Cláudio de Cápua
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
MOCIDADE
Lindo tempo o do sonho e da vontade!
Sem palavra, sequer, que bem o exprima,
o pensamento a erguer-se bem acima
da montanha da vida em claridade!
Tempo feliz da nossa mocidade
que a luz do amor e da ilusão sublima,
quando tudo nos prende e nos anima
ao fio e à teia da felicidade!
Não há quem não conheça, e, conhecendo,
não dê tudo de si para que nunca
deste tempo de paz vá se esquecendo.
Mágoas? Feliz de quem puder vencê-las,
e ver que a mão de alguém seus passos junca
de pérolas, de rosas e de estrelas!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Colbert Rangel Coelho
Pitangui/MG, 1925 - 1975, Rio de Janeiro/RJ
O LUAR DE MINHA TERRA
Neste luar de minha terra vejo
matizes de saudade pelo espaço,
na evocação do meu primeiro beijo,
na timidez do meu primeiro abraço.
Este luar desperta meu desejo
e volto à juventude; e, passo a passo,
eis-me à beira do cais, no rumorejo
de um passado feliz que eu mesmo traço.
À tua espera, minha grande ausente,
pelo facho de luz que vem da serra,
vejo que surges como antigamente.
E, quando surges, neste mesmo cais,
revivem no luar de minha terra
noites distantes que não voltam mais.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Colombina
(Adelaide Schloenbach Blumenschein)
São Paulo/SP, 1882 – 1963
ESSE AMOR...
Há um abismo entre nós. E apesar dessa falta
de ventura e de paz, nosso amor continua...
Cada dia é maior, é mais forte e mais alta
e imperiosa a paixão que em nosso sangue estua.
Longe de ti, meu ser emocionado exalta
em rimas de ouro e sol — cada carícia tua!
E em meu verso, integral, canta, fulge, ressalta
o infinito de amor que o teu nome insinua...
Não me podes amar como eu quisera. É certo.
Mas não existem leis, nem certidões, nem peias,
quando os teus olhos beijo e as tuas mãos aperto.
Tardas... Mas, quando vens, eu sinto que me queres,
que pela minha voz, pelo meu beijo anseias,
e sou a mais feliz de todas as mulheres!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Elton Carvalho
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1994
LAVRADOR
Nem bem surgiu o rubro da alvorada,
nem bem a noite se aquietou no monte,
já vai o lavrador levando a enxada
e se perde nos longes do horizonte.
E, após uma exaustiva caminhada,
antes mesmo, sequer, que o sol desponte,
rega a terra querida e abençoada
o suor que lhe escorre pela fronte!
Os que tratam da terra todo o dia
e fazem do trabalho uma alegria
têm a chama divina dos heróis.
Há centelhas de luz nos seus destinos:
lavradores são deuses pequeninos
que, da terra e do nada, criam sóis!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Jacinto de Campos
Canavieiras/BA, 1900 – ????, Rio de Janeiro/RJ
AS DUAS PALMEIRAS
Quando passo, buscando a humana lida,
a alma repleta de ilusões tão várias,
junto à velha choupana carcomida,
vejo duas palmeiras solitárias...
Uma a reverdecer... a outra caída,
num desmancho de palmas funerárias...
E, ao som da harpa do vento, a que tem vida,
saudosa plange salmodias e árias...
Ó tu, que me olvidaste no caminho,
meu coração deixando como um ninho
vazio e triste ao vento balouçando,
a saudade me diz, como em segredo,
que és a palmeira que morreu bem cedo
e eu sou aquela que ficou chorando...
Fonte:
Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.
Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.