quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 206)


Uma Trova Nacional

Deus, o divino arquiteto,
legislando com nobreza,
sem qualquer anteprojeto,
fez as leis da natureza!
–HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ–

Uma Trova Potiguar

Num mundo de violência
o homem está infiltrado,
onde quem ama a decência
de bobo é classificado.
–ROSA REGIS/RN–

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ Tema > DELÍRIO > M/E.

A saudade, em cantilenas,
como se fosse um ator,
até hoje rouba as cenas
de meus delírios de amor!
–EDUARDO A. O. TOLEDO/MG–

...E Suas Trovas Ficaram

Uberaba, escuto agora,
sinal que do campo vem:
se um boi mugir, não demora,
logo aparece o meu bem.
–EVA REIS/MG–

Simplesmente Poesia

MOTE:
Ponha luz no seu caminho,

pinte a estrada de alegria,
deixe um rastro de carinho,
faça um mundo de poesia!
–DÁGUIMA VERÔNICA/MG–

GLOSA:
Ponha luz no seu caminho,
torne o mundo mais risonho
e em seu peito teça um ninho
para abrigar o meu sonho.

Com um pincel multicor
pinte a estrada de alegria,
no ramo rubro da dor,
ponha a flor da fantasia.

Da rosa retire o espinho,
semeie versos pelo ar,
deixe um rastro de carinho,
por onde você passar.

Cante a vida alheia às dores
constantes no dia a dia
e, dos próprios dissabores,
faça um mundo de poesia!”
–JURACI SIQUEIRA/PA–

Estrofe do Dia

Sem nenhuma segurança,
esse inventor nota mil
fez o céu cor de anil,
fez o mar cor de esperança,
fez a preguiça que é mansa,
fez o guará que é voraz,
os macacos imorais
e o passarinho inocente;
Deus é tão sábio que a gente
não entende o que ele faz.
–RAIMUNDO NONATO/CE–

Soneto do Dia

–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–
Quintana – A Alma do Poeta.

A Lua e as estrelas reluzentes
bordam no espaço o seu tapete imenso...
E os bardos que o pranteiam, reverentes,
têm o aroma das flores por incenso.

Nas alvoradas soam, envolventes,
chilreios que dão vida ao verde extenso...
E “eu passarinho”, a desbravar os poentes,
espreito um verso na amplidão suspenso.

Um verso que me dê o testemunho
de um Ser eterno... e a pena, que eu empunho,
desperta e risca a folha ainda vazia...

A inspiração me envolve... a paz me acalma...
E se poesia é amor presente na alma,
Mário Quintana: – és a alma da poesia!

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Homenagem às Mães em Poesias e Trovas


Antonio Manoel Abreu Sardenberg
AMOR DE MÃE


Seu ventre é solo fecundo
Que gera e abriga a vida,
É paixão sem ter medida
De um sonho realizado,
É aconchego do ninho
Que acolhe com carinho
O amor tão esperado.

Com sua voz acalenta
Com um canto delicado...
No seu peito amamenta
E com amor alimenta
O filho tão desejado!

Com a mão acaricia
Em toque meigo e sublime...
Seu brilhante olhar exprime
Na mais ardente paixão
O amor que também pulsa
No pequeno coração.

A sua boca tem beijo
Mais doce do que o mel,
Em sua prece o desejo
De dar para seu rebento
Um pedacinho do céu.

Na alma toda esperança
De um futuro promissor
Para o filho que gerou
De quem tanto quer o bem:
Que em sua caminhada
Consiga vencer também.

Que os anjos digam amém
E em coro com os arcanjos,
No mais harmonioso arranjo,
Cantem com todo fervor
Um hino de puro amor
Para a santa e amada MÃE!

Amilton Maciel Monteiro
EXEMPLO DE MÃE

Não me admiro de sentir saudade
De meus longínquos tempos de criança,
Vividos na escassez, é bem verdade,
Mas com imenso amor e esperança.

A gente era pobre e a cidade
Nem possuía luz ou segurança
De algum Doutor. Mas nessa qualidade
Aquilo é um sonho em minha lembrança...

Pois o importante é que então vivendo
De modo simples, "remendando o pano",
só de carinho a gente ia crescendo...

A grande fé em Deus nos consolava,
Mudava em alegria o desengano...
Tal o exemplo que mamãe nos dava!

José Antonio Jacob
ILUSÃO MATERNA


Ele era criança e pouco compreendia
O que era a dor de ter amor ausente,
Sua rua era tudo o que ele via,
E olhava tudo muito de repente...

Contava estrelas sempre que podia,
E, ao vê-las, toda noite, simplesmente,
Fitava a mãe e com o olhar pedia
Uma dessas estrelas de presente.

E a mãe, com sua doce voz, dizia:
- A estrela é uma alma boa que partiu
Para com Deus, no além, sempre existir.

Hoje, já velho, ao ver a Estrela-Guia,
Ele, iludido, crê no que não viu:
- A sua mãe no céu a lhe sorrir!

Maria Nascimento Santos Carvalho
MÃE MARINA


MAMÃE, quando retorno ao meu passado
tão rico de pobreza e de esperança,
imagino que estou ainda ao teu lado,
e volte a me sentir em segurança...

E projetando tudo na lembrança
vejo que, se houve sonho malogrado,
o amor que recebi desde criança
evitou que eu tivesse fracassado.

És milagrosa, Santa MÃE MARINA,
uma estrela radiosa, a luz divina
que enfeita meus caminhos, e me guia,

pois quando fico triste, em pensamento,
chego aonde estás e abrandas meu tormento,
minha Nossa Senhora da Alegria !

Alda Corrêa Mendes Moreira
PALAVRAS A MINHA MÃE


De ti eu recebi, ó minha mãe querida,
o bem maior que Deus sempre me ofereceu.
Tu foste para mim bela e rara jazida;
só por isto agradeço o dom que Ele me deu.

Em tuas doces mãos, em toda e qualquer lida,
sentia eternamente o amparo do anjo meu
e uma palavra tua era só despedida
para qualquer sofrer deste ser sempre teu.

A vida, infelizmente, a nós causa também
muita tristeza e dor, vindas talvez do Além,
e um dia eu te perdi, imersa em muita dor.

Estou sempre sentindo a falta deste Alguém.
Bem triste é a saudade agora, Mãe, porém,
muita ventura eu tive ao ganhar teu amor!

Maria da Fonseca
Homenagem à Minha Mãe


Talvez não fosse a filha que esperavas
Nem tu a Mãe que desejava ter.
Mas eu te quero muito e tu me amavas,
A Deus e a ti devo todo o meu ser.

Tu, minha Mãe, sabias a verdade,
Sabias a verdade e não contaste.
Ao cumprir tua ultima vontade
Compreendi então porque a ocultaste.

A tua vida foi grande lição
Que eu procurarei sempre recordar.
Quão forte era teu nobre coração
E como foste heróica em teu lutar.

Os teus valores são também os meus.
E essa força que de ti recebi,
Recebeste-a do nosso mesmo Deus.
Só ao perder-te Mãe é que entendi!
=================

TROVAS

Na varanda, um quadro lindo:
a jovem mãe e a criança:
- Era a ternura sorrindo,
amamentando a esperança!
A. A. DE ASSIS - MARINGÁ

Deus, em toda a sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
pra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
GISLAINE CANALES – B. CAMBORIÚ

Depois que, mãe tu partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu...
ADELMAR TAVARES – PE

“Quem tiver filhos pequenos
por força há de cantar:
quantas vezes as mães cantam
com vontade de chorar.”
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – PR

Mãe, por mais que eu me concentre
na importância do que faço,
não esqueço que o teu ventre
foi o meu primeiro espaço.
ALMERINDA LIPORAGE – RJ

Mamãe, tua idade avança
e eu, triste, não me consolo,
porque sou sempre a criança
que precisa do teu colo!
MARIA NASCIMENTO - RJ

Guarda no olhar a doçura
com que me embalou um dia.
Mãe lembra sempre a figura
e a ternura de Maria.
NILCI GUIMARÃES – RJ

Para você, mãe, a prece
deste filho agradecido
que na terra não se esquece
de tanto amor recebido.
A. M. A. SARDENBERG – RJ

Como de um eixo central,
desde a manhã à noitinha,
a vida toda de um lar
gira em torno da mãezinha.
PEDRO COLTRO – SP

Minha mãe! Quanta saudade
de quem deixou-me, na Terra,
lições de total bondade
e de paz em plena guerra...
CLEVANE PESSOA – MG

Caso a sobremesa fosse
escassa, mamãe dizia:
- Tomem! Não gosto de doce!
... e docemente sorria
VANDA FAGUNDES QUEIROZ - PR

Fontes:

Ialmar Pio Schneider (Mario Quintana, o Poeta Maior)


Hoje, 5 de maio, reverencia-se a data do passamento do nosso poeta maior Mário Quintana, que ocorreu em 1994, portanto, há dezessete anos. Vem-me à memória que um dos primeiros poemas dele, de que tomei conhecimento, na minha adolescência, quando estudava o ginásio no Colégio Cristo Rei de Getúlio Vargas-RS, encontrado em uma revista cujo nome não me ocorre, mas que copiei em um caderno, na minha regular caligrafia cursiva daquela época, foi o seguinte:

NOTURNO

– Não sei por que, sorri de repente
E um gosto de estrela me veio na boca…
Eu penso em ti, em Deus, nas voltas inumeráveis que fazem os caminhos…

Em Deus, em ti, de novo…
Tua ternura tão simples…
Eu queria, não sei por que, sair descalço pela noite imensa.

E o vento da madrugada me encontraria morto [ junto de um arroio,
Com os cabelos e a fronte mergulhados na água límpida…
Mergulhados na água límpida, cantante e fresca de um arroio !”
( Mário Quintana)

. Até hoje guardo o caderno onde retirei este poema Noturno e sei que outros poemas com o mesmo título foram escritos pelo poeta, mas este, repito, foi o primeiro de que tive conhecimento.

Depois leria tantos outros versos e o que me encantaria foi o livro de sonetos “A Rua dos Cata-ventos”, que o poeta dedicou “A meus irmãos Milton e Marietta – Alegrete, Natal de 1938”, e que me inspiraria o SONETO A MÁRIO QUINTANA

Leio Mário Quintana e “A rua dos cata-ventos”
me leva à infância de menino sonhador,
quando inda não pensava em mágoas e tormentos
que havia de sofrer ao procurar o amor…

Vejo os dias sem sol, frios e nevoentos,
tal a “Londres longínqua” envolvida em palor.
...”(tudo esquecer talvez !)”... os bons e maus momentos,
as horas de alegria e também as de dor.

“A ruazinha” é tão calma e “sossegada”: agora
minha imaginação ouve “canções de outrora”,
e os “lindos pregões da madrugada”, me acordam…

Olho ao alto girar um cata-vento triste,
parece ser assim o último que persiste
de todos que, os de minha infância, hoje recordam !
– 23-9-1983.

Depois os anos foram passando e eu sempre lia os seus poemas em diversos livros, quase vinte, até o Baú de Espantos de 1986 e publicações em jornais no Caderno H. Hoje aí está a Casa de Cultura Mário Quintana, atestando que foi o poeta maior de nosso Estado e um dos mais importantes do País.

Quando do seu falecimento em 5 de maio de 1994, compus os seguintes versos, reverenciando sua passagem por aqui – VERSOS “IN MEMORIAM” AO MÁRIO QUINTANA-*30-7-1906-+5-5-1994 –

Evaporou-se a poesia,
num momento de ansiedade,
mas permanece a magia
no templo da Eternidade…

A vida não foi vazia,
cantando amor e saudade,
e buscou na fantasia
transformar a realidade !

E sempre viveu sozinho:
o poeta passarinho !...

– Canoas-RS, 7-5-1994.

Quis escrever estas palavras de escriba de província, para mais uma vez rememorar o magnânimo bardo gaúcho que partiu há nove anos, mas que continua vivo nas obras que deixou e na Casa de Cultura que leva seu nome. Que a chama de sua poesia inebriante brilhe sempre para nós, seus admiradores !

SONETO
em 20.06.2010 - Porto Alegre - RS

Hoje não fiz poesia, apenas li
alguns poemas de Mário Quintana.
Mas, o que faço agora, se escrevi
estas linhas, pensando na cigana

que leu a minha mão e soberana,
na sua ciência, que nunca entendi,
me confirmou que não seria insana
a história que ora vivo e que vivi?!

Penso, então, que não tinha que saber
estes desígnios de minha existência,
se fosse só para depois sofrer...

Fora sensato andar pelos caminhos,
ouvindo a voz silente da consciência,
que sempre faz-se ouvir pelos sozinhos...

Fonte:
Texto enviado por Ialmar Pio Schneider
Imagem = http://www.brasilescola.com

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXVII – O Pulo do Gato


A onça pediu ao gato que lhe ensinasse a pular, porque o maior mestre de pulos que há no mundo é o gato. O gato ensinou uma, duas, três, dez, vinte qualidades de pulos. A onça aprendeu todos com a maior rapidez e depois convidou o gato para irem juntos ao bebedouro, isto é, ao lugar no rio onde os animais descem para beber.

Lá viram um lagarto dormindo em cima duma pedra.

— Compadre gato — disse a onça — vamos ver quem dum pulo pega aquele lagarto.

— Pois vamos — respondeu o gato.

— Então comece.

O gato saltou em cima do lagarto e a onça saltou em cima do gato — mas este deu um pulo de banda e se livrou da onça.

A onça ficou muito desapontada.

— Como é isso, compadre gato? Esse pulo você não me ensinou...

— Ah, ah, ah! — fez o gato de longe.

— Isto é cá segredo meu que não ensino a ninguém. Chama-se o "pulo do gato" — meu, só meu. Os mestres que ensinam tudo quanto sabem não passam duns tolos. Adeus, comadre! — e lá se foi.
=============
— Ah! — exclamou Pedrinho. — Agora estou compreendendo por que se fala tanto no "pulo do gato"...

— Mas pulam mesmo assim ou é história da história? — perguntou a menina.

— Não há pulo que os gatos não dêem — disse dona Benta. — É um bichinho maravilhoso. Já vi o Romão cair dum telhado altíssimo. Outro bicho qualquer se espatifaria. Romão, porém, deu uma volta no ar e caiu sobre as quatro patas — e lá se foi, ventando, sem que nada lhe acontecesse.

— Mas se o gato é da mesma família da onça — observou a menina — tudo o que o gato faz a onça também deve fazer.

— Sim, mas o gato é pequeno e portanto tem agilidade muito maior que a da onça. Quanto pesa um gato? Um quilo, apenas. E uma onça? Cem vezes mais. Natural, portanto, que por causa do peso maior a onça não seja capaz de fazer o que o gato faz.

— É verdade, vovó — perguntou Pedrinho — que os políticos espertos usam o pulo do gato?

Dona Benta suspirou.
— Os políticos matreiros, meus filhos, são os gatos da humanidade. Dão toda sorte de pulos — e sabem muito bem essa história de cair de pé. Há alguns entre nós que podem dar lições a todos os gatos do mundo...
–––––––––––––
Continua… XXVIII – O Doutor Botelho
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Sourc
e

Caldeirão Poético I


Evaldo da Veiga
ESSE SOU EU


Já caminhei tanto
Jamais pensei viver tantos caminhos
Sinto que a linha de chegada está perto
Muitas coisas em vacilo, mas em outras
Tenho convicção que vivi tudo que podia

Vivi a vida que se ofereceu e um pouco mais
Esquivei-me do fim várias vezes
Muitas vezes não escolhi os caminhos
Segui por coincidência

Por instinto, um farol que indicava
E até mais do que isso, um empurrão
Que não sabia vindo de onde
Eu fiz como podia, segundo aprendi

Tudo bem ao meu modo
Muitas vezes não sendo o que eu queria
Consciência leve,
Não fiz melhor porque não pude

Em especial fiz melhor quando amei
Os momentos de rancor produziram pouco valor
Minha colheita melhor
Foi quando plantei o bem

E mesmo assim poderia
Ter feito bem melhor
Mas se soubesse o que sei hoje
Na época eu fiz o que sabia fazer

Busquei ver tudo até o detrás dos escombros
Até em noites escuras de incerteza
Busquei manter-me calmo
Planejando um amanhecer de luz e amor

Esses foram meus melhores momentos
Se fui afoito em alguns instantes
Em outros tive cuidado
Principalmente quando envolvia vida
Que não era a minha
Era bom cuidar além de mim, ser protetor

Fiz sempre assim ao meu modo
Houve dias de amargura, chorar por dentro
Na maioria só eu sabia da dor
A dor da gente nem sempre é notada

Quando dói mesmo não tem testemunhas
Às vezes o erro foi porque fui puro
Outras vezes não esperei o sinal
Quando eu quis abraçar o mundo com as mãos...

Mas nada disso já importa
O que vale é que,
se não posso alterar o início
Posso criar um novo começo, agora

Antônio Fonseca
MEU PORTO SEGURO


Cai a chuva com seus lamentos.
Encontra os meus e me inunda:
Medos, temores, desconfianças, síndromes e escuridão.
É necessária,
Mas rasga meu peito no espocar dos trovões
E cega-me os flashes intermitentes.
Agarro-me no que tenho:
Nau errante desgovernada.
Só Deus sabe a que distância está meu porto seguro!
Resta-me lavar a saudade
Nas águas vertentes dos olhos
Dos céus,
E meus!...
Em contrapartida existe o sonho
Que expulsa a lentidão desse telescópio
Nos erros grosseiros dos astrônomos,
E coloca-me lado a lado com Maria...
Com Maria (que me rege).
Assim; pode cair temporal!

Maria Rosana Temoteo da Silva
DESPEDIDA


Os versos que nunca te ofereci
surgem no momento de maior dor,
jamais pensei que omitirias
o sentimento que batizastes de amor.

Agora tu és o meu passado
e eu, um dia, tua namorada.
Ao me perguntarem hoje, o que sou tua
direi então: - "Simplesmente nada".

Talvez um dia ainda seremos
cúmplices no amor e na arte.
Aí então, depois de passada a mágoa,
te amarei novamente por toda a eternidade!

Delasnieve Daspet
SOMBRAS


Tantas saudades...
Começo a renovação,
Mas as sombras
Pesam-me nos ombros.

Cesar Moura
ABADIA


Prior regente do amor
Perdeu-se em ironia
Vencido pela dor,
Ao ver por arcaico modo
O destino da paixão.

Vencido pelo cansaço
O abade pois os pés no chão,
Quisera acreditar nesta fantasia
Que vestira a ilusão...

Precisou pintar de lorde
Nesta côrte o menestrel,
Não foi preciso desafiar à espada um dragão
Pela mão de uma princesa,
Bastou somente a realeza em vestes pompa
Para consagrar esta fábula na união!

Mas na abadia desfilou toda a congregação
No tapete vermelho da alta moda
Só por caviar e ostentação.

Vi no olhar do pobre súdito
Que desejava o confessor à confessar o seu amor
Por esta nata de toda nobreza,
Que ao pensar no desprezo que tem pela ralé,
Que só de doer já é pecar.

Conceição Pazzola
ECOS BANAIS


Sobrepondo-se ao cair da água
O choro da moça menina
Abala as paredes do banheiro
Testemunhas impotentes

Acima e abaixo do coração
Chora em silêncio lá fora
A mulher que tudo ouve
Impotente mãe, ora

Filha é também por instantes
Em seu mergulho interior
Conhece os porquês de ser
De tantas lágrimas inúteis

Depois do leite derramado
De tantas palavras ocas
Caídas no vazio do tempo
Ecos banais tão repetidos.

Roldão Aires
COINCIDÊNCIA


Sinto a tua ausência,
Aperta-me, a saudade.
Não sei se te mando
Rosas, para veres
Que meu amor, é verdade.
Quando, a estes versos
Escrevia,
Ouço baterem à porta.
Levantei-me para abri-lá
Eras tu com um ramalhete.
Pensastes como eu pensei,
Sentistes a mesma dor,
Que só quem ama sente.
Viestes com rosas.
Prá mim bastava,
Só um bilhete.

Marisa Cajado
VERSOS NA MADRUGADA


Há pouco foste embora...
Pouco tempo pra tanta demora
Em te encontrar novamente.
Deixastes impregnado levemente
Teu cheiro, tua lembrança
No quarto, na cama, no travesseiro
Na gama da química do amor.

Deitei-me no leito de forro marinho
E cobri-me com o lençol branco
O mesmo que nos cobriu e se fez ninho
Nestes dias de amar aberto e franco.
E tenho que calar no peito este afeto
Que teima em explodir, enquanto calas
O que por certo, não quer dizer teu ser inquieto.

E eu diria: _ Por que não falas?
Por que o silêncio que te distancia
Mais que os quilômetros que nos separam?
Dúvidas, anseios, que no ser resvalam
Em meio as recordações que já passaram
Tiram-me o sono, em nascente de poesia.
Pelas doces impressões que aqui ficaram

Como entender a química do sentimento
Que se expressa de modo tão diverso
Deixando adverso o pensamento
Sem resposta na tônica do meu verso?
Talvez o inverso deste verso que componho
Seja o teu verso, o teu testemunho
Deste querer que não trazes imerso,
Por não ser eu, a musa do teu sonho.

Fonte:
Colaboração de Poetas del Mundo

Marcelo Spalding (Literatura é Coisa para Jovem?)


Permitam-me um pouco de biografismo: 2008 me tem sido um bom ano literário. Finalmente consegui uma editora que editará meus livros e investirá no meu trabalho, consegui criar um formato de palestra que deu certo e com ela já fui do Rio de Janeiro à Ijuí, cidade a 450 Km de Porto Alegre. E foi justamente o tema proposto por essa cidade que provocou este artigo: literatura é coisa para jovem?

A questão parece retórica, mas quem circula por escolas sabe que o interesse pela leitura decresce ao longo dos anos escolares, apesar do esforço das instituições para que os alunos se interessem por literatura: quando se pergunta numa turma de Eduação Infantil quem gosta de lê, todos levantam a mão rapidamente; no Ensino Fundamental, metade levanta a mão com certa timidez; no Ensino Médio, é raro alguém se manifestar. Partindo do pressuposto de que a literatura é, como qualquer arte, “coisa” para qualquer idade, qualquer classe social, qualquer lugar, porque é algo que nos ajuda a compreender o mundo e a nós mesmos, somos obrigados a nos perguntar os motivos desse desinteresse. E nesse ponto, algumas perguntas se impõem:

1. A literatura é valorizada na mídia, na publicidade?

Em outras palavras: quantas vezes num filme juvenil aparece um personagem leitor? Qual o espaço que a literatura ocupa nas publicações para jovens, desde a Revista Recreio até a Capricho? Quando um personagem da Malhação manifestou interesse por literatura, pela escrita? Este parece um ponto central para compreendermos porque a sociedade como um todo não percebe valor na leitura, e isso responde um pouco também a questão 2.

2. A literatura é presente em casa? E na escola? A criança vê o pai ou o professor com um livro debaixo do braço?

Não sejamos ingênuos: o problema da leitura pode começar na escola, mas prossegue ou se intensifica ao longo da vida e hoje são poucos os leitores de fato, aqueles que por puro prazer entram numa livraria e compram livros. E não apenas entre os pais, que têm lá suas ocupações e compromissos, mas também entre os professores, soterrados por cargas horárias elevadíssimas e salários que não permitem a compra de, digamos, um bom livro por mês.

Assim, a criança e o adolescente não têm o exemplo, a referência, e ainda que isso não signifique necessariamente um afastamento da leitura, pode desmotivar aqueles jovens propensos a ler. Jovens, aliás, logo estigmatizados como nerds ou algo do gênero.

3. Também não será verdade que há uma parcela de leitores entre nossos alunos?

Como esboçado acima, não podemos negar que há algumas crianças e adolescentes propensos a ler, mais interessados na literatura, nas artes. É natural, aliás, que numa turma de 40 alunos uns 10 identifiquem-se mais com a matemática, outros com as ciências, outros com as humanas, incluída aí a literatura. É uma ilusão o professor pensar que toda sua classe irá reagir bem à Hora do Conto ou a um trabalho de literatura, talvez seja o caso de valorizar aqueles que lêem a fim de que os demais percebam valor nisso. E aí vem a questão seguinte.

Que tipo de livros esses alunos procuram? E que tipo de livros nós gostaríamos que eles procurassem e por quê?

Já foi dito que necessariamente haverá, numa classe de 40 alunos, uns 20% que gostam de ler, têm prazer em pegar um bom livro ou uma boa revista. O problema é quando o que eles consideram bom não é do gosto do professor, seja por um motivo ou outro. Exemplos temos vários, desde o menino fissurado por história em quadrinhos, que conhece todos os heróis e lê os gibis do pai para conhecer a história do gênero, até a menina ingênua encantada com Polyana ou agora fã de Meg Cabot. Passando, é claro, por alguns que descobrem que a literatura não precisa ser politicamente correta e procuram nela sexo ou violência, para pavor do professor, ainda que talvez seja este seu gênero preferido.

É nesse sentido que entra também o já batido debate sobre a leitura dos clássicos em sala de aula. Se percebemos uma perda de interesse pela leitura ao longo dos anos, não podemos negar que ela está relacionada à obrigatoriedade: quanto mais avançam na escola, mais os alunos são obrigados a determinadas leituras e, por não estarem de acordo com seus gostos e hábitos pessoais, rejeitam-nas, são censurados pelo professor, obrigados a ler tais títulos até que terminam por rejeitar a leitura como um todo, não preservando sequer aquele eventual gosto por gibi ou contos de fadas ou histórias policiais.

Também é verdade que a escola e o professor não podem se omitir diante da indústria cultural, são eles, e talvez só eles que um dia falarão sobre Homero, Machado de Assis, Luís de Camões, Gustave Flaubert, Edgar Allan Poe, ou mesmo Pablo Picasso, Wolfgang Mozart, Aleijadinho. É a escola a responsável por apresentar ao adolescente toda uma história cultural que forjou nossa civilização, mesmo que depois o aluno renegue esse aprendizado e torne-se um Homer Simpsons diante da tevê.

Difícil dilema, que para mim só se resolve com equilíbrio e adequação. Mas não vou me furtar de uma idéia de solução, ou de intermediação: um olhar mais atento para a literatura contemporânea.

Porque entre o clássico Flaubert e a popular Meg Cabot temos o contemporâneo, o Milton Hatoum, o Chico Buarque, a Jane Tutikian, a Ana Maria Machado, o Luis Fernando Veríssimo, o Renato Russo, o Vinícius de Moraes. Antes de ensinarmos a história da literatura, apresentarmos os clássicos, é preciso mostrá-los porque a literatura nos ajuda a compreender o mundo e a nós mesmos, tornando-se um prazer solitário e permanente. Isso não será feito com um texto de cem anos atrás que representa outra época, outro mundo, e sim com algo próximo a eles e escolhido pelo professor.

Sim, porque como mencionei acima, o professor e a escola não podem se omitir. Eles precisam saber indicar à turma ou ao aluno o tipo de livro mais adequado ao seu perfil, ao seu nível de aprendizado e interesse. Há hoje uma enorme oferta de títulos, muitos especialmente feitos para crianças e/ou adolescentes, de qualidades e intenções variadas, de preços e procedências variadas. Tendo o professor como filtro dessa produção, o aluno poderá manter o prazer pela leitura, mas tornar-se-á mais exigente e, em conseqüência, um leitor melhor.

Daniel Pennac, em “Os direitos imprescindíveis do leitor”, defende, entre outros, o direito de ler qualquer coisa, e conclui dizendo que “uma das grandes alegrias do educador é – toda leitura sendo autorizada – a de ver um aluno bater sozinho à porta da fábrica Best-seller para subir e respirar na casa do amigo Balzac”.

Aí sim, aí está criado o ambiente propício para o professor passar aos clássicos, porque este deve ser, sempre, o objetivo final de uma disciplina de literatura (não o inicial, note-se bem). Ítalo Calvino tem um texto formidável sobre o tema, “Por que ler os clássicos?”. Para ele, “os clássicos não são lidos por dever ou por respeito mas só por amor. Exceto na escola: a escola deve fazer com que você conheça bem ou mal um certo número de clássicos dentre os quais (ou em relação aos quais) você poderá depois reconhecer os ‘seus’ clássicos. A escola é obrigada a dar-lhe instrumentos para efetuar uma opção: mas as escolhas que contam são aquelas que ocorrem fora e depois de cada escola.”

Não é tarefa fácil, sem dúvidas. Mas depois de refletir sobre tudo isso me parece cada vez mais claro que o desafio é fazer da literatura não só coisa para jovens, mas coisa para pais e professores também. O que só se faz exatamente com bons professores ou quixotescos entusiastas, e você pode ter certeza que é um deles se chegou ao final deste artigo.

03/09/2008
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Fontes:
Artistas Gaúchos
Imagem = http://rociorodi.blogspot.com

Trovadores da Seção Bragança Paulista da UBT (Amor é…) final


NORBERTO DE MORAES ALVES

Poesia é o perfume
que se desprende da flor,
é o ansioso queixume
por um só beijo de amor.

Namoro muito agarrado
de gente de meia-idade
é como beijo roubado
que perdeu a validade.

Esbelta, de seio obeso
apertado em laçarote,
alguém queria estar preso
no xadrez desse decote.

THEREZINHA RAMOS DE ÁVILA

É um segredo de amor
numa valise guardado;
pode trazer muita dor
se um dia for encontrado.

Quisera ser trovador
para poder lhe mostrar
todo carinho e amor
que hoje eu quero lhe dar.

O meu destino eu lhe dei
e também meu coração.
Foi por amor, eu bem sei;
se eu errei, peço perdão.

VLADIMIR INOKOV

Nesta rede da varanda
sonho esperando te ver;
só falta pois, minha Amanda,
por aqui aparecer.

VOLPONE DE SOUZA

A mulher da Criação
plantada como uma flor,
regada com coração,
cultivada com amor.

WADAD NAIEF KATTAR

Hoje o frio me incomoda
muito mais que antigamente
pois já não mais me acomoda
o seu peito confidente.

Na jornada desta vida
já amei, sofri, chorei.
Hoje assopro a ferida,
disso tudo me cansei

Viva ame e sobreviva
mas aprenda a lição:
sempre a conquista afetiva
embaralha sua razão.

FÁBIO SIQUEIRA DO AMARAL - Atibaia

Um amor ou outro eu tive...
Conto-os nos dedos da mão;
me foram joias de ourives
que perdi por precaução.

Enrugado e impopular
como fole de sanfona,
corre o risco de ficar
quem o amor só coleciona.

O sincero sentimento
faz cantar nova canção,
sopra à vida o vivo alento,
quando o amor cala a razão.

E do amor tanto se fala,
se escreve e nada se sente;
esta trova não se cala
e haverá quem a desmente?!

Somos todos criaturas
pelo amor de Deus gerados;
Ele nos vê das alturas
e nos faz apaixonados...

Há nos céus menos estrelas
do que os versos que eu cantei;
nosso amor vai surpreendê-las
com os beijos que lhe dei...

MYRTHES N. S. DE MORAES -Atibaia

Foste o amor de minha vida,
e com ternura te amei.
Sem ti, fiquei sem guarida...
Sem teus beijos morrerei.

Se amor e felicidade
não fizessem bem à vida,
não teríamos saudade
de nossa infância querida.

O amor também traz surpresa
quando menos esperamos.
No início é tudo beleza,
muda depois que casamos.

Buscando alegre viver,
sempre feliz a cantar,
conseguirás te esquecer
de quem deixou de te amar.

Virgem Santa poderosa,
Mãe de Deus, o Salvador.
És a mulher mais bondosa,
só nos transmites amor!

A mulher apaixonada
quando recebe uma flor,
fica toda deslumbrada
e logo pensa que é amor.

UBT DE ATIBAIA

Com o amor no coração,
qualquer pessoa é feliz;
quando mostra sua ação,
quase todos pedem bis.
IRIZA

O casal é um inteiro,
vivendo pela metade.
Esse é o amor verdadeiro,
eis uma grande verdade!
VÂNIA

Deus é pleno e puro Amor,
em todos nós Ele habita.
Cria, sustenta, é ardor;
sua lei controla, dita.
SCHIRLEY

Por amor tudo se faz
até mesmo os sofrimentos.
Hoje existe pouca paz
entre muitos casamentos.
TEREZINHA

Alice me pede prova
do quanto amor lhe dedico.
Confesso aqui nesta trova:
sem essa mulher não fico!
NELSON

Ah! O amor e o verbo amar,
onde estão? No coração.
Sentimentos a criar...
Um é conceito, outro ação.
IRMA

CLÁUDIA L. DE MORAES – Socorro SP

Teus olhos são estrelinhas
num par de brilho constante...
ou será que são pedrinhas
redondinhas de brilhante?

O azul do céu tão bonito,
dia de inverno encantado,
garças rumando o infinito
e o meu amor ao meu lado.

Fonte:
Colaboração de Lola Prata com o livro "Amor é..." - Trovadores da Seção Bragança Paulista da União Brasileira de Trovadores - UBT - Novembro de 2010
Imagem = Imagens por favor

Sérgio Napp (Da Arte da Palavra ao Prazer da Leitura) Parte 2


Dos sessenta e nove anos que carrego, com certa facilidade, sessenta deles, por certo, dediquei, entre milhares de outras coisas, à arte de catar palavras. Parece-me que trabalho com as palavras desde sempre ou, pelo menos, desde o primeiro ano do primeiro grau (naquele tempo, primário). E não julgo que tenha sido em vão.

O primeiro jogo de cartas a dinheiro; a perda do mesmo e o medo em contar para o pai. A primeira dança com a menina que, mais tarde, voltaria a encontrar em outras circunstâncias. As brincadeiras com os amigos conquistados na ocasião, as correrias pelos caminhos desvendados. Enfim, um pedaço da infância que se perdeu no tempo. E daquele território, livre de qualquer restrição, a primeira palavra descoberta que lembro. Digo a primeira porque é a que a memória registra neste momento em que cato as palavras para escrever esta crônica.

Disbordar. Isso mesmo, disbordar era a palavra encantada que me trazia um som diferente e um sentido que não percebia muito bem. Claro que a empreguei na primeira redação daquele ano que se iniciava. E causou espanto. Por este espanto, dediquei-me a outras. E outras. Procurar palavras desconhecidas ou cujo sentido fosse, ao menos, estranho passou a ser meu secreto desejo.

Dou-me conta disso tudo ao falar para um grupo de estudantes noite dessas. Dou-me conta, agora conscientemente, que em grande parte da minha vida fui um trabalhador da palavra. Um palavrador. E tem sido uma experiência incrível!

Surgem, as palavras, nas horas mais estranhas. Numa fria madrugada me acordam, me sacodem e dizem: Levanta-te e anda! E que faço senão obedecê-las? Tiritando, saio atrás de caneta e papel para registrá-las. No ônibus, na fila do Detran, na corrida no parque. Quando menos prevenido me encontro elas me encontram. Numa reunião com amigos, no momento em que me preparo para um comentário qualquer, ela surge. Suspendo o gesto para recebê-la e brindo intimamente sua aparição. Os amigos não entendem. Que pode uma palavra, uma simples palavra, para perturbar um discurso? Ah, os amigos nunca entenderão, mas ela pode tudo.

Em outros momentos eu a procuro em desatino e ela não se revela. Busco a palavra certa para completar a frase perfeita e ela se esconde. Então não durmo, quase não converso, me disperso entre dicionários e pesquisas na internet, que o objetivo é um só: a tal da palavra. E ela, feito mulher bonita e desejada, se enche de brios, se faz de gostosa, de difícil, e não cede. Sofrer por ela é quase como sofrer por um amor impossível.

Eu, palavrador, tenho feito delas uma companhia de muitas e muitas horas, entre um cálice de vinho e um concerto de Bach. Tenho, com elas, uma luta cotidiana. Com várias derrotas e algumas vitórias. Que as palavras, caros leitores, não se rendem por qualquer elogio. Não se entregam a um simples toque de dedos. São orgulhosas, as palavras. Conhecem o seu valor. Maravilhosamente carinhosas, as palavras, quando sabemos conquistá-las.

Elas se divertem com os escritores que pensam que as têm em seu poder. Riem daqueles que imaginam que elas estão a sua disposição em qualquer circunstância. Mas se deliciam com os que entendem que uma palavra não é feita tão somente de símbolos e caracteres, mas que elas contêm segredos e artimanhas. Uma palavra, caros amigos, possui alma. Perversa com quem a desdenha; generosa com quem desvenda sua intimidade.

Eu, no meu ofício a respeito. Essa que se entrega e se deixa burilar, diamantemente esplendida e luminosa, por tantos escritores, o que me causa inveja. Essa que, de vez em quando, pousa em mim cheia de encantamento.

Fonte:
Artistas Gaúchos

Vicência Jaguaribe (Chuva de Verão)


São coisas de momento
São chuvas de verão
(Chuvas de verão. Fernando Lobo.)


O doutor saiu da sala de cirurgia e foi para casa. Graças a Deus terminara tudo em paz! Ele é que não estava nada bem. A jovenzinha que operara em uma cirurgia de emergência lembrou-lhe aquela outra jovem. A que ficara no passado, mas que, de tempos em tempos, batia no portão de suas lembranças, pedindo para emergir. E, às vezes, ele não podia impedi-la. E ela saía, e conversava com ele, e soltava sua risada alegre e descontraída. Naquele dia, ela estava impossível, indomável. Apareceu e sentou-se a seu lado no carro, obrigando-o a reviver o passado.

Férias. Férias de verão. Férias de verão na praia. O encontro planejado às escondidas. Dois adolescentes. Pareciam tão ingênuos os dois! Tão dispostos a darem certo! Tão apaixonados!

O forró na vila dos pescadores, iluminado pelos candeeiros e pela luz da lua. E os dois sentados lá fora. Não, não queria dançar, não queria participar daquele divertimento que os levaria ao contato com outras pessoas. Queria ficar sozinho com ela. Tendo somente um a companhia do outro.

O mar, um líquido facho de luz concentrado, importado lá de cima, parecia espalhar claridade nos espaços abertos e insinuar-se nas grotas e cavernas. Eles desceram para a praia e sentaram na jangada, que esperava o tempo necessário ao descanso do pescador, preparando-se para levá-lo ao mar no dia seguinte.

E ficaram lá, de mãos dadas, olhando o movimento das ondas, ele entregando a ela seus sonhos e planos de futuro. Arrancaram-no do êxtase amoroso os chamados do pai dela. Entreolharam-se. Sabiam que correriam perigo se fossem encontrados juntos e sozinhos. Mandou-a correr e entrar na sala do forró. Ele ficaria ali. Assim, o pai dela pensaria que os dois não estavam juntos.

A aproximação do homem o fez estremecer. Ou foi a rajada de vento mais fria que levou todo mundo a encolher-se? O que ele fazia ali sozinho? Onde estava a sua filha? Vamos, falasse logo! Dissesse alguma coisa! O garoto respondeu que a tinha visto no salão do forró, dançando com o irmão. Descera sozinho fazia algum tempo. Não sabia onde ela estava naquele momento.

O homem subiu. Olhou entre os que dançavam. Perguntou aos conhecidos. Nada. Foi a casa. Ela não havia chegado. Uma chuva inesperada, grossa e rápida – chuva de verão – mandou os dançantes para casa. E o pai esperou a chuva parar. Pegou a lanterna e foi procurá-la. Quando desceu, o garoto não estava mais na jangada. Toda a praia era um deserto iluminado pelo luar. O homem andou para um lado, andou para o outro, jogando a luz da lanterna nos recantos e nas grotas. Quando viu que não a encontraria sozinho, pediu a ajuda dos pescadores conhecidos. E formaram-se dois grupos, que a procuraram por toda a redondeza.

O homem deparou com a mulher, já desesperada. Ela não aparecera ainda. Procurou o rapaz e encontrou-o em casa, certo de que ela estava na segurança da família. Acusou-o do desaparecimento da filha. Jurou que o entregaria à Polícia. O pai do rapaz interveio e com o filho integrou os grupos de busca.

Já clareava quando o pai dela resolveu ir à delegacia. Registrou o desaparecimento e deu queixa do rapaz. O delegado passou a coordenar a busca. Antes, porém, chamou o jovem e fez-lhe algumas perguntas. O rapaz parecia sincero. Se acontecera alguma tragédia com a moça, achava, ele não tivera participação.

Eram seis horas quando o delegado mandou todos às suas casas. Tomassem café. Estivessem reunidos às oito horas, e reiniciariam as buscas.

Não foi necessária mais nenhuma busca. Quando o pai dela se aproximou de casa, viu um carro parado. Ainda conseguiu vislumbrar o beijo cinematográfico que o motorista deu na sua filha. Abriu a porta do carro e arrancou-a de dentro de veículo. Olhou para o homem e percebeu que ele tinha quase a sua idade. Segurou-o pela gola da camisa, mas teve de soltá-lo, pois o carro arrancara.

Deus! A sua menina havia sido seduzida por aquele velho! Seduzida!? Ponderou: seduzida, talvez não. E ele, preocupado com o namoro dela com o garotão! Puxando-a pelo braço, obrigou-a a entrar em casa. Forçou-a a falar. E ela revelou tudo: desde o início das férias encontrava-se com aquele homem. Estava apaixonada por ele, que queria casar com ela. E o garotão? Era só fachada. Não queria que a família soubesse. O pai não teve condições de aplicar-lhe umas boas lapadas de cinturão, como desejava, nem de continuar a conversa. Sentiu forte dor no peito e foi levado ao hospital daquela cidadezinha de veraneio, de onde o transferiram para a capital.

O garoto soube de tudo pela empregada da família. Sofreu, mas não mais a procurou. Nem precisava. Por todos aqueles anos ela instalou-se em sua memória. Ele formou-se, casou-se, teve filhos, vivia bem com a mulher, mas a hóspede inoportuna continuava ocupando um espaço precioso em sua vida.

O doutor olhou para o banco do passageiro e lá estava ela. Quando pôs o carro na garagem e entrou em casa, ela recolheu-se a seu espaço secreto, onde ficaria quieta e comportada, até que algum acontecimento, alguma pessoa, alguma música, algum perfume o levassem a convidá-la a sair. Ou ela mesma impusesse sua vontade de expor sua figura impertinente.

Fontes:
Conto enviado pela autora
Imagem = http://www.mariazinhas.blogger.com.br

Anderson Moço (Projetos Didáticos) Parte I


1 O que é projeto didático?

Projeto didático é um tipo de organização e planejamento do tempo e dos conteúdos que envolve uma situação- problema. Seu objetivo é articular propósitos didáticos (o que os alunos devem aprender) e propósitos sociais (o trabalho tem um produto final, como um livro ou uma exposição, que vai ser apreciado por alguém). Além de dar um sentido mais amplo às práticas escolares, o projeto evita a fragmentação dos conteúdos e torna a garotada corresponsável pela própria aprendizagem.

Os projetos estão mais populares do que nunca. Redes de todo o país incentivam o trabalho com essa modalidade e algumas escolas preveem no currículo os que serão realizados durante o ano. Boa notícia. Afinal, em muitos casos, eles ajudam a ensinar mais e melhor.

2 Quais as características de uma boa proposta?

Os projetos podem ser planejados e organizados de inúmeras formas, porém algumas ações são fundamentais:

1. Tema: delimitar e conhecer bem o assunto que será estudado e pesquisá-lo previamente.

2. Objetivos: escolher uma meta de aprendizagem principal e outras secundárias que atendam às necessidades de aprendizagem

3. Conteúdos: ter clareza do que as crianças conhecem e desconhecem sobre o tema e o conteúdo do trabalho.

4. Tempo estimado: construir um cronograma com prazos para cada atividade, delimitando a duração total do trabalho.

5. Material necessário: selecionar previamente os recursos e materiais que serão usados, como sites e livros de consulta.

6. Apresentação da proposta: deixar claro para a sala os objetivos sociais do trabalho e quais os próximos passos.

7. Planejamento das etapas: relacionar uma etapa à outra, em uma complexidade crescente.

8. Encaminhamentos: antecipar quais serão as perguntas que você fará para encaminhar a atividade.

9. Agrupamentos: prever quais momentos serão em grupo, em duplas e individuais.

10. Versões provisórias: revisar o que a garotada fez e pedir novas versões do trabalho.

11. Produto final: escolher um produto final forte para dar visibilidade aos processos de aprendizagem e aos conteúdos aprendidos.

12. Avaliação: prever os critérios de avaliação e registrar a participação de cada um ao longo do trabalho.

Fontes:
Revista Nova Escola.
Informática na Educação

Ciranda de Trovas (Equilíbrio) Parte I


Padrinhos

Agindo em plena razão

para o equilíbrio buscar,

controle sua emoção
e deixe o bom senso atuar.
Cláudio de Morais
TAUBATÉ - SP

Quem o equilíbrio cultua,

não vive vagando ao léu;
percebe que a prece sua

alcança mais cedo o céu!

José Valdez Castro de Moura
PINDAMONHANGABA - SP


CIRANDA DE TROVAS TEMA: EQUILÍBRIO

001
Já no equilíbrio das ondas
vejo o mar agradecer,
os limites que lhe sondas
e que o faz aparecer.
MIFORI
MOGI DAS CRUZES – SP

002
Só ficaremos de pé,
ante os percalços da vida,
quando o equilíbrio da fé
nos mostrar uma saída.
HÉLIO PEDRO SOUZA
NATAL – RN

003
Equilíbrio nas ações,
palavras e pensamentos,
enlaçam os corações
nos mais puros sentimentos ...
MARIA EMÍLIA LEITÃO MEDEIROS REDI
PIRACICABA – SP

004
Equilíbrio é harmonia,
prudência e moderação;
mantê-lo é manter em dia
mente sã em corpo são.
MYRTHES MAZZA MASIERO
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP

005
Na corda bamba da vida
meu equilíbrio anda perto
de descobrir a medida
entre um tombo e um passo certo
ALBA CHRISTINA
SÃO PAULO - SP

006
Para ser feliz, na vida,
bem alegre, a todo instante,
sem causar qualquer ferida,
o equilíbrio é importante.
NEI GARCEZ
CURITIBA – PR

007
Siga firme nessa lida,
no equilíbrio e sensatez,
soboreie sempre a vida,
se orgulhando do que fez!
DIRCE MONTECHIARI
NOVA FRIBURGO - RJ

008
Manter-se a justa medida
em tudo quanto se faz,
promove e harmoniza a vida:
- O Equilíbrio leva à Paz!
MARISA VIEIRA OLIVAES
PORTO ALEGRE – RS

009
No equilíbrio a lei é essa:
sempre andar devagarzinho.
Quem corre, muito tropeça,
acaba errando o caminho.
CÔNSOLI
BELO HORIZONTE – MG

010
Duas forças em meu ego
tem a mesma intensidade
e em equilíbrio as carrego:
O sonho e a realidade.
MIGUEL RUSSOWSKY
JOAÇABA – SC

011
O equilíbrio na afeição
e o amor na dose certa,
harmonizam a paixão,
quando no peito desperta.
JOEL HIRENALDO BARBIERI
TAUBATÉ – SP

012
Num equilíbrio perfeito,
cidadania há de ser
amar e honrar o direito,
levar a sério o dever.
ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS
MARINGÁ - PR

013
Quem tem nobres sentimentos
e equilíbrio na afeição,
evita grandes tormentos
e mágoas no coração.
SÔNIA MARIA SOBREIRA DA SILVA
RIO DE JANEIRO – RJ

014
Perco a paz... não a retenho,
tonteio... fico sem norte,
se o equilíbrio eu não mantenho
na minha emoção mais forte.
THEREZINHA TAVARES
NOVA FRIBURGO – RJ

015
Equilíbrio é o que preciso,
quando a razão escasseia,
porque a alma perde o siso,
e o coração cambaleia.
NAIDATERRA
OSASCO – SP

016
Opostos os sentimentos
são eles ódio e paixão.
Mas, temos que estar atentos
com equilíbrio e razão...
DILMA SUERO
ESTÁCIO – RJ

017
Ajustar a temperança,
o equilíbrio e a sensatez,
é mostrar mais segurança
e viver com fluidez.
LÍDIA VARELA SENDIN
PIRACICABA - SP

018
Equilíbrio, um dom da vida,
dos sábios, grande virtude
junto a afeição consolida,
seu poder de plenitude.
VÂNIA MARIA SOUZA ENNES
CURITIBA – PR

019
Equilíbrio, harmonia!
Meu estro vou pôr à prova ...
Vou dar cores à poesia!
E a doçura nesta trova.
MARLENE DE OLIVEIRA LOPES
MOGI DAS CRUZES – SP

020
Com dose medicinal
e um equilíbrio perfeito,
não há carinho anormal
e nenhum homem sem jeito!
MARILENE BUENO
ELDORADO DO SUL – RS

021
Equilíbrio faz contraste
entre o sentido e a razão,
ligados na mesma haste
que comandam a emoção!
CÉLIA APPARECIDA SILLI BARBOSA
RIBEIRÃO PRETO – SP

022
Neste nosso caminhar,
equilíbrio tem que ter:
em nossa forma de amar
e no nosso proceder!
CYROBA C.B. RITZMANN
CURITIBA – PR

023
Quem age com equilíbrio,
moderação e presteza
dispensa força e ludíbrio
pra afirmar sua grandeza.
CYRO MASCARENHAS RODRIGUES
BRASÍLIA – DF

024
O amor é sempre traiçoeiro
e compete com a razão
e o equilíbrio verdadeiro
se perde com a emoção.
ELISA SANTOS
PONTA GROSSA – PR

025
Na balança da afeição
equilíbrio tem que haver
pra medir com precisão
o valor do bem-querer.
EDINA DUARTE SILVA DO PRADO
RIBEIRÃO PRETO – SP

026
O mais lindo dos romances
entre pessoas mantém,
diante das várias chances,
seu equilíbrio também.
MARIA DIVA FONTES RICO
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP

027
Tanto em crentes, como ateus,
há tanta gente perdida,
que apenas peço: - Meu Deus,
dá-lhe equilíbrio na vida.
OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO
PAREDE – PORTUGAL

028
O equilíbrio é necessário
Sempre com justa medida
Será sempre um relicário,
Que deve manter na vida!
MARIA JOSÉ FRAQUEZA
OLHÃO – PORTUGAL

029
Equilíbrio na afeição,
na justiça e no dever,
só assim, numa Nação,
valia a pena viver.
CLARISSE BARATA SANCHES
GÓIS - PORTUGAL

030
Auto domínio da mente,
comedimento e prudência,
são o equilíbrio presente
em nossa sobrevivência!
MAIMA
TOULON – FRANCE

031
Numa família de bem
com falta de suprimentos,
equilíbrio é ganhar cem
e precisar de duzentos.
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
PAREDE – PORTUGAL

032
Equilíbrio é bom no afeto;
é ponto a considerar.
Se tens um bem predileto,
deves o amor moderar.
ANGELA ANDRADE

033
Nosso equilíbrio da mente
procuremos nós, manter,
para viver plenamente
e penúrias nunca ter.
JAMIL PISCOYA AYALA
PERÚ

034
De equilíbrio já dei prova
pelo mundo, em toda a parte.
Mas, pra fazer uma trova,
falta-me o engenho e arte.
JORGE A. G. VICENTE
SUÍÇA

035
Com a vida equilibrada,
a crise será vencida.
Um amor que do Céu brada,
não desliza na descida.
ISAURA MARTINS LAMBERIAS TÁBOA
PORTUGAL

036
Todo homem deve saber,
que na mente, corpo e alma
EQUILÍBRIO há que ter,
para conservar a calma!
CRISTINA OLIVEIRA CHAVEZ
CALIFORNIA – ESTADOS UNIDOS

037
É pura "necessidade"
equilíbrio do viver
compreender com humildade
que tudo deve morrer!
CARLOS IMAZ ALCAIDE
ALICANTE / ESPAÑA

038
Queria ter equilíbrio
para atravessar o mar,
mas, só o desequilíbrio
é que me faz lamuriar.
DÉBORA EVELIN SILVA DE SOUZA.
PARAIBUNA – SP
EE. “Cel. Eduardo José de Camargo”
Profª Teresa Benedita

039
Nem só equilíbrio e paz
em teu rosto contemplei.
Sentindo que sou capaz:
com mais amor agirei.
ISABELLE C. G. GALVÃO SILVA
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
Prof. Rose

040
Com equilíbrio caminho
num único movimento.
Sigo sempre tão sozinho
com todo o meu sentimento.
CAROLINE GONÇALVES DOS SANTOS.
PARAIBUNA – SP
EE. “Cel. Eduardo José de Camargo”
Profª Helô

041
Equilíbrio é preciso
para andar de bicicleta
para ter também juízo
e tornar- se um bom atleta
MARGARETE APARECIDA DOS SANTOS CARDOSO
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
Profª Rose

042
Equilíbrio eu quero ter
para andar de bicicleta,
para um dia vir a ser
talvez, quem sabe, um atleta,
MARIA THEREZA MAZIERO DE OLIVEIRA
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP
Escola: “Natural Vivência”
Prof. Thereza

043
Com compasso e equilíbrio
andarei pela cidade.
Se tiver desequilíbrio
sairei da realidade.
ARIANE APARECIDA DOS SANTOS MACIEL
PARAIBUNA – SP
EE. “Cel. Eduardo José de Camargo”
Profª Helô

044
No batente a porta cabe
mas, estava tão aberta!...
Equilíbrio? Não se sabe.
Se não tem, a gente acerta.
RAFAELA RODRIGUES LOLO
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
Profª. Celina

045
Estava andando na rua
quando perdi o equilíbrio.
Riram todos, até a lua,
desse meu desequilíbrio.
CARLOS MAGNO BATISTA DA SILVA
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
Profª. Celina

046
Com equilíbrio...Cai não!
Caminhando com cuidado
chegará, feliz irmão,
assim tão bem aprumado.
TAILA FERNANDA BITTENCOURT
PARAIBUNA – SP
EE. “Dr. Cerqueira César”
-Profª. Celina

047
Ter equilíbrio na mente,
a maior felicidade;
findar a vida da gente
depois da terceira idade!
DIAMANTINO FERREIRA
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

048
Ter equilíbrio é preciso
para poder viver bem.
Entre lágrima e sorriso
existe a pausa, também!
GISLAINE CANALES
CAMBORIÚ – SC

049
Dá-se equilíbrio e vigor,
quando há perfeita equação,
entre uma vida interior
e sua real ação.
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
PINHALÃO – PR

050
Equilíbrio deve haver
mesmo no auge da paixão,
mas difícil é conter
nosso pobre coração !...
SÔNIA DITZEL MARTELO
PONTA GROSSA – PR

051
Equilíbrio, marco fiel
no romance com lealdade.
É gostoso como mel,
expondo sinceridade.
AGOSTINHO RODRIGUES
CAMPOS – RJ

052
Diminuir a pobreza?
O equilíbrio é solução:
quem sobrar, em sua mesa,
dê ao mais pobre o seu pão!
ALBA HELENA CORRÊA
NITERÓI - RJ

053
Um amor inconsequente
quando vira uma paixão,
tem equilíbrio na mente
mas não tem no coração!
ADEMAR MACEDO
NATAL – RN

054
Você pode até amar
aos limites do impossível,
mas ao se relacionar,
equilíbrio, imprescindível.
RAYMUNDO SALLES BRASIL
SALVADOR – BA

055
O equilíbrio que proponho,
tem em uma extremidade,
o irrealismo do sonho
e na outra a realidade!
FRANCISCO NEVES DE MACEDO
NATAL – RN

056
O equilíbrio na afeição,
vale como um bom tempero,
dá sabor à relação
vai fugindo do exagero.
ALFREDO BARBIERI
TAUBATÉ – SÃO PAULO

057
Com muita dedicação,
equilíbrio é sintonia,
acalenta o coração,
no casal é harmonia.
NICOLAU ABICALAF NETO
PINHAIS – PR

058
Equilíbrio de talento,
autocontrole, harmonia,
domínio, comedimento,
enriquecem nosso dia!
DELCY CANALLES
PORTO ALEGRE – RS

059
Ter equilíbrio na vida
faz bem para o coração;
ser a Deus agradecida,
demonstra ter emoção.
NEIVA FERNANDES
CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ

060
Neste mundo tão moderno
busca o equilíbrio,razão,
para tudo que é do inferno
nesta vida de cristão.
NILTON MANOEL
RIBEIRÃO PRETO-SP
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Continua...Trovas 61 a 120.
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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 205)


Uma Trova Nacional

Tantos passos caminhei
por labirintos incertos.
Hoje nas trovas achei
como vencer os desertos.
–JOSÉ FELDMAN/PR–

Uma Trova Potiguar

Das luzes da mocidade
iluminando a ilusão
restou somente a saudade
dando sombra à solidão!!!
–LUIZ DUTRA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR Tema: MADRUGADA - M/E

Nas madrugadas compridas,
em que a solidão me invade,
eu vivo milhões de vidas...
movidas pela saudade!
–MARIA NASCIMENTO/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram


Trovas que fiz, de saudade,
de sonho... Amor... Ilusão...
Não traduziram metade
das mágoas do coração!
–APARÍCIO FERNANDES/RN–

Simplesmente Poesia

–CARMO VASCONCELOS/PORTUGAL–

Metade de Mim

Metade de mim é o que hoje vivo:
A pálida laranja, suco gasto,
Não mais a sobremesa do repasto
Nem o prévio e gostoso aperitivo.

Metade de mim é o que inda espero:
O convexo perfeito e sem desnível
No côncavo que sou, apetecível;
O Yang no meu Yin, com esmero.

Sob a casca que enruga ao tempo austero,
Sou polpa que arrefece ao estio que escapa,
E só minha esperança, não farrapa,
Aquece os gomos doces que lidero.

Metade de mim é o que hoje vivo,
E minha outra metade é o que espero!

Estrofe do Dia

Sou eterno marinheiro,
viajo em busca da sorte,
passo perigo de morte
enfrentando o nevoeiro;
se eu não fosse tão certeiro
quando sacudo o arpão,
com certeza um tubarão
já tinha me mastigado;
sou um barco viajado
no mar da desilusão.
–SEBASTIÃO DIAS/RN–

Soneto do Dia


–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–

Quando a Alma Chora

É quando o corpo já está cansado,
quando, da noite, cai a escuridão,
quando a tristeza assola o coração.
O que está certo? Tudo está errado!

Quando o tempo busca, endiabrado,
entortar o caminho, uma missão.
Quando o pranto se espalha pelo chão
e o pensamento jaz acorrentado.

A natureza é morta, a voz se cala,
o olhar está perdido na montanha,
enquanto a mágoa cresce em larga escala

e sofre o interior que, mudo, apanha
da ingratidão que oprime, que avassala,
buscando ser feliz com tal façanha.

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo
Pintura a óleo de Angela Kelly Topan (minha cunhada)

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXVI – A Onça e o Coelho


A onça havia plantado uma roça, onde nasceu muita urtiga. A onça ficou atrapalhada. Nem entrar na roça podia, porque a urtiga arde muito. Foi então e chamou os animais da floresta.

— Quem me capinar esta roça sem se coçar ganha um boi — disse ela.

O macaco se prontificou a fazer o serviço. Mas assim que deu começo à capinação, coçou-se tanto que a onça o tocou de lá.

Veio o bode, que também se cocou com o chifre. A onça tocou o bode.

Por fim apresentou-se um coelhinho. "Esta é boa!" — disse a onça. — "Se nem o macaco e o bode puderam capinar a roça, que espera fazer este bichinho?" Mas como o coelho insistisse, consentiu.

A onça ficou fiscalizando o serviço para ver se ele se cocava; depois cansou-se daquilo e deixou uma sua filha no lugar.

O coelho, que não podia mais de tanta comichão, teve uma idéia. Voltou-se para. a filha da onça e perguntou: "Escute: aqui, oncinha, o tal boi que sua mãe: prometeu não é um boi malhado, com uma mancha amarela aqui (e dizendo isso cocava a perna), e outra aqui (e cocava o lombo) e outra aqui (e cocava o focinho)?

A oncinha, muito boba, respondeu que era. O coelho prosseguiu no trabalho, e quando a comichão apertou demais veio novamente perguntar se o boi não tinha também urna mancha amarela em tal e tal parte — e cocava ali. E desse modo conseguiu capinar a roça inteira, ganhando o boi.

Mas a onça impôs uma condição.

— Compadre coelho, dou o boi, mas você só poderá matá-lo num lugar onde não houver moscas, nem galo que cante, nem galinha que cacareje.

O coelho, concordando, lá se foi com o boi em procura dum lugar onde pudesse matá-lo. Andava um pedaço, parava, escutava e sem tardança ouvia um cocoricocó!

— Aqui não serve. Tem galo — e seguia para adiante.

E foi andando até que chegou a um lugar onde não havia mosca nenhuma, nem se ouvia nenhum coricocó. Então matou o boi. Nisto surge a onça.

— Compadre coelho — disse ela — um boi é muita coisa para você. Passe para cá um pedaço.

O coelho deu-lhe um pedaço, que a onça devorou num segundo.

— Não chegou para matar a minha fome, compadre. Passe para cá outro pedaço — e o coelho deu outro pedaço. Por fim a onça devorou o boi inteirinho.

O coelhinho voltou para casa muito triste, com o facão na cintura. Ia pensando num meio de vingar-se da onça. Teve uma idéia. Entrou no mato e pôs-se a cortar cipó. Aparece a onça.

— Que está fazendo aí, compadre coelho?

— Estou tirando cipós. Como Deus vai castigar o mundo com uma tremenda ventania, preciso de cipó para me amarrar a um tronco de árvore.

A onça, amedrontadíssima, pediu:

— Nesse caso, amarre-me também, compadre.

— Não posso — disse o coelho fingida-mente. — Tenho de ir para casa amarrar meus filhinhos.

— Amarre-me primeiro, pediu a onça, e depois vá amarrar seus filhinhos.

O coelho cocou a cabeça; por fim disse:

— Está bem, comadre onça: como prova de amizade vou fazer esse grande favor — e amarrou-a com todos os cipós, deixando-a impossibilitada do menor movimento.

— Bom — disse ele ao concluir o serviço — a comadre está tão bem amarradinha que nem o maior dos furacões é capaz de arrancá-la daí — e foi-se embora, a rir.

Passado algum tempo a onça, vendo que não vinha vento nenhum, desconfiou. "Querem ver que fui tapeada pelo tal coelho? Como agora livrar-me deste amarramento?"

Vinha vindo um macaco.

— Amigo macaco, faça o favor de tirar de mim estes cipós.

Mas o macaco, sabidão que era, apenas disse: "Deus ajude a quem te amarrou", e foi-se embora.

Apareceu um veado.

— Amigo veado, faça o favor de desamarrar-me, pediu a onça.

O veado, apesar de burrinho, deu a mesma resposta do macaco, e lá se foi.

Veio o bode, e aconteceu a mesma coisa.

Passadas algumas horas, o coelho foi espiar como ia indo a onça.

— Compadre coelho, viva! O vento não aparece e eu estou que não posso mais. Venha desamarrar-me.

O coelho, com dó dela, pôs-se a desenrolar os cipós. Assim que a malvada se viu livre, nhoc! deu-lhe um pega. Mas o coelho alcançou dum pulo um buraco; mesmo assim a onça agarrou-lhe um pé. O coelho caiu na risada.

— Ah, como é tola a minha comadre onça! Agarrou uma raiz de pau e está pensando que é meu pé. Ah, ah, ah!...

A onça, desapontada, soltou as unhas, pensando mesmo que houvesse ferrado uma raiz de pau. O coelho afundou no buraco.

Uma garça veio pousar ali perto. A onça chamou-a.

— Comadre garça — disse ela — bote sentido nesta cova enquanto eu vou buscar uma enxada. Não deixe o coelho sair.

A garça ficou na árvore, com os olhos no buraco. O coelho disse:

— Que grande tola! Então é assim que garça toma conta de buraco onde está um coelho?

— Como devo fazer então? — perguntou a bobinha.

— Ora, ora! Tem de vir aqui e ficar com o bico dentro do buraco.

A garça desceu da árvore e enfiou o bico no buraco. O coelho atirou-lhe aos olhos um punhado de areia e escapou.

Nisto veio a onça com a enxada. Cavou, cavou até lá no fundo e nada de coelho.

— Comadre garça, que fim levou o coelho que estava aqui?

— Não sei — respondeu a tola. — Ele me mandou que enfiasse o bico no buraco. Assim que enfiei o bico, me botou nos olhos uma areia. Fiquei cega e nada mais vi.

A onça, furiosa, deu um bote na garça, que lá se foi voando, muito fresca da vida.
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— Boa, boa — disse Emília. — Estou gostando mais destas histórias de bichos do que das de reis e Joãozinhos.

— Estas histórias — explicou dona Benta — foram criadas pelos índios e negros do Brasil — pela gente que vive no mato. Por isso só aparecem animais, cada um com a psicologia que os homens do mato lhe atribuem. A onça, como é o animal mais detestado, nunca leva a melhor em todos os casos. É lograda até pelos coelhos.

— E há invençõezinhas engraçadas nessa história — observou a menina. — O jeito do coelho enganar a filha da onça, com tais perguntas sobre as manchas do boi, está muito interessante. Acho que tia Nastácia só deve contar histórias assim. Das outras, de príncipes, estou farta.

— Pois então vou contar a história do pulo do gato, — disse tia Nastácia— e contou.
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Continua… XXVII – O Pulo do Gato
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Sérgio Napp (Da Arte da Palavra ao Prazer da Leitura) Primeira Parte


Com tempo ruim,
todo mundo também dá bom dia.
Gonzaguinha


O primeiro alimento é a palavra. Da concepção ao nascimento ela agasalha, reconforta, acarinha: conta do frio e do calor, do inverno e do verão, do medo e da alegria. Diariamente relata, passo a passo, músculo a músculo, o transcorrer da vida.

A primeira palavra balbuciada é alimento para os que nos cercam. Há quem a grave, quem a escreva, quem a conserve ao longo de todos os tempos. É como se fosse um aviso, um prenúncio, a suprema revelação.

Cada palavra é única. Ninguém há de sabê-la melhor que nós. Pede abrigo, pede pouso, comida e roupa lavada. E, se não nos precavermos, água Perrier.

Toda palavra nos ferra. Com sua marca indelével nos lembra o silêncio dos entardeceres. Destino, punhal suspenso na esquina do coração. Estrela que se esqueceu de nascer.

Por vezes perdemos o rumo, tantas são as palavras nas terras em que se lavra o duro ofício de ser. Então é preciso vigiar dia e noite em busca das que nos revelem: como se quebra o gelo dos homens, como se sangram novos caminhos, como se aprende a crescer?

Palavras são brinquedos de armar.

Vejamos uma que indique sentimento, dor; e outra, que passe a idéia de vento, de alento, ventilar. Da mistura das duas pode-se ter ventilador. O ventilador ventila a dor? A dor que o ventilador ventila é a dor do calor? Não seria ventilacalor? E o que dizer do espanador? Ou do ralador?

Todos conhecem e cantam,
O meu boi morreu que será de mim...

mas, e se alguém trocar uma única letra, criando uma nova palavra,

O meu boy morreu que será de mim...,
quantas leituras faremos a partir de então?

A palavra é pulsante, ardilosa em suas teias de horizonte, difícil domá-la na arena do papel.

Cabe dissecá-las, acariciá-las. Cabe imaginá-las, aquí e ali, dependuradas à frase.

Pode-se escrever no colo da vida? É confortável? Ou estará coberto de espinhos...

Doce de chuchu lambuza a alma? Um bule esmaltado fareja as manhãs? Lâminas de sal ferem? A pele do tempo sufoca? Que pássaros migram dos olhos da amada? Um céu de infinitos possui tímpanos de prazer? E as roupas sonolentas nos varais, quem as terá colocado? Os dardos da angústia prevalecem? Quem fez o laço dos moinhos e deitou-se no ventre das pedras? A tarde é uma interrogação?

O grão se faz à medida para que a palavra exploda e o menor de seus fragmentos é vida.

Que pode oferecer o que trabalha a palavra, a não ser a própria palavra retransformada em casa, beijo, prego, anzol ou pedra de rio?

A palavra arde; a palavra fere, mastiga, tritura; a palavra brota; a palavra é grão; a palavra explode em veludo.

Carpir silencioso onde sequer a voz alcança, ventre onde o som debulha notas de trigo, a palavra gera.

Seremos dignos dela?

Fonte:
Artistas Gaúchos

Imagens obtidas na internet = sem autoria