quinta-feira, 5 de junho de 2008

Nilto Maciel (Homens de negócios)

A alta do dólar deixou Adão muito feliz. Aquilo merecia comemoração. E convidou sua mulher para jantarem fora. No Restaurante Business.

A felicidade do marido de pronto contagiou Cândida. Nem queria saber que mecanismos da economia haviam levado dinheiro aos bolsos de Adão. Importavam o presente e o futuro próximo: o jantar e mais jóias, vestidos, viagens...

Sentaram-se à mesa e trocavam idéias sobre o primeiro drinque. Ele preferia uísque. Ela pensava em champanhe, vinho ou licor.

Passava próximo à mesa deles o colunista social Patrício. E parou para cumprimentá-los.

– Já me falaram de sua vitória de hoje. Parabéns!

Adão sorriu e disse duas ou três palavras sem sentido aparente. O outro seguiu em frente.

– Não sei como ele vai conseguir ler aquele livro.

– Que livro?

– Você não viu?

Patrício conduzia um livro de título em inglês. Com certeza sobre economia.

Finalmente decidida pelo champanhe, Cândida voltou a sorrir. Os olhos de Adão não a viam, porém. Preferiam ver as pessoas em volta de outra mesa. Pareciam muito mais alegres que sua mulherzinha. Especialmente o colunista.

– Ele está falando de nós dois.

– Quem, meu bem?

Esvaziada sua taça, Adão perguntou se seria conveniente tomar outro uísque.

– E o jantar?

Ele nem percebeu o sentido da pergunta. Olhava para os movimentos de Patrício. Levantara-se, afastara a cadeira e caminhava no rumo deles.

– Ele está vindo para cá.

– Quem, meu bem?

O colunista queria apresentá-los a uns amigos. Ora, a noite devia ser de muita alegria. Por que não se juntarem todos?

– Vamos então para a mesa de vocês.

Cândida sorriu. Seu champanhe já devia estar morno. As grandes letras do livro de Patrício brilhavam: Galbraith ou Gallbrat?

Chegados à grande mesa, o colunista tratou de apresentar Adão e Cândida aos outros. Eram três senhores: Fausto, Celestino e Petrônio. Fumavam e bebiam. Uma garrafa de uísque quase vazia balançava no centro da mesa. O odor de cigarros fumados infestava o ar. Os cinzeiros estavam repletos de pontas.

Não havia nenhum indício de que fossem jantar. O garçom não parava de servir bebidas. Das bocas dos homens os sons irrompiam feito lavas. Como se ninguém ouvisse ninguém. E ora riam, ora pareciam zangados.

– Vamos sair daqui, meu bem – murmurou Cândida. – Estou tão cansada...
Ao mesmo tempo, um dos homens dizia qualquer grande verdade. Pois os outros, calados, olhavam para ele.

– Se não for a alma, é o espírito – completou Fausto.

E todos gargalharam e fizeram um brinde à inteligência do médico. Exceto Cândida, que repetiu o apelo.

Adão, porém, parecia mais interessado na filosofice dos negócios. Aqueles senhores pertenciam ao seu mundo. O jantar ficaria para depois. Afinal, queria comemorar a alta do dólar. E nada mais oportuno para a ocasião do que um legítimo scotch.

Derrotada, Cândida sorriu e olhou para trás. E viu mesas, cadeiras e pessoas como aquelas de seu ambiente. Havia até um belo rapaz parecido com Adão. Apenas mais novo. E uma bonita moça parecida consigo. Talvez namorados ou noivos. Deviam se amar. Como ela e Adão se amaram. A primeira noite e o sonho romântico a desfazer-se. O amor não passava daquilo. Animalidade pura.

Quando se voltou para a frente, um olho malicioso piscava para ela. Buscou o marido, sua couraça. Ele gargalhava, como se tivesse uma convulsão. Um dos homens dava palmadas nas costas de outro.

– A do Armando é pior, meus amigos.

O olho malicioso deixou de piscar, Adão enxugou os seus e o homem das palmadas coçou as costas.

– Dizem que sustenta um pobretão de vinte e poucos anos.

Mais dois ou três comentários sobre a mulher de Armando, e Patrício aproximou a boca do ouvido de Fausto. Quase não disse nada. Ciciou apenas. Logo, porém, chegou aos ouvidos de Celestino uma versão das palavras do colunista social. Não tardou, até Cândida se inteirou do teor do cochicho.

Por último, Adão alcançou a ponta da maledicência. E, alegando cansaço e embriaguez, decidiu ir embora.

Com a retirada do casal, as gargalhadas voltaram à mesa.

– É mesmo verdade, Patrício?

– Ora, minhas informantes não mentem.

Mais uísque beberam, mais cigarros fumaram, mais palavras disseram. Fulano gostava de domésticas, sicrano de mocinhas, beltrano de rapazes.

– Você gosta de quê, Celestino?

Houve risadas e a expectativa da resposta terminou impondo silêncio.

– Não vai dizer? – insistiu Patrício.

Celestino engoliu dois dedos de bebida.

– Ele adora brincar com as filhinhas do Fausto.

– Mentira! Mentira, seu safado!

– Não, não é mentira. Mas não fique nervoso. Você não será levado à fogueira. Não estamos mais na Idade Média.

Enquanto o colunista falava, os outros bebiam sofregamente. Celestino, porém, não quis ouvir a lengalenga do companheiro. E retirou-se. No banheiro trancou-se. Olhou para o espelho. Aquele homem feio não precisava mais viver. Retirou o revólver do bolso e apontou para o ouvido.

O estampido chamou a atenção dos garçons e fregueses do Business. Houve correria, confusão.

Horas depois, Adão e Cândida acordaram assustados. Ao telefone, uma voz trôpega falava da morte de Celestino. E eles deveriam prestar declarações à polícia.

Fonte:
http://www.secrel.com.br/jpoesia/
http://oglobo.oglobo.com (imagem)

Gérson Valle (Vozes Novas para Velhos Ventos)

por Fernando Py

Vozes novas para velhos ventos, de Gérson Valle (Brasília: Thesaurus, 2007)1, é um livro que se assemelha ao último caso: sem exceção, trata-se de contos inspirados em obras-primas da literatura universal, sem fazer paráfrase ou paródia do texto original. Se as histórias de Valle não imitam nem tentam “melhorar” a fonte de que se servem, é porque o autor, embora se sentisse subjugado pelo alto valor da obra-prima referenciada, soube trabalhar numa tônica muito diferente, em que apenas o “miolo” foi conservado, ou nem isso.

Para o leitor comum, e mesmo para o escritor, contumaz ou não, os grandes clássicos da literatura exercem uma atração profunda e irresistível, sobretudo quando se trata de um principiante das letras. Este vai se sentir estimulado pela leitura de uma obra-prima, estímulo que lhe serve de apoio e, muitas vezes, de material a ser imitado ou emulado, de acordo com seu talento e perspectivas. Se o primeiro é escasso e as segundas ainda não lhe estão bem delineadas na mente, o produto em geral será uma imitação servil ou até assume contornos de plágio involuntário. Se for dotado de maior talento e inventividade, poderá escrever algo importante, que será lido com interesse apesar das óbvias relações com a obra-prima de referência. Existem casos em que o autor parte deliberadamente de um texto para construir outro, seja na tentativa de explicar certos episódios, seja para concluir de maneira diversa um desenlace que não lhe satisfaz – ou que oferece uma solução diversa –, seja ainda para retomar personagens ou até aspectos do texto original e elaborar um texto inteiramente diferente.

No primeiro caso, temos o romance A esfinge dos gelos, de Júlio Verne, e o conto To the mountains of madness ('Nas montanhas da loucura'), do norte-americano H. P. Lovecraft, ambos tentando explicar episódios estranhos ou deixados incompletos na Narrativa de Arthur Gordon Pym, de Edgar Allan Poe. O segundo caso pode ser explicitado por vários contos, em geral de ficção policial, como os de Jack Moffitt, que “refez” contos de Maupassant ('O colar de brilhantes') e outros. O último caso é o do livro Missa do galo: variações sobre o mesmo tema, em que seis escritores brasileiros retomam personagens do conto machadiano e produzem textos que pouco têm a ver com a história que lhes serviu de fonte. Em todos os casos, podemos ver que o escritor recria o texto porém os personagens já não são exatamente os mesmos ou quase não aparecem, como em Júlio Verne, estando ausentes de todo em Lovecraft. A esposa frívola do conto de Maupassant não se repete exatamente na história de Moffitt, e os personagens machadianos têm perfil psicológico variado nas histórias dos outros escritores. São mais ou menos como clones que o autor do texto aproveita para dar uma aparência do personagem original, para sugerir verossimilhança ao que está sendo narrado.

Vozes novas para velhos ventos, de Gérson Valle (Brasília: Thesaurus, 2007)1, é um livro que se assemelha ao último caso: sem exceção, trata-se de contos inspirados em obras-primas da literatura universal, sem fazer paráfrase ou paródia do texto original. Se as histórias de Valle não imitam nem tentam “melhorar” a fonte de que se servem, é porque o autor, embora se sentisse subjugado pelo alto valor da obra-prima referenciada, soube trabalhar numa tônica muito diferente, em que apenas o “miolo” foi conservado, ou nem isso. Acima de tudo, Valle fez questão de manter o “espírito” do texto original; assim, as obras-primas em que se baseou são unicamente pontos de partida para a elaboração de um texto bastante diverso, um texto inventivo, mais próprio à criação de Gérson Valle, criação que às vezes surpreende nas entrelinhas da elaboração de uma frase.

O primeiro dos dez textos do livro – “Amor clonado” – aborda justamente o problema da clonagem, tendo como referência o conto “As ruínas circulares”, do argentino Jorge Luis Borges. Assim como em Borges um homem deseja criar um ser humano, simples aparência, por meio do sonho, e afinal descobre que ele próprio era uma aparência, que outra pessoa o estava sonhando, o Dr. Pater Clonem, personagem de Gérson Valle, reproduz uma aparência de mulher, o clone feminino Broda Bruda Hermana y Hermana, por quem, qual novo Pigmaleão, se apaixona. Mas não consegue que esse clone corresponda ao seu amor, e sua frustração o faz perceber a inanidade daquele amor pela criatura que realizou, cuja ética, por sua vez, poderia fazê-la desejar não somente o corpo, “que se copia e reproduz, mas o impossível além de todos nós...”
Em “Bromélias enfiteutas”, a fonte de referência é o romance Contraponto, de Aldous Huxley. A técnica de Huxley consiste em justapor na narrativa dois ou mais blocos de acontecimentos com certa independência de desenvolvimento, mas sempre ligados entre si. Gérson Valle se utiliza não propriamente do contraponto huxleyano mas de uma espécie de contínuo flash-back. no qual o economista Carlos Carreira da Costa, negro e de origem humilde, recorda o seu passado principalmente desde uma ocasião em que estivera por algum tempo em Petrópolis, de namoro com uma mocinha rica. O conto põe em relevo, com alguma ironia, os prejuízos que o tempo e a ocupação desenfreada das encostas causaram na paisagem e no nível de vida da cidade imperial.

O terceiro texto, “Missas de galo”, aproveita o mote do conto de Machado para desenvolver uma história bastante diversa. É o caso de um sujeito muito dedicado à obra machadiana, e que vai a Parati a fim de procurar conhecer pessoalmente o cineasta Nélson Pereira dos Santos, que ali filmava Um azyllo muito louco, baseado em 'O alienista', conto do livro Papéis avulsos de Machado. E assim como na “Missa do galo” de Machado, o adolescente Nogueira, ingênuo e de boa-fé, perde canhestramente a oportunidade de ouro “de comer uma balzaquiana” como a Conceição, assim o narrador se perde e se atrapalha diante do cineasta a quem admira e não realiza seu maior desejo, além de mostrar-se inadaptado às condições de vida que exigem mais determinação e força de vontade.

Já o conto “Crimes sem castigos”, a partir mesmo do título, tem como referência o romance Crime e castigo de Dostoievski. O romance do escritor russo se enquadra na questão do “crime permitido”, ou seja, aquele que do ponto de vista do criminoso seria perdoável, como, por ex., a eutanásia. Assim, o protagonista da história de Gérson Valle – um rapaz russo de nome (Raskolnikov) americanizado significativamente para Nick Raskow, que vive no exílio em Nova York – adora passear no Central Park, onde se sente em casa, apaixona-se por uma moça, Sonetchka (diminutivo de Sônia, como a heroína de Dostoievski), que se prostitui para sustentar o velho pai bêbado e imagina que matá-lo seria um benefício. Percebe que não conseguiria cometer o crime. Mas conhece duas velhinhas que só fazem se lamentar da solidão na velhice e desejam que a morte as visite. Raskow então resolve lhes fazer a vontade. E passou a viver disso, poupando o desgosto da velhice às pessoas idosas e solitárias, encontrando naquele serviço a sua identificação com o american way of life, numa sociedade onde só é apreciado aquele que cumpre “um trabalho com competência”, seja qual for... A visível ironia de Valle, nem sempre exposta com nitidez, surge aqui em todo o seu caráter subreptício de condenação.

O conto seguinte, “Alguma coisa vai acontecer”, cujo texto inspirador é o romance Doutor Fausto (1947), de Thomas Mann, recupera a idéia de fazer um pacto com o demônio, vendendo a alma em troca de prazeres ou benefícios terrenos. A história de Mann deve provir da lenda de um certo alemão Faust (1480? – 1540?), que teria vendido a alma ao diabo, fato que, de certa maneira, sintetiza as aspirações de dominação do homem renascentista. A lenda se tornou grandemente popular, tendo sido aproveitada por diversos escritores, como Christopher Marlowe (1588) e sobretudo Goethe, que lhe confere uma alta significação filosófica e humana. O romance de Mann foi escrito durante a II Guerra Mundial, e o doutor Fausto é um compositor erudito, Adrian Leverkühn, personagem que alcança grande força simbólica, corporificando a soberania e a queda da Alemanha inteira, à época em que a nação compactuava com as forças demoníacas do nazismo.

O protagonista do conto de Gérson Valle é um funcionário público que conhece num dos bares da Cinelândia, no Rio de Janeiro, um indivíduo manco, de cabelos de fogo, que lhe faz promessas, “como se dissesse: Tome seus chopinhos e eu lhe darei tudo que suas frustrações não lhe têm permitido. Não tem dúvida que, durante a noite, alguma coisa vai acontecer...” E assim, durante anos, iludido no íntimo, o funcionário, que nunca mais se encontrou com o sujeito manco, fica à espera do que virá... De certo modo, Gérson Valle está ironizando a credulidade do funcionalismo público – e por extensão, do próprio povo – nas promessas sempre postergadas dos políticos.

Quando a humanidade pode se ver reduzida a simples números de registro e identificação, seria o caso de organizar uma insurreição geral, ainda mais que praticamente todos os seus atos são vigiados por um ser superior que se intitula Big Brother. Este é o caso do romance 1984, de George Orwell, referência para o conto “027.135”, de Gérson Valle. Sabemos que, na história de Orwell, um homem se apaixona por uma mulher (secretamente, pois o amor é proibido e as pessoas só podem ter relações exclusivamente para procriar, quase como animais) e ambos decidem enfrentar o poder do Big Brother. Algo semelhante ocorre na história de Valle, com algumas diferenças fundamentais. O homem, aliás narrador do conto, é tratado pelo número que dá título à história; possui um temperamento bastante contemplativo e esse é o apelido que a moça Barrolda lhe dá. Por sua vez, é Barrolda quem, achando excessiva a intromissão dos dirigentes no controle de suas vidas, sugere uma rebelião, que afinal não se concretiza. Contemplativo se perde em filosofias vagas, mostrando-se incapaz de passar da reflexão à ação, como muita gente no nosso mundo.

O protagonista do conto seguinte, “O fantasma de Hamlet”, é um certo mineiro Joel Campos. Aqui, a história de Valle tem como referencial a peça de Shakespeare, enfatizada sob o aspecto da dúvida. Joel Campos desconfia da eficácia da atual globalização, sobretudo quando chega pela primeira vez a Londres, de avião – para ele, como para muita gente, “todos os aeroportos se parecem”.2 As decepções que sofre na capital britânica, que julgara melhor do que parecia ser, e suas dúvidas a respeito do personagem de Shakespeare, cuja peça assistira então pela primeira vez, acabam por fazer com que ele alugue um carro e saia de qualquer jeito, na contramão, como para libertar-se psicologicamente daquela globalização castradora e impor seu modo de ser em todas as circunstâncias.

Temos visto que os textos aproveitados por Gérson Valle como referência para seus contos são quase sempre, além de obras-primas, histórias que destilam um tom especial, seja no assunto ou na maneira de desenvolvê-lo, seja na atração exercida sobre o leitor – e aí Gérson Valle é um pouco de todos nós, leitores. O mesmo ocorre com o romance O processo, de Franz Kafka, que serve como ponto de partida para o conto “O encontro”. O título já é estranho em si, pois uma das características do escritor tcheco é o “desencontro”, tanto dos protagonistas com os demais personagens, quanto consigo mesmos. Mas o encontro da história de Valle se refere a um encontro verdadeiro com K., “um ser tão comum!” exclama o narrador. Esse encontro, todavia, é de fato um tête-à-tête incompleto, pois K tanto pode ser o autor Kafka como um de seus muitos personagens chamados apenas por essa inicial, ou que a transportam no nome. De qualquer modo, o narrador tenta discutir com esse K todas as dúvidas e perplexidades que a leitura de Kafka lhe provoca. Mas em vão. K não aceita discutir, pois o enorme sentimento de culpa que carrega consigo impede que seu retrato se faça completo aos olhos e à palavra do narrador.

Mas é necessário que o leitor de Valle atente para o que escrevi no começo a propósito das entrelinhas da elaboração de uma frase. “O encontro” principia com a seguinte frase: “Na frente da catedral, encontrei K.” Nada de mais? Vejamos: “na frente” pode significar, “no princípio de”; catedral começa com ca, ou seja, o fonema k. Assim temos: “no começo da catedral achei o fonema k.” Dirão que é irrelevante, e eu concordaria se em Kafka e na história de Valle a catedral não tivesse nenhum destaque. Mas não é o caso, pois qualquer leitor de Kafka sabe como é importante a letra (o fonema) K em sua obra. Valle, portanto, de modo subreptício, concede pistas para a leitura de seus textos.

O conto final não tem como referência uma obra literária, mas um conjunto de textos musicais. “24 prelúdios” tem como origem o conjunto das 24 peças com esse nome de Chopin, obra-prima do Romantismo pós-beethoveniano. Aqui, Valle cede ao seu lado de profundo conhecedor de música, não só como teórico mas libretista de óperas (como Olga, de Jorge Antunes, e Fronteira, de Guilherme Bauer, baseada no romance de Cornélio Pena), e que possui diversos textos poéticos musicados por Ernani Aguiar, Ricardo Tacuchian e muitos outros. Sua história narra, em 24 parágrafos, a vida de um certo Frederico, exímio no violão. O texto acompanha, até certo ponto, a vida e os amores do próprio Chopin, pois entre outras coisas conhece uma moça Aurora, que também se faz chamar Jorge,3 com quem vive um romance cheio de altos e baixos, exatamente como Chopin. A história, como na realidade que conhecemos, se resolve num rompimento entre os dois. E assim se encerra o livro de Gérson Valle, que, por sua originalidade e desenvolvimento, é um dos melhores lançamentos deste ano.
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Notas
1. Prêmio Nacional da ANE (Associação Nacional de Escritores, de Brasília) no ano de 2006.
2. Adaptação da frase de Georges Bernanos no começo do romance Journal d'un curé de campagne: “Toutes les paroisses se ressemblent” ('Todas as paróquias se assemelham”.)
3. Aurora: prenome da escritora francesa Aurore Dupin, baronesa Dudevant (1804-1976); Jorge, nome pelo qual era mais conhecida como escritora (George Sand). Teve uma relação amorosa e prolongada com Chopin.
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Fernando Py é poeta, escritor e tradutor, membro da Academia Brasileira de Poesia e da Academia Petropolitana de Letras.
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Fonte:
Jornal de Poesia
http://www.secrel.com.br/jpoesia/gvalle.html

Carlo Manzoni (Porcaloca)

"Desculpe, foi o senhor que telefonou para que eu viesse amputar a sua perna?

"Eu? O que é isso? Nem sonhando!"

"Mas o senhor se chama Dante del Torro, não é? Faz meia-hora, um fulano me telefonou para que viesse alguém que lhe cortasse uma perna."

"Eu não telefonei. Deve ser outro Dante del Torro."

"Não, não... O endereço que me deram foi este. E neste endereço só há um Dante del Torro, que é o senhor. Um parente seu deve ter telefonado."

"Impossível. Hortênsia, por acaso você telefonou para que viessem cortar a minha perna?"

"Eu, não. Telefonei para o mercadinho pedindo que mandasse marmelada."

"Aí está, viu? Se o senhor tiver um doce de marmelada..."

"Como posso ter um doce de marmelada? Eu trouxe uma serra, pois quem me telefonou me pediu que trouxesse a serra, uma vez que na casa não existia uma serra."

"Engana-se. Eu tenho uma serra."

"Mas é evidente que a sua não deve servir para cortar uma perna."

"Como não? É igual a sua."

"Mas se é igual a minha, por que me levaram ao incômodo de trazer outra serra?"

"Ó Dante, deixa de discussão, homem de Deus. Deixa logo cortar esta maldita perna, mande-o embora e acabe logo com isso."

"Desculpa, Hortênsia, mas por que haverei eu de mandar cortar a minha perna quando não fui eu que telefonei? Tenho ou não tenho razão?"

"O senhor tem razão. Mas o que é que eu faço agora? Alguém telefona, eu compro uma serra nova, gasto meu dinheiro, venho até aqui e acabo perdendo o meu dia a troco de nada. O senhor também deve me compreender..."

"Bem, com boa vontade sempre se pode encontrar uma maneira de se chegar a um acordo. Tampouco ele, coitado, tem culpa. Escuta, Dante, você devia de algum modo concordar com ele. Por que não deixa que ele ampute um dedo seu?"

"Epa! Pára lá!, minha senhora: um dedo não é o suficiente!"

"Antes isso de que nada. Compreenda: é apenas para agradá-lo, porque eu poderia mandá-lo embora de mãos abanando, mesmo porque não fui eu quem o chamou.

"Bem, nesse caso, dois dedos."

"Ou um ou nada."

"Está bem, como quiser. Mas nesse caso, precisa que seja um polegar."

"Vá lá, vá lá... Que seja o polegar, já que me coloca nesta posição, está bem? E que seja esta a última vez, ouviu? Da próxima vez me telefone de volta para confirmar a chamada... Se o senhor não fosse um cara tão simpático... Pode... Ai!... porc... ahhh....vá aos poucos, isso, aos pouquinhos... Uuuuh!"
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Sobre o Autor

Carlo Manzoni (1908), é autor de diversos livros de humor, entre eles "Brava Gente", "É sempre festa", traduzidos para o português, e "La Vera Storia (O Quasi) Del Cognac", "Ti Svito Le Tonsille, Piccola", "Io, Quella La Faccio A Fette!", "50 Scontri Col Signor Veneranda". Nascido na Itália, esse milanês mistura como poucos o patético, o grotesco, o non-sense e o absurdo em textos de humor negro.
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Fonte:
COSTA, Flávio Moreira da (org.). Os 100 melhores contos de humor da literatura universal. RJ: Ediouro, 2001, pág. 481.Disponível em http://www.releituras.com/

José Afrânio Moreira Duarte (1931 - 2008)

Imortal da Academia Mineira de Letras, José Afrânio Moreira Duarte nasceu em Alvinópolis, Minas Gerais, em 8 de maio de 1931, mas vive em Belo Horizonte desde 5 de fevereiro de 1955, onde bacharelou-se em Direito pela UFMG. Foi duas vezes condecorado pelo Governo de Minas Gerais, com a Medalha da Inconfidência e a Medalha do Centenário de Belo Horizonte.

Conhecido de todos os escritores de Minas Gerais e do Brasil, José Afrânio Moreira Duarte é contista, ensaísta, crítico literário, entrevistador e poeta. Publicou os contos “O Menino do Parque”, “A Muralha de Vidro” e “Azul: Estranhos Caminhos” e os ensaios “Fernando Pessoa e os Caminhos da Solidão” e “Henriqueta Lisboa: Poesia Plena”.
Faleceu 4 de junho de 2008, em sua residencia, em Belo Horizonte. Foi sepultado no mesmo dia.

Fonte:
Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais
http://www.cultura.mg.gov.br/

José Afrânio Moreira Duarte (Azul: Estranhos caminhos)

por Francisco Miguel de Moura

“Nenhum sonho termina”, diz o poeta Fernando Pessoa. E a literatura é um sonho, do qual os escritores vocacionados jamais se despedirão. Exemplo de pessoa que nasceu para a literatura é José Afrânio Moreira Duarte, de 8 de maio de 1931, Alvinópolis, Minas Gerais, mas há muito tempo mesmo residindo em Belo Horizonte. Homem simples, estilo simples, embora possua cultura refinada, da melhor. Publicou no ano passado o terceiro livro de contos, mas não acredito que seja o seu “canto do cisne”. Observei em algumas peças de cunho memorialístico que há outros contos ali embutidos. Falo apenas no gênero conto. Pois, certamente continuará a ser o excelente crítico que é, devendo neste pequeno espaço lembrar, entre tantos dos seus trabalhos de apreciação da arte literária, o seu “Fernando Pessoa e os Caminhos da Solidão”, um clássico no gênero em nossa literatura. Seu fazer contístico caracteriza-se, especialmente, pela ternura que há na infância e no poeta que ele é visceralmente (já tendo publicado também livro de poemas), a mostrar que partem de um coração que sofre o mundo – o seu e o do outro – não obstante, sem se deixar levar pela tentação do sentimentalismo que tem estragado tantas boas iniciativas. José Afrânio, desde “O Menino do Parque”, passando por “A Muralha de Vidro” e agora com este “Azul: Estranhos Caminhos” segue a estrada que leva ao conto impressionista tipo Katerine Mansfield, só para citar um ícone. Porém, os seus são limpamente seus. Uma individualidade tocante, que capta a alma das pessoas, pois a história (ou a quase estória), é capaz de despertar no leitor aqueles sentimentos decorrentes da tristeza, da melancolia, da paixão, da compaixão, de desejos outros, enfim, aos quais as almas estão sempre abertas. Mesmo contando, desconta e encanta com seus flash-backs, seus saltos que fogem ao tempo e ao certinho conto de começo, meio e fim.

Não posso dizer qual o melhor que achei, pois todos me cativaram, mas devo transcrever trecho do “Corpo Presente”, quando a avó e o neto (menino) dialogam, no final:

–“ Tudo acabou... Tudo acabou...

– Engana-se, José – falou a avó. – A vida de agora é muito mais vida. Espere...

O cocheiro não usava rédea, mas controlava tudo apenas estendendo as mãos em direção das aves. Movimentaram-se os brancos cisnes. E o estranho veículo iniciou viagem rumo a ignotas regiões de nuvens e mistérios.” Um conto fantástico à brasileira. Na maioria, entretanto, são casos de amores feitos, desfeitos com ou sem morte, por desenganos, desencontros... Salvo os que trabalham sua memória de menino. “Aquele amor cruel e carinhoso / na memória indelével que perdura...” de Teófilo Dias, epígrafe do conto “A luz que não se apaga”, definiria o livro com relação à matéria. São todos contos premiados em concursos, que podem ser lidos como exemplo de leveza e arte. Termino o artigo como terminam a história e o livro, nesta frase lapidar, que ninguém esquecerá jamais: “Só então compreendeu quanto ainda a amava.”
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*Francisco Miguel de Moura é escritor, conselheiro do Conselho Estadual de Cultura, membro-titular da Academia Piauiense de Letras e membro-correspondente da Academia Mineira de Letras.

Fonte:
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=28614&cat=Artigos&vinda=S

José Afrânio Moreira Duarte (O barranco mais fotografado do Brasil)

Marília foi uma irmã que tive, doce e terna corno seu próprio lindo nome. Tive, não. Tenho. Não sei se realmente “as pessoas não morrem: ficam encantadas”, como disse Guimarães Rosa, mas estou certo de que elas permanecem bem vivas noutra dimensão muito superior à nossa, esperando os entes queridos que por aqui deixaram.

Cheia de amor à vida e ao próximo, Marília, desde a infância, fez de sua existência um permanente ato de doação, pensando sempre no próximo primeiro e só depois em si.

Sua diversão predileta, entre as muitas que tinha, era viajar. Conheceu quase todas as capitais brasileiras e foi também à Argentina.

Em setembro de 1992 seguiu para sua segunda viagem à Europa. Reviu a Holanda, a Itália e a França, tendo conhecido então a Áustria, a Bélgica e a Suíça.

Quando regressou, no início de novembro, ao abrir a porta do apartamento para recebê-la, surpreendi-me por achá-la triste e abatida, o que não era habitual.

Disse-lhe:

– Marília, estou estranhando. Nunca vi você assim. Queria que você chegasse com aquela alegria esfuziante, como foi da primeira vez que você voltou do Paraná.
Melancólica, ela respondeu:

– Não sei explicar, mas, mesmo na Europa, encantada com tudo que via, eu me senti muito cansada, desanimada. Talvez seja porque nós viajamos muito de trem, pensando que assim seria melhor para ter um conhecimento mais preciso dos países visitados.

Sintomas de doença acentuaram-se e o médico constatou que se tratava de leucemia, já em estado grave.

Marília foi internada no Hospital Felício Roxo, em Belo Horizonte. Embora fossem remotas as possibilidades de cura, o chefe da equipe médica falou com um dos meus irmãos:

– Se ela melhorar, aconselho levá-la a Curitiba, para um transplante de medula, pois é lá que se faz esta cirurgia melhor no Brasil.

No vigésimo sexto dia de internação, 16 de dezembro de 1992, Marília partiu para a Pátria Espiritual, suavemente, durante o sono, deixando enorme e perene saudade em todos nos.

Diariamente eu a rememoro e muitas vezes tenho a forte impressão de que ela está novamente junto a mim.

Lembro-me especialmente de sua volta da primeira viagem ao Paraná, a que se seguiram numerosas outras.

Nosso irmão Mauro trabalhou até aposentar-se como economista da Construtora Andrade Gutierrez, sediada em Belo horizonte, mas preferia trabalhar nos acampamentos, onde havia obras, tendo demorado muito a aceitar os reiterados convites para exercer sua profissão no escritório central. Numa dessas múltiplas andanças, foi parar em Salto Osório, no Estado do Paraná, quando a Andrade Gutierrez construía uma usina ali. Marília foi visitá-lo.

No dia do seu regresso, ela parecia a própria felicidade em figura de gente, irradiando alegria por quarenta léguas quadradas. Depois de dar notícias dos parentes queridos – irmão, cunhada e sobrinhos, estes naquele tempo ainda meninos – ela falou longamente sobre o passeio, dizendo-me:

– Você precisa conhecer o Estado do Paraná, é simplesmente maravilhoso. Quem nunca foi lá, não sabe o que está perdendo. Já conheço a maioria das capitais brasileiras e posso dizer que Curitiba está entre as melhores e mais lindas. A cidade é muito boa, mesmo, impressionado desde logo por sua extraordinária limpeza, por muitas ruas floridas e também pelo trânsito bem organizado que pode e deve servir de modelo para os outros grandes centros do país. Poucas vezes vi tanta gente bonita quanto em Curitiba.

Gostei tanto de lá que, em vez de ir logo para Salto Osório, resolvi ficar uns dias conhecendo melhor a bela capital paranaense. Curitiba tem um encanto de parque onde é uma delícia passear e permanecer. Não me lembro bem do nome, mas acho que se chama Passeio Público.

O teatro Guaíra é um primor. Ele está para Curitiba assim como o Palácio das Artes está para Belo Horizonte, é onde são levados os melhores espetáculos. Adorei-o.

E em Curitiba há um bairro simpático, chamado Santa Felicidade, onde cantinas acolhedoras servem excelentes massas italianas, acompanhadas de deliciosos vinhos.

Fiz também um passeio fora da capital, indo a Vila Velha, onde, através dos séculos, a natureza parece haver feito esculturas fascinantes nas pedras, principalmente uma no formato de um cálice.

No último dia eu iria viajar para Salto Osório, finalmente, mas só à noite. Como já tinha visto tudo que queria ver em Curitiba, fiz uma viagem rápida de trem-de-ferro, de Curitiba a Paranaguá. As paisagens se sucediam, encantadoras.

Houve uma hora em que o simpático jovem guia da empresa turística em que me inscrevi disse em alto e bom som:

– Preparem-se para ver o Véu da Noiva e, pouco depois, o barranco mais fotografado do Brasil.

Impressionei-me bem com o Véu da Noiva, uma bela queda d’água, mas, curiosa, perguntei ao guia que história era aquela de o barranco mais fotografado do Brasil, coisa que não entendi.
Sorridente, o mocinho explicou:

– É muito simples. Como você vê, o trem hoje está cheio e todos os dias é assim. Quando faço aquele aviso a que você se refere, os turistas preparam as máquinas para tirar o retrato do Véu da Noiva, mas, como o trem é muito veloz, não dá tempo e então eles fotografam mesmo é o barranco que aparece logo a seguir. É por isso que eu afirmo, sem medo de errar, ser ele o barranco mais fotografado do Brasil...

Fonte:
Jornal de Poesia
http://www.secrel.com.br/jpoesia/joseafranio1.html

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Lançamento "Rumores"


O grupo Coesão Poética de Sorocaba está completando três anos de existência e tem o prazer de convidá-lo a participar do lançamento do livro “Rumores”, uma coletânea de poemas dos poetas: Ana Lima, Córdoba Jr., Douglas Santos, Gonçalves Viana, Gustavo Godzila, Messias dos Santos, Nicanor Pereira e Tânia Orsi, que fazem parte do grupo.

O músico Merê marcará a sua participação tocando durante o evento e haverá a performance do grupo, sob a direção de Benedito de Oliveira (Benão) e a participação musical de Marcos Boi.

O lançamento acontecerá no dia 06 de junho, às 19h, no Gabinete de Leitura Sorocabano, localizado na Praça Coronel Fernando Prestes, 21, Centro Sorocaba/SP.

Cintian Moraes - jornalista
Contato: (15) 8119.2476

Fonte:
E-mail enviado pelo escritor sorocabano Douglas Lara.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Milton Hatoum (Uma novela exemplar)

Na literatura brasileira, não são numerosos os prosadores que conquistaram um grande público leitor. Desse punhado de best-sellers, nenhum foi tão popular como Jorge Amado. E isso se deve a vários aspectos. O escritor baiano não se preocupou em criar uma linguagem inovadora, nem mesmo em estruturar ou organizar a narrativa com ousadia, como fez Osman Lins em Avalovara, Nove, Novena e A rainha dos cárceres da Grécia. No entanto, se a obra de Amado é carente de forma e de rigor na linguagem, é rica no universo ficcional. Em seus primeiros romances, ele se aproximou de um regionalismo empenhado em registrar a vida da gente pobre da Bahia urbana e rural.

A partir da década de 1950, sua obra dá uma guinada: a denúncia social passa a ser vista por outro ângulo e a ser trabalhada por outro viés, subtraindo ou atenuando a intenção ideológica para encontrar no exotismo, no humor, na sensualidade e no autoritarismo da sociedade baiana as forças de sua nova ficção. Em romances como Gabriela, cravo e canela e Dona Flor e seus dois maridos, o lugar dos personagens sofridos de Capitães de areia e dos pobres-diabos que se amontoam no cortiço de Suor torna-se mais restrito. O novo romance de Amado é povoado de prostitutas, rufiões, malandros, vagabundos, funcionários públicos, poetas, jogadores, marinheiros, cafetões, coronéis e proprietários poderosos e inescrupulosos.

A facilidade com que Amado escrevia, seu jeito bonachão, sua alegre e despretensiosa obsessão de apenas narrar boas histórias, tudo isso gerou comentários implicantes e irritadiços de alguns críticos e até mesmo escritores. Mas nada disso diminuiu seu público leitor, pois em todos os continentes a obra de Amado ainda é a mais lida, conhecida e traduzida da literatura brasileira. Quanto aos críticos e escritores, não se deve omitir os comentários relevantes e certeiros de Graciliano Ramos, Antonio Candido, Alfredo Bosi, José Paulo Paes, Ferreira Gullar e Vinicius de Moraes, entre outros. Isso sem contar a produção de críticos mais jovens, que têm publicado dezenas de teses e ensaios sobre a obra de Amado. Sem dúvida, algumas restrições são legítimas. Por exemplo: o narrador idealiza com freqüência os pobres e humildes da Bahia; um exotismo exagerado pode transmitir a muitos leitores um sentimento de exaltação dos valores e da cultura africana e baiana, que, afinal, fazem parte da cultura brasileira. Uma mudança de tom e dicção separa o narrador culto das personagens populares, e essa disparidade pode ser um problema. Apesar das falhas, a obra de Jorge Amado se impôs. Ele soube traduzir sua experiência cultural e lingüís tica numa prosa que parece não ter excluído nenhum estrato social da imensa pirâmide humana presente em seus romances. Nesse sentido, ele lembra um romancista prolífico da Europa do século XIX e anterior a Flaubert. Ou seja, um prosador despreocupado em erigir um monumento estético, mas com a vantagem de possuir a verve e a imaginação de um narrador oral do Norte da África.

Aos que nunca leram um livro de Amado, sugiro começar por uma novela: A morte e a morte de Quincas Berro Dágua. Nesse breve relato, além de ter encontrado o tom e o tamanho apropriados ao gênero, não há o desenho irregular de alguns romances excessivamente longos. A novela, mais próxima da concisão e da intensidade do conto, evita digressões, descrições e diálogos excessivos. Também nesse aspecto, A morte e a morte de Quincas Berro Dágua é uma narrativa bem realizada. Como diz o título, a novela refere-se a duas mortes do mesmo personagem. Há ainda uma terceira, que é a morte moral da família depois que o protagonista abandona o lar. Antes de ser o “cachaceiro-mor de Salvador”, o “rei dos vagabundos da Bahia”, jogador, marinheiro e farrista, Quincas foi Joaquim Soares da Cunha: o pacato e correto pai de família e funcionário público.

Morto, os familiares tentam recuperar a dignidade do outro, quando vivo. A novela trabalha com esses dois registros: a vida exemplar e a vida vagabunda. A primeira refere-se ao tedioso cotidiano de uma família de classe média de Salvador: a mulher rabugenta de Joaquim, sua filha não menos ranzinza, seu genro e seu irmão. Dois personagens na mesma pessoa, e dois passados de vidas opostas, no mesmo morto. Mas trata-se realmente de um morto? Durante o velório no quartinho de um cortiço na ladeira do Taboão, o defunto dirige a sua filha “um sorriso cínico, imoral, de quem se divertia”; xinga a tia Marocas com um apelido nada edificante e faz com o polegar um gesto de deboche. Quando os amigos chegam ao velório, não acreditam que Quincas está morto.

É notável o diálogo entre o “defunto” e os amigos. E não menos notável a andança dos vivos com o morto pelas ruas de Salvador até o cais, onde Quincas, velho marinheiro, embarca num saveiro para uma viagem ao fundo do mar. Durante uma tempestade, Quincas Berro Dágua se deixa envolver por sua própria vontade “num lençol de ondas e espuma”. Essa reviravolta do destino – o morto que se revela vivo e escolhe a hora e a maneira de morrer – é típica da novela enquanto gênero.

Mas algo nos diz que ele realmente está morto. Essa ambigüidade, que a narrativa explora o tempo todo, é um dos grandes feitos da novela. A farsa que Joaquim, ainda vivo, arma para a família, arma de novo enquanto defunto. Para o leitor, esse jeito farsante de morrer permanece em suspenso, como a reiteração de uma dúvida anunciada na abertura dessa novela de fato extraordinária, como poucas na literatura brasileira.
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Sobre o autor:
Milton Hatoum é escritor, autor de Relato de um certo Oriente, Dois irmãos e Cinzas do Norte, com o qual conquistou os prêmios Jabuti, como o livro do ano na categoria ficção, e Portugal Telecom, em primeiro lugar
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Fonte:
Entrelivros. edição 16. agosto 2006. Duetto Editorial.
http://www2.uol.com.br/entrelivros/artigos/

Jorge Fregadolli (O Vendedor)

Admiro muito as pessoas que sabem vender coisas. Qualquer coisa. No balcão de uma loja ou indo diretamente ao encontro do comprador. O vendedor me impressiona pelo seu fôlego, pelo seu farto assuntário, pela sua inata psicologia, até muitas vezes pela sua cara-de-pau...

Tenha ele o nome que tiver: picareta, corretor, agente de negócios, é sempre um mágico, um diplomata, um genial lutador que, se for desafiado, é capaz de vender geladeira a esquimó.

De vez em quando um deles aparece na casa da gente ou no escritório. Fala, toma um tempo precioso, chega a irritar pela sua insistência em vender aquilo que não queremos comprar. Todavia, eu gosto de ouvir os vendedores, para analisá-los. São pessoas realmente singulares.

Impressiona-me a paciência deles. Não se importam em levar “chá-de-cadeira”. Sentam-se numa sala-de-espera, uma, duas, três horas, aguardando a atenção do cliente. Nunca perdem o bom-humor, nunca lhes falta aquela piada sensacional para quebrar o gelo. Sabem de tudo. Entendem de futebol, de política, de samba. Entendem de qualquer coisa que o cliente resolva discutir. E, se levam um ”fora”, agradecem do mesmo jeito e prometem voltar no mês que vem. Voltam como se nada houvesse acontecido. E transam o negócio compensador.

O Norte do Paraná é, de certa forma, o produto do trabalho de uma grande multidão de vendedores. Desde os vendedores de terras para lavouras e lotes urbanos, até os que vendem casas, apartamentos, automóveis, máquinas, adubos, inseticidas, material de escritório, produtos de beleza, geléia-real, sapatos, livros, publicidade, tudo enfim.

O vendedor anima a praça. Estimula os investimentos. Faz o dinheiro rodar. É um agente do progresso e, ainda que algumas vezes nos obrigue a comprar o que não queremos, nem podemos, ainda assim a gente gosta dele e o admira.

Um desses gênios do comércio me contou que, certa ocasião, vendeu dois tratores a um homem que nem terras possuía, e para que os tratores não ficassem inúteis, acabou vendendo também um sítio ao mesmo freguês. Depois, ainda ao mesmo dito-cujo, vendeu adubos, pesticidas, uma bela colheitadeira e sei-lá-que-mais. Deu tamanha sorte, que o homem enriquecera em pouco tempo com aquele sítio, comprando mais terras e é hoje um de seus maiores fregueses.

O vendedor é aquele que jamais deixa a peteca cair. Pode estar a maior crise do mundo e ele continua pregando otimismo. Você acaba comprando as coisas dele pelo entusiasmo que ele injetou em sua vida.
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Sobre o Autor
Membro da Academia de Letras de Maringá
Cadeira nº.30 – Patrono: Monteiro Lobato
Advogado, jornalista, editor da Revista Tradição. Nasceu em Quatá – SP, no dia 02 de março de 1938. Autor do livro: “De olho na história”.
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Fonte:
Academia de Letras de Maringá. http://www.afacci.com.br/

Editora de Jundiaí (SP) levará 50 obras para a Bienal

Os autores jundiaienses entendem que este é o momento de mostrar qualidade. "Um sonho realizado". É assim que Márcio Martelli, proprietário da editora In House e escritor, descreve sua emoção por conseguir montar um estande na 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. O projeto se concretizou depois de o autor ´encasquetar´ que queria um espaço no evento. "Acordei um dia e pensei: quero expor na Bienal", conta. Ele lembra que a idéia parecia impossível. "Eu tinha isso como um anseio difícil de ser alcançado". Entretanto, Márcio provou que o impossível só existe para quem não corre atrás de seus objetivos. "Eu vi o preço do estande e resolvi alugar. Depois, comecei a reunir parceiros e autores que estão colaborando com a iniciativa", comenta.

Graças ao sonho do escritor, a In House é a primeira editora de Jundiaí a participar da Bienal do Livro. Mais de 300 escritores de Jundiaí e região vão expor seus trabalhos no local. "Temos muitos autores de qualidade. Todos estão muito empolgados. Eles querem muito participar", destaca.

Para a Bienal, a In House levará cerca de 50 títulos, entre poesias, prosas, antologias e infantis, sendo 30 lançamentos. "Também estaremos participando com parcerias com entidades e empresas que representam Jundiaí", comenta Márcio. Todos os visitantes que passarem pelo estande da In House serão presenteados com brindes: sacolas, postais, marcadores de páginas, revistas, catálogos e folders personalizados. Segundo Márcio, a editora fará pelo menos dois lançamentos por dia. Também haverá participação de escritores para autografar os livros e contadores de histórias.

Segundo Martelli, a presença da editora no evento é importante para divulgar o trabalho dos escritores de Jundiaí e região e levar o nome da cidade para um evento internacional. "É uma oportunidade para que outras editoras conheçam nosso trabalho. Nessa ocasião, algum escritor que publicou livros comigo pode ser contratado por uma editora maior", ressalta.

Fontes:
Jornal de Jundiaí. http://www.portaljj.com.br/interna.asp?int_id=50035
Douglas Lara. In: www.sorocaba.com.br/acontece

Laurentino Gomes faz palestra em Maringá no dia 6 de junho

Seu livro, que aborda os 200 anos desde a vinda da família real portuguesa ao Brasil, lidera há 30 semanas a lista dos mais vendidos no segmento não-ficção no País e é sucesso também em Portugal

Autor de "1808", um dos livros mais badalados dos últimos anos e há 30 semanas no topo da lista dos campeões de venda no segmento não-ficção no País, o jornalista Laurentino Gomes vem a Maringá no dia 6 de junho para uma palestra sobre a obra, que aborda os 200 anos da vinda da família real portuguesa.

O evento, programado para as 20h no Teatro Luzamor (ao lado do Parque do Ingá), é uma iniciativa da Academia de Letras de Maringá e Rádio CBN, com apoio de O Diário e Rádio Cultura AM.

Laurentino tem uma agenda concorrida e vem cumprindo nos últimos meses uma extensa programação de palestras, inclusive no exterior. Em Maringá, o jornalista vai fazer também o lançamento de "1808", best-seller que consumiu dez anos de pesquisas e já teria alcançado a venda de 300 mil exemplares até o final de abril. A obra também faz sucesso em Portugal, onde foi lançada no início do ano.

Laurentino Gomes (Maringá, 1956) formado pela Universidade Federal do Paraná com pós-graduação em Administração pela Universidade de São Paulo e cursos nas universidades de Cambridge, na Inglaterra, e Vanderbilt, nos Estados Unidos. Tem 30 anos de experiência como repórter e editor de alguns dos principais veículos de comunicação do Brasil, incluindo o jornal O Estado de S. Paulo e a revista Veja. Responsável por uma divisão da Editora Abril que responde por 23 revistas especializadas, Laurentino viveu em Maringá até os 18 anos, transferindo-se em seguida para Curitiba, onde cursou jornalismo na Universidade Federal do Paraná. Ele trabalhou também no jornal O Estado de S. Paulo.

Fontes:
http://www.paranashop.com.br/
Colaboração da presidente da Academia de Letras de Maringá, Olga Agulhon por e-mail.

Laurentino Gomes [1808: uma resenha]

"Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil"

Depois de uma exaustiva pesquisa em fontes as mais diversas durante mais de 10 anos, Laurentino Gomes nos brinda com esta narração definitiva sobre a fuga da Família Real Portuguesa para o Brasil, sob a escolta da Marinha Britânica.

Antecedentes

Portugal – uma das nações mais atrasadas da Europa em inícios do século XIX – encontrava-se freqüentemente diante da possibilidade concreta, estimulada e aconselhada por muitos a ter a sede de seu governo transferida para o Brasil, colônia da qual se tornara totalmente dependente. A cada crise no Continente Europeu a idéia se renova, mas somente a partir dos ecos da Revolução Francesa, mais particularmente em seu período Napoleônico, a idéia ganhou força e premência. Com maior vigor a partir de 1801 a idéia freqüentemente era cogitada. No entanto o Príncipe Regente D. João era fraco demais – inclusive fisicamente – medroso demais e indeciso demais para adotar medida de tão graves monta e repercussão.

Os monarcas "perdem a cabeça"

O Rei Jorge III, da Inglaterra, tinha ataques constantes de demência, amplamente relatados: trazia ao colo uma almofada que informava ser uma criança; criou uma "Nova Teoria da Santíssima Trindade" incluindo a si mesmo e a um criado, além de Deus; passava por vezes 3 dias sem dormir, tempo durante o qual passava a maior parte do tempo falando sem parar – e poucos compreendiam bem o que exatamente estava ele a dizer.

Em Portugal, D. Maria I, a Rainha Mãe, informava ver o fantasma de seu pai com freqüência, ensangüentado e clamando vingança; seus gritos – talvez a palavra "urros" expresse melhor o volume em que se expressava durante os ataques de demência – eram tão lancinantes que ela foi recolhida a um convento, declarada demente e seu segundo filho, despreparado para assumir o trono, D. João, foi nomeado Príncipe Regente.

Na França e em outros pontos da Europa reis e rainhas eram decapitados. Como bem o enfatiza Laurentino Gomes, "era um tempo em que os monarcas, literal e metaforicamente, perdiam a cabeça"

Decisão às pressas

Somente quando pressionado pelo avanço das tropas napoleônicas do General Junot, em fins de 1807 e pressionado pela Inglaterra, a decisão foi tomada de maneira tão apressada e atabalhoada que muitos bens dos fugitivos para o Brasil ficaram empilhados no cais: bagagem, livros da Real Biblioteca, prataria saqueada de igrejas, etc. Além disso, as embarcações vieram todas apinhadas de gente, sem os cuidados técnicos necessários a uma tão longa travessia (levaria cerca de 3 meses para atravessar o Atlântico nas rústicas naus da época): pelo menos dois navios sequer conseguiram zarpar e o suprimento dos que zarparam no dia 29 de novembro de 1807 mal eram suficientes para 2 ou 3 semanas. Foi sem dúvida uma fuga apressada e decidida às pressas e, sem a escolta britânica a prover quase tudo o que faltava, a viagem estaria fadada a uma tragédia.

Travessia conturbada e escala em Salvador

Enfrentando as saunas em que os navios selados da época se transformavam nos Trópicos, com água e refeições racionadas, condições sanitárias precaríssimas, a Corte e seus inúmeros lacaios e bajuladores – de ministros a clérigos e oportunistas com suas numerosas famílias – penou 3 meses de céu e mar. O escorbuto (falta de vitamina C) e outras moléstias ceifaram vidas, uma infestação de piolhos obrigou a todos a raspar a cabeça, uma tormenta provocou um desvio de rota que a muito custo foi retificada – sempre com o apoio logístico da Marinha Britânica – e finalmente, a 22 de janeiro de 1808 os navios aportaram em Salvador.

Um fato curioso é que a princesa Carlota Joaquina, suas filhas e damas da corte desembarcaram com uns turbantes rústicos enrolados na cabeça para disfarçar a calva a que foram reduzidas pela infestação de piolhos. As damas da sociedade soteropolitana consideraram ser aquela uma moda européia e aderiram com tal entusiasmo que até hoje as Baianas usam a indumentária...

A escala em Salvador proporcionou momentos de repouso após viagem tão longa e penosa e, aconselhado pelos seus ministros, D. João decidiu receber autoridades do Norte-Nordeste Brasileiro para as esquisitas cerimônias de "beijão-mão": filas de fidalgos esperando a vez para oscular as extremidades dos braços do Príncipe Regente – uma constante na vida de D. João, que exigia estas demonstrações de fidelidade e submissão com regularidade enquanto governou. Era preciso fortalecer os vínculos entre as províncias do Brasil colônia que, aos poucos, viria a se transformar numa nação, sede do governo português no exílio.

A chegada ao Rio de Janeiro

No dia 7 de março de 1808 a esquadra de D. João chega à Baía de Guanabara, mas o desembarque ocorre somente no dia seguinte. Os puxa-sacos que sempre cercam esse tipo de acontecimento no Brasil prepararam uma recepção retumbante, com muitos tiros de canhão, fogos de artifício e festas populares para saudar "a chegada do primeiro monarca Europeu a terras americanas".

Portugal foi saqueada pelos fugitivos de Napoleão antes de embarcar para o Brasil, mas mesmo assim os recursos eram insuficientes para sustentar uma das maiores cortes que qualquer monarca da época ousava manter em torno de si. Todos dependentes dos cofres governamentais e sequiosos de um enriquecimento rápido por aqui para uma volta a Portugal à primeira oportunidade.

Casas foram requisitadas pela coroa portuguesa que nelas colava cartazes com as iniciais P.R. (casa requisitada pelo Príncipe Regente) que a irreverência carioca rapidamente entendeu como "Ponha-se na Rua!" Os impostos foram aumentados a níveis até então inusitados; nada comparável aos 40% que os brasileiros pagam hoje para os mensaleiros e sanguessugas e portadores de cartões corporativos de Lula da Silva, mas uma taxação severa para a época e, tal qual hoje, todos desconfiavam que os impostos não seriam empregados para o bem público e sim para o benefício privado dos dependentes do governo.

Medidas progressistas

Uma vez que a sede do governo português situava-se no Rio de Janeiro, foram necessárias algumas medidas – muitas das quais adrede acertadas com a Inglaterra pela "cortesia" da escolta – progressistas para a época, como a Abertura dos Portos às Nações Amigas, decreto Régio de 28 de janeiro de 2008. "Nações Amigas" eram basicamente Portugal e a Inglaterra. Pelo acordo acertado com antecedência, o Brasil seria o principal escoadouro do excedente comercial britânico e a Inglaterra contava com benefícios alfandegários ainda superiores aos dos portugueses. Em pouco tempo os cais brasileiros estavam atulhados de coisa absolutamente inúteis para nosso clima tropical: patins para gelo, aquecedores de colchões e outras bugigangas caríssimas que muitos acabavam empregando em outras finalidades – um viajante da época informa que percebeu uma maçaneta de uma casa modesta modelada a partir de um patim para gelo, por exemplo...

Foi necessário ainda criar um órgão para cunhar a moeda que circularia por aqui: o Banco do Brasil. Como foi criado na base do compadrio e muita corrupção, teve vida efêmera. Em 1820 teve seus cofres saqueados pela Família Real de volta para Portugal, faliu e acabou sendo liquidado em 1829. Somente em 1835, já no governo de D. Pedro II o Banco do Brasil foi recriado.

Hábitos esquisitos

Havia as esquisitíssimas e regulares cerimônias de beija-mão, acima relatadas.

D. João VI era gordo, flácido e devorador voraz de franguinhos que trazia fritos e desossados nos bolsos de seus uniformes sempre sujos e engordurados. Não conseguia caminhar a pé mais de alguns metros sem sentir extrema fadiga e era, na mais completa acepção do termo, um dos homens mais fracos que já governaram esta nação, mas, surpreendentemente, logrou ser o único a enganar Napoleão Bonaparte e realizou um governo medianamente satisfatório.

Uma vez encontrar-se já em situação de separação definitiva de corpos da princesa Carlota Joaquina, o Autor Tobias Monteiro, apontado por Gomes na obra hora em análise, informa que D. João mantinha relações homossexuais "de conveniência", particularmente com um de seus camareiros, Francisco Rufino de Souza Lobato: recebeu títulos, pensões portentosas e promoções sucessivas.

Numerosas salvas de canhão eram ordenadas a cada entrada de navio na Baía de Guanabara. Um estadunidense surpreso comenta o quanto os portugueses gostavam de gastar sua pólvora, a ponto de se ouvir o troar dos canhões à entrada da Baía ao longo de todos os dias.

Sem esgoto sanitário o lixo era invariavelmente jogado às ruas pelas janelas e, não raro, um passante recebia o "batismo" de dejetos humanos. Classes mais abastadas contavam com escravos encarregados de levar seus dejetos acumulados para despejar na Baía de Guanabara. Ficavam conhecidos como "carijós" pois quando o ácido de urina misturada com fezes caía sobre suas costas deixava em suas peles negras algumas manchas brancas.

Imprensa

Enquanto a Europa se encaminhava a passos largos para a ampliação dos Direitos da Pessoa Humana e do Cidadão, o Brasil recebia um dos mais atrasados representantes do Antigo Regime...

Como a oposição ao governo era um crime gravíssimo, o único jornal com alguns eivores críticos que, mais tarde, contudo, precisou ceder ao governo português, era o Correio Braziliense, que Hipólito da Costa editava em Londres.

Legado

Com todas as fraquezas, todo o medo e covardia, além de toda a corrupção que cercou a fuga da Família Real para o Brasil, devemos o princípio de nossa emancipação política (vulgarmente conhecida como "Independência") a este episódio, a esta travessia de 1808.

Através de brutais repressões e da concentração autocrática o Brasil – ex-colônia portuguesa – manteve sua integridade territorial, lingüística e, em alguns aspectos "cultural", ao contrário do Império Colonial Espanhol que se fragmentou em dezenas de Nações distintas.

Quando as cortes em Portugal, já livres de Napoleão Bonaparte e de seus "protetores" ingleses exigiram a volta da Família Real para o Continente além do juramento a uma constituição com alguns lustros de republicanismo, D. João VI – já então na posição de Monarca Português após o falecimento de D. Maria I, "a louca" – deixou o Brasil a cargo de seu filho D. Pedro com a recomendação de, em caso de revolta ou tentativas mais autonomizantes que o desejavam as cortes portuguesas, D. Pedro tomasse a coroa "antes que algum aventureiro o fizesse". Assim, o Brasil simplesmente passou de pai para filho sem grandes azedumes em 1822. Por incrível que pareça – se é que a palavra "incrível" pode se aplicar a alguma situação no Brasil – os únicos problemas armados envolvendo o episódio conhecido como "Independência", o 7 de setembro de 1822, quando D. Pedro rompeu com as cortes portuguesas, foram de alguns portugueses e brasileiros nativos que se rebelaram contra a autonomia desejosos de continuar mamando nas tetas de Portugal. Estes foram repelidos, novamente, com a ajuda de mercenários ingleses contratados pois nossa Marinha estava ainda em projeto...

De mais a mais, como Portugal devia 2 milhões de libras esterlinas à Inglaterra, para reconhecer a autoridade de D. Pedro I sobre o Brasil a ex-metrópole exigiu o repasse da dívida para a nova Nação Brasileira, dando o pontapé inicial em nossa interminável dívida externa

Fonte:
Lázaro Curvêlo Chaves. 1808 - uma resenha. Disponível em
http://www.culturabrasil.pro.br/1808-laurentino.htm

Mary Del Priore (O ano que definiu o Brasil)

1808, do jornalista Laurentino Gomes, lança luz sobre a fuga da família real portuguesa para o Rio – fato que mudou o destino nacional

Efeméride é uma palavra antiga e fora de uso que designa um fato importante ocorrido em determinada data. Em geral, é acompanhada de festejos, discursos e foguetórios. As comemorações do bicentenário da Revolução Francesa, por exemplo, levaram a um autêntico frenesi. Nenhuma pequena cidade escapou de plantar uma "árvore da liberdade", símbolo da igualdade entre os cidadãos. Esse élan comemorativo despertou, contudo, muitas críticas. Houve quem dissesse que a paixão dos festejos na verdade deixava em segundo plano o inventário dos acontecimentos históricos. E que estes nem sempre foram tão gloriosos. Pois no ano que vem os brasileiros terão sua grande efeméride. Em 2008, comemora-se a chegada da família real bragantina às praias tropicais. Preparam-se, em toda parte, congressos e festivais. Fala-se até mesmo na restauração da fragata que teria transportado dom João VI. Mas o leitor tem a mínima idéia do que está por trás disso? Se a resposta for não, já tem um guia: é 1808 (Planeta; 408 páginas; 39,90 reais), do jornalista Laurentino Gomes. Trata-se de um livro que se lê com um sorriso nos lábios.

O autor Laurentino Gomes: boa idéia sustentada por uma metodologia sem falhas

Nascida da paixão pelo assunto, de dez anos de pesquisa e da sensibilidade do autor (que é diretor-superintendente da Editora Abril, que publica VEJA), a obra é um verdadeiro manual de viagem por todos os acontecimentos que envolvem esse mal conhecido episódio da história nacional. Mal conhecido porque, como bem diz Gomes, para entendê-lo é preciso despi-lo da rebuscada linguagem acadêmica com que é normalmente apresentado. E, convenhamos, nem todo mundo tem paciência para isso. Sua fórmula caminha no sentido contrário. Ela se vale de uma deliciosa mistura de bom humor e erudição para criar um amplo painel de acontecimentos e personagens que se cruzam durante os treze anos da aventura dos Bragança nos trópicos. Por meio de 29 capítulos curtos e cinematográficos, Gomes monta um quebra-cabeça em que cada peça se encaixa na precedente. E convida o leitor a cavalgar por uma sucessão de paisagens históricas. Assim, ele se vê no cais do Tejo, acenando para a família real que parte em caravelas caindo aos pedaços rumo ao Brasil. Cruza o Atlântico, em barcos apertados, onde faltam comida, água e sobram piolhos e baratas. Vê a esquadra se dispersar, graças às tempestades tropicais, e dom João, o rei tímido, supersticioso e feio, desembarcar em Salvador. Ali, em meio a recepções, o monarca assina a abertura dos portos que favorece comerciantes ingleses, mas também brasileiros, enriquecendo as duas pontas do comércio internacional. E o leitor compreende que a corte chega em pedaços. Maltrapilha, empobrecida e ansiosa por receber algo em troca do "sacrifício da viagem".

Depois das feéricas recepções no Rio de Janeiro, assiste-se, também, ao nascedouro de um estado perdulário e aos desmandos da má gestão. Mostra-se o início do compadrio e do toma-lá-dá-cá que dá origem ao Banco do Brasil: traficantes de escravos, fazendeiros e negociantes compram ações da instituição para ser compensados com títulos de nobreza. Vê-se surgir a prática das "caixinhas" nas concorrências e pagamentos de serviços públicos: 17% sobre saques do Tesouro. Vêem-se ainda as transformações pelas quais passa a colônia: a criação de escolas, de estradas, de hospitais. A europeização progressiva dos cariocas, que passam a consumir produtos importados, a vestir-se com a moda francesa e a copiar hábitos ingleses. Mas, por trás dos "progressos civilizacionais", a mancha da escravidão persiste: o sórdido mercado do Valongo a receber mais e mais africanos, fazendo a fortuna de empresários proeminentes e respeitados. Elias Antônio Lopes, que doou o palácio de São Cristóvão ao rei, foi um deles. O leitor acompanha, ainda, os viajantes estrangeiros que "descobrem" o Brasil, anotando em desenhos e livros de viagem suas impressões sobre nordestinos, paulistas e gaúchos; sobre negros e índios, homens e mulheres; sobre a natureza perpetuamente em festa. Ele acompanha, finalmente, o declínio de Napoleão, o todo-poderoso que expulsou dom João de Portugal, sua derrota na guerra peninsular e o exílio em Santa Helena. Mas também o ressentimento dos portugueses com seu rei, que os abandonou e esqueceu. O sentimento de orfandade alimenta o desejo pela revolução liberal que eclode na cidade do Porto em 1820, obrigando dom João VI ao retorno.

Além dos episódios históricos apoiados em fontes documentais e nos estudos mais atualizados sobre o tema, o autor faz saltar das páginas os personagens emblemáticos do período. Minibiografias contam a trajetória do próprio dom João, de sua famigerada mulher, Carlota Joaquina, do funcionário da Real Biblioteca, Joaquim dos Santos Marrocos, do Cabugá ou Antonio Gonçalves Cruz, mentor de uma revolução liberal em Pernambuco que incluía o resgate de Napoleão da Ilha de Santa Helena para lutar lado a lado com os insurgentes, ou do Padre Perereca, cronista de usos e costumes da época, que descreve como ninguém o encontro de dois mundos: o europeu e o americano.

Gomes não adere à cosmética atual que, para reabilitar dom João, recorre a eufemismos como "transmigração" ou "translado". Para ele, houve "fuga" mesmo, pois o rei não tinha alternativa. A pressão exercida pelo gênio de Napoleão não dava margem a estratégias arrojadas. Não por acaso, a resposta portuguesa foi, simplesmente: pernas para que te quero. Sobre esse rei tão mal conhecido, Napoleão registrou em suas memórias: "Foi o único que me enganou". Enganam-se também os que acham que aquele foi um período sem maiores novidades e transformações. 1808 desvenda os acontecimentos com graça e leveza, convidando o leitor a descobrir o real sentido desta efeméride tão próxima. É uma síntese histórica que brilha pela limpidez das explicações e pelo interesse de projetar o passado no presente. É uma boa idéia sustentada por uma metodologia sem falhas. Uma boa maneira de apreciar o foguetório que virá, sabendo, de antemão, do que se trata.

Fonte:
http://veja.abril.com.br/120907/p_126.shtml
Fotos de João Batista Perillo, Alexandre Battibugli
Dom João VI, num retrato clássico (foto maior) e em passeio com a corte pelas ruas do Rio: sua vinda trouxe progresso, mas também vícios como a prática das "caixinhas"

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Paulo V. Pinheiro (Um sempre na noite clara)

Como sempre, numa noite de fazer tremer, como se as outras não fizessem, as pessoas se unem e tramam o dia de amanhã.

Seja em oficinas, nas ruas, nos colégios, nos nos... como eu diria... nos lugares onde a gente anda... trama... pensa ou projeta a vida..., como se nesta ânsia a gente pudesse fazer que os sonhos se transformassem em vida.

A pessoa tem medo do amanhã. Como tem medo da morte e da escuridão. Tem medo mais ainda do desconhecido, da demência, do mal que não vê e que circunda a cada inalação ou baforada de um cigarro que não fuma, mas que sente a sua presença. Os crepitares do silêncio e a aurora que teima em adiar os seus raios, rasos, flácidos e... a gente se agarra a uma sobra do agora como os bêbados se agarram aos seus copos e garrafas ou coisas assim.

Fascinações de uma página, não mais. Um fascínio tal que dá angústia quando se sabe que quem escreve quer o contrário. O acordar do real pesadelo. O pesadelo de se ver a si, como se isso sempre tivesse de ser ruim. Como se isso tivesse de não ser bom.

O agora fascina e faz tremer. É onde a gente se olha de frente vê o verdadeiro tamanho que conquistou até o segundo anterior. Tal soma pode ser do maravilhoso ao esfarrapado e a maioria procura na embriaguês a celebração deste encontro. Peço perdão aos sóbrios a generalização.

O ordinário é buscar a luz como buscam as mariposas antes de morrerem. Ficam embriagadas nas luzes que não são delas e queimam suas patas e asas e quando algumas escolhem uma fogueira é um crepitar da valentia estúpida. Ébrios e heróis andam de braços dados...

Fontes:
http://paulovinheiro.blogspot.com
http://aghatadafne.loveblog.com.br (imagem)

Rápidas

SECRETARIA DE CULTURA REALIZA ENCONTRO DE ESCRITORES E POETAS DE VOTORANTIM E REGIÃO. A proposta é conhecer e divulgar os trabalhos de poetas da cidade e da região.
Nesta próxima sexta-feira (30) de maio, às 20h00 será realizado a sexta edição do Sarau Literário, o evento tem como proposta reunir escritores, poetas e pessoas que se interessam pelo gênero literário. Realizado pela Secretaria de Cultura em parceria com a Sociedade dos Poetas Vivos o projeto promete trazer novidades ao público.
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REUNIÃO DA ORDEM NACIONAL DOS ESCRITORES E DO PORTUGALCLUB
Cumprindo o calendário pré estabelecido, efectuou-se no dia 11 do corrente em São Paulo -das 18H00 às 21H30 - a anunciada reunião conjunta da Ordem Nacional dos Escritores e do Portugalclub, com representantes do Parlamento Mundial Para Segurança e Paz, dos Elosclub, e do Ministro da Cultura, cujo membro de seu gabinete, Dr. Paulo Oliver, encerrou de forma brilhante a reunião, quando já passava das 23H00.
http://www.mundolusiada.com.br/COMUNIDADE/comu06_mai021.htm
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7º COLÓQUIO ANUAL DA LUSOFONIA E II PRÉMIO LITERÁRIO DA LUSOFONIA
Participe, Comente e divulgue também o 7º Colóquio Anual da Lusofonia em Bragança (Portugal) de 1 a 4 de outubro. O tema deste ano é “Língua Portuguesa e Crioulos: um enriquecimento biunívoco
chrys gmail dr informa :
Pela presente vimos solicitar a todos os especialistas no tema que apresentem trabalhos no 7º Colóquio Anual da Lusofonia em Bragança (Portugal) de 1 a 4 de outubro. O tema deste ano é
“Língua Portuguesa e Crioulos: um enriquecimento biunívoco
http://lusofonia2008.com.sapo.pt/
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PALESTRA SOBRE O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA
A Universidade do Livro, vinculada à Fundação Editora da Unesp, promove no dia 13 de junho (sexta-feira), das 10h às 12h, palestra sobre O Novo acordo ortográfico da língua portuguesa. Aprovado pelo parlamento português no dia 16 de maio, o acordo visa unificar a ortografia do idioma lusófono. No Brasil, as mudanças nos livros didáticos serão feitas até 2010
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'PEQUENOS' DO COLÉGIO ELVIRA BRANDÃO (SÃO PAULO) ESCREVEM 'AUTOBIOGRAFIA'

Atividade é incentivada com a leitura da biografia de grandes nomes da cena brasileira como Chico Mendes, Machado de Assis, Monteiro Lobato e Portinari.

O objetivo é incentivar o amor às letras, aos livros e às artes e, não necessariamente, descobrir talentos literários precoces - embora isso, é claro, não esteja fora de questão.

Os pequenos alunos do Colégio Elvira Brandão, da Zona Sul da capital, com idades entre 6 e 7 anos, em processo de alfabetização, trabalham firme de agora até o final do ano movidos pelo desafio de redigir uma obra no mínimo incomum nessa faixa etária: sua autobiografia.

Isso mesmo, os jovens estudantes, que nem bem foram alfabetizados, receberam a missão de preparar uma autobiografia para presentear os pais na 'formatura' do final de ano, com a 'obra' encadernada e produzida.

A iniciativa da escola, senão inédita pouco comum nos colégios paulistanos, foi pensada 'para promover o amor aos livros, às artes e outras coisas boas do Brasil, além de estimular progressos no processo de alfabetização', segundo Camila Rocha, diretora pedagógica do Elvira Brandão. 'Só mesmo assistindo a uma aula para ver como os resultados superam as nossas expectativas'.

Antes de partir para os textos sobre suas vidas, os pequenos alunos estudam em casa e sala de aula textos contendo as biografias de alguns dos maiores nomes da cena brasileira, como Cândido Portinari, Chico Mendes, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Paulo Freire e outros.

De acordo com Camila, o projeto pedagógico é complementar ao processo de alfabetização adotado no colégio e parte do princípio de que os alunos se dedicam mais ao aprendizado se a este, sobretudo nos primeiros anos escolares, a escola 'encurtar o caminho para o conhecimento e a informação de qualidade'. Em torno de 40 crianças participam do projeto atualmente.

O Colégio Elvira Brandão Fundado há mais de cem anos, o Colégio Elvira Brandão fica no bairro Chácara Santo Antonio, Zona Sul de São Paulo. Atua em todos os níveis de ensino, conta com quase 100 professores e aproximadamente de 600 alunos. De suas salas de aula saíram nomes de peso dos segmentos artístico, empresarial, financeiro e esportivo.

Fonte:
Douglas Lara. Disponível em
http://www.sorocaba.com.br/acontece

Vânia Maria Souza Ennes

Vânia Maria Souza Ennes, nasceu em Curitiba, Capital do Estado do Paraná, onde realizou seus estudos fundamentais no Colégio Sacré Coeur de Jésus e estudos médios na Escola Comercial Colegial de Educação Familiar. Cursou a faculdade de Administração de Empresas com habilitação em Comércio Exterior pela Fundação de Estudos Internacionais do Paraná. Realizou pós-graduação da língua francesa no Collège International de Cannes, Établissement D’Enseignement Supérieur Prive, na França. Efetivou Curso de Formação Política pelo PPB-Partido Progressista Brasileiro-Fundação Milton Campos. Efetuou Curso de Leitura Dinâmica e Memorização, Leitura Veloz, Técnica de Audiência e Método de Estudo, pela Exata Treinamentos S/C. Concluiu curso de Informática pela Interlux Informática e cursa, atualmente, o 4º ano do Curso de Direito, na Universidade Radial.

É filha do poeta-trovador, advogado, procurador do Estado do Paraná e ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira Hely Marés de Souza e da professora e trovadora Ariane Maria França de Souza. Neta do político e industrial Astolpho Macedo Souza e Marina Marés de Souza e do poeta, sonetista e trovador, advogado, industrial, fundador da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, seu 1º presidente por 14 anos consecutivos Heitor Stockler de França e Brasília Taborda Ribas de França, dos quais trouxe do berço o gosto pelo trabalho, pela poesia e pela arte.

Aos 9 anos teve sua primeira poesia “Divagando” publicada em jornal e aos 10 anos estreou na Rádio PRB2, em Curitiba, numa entrevista com o ilustre Jornalista carioca Ibraim Sued, durante sua passagem por Curitiba.

Amante da natureza foi escoteira, por quatro anos, na tropa feminina do Grupo Santos Dumont e chefe de sua patrulha.

Foi sócia proprietária por quase dez anos da rede de lojas Buscapé Calçados Infantis Ltda. estabelecidas nos bairros do Batel, Juvevê, Centro e Shopping Mueller. Por quase 20 anos dedicou-se à caprinocultura. Manteve um criatório de cabras da raça Saanen, às margens da represa do rio Passaúna, denominado Capril Passaúna, juntamente com a empresa Capríssima Indústria e Comércio de Cosméticos Ltda., onde desenvolveu trabalhos com tecnologia e qualidade, a base de leite de cabra. É sócia com seu marido da Interportos Engenharia e Empreendimentos Ltda., empresa especializada na construção de obras de arte especiais, portos, saneamento e terminais de carga.

Foi presidente da Associação dos Caprinocultores do Paraná-CAPRIPAR, eleita por unanimidade por dois mandatos.

Foi representante dos médios animais da União Paranaense de Criadores-UPAC. Foi membro do Conselho Fiscal da Federação Paranaense de Criadores-FEPAC.

Foi conselheira da Confederação Nacional da Pecuária-CONAPEC, com sede em São Paulo.

Foi Coordenadora da Comissão de Agropecuária da Business Profissional Women-BPW de Curitiba.

Assinou a página social do jornal “Mulher sempre Mulher”, mensalmente, durante dois anos, órgão oficial da Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais de Curitiba-BPW.

Assinou a coluna de Trovas na Revista Novos Rumos, órgão oficial da Associação dos Magistrados do Paraná, em publicação mensal, com tiragem de 2000 exemplares, durante dois anos.

Foi conselheira não governamental do Conselho Municipal da Condição Feminina, órgão da Prefeitura Municipal de Curitiba, na atuação do Prefeito Cássio Tanigushi.

Foi vice-presidente da Sociedade Eunice Weawer do Paraná-SEW mantenedora do Educandário Curitiba, na assistência dos filhos sadios de hansenianos.

Foi presidente da União Brasileira de Trovadores-UBT Seção de Curitiba, por três gestões consecutivas.

Foi nomeada delegada do Portal CEN - Cá Estamos Nós, para o Estado do Paraná, entidade literária com sede na cidade de Marinha Grande, Portugal.

É membro efetivo do Círculo de Estudos Bandeirantes, da Academia de Cultura de Curitiba-ACCUR, do Elos Clube de Curitiba, do Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira como, também, da Academia Paranaense da Poesia, onde ocupa a cadeira patronímica número 8, cujo patrono é Emiliano Perneta.

É atual vice-presidente do Centro de Letras do Paraná, atual Conselheira do Conselho da Mulher Executiva da Associação Comercial do Paraná e presidente Estadual da UBT no Estado do Paraná.

Recebeu o prêmio de “Mulher Destaque na Agropecuária”, na Feira Internacional do Paraná, no Parque Castelo Branco, concedido pela Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais de Curitiba-BPW.

Sua empresa Capríssima Indústria e Comércio de Cosméticos Ltda. foi vencedora do “Top Comercial” prêmio concedido pela Associação Comercial do Paraná e T.V. Iguaçu canal 4, Grupo Paulo Pimentel, por ter apresentado idéias, experiências e resultados, que contribuíram para a valorização e crescimento do meio empresarial paranaense..

Recebeu “Certificado de Reconhecimento” pelo empreendedorismo e trabalho realizado pela BPW - Business Professional Women de Curitiba.

Foi agraciada com a Comenda “Dama Rouge” conferida pela Boca Rouge por relevantes serviços prestados à comunidade.

Recebeu do Centro de Letras do Paraná “Carta de Louvor” e agradecimentos, pela excelente contribuição durante as comemorações do Dia do Folclore.

Recebeu Troféu da União Brasileira de Trovadores Seção de Porto Alegre/RS, em Cerimônia Solene, na Assembléia Legislativa de Porto Alegre/RS.

Recebeu “Diploma de Mérito”, conferido pela Assembléia Legislativa de São Paulo/SP através do Elos Clube de Curitiba, em reconhecimento à sua dedicação e trabalho cívico-cultural permanente, realizado sob o signo do humanismo, na preservação da história e dos ideais da língua portuguesa.

Recebeu “Diploma Comemorativo” e como Presidente da União Brasileira de Trovadores, recebeu “Diploma de Louvor” do Movimento Pró–Paraná, em comemoração aos Sesquicentenários das Elevações da Comarca de Curitiba à Província do Paraná, da Cidade de Curitiba à Capital da Província do Paraná, no ano em que Curitiba foi consagrada internacionalmente como a Capital Americana da Cultura, pelo relevo especial que conferiu às comemorações daquelas magnas efemérides históricas, mediante a meticulosa e magistral programação dos XVIII Jogos Florais de Curitiba, aqui congregando a elite dos Trovadores Brasileiros.

A Câmara Municipal de Curitiba consignou na ata de seus trabalhos, o requerimento do Ver. Ângelo Batista “Voto de Louvor”, pelo destaque que deu a Curitiba, na área da cultura, diante do cenário poético no âmbito Nacional, pelo brilhante desempenho de seu 3º mandato frente a Presidência da UBT, com votos de congratulações e aplausos.

Agraciada com Diploma pela Câmara Municipal de Curitiba pelo brilhantismo de sua participação na Tribuna Livre em Seção Ordinária.

Homenageada pela União Brasileira de Trovadores de Niterói/RJ, onde recebeu nome de troféu para os cinco prêmios mais votados da categoria, cabendo-lhe a entrega dos mesmos, em cerimônia de gala.

No “Dia Internacional da Mulher” recebeu o “Prêmio Mulheres de Destaque” do Shopping Novo Batel em parceria com o conselho da Mulher Executiva da ACP e Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais-BPW.

Por consideração unânime recebeu da Legião Paranaense do Expedicionário e dos integrantes do 1º Grupo de Caça da FAB, na Itália, a Medalha “Tenente Max Woff Filho”, durante as comemorações da Tomada de Monte Castelo, pelos relevantes serviços prestados à entidade, em Solenidade Militar.

Em Sessão Solene comemorativa ao aniversário de Curitiba, na Câmara Municipal de Curitiba-Palácio Rio Branco, foi agraciada com o “Prêmio Cidade de Curitiba” por proposição de diversos vereadores, pelos importantes serviços prestados a cidade, em âmbito nacional.

Laureada pelo presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, deputado Hermas Brandão, na festividade aos 150 anos de emancipação política do Paraná, pilastra representativa da sociedade paranaense.
Em sessão solene na Câmara Municipal de Curitiba-Palácio Rio Branco, foi condecorada com a Medalha de Mérito Fernando Amaro por indicação da vereadora Nely Almeida do PSDB. Esta honraria deu-se através de projeto de Decreto Legislativo, como profissional de literatura por ter contribuído para a evolução das áreas de educação e cultura.
Recebeu Diploma em Homenagem Especial do Presidente Milton Nunes Loureiro, da UBT da Seção de Niterói/RJ.

Recebeu do Vereador Jair César “Diploma de Louvor” com votos de congratulações e aplausos pelo incentivo que dispensa na área da cultura.

Homenageada com “Diploma Especial” pelo alto desempenho, em todas as suas gestões, como Presidente da União Brasileira de Trovadores–Seção de Curitiba por Yaramara de Castro Araújo.

Diplomada pela UBT-Seção de Curitiba, em sinal de reconhecimento por seu destacado trabalho como Presidente da entidade, durante três gestões, como expressão de agradecimento pela dedicada contribuição ao engrandecimento da trova e da cultura curitibana e paranaense.

Diplomada no Encontro de Escritores Luso-Brasileiros do Portal CEN “Cá Estamos Nós” no Museu Histórico do Exército, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro/RJ.

Vencedora no concurso internacional de trovas Brasil-Portugal promovido pelo Elos Clube Internacional da Comunidade Lusíada, sob o tema "água" e pela UBT Seção de Curitiba/PR sob o tema “mulher”.

Participou de vários Congressos, Feiras, Encontros, Seminários e Simpósios Nacionais e Internacionais na América do Norte, Europa e Ásia.

Vânia, casada com Ceciliano José Ennes Neto, engenheiro civil e físico, é empresária de coragem, otimista e empreendedora, que consegue conciliar essa gama de obrigações profissionais e culturais com a administração do lar e a educação dos seus quatro filhos: Guilherme-engenheiro civil, Cassiano-engenheiro civil, Cecília–bio-química e farmacêutica e Caetano–acadêmico de direito e servindo o Exército Brasileiro.
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Fontes:
Portal CEN.
http://www.caestamosnos.org
http://www.cmc.pr.gov.br (foto)

Cecília Meirelles (Mar Absoluto)

A nossa poetisa Cecília Meirelles apresentava traços fortes e profundos que sua origem genética açoriana não nega. Como dizia Vitorino Nemésio, ao falar do ilhéu, tinha 'uma universal inquietude' e uma visão poética influenciada pela raiz cultural e mística, passada pela avó micaelense que a criou. A consciência ancestral e depressiva da fragilidade humana, a fatídica preocupação em demonstrar o mutável, o efêmero da vida. Buscava no mar, de uma forma sublimada, a sua raiz, seu caminho. Neste poema vemos o espírito ilhéu de Cecília
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 27/05/08
Mar Absoluto

Foi desde sempre o mar,
E multidões passadas me empurravam
como o barco esquecido.

Agora recordo que falavam
da revolta dos ventos,
de linhos, de cordas, de ferros,
de sereias dadas à costa.

E o rosto de meus avós estava caído
pelos mares do Oriente, com seus corais e pérolas,
e pelos mares do Norte, duros de gelo.

Então, é comigo que falam,
sou eu que devo ir.
Porque não há ninguém,
tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos.

E tenho de procurar meus tios remotos afogados.
Tenho de levar-lhes redes de rezas,
campos convertidos em velas,
barcas sobrenaturais
com peixes mensageiros
e cantos náuticos.

E fico tonta.
acordada de repente nas praias tumultuosas.
E apressam-me, e não me deixam sequer mirar a rosa-dos-ventos.
'Para adiante! Pelo mar largo!
Livrando o corpo da lição da areia!
Ao mar! - Disciplina humana para a empresa da vida!'
Meu sangue entende-se com essas vozes poderosas.
A solidez da terra, monótona,
parece-mos fraca ilusão.
Queremos a ilusão grande do mar,
multiplicada em suas malhas de perigo.

Queremos a sua solidão robusta,
uma solidão para todos os lados,
uma ausência humana que se opõe ao mesquinho formigar do mundo,
e faz o tempo inteiriço, livre das lutas de cada dia.

O alento heróico do mar tem seu pólo secreto,
que os homens sentem, seduzidos e medrosos.

O mar é só mar, desprovido de apegos,
matando-se e recuperando-se,
correndo como um touro azul por sua própria sombra,
e arremetendo com bravura contra ninguém,
e sendo depois a pura sombra de si mesmo,
por si mesmo vencido. É o seu grande exercício.

Não precisa do destino fixo da terra,
ele que, ao mesmo tempo,
é o dançarino e a sua dança.

Tem um reino de metamorfose, para experiência:
seu corpo é o seu próprio jogo,
e sua eternidade lúdica
não apenas gratuita: mas perfeita.

Baralha seus altos contrastes:
cavalo, épico, anêmona suave,
entrega-se todos, despreza ritmo
jardins, estrelas, caudas, antenas, olhos, mas é desfolhado, cego, nu, dono apenas de si,
da sua terminante grandeza despojada.

Não se esquece que é água, ao desdobrar suas visões:
água de todas as possibilidades,
mas sem fraqueza nenhuma.

E assim como água fala-me.
Atira-me búzios, como lembranças de sua voz,
e estrelas eriçadas, como convite ao meu destino.

Não me chama para que siga por cima dele,
nem por dentro de si:
mas para que me converta nele mesmo. É o seu máximo dom.
Não me quer arrastar como meus tios outrora,
nem lentamente conduzida.
como meus avós, de serenos olhos certeiros.

Aceita-me apenas convertida em sua natureza:
plástica, fluida, disponível,
igual a ele, em constante solilóquio,
sem exigências de princípio e fim,
desprendida de terra e céu.

E eu, que viera cautelosa,
por procurar gente passada,
suspeito que me enganei,
que há outras ordens, que não foram ouvidas;
que uma outra boca falava: não somente a de antigos mortos,
e o mar a que me mandam não é apenas este mar.

Não é apenas este mar que reboa nas minhas vidraças,
mas outro, que se parece com ele
como se parecem os vultos dos sonhos dormidos.
E entre água e estrela estudo a solidão.

E recordo minha herança de cordas e âncoras,
e encontro tudo sobre-humano.
E este mar visível levanta para mim
uma face espantosa.

E retrai-se, ao dizer-me o que preciso.
E é logo uma pequena concha fervilhante,
nódoa líquida e instável,
célula azul sumindo-se
no reino de um outro mar:
ah! do Mar Absoluto.
http://www.tvcultura.com.br (desenho)