto: Retrovisor
Pseudônimo: Mutante B

ALINE KARIN DA SILVA
Conto: Estava embaixo da minha cama
Pseudônimo: SmartGirl

Fonte:
Organizadores

Nelson Jacintho (Palestra e Lançamento do Livro “Postura é Fundamental”)


A ACADIL – Academia Ituana de Letras tem a honra de convidar Vossa Senhoria para uma palestra de palpitante atualidade a ser proferida pelo médico

Dr. Nelson Jacintho,

membro da SOBRAMES, entidade que congrega médicos escritores.
***************

Na mesma oportunidade acontece o lançamento de sua notável obra

Postura é Fundamental.

Data: 27 de abril de 2012 (sexta-feira)

Horário: 20hs

Local: Auditório do SINCOMÉRCIO

Endereço: Rua Maestro José Victorio, 137 - Centro – Itu/SP

Fonte:
ACADIL

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Amapá

Goulart Gomes (501 Poetrix)

Recebi o livro de Goulart Gomes, 501 Poetrix: para ler antes do amanhecer. Em suas 242 páginas, desfilam 84 autores, de Brasil e Portugal selecionados por Goulart, comemorando o décimo aniversário da criação do Poetrix. Abaixo selecionei alguns poetrixtas e 2 poetrix de cada um:

ALVARO POSSELT (PR)

um terço de culpa

com prosa não me meto
quando quero confessar
eu rezo um terceto

download do além

Noite de espanto
Fui baixar um arquivo
bashô-me um santo

ÂNGELA TOGEIRO (MG)

solidão

Pela janela espio
O vazio do escuro da solidão da noite sem lua.
Minha companhia.

das (in)certezas

Tanta desigualdade entre os homens…
Deus nos pôs no mundo
sem manual de instruções.

ANÍSIO LAGE

ventania


aos tristes, o vento geme
aos alegres, assobia
aos marujos, desafia

epitáfio

sou na vida um opróbio
escrevam em minha lápide:
finalmente sóbrio!

BETO QUELHAS

arteiro


o vento brinca escondendo
na cortina dos seus cabelos
os seus olhos em venenos

águas do rio

passam com rapidez
como o amor que partiu
e a dor que se fez

DJALMA FILHO

sol a pino


de barriga vazia,
o meio dia
almoçou um ponteiro.

folia

Dispo-te
e visto-te
com fantasia!

GOULART GOMES (BA)

pessoix


um terço de mim delira
um terço de mim pondera
outro terço: ah! quem dera!

a travessia

cruzo um mar de lágrimas
a terra prometida
um saara

ISIARA CARUSO (RS)

terremoto


dormiu seguro,
despertou tremendo,
morreu no escuro.

queimada

na mata o fogo corre
a floresta extingue
a terra morre.

LUCIANE LOPES

pacíficos


Daqui mesmo espio:
eu, gotejando um mar.
Você, latejando um rio.

que venha o voyeur

faço por gosto,
não por pirraça
poesia na vidraça.

ODETE RONCHI BALTAZAR (SC)

primavera


Arco-íris
caído
no meu jardim.

mosaico

Cacos mil para colar,
peças díspares,
monto a vida sem par.

TÂNIA SOUZA (MS)

veraneios


Entre lírios e nuvens
A pipa passareava.
Eu era verão

vitrine

Confeitos coloridos!
Nos olhos do menino
A fome chora.
-
Fonte:
GOMES, Goulart (organização). 501 Poetrix: para ler antes do amanhecer. Lauro de Freitas, BA: Livro.com, 2011.

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) Auto-Retrato


A fronte larga como larga pista
para as idéias levantarem vôo...
Os olhos verdes: - sinal sempre aberto
para a vida passar, sem obstáculos...

E estas narinas dilatadas, como
se fossem feitas para grandes haustos
saborear o mais simples dos prazeres:
- o de encher os pulmões... e respirar!

Um coração desordenado e boêmio,
e um sentimento de justiça, intenso,
como traço marcante do caráter.

A humildade de ser, para os pequenos,
o orgulho de enfrentar os poderosos
e a alegria de amar sem ter limites!

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Dicionário Aulete (Boneca)


Emília, a boneca de pano da pequena Narizinho, é, provavelmente, a boneca mais conhecida da literatura nacional. Feita por tia Nastácia, ganhou vida, mas era muda até tomar uma pílula falante (feita pelo Dr. Caramujo) e começar a falar sem parar. A primeira frase de Emília foi ‘Estou com um horrível gosto de sapo na boca!’. Emília se tornou uma boneca atrevida, respondona e mandona. Por ser boneca, ao invés de gente, não tem papas na língua, às vezes sendo tirana e malcriada.

Alguns estudiosos dizem que Emília era o alter ego de Monteiro Lobato, que, não podendo expressar algumas opiniões controversas, fazia que as frases saíssem da boca de Emília. Em vários momentos, Monteiro Lobato confessa que Emília ganhou vida, de fato, tornando-se maior do que ele próprio. ‘Quando estou batendo o teclado, ela posta-se ao lado da máquina e quem diz que eu digo o que eu penso?’, disse o autor.

O Visconde de Sabugosa, uma vez, perguntou a Emília que criatura ela era. A resposta: ‘Sou independência ou morte!’

(bo.ne.ca)
sf.
1 Figura tridimensional que representa uma mulher ou criança, us. como brinquedo infantil, objeto de decoração ou para outros fins.
2 Fig. Mulher ou menina bonita ou bem arrumada.
3 Chumaço de algodão envolto em tecido e amarrado, us. para espalhar substância líquida (óleo, verniz, tinta etc.) sobre uma superfície.
4 Bras. Espiga de milho ainda nova, em formação.
5 Art.gr. Projeto gráfico em forma brochura de uma publicação, us. para demonstrar como se apresentará quando impressa; BONECO.
6 Bras. Pej. Homem efeminado.
7 Bras. Gír. Travesti.
8 Cons. Ressalto em parede de alvenaria, no qual se encaixam os marcos de portas e janelas
9 Arm. Espécie de bucha de madeira com que se veda cano de arma de fogo para evitar que nele penetre umidade
10 Cons. Reforço na parte inferior central de viga para aumentar-lhe a resistência à flexão sob peso
11 Peça junto à boleía de coches, carruagens etc., na qual se prenderm rédeas e tirantes dos cavalos
[F.: De or. contrv., posv. pré-romana]

Fonte:
Texto enviado pelo Aulete Digital

Ana Lucia Santana (A Morte na Literatura de Vampiros)


À primeira vista parece surpreendente que a recente onda de vampiros na literatura faça tanto sucesso e conquiste um número cada vez maior de adeptos. Algo que chama a atenção, porém, nesta leitura, é a questão da presença consistente do que se entende por sobrenatural.

O mundo contemporâneo avançou, sem dúvida, no campo das descobertas científicas, do avanço tecnológico, das explicações racionais, da sociedade esclarecida e asséptica; o Homem parece caminhar na direção de um universo semelhante ao previsto pelo escritor Aldous Huxley, em sua obra Admirável Mundo Novo, no qual não há mais lugar para a dor, o sofrimento e a morte, sanados e exilados da vida humana através de pílulas desenvolvidas para esse fim.

Deste cosmos humano foi expulso também o encantamento, mas não sem um alto preço a se pagar por esta exclusão. Todas as eras e civilizações conviveram sem problemas com mitos, lendas, histórias e ‘causos folclóricos’; pode-se dizer que nossa era é uma exceção a esta regra implícita. Isto, sem dúvida, abala o emocional do ser humano, pois um elemento fundamental de sua psique está sendo extirpado gradualmente, com a ajuda do entorpecimento provocado pelo consumismo desenfreado.

Porém, nenhuma conquista tecnológica substitui o encanto mítico, a presença de uma esfera que transcende a realidade e ajuda o Homem a trabalhar suas emoções e, principalmente, suas perdas. Vivemos em uma sociedade que tenta, a todo custo, eliminar até mesmo a presença da morte, inevitável na jornada humana, e passa a acreditar que é indestrutível, eterna e imortal, ignorando inclusive a própria História – testemunha de impérios e civilizações que desmoronaram e jazem sepultadas há milênios, vítimas da passagem implacável do tempo.

Mas o ser humano necessita de uma dose de fantasia na sua existência, como defende, entre outros, o Professor Antonio Cândido. Daí o inegável sucesso das novelas e tramas cinematográficas, assim como da literatura. Por esta razão, talvez não seja tão assombroso o impacto provocado pela saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, e de outra série que consta nas listas dos mais vendidos, A Morada da Noite, de P. C. Cast e Kristin Cast, entre outras obras que têm como protagonistas os ancestrais vampiros.

Embora ela encontre adeptos em todas as faixas etárias e gêneros, é inegável que a maior parte dos leitores é composta por adolescentes. Este público é o que se encontra mais imune à alienação desencadeada pelos mecanismos que regem a era pós-moderna e, portanto, o mais acessível às questões existenciais, tão bem trabalhadas por estas autoras em seus livros.

Temas como a vida humana, o seu valor, a eternidade, a existência em um outro plano, e a morte, vista principalmente como um fator de transformação, não de finitude, são discutidos amplamente nestas obras. É curioso perceber que nem mesmo o vampiro é visto como um ser indestrutível e imortal nesta literatura; apesar de, em famílias adeptas de um vampirismo mais ‘clean’, ou seja, vegetariano, como na série Crepúsculo, eles viverem até mesmo por centenas de anos, esta entidade sobrenatural jamais é descrita como um ser destinado à eternidade.

Se até mesmo um vampiro, como Edward, de Crepúsculo, se preocupa com o destino de sua alma, acreditando que está condenado por ter se transformado nesta criatura, o que há de errado com o ser humano, que, em muitos casos, nem mesmo acredita que em seu interior habita uma essência semelhante a esta? È uma das questões que o adolescente pode, mesmo inconscientemente, despertar em sua mente.

E quanto à morte, tão presente nestes livros, principalmente em A Breve Segunda Vida de Bree Tanner, de Meyer, e nos volumes que compõem a Morada da Noite? Nesta série esta imagem é onipresente, pois nem todos os novatos marcados pela deusa Nyx para serem futuros vampiros, passarão realmente pela transformação. Alguns deles não conseguem atravessar este limiar; mas, curioso, há vários tipos de morte, e nem todos os aspirantes a vamps morrem de verdade, e sim passam a viver em uma espécie de limbo, ou de semivida.

Na saga Morada da Noite os vampiros, ou seja, os que concretizaram a passagem, também não são definidos como seres imortais; alguns podem viver centenas de anos, outros encontram o fim da existência de forma precoce e violenta. Aqui, mais do que nos outros livros, é frisada a importância do livre-arbítrio concedido a cada ser, a escolha que pode determinar a luz ou as sombras, a redenção ou a destruição.

Questões como estas, e tantas outras presentes na literatura de vampiros, preenchem, pelo menos parcialmente, a carência do ser humano, que desconhece, hoje, o significado da vida e da morte, as implicações das decisões adotadas por cada um, os valores morais, a importância dos mitos e do sobrenatural na compreensão da própria trajetória humana.

É preciso, porém, um trabalho mais profundo em torno destes temas, por meio de educadores e outros pensadores, em um esforço interdisciplinar e inter-religioso, no sentido de orientar os leitores destes livros na compreensão do potencial oculto nas suas entrelinhas, com o objetivo de resgatar o encantamento de outras eras e a própria imagem da morte, em sua antiga face de fenômeno natural. Talvez, assim, o Homem consiga eliminar um mal maior, a violência, comum, principalmente, entre esses mesmos adolescentes.

Fonte:
Infoescola

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Alagoas

Fernando Sabino (O Homem Nu)


Ao acordar, disse para a mulher:

- Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

- Explique isso ao homem- ponderou a mulher.

- Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar- amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

- Maria! Abre aí, Maria. Sou eu- chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares. Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço de escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:

- Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo.. . Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

- Ah, isso é que não!- fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror.

- Isso é que não- repetiu, furioso.

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

- Maria! Abre esta porta!- gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

- Bom-dia, minha senhora- disse ele, confuso. - Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

- Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:

- Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:

- É um tarado!

- Olha, que horror!

- Não olha não! Já pra dentro, minha filha!

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

- Deve ser a polícia- disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão.

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 3. SP: Ed. Ática, 1978.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Acre


Carlos Drummond de Andrade (Esparadrapo)

Aquele restaurante de bairro é do tipo simpatia/classe média. Fica em rua sossegada, é pequeno, limpo, cores repousantes, comida razoável, preços idem, não tem música de triturar os ouvidos. O dono senta-se à mesa da gente, para bater um papo leve, sem intimidades.

Meu relógio parou. Pergunto-lhe quantas horas são.

- Estou sem relógio.

- Então vou perguntar ao garçom.

Ele também está sem relógio.

- E o colega dele, que serve aquela mesa?

- Ninguém está com relógio nesta casa.

- Curioso. É moda nova?

- Antes de responder, e se o senhor permite, vou lhe fazer, não propriamente um pedido, mas uma sugestão.

- Pois não.

- Não precisa trazer relógio, quando vier jantar.

- Não entendo.

- Estamos sugerindo aos nossos fregueses que façam este pequeno sacrifício.
- Mas o senhor podia explicar…

- Sem querer meter o nariz no que não é da minha conta, gostaria também que trouxesse pouco dinheiro, ou antes, nenhum.

- Agora é que não estou pegando mesmo nada.

- Coma o que quiser, depois mandamos receber em sua casa.

- Bem, eu moro ali adiante, mas e outros, os que nem se sabe onde moram, ou estão de passagem na cidade?

- Dá-se um jeito.

- Quer dizer que nem relógio nem dinheiro?

- Nem jóias. Estamos pedindo às senhoras que nao venham de jóia. É o mais difícil, mas algumas estão atendendo.

- Hum, agora já sei.

- Pois é. Isso mesmo. O amigo compreende...

- Compreendo perfeitamente. Desculpa ter custado um pouco a entrar na jogada. Sou meio obtuso quando estou com fome.

- Absolutamente. Até que o amigo compreendeu sem que eu precisasse dizer tudo. Muito bem.

- Mas me diga uma coisa. Quando foi isso?

- Quarta-feira passada.

- E como foi, pode-se saber?

- Como podia ser? Como nos outros lugares, no mesmo figurino. Só que em ponto menor.

- Lógico, sua casa é pequena. Mas levaram o quê?

- O que havia na caixa, pouquinha coisa. Eram 9 da noite, dia meio parado.

- Que mais?

- Umas coisinhas, liquidificador, relógio de pulso, meu, dos empregados e dos fregueses.

- An. (Passei a mão no pulso, instintivamente.)

- O pior foi o cofre.

- Abriram o cofre?

- Reviraram tudo, à procura do cofre. Ameaçaram, pintaram e bordaram. Foi muito desagradável.

- E afinal?

- Cansei de explicar a eles que não havia cofre, nunca houve, como é que eu podia inventar cofre naquela hora?

- Ficaram decepcionados, imagino.

- Não senhor. Disseram que tinha de haver cofre. Eram cinco, inclusive a moça de bota e revólver, querendo me convencer que tinha cofre escondido na parede, no teto, embaixo do piso, sei lá.

- E o resultado?

- Este - e baixou a cabeça, onde, no cocuruto, alvejava a estrela de esparadrapo.

- Oh! Sinto muito. Não tinha notado. Felizmente escapou, é o que vale. Dê graças a Deus por estar vivo.

- Já sei. Sabe que mais? Na polícia me perguntaram se eu tinha seguro contra roubo. E eu pensando que meu seguro fosse a polícia. Agora estou me segurando à minha maneira, deixando as coisas lá em casa e convidando os fregueses a fazer o mesmo. E vou comprar um cofre. Cofre pequeno, mas cofre.
- Para que, se não vai guardar dinheiro nele?

- Para mostrar minha boa-fé, se eles voltarem. Abro imediatamente o cofre, e verão que não estou escondendo nada. Que lhe parece?

- Que talvez o senhor precise manter um estoque de esparadrapo em seu restaurante.

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 3. SP: Ed. Ática, 1978.

Paulo Vinheiro (Fantasia)

Tateio nas sombras um raio de luz
Quimera que leva a nova vereda
Tão certo sigo que me levo à perda
Sem sentido uma direção deformo

Quantos gritos dentro de mim ouço?
Quantos caminhos então se abrem?
Aquelas trevas sobre mim se fecham
Tateio nas sombras um raio de luz

Junto muitas partes de coisa nenhuma
Coisas que gritam, pesam, amaldiçoam
Cada uma das portas fechadas foram
Contudo cada uma das chaves as tenho

Por que tão confuso me vejo a mim?
Por que não ouço uma única voz?
Só gritos sem esperanças na escuridão
Preciso me acrescer mais raios de luz

Aprendi concentrar minha atenção
Olhar mais vigilante cada impressão
Escolher antes os meus caminhos
Estudar melhor sem tanto errar

A minha vida ficou menos aventureira
Talvez sem graça ou desarrojada
Hoje bebo mastigando os goles
Alongo os minutos e a vida, sem pressa

Tateio nas sombras um raio de luz

Fonte:
Poesia enviada pelo autor

Rubem Braga (Recenseamento)

São Paulo vai se recensear. O governo quer saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a números e invertidos em estatísticas.

O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões, pelas casas de barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo hotel, perguntando:

- Quantos são aqui?

Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:

- Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.

E outro:

- Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota de seus nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor.

E outro:

- Eu? Tinha um amigo e um cachorro. O amigo se foi, levando minhas gravatas e deixando a conta da lavadeira. O cachorro está aí, chama-se Lord, tem três anos e meio e morde como um funcionário público.

E outro:

- Oh! sede bem-vindo. Aqui somos eu e ela, só nós dois. Mas nós dois somos apenas um. Breve, seremos três. Oh! E outro:

- Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá de meu quarto e de meu peito! E outro:

- Aqui moro eu. Quer saber o meu nome? Procure uma senhorita loura que mora na terceira casa da segunda esquina, à direita. O meu nome está escrito na palma de sua mão. E outro:

- Hoje não é possível, não há dinheiro nenhum. Volte amanhã. Hein? Ah, o sr. é do recenseamento? Uff! Quantos somos? Somos vinte, somos mil. Tenho oito filhos e cinco filhas. Total: quinze pestes. Mas todos os parentes de minha mulher se instalaram aqui. Meu nome? Ahn... João Lourenço, seu criado. Jesus Cristo João Lourenço. A minha idade? Oh! pergunte à minha filha, pergunte. É aquela jovem sirigaita que está dando murros naquele piano. Ontem quis ir não sei onde com um patife que ela chama de "meu pequeno". Não deixei, está claro. Ela disse que eu sou da idade da pedra lascada. Escreva isso, cavalheiro, escreva. Nome: João Lourenço; profissão: idiota; idade: da pedra lascada. Está satisfeito? Não, não faça caretas, cavalheiro. Creia que eu o aprecio muito. O sr. pelo menos não é parente da mulher. Isso é uma grande qualidade, cavalheiro! É a virtude que eu mais admiro! O sr. é divino, cavalheiro, o sr. é meu amigo íntimo desde já, para a vida e para a morte!

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 3. SP: Ed. Ática, 1978.

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) A Vida

Ó pobre vida suicida!
Teu destino é uma ironia
se o que chamamos de vida
é um morrer de cada dia!

Numa amizade perdida,
num amor que se desgraça,
a morte desconta a vida
a cada dia que passa !

Vive a vida bem vivida
e ao mais, esquece e revela,
que a gente leva da vida
a vida que a gente leva...

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Mia Couto (Velho com Jardim nas Traseiras do Tempo)

No Jardim Dona Berta há um banco. O único que resta. Os outros foram arrancados, vertidos em tábua avulsa para finalidades de lenha. Nesse restante banco mora um velho. Cada noite, os dois se encostam mutuamente, assento e homem, madeira e carne. Dizem que 0 velho já tem a pele às listas, formatadas no molde das tábuas, seu externo esqueleto. O idoso recebeu um nome: Vlademiro. Ganhou o nome da avenida que ali passa, rasando-lhe a solidão: a Vladimir Lenine.

Soube hoje que vão retirar o banco para ali instalar um edifício bancário. A noticia me desabou: o jardinzinho era o último mundo do meu amigo, seu derradeiro refúgio. Decidi visitar Vlademiro, em missão de coração.

- Triste? Quem disse?-

Espanto meu: o homem estava eufórico com a noticia. Que um banco, desses das finanças, todo estabelecimentado, era um valor maior. Já lhe haviam dito da sua dimensão, dava bem para ele dormir mais seu bicho de estimação. E mesmo quem sabe ele encontrasse emprego lá? Nem que fosse nos canteiros em volta. Afinal, ele transitava de seu banco de jardim para um jardim de banco.

- Ando de banco para Banco .

Risada triste, descolorida. Não tardaria a escurecer. Quando baixasse a noite, Vlademiro se afundaria em bebida, restos deixados em garrafas. Já bêbado ele atravessaria a noite, a modos de caranguejo. Do outro lado da avenida estão as putas. As prostiputas, como ele chama. Conhece-as a todas pelos nomes. Quando não tem clientes elas se adentram pelo jardim e sentam junto dele. Vlademiro lhes conta suas aldrabices e elas tomam a baboseira dele por cantos de embalar. Às vezes, escuta as noturnas menininhas gritar. Alguém lhes bate. O velho, impotente, se afunda entre os braços, interdito aos pedidos de socorro enquanto pede contas a Deus.

- Deus está bom de mais, já não castiga ninguém- .

Vlademiro foi ganhando familiaridades com o todo-potente. Me admira esse tu-cá-tu-lá com o divino. Vlademiro já foi um beato, todo e totalmente. Mas o velho tem explicação: à medida que envelhecemos vamos entrando em intimidades com o sagrado. É que vamos abatendo no medo. Quanto mais sabemos menos cremos? Ele não sabe, nem crê. Às vezes até se pergunta:

- Deus ficou ateu?

Será que o velho vive isento de medos? Assim, sozinho, sem morada própria. Ele me contesta, neste ponto:

- Morada própria? Alguém tem morada mais própria?-

Às vezes, doente, sente a morte rondar o jardim. Mas Vlademiro sabe de truques, troca as voltas àquela que o vem levar. Mesmo batendo o dente, febrilhante, ele canta, voz trémula, faz conta que é mulher. As mulheres, diz, demoram mais para morrer.

- A morte gosta muito de ouvir cantar. Se distrai de mim e dança.

E assim em jogo de desagarra-esconde. Até que, um dia, a morte se adiante e cante primeiro. Mas ela terá que insistir para o de aninhar. Vlademiro está bem acolchoado no banco. E clama que ainda não tem idade. Velhos são aqueles que não visitam as suas próprias variadas idades.

No enquanto, Vlademiro vai dormindo leve e pouco. Despertador dele é um sapo. Dorme com o batráquio amarrado pela perna. E adianta, sério: o bicho é amarrado apenas para impedimento de voar.

- Sapo não voa porque deixou entrar água no coração- .

Agora, tudo vai terminar. Vão demolir o jardinzinho, a cidade vai ficar mais urbana, menos humana. Esse é o motivo da minha visita ao velho. Regresso ao que ali me levou:

- Diga-me, sobre isto do banco: você está mesmo contente?-

Vlademiro demora. Está procurando a melhor das verdades. O riso desvanece no rosto.

- Tem razão. Esta minha alegria é mentira.

- Porquê, então, você faz de conta?

- Nunca eu lhe falei de minha falecida?-

Acenei que não. O velho me conta a história de sua mulher que morreu, em lentidão de sofrimento. Doença pastosa, carcomedora. Ele todo o dia se empalhaçava frente a ela, fazia graças para espantar desgraças. A mulher ria, quem sabe com pena da bondade do homem. De noite, quando ela dormia é que ele chorava, desamparado, doido-doído.

- É como agora: só choro quando o jardim já dormiu ...

Meu braço fala sobre o seu ombro. É adeus. Regresso de mim para um abandono maior. Atrás, fica Vlademiro, a avenida e um jardim onde resta um banco. O último banco de jardim.

Fonte:
Mia Couto. Contos do Nascer da Terra. Vol.1. Porto: CPAC, 1998.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Artur de Azevedo (Livro de Sonetos)


ETERNA DOR

Já te esqueceram todos neste mundo...
Só eu, meu doce amor, só eu me lembro,
Daquela escura noite de setembro
Em que da cova te deixei no fundo.

Desde esse dia um látego iracundo
Açoitando-me está, membro por membro.
Por isso que de ti não me deslembro,
Nem com outra te meço ou te confundo.

Quando, entre os brancos mausoléus, perdido,
Vou chorar minha acerba desventura,
Eu tenho a sensação de haver morrido!

E até, meu doce amor, se me afigura,
Ao beijar o teu túmulo esquecido,
Que beijo a minha própria sepultura!

ARRUFOS

Não há no mundo quem amantes visse
Que se quisessem como nos queremos;
Mas hoje uma questiúncula tivemos
Por um caprichosinho, uma tolice.

- Acabemos com isto! ela me disse,
E eu respondi-lhe assim: - Pois acabemos!
- E fiz o que se faz em tais extremos:
Peguei no meu chapéu com fanfarrice,

E, dando um gesto de desdém profundo,
Saí cantarolando. Está bem visto
Que a forma ali contradizia o fundo.

Ela escreveu. Voltei. Nem Jesus Cristo,
Nem minha Mãe, voltando agora ao mundo,
Foram capazes de acabar com isto!

DESENGANO

A pensionista pálida que gosta
(Fundada pretensão!) que a digam bela,
E do colégio, à tarde, na janela,
Para dar-me um sorriso se recosta;

Que me escreve nas férias, de Bemposta,
Aonde vai visitar a parentela,
Pedindo-me que não me esqueça dela
E dando-me uns beijinhos..., pela posta;

Essa ninfa gentil dos olhos pretos,
Essa beleza de anjo... oh, sorte varia;
Vergonha eterna para os meus bisnetos!

Com um pançudo burguês, uma alimária
Que não a sabe amar, nem faz sonetos,
Vai casar-se amanhã na Candelária.

MISERÁVEL

A Carvalho Junior.

O noivo, como noivo, é repugnante:
Materialão, estúpido, chorudo,
Arrotando, a propósito de tudo,
O ser comendador e negociante.

Tem a viuvinha, a noiva interessante,
Todo o arsenal de um poeta guedelhudo:
Alabastro, marfim, coral, veludo,
Azeviche, safira e tutti quanti.

Da misteriosa alcova a porta geme,
O noivo dorme n'um lençol envolto...
Entra a viuvinha, a noiva... Oh, céu, contem-me!

Ela deita-se... espera... Qual! Revolto,
O leito estala... Ela suspira... freme...,
E o miserável dorme a sono solto!...

MUSA INFELIZ

Todo o cuidado nestas rimas ponho;
Musa, peço-te, pois, que me remetas
Versos que tenham rútilas facetas,
E não revelem trovador bisonho.

Meia noite bateu. Sai risonho...
Brilhava - oh, musa, não me comprometas! -
O mais belo de todos os planetas
N'um céu que parecia um céu de sonho.

O mais belo de todos os prazeres
Gozei, à doce luz dos olhos pretos
Da mais bela de todas as mulheres!

Pobres quartetos! míseros tercetos!...
Musa, musa infeliz, dar-me não queres.
O mais belo de todos os sonetos!...

POR DECORO

Quando me esperas, palpitando amores,
E os grossos lábios úmidos me estendes,
E do teu corpo cálido desprendes
Desconhecido olor de estranhas flores;

Quando, toda suspiros e fervores,
Nesta prisão de músculos te prendes,
E aos meus beijos de sátiro te rendes,
Furtando as rosas as púrpureas cores;

Os olhos teus, inexpressivamente,
Entrefechados, lânguidos, tranquilos,
Olham, meu doce amor, de tal maneira,

Que, se olhassem assim, publicamente,
Deveria, perdoa-me, cobri-los
Uma discreta folha de parreira.

SONETO

De Martins Pena foi bem triste a sorte:
Moço, bem moço, quando o seu talento
Desabrochava n'um deslumbramento,
Caiu, ferido pela mão da morte!

Era, entretanto, um lutador, um forte,
E, como não merece o esquecimento,
Que a nossa festa, ao menos um momento,
O seu risonho espírito conforte.

Quem o amou e o leu em vão procura
O seu nome na placa de uma esquina
Ou sobre a pedra de uma sepultura!

Porém, voltando à brasileira cena,
Há de brilhar a estrela peregrina
Que se chamou Luiz Carlos Martins Pena!

SORTE

Depois que se casara aquela criatura,
Que a negra traição das pérfidas requinta,
Eu nunca mais a vi, pois, de ouropéis faminta,
De um bem fingido amor quebrara a ardente jura.

Alta noite, porém, vi-a pela ventura,
Numa avenida estreita e lobrega da quinta...
Painel é que se cuida e sem color se pinta,
De alvo femíneo vulto ou madrugada escura.

Maldito quem sentindo o pungitivo açoite
Do desprezo e na sombra a sombra de um afeto
A pular uma grade, um muro não se afoite.

- Prometes ser discreto? - Ó meu amor! prometo...
Se não fosses tão curta, ó bem ditosa noite!
Se fosses mais comprido, ó pálido soneto!

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/biografia.php?a=34

Carlos Drummond de Andrade (Assalto)


Na feira, a gorda senhora protestou a altos brados contra o preço do chuchu:

- Isto é um assalto!

Houve um rebuliço. Os que estavam perto fugiram. Alguém, correndo, foi chamar o guarda. Um minuto depois, a rua inteira, atravancada, mas provida de admirável serviço de comunicação espontânea, sabia que se estava perpetrando um assalto ao banco. Mas que banco? Havia banco naquela rua? Evidente que sim, pois do contrário como poderia ser assaltado?

- Um assalto! Um assalto!- a senhora continuava a exclamar, e quem não tinha escutado escutou, multiplicando a notícia. Aquela voz subindo do mar de barracas e legumes era como a própria sirena policial, documentando, por seu uivo, a ocorrência grave, que fatalmente se estaria consumando ali, na claridade do dia, sem que ninguém pudesse evitá-la.

Moleques de carrinho corriam em todas as direções, atropelando-se uns aos outros. Queriam salvar as mercadorias que transportavam. Não era o instinto de propriedade que os impelia. Sentiam-se responsáveis pelo transporte. E no atropelo da fuga, pacotes rasgavam-se, melancias rolavam, tomates esborrachavam-se no asfalto. Se a fruta cai no chão, já não é de ninguém; é de qualquer um, inclusive do transportador. Em ocasiões de assalto, quem é que vai reclamar uma penca de bananas meio amassadas?

- Olha o assalto! Tem um assalto ali adiante!

O ônibus na rua transversal parou para assuntar. Passageiros ergueram-se, puseram o nariz para fora. Não se via nada. O motorista desceu, desceu o trocador, um passageiro advertiu:

- No que você vai a fim de ver o assalto, eles assaltam sua caixa.

Ele nem escutou. Então os passageiros também acharam de bom alvitre abandonar o veículo, na ânsia de saber, que vem movendo o homem, desde a idade da pedra até a idade do módulo lunar.

Outros ônibus pararam, a rua entupiu.

- Melhor. Todas as ruas estão bloqueadas. Assim eles não podem dar no pé.

- É uma mulher que chefia o bando!

- Já sei. A tal dondoca loura.

- A loura assalta em São Paulo. Aqui é a morena.

- Uma gorda. Está de metralhadora. Eu vi.

- Minha Nossa Senhora, o mundo está virado!

- Vai ver que está caçando é marido.

Não brinca numa hora dessas. Olha aí sangue escorrendo!

- Sangue nada, tomate.

Na confusão, circularam notícias diversas. O assalto fora a uma joalheria, as vitrinas tinham sido esmigalhadas a bala. E havia jóias pelo chão, braceletes, relógios. O que os bandidos não levaram, na pressa, era agora objeto de saque popular. Morreram no mínimo duas pessoas, e três estavam gravemente feridas.

Barracas derrubadas assinalavam o ímpeto da convulsão coletiva. Era preciso abrir caminho a todo custo. No rumo do assalto, para ver, e no rumo contrário, para escapar. Os grupos divergentes chocavam-se, e às vezes trocavam de direção: quem fugia dava marcha à ré, quem queria espiar era arrastado pela massa oposta. Os edifícios de apartamentos tinham fechado suas portas, logo que o primeiro foi invadido por pessoas que pretendiam, ao mesmo tempo, salvar o pêlo e contemplar lá de cima. Janelas e balcões apinhados de moradores, que gritavam:

- Pega! Pega! Correu pra lá!

- Olha ela ali!

- Eles entraram na kombi ali adiante!

- É um mascarado! Não, são dois mascarados!

Ouviu-se nitidamente o pipocar de uma metralhadora, a pequena distância. Foi um deitar-no-chão geral, e como não havia espaço, uns caíam por cima de outros. Cessou o ruído. Voltou. Que assalto era esse, dilatado no tempo, repetido, confuso?

- Olha o diabo daquele escurinho tocando matraca! E a gente com dor-de-barriga, pensando que era metralhadora!

Caíram em cima do garoto, que soverteu na multidão. A senhora gorda apareceu, muito vermelha, protestando sempre:

- É um assalto! Chuchu por aquele preço é um verdadeiro assalto!

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 3. SP: Ed. Ática, 1978.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 542)


Uma Trova de Ademar

Numa decisão exata
farei hoje a cirurgia...
Vou tirar a catarata
para enxergar mais Poesia!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Com a visão embaciada
e o caminhar pouco ereto,
vejo o esplendor da alvorada
pelos olhos do meu neto.
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova Potiguar


Ao rever a sua imagem
n’alma abri minhas cortinas
e retoquei a tatuagem
feita nas minhas retinas!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada


1985 - Porto Alegre/RS
Tema - CORAGEM - 2º Lugar


Teus olhos trazem mensagem
de luz, amor e carinho...
São dois fachos de coragem
brilhando no meu caminho.
–DORALICE G. DA ROSA /RS–

...E Suas Trovas Ficaram


É pelos olhos das fontes
que a floresta, ameaçada,
chora ao ver nos horizontes
as chamas de uma queimada...
–ORLANDO BRITO/MA–

U m a P o e s i a


Seus olhos da cor de mel
para mim, não são estranhos,
alguém pintou, lá no céu
seus lindos olhos castanhos,
que numa imagem tão pura
mostra um olhar de ternura
e quando olhas para os meus;
eu me perco nos abrolhos,
pois nunca vi outros olhos
mais bonitos que os seus!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Revelação.
–JOSÉ ANTONIO JACOB/MG–


Nada sabeis de mim e sabeis nada
Porque venho regresso de outra lida.
Nada me perguntastes na chegada
E nada vos direi na despedida.

Se eu cheguei de uma alegre caminhada
- Ou se deixei tristeza na partida -
Pode ser que ao final dessa jornada
Nada ainda sabereis da minha vida.

Não entendeis do céu que nos assiste?
Trago nos olhos grandes o olhar triste,
Tais quais olhos da noite arregalados.

Espiai essas estrelas tão banais:
Tantos mundos distantes revelados,
Mas que aos olhos dos homens são iguais!

Eça de Queirós (O Mandarim)


Em 1880, apenas dois anos depois de O Primo Basílio, Eça de Queirós publica O Mandarim, uma novela fantástica, em cujo enredo tem participação decisiva uma figura declaradamente romântica: o Diabo.

Acusado de afastar-se da estética realista em favor da pura fantasia, Eça de Queirós e seu texto foram alvos das mais severas críticas, e até mesmo aqueles que conseguiram perceber na obra uma crítica sócio-política, esbarraram nos demais “problemas” que o texto apresentava.

O Mandarim é um texto à parte no conjunto da obra queirosiana devido ao seu caráter fantasista e cômico, e que, exatamente em decorrência dessa característica, é considerado um texto “menor”, inferior, quando comparado às demais obras do escritor português.

Numa carta ao editor da Revue Universelle, que serviu de prefácio à publicação francesa da novela, Eça se mostrava bem consciente da singularidade do livro face à tendência estética dominante: “tendes aqui, meu Senhor, uma obra bem modesta e que se afasta consideravelmente da corrente moderna da nossa literatura, que se tornou, nestes últimos anos, analista e experimental”. Isso porque O Mandarim era “um conto fantasista e fantástico, onde se vê ainda, como nos bons velhos tempos, aparecer o diabo, embora vestindo sobrecasaca, e onde há ainda fantasmas, embora com ótimas intenções psicológicas”. A percepção do escritor é claríssima: apesar da atualização do ambiente da trama, o enredo fabuloso, o gosto pronunciado do exotismo, a ausência de interesse nos vários condicionalismos que determinam a ação dos indivíduos e a intervenção do sobrenatural configuram um narrativo de molde romântico, ou neo-romântico.

Nessa mesma carta, prosseguia Eça de Queirós com uma frase que vale a pena transcrever: “entretanto, justamente porque esta obra pertence ao sonho e não à realidade, porque ela é inventada e não fruto da observação, ela caracteriza fielmente, ao que me parece, a tendência mais natural, mais espontânea do espírito português.” Pode ser que a frase se aplique também ao espírito português, mas o que realmente importa é observar que se aplica perfeitamente ao espírito do próprio Eça, que, a partir de O Mandarim, abandona progressivamente os caminhos do Naturalismo e retoma algumas características que já se encontravam nos seus primeiros textos: o gosto pelo exotismo das paisagens e civilizações e o pendor alegórico e moralizante. São essas características, centrais no texto de O Mandarim, que no final da vida de Eça de Queirós irão dar origem às impressionantes vidas de santos e histórias de mistério.

Do ponto de vista da evolução literária de Eça de Queirós, O Mandarim representa, portanto, um momento de virada: aquele em que o escritor abandona a “preocupação naturalista”, que, segundo o próprio Eça, embora tivesse servido para lhe disciplinar o espírito, também “o condenara a reprimir, muitas vezes sem vantagem, os seus ímpetos de verdadeiro romântico que no fundo era”.

O Mandarim é antes um conto que uma novela, pois sua trama se concentra à volta de uma só personagem e a ação se reduz a um único acontecimento central, que implica todos os desenvolvimentos posteriores. O registro genérico é o da farsa moralizante, e o ponto de partida é um problema moral que era conhecido, no século passado, como o “paradoxo do mandarim”. Formulado em 1802 por Chateaubriand, consistia numa pergunta: se você pudesse, com um simples desejo, matar um homem na China e herdar sua fortuna na Europa, com a convicção sobrenatural que nunca ninguém descobriria, você formularia esse desejo? Vários autores glosaram esse tema ao longo do século passado, e o texto de Eça é talvez o seu último e mais literal desenvolvimento.

Do ponto de vista da crítica moral, lendo O Mandarim percebe-se que há duas linhas independentes de desenvolvimento. A primeira é a mais simples. Mostrando-nos que todos o tratam de acordo com o dinheiro que possui, Teodoro nos vai apontar a hipocrisia que domina as relações pessoais e sociais. A segunda é a mais complexa, porque envolve a auto-representação do narrador. A idéia geral é a de que o crime não compensa, independentemente de qualquer outra consideração. Como ilustração desse princípio é que Teodoro narra aos seus leitores o seu caso exemplar: ao longo do tempo, após o crime que lhe propicia a riqueza, foi-se tornando infeliz, a tal ponto que o retorno à vida rotineira e medíocre de hóspede pobre da pensão de d. Augusta chega a parecer-lhe uma forma de conseguir alguma paz de espírito.

A novidade do texto de Eça é a viagem à China. No seu texto, a China não é apenas o lugar abstrato, incógnito e remoto, onde vive um homem desconhecido cuja vida é destruída por um ocidental. Pelo contrário, ganha concretude e responde por cerca de metade do número de páginas da história. Da mesma forma que o Médio-Oriente em A Relíquia, a China é praticamente tudo em O Mandarim. Mas a diferença é que, enquanto em A Relíquia, Eça descreve um ambiente e civilização que observara pessoalmente, em O Mandarim nos apresenta um lugar construído a partir de relatos de terceiros, de leituras e, principalmente, pela livre imaginação. Daí, justamente, o interesse da viagem de Teodoro, que nos conduz a uma China colorida, bastante bizarra, em que encontramos uma espécie de súmula da visão européia do que fosse o Extremo-Oriente.

A parte mais atraente de O Mandarim é a viagem chinesa. O resto do conto tem um sabor conhecido e um registro genérico em que o desfecho é bastante previsível. Assim, é mesmo a fantástica viagem ao Império do Meio o que constitui o núcleo do texto e o mantém vivo e interessante. É também a viagem que singulariza esse texto na literatura portuguesa do final do século, fazendo dele um delicioso capítulo na história do exotismo orientalista que percorreu toda a cultura européia da segunda metade do século passado.

Teodoro, o protagonista, é a personagem que mais propicia a crítica da sociedade portuguesa tão limitada, que facilmente se deixa levar pelas aparências.

Eça faz também, uma crítica aguçada ao egoísmo potencialmente criminoso (personificado por Teodoro) que mata o Mandarim para poder alcançar a vida luxuosa com que sempre sonhara.

Critica também a tibieza, a bulia e a inconsistência na tomada de decisões.

Teodoro, como funcionário público, é também criticado. Representa os cargos mais baixos, que vivem mediocremente sonhando com mais dinheiro, com baixos valores morais, capaz de matar o próximo para proveito seu.

A descrição, seja das características físicas dos personagens e do cenário por onde passa a história servem para analisar a psicologia dos atores da ficção. Eça entende que a maneira de ser e de pensar influi no mundo que a cerca, seja nos atos, nas coisas e nas próprias características físicas, como por exemplo, a corcova de Teodoro, na sua condição de subalterno sem status.

Foco narrativo

O Mandarim é a primeira obra relativamente extensa do autor, escrita em primeira pessoa.

Essa observação pode reforçar o argumento de que o conto representa um momento de rejeição do modelo naturalista, que propunha a narrativa em terceira pessoa, mais adequada à análise objetiva.

Personagens

É magnífica a magistral caracterização das personagens feita nesta obra. O autor manobra, de tal modo, as suas personagens que, chegamos a pensar que elas não passam de meros fantoches manobrados a capricho do seu criador.

Como em toda a obra queirosiana, a caracterização das personagens enquadra-se na filosofia de vida da sociedade portuguesa, deixando transparecer através da linguagem utilizada na descrição de ambientes, em pequenos pormenores habilmente selecionados e passando pela ação, a intenção de caricaturar numa personagem toda uma classe social.

Teodoro: Protagonista do romance, bacharel amanuense do reino, ganhava 20.000 réis por mês e vivia numa casa de hóspedes, na Travessa da Conceição, nº 106, em Lisboa. Levava uma vida pacata e monótona. Era magro e corcovado - hábito seu, pelo muito que se vergara perante os lentes da Universidade e os diretores da repartição. A sua ambição reduzia-se a desejos fúteis de bons jantares, em restaurantes caros, de conhecer viscondessas belas etc. Considera-se um "positivo". É um descrente, mas é supersticioso, pois reza todos os dias à Nossa Senhora das Dores. Enfim, é um representante típico do burguês nacional, medíocre e frustrado de baixos valores morais.

D. Augusta: É uma personagem secundária na obra. Dona da casa de hóspedes na Travessa da Conceição, em Lisboa, onde vivia Teodoro. Era viúva do Major Marques. Em dias de missa costumava limpar com clara de ovo a caspa do tenente Couceiro.

Ti Chin-Fu: o mandarim assassinado por Teodoro. Embora não faça nenhuma ação no conto, nenhuma fala, é de importância fundamental na obra. Representa a vítima perfeita: é distante do seu algoz (ele não conhece Teodoro, bem como vive em uma cultura antípoda à do bacharel) é enormemente rico e sua morte é extremamente vantajosa para o assassino. Malgrado tudo isso, a sua inocência perante o mal gratuito que sofreu, para o qual não contribuiu em nada, trouxe angústia e desencanto a Teodoro, deixou a vida do ex-bacharel em ruínas.

O Diabo: o Diabo veste aqui roupas da época descrita, querendo mostrar que o mal, na verdade, está bastante próximo do homem, até se confunde com ele mesmo. O Diabo é feito à imagem e semelhança do homem. O homem e o Diabo identificam-se, até mesmo para que as suas incitações tenham maior força. A obra mostra que o poder do Diabo só funciona em combinação com o lado negro do homem.

Vladimira (generala): mulher do general Camilloff, e amante de Teodoro por um breve período. Alta, magra, delicada, é uma representação de um tema caro ao realismo: o adultério, como forma de revelar ao leitor a hipocrisia e a traição humana.

General Camilloff: é representante do Império na China. Durante a ida de Teodoro à China, tornaram-se amigos. A sua lealdade para Teodoro era sincera, e até mesmo Teodoro via nele um homem de bem, embora não pudesse evitar traí-lo com um triângulo amoroso com a esposa do General, Vladimira. Representa aqui mais um falhanço moral de Teodoro ao ir para a China.

Sá-Tó: intérprete de Teodoro durante a viagem na China.

Enredo

O narrador desta novela é Teodoro, bacharel e amanuense do Ministério do Reino. Mora em Lisboa, vive modestamente na pensão de D. Augusta, na Travessa da Conceição, mas não sofria privações (“A minha existência era equilibrada e suave... Ainda assim, eu não me considerava um ‘paria’. A vida humilde tem suas doçuras”). Porém, considerava sua vida “rotineira e triste”, pois seus sonhos de luxo estavam longe do seu bolso. Levando uma vida monótona e medíocre de um pobre funcionário público, suspira por uma ventura amorosa, por um bom jantar, num bom hotel.

Certa noite, em seu quarto, lendo, em um livro antigo, um capítulo intitulado "Brecha das Almas", o personagem-narrador se depara com estas linhas:

No fundo da China existe um Mandarim mais rico de que todos os reis de que a Fábula ou a História contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste.
Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição dum avaro.
Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?”

Surpreso e perturbado diante daquela interrogação e daquele “sombrio infólio que parecia exalar magia”, a personagem começa a ter alucinações: as letras e sinais gráficos se transformam em “rabos de diabinhos” e “ganchos com que o Tentador vai fisgando as almas”. Durante o delírio, tem duas visões: na primeira, um “Mandarim decrépito” deixa a vida a um simples tilintar de campainha; na outra, ele, Teodoro, vê “uma montanha de ouro” a seus pés.

Nesse momento, o amanuense avista a campainha fatal diante de si, pousada sobre um dicionário francês, e ouve uma voz dizendo-lhe para tocá-la. Ao voltar-se para a voz, vê, sentado, um indivíduo vestido de negro. A primeira idéia, é a de que teria, diante de si, o diabo; porém, as vestes e feições de homem comum que tal personagem apresenta fazem com que esta impressão desapareça.

As duas personagens travam, então, um diálogo, e o estranho indivíduo expõe a Teodoro os motivos pelos quais este deveria tocar a campainha. Seduzido pelas palavras do inusitado visitante, que lhe acena com as possibilidades de uma vida de privilégios, o amanuense acaba por tocá-la. Concretizado o ato, a estranha personagem informa ao seu interlocutor que o Mandarim havia expirado, e, levando-se da poltrona, retira-se.

Logo em seguida, Teodoro ouve bater uma porta e, num sobressalto, sente-se como emergido de um pesadelo. Caminha até o corredor, ouve uma voz e vê a cancela da escada se fechar. Pergunta, então, à D. Augusta quem havia saído, ao que ela responde ter sido um de seus hóspedes.

Voltando ao seu quarto, Teodoro nota que tudo está tranqüilo, como se nada tivesse acontecido. Retoma o seu livro, que agora lê sem sobressaltos, como um livro qualquer, e acaba por adormecer.

Decorrido um mês após o estranho episódio, o amanuense pensa que tudo não passara de um sonho, e, aos poucos, vai esquecendo o ocorrido, até que, numa determinada manhã, recebe a notícia de que herdara os milhões do Mandarim Ti-Chin-Fú. Assim, começa a vida de milionário de Teodoro, que passa a ter tudo que sempre almejou: dinheiro, posição social, prestígio, mulheres...

Desfrutando de todos os prazeres que o dinheiro pode oferecer, o amanuense deixa seu antigo emprego na repartição, seu quarto na pensão de D. Augusta, e vai morar num luxuoso palacete, sendo admirado e respeitado pela sociedade lisboeta, que se roja a seus pés.

Porém, pouco tempo depois, começa a perceber o quão vil é o ser humano, pois compreende que toda a consideração e respeito que a sociedade lhe devota provém, única e exclusivamente, do interesse pelo dinheiro que possui. Sua indignação aumenta, e seu desprezo por essa sociedade hipócrita e bajuladora fica patente. Da plebe à burguesia, do Estado à Igreja, tudo enoja Teodoro.

Apesar de milionário, o ex-amanuense não é feliz, pois passa a ter, constantemente, visões do fantasma do Mandarim assassinado: é a sua consciência, que começa a lhe cobrar pelo ato indigno. Então, para acalmá-la e aplacar a fúria de Ti-Chin-Fú, decide partir para uma viagem à China. Sua intenção: descobrir a família do Mandarim e casar-se com uma mulher dessa família para, desse modo, “legitimar” a sua herança.

Na China, nos são apresentadas as aventuras e peripécias de Teodoro, sempre em tom cômico, irônico ou mordaz. Nesta parte, que ocupa quatro dos oito capítulos de que a obra se compõe, Eça de Queirós segue lançando a sua crítica ferina sobre problemas como a corrupção existente na esfera política de um país, o contraste entre a atual decadência de Portugal e o seu passado de glórias, o oportunismo do homem que busca tirar proveito próprio de todo tipo de situação, e toda uma sorte de mazelas humanas como a ganância, a cobiça e o adultério.

Entretanto, o protagonista não consegue o seu intento nessa sua viagem, e, então, retorna a Lisboa.

Incessantemente perseguido pela figura do fantasma do Mandarim, Teodoro resolve “livrar-se” de sua fortuna. Assim, volta a viver no seu antigo quarto, na pensão de D. Augusta, aparentando pobreza, e retoma o seu ofício de amanuense. Porém, nem dessa forma consegue afastar de si a imagem de Ti-Chin-Fú, pois, na realidade, ainda possuía os milhões do velho Mandarim em sua conta bancária. Entretanto, vendo-o pobre, toda a sociedade lisboeta, que o bajulara, volta-se contra ele, aviltando-o e insultando-o. Dessa forma, irritado, decide voltar a viver em seu palacete, como um milionário, e, novamente, Lisboa se roja a seus pés.

Atormentado e desiludido, o ex-amanuense encontra, certa noite, na rua, “o senhor diabo”: aquele mesmo ser que lhe fizera a proposta no quarto da pensão de D. Augusta. Desesperado, pede a ele que ressuscite o Mandarim e lhe devolva os milhões, e que restitua a paz de sua consciência. A tal pedido, a única resposta que obtém é que isso é impossível.

E assim continua vivendo Teodoro, até os fins dos seus dias. Quando se sente perto de morrer, faz um testamento no qual doa toda sua herança ao Diabo (pertence-lhe, ele que as reclame e que as reparta...”).

Encerrando a sua narrativa, Teodoro nos deixa, arrependido e amargurado, o seguinte ensinamento moral:

E a vós, homens, lego-vos apenas, sem comentários, estas palavras: “Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!”

E todavia, ao expirar, consola-me prodigiosamente esta idéia: que do Norte ao Sul e do Oeste a Leste, desde a Grande Muralha da Tartária até as ondas do Mar Amarelo, em todo o vasto Império da China, nenhum Mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu, o pudesses suprimir e herdar-lhe os milhões, ó leitor, criatura improvisada por Deus, obra má de má argila, meu semelhante e meu irmão!

Fonte:
Passeiweb

Paulo Vinheiro (Certamente)


Certamente te esperava, como uma folha no rio
Como quem abraçava o vento e beijava a brisa
Imóvel como podia, te esperava

Acendia em meus olhos a calma de quem ama
Lia nas nuvens a mensagem só tua
De mãos dadas eu e tu esperávamos as estrelas...
Agora já estás aqui como se sempre estivesses

As asas de menos cores se aproximam
Mostram os rasgos do céu na noite...
Dourando os meus olhos de novo

A calma do rio
O frio da noite
O calor de tua mão
As coisas não se cabem

Dias curtos
Noites curtas
Uma palma na palma
Umas asas na alma

Assim, como que com música
A gente se vê a dançar
Vejo e fluo... assim... assim

Sem vento e sem brisa
Sem folha, sem rio
Meus olhos nas nuvens tuas
Estrelas nas mãos e asas douradas
Qual mais?

Descubro que o tempo não existe
O espaço é só um lugar impreciso
E nós tão pequeninos
Um nos fizemos

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Autran Dourado (O Pintassilgo)


Era uma vez um pintassilgo amantíssimo, capaz de dar a vida pelos seus filhotes. Um dia, trazendo no bico uma minhoca para eles, não os encontrou. Caindo no maior desespero, saiu a procurá-los pela floresta; os ninhos que ele encontrava estavam vazios. Vendo-o tão desesperado, disse um pardal que não adiantava procurá-los, pois os vira numa gaiola na janela da casa do proprietário da floresta.

Cheio de esperança, o pintassilgo voou para lá. Viu logo, numa gaiola dourada, os seus filhotes presos. Começou a bater o peito, o bico e a cabeça na grade da gaiola. Inutilmente, porque o arame da gaiola era muito grosso. Voltou para a floresta.

No dia seguinte estava de volta, trazendo no bico uma erva. A erva era venenosa e os filhotes morreram.

Moral da história: antes morrer do que ficar preso. Foi o que disse o pintassilgo.

O pintassilgo de Leonardo da Vinci

Na fábula do pintassilgo, o artista e cientista italiano Leonardo da Vinci (1452-1519) constrói uma alegoria da liberdade como bem supremo da existência, impregnada, pois, dos valores renascentistas. "Antes a morte", disse o pintassilgo, "do que perder a liberdade", anotou o pintor da "Monalisa". Cenários desse tipo eram improvisados por Leonardo com frequência, dependendo do local ou do público a que se destinavam.

Fonte:
FÁBULAS modernas: velhas fábulas por novos autores. Folha de S. Paulo, 2002. Caderno +.

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) A Suprema Revelação


Ponho a mão, de leve, sobre o teu ventre,
tenso, em sua túmida rijeza,
e, de repente,
sou o primeiro homem
diante do desconhecido e da beleza.

(Eu orgulhoso da ciência e do saber humanos)
- sou o homem primitivo
ignorante de tudo, temeroso de tudo
- que nada explica, nada descerra -
que se deslumbra ante a mensagem dos céus,
e, trêmulo, se amedronta ante os mistérios da terra!)

Ponho a mão sobre o teu ventre
abaulado,
onde palpita uma força indefinida,
como se sentisse na própria mão,
indecifrado,
o segredo da Vida!


Parece que Deus se utiliza de teu corpo
para revelar-se
em seu poder e em sua essência
e para mostrar a distância infinita entre a pretensiosa
vaidade do saber humano,
e a sua Onisciência!

Sim. É como se Deus se comunicasse comigo
nesses estranhos sinais que sinto em minha mão...
E perturbado e incrédulo, me interrogo, sem perceber
a razão
por que haveria Ele de permitir que eu e tu
partilhássemos dos mistérios
da Criação?

Ponho a mão, de leve, sobre teu ventre,
e entre deslumbrado e atônito
perturbado e intranqüilo,
fico a pensar que Deus serviu-se de ti, para que eu
- materialista e ateu -
pudesse senti-lo,
e - poeta - pudesse "vê-lo",
e humildemente, homem,
pudesse reconhecê-lo!

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Mia Couto (A Avezinha da Lua)


(- primeira estória para a Rita- )

Minha filha tem um adormecer custoso. Ninguém sabe os medos que o sono acorda nela. Cada noite sou chamado a pai e invento-lhe um embalo. Desse encargo me saio sempre mal. Já vou pontuando fim na história quando ela me pede mais:

- E depois?-

O que Rita quer é que o mundo inteiro seja adormecido. E ela sempre argumenta um sonho de encontro ao sono: quer ser lua. A menina quer luarejar e, os dois, faz contarmo-nos assim, eu terra, ela lua. As tradições moçambicanas ainda lhe aumentam o namoro lunar. A menina ouve, em plena verdade da rua: "- olha os cornos da lua estão para baixo: vai cair a chuva que a lua guarda na barriga- ".

Me deu, um destes dias, a ideia de lhe contar uma estorinha para fazer pousar o sonho dela. E desencorajar seus infindáveis "e depois". Lhe inventei a estória que agora vos conto.

Era uma avezinha que sonhava em seu poleirinho. Olhava o luar e fazia subir fantasias pelo céu. Seu sonho se expandia:

- Hei-de pousar lá, na lua- .

Os outros lhe chamavam à térrea realidade. Mas o passarinho devaneava, insistente: vou subir lá, mais acima que os firmamentos. Seus colegas de galho se riram: aquilo não passava de meninice. Todos sabiam: não havia voo que bastasse para vencer aquela distancia. Mas o passarinho sonhador não se compadecia. Ele queria enluarar-se. Pelo que o tudo ficava nada.

Certa noite, de lua inteira, ele se lançou nos céus, cheio de sonho. E voou, voou, voou. Perdeu conta do tempo. Em certo momento ele não sabia se subia, se tombava. Seus sentidos se enrolaram uns nos outros. Desmaiou? Ou sonhou que sonhava? Certo é que seu corpo foi sacudido pelo embute de um outro corpo.

E pousou naquela terra da lua, imensa savana pétrea. A ave contemplou aquela extensão de luz e ficou esperando a noite para adormecer. Mas noite nenhuma chegou. Na lua não faz dia nem noite. É sempre luz. E o pássaro cansado de sua vigília quis voltar à terra. Bateu as asas mas não viu seu corpo se suspender. As asas se tinham convertido em luar. Com o bico desalisou as penas. Mas penas já nem eram: agora, simples reflexos, rebrilhos de um sol coado. O pássaro lançou seu grito, esses que deflagrava antes de se erguer nos céus. Mas sua voz ficou na intenção. A ave estava emudecida. Porque na lua o céu é quase pouco. E sem céu não existe canto.

Triste, ela chorou. Mas as lágrimas não escorreram. Ficaram pedrinhas na beirada da pálpebra, cristais de prata. A avezinha estava cativa da lua, aprisionada em seu próprio sonho. Foi então que ela escutou uma voz feita de ecos. Era a própria carne da lua falando:

- Eu sonhei que tu vinhas cantar-me.

- E porquê me sonhaste?

- Porque aqui não há voz vivente.

- Eu também sonhei que haveria de pousar em ti.

- Eu sei. Agora vais cantar em luar. Eu sonhei assim e nenhum sonho é mais forte que o meu- .

É assim que ainda hoje se vê, lá na prata da lua, a pupila estrelinhada do passarinho sonhador. E nenhuma criatura, a não ser a noite, escuta o canto da avezinha enluarada. Sobre as primeiras folhas da madrugada, tombam gotas de cacimbo. São lagriminhas do pássaro que sonhou pousar na lua.

- E depois, pai?-

Fonte:
Mia Couto. Contos do Nascer da Terra. Vol.1. Porto: CPAC, 1998.

Laé de Souza (Escolas Estaduais de Sorocaba Participam de Projeto de Leitura)


Cerca de cinco mil estudantes de 32 escolas estaduais de Sorocaba estarão a partir deste mês envolvidos em um projeto de incentivo à leitura.

O projeto “Ler é Bom, Experimente!”, desenvolvido em todo o país, teve em 2011 a participação de oito escolas de Sorocaba e com o resultado obtido, em parceria com Secretaria de Estado da Educação - Diretoria de Ensino da Região de Sorocaba, o Grupo Projetos de Leitura abriu um número maior de vagas para escolas do município.

O projeto, desenvolvido há mais de doze anos pelo Grupo Projetos de Leitura, com aprovação do Ministério da Cultura e patrocínio do GRUPO SEGURADOR BANCO DO BRASIL E MAPFRE, tem como objetivo incentivar o hábito da leitura oferecendo livros e demais materiais didáticos, gratuitamente, às escolas públicas. Dirigidos a estudantes a partir do 2º ano até o ensino médio, a mecânica do trabalho envolve a leitura de livros do escritor Laé de Souza, que neste ano será com as obras “Radar, o cãozinho” (português/inglês), “Quinho e o seu cãozinho – Um cãozinho especial” e “Acredite se quiser!” (impresso em braille), discussão dos temas propostos nas obras, criação de textos e adaptação para teatro, exercícios infantis e outras atividades. A escola participante receberá um lote de 152 livros, além de material de apoio como folhas pautadas para redação e ainda uma cartilha pedagógica para auxiliar o professor a executar as atividades dentro da sala de aula.

Após a leitura e o desenvolvimento das atividades sugeridas, monitoradas pelos professores, os alunos respondem um questionário sobre a obra e elaboram textos baseados nas crônicas ou nos personagens. Serão premiados, por classe, com outra obra de Laé de Souza, três autores dos melhores trabalhos.

Os alunos participantes concorrem também à seleção do seu texto para participar de uma coletânea intitulada "As melhores crônicas dos projetos de leitura" que será lançada na Bienal Internacional do Livro de São Paulo em agosto de 2012.

Para o coordenador do trabalho, o escritor Laé de Souza, a ideia é atrair todos os estudantes para uma participação ativa em um movimento literário na sua própria escola. “A disseminação da leitura na sala de aula, se bem orientada, poderá criar novos cidadãos apaixonados pela leitura e com vontade própria de ler. Nosso trabalho é desenvolvido para que os jovens se tornem adultos atraídos pelos encantos e aprendizado que a leitura de livros pode proporcionar. O professor é nosso parceiro e assume conosco a empreitada de fazer o aluno descobrir o prazer da leitura. Torço para termos alunos de Sorocaba na nova coletânea de textos de estudantes”, diz.

“As nossas expectativas em relação ao projeto “Ler é Bom, Experimente!” são as melhores possíveis, pois um dos principais objetivos do trabalho das escolas da rede estadual de ensino é desenvolver a competência leitora e escritora nos alunos de todos os segmentos, da alfabetização ao ensino médio, em todas as disciplinas. Sendo assim, a participação de 32 escolas da nossa Diretoria é uma grande oportunidade para trabalharmos a produção textual, debatermos os temas propostos pelos livros ou, simplesmente, estimularmos o prazer pela leitura. Estão de parabéns todos os que idealizaram e põem em prática este Projeto”, manifesta-se o Professor José Roberto Machado Júnior, Coordenador de Língua Portuguesa da Diretoria de Ensino da Região de Sorocaba.

Fonte:
E-mail enviado por Laé de Souza