quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Gilmário Braga (Clara, a feia)

O autor é de Serra/ES
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  
Eu começo essa história fazendo a seguinte pergunta: Até que ponto beleza é fundamental? Esteticamente falando, eu nunca fui, digamos assim: Uma mulher chegada à beleza, e mesmo assim sempre convivi bem com isso, até porque não tenho como mudar. Boniteza em minha pessoa somente aquela que vem de dentro, e isso já é mais do que o suficiente para eu me sentir uma pessoa feliz. Nas festas que costumava frequentar raramente algum rapaz me tirava para dançar. Naquela época ainda dançávamos de rosto coladinho, hoje não se usa mais fazer isso. Eles preferiam sempre as meninas mais bonitas. Às vezes isso me incomodava um pouco, mas não era sempre que eu me sentia assim. Minhas tentativas de arranjar um namorado, ter um relacionamento sério eram sempre frustradas. Os rapazes sempre tinham uma desculpa para não me namorar. Chegou um momento que isso começou a mexer muito comigo.

Eu me reporto agora ao ano de 1982, época boa onde as coisas eram bem diferentes de hoje em dia. Chegamos ao fim do ano, e com ele as merecidas férias, e nessa ocasião recebemos em nossa casa a minha prima Judith que veio de Minas Gerais passar uns dias conosco no Espírito Santo. Minha prima era animada, alegre, pra cima e adorava sair, curtir a vida. Um belo dia a tarde ao chegarmos da praia, resolvemos por iniciativa dela acessar um serviço que uma empresa de telefonia disponibilizava aos seus usuários. As pessoas daquela época devem lembrar do chamado serviço 145. Esse serviço era febre na época e muita gente se divertia com isso. Funcionava assim: Você discava este número e ouvia várias pessoas conversando ao mesmo tempo, era uma espécie de linhas cruzadas. Muitas pessoas passaram a se conhecer e se relacionarem a partir dessas conversas. Bastava a gente passar o nosso contato ou apanhar o de alguém que nos interessasse. Hoje em dia isso é bem menos complexo devido as redes sociais.

– Então, Clara. Vamos tentar? Não temos nada a perder. O máximo que pode acontecer é a gente tirar uma onda com a cara dos rapazes, ou eles com a nossa cara. – Disse Judith.

– Não sei, prima. Eu me acho muito tímida para essas coisas. E depois passar o meu contato para quem eu não conheço pode ser uma furada.

– Que nada, Clara. Deixa de bobagem. O que alguém pode fazer tendo somente o seu número? Quem sabe nessas linhas cruzadas esteja o seu príncipe encantado (risos). 

– Montado no cavalo branco e tudo. – Complementei sorrindo.

Judith insistiu tanto que eu acabei topando, e diante disso ela imediatamente discou. Durante alguns minutos ela conversou com várias pessoas, e pelo visto aquele não era o dia de sorte dela.

– Agora é sua vez, Clara. Coragem. Eu estou sentindo que hoje é o seu dia de sorte.

– Será, prima?

– Se você não tentar não terá como saber. Vamos, prima! Coragem!

Meio trêmula e sem jeito apanhei o telefone e disquei. Era a primeira vez que acessava este serviço. Várias linhas se cruzavam ao mesmo tempo. Uns falavam bobagens, mulheres davam gargalhadas, mas também tinha aquelas pessoas que falavam o que se aproveitasse. Depois de alguns minutos tentando entender alguma coisa, um homem, com uma voz romântica, linda, despertou meu interesse e eu o dele também. Trocamos mais algumas palavras e o nossos contatos. 

– Viu aí prima. Eu disse que hoje era seu dia de sorte.

– Será? Eu estou tão acostumada a levar fora que um a mais um a menos não vai fazer diferença.

– Deixa de ser pessimista, Clara. Acredite! Pense positivo.

Na semana seguinte Judith foi embora. Passei dias ansiosa para que chegasse logo o dia do nosso encontro onde finalmente eu conheceria o misterioso Otto, pois foi este o nome que ele me deu. Marcamos de nos encontrarmos em um restaurante muito conhecido na cidade. Eu cheguei propositalmente meia hora depois do horário combinado, disse o nome e as características dele para o garçom e fui conduzida até a mesa onde ele supostamente me aguardava. Confesso que me surpreendi. Otto estava muito bem vestido, de aparência agradável. Eu estava diante de um homem simplesmente lindo. Aproximei-me e o cumprimentei.

– Boa tarde!

Ele virou-se para mim. Usava óculos escuros na ocasião.

– Otto? – Perguntei.

– Sim. Boa tarde. Você deve ser a Clara (pausa) – Sente-se por favor!    

Eu sentei-me de frente para ele e nos pusemos a conversar. Que homem bonito ele era! Conversamos sobre vários assuntos, mas não me animei muito. Certamente um homem bonito daquele não iria querer nada comigo, e para falar verdade, eu já estava preparada para terminar aquele encontro como bons amigos. Mais curioso é que em nenhum momento ele retirou os óculos. No início me incomodou, mas depois não dei importância. A conversa com ele estava muito agradável.

– Você quer beber alguma coisa, Clara?

– Um suco está ótimo.

– Me fala um pouco mais sobre você! Como você é por exemplo.

– Você quer saber como eu sou? Isso?

– Sim. Me fala sobre você!

Enquanto conversávamos, eu tinha a nítida sensação de que Otto não olhava para mim, e sim em minha direção. Confesso que fiquei meio confusa quando ele perguntou como eu era. Pela primeira vez estava diante de um homem que conversava comigo à vontade, sem pressa ou querendo logo terminar aquele encontro e sem se preocupar com a minha aparência. Seria mesmo o meu dia de sorte como disse a Judith? E tomada por um impulso resolvi arriscar:   

– E então, Otto? Eu sou como você esperava ou eu frustrei suas expectativas? 

– Como assim, Clara? Não entendi.

– Eu achei que você fosse me dizer alguma coisa quando estivesse diante de mim.

Ele fez um breve silêncio e logo em seguida disse:

– Infelizmente eu não posso te ver.

– Na hora eu não entendi e perguntei: Como assim não pode me ver? Estamos aqui há horas conversando.

 Ele tomou fôlego e prosseguiu:

– Eu sou deficiente visual, Clara. Não enxergo nada. Sou totalmente cego. Perdi a visão ainda na adolescência. Se houver outra oportunidade te conto como tudo aconteceu.

Eu tomei um choque com aquela revelação. Cego? Que pena, um homem tão bonito. Tentei disfarçar meus sentimentos naquela hora. Logo em seguida tomei coragem e abri meu coração para ele dizendo exatamente como eu era e com isso a minha dificuldade de conseguir um relacionamento amoroso. Ele me ouviu em silêncio e depois disse:

– Pois para mim você é a mais linda das criaturas, a mais linda das mulheres. Que importância tem a beleza física? Eu estou diante de uma mulher de alma nobre, de coração puro, e com toda certeza tem muito a oferecer. Seu afeto, seu carinho e seu amor.

As palavras de Otto me deixaram emocionada. Eu nunca tinha ouvido isso de alguém. Eu estava feliz, as lágrimas desciam em meu rosto, mas era um choro de alegria. Naquela hora eu tive a certeza que estava diante do homem da minha vida. Saímos dali como namorados, e pouco tempo depois nossas famílias foram apresentadas e tanto de um lado como do outro recebemos todo apoio.

Namoramos, noivamos e nos casamos, e como não poderia deixar de ser, minha prima Judith foi nossa madrinha de casamento. Continuamos juntos e somos felizes até hoje. Agora posso dizer que em se tratando de amor, beleza não é fundamental. O amor sim. Este será sempre fundamental para conservarmos uma relação, além de respeito e cumplicidade.

Palavras do autor: 
Embora essa seja uma obra de ficção, nos deparamos com diversas situações como essa em nosso cotidiano.

Fonte: Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Estante de Livros ("Kalki", de Gore Vidal)

RESUMO

"Kalki" é um romance de Gore Vidal publicado em 1978, que se passa em um futuro distópico, especificamente em um mundo onde os valores e a moralidade da sociedade foram profundamente corrompidos. O livro é uma crítica incisiva à política contemporânea, à religião e ao estado da civilização.

A história é narrada através da perspectiva de uma série de personagens, mas o foco principal está em Kalki, uma figura messiânica que representa a última encarnação de Vishnu, o deus hindu preservador. O enredo se desenrola em um cenário em que a sociedade se deteriorou sob o peso da corrupção, do consumismo e da guerra. Kalki, que surge como um salvador, é uma figura ambígua que desafia as noções tradicionais de heroísmo e sacrifício.

Em 2067, após uma catástrofe nuclear, os Estados Unidos estão fragmentados. O protagonista, Theodore "Ted" Barker, é um jovem jornalista que descobre um movimento messiânico liderado por Kalki, uma figura misteriosa, que promete uma nova era de paz e prosperidade, mas seu verdadeiro objetivo é criar uma raça superior através da engenharia genética. Ted se torna um discípulo de Kalki, mas logo questiona as intenções do líder.

TEMAS CENTRAIS

Messianismo e Redenção: 
Kalki é apresentado como uma figura messiânica, mas Vidal subverte a ideia tradicional de um salvador. A busca por redenção é complexa; ele não é necessariamente um herói, mas um reflexo das falhas da humanidade e das instituições que a governam. Isso provoca uma reflexão sobre a natureza da salvação e a responsabilidade individual.

Crítica Política: 
A obra é uma crítica contundente à política americana e ao sistema de governo. Através da descrição de líderes corruptos e de uma sociedade decadente, Vidal examina a hipocrisia da política e a alienação do cidadão comum. O livro sugere que a corrupção é endêmica e que as instituições falharam em servir ao povo.

Religião e Poder: 
Gore Vidal explora a intersecção entre religião e poder, questionando como as crenças espirituais podem ser manipuladas para fins políticos. A figura de Kalki, como um deus encarnado, levanta questões sobre a fé, a manipulação religiosa e o papel que essas crenças desempenham na sociedade.

Desumanização e Alienação: 
O ambiente distópico do livro ilustra a desumanização do indivíduo em uma sociedade dominada pelo consumismo e pela superficialidade. Vidal retrata personagens que lutam com a alienação, refletindo a crise de identidade em um mundo que valoriza a aparência sobre a essência.

IMPACTO CULTURAL

1. Recepção crítica: 
Kalki recebeu críticas mistas, mas é considerado um clássico da ficção distópica.

2. Influência em outros autores: 
Inspirou obras de autores como Don DeLillo e Margaret Atwood.

3. Contexto histórico: 
Reflete a ansiedade pós-guerra fria e a crise de confiança nos líderes políticos.

ESTILO E ESTRUTURA

O estilo de Gore Vidal em "Kalki" é caracterizado por uma prosa incisiva e um diálogo afiado. Ele utiliza uma narrativa não linear, intercalando diferentes pontos de vista e contextos históricos, o que enriquece a complexidade da história. A construção dos personagens é multifacetada, permitindo que eles sejam simultaneamente representativos de arquétipos e indivíduos únicos.

CONCLUSÃO

"Kalki" é uma obra que transcende seu contexto temporal, abordando questões universais sobre a moralidade, a política e a condição humana. Gore Vidal oferece uma visão sombria, mas perspicaz do futuro, instigando os leitores a refletirem sobre seu papel dentro da sociedade e as implicações de suas escolhas. O livro se destaca não apenas como uma narrativa envolvente, mas como um manifesto crítico que ressoa com inquietações contemporâneas.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Silmar Bohrer (Gôndola de Versos) 04


José Feldman (Um encontro inusitado)

Era uma tarde tranquila na biblioteca de um universo que desafia a nossa compreensão. Estantes infinitas se estendiam até onde os olhos podiam ver, cobertas de livros de todas as épocas e estilos. Em um canto iluminado por um brilho suave, três figuras notáveis saíram de uns livros e tiveram um encontro inusitado além da imaginação: William Shakespeare, Edgar Allan Poe e Monteiro Lobato.

Shakespeare, com seu ar aristocrático e uma pena na mão, foi o primeiro a se pronunciar.

— Ah, senhores! Que prazer imenso é vê-los! Eu sou William Shakespeare, dramaturgo e poeta. E vocês devem ser os ilustres Edgar Allan Poe e Monteiro Lobato. Um encontro de mentes brilhantes, sem dúvida!

Poe, com seu olhar sombrio e uma aura de mistério, respondeu:

— Sim, sou eu, Edgar Allan Poe. O gênio do terror e do macabro. E você, Sr. Shakespeare, deve saber que seus sonetos são maravilhosos, mas, francamente, você precisa de um pouco mais de escuridão em suas obras.

Lobato, sempre com um sorriso no rosto e uma caneta na mão, interveio:

— E eu sou Monteiro Lobato, o escritor para crianças e do folclore do Brasil! Prazer em conhecê-los, senhores. Agora, o que vocês precisam é um pouco de imaginação infantil! Shakespeare, seus dramas são tão sérios que eu me pergunto se você já ouviu uma boa piada!

— Vamos lá, então! — disse Shakespeare, ajeitando seu colarinho. — Eu, que escrevi sobre o amor, a ambição e a tragédia, defendo que a complexidade da condição humana é meu forte. O que você tem a dizer sobre isso, Poe?

— Complexidade? — Poe levantou uma sobrancelha. — O que você entende de complexidade, meu caro? Você escreve sobre amores perdidos, enquanto eu exploro as profundezas da loucura e da morte. Em "O Corvo", por exemplo, abordei a obsessão de um homem que perde sua amada. Não é isso que chama a atenção?

Lobato se inclinou para frente, rindo.

— Loucura, sim, mas e o humor? Vocês dois parecem estar sempre tão sérios! Eu, em "O Sítio do Picapau Amarelo", trago a fantasia e a brincadeira! Afinal, quem não gostaria de conversar com um saci ou uma boneca de pano que ganha vida? Isso é o que eu chamo de literatura!

Shakespeare, com um sorriso travesso, respondeu:

— Então você acha que um saci é mais interessante que um Hamlet? Um príncipe que discute sobre a vida e a morte? Venha, Monteiro, não me diga que prefere a companhia de um personagem que não sabe nem se deve existir!

Poe não deixou barato:

— E o que dizer de sua "Comédia dos Erros"? Uma confusão de identidades que só pode ser resolvida com um final feliz? Isso é muito otimista para o meu gosto. Onde está a tragédia, a verdadeira essência da vida?

Lobato, rindo ainda mais, respondeu:

— Olha, eu não diria que confundir personagens é um erro. É mais uma estratégia de marketing! E, Shakespeare, você fala de tragédia, mas seus personagens têm um talento incrível para fazer escolhas ruins. Que tal um pouco de sabedoria popular? "Quem não arrisca, não petisca!" E olha que eu sou um especialista em ensinar isso às crianças!

A conversa continuou, repleta de risadas e provocações. A biblioteca, testemunha desse encontro inusitado, parecia vibrar com a energia das palavras trocadas. Após horas de debate, todos concordaram que, apesar das diferenças, o que realmente importava era o amor pela literatura.

Poe, finalmente relaxando, disse:

— Sejamos francos, senhores. Cada um de nós tem sua própria abordagem para a complexidade do ser humano. Shakespeare com seu romantismo, Lobato com sua fantasia e eu com meu terror.

Shakespeare assentiu, um brilho de compreensão em seus olhos:

— Exatamente, meu amigo. E o que seria do mundo sem essas diferentes vozes? A diversidade é a alma da literatura.

Enquanto Shakespeare, Poe e Lobato discutiam animadamente, uma nova presença se fez notar na biblioteca. A luz suave que iluminava o espaço pareceu se intensificar, e um homem de porte elegante, com um olhar penetrante e um leve sorriso nos lábios, se aproximou. Era Machado de Assis.

— Boa tarde, senhores! Posso me juntar a essa conversa tão vibrante? Sou Machado de Assis, e ouvi falar sobre suas obras. Estou curioso para saber o que pensam sobre "O Alienista".

Shakespeare, sempre cortês, respondeu:

— Senhor Machado, é uma honra tê-lo entre nós. "O Alienista" é uma obra fascinante. A forma como você aborda a loucura e a razão é singular. Mas diga, o que o levou a explorar a mente humana dessa maneira?

Machado, com um brilho nos olhos, explicou:

— A loucura é um tema que me intriga profundamente. Em "O Alienista", eu queria discutir não apenas a sanidade, mas também o que é considerado normal em nossa sociedade. O Dr. Simão Bacamarte, que se dedica a entender a mente, acaba por se perder em sua própria obsessão. É uma crítica à ciência e à razão.

Poe, com um sorriso enigmático, interveio:

— Fascinante, de fato! Mas você não acha que, em sua busca pela razão, Bacamarte se torna uma figura trágica? Ele se assemelha aos meus personagens que, perdidos em suas obsessões, acabam se destruindo. A diferença é que você traz uma ironia bem-humorada à sua narrativa, enquanto eu prefiro o tom sombrio.

Machado assentiu, apreciando a observação.

— Sim, Edgar. A ironia é um dos meus instrumentos. Eu quis mostrar como a busca pela lógica pode ser tão irracional quanto a própria loucura. 

Shakespeare, com seu estilo característico, comentou:

— Muito bem colocado, Machado! Mas me pergunto se a crítica social em "O Alienista" não perde um pouco da profundidade emocional que permeia minhas tragédias. Bacamarte, embora intrigante, parece distante. Não seria mais poderoso se ele tivesse um dilema mais humano, como o meu Hamlet, que luta com questões de vida e morte?

Machado sorriu, reconhecendo a validade da crítica.

— Você tem razão, William. A emoção é fundamental na literatura. Contudo, minha intenção foi refletir a sociedade de uma maneira mais cerebral, quase como uma fábula. O que importa é que, ao final, Bacamarte é um espelho de todos nós.

Lobato, sempre entusiasmado, não deixou de defender seu ponto de vista:

— E eu gostaria de adicionar que, enquanto você aborda a loucura, eu trago a fantasia como uma forma de libertação! Os personagens do seu livro, cercados pela racionalidade, poderiam se beneficiar de um pouco de magia! Imagine Bacamarte conversando com o Saci ou criando novas teorias com a ajuda de Emília!

Machado riu, imaginando a cena.

— Seria uma combinação curiosa, sem dúvida! A magia poderia oferecer a Bacamarte o que falta em sua vida: um pouco de leveza. 

Após a troca de ideias, Machado de Assis, com seu olhar perspicaz, fez uma reflexão sobre as obras de seus colegas.

— Senhores, é interessante notar que, apesar de nossas abordagens distintas, todos nós tratamos da condição humana. William, você mergulha nas profundezas da emoção, explorando o amor e a tragédia. Edgar, você desafia os limites da sanidade e do terror, revelando a fragilidade do ser humano diante do desconhecido. E Lobato, você nos lembra da importância da imaginação e da infância, onde tudo é possível.

Ele fez uma pausa, permitindo que suas palavras ecoassem.

— Assim como Bacamarte busca entender a mente humana, nós buscamos entender o que nos torna humanos através de nossas obras. Cada um à sua maneira, contribuímos para um entendimento mais profundo da vida e da sociedade. E, se pudermos aprender uns com os outros, talvez possamos criar um universo literário ainda mais rico.

Os três escritores, tocados pela análise de Machado, concordaram, reconhecendo que, no final das contas, a literatura é um diálogo contínuo. Eles estavam apenas começando a explorar as maravilhas que poderiam surgir de suas interações, prontos para desafiar e inspirar uns aos outros, como verdadeiros mestres da palavra.

Com risadas e promessas de um novo encontro, os escritores se despediram, cada um levando consigo a certeza de que, embora suas obras fossem diferentes, a paixão pela escrita os unia em um laço eterno. E assim, na biblioteca dimensional, as histórias continuaram a se entrelaçar, trazendo à vida a magia da literatura.

Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Eduardo Affonso* (Cyrano na Pandemia)

* Eduardo Affonso é de Belo Horizonte/MG
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = = = = = =  

No início da pandemia, a Daniella me mandou um lote de máscaras, cada uma com uma estampa diferente. Tudo higienizado, esterilizado, bem embaladinho.

O uso ainda não era obrigatório, mas quis logo estrear as minhas – em especial uma, perfeita para o passeio com os cachorros, porque tinha desenhos de patas caninas.

A Daniella me conhece razoavelmente, mas devia ter se esquecido do meu perfil. Não o psicológico – o perfil literal mesmo. O narigão.

As máscaras eram do tipo peleja: se cobriam o nariz, descobriam a boca, e vice-versa. Sabe vestido de periguete? Aquele padrão.

Sob pena de parecer neurótico ou obsessivo, passei a usar duas máscaras – uma cobrindo o narigão e parte do lábio superior; outra, a boca e parte do queixo. Funcionou bem, considerando que eu não ia mesmo conversar com ninguém e respiração não chega a ser uma necessidade básica.

Consultei sobre modelos maiores. Claro que havia! E me chegou nova remessa, com máscaras de tamanho mais generoso.

Mas para um nariz como o meu, generosidade não basta. É preciso desperdício.

As pautas identitárias conseguiram que houvesse poltronas mais largas nos cinemas, teatros, auditórios e aviões, para acomodar pessoas com sobrepeso. Lojas passaram a disponibilizar roupas de modelagem compatível com índices de massa corporal pra lá de 30. Mas ninguém pensou nos portadores de nariz pluçaize*.

Não há óculos cujas pontes não nos cavem uma vala horizontal no ponto de apoio. Não há armação com plaquetas afastadas o bastante para nossa envergadura nasal. Vale para óculos de grau, vale para os de natação. Conhece algum narigudo campeão de 800 metros cráu*? Nem eu. Quando você se sentir profundamente frustrado, lembre-se do narigudo que tentou mergulhar de esnórquel*.

Não há boné com aba de 20 cm. Não se vende Rinossoro em embalagem de 500 ml.

O pior é que nem somos uma minoria tão desprezível assim. Juca Chaves, Jean Paul Belmondo, Jean Reno, Luciano Huck, Gerard Depardieu. Para não falar em Maria Bethânia, Maria Callas, Barbra Streisand e a bruxa da Branca de Neve.

Para não incomodar de novo a Daniella, acabei comprando mais algumas máscaras numa loja de artigos hospitalares. Antes, sondei quem estava fabricando máscaras caseiras (sempre é bom dar preferência ao pequeno empreendedor), mas ninguém produzia no tamanho Extra GGG Ultra Plus. O moço da loja disse que aquelas eram “oficiais”, do tipo seguro Golden Platinum, com cobertura total. Quebrei a cara.

Fabricantes de máscaras, óculos, burcas, esnórqueis, vaporizadores: pensem em nós. Claro que o gasto de material vai ser muito maior, mas somos um mercado consumidor disposto a pagar mais caro por um produto adequado à nossa pujança nasal. Se não se adaptarem – como fizeram as indústrias de cosméticos para pele negra, de biquínis manequim 54 ou de tesouras para canhotos – é porque vocês não enxergam um palmo adiante do nariz.
= = = = = = = = =  

* VOCABULÁRIO
Cráu = crawl. Técnica de natação.
Esnórquel = tubo oco, preso na boca, utilizado por mergulhadores para respirar debaixo da água.
Pluçaize = plus size. Tamanhos maiores.

Fontes: https://tianeysa.wordpress.com/2020/07/24/cyrano-na-pandemia/
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Vereda da Poesia = 175


Trova de
NERO DE ALMEIDA SENNA 
Jequitinhonha/MG (1874 – ????)

Muito esquisito eu acho
teus vestidos, minha prima:
são altos demais embaixo,
e baixos demais em cima…
= = = = = =

Poema de
CARLOS FERNANDO BONDOSO
Alcochete/Portugal

Um barco que nunca mais ancorou

vejo em ti a simbiose
do amor e da luz
da beleza
da valsa e do bolero
dançado
perto do vazio
é este silêncio
que me diz à consciência
que as danças
têm o brilho intenso
das almas
ó bolero ó valsa 
danças da minha infância
tenho como testemunho
o tempero do tempo
que marcou
e deixou traços
num barco que nunca mais ancorou
= = = = = = 

Trova de
SUELY BRAGA
Osório/RS

Muitas rosas só não falam...
Não nos ferem com espinhos,
 um doce perfume exalam
e nos cobrem de carinhos.
= = = = = = 

Poema de
ALBANO NEVES E SOUSA
Matozinhos/Portugal, 1921 – 1995, Salvador/Brasil

Angolano

Ser angolano é meu fado, é meu castigo
Branco eu sou e pois já não consigo
mudar jamais de cor ou condição...
Mas, será que tem cor o coração?

Ser africano não é questão de cor
é sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras...

A questão é de dentro, é sentimento
e nas parecenças de outras terras
longe das disputas e das guerras
encontro na distância esquecimento!
= = = = = = 

Trova de
ANTONIO MARTINS
Piranguçu/MG

Nasci pobre e, na pobreza,
desconheci a abastança...
Mas sempre tive a riqueza
de possuir a esperança.
= = = = = = 

Poema de
CÉSAR DÁVILA ANDRADE
Cuenca/Equador, 1918 – 1967, Caracas/Venezuela

    Em Que Lugar

    Quero que me digas; de qualquer
    modo deves dizer-me,
    indicar-me. Seguirei teu dedo, ou
    a pedra que lances
    fazendo flamejar, em ângulo teu braço.

    Além, atrás dos fornos de queimar a cal,
ou mais além ainda,
além das valas onde
se acumulam as coroas alquímicas de Urano
e o ar chia como gengibre
deve estar Aquele.

    Tens que me indicar o lugar
    ainda antes que este dia se coagule.

    Aquele deve conter o eco
envolto em si mesmo,
    como uma pedra no interior de um pêssego.

    Tens que indicar-me, Tu,
    que repousas bem mais além da Fé
e até da Matemática.

    Poderei segui-lo no ruído que passa
e se detém
subitamente
    na orelha de papel?

    Por acaso ele está nesse sítio de trevas,
sob as camas,
onde se reúnem
    todos os sapatos deste mundo?  

(Tradução de José Jeronymo Rivera)
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Distante dos teus afagos,
nesta inquieta nostalgia,
meus olhos formam dois lagos
que me afogam todo dia!
= = = = = = 

Soneto de
CESÁRIO VERDE 
Lisboa/Portugal 1855 — 1886

Manias!

O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada, -
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.

Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!
= = = = = = 

Trova Humorística de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

– O meu marido é carteiro;
porém bem cedo aprendeu
que, no lar, o tempo inteiro,
quem dá as cartas sou eu!
= = = = = = 

Poema de 
CRISTOVAM PAVIA
(Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho)
Lisboa/Portugal 1933 – 1968

“Na noite da minha morte”

Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo...
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.

 Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume...
Há de haver velas pela casa
E xales negros e um silêncio que eu
Poderia entender.

 Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente...
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Sem querer quebrei o mundo,
que havia em teu coração;
mas, se o remorso dói fundo,
dói mais fundo o teu perdão!
= = = = = = 

Hino de
XEXÉU/ PE

Quem te vê, entre montes, surgindo
E teus raios tocando o véu
Não imagina que é o brio refulgente
Da estrela chamada Xexéu.

Uma pátria de berço heroico
De guerreiros, de paz e brandura
Essa luz te faz na alvorada
Como águia voando às alturas.

Meu Xexéu, no voo majestoso
Desafio não é uma quimera
Se há batalha me inscreve à luta
Que a vitória sorrindo te espera.

Elevamos a alma aos céus
Gratidão, com respeito e louvor
Que a bandeira hasteiem da paz
Da justiça, da crença, do amor.

Nossa gente feliz já na praça
Festejando emancipação
Seja sempre sagrado e suave
O teu canto de paz e união
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Não me curvo ante o fracasso
nem lamento as busca mortas,
na coragem dos meus passos
trago as chaves de outras portas.
= = = = = = 

Poema de
ANA PAULA LAVADO
Angola

Nenhum Verso…

Nenhum verso fala de mim
nem do que eu penso
nem do que eu sinto
nem do que eu sou.

Na realidade,
as palavras são apenas
um jogo de letras
mais ou menos cinzelado
ao gosto de cada um.
E poucos, muito poucos
fazem delas seres vivos e humanos.

Eu não lhes dou vida.
Trabalho-as com mais ou menos nexo
ou talvez sem nexo,
porque dele não sinto falta
nem faz falta o que sou!
= = = = = = = = =  

Trova de
ADERBAL MELO
Recife/PE, 1910 – 1931

Por mais que eu viva desperto,
meu porvir não descortino;
o destino é tão incerto,
que também não tem destino.
= = = = = = = = = 

Figueiredo Pimentel (A faquinha e a bilha quebrada)

Vicente já está de volta da escola, sossegado, sim, mas a deitar sua olhadela para as vistosas lojas. De repente para. Que estará ele a ver com tanta curiosidade? Um açafate cheio de faquinhas brancas, lindíssimas. Ah! como devem cortar bem! Que lâminas tão polidas e brilhantes! E não são caras: – a oito vinténs. Vão-se-lhe os olhos, mas falta-lhe o melhor; oito vinténs é uma quantia demasiada para as suas finanças. A mãe, uma mulher pobre, apesar de trabalhar muito, pode-lhe lá dar dinheiro para comprar uma faquinha!

— Oh! diz o Vicente de si para si; que poderia eu fazer para ganhar aquele dinheiro?

Saía da loja um sujeito carregado de compras.

— Oh! rapazinho, ajudas-me a levar estas encomendas para minha casa?

— De muito boa vontade, respondeu-lhe o Vicente, se não for muito longe, porque minha mãe se zanga quando venho tarde da escola.

— É muito perto daqui, não te demoras nada.

O Vicente pegou em dois pacotes, e foram ambos andando até a rua onde morava o homem.

— Está bem, rapazinho, aqui tens pelo teu trabalho, – e deu-lhe dois vinténs.

— Muito obrigado, meu senhor, mas eu não quero receber dinheiro por um serviço tão pequeno.

— Pois então guarda-os para te lembrares de mim, tornou-lhe o sujeito, entrando em casa.

Para a rua correu Vicente, pulando de contente.

— Ó mãe!! ó mãe! Olhe o que me deram quando eu voltava da escola: dois vinténs, ambos novinhos (e pôs-se a contar o caso à mãe).

— Se eu pudesse ganhar mais seis vinténs, chegava-me exatamente para comprar uma faquinha. Ah! se a mãe soubesse como são bonitas!

— E para que precisas tu de uma faquinha?

— Ó! mãe! Com uma faquinha posso fazer muitas coisas: aparar os meus lápis e os dos meus condiscípulos; cortar ramos na alameda para chicotes e flautinhas; arranjar um barquinho; e até ajudá-la a descascar as batatas para o jantar, porque as nossas facas são muito grandes. Parece-me que já a estou a ouvir dizer: – Então, ainda não viste a faquinha do Vicente? É tão bonita! E a mãe, quando eu tiver os oitos vinténs, dá-me licença para comprar uma?

— Dou sim, filho. O que eu não sei é como tu os hás de ter.

Vicente passou o serão a imaginar como poderia ganhar alguns vinténs, mas, por mais que batesse na testa, foi-se deitar sem nada ter descoberto.

Um dia, às sete horas da manhã, havia apenas alguns instantes em que se levantara, tirou a lama da porta. De repente, ergueu casualmente a cabeça, e deu com o tio Martinho à janela. É um dos vizinhos.

— Oh! pensa o Vicente; o tio Martinho está já tão velho para tirar a neve que lhe caiu à porta; depressa a retirou para ele não escorregar quando for sair.

Dito e feito. Quando Vicente voltava para casa, abriu Martinho a janela e pôs-se a chamá-lo.

— Fizeste bem, meu rapazinho, em me evitar alguma queda. Se repetires isto quando tornar a chover, dou-te um vintém.

Vicente pensou nas faquinhas, e aceitou contentíssimo a proposta. Infelizmente a chuva não cai todos os dias a cântaros, e decorreu muito tempo antes de ter o dinheiro necessário.

E assim passaram-se semanas e semanas. Trabalhando daqui e dali, mesmo assim o menino apenas conseguiu arranjar sete vinténs.

Só lhe faltava um, para completar a quantia com que poderia comprar a ambiciosa faquinha.

— Ah! se chovesse muito esta noite. Era o pensamento fixo do rapazinho, em cada serão, quando se ia deitar.

***

Uma manhã levantou-se, correu à janela para espreitar o tempo, e a mãe viu-o andar aos saltos, e bater palmas.

Não sabia o que isso queria dizer, mas adivinhou-o quando viu o Vicente, depois de lhe ter vindo pedir a bênção, e de lhe dar um beijo, pegar na pá e na vassoura, e sair de casa.

A mãe pôs-se a espreitá-lo. Que azáfama! que desembaraço! As mãos roxas da friagem, mas a vassoura num corrupio.

Acabou. O Martinho abre a porta, sai, tira a bolsa, e o oitavo ambicionado vintém passa da mão do vizinho para a de Vicente. Correr a ir buscar os outros sete vinténs, guardados com tanto carinho numa caixinha, almoçar e partir para a escola, foi obra de um momento.

Como ele salta pela rua fora! Que leva fechado na mão? Um tesouro que tem medo de perder: oito vintenzinhos em que se vai revendo, contando-os e tornando-os a contar.

Lá está já na rua da loja sedutora. Um instante mais e a faquinha é dele.

***

Do outro lado da rua vai uma menina, vestida pobremente, e andando com muita cautela para não escorregar. Parece transida de frio; as mãozinhas, roxas de todo. Leva uma bilha de leite. O Vicente ia já a entrar na loja, quando, de repente, vê a menina escorregar e cair ao atravessar a rua. A bilha quebrou-se-lhe! O leite que ia ser o almoço da avó, todo entornado!

Quando a vê cair, corre para a ajudar a levantar-se. Já em pé, a menina, lavada em lágrimas, conta-lhe que não leva nem um real, e que a avó ainda não almoçou. Vicente olha para os seus oito vinténs, depois para a loja onde estão penduradas as faquinhas, depois para a pequenina, que ainda continuava a chorar. Reflete um momento.

— Vem comigo, diz-lhe ele pegando-lhe na mão; ambas haveis de ter que almoçar.

Levou-a a outra loja em que não se viam faquinhas, mas uma grande quantidade de pratos, xícaras, bilhas de todos os tamanhos e de todas as cores. O rapazinho escolheu uma bilha azul e branca, muito bonita, pagou um tostão à dona da loja, e ato contínuo foi à leiteria, onde a mandou encher de leite. De todo o seu dinheiro, nada lhe sobrou.

A menina, doida de contente por ter uma bilha nova, sorriu-se e consolou-se. Retomou o caminho de casa, levando ao lado o seu novo conhecido, mas sempre com mil precauções para não tornar a cair.

E, ao separar-se dele, perguntou-lhe:

— Como te chamas?

— Vicente.

— E eu, Maria. A minha avó diz que ainda sou pequenina para guardar dinheiro; mas, quando crescer, hei de ter muito, e hei de te comprar um brinquedo, porque hoje foste um anjinho para mim.

As duas crianças ainda conversaram alguns instantes. Depois separaram-se, prometendo que haviam de ser amigos para sempre. Maria correu para avó, mostrou-lhe alvoroçada a sua bilhinha nova e contou-lhe tudo o que lhe aconteceu. Vicente seguiu para a escola, resplandecente de alegria, pela boa ação cometida.

Fonte: Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896. Disponível em Domínio Público.