domingo, 22 de novembro de 2009

Sandro Kretus (Poesias Avulsas)



Portas escritas

Minhas calças curtas
De travessuras, de caçadas
E aventuras, Monteiro Lobato
Minha filosofia Suassuna
E meus olhos cegos, Saramago
Nas minhas borboletas mortas, Baudelaire
Na minha angustia, Florbela Espanca
Uma rosa sem perfume
E em sua dor, Augusto dos anjos
Beija sem ciúmes
Um beijo tépido no silêncio
Mortes, chagas, visões, infernos de Dante
Minhas mãos Machadianas escrevem versos de Quintana
Em uma ensolarada tarde, e as horas passam, voam
Ninguém vê Virginia Woolf
E Drummond com cara de bom, olhando o céu ao lado de Bandeira
De bobeira, soltando pipas no ar, sentados na areia
Na Villa dos lobos, um Tom toca Vinícius
Eça de Queiroz iça seus anzóis com palavras de ternura
Usando toques de Neruda
Eu ando pela Baker street mas não encontro Conan Doyle
Nem Jô Soares, e na corrida do ouro, Allan Poe corre
Apressado com os corvos enquanto Mary Shelley tranca seu monstro no armário
No corredor, Crowley vê Levi, e Bram Stoker carrega um bebê vampiro nos braços
Fernando pessoa visita o salão filosófico de Platão
Enquanto meus olhos de Byron naufragam num mar revolto...
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O último monólogo

Meus dias passam lentamente como serenas marolas
E nenhuma cortina se abre diante de mim
Sinto meu corpo preso á uma corrente coberta de argolas
Vejo meu começo chegando perto do fim

Um monólogo que encena seu último ato
Segurando sua caveira com as mãos sujas de sangue
Declamando seu poema para as cadeiras vazias do teatro
Deixando cair uma última lágrima escondendo o vexame

Nem um alento seria capaz de sarar tal ferida
De que adianta o brotar das palavras
De uma peça que jamais será lida

Morrerá com sua arte o pobre artista?
Talvez um dia alguém o descubra
E assim reconhecido, não mais morrerá
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Temperanças

Mulheres com suas temperanças
Me tiraram o absinto da garganta
Quando me acalentava nas horas amargas
Tentando remeter-me á esperança

Pequenos castelos desmoronados na areia
Levados pelas ondas de um mar traiçoeiro
Ainda havia sonhos á serem sonhados
E momentos passageiros

Que talvez tivesse ao longo de uma vida
Mesmo com destroços e feridas
Viveria cada momento

Como um pássaro que se remete ao horizonte
Chegaria ao firmamento
Mesmo sabendo que o horizonte não tem fim
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A valsa das rosas

Lembra quando dançávamos a luz do luar, meu amor?
E as rosas giravam, iluminadas, no jardim das petúnias.
Ali nossos corpos rodeavam, deslizando ao som dos violinos
Que alçava-nos a urbe da luz, nos iluminado de azul
Dançávamos ao som do Danúbio, seguido por outra valsa
E mais uma, assim se fazia, sem pensar na hora, mas que hora?
Se não existia, era só nós dois
Dançando a luz da lua
Até nas noites frias, mas que frias?
Se o calor nos aquecia
Em cada dança, ali se fazia
Um passo de magia
E nos bailes de máscaras? Lembra?
Sempre um cavalheiro roubava-te dos meus braços
E mesmo distantes, nossos olhos
Estendiam-se na mesma vértice que nos unia
Éramos um do outro, meu amor
Que adorável companhia
Tê-la ao meu lado, assim
Todos os dias
Agora, uma púgil agonia
Em meu peito se afia
Ao lembrar-me destes momentos
Oh! Que tristeza! Em meu coração se alogia
Desde que partiu
Vivo esta tormenta
A dor me castiga, em infinita sentença
Porque meu amor, me deixaste?
Meu pensamento viaja, tentando encontrar
A substancia que esvaiu do teu corpo, ao postemar-se
Vejo teu sorriso em cada estrela, mas não consigo alcançar-te
Porque meu amor, me deixaste?
As vezes sou capaz de ver-te, dançando no véu da noite
Iluminada, me sorri, sorri, mas não diz nada
E ao alcançar-te em desespero, desapareces
Como nevoeiro,dispersando-se por inteiro
Oh! Espírito iluminado
Porque não me levas contigo?
Quero ficar ao teu lado
Dançando eternamente no luar encantado
Hoje mais um dia, sonho acordado
E ao olhar as petúnias mortas no jardim
Lembro-me de como éramos felizes
Também hoje, mais uma vez, venho trocar as rosas de teu jazigo
E ao sentir tua lápide fria em meus pés
Mais uma lágrima surgi em meu rosto sofrido
Digo-te, meu amor, como sempre digo
Hoje as petúnias estão mortas, mas as rosas girarão, iluminadas
pelo teu sorriso.
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Fontes:
http://sandrokretus.blogspot.com/
http://www.portugal-linha.pt/KRETUS/menu-id-105.html
Imagem = Capa do livro de Sandro, O Jardim Sombrio

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